terça-feira, 19 de julho de 2016

"SUBSÍDIO TEOLÓGICO" O Trabalho e Atributos do Ganhador de Alma


Introdução
O evangelista é um precioso dom de Cristo à sua Igreja. Sem o ministério da proclamação, o evangelho teria morrido em Jerusalém. Mas,por intermédio de obreiros como Filipe, a mensagem da cruz,ultrapassando as fronteiras da Judeia, chegou a Samaria. E, desse recanto gentio tão desprezado, as Boas-Novas não demoraram a chegar aos confins da Terra.
O evangelista assemelha-se ao bandeirante que, jamais temendo o desconhecido, sai a falar de Cristo aos povoados mais remotos e estressantes. O seu retorno, porém, é jubiloso. De maneira sacrifical, apresenta preciosas almas ao Senhor. Seja falando a uma única pessoa, seja pregando às multidões, o seu amor pelos que perecem é o mesmo.
Proclamar o evangelho é a sua missão.
Neste capítulo, enfocaremos o evangelista como o agente das Boas- Novas. Veremos que ele é essencial à expansão do Reino de Deus. Paulo destaca o seu ministério como um dos mais importantes da Igreja. Ele é o semeador que saiu a semear.

I. Evangelista, um Dom de Deus
Leighton Ford, ao descrever a chamada do evangelista, afirmou:“Devemos evangelizar não porque seja agradável, fácil, ou porque podemos ter sucesso, mas porque Cristo nos chamou. Ele é o nosso Senhor.
Não temos outra escolha senão obedecer”. O ministério evangelístico não se limita a uma opção pessoal; firma-se numa intimação do próprio Cristo.

1. Evangelista, uma feliz definição. A palavra “evangelista” provém do vocábulo grego euggelistês , e significa aquele que traz boas-novas.
Trata-se de um termo que, usado na Grécia Clássica, designava o que portava uma notícia agradável. Em suma, era o mensageiro do bem. A partir da fundação da Igreja de Cristo, no Pentecostes, a palavra passou a designar aquele que proclama o evangelho.
A palavra “evangelista” é constituída por dois vocábulos gregos: , bom, e ággelos , anjo ou mensageiro Se considerarmos a sua etimologia, concluiremos que o evangelista, sendo o “anjo” do bem, tem de estar
sempre a postos a transmitir a Palavra de Deus. Eis porque, no Apocalipse, os responsáveis pelas igrejas da Ásia Menor foram assim nomeados pelo Senhor. Enquanto pastores, eram compelidos pelo Espírito Santo a fazer o
trabalho de um evangelista.

2. Evolução do ministério evangelista. Se o ministério diaconal foi constituído formalmente por um concílio, o evangelístico não precisou de formalidade alguma para sobressair. Os dois primeiros evangelistas da
Igreja Primitiva, a propósito, surgiram dentre os sete diáconos. Logo após ser consagrado ao diaconato, Estêvão começou a destacar-se como evangelista. Sua palavra fez-se tão irresistível, que levou o clero judaico a condená-lo à morte traiçoeiramente (At 8.1,2).
Estêvão morreu, mas a evangelização reavivou-se com as incursões de Filipe. Ao deixar Jerusalém, proclamou, entre os gentios de Samaria, um evangelho autenticamente pentecostal. Sua palavra era acompanhada de milagres, sinais e maravilhas; era simplesmente irresistível. Lucas bem que poderia ter cognominado o capítulo 8 de seu segundo livro como “Atos de Filipe”.
Mais tarde, quando da conclusão da terceira viagem missionária de Paulo, encontraremos novamente Filipe, dessa vez em Cesareia. Lucas, que fazia parte da equipe do apóstolo, reconhece-lhe o ministério, tratando-o
como evangelista. Era a primeira vez na História da Igreja Cristã que um obreiro recebia semelhante distinção.

3. Mais que um título, um dom. Em algumas igrejas, o evangelista é visto mais como investidura eclesiástica do que, propriamente, como dom ministerial. Vejamos, porém, o que diz Paulo acerca desse tão importante ofício sagrado:
E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da
fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo. (Ef 4.11-13)
Conclui-se que somente deve ser reconhecido como evangelista o que foi agraciado com semelhante dom. Doutra forma, teremos um clero inflado de evangelistas que, em vez de ganhar almas para Cristo,  desgastam-se emocional e espiritualmente, aguardando uma eventual promoção ao pastorado. A hierarquização eclesiástica, nesse sentido,  é mais do que nociva ao crescimento saudável do corpo de Cristo; é deletéria e mortal. Que sejamos criteriosos na escolha daqueles que sairão pelo mundo a proclamar a mensagem do evangelho.

II. O Evangelista no Antigo Testamento
Embora constituído para apregoar o conhecimento de Deus entre os gentios, Israel recolheu-se em seu legado sacerdotal e real, descumprindo a sua missão evangelística.

1. Os patriarcas evangelizam. Abraão foi o primeiro santo do Antigo Testamento a ser agraciado com o título de profeta (Gn 20.7). Apesar de não possuir o encargo de Isaías, nem a missão de Ezequiel, o patriarca, por
meio de um testemunho corajoso e monoteísta, mostrou aos cananeus a realidade do Deus Único e Verdadeiro.
Em suas peregrinações, quer entre os egípcios, quer entre os filisteus, o pai de Israel evidenciava a todos que, longe de ser um nômade aventureiro, era o amigo de Deus. Informalmente, esse mensageiro do Senhor espalhou
a esperança messiânica entre os antigos. Somente a eternidade para revelar quantas almas o crente Abraão conduziu ao Reino dos céus. O mesmo diremos de Isaque e de Jacó. Quanto a José, o que acrescentar?
Administrando uma das crises mais agudas de todos os tempos, mostrou a todo o Oriente que o Deus de seus pais sabe como intervir tanto na História Universal quanto na biografia de cada uma de suas criaturas morais.

2. Os profetas evangelizam. Ainda que Isaías seja cognominado o evangelista do Antigo Testamento, quem mais se aproximou do exercício desse ministério foi Jonas. Intimado por Deus a proclamar um severíssimo juízo contra Nínive, o profeta, apesar de sua relutância inicial, fez-se evangelista e missionário. Ao chegar à grande cidade, percorreu-a durante todo um dia, com uma mensagem simples, mas eficaz: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn 3.4).
O sermão de Jonas não parece teológico, nem profético. Isolado, é matemático, geográfico e meteorológico. Evoca um número, uma cidade e uma situação. Mas, no contexto do juízo divino, é mais do que teológico; é intensamente profético. Em sete palavras, descreve rigorosamente a justiça divina. Apesar de não mencionar o arrependimento, leva o Império da Assíria a curvar-se diante do Deus de Israel. Em nenhum momento, exorta aqueles impenitentes a jejuar. Mas, diante da urgência e da gravidade de
sua proclamação, todos, do rei ao mais humilhado dos súditos, abstêm-se de pão e de água.
Se Jonas saiu a evangelizar, Isaías evangelizou sem sair. De sua amada Jerusalém, o profeta descreveu o Messias com detalhes surpreendentes e impressionantes. Ele falou de sua concepção virginal, de sua morte vicária
e de seu Reino glorioso. Se alguém pretende fazer o retrato falado de Jesus, basta ler em voz alta o capítulo 53 de Isaías. Ali, em cores fortes, está o Cristo de Deus, entregando-se por mim e por você.

3. Os reis evangelizam. Apesar de nem todos os reis de Israel serem recomendáveis, alguns deles, como Davi, Salomão e Ezequias, muito fizeram pelo anúncio da Palavra de Deus entre os gentios. Nos dias de Salomão, muitos potentados estrangeiros deixavam suas terras para ouvir o
sapientíssimo rei de Israel. E, ali, na corte hebreia, glorificavam o Poderoso de Jacó. Haja vista a rainha de Sabá, que, do extremo sul do continente, veio constatar não só a glória de Salomão, mas a presença divina na terra que manava leite, mel e a sabedoria divina.
Salomão, porém, não demorou a desprezar a glória do Senhor. Em vez de comissionar sacerdotes a apregoar a verdadeira fé entre os gentios, envia sua frota mercante a trazer, de Társis, pavões e macacos (1 Rs 10.22).
Apesar de tantos desencontros com a sua real vocação, Israel logrou cumprir a parte essencial de sua missão, pois legou-nos os profetas, as alianças, as Sagradas Escrituras e o Salvador do mundo.

III. A Missão do Evangelista
O evangelista George Sweazey afirmou com muito acerto: “A
evangelização é uma tarefa sempre perigosa, embora não seja tão perigosa como a falta de evangelização”. O que teria levado o irmão Sweazey a chegar a tal conclusão? Provavelmente, referia-se à tarefa do evangelista
que, ao contrário do que muita gente supõe, é desafiadora e complexa, mas sempre gloriosa.

1. Proclamar o evangelho. Para se proclamar o evangelho de Cristo com eficácia, requer-se, antes de tudo, uma experiência real e marcante com o Cristo do evangelho. Além disso, deve o evangelista aprofundar-se
no conhecimento de Deus, a fim de apresentar em sua inteireza, tanto ao mundo quanto à Igreja, todos os desígnios divinos. Foi o que Paulo declarou ao presbitério de Éfeso: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto
que estou limpo do sangue de todos; porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20.26,27).
O evangelista, embora proclame uma mensagem simples e direta, não há de conformar-se com uma teologia rasa. Antes, aprofundar-se-á na Palavra da Verdade, para que venha a manuseá-la com destreza e oportunidade. Ao jovem Timóteo, recomenda Paulo: “Procura apresentarte
a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Sua mensagem, portanto, será simples, mas jamais simplória, porquanto Deus o chamou a falar a judeus e a gregos, a sábios e a ignorantes, a servos e a livres.
Quem ouve Billy Graham, observa duas coisas em seus sermões: simplicidade e profundidade. Munido dessa fórmula, saiu ele a pregar nos países mais distantes e escondidos, mostrando a todos a eficácia da mensagem da cruz. Em seus livros, porém, deparamo-nos com um teólogo
que nada fica a dever à academia mais exigente. À semelhança de Paulo, o evangelista americano nada se propunha saber, a não ser Cristo e este crucificado.
Então, que o evangelista se empenhe por manusear, destramente, a Palavra da Verdade, pois quem ganha almas sábio é. Não é nada fácil desconstruir as mentiras de Satanás, no coração do pecador. Mas o verdadeiro evangelista, com sabedoria e paciência, reconstrói na alma
impenitente a verdade que liberta, salva e leva para o céu. O que o mensageiro de Deus obtém, nenhum filósofo, pedagogo ou psicólogo logra conseguir. Estes falam apenas à razão, mas aquele brada ao coração, à alma e até mesmo à mente menos razoável.

2. Fortalecer a Igreja. O evangelho não deve ser pregado apenas ao mundo. Às vezes, temos de anunciá-lo também à Igreja. Era o que Paulo pretendia fazer, ao anunciar a sua visita aos romanos: “E assim, quanto está em mim, estou pronto para também vos anunciar o evangelho, a vós que
estais em Roma” (Rm 1.15). Depreende-se que os irmãos de Roma, apesar de sua sinceridade, ainda não haviam compreendido, plenamente, a origem, o processo e a efetivação da fé salvadora em Jesus Cristo. Por isso,
era urgente que o apóstolo descesse aos alicerces do Plano da Salvação, para que eles viessem a subir aos andares mais elevados do conhecimento divino.
Assim como o pastor tem de fazer o trabalho de um evangelista, deve o evangelista, por seu turno, empenhar-se pastoralmente na edificação doutrinária das ovelhas. Hoje, mais do que ontem, os evangélicos, até mesmo os de igrejas tradicionais e históricas, carecem de fundamentos
doutrinários. Ora, que firmeza terão os crentes se boa parte dos pastores acham-se firmados em teologias movediças?
É chegado o momento de evangelizarmos também os que, presumindo-se evangélicos, acham-se tão distantes do evangelho quanto os católicos.
Se estes têm ídolos, aqueles possuem deuses. Não raro, nossos deuses são mais deletérios do que os ídolos. Pelo menos, os ídolos católicos têm boca, mas nada falam, ao passo que os deuses evangélicos abrem a bocarra para
dizer o que Deus jamais diria. Se os ídolos romanos levam para o inferno, os deuses do evangelho midiático a ninguém conduz para o céu. Que todos saibam que somente o Senhor Jesus salva.

3. Fazer discípulos de Cristo. O trabalho de um evangelista não se resume em trazer alguém à luz de Cristo, mas também acompanhar o novo crente, até que este venha a iluminar o mundo com o seu testemunho. Se,
num primeiro momento, o evangelista é o amoroso obstetra, no seguinte, ele haverá de ser o pediatra atento à evolução do convertido.
O objetivo principal do discipulado é formar autênticos seguidores de Cristo. A partir daí, teremos cristãos testemunhais e exemplares. Mas, se não dermos importância à formação espiritual dos que recebem a Cristo,
encheremos a igreja de crentes vazios, deficientes e rasos na fé. É o que vem ocorrendo em muitos arraiais que, tidos como evangélicos, das ovelhas querem apenas a gordura e a lã.
A essa altura, uma pergunta ganha pertinência: “Até quando deve durar o discipulado?” Se levarmos em conta as reivindicações apostólicas, o discipulado, na vida de um crente, inicia-se com a sua conversão, e há de perdurar até que seja ele recolhido pelo Senhor. Quanto ao discipulado do novo convertido, em si, que persista até que ele venha a parecer-se em tudo com Jesus Cristo. Somente um discipulado genuinamente bíblico fará a
diferença entre o cristão e o não cristão.

4. Defender o conhecimento divino. Escrevendo aos filipenses, Paulo abre-lhes o coração, e mostra-lhes ter sido chamado não somente a proclamar o evangelho, como também a defendê-lo: “Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois
doutrinária das ovelhas. Hoje, mais do que ontem, os evangélicos, até mesmo os de igrejas tradicionais e históricas, carecem de fundamentos doutrinários. Ora, que firmeza terão os crentes se boa parte dos pastores
acham-se firmados em teologias movediças?
É chegado o momento de evangelizarmos também os que, presumindo-se evangélicos, acham-se tão distantes do evangelho quanto os católicos.
Se estes têm ídolos, aqueles possuem deuses. Não raro, nossos deuses são mais deletérios do que os ídolos. Pelo menos, os ídolos católicos têm boca, mas nada falam, ao passo que os deuses evangélicos abrem a bocarra para
dizer o que Deus jamais diria. Se os ídolos romanos levam para o inferno, os deuses do evangelho midiático a ninguém conduz para o céu. Que todos saibam que somente o Senhor Jesus salva.

3. Fazer discípulos de Cristo. O trabalho de um evangelista não se resume em trazer alguém à luz de Cristo, mas também acompanhar o novo crente, até que este venha a iluminar o mundo com o seu testemunho. Se,
num primeiro momento, o evangelista é o amoroso obstetra, no seguinte, ele haverá de ser o pediatra atento à evolução do convertido. O objetivo principal do discipulado é formar autênticos seguidores de Cristo.
A partir daí, teremos cristãos testemunhais e exemplares. Mas, se não dermos importância à formação espiritual dos que recebem a Cristo, encheremos a igreja de crentes vazios, deficientes e rasos na fé. É o que vem ocorrendo em muitos arraiais que, tidos como evangélicos, das
ovelhas querem apenas a gordura e a lã.
A essa altura, uma pergunta ganha pertinência: “Até quando deve durar o discipulado?” Se levarmos em conta as reivindicações apostólicas, o discipulado, na vida de um crente, inicia-se com a sua conversão, e há de perdurar até que seja ele recolhido pelo Senhor. Quanto ao discipulado do novo convertido, em si, que persista até que ele venha a parecer-se em tudo com Jesus Cristo. Somente um discipulado genuinamente bíblico fará a
diferença entre o cristão e o não cristão.

4. Defender o conhecimento divino. Escrevendo aos filipenses, Paulo abre-lhes o coração, e mostra-lhes ter sido chamado não somente a proclamar o evangelho, como também a defendê-lo: “Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois o
de forma essencial, mostrando-lhe o poder e a graça transformadora.

5. Fazer teologia. O evangelista, à semelhança do apóstolo, também foi constituído a fazer teologia, pois sem teologia a evangelização é impossível. Em sua primeira carta ao jovem Timóteo, faz-lhe Paulo um resumo de seu currículo: “Para o que (digo a verdade em Cristo, não
minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios, na fé e na verdade” (1 Tm 2.7).
Uma coisa é fazer teologia entre os teólogos. Outra, é teologizar entre os inimigos de Deus. Mas é justamente nesse ambiente hostil, e cercado de falsos silogismos e lógicas aparentes, que o evangelista é intimado a expor
o tema prioritário da verdadeira teologia: Jesus Cristo e este crucificado.
Foi o que Paulo fez ao evangelizar os gregos.
No Areópago, os filósofos epicureus e estoicos consideraram o discurso do apóstolo um raro despropósito. Àqueles varões intelectualmente orgulhosos, só um louco ousaria afirmar que um homem teve de morrer, numa cruz, para que os demais viessem a cruzar os portais da vida eterna.
Enfim, àquele seleto grupo, o evangelho era uma loucura. Mas foi ali, entre os gregos, e, mais tarde, entre os romanos, que Paulo lavrou a mais sublime teologia do Novo Testamento.
O evangelista é o teólogo ambulante, cuja missão é proclamar o evangelho completo de Cristo. Isso significa fazer a mais alta, a mais profunda e a mais bela teologia, pois a mensagem da cruz possui todas essas características.

IV. O Preparo do Evangelista
Paulo foi um dos homens mais cultos de seu tempo. Ele transitava com desenvoltura por três ambientes culturais: o judaico, o grego e o romano.
Aliás, até mesmo entre os bárbaros foi ele bem-sucedido, pois a todos se achava devedor. Tendo em vista o seu preparo singular, o apóstolo veio a realizar um trabalho igualmente singular.

1. Bíblico-Teológico. Antes mesmo de converter-se, Paulo já era um erudito nas Sagradas Escrituras, pois fora instruído aos pés do rabino mais sábio de seu tempo. Em sua defesa perante os judeus de Jerusalém, o apóstolo fala, em língua hebreia, de sua herança judaica e de seu aprendizado na Cidade Santa: “Quanto a mim, sou varão judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade aos pés de Gamaliel,instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso para com Deus,como todos vós hoje sois” (At 22.3).
É claro que, antes de sua conversão, Paulo estava mais preso à letra do que ao espírito do texto sagrado. Era mais erudito que teólogo; mais acadêmico que espiritual. O seu aprendizado, porém, não foi inútil.
Quando do seu encontro com o Senhor Jesus, eis que o véu é retirado de seus olhos, possibilitando-lhe contemplar a glória divina no Crucificado (2 Co 3.15,16).

2. Hermenêutico e homilético. Sem Gamaliel, não teria Paulo a mínima condição de expor o evangelho com tanta maestria e profundidade aos crentes de Roma. E, assim, trazendo o Antigo Testamento ao Novo, veio a produzir a epístola mais teológica da Igreja Cristã. Afinal, tinha o alicerce hermenêutico necessário para mostrar, à luz
da Lei, dos Profetas e dos Escritos, o messiado de Jesus Cristo e a sua obra vicária no Calvário.
O apóstolo não sabia apenas interpretar as Escrituras; sabia, de igual modo, aplicá-las às mais diferentes situações da Igreja. Ele demonstrava, na prática, que a Palavra de Deus era, de fato, a regra áurea e infalível do
cristão.
Que o evangelista se prepare com amoroso esmero, pois a sua missão requer teologia, hermenêutica e homilética. Todas essas demandas podem ser resumidas nesta recomendação que o apóstolo encaminha a um jovem
pastor, que se refinava no trabalho evangelístico: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Eu gostaria que os seminários e institutos bíblicos tivessem, como divisa, essa querida
exortação paulina. Se levada a sério, haverá de produzir evangelistas de comprovada excelência.

3. Cultural e linguístico. Paulo, conforme já adiantamos, podia transitar com desenvoltura por três culturas distintas: a hebraica, a grega e a latina. Providencialmente, ele nascera e fora criado numa cidade que,embora romana, era dominada pela cultura helena. Naquela metrópole  universitária, aprendera o grego e, mui provavelmente, o latim. Afinal,estamos falando de um cidadão romano ciente de seus direitos e consciente de seus deveres.
No livro de Atos, vemos o apóstolo comunicando-se tanto em hebraico quanto na língua grega. Ao pedir autorização ao centurião para falar aos judeus de Jerusalém, ouviu do oficial romano uma indagação que lhe questionava o preparo cultural: “Sabes o grego?” (At 21.37). Em seguida,
ante os seus acusadores, pôs-se a falar no idioma sagrado dos judeus: “E, quando ouviram falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio guardaram” (At 22.2).
Hoje, com a cosmopolização de nossas cidades, sugere-se que o evangelista, além de expressar-se com eficiência e correção em português,que também se comunique em, pelo menos, mais duas línguas: inglês e espanhol. Afinal, de vez em quando, recebemos eventos e certames
internacionais. Eis uma excelente oportunidade para se falar de Cristo a um campo missionário que, mesmo sem ser convocado, vem até nós. Nem sempre a seara vem ao ceifeiro. Então, que essas oportunidades não sejam
desperdiçadas.
O preparo cultural do evangelista contempla dois campos interligados: a informação acerca de outros povos e a habilidade linguística para se falar a todos, em todo o tempo e lugar, por todos os meios possíveis.

4. Psicológico e sociológico. O evangelista não precisa ser psicólogo, nem sociólogo, para anunciar Jesus Cristo. Todavia, é imprescindível que conheça o ser humano e a sociedade que o cerca. Doutra forma, será um estranho entre estranhos. O apóstolo Paulo sentia-se à vontade nos mais estranhos e variados ambientes. Entre os judeus, judeu. Falando aos gregos, grego. Doutrinando os romanos, romano. Acolhido pelos bárbaros, bárbaro. Se entre os sábios, sábio. Expondo Cristo aos ignorantes, ignorante, ainda que, em Cristo, tudo soubesse.
Na proclamação do evangelho, o apóstolo agia como amoroso
psicólogo, aconselhando; e, como gentil e compreensivo sociólogo, visitando as nações mais distantes e desconhecidas. Que o evangelista conheça e ame o povo a que almeja alcançar.

V. A Ética do Evangelista
Acabo de ler o testamento espiritual de Billy Graham. Pelo menos, foi a impressão que me passou o seu derradeiro livro. Em ,A caminho de casa, o evangelista americano faz um balanço de sua vida e confessa estar ansioso (e preparado) por encontrar-se com o Pai Celeste. Apesar de seus 98 anos, demonstra ele uma lucidez e discernimento singulares, e ainda reúne forças para exercer os ofícios de um amoroso pastor: aconselha os jovens, orienta os anciãos e não deixa de fazer o que sempre fez desde que
o Senhor o chamou à sua Obra: evangelizar.
Ao repassar aquelas páginas, não pude ignorar a elevada ética que sempre o caracterizou. Ele conclui um ministério de quase sete décadas sem qualquer pecha moral. Por isso, a pergunta faz-se inevitável: Qual o segredo de Billy Graham?
Na verdade, não há segredo algum. O que existe é um forte
comprometimento com a Palavra de Deus e um fundamento ético e moral bem sólido. Já no início de sua carreira, em 1948, ele e sua equipe,reunidos na cidade de Modesto, no Estado americano da Flórida,redigiriam um compromisso de quatro pontos, que haveria de nortear-lhes o ministério evangelístico. O documento, que ficaria conhecido como a
Declaração de Modesto, trata dos seguintes assuntos: informações,dinheiro, sexo e relacionamento eclesiástico.
O protocolo, hoje, serve de modelo aos que buscam desenvolver um ministério itinerante que glorifique a Deus por sua ética e compromisso com a Bíblia Sagrada. De acordo com o referido documento, o primeiro
ponto a ser observado por um pregador é a fidelidade aos relatos e informações.

1. Ética na informação. Reza o ditado velho e matreiro: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”. Na arena evangelística, até que poderia haver um provérbio semelhante: “Quem ganha algumas ovelhas, sempre
acaba se ufanando de haver conquistado um rebanho”. Buscando evitar exageros nos relatos de suas campanhas, a Associação Evangelística Billy Graham é enérgica. A primeira cláusula da Declaração de Modesto estabelece uma ética rígida sobre as informações a serem transmitidas aos
órgãos eclesiásticos e à imprensa: Fica decidido que nenhuma comunicação à mídia e à igreja será exagerada ou presunçosa. A dimensão da assistência e o número de
conversões não serão alterados, a fim de nos promover.
Nos Estados Unidos, quando se quer exagerar algum fato, usa-se como exórdio este advérbio: “Evangelisticamente falando”. Em seguida,descarrega-se o exagero. Já no Brasil, utiliza-se outra expressão para alcunhar o pregador que se dá às hipérboles e às grandezas: evangelástico.
Ora, por que redimensionar os resultados de uma campanha se basta a conquista de uma única alma para pôr os céus em festa? Consideremos,ainda, que a missão primordial de um evangelista não é a conversão de pecadores, mas a proclamação do evangelho. Se esta for efetuada a tempo e
a fora de tempo, as colheitas não faltarão.
Quando um pregador maquia os resultados de seu trabalho, busca entre outras coisas o incremento do marketing pessoal, a seletividade da agenda e a valorização dos honorários. Esquece-se ele, porém, que a verdade
aumentada jamais será verdade; será sempre mentira. O sábio americano Benjamin Franklin (1706-1790) é incisivo quanto à veracidade dos fatos:
“A meia-verdade é frequentemente uma grande mentira”. Por
conseguinte, como pode um pregoeiro da justiça comprometer-se com a falsidade? Se avaliarmos superficialmente os resultados do semeador da
parábola, constataremos não terem sido muito bons. Apenas um quinto de suas sementes logrou germinar. Todavia, foi o suficiente para que o Reino de Deus frutificasse em toda a terra.
Em Atos dos Apóstolos, Lucas busca a precisão e a fidelidade dignidade em todas as informações que transmite a Teófilo (At 1.1-3). No Dia de Pentecostes, por exemplo, lemos que, como resultado do sermão de Pedro, quase três mil pessoas se converteram (At 2.41). Mas, na casa de Cornélio, as conversões talvez não chegassem a uma dezena, e nem por isso o número deixou de ser expressivo ao Reino de Deus.
Não exageremos os resultados de nosso trabalho. Na exposição dos fatos, nada de retórica; a verdade basta. Então, por que inventar milagres para glorificar a Deus? Sua glória é incompatível com a mentira. Sejamos
fiéis e verdadeiros nos relatórios e informações. Se fantasiarmos nossos feitos e façanhas, mais adiante seremos desmascarados. Quem ganha almas não é somente sábio; é verdadeiro e modesto.

2. Ética financeira. Se, por um lado, temos muitos pregadores que primam pela excelência do ministério, por outro, há não poucos que só demonstram uma única preocupação — o sucesso pessoal e o recebimento
de seus honorários. Por isso, a Associação Evangelística Billy Graham foi objetiva e clara no segundo artigo da Declaração de Modesto:
Fica decidido que questões financeiras serão submetidas a
uma comissão de diretores para revisão e simplificação dos gastos. Toda cruzada local manterá uma política de ‘livros abertos’ e publicará um registro de onde e como o dinheiro é gasto.  Nessa questão, temos de ser equilibrados e justos. De uma parte, somos obrigados a criticar os pregadores que fazem da fé um mero negócio. Mas,
de outra, não podemos louvar as igrejas que não reconhecem o labor de quem lhes expõe a Palavra de Deus. Ao falar sobre o trabalho dos mestres e doutores da Igreja, recomenda Paulo a Timóteo: “Devem ser considerados
merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Tm 5.17,ARA). O texto é claro e não demanda maiores exegeses: o expositor da Palavra de Deus deve ser honrado não apenas com menções elogiosas, mas com um digno reconhecimento financeiro.
O pregador, por seu turno, contentando-se com o combinado, jamais fará apelos emocionais, visando angariar maiores recursos. As ofertas e dízimos são da igreja local. Se ele for realmente ético, nem falará em dinheiro durante as suas prédicas. E que não haja negociata entre o pastor
e o evangelista, com vistas à divisão de oferendas especiais arrecadadas no calor das emoções e sob um clima de promessas irrealizáveis e ameaças aterrorizantes. Não espoliemos os santos; respeitemos o povo de Deus.
Sejamos éticos e transparentes em todas as transações financeiras.
Evangelista, além de ético, seja precavido. Não deixe de pagar a previdência e, se possível, faça um plano de aposentadoria. O tempo passa e a velhice não demora a chegar. Aja com sabedoria e temor a Deus.

3. Ética sexual. Já na década de 1940, não eram poucos os pregadores americanos que escandalizavam a igreja devido às suas incursões sexuais.
Para que isso não viesse a ocorrer com os seus membros, a Associação Evangelística Billy Graham, na Declaração de Modesto é particularmente severa:
Fica decidido que os membros da equipe agirão com toda
prudência, a fim de se resguardarem de tentações na área sexual. Por isso, jamais ficarão sozinhos com uma mulher. E, mutuamente, responsabilizar-se-ão uns pelos outros. Eles também informarão suas esposas acerca de suas atividades ao longo das viagens, para que elas
sintam-se participantes das cruzadas.
O ideal seria que os pregadores itinerantes viajassem acompanhados de suas esposas. Infelizmente, não são muitas as igrejas que concordam em arcar com mais essa despesa. A maioria acha que só deve ressarcir os gastos 
do obreiro consigo mesmo. E se este quiser levar a esposa, que pague do próprio bolso. Tal postura é contraproducente, pois fragiliza o obreiro,
expondo-o a riscos espirituais e morais. Não disse o próprio Deus que não é bom que o homem esteja só?
Caso o pregador viaje desacompanhado, deve tomar uma série de cuidados para não cair em armadilha alguma.
• Evite dar aconselhamentos a pessoas do sexo oposto. Isso é competência (e dever) do pastor local. Sua função é ministrar à congregação, e não dar clínicas pastorais. Se o fizer, que esteja acompanhado de outro obreiro.
• Não receba nenhuma mulher no saguão do hotel e muito menos no quarto. Diante do pecado, não há super-homens. A recomendação do apóstolo é taxativa: “Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo” (1 Co 6.18). Lembre-se: homens mais fortes e
mais santos do que nós caíram; portanto, tomemos muito cuidado.
• Não saia para almoçar com pessoas do sexto oposto. Como homens de Deus, devemos evitar a aparência do mal.
• Exija ser hospedado em lugares que não lhe comprometam a
reputação. Recuse motéis e hotéis de alta rotatividade.
Tais cuidados são necessários, pois é muito fácil ao pregador cair  nas astutas ciladas do Diabo. Por esse motivo, que a igreja zele por sua segurança espiritual e moral. E, sempre que possível, financie também a
vinda da esposa do pregador. Afinal, quem ministra precisa ser devida e duplamente honrado.


4. Ética no relacionamento eclesiástico. A Declaração de Modesto também instrui os membros da Associação Evangelística Billy Graham a agirem com ética no relacionamento com pastores e igrejas:
Fica decidido que os membros de nossa equipe jamais proferirão palavras negativas a respeito de outros líderes e pregadores, independentemente de suas denominações e posições teológicas, pois a missão do evangelismo inclui fortalecer o corpo de Cristo bem como edificá-lo na Palavra de Deus.
Que jamais usemos o púlpito a fim de caluniar outros pregadores, denegrir rebanhos ou agir com indiscrição acerca de faltas alheias. Se estamos de pé, agradeçamos a Deus por sua infinita misericórdia. Quanto às igrejas de outras persuasões, por que denegri-las? Nossa igreja acha-se também num contínuo processo de aperfeiçoamento. E, até a volta de Cristo, constataremos haver muitas imperfeições em nosso rebanho.
Imperfeições estas, aliás, que revelam o quanto dependemos do perfeitíssimo Deus.
Por conseguinte, que esta seja a nossa linha de conduta no púlpito:
• Que jamais venhamos a aviltar nossos líderes. No púlpito, mesmo que oficiosamente, somos os seus representantes.
• Não nos imiscuamos em política, quer eclesiástica, quer partidária. Não fomos chamados para ser homens do povo, mas homens de Deus.
• Jamais incitemos a igreja contra o seu pastor, nem busquemos seduzir rebanhos alheios. Nossa missão é transmitir com fidelidade todo o conselho divino.
• Condenemos energicamente o pecado, mas sejamos amáveis para com o pecador. O que nos teria acontecido se o Pai não nos tivesse tratado tão amorosamente?
• Não falemos mal das outras religiões, mas exponhamos com
autoridade as virtudes do evangelho de Cristo.
Enfim, ajamos corretamente no púlpito. O que todos esperam de nós é uma conduta digna de um verdadeiro homem de Deus.
Não há honra tão elevada quanto proclamar o evangelho de Cristo. 
Todavia, grande é nossa responsabilidade. Por isso, roguemos a Deus que jamais venhamos a escandalizar-lhe o nome. Que a nossa conduta seja sempre digna do Rei dos reis.E que o exemplo de Billy Graham cale profundamente em nossa alma. A Declaração de Modesto, posto que
simples, é objetiva e prática. Se lhe seguirmos as diretrizes, poderemos concluir o nosso ministério com honra tanto diante de Deus quanto diante
dos homens. Que o senhor nos guarde de tropeçar.

Conclusão
Não sei quantas almas já ganhei. Mas uma coisa não deixo de fazer:
evangelizar pessoalmente. Às vezes, falo de Cristo numa fala de banco;outras, num táxi; e, ainda outras, num leito hospitalar. Nem sempre tenho condições de explanar todo o Plano da Salvação. Todavia, deixo bem claro, ao meu interlocutor, que Jesus Cristo é a única esperança para esta geração confusa, deprimida e sem horizontes. Com poucas palavras, você pode livrar alguém do lago de fogo.
Então, esmere-se no exercício do ministério evangelístico, pois quem ganha almas sábio é.

Fonte: O desafio da evangelização/ por Claudionor de Andrade.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Lição 4 - O Trabalho e Atributos do Ganhador de Almas

Amar sem reservas a pessoa toda e não economizar esforços para alcançá-la em todas as esferas da sua existência é a razão da vida de todo evangelista. Este é o portador das Boas Novas, o arauto do Reino de Deus numa sociedade dominada pelas ideias e cosmovisões que afrontam o propósito do Altíssimo para a humanidade. Amar, amar, amar... É a palavra-chave do evangelista!
Antigo e Novo Testamento: a fundamentação bíblica do ministério do Evangelista
No Antigo Testamento, o ministério que lembra o do Evangelista neotestamentário é o de Profeta. A palavra hebraica que aparece em Isaías 40.9 e 52.7 traz a ideia de “mensageiro” e “pregador”. Note que o ministério do profeta veterotestamentário visava convencer o rei ou o povo dos seus pecados e os estimulava a fazer o caminho do arrependimento em amor e sinceridade.
Em o Novo Testamento, o ministério de Evangelista é apresentado claramente pelo diácono Filipe. O livro de Atos nos conta que este evangelista evangelizou uma cidade inteira: Samaria (At 8.4-7), além de levar o maior tempo individualmente com o eunuco (At 8.26-40). “Entendes o que lês?”, foi a pergunta do evangelista ao eunuco. Percebendo a inabilidade do eunuco com as Escrituras, o evangelista passou-lhe a explicar a Escritura.
Sagradas Escrituras: o fundamento de quem evangeliza
Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento nos mostram que as Escrituras Sagradas são o fundamento do evangelista. O seu trabalho vai desde o anúncio do Evangelho à integração do novo convertido, passando obrigatoriamente pela apologia da fé evangélica. Essas frentes de trabalho passam pelas Escrituras como o esteio do ministério do evangelista. A Igreja de Cristo precisa de evangelista carismático que honrem a Deus e ame o próximo.
O Evangelista consciente do seu ministério
Não nos referimos aqui necessariamente a um ministério baseado na itinerância, até porque a itinerância contemporânea se dá muito mais para ministrar a crentes do que para ministrar entre não crentes. Portanto, a itinerância do evangelista é fundamentalmente uma itinerância secular, no sentido de encontro com os seculares, com os não crentes, os que não conhecem o Evangelho. O evangelista consciente do seu ministério não é necessariamente midiático, mas comunitário. Ele vai de comunidade em comunidade, rua a rua, casa a casa, pessoa a pessoa. Ele vai a lugares que ninguém vai. Ele prega onde Cristo nunca foi anunciado.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

“Subsídio Teológico” Igreja, Agência Evangelizadora

Introdução
Alguém afirmou, certa vez, que a Igreja de Cristo não é um clube de iates, mas uma frota de pesqueiros. O autor anônimo, de maneira sutil e delicada, deixa bem claro que a principal tarefa da Igreja é a evangelização. Na entrelinha de sua assertiva, deixa ele bem patente que a Igreja, por sua natureza e vocação, é a agência por excelência de evangelismo e missões. Se não evangeliza, deixa de ser um organismo divino para apequenar-se numa organização humana falida e já em vias de apagar-se.
Neste capítulo, realçaremos a Igreja que se faz conhecida pelo evangelho que proclama, pela doutrina que ensina e pelo discipulado que emprega na formação de novos crentes. Que Deus nos abençoe na observância dos mandamentos do Senhor Jesus quanto à evangelização do mundo.

I. Igreja, Comunidade de Proclamação
O mártir alemão Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) declarou que a Igreja é Cristo existindo em comunidade. Todavia, Jesus não almeja apenas sua igreja.

1. Igreja, definição que desafia. A Igreja já foi definida como uma assembleia dos que foram chamados para fora. Se aceitarmos essa definição, veremos que a etimologia do termo grego é bastante emblemática. Nesse vocábulo, temos duas palavras distintas: , que significa “de” ou “para fora”, e , que traz o significado de ser chamado, ou convocado.

Nesse sentido, a grega era a assembleia de cidadãos intimados para fora de suas casas, a fim de tratar de algum assunto de interesse público. Tendo em vista a natureza e a missão da “igreja” grega, aprouve ao Senhor Jesus usar o mesmo termo para nomear a sua universal assembleia de homens e mulheres provenientes de todas as nações.

2. Igreja, um organismo peculiar.
Ao ouvir a declaração de Pedro, sobre a qual fundou a sua Igreja, Jesus poderia ter dito: “Sobre esta pedra, fundarei a minha sinagoga”. Mas, se o fizesse, estaria limitando a atuação de seus discípulos, pois os judeus, numa cidade gentia, não eram chamados para fora, mas convocados para dentro. E, ali, na sinagoga, congregavam-se, a fim de adorar o Deus da nação de Israel, e não para anunciar o Deus de todos os povos. Além do mais, para se formar uma congregação israelita eram necessários nove homens adultos.
O Senhor, porém, simplificou o estabelecimento da Igreja. Agora, não é mais imperioso que se reúna uma novena de varões. Bastam duas pessoas congregarem-se sob a invocação de Cristo, para que Ele se manifeste entre elas e, por intermédio delas, aja salvadoramente (Mt 18.20). Um único santo não constitui uma igreja, mas um testemunho. Mas dois ou três, invocando o nome do Senhor, perfazem um número suficiente para que se tenha uma comunidade proclamadora.
A Igreja de Cristo é superior à assembleia grega e mais sublime que a sinagoga judaica. Ela, por ser Igreja e pertencer a Cristo, jamais deixará de ser um organismo, ao passo que estas nunca hão de transcender os limites da organização.

3. A Igreja sempre será chamada para fora.
Ainda que a etimologia da palavra “igreja” seja, às vezes, questionada, os discípulos de Cristo sempre serão chamados para fora, a fim de proclamar o evangelho. Nosso testemunho, portanto, não ficará emparedado, nem aprisionado pela burocracia eclesiástica. Se somos Igreja, agiremos como Igreja. Sairemos a evangelizar e a fazer discípulos até a fronteira final deste globo.
A Igreja, em virtude de sua natureza, não se deixa aprisionar por uma agenda que não tenha a evangelização como a prioridade máxima.
Evocamos, aqui, o exemplo das Assembleias de Deus. Embora não houvesse ainda nascido oficialmente, apregoava o novo nascimento sem impedimento algum. Naqueles idos, o campo era um mundo sem fronteiras. Todos os que se convertiam eram chamados para fora, apregoando que Jesus salva, batiza com o Espírito Santo e cura os males do corpo. A chama pentecostal ardia continuamente.
Há uma diferença substancial entre a chamada de Israel e a da Igreja.
No Antigo Testamento, os israelitas partiam dos extremos de Israel, para adorar em Jerusalém. Assim também agiam os prosélitos. Haja vista a rainha de Sabá e o eunuco de Candace, soberana dos etíopes. O Senhor Jesus, contudo, ao estabelecer a Igreja, não tinha como alvo atrair ninguém à Cidade Santa. Mas, a partir de Jerusalém, tinha como alvo a conquista do mundo através de seus discípulos. A missão de Israel, portanto, era centrípeta; atraía a todos ao centro judaico de adoração, que tinha como emblema o Santo Templo. Quanto à missão da Igreja, é fortemente centrífuga; desde Jerusalém, pôs-se a proclamar o evangelho até às fronteiras mais extremas da Terra.

II. A Igreja de Cristo e o Cristo da Igreja
João Calvino (1509-1564), ao discorrer sobre a natureza da Igreja, foi preciso e coerente: “Onde quer que vejamos a Palavra de Deus pregada e ouvida com pureza, ali existe uma igreja de Deus, mesmo que ela esteja repleta de falhas”. Portanto, não há o que se discutir. A Igreja de Cristo subsiste pela proclamação do evangelho de Cristo e pelo ensino da doutrina dos profetas e dos apóstolos.

1. Sua natureza proclamadora.
Cristo estabeleceu a Igreja em cima de uma proclamação breve, mas profundamente teológica e profética. Ao indagar de seus discípulos acerca da opinião de Israel quanto à sua pessoa, ouviu de Pedro a maior declaração que alguém poderia fazer sobre o seu messiado: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Tal afirmação, embora sucinta, era tão forte e marcante, que somente alguém inspirado pelo Espírito Santo poderia emiti-la. Foi o que reconheceu o próprio Senhor: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt 16.17).
Em seguida, o Senhor revela aos discípulos que, sobre a assertiva de Pedro, fundaria Ele a sua Igreja. Portanto, o alicerce da assembleia do Novo Testamento é uma declaração que, em nove palavras, revela a essência dos profetas que, desde Moisés, profetizaram até Malaquias. Ora, se a natureza da Igreja de Cristo é a proclamação, ela haverá de peregrinar de proclamação em proclamação até que o Senhor a venha buscar.

2. Sua missão proclamadora.
Se a igreja evangeliza e faz missões, é verdadeira. Mas se vive pela liturgia, não passa de uma casa de espetáculos.
As igrejas católicas e orientais são ostensivas e doentiamente formais.
Algumas missas ortodoxas chegam a durar três horas. Se espremermos, porém, todos esses missais, cânones e rubricismos, não lograremos uma única gota do verdadeiro evangelho. Infelizmente, os evangélicos, apesar de suas reuniões vivazes e barulhentas, estão caindo no mesmo pecado. A formalidade também se manifesta informalmente. Qualquer culto, portanto, que não cultue verdadeiramente a Deus, é formalismo, ainda que traga um ostensivo rótulo carismático.
João Wesley (1703-1791), após a sua experiência pentecostal, começou a ter uma visão mais bíblica sobre a tarefa do corpo de Cristo: “A Igreja nada tem a fazer, a não ser salvar almas. Portanto, deve gastar e ser gasta nesta obra. Não lhe é requerido falar tantas vezes, mas salvar tantas almas quanto puder, levar ao arrependimento tantos pecadores quanto possível”.
O evangelista inglês diz-nos, entre outras coisas, que a evangelização tem de voltar a ser a nossa primazia. Caso contrário, jamais seremos reconhecidos como discípulos daquEle que, durante todo o seu ministério, outra coisa não fez senão proclamar a Palavra de Deus com a vida e por meio da própria morte.

III. O Cristo da Igreja e a Igreja do Cristo
Na região da Galácia, havia uma atividade evangelizadora tão intensa, que chegava a ser febricitante. Todavia, o evangelho de Cristo era ignorado e o Cristo do evangelho era desprezado por aqueles obreiros de Satanás.
Portanto, não basta falar de Cristo. É urgente que voltemos a proclamar o Cristo do Novo Testamento.

1. Cristo, o Filho de Deus.
A primeira grande verdade proclamada sobre Jesus, em o Novo Testamento, é que Ele é o Filho do Deus Vivo (Mt 16.16). Se pregarmos um Cristo que não procede de Deus, jamais convenceremos o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Por esse motivo,o Senhor ordena que os convertidos sejam batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19).
Recentemente, li o Corão, o livro tido como sagrado pelos muçulmanos.
Naquelas longas e, às vezes, repetitivas suratas, Jesus é citado amiúde.
Apesar do respeito com que Ele é tratado pelo fundador do Islamismo, é difícil ver, naquelas descrições, o Cristo de Deus. Antes de tudo, porque, em nenhum lugar, Ele é considerado o Filho de Deus. Mas, sempre que Maomé cita-o, faz questão de ressaltar-lhe a filiação mariana. Dessa forma, o Corão apresenta o Filho de Deus como filho de Maria. Aos olhos de Maomé, Jesus foi o mais puro dos muçulmanos. Todavia, o Cristo maometano jamais libertará o homem das garras de Satanás.
Cabe-nos evocar, aqui, o belíssimo pronunciamento de C. S. Lewis acerca do messiado de Jesus Cristo:
Um homem que fosse só homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre de moral. Seria um lunático no mesmo nível de um homem que diz ser um ovo cozido ou então seria o próprio diabo. Cada um de nós precisa tomar a sua decisão. Ou este homem era, e é, o Filho de Deus, ou então um louco, ou algo pior. Mas não venhamos com nenhum argumento complacente que diga que ele foi um grande mestre humano.
Ele não nos deu esta escolha. Nunca pretendeu fazê-lo.
Concluindo, o primeiro tópico de nosso sermão evangelístico tem de apresentar, obrigatoriamente, a filiação divina de Jesus Cristo. Se não o apresentarmos como Filho de Deus, poderemos até apresentar uma bela peça de oratória, mas jamais uma autêntica pregação evangélica.

2. Cristo, o Crucificado de Deus.
Se Jesus não passou de um mero pensador como Sócrates, que efeito tem a sua morte sobre a nossa eternidade? Ao considerar a questão, respondeu Jean Jacques Rousseau (1712-1778): “Se a vida e a morte de Sócrates são as de um filósofo, a vida e morte de Jesus Cristo são as de um Deus”. O sábio suíço não careceu cursar teologia para chegar a uma conclusão tão óbvia e certeira. Há teólogos, porém, que, apesar de sua erudição, ainda não atinaram que Jesus morreu como Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus. Por conseguinte, o segundo tópico de nossa mensagem evangelística é apresentar Jesus Cristo como o Crucificado de Deus.
Ao dirigir-se à intelectual Corinto, apresentou Paulo uma mensagem simples, mas eficaz. Se os coríntios aguardavam um discurso semelhante ao de Demóstenes, decepcionaram-se, pois o Doutor dos Gentios, entre eles, tratou de um único assunto, como ele faz questão de frisar:
E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. (1 Co 2.1- 5)
Embora o apóstolo fosse um dos maiores acadêmicos de seu tempo, não se deixou aprisionar pela filosofia, mas transcendeu Platão e Aristóteles.
Sua mensagem não se resumia a uma mera peça de oratória. Quando se punha a falar de Cristo, encenava o drama do Calvário de tal forma, que seus ouvintes tinham a impressão de estar ao pé da cruz. Foi o que ele, tomado por uma ira santa e compreensível, declarou aos gálatas que estavam prestes a apostatar da fé: “Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado?” (Gl 3.1).
A Igreja tem de encenar, tanto para si mesma quanto para o mundo, o drama do Calvário. A palavra usada pelo apóstolo, para descrever como ele pregara a crucificação de Cristo aos gálatas, não era desconhecida do teatro grego. O vocábulo prographo significa pintar, ou retratar vivamente, uma cena perante olhos exigentes e críticos. Paulo jamais foi infiel ao proclamar a mensagem da cruz. Ele não era um ator, mas sabia como representar a obra de Cristo ante um mundo que jaz no maligno.

3. Cristo, o Ressurreto de Deus.
Se proclamarmos a morte de Jesus, mas lhe omitirmos a ressurreição, nossa pregação será incompleta.
Quando os apóstolos reuniram-se, antes do Pentecostes, para escolher o substituto de Judas Iscariotes, fizeram questão de frisar que teria de ser alguém apto a testemunhar a ressurreição do Filho de Deus (At 1.22). A escolha, como sabemos, recaiu sobre Matias que, a partir daquele momento, tinha como tarefa prioritária anunciar a Israel e ao mundo que Jesus, de fato, erguera-se de entre os mortos.
Urge, pois, que a Igreja volte à pregação completa do evangelho. O pecador tem de saber que Jesus não ficou preso à cruz, nem detido no sepulcro, mas que, no terceiro dia, ressurgiu com poder e glória. Parece que os crentes de Corinto não estavam bem seguros quanto à ressurreição de Cristo. Por isso, interveio Paulo, afirmando-lhes com toda a energia de seu apostolado:
Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. (1 Co 15.12-14) Que cada pecador saiba que Jesus morreu, ressuscitou e acha-se vivo, intervindo no mundo e governando a sua Igreja, por meio do Espírito Santo.

4. O Cristo que intervém.
Na Declaração de Cesareia, Pedro foi inspirado a afirmar que Jesus é o Filho do Deus Vivo (Mt 16.16). Nessa curta, mas profunda assertiva, vemos um Deus que não se esconde em sua transcendência, mas se revela, amorosamente, em sua imanência. Por isso, o Pai intervém na história do universo por meio do Filho.
Quando pregamos que Jesus, além de ressuscitar, acha-se no governo de todas as coisas, tiramo-lo do panteão onde jazem os fundadores de religiões e seitas, para entronizá-lo como o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16). Ele não é um entre outros fundadores de religiões, mas o fundamento da religião única e verdadeira. Maomé, por exemplo, em que pese o dogma de sua ascensão, jaz no sepulcro e lá permanecerá até o Juízo Final. Cristo, porém, ressurgiu da morte. Por essa razão, declarou:
É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém! (Mt 28.18) Quando a Igreja apregoa o Cristo Vivo, serenamo-nos, pois sabemos que Ele está no controle do universo, da História e de nossa vida. Afinal, somente aquEle que vive para todo o sempre pode tornar-se o Deus
conosco.

5. Cristo, o Deus pessoal.
Ao anunciar a conceição virginal de Maria, o profeta Isaías deixa transparecer que o Filho, à semelhança do Pai, será um Deus pessoal: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel. (Emanuel traduzido é: Deus conosco)” (Mt 1.23). Semelhante detalhe não pode faltar à mensagem evangelística da Igreja de Cristo. Os que suspiram por um encontro pessoal com o Pai Celeste não podem ver o Filho apenas como uma figura histórica e distante. como se Ele, o Divino Emanuel, não passasse de um mero acervo museológico. Que Ele existiu, não há dúvida. Maomé e Buda também existiram, mas são incapazes de transformar vidas. Que em cada proclamação, pois, mostremos que Jesus, além de estar vivo, almeja firmar um relacionamento pessoal, profundo e íntimo com cada um de seus filhos.
Mas em determinados círculos acadêmicos, o Salvador acha-se tão distante dos perdidos, que ninguém mais logra encontrá-lo em meio às monografias, teses e ensaios. Não me refiro apenas à erudição secular.
Infelizmente, a que lida com o texto sagrado acha-se também a debater no terreno movediço da incerteza e da incredulidade. Por isso, não nos curvemos, acriticamente, à crítica textual. Diante do aparato crítico de algumas edições da Bíblia Sagrada, indaga o miserável pecador: “Afinal, Jesus fala ou não a minha língua?”. Não nos esqueçamos de que a erudição é serva do evangelho e escrava da Palavra de Deus. Sua tarefa é transmitir, de geração em geração, os oráculos divinos em sua pureza e integridade.
Ela tem de estar ao pé da cruz, e não encimando a cabeça do Cordeiro de Deus.
Que o pecador saiba que Jesus não é apenas o Deus conosco, mas também o Deus comigo e o Deus contigo. Ele é tão pessoal que podemos adorá-lo com todo o nosso ser, pois a sua presença permeia-nos o corpo, a alma e o espírito.

IV. Igreja, a Mestra da Palavra
Entre outras símiles, Paulo destaca a Igreja de Cristo como a coluna e o baluarte da verdade (1 Tm 3.15). Tal comparação revela a natureza do corpo de Cristo, cuja missão é pregar o evangelho, ensinar os desígnios divinos e atuar como a voz profética de Deus.

1. A pregação do evangelho.
 A Igreja de Cristo, como já vimos, foi constituída, a fim de proclamar o evangelho a todos, em todo tempo e lugar, por todos os meios. O que universaliza uma igreja, portanto, não é o seu título, nem as suas pretensões, mas a sua atividade evangelística e missionária. Se nos fecharmos, como poderemos alcançar os confins da Terra? Mas, se nos abrirmos localmente, universalmente cumpriremos a tarefa que nos confiou o Senhor da Seara.
A Igreja sempre será chamada para fora, para apregoar a Palavra de Deus. Toda vez que isso ocorre, fazemo-nos luz do mundo e sal da terra.
Num primeiro momento, iluminamos as trevas com a exposição da verdade divina. Em seguida, preservamos os tecidos sociais mais comprometidos, proclamando a vontade de Deus profeticamente.  Portanto, quem ganha almas muda a sociedade, transforma a cultura e dissemina a ética cristã.

2. O ensino da Palavra.
 A academia não pode substituir a Igreja no ensino da Palavra de Deus, nem na produção teológica. Toda vez que isso ocorre, uma nova heresia nasce, uma verdade é distorcida e uma congregação local é destruída. Não quero, aqui, estabelecer uma relação dualista entre o ministério cristão e a academia. Se a academia é cristã, não se afastará da Igreja, nem há de se arvorar contra o ministério eclesiástico. Por que um dualismo entre ambas?
Portanto, assim como não devemos separar a vida pública da particular, também não podemos separar as atividades intelectuais das espirituais, pois o Espírito Santo quer santificar-nos por inteiro: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23, ARA).
A verdadeira teologia é produzida no âmbito da Igreja, pois os dons ministeriais são concedidos ao seu ministério, e não à academia, conforme ressalta o apóstolo:
E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo. (Ef 4.11-13)
A Igreja de Cristo, pois, acha-se devidamente aparelhada, pelo Espírito de Deus, para ensinar a verdadeira doutrina e produzir a melhor teologia.
Ela precisa de seus acadêmicos, mas estes não devem prescindir da comunhão dos santos. Além do mais, a teologia que produzimos só terá algum valor diante de Deus se frutificar na salvação de almas, na edificação da Igreja e no fortalecimento da voz profética da Bíblia Sagrada.

Conclusão
Sendo a Igreja de Cristo a coluna e o baluarte da verdade, não haverá de imiscuir-se com o poder secular, pois o seu Reino é eterno. Isso não significa, porém, que devemos ignorar o mundo, porquanto nele vivemos Todavia, jamais nos conformaremos com o seu sistema. Nossa missão é transformá-lo pela proclamação do evangelho de Cristo. Quanto mais falarmos de Cristo à nossa geração, mais faremos ouvir a voz de Deus.

Por meio da proclamação evangélica, mostraremos a todos que Jesus Cristo é a única esperança para a nossa geração. Evangelizar é a missão mais importante da Igreja.

Fonte: livro de apoio
O desafio da Evangelização.
Por Claudionor de Andrade.