quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Ill - A Aceitação do Verbo (Jo 1.12-14)

1. O dom da filiação. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos dc Deus; a saber: aos que crêem no seu nome”. Estes vieram a ser filhos de Deus, não por serem descendentes de Abraão (“não nasceram do sangue”), nem por geração natural (“nem da vontade da carne”), nem pelos seus próprios esforços (“nem da vontade do varão”). Sua adoção na família divina foi um dom gratuito c sobrenatural da parte de Deus, mediante uma nova vida implantada neles pelo Espírito Santo, como será explicado adiante na entrevista de Jesus com Nicodemos, no capítulo 3.
2. A visão da glória. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”. Literalmente: “E o Verbo foi feito carne, e tabernáculo entre nós”. O Filho de Deus habitou num tabernáculo (“tenda”) entre nós, o tabernáculo sendo seu próprio corpo (cf. Jo 2.19; 2 Co 5.1,4; 2 Pe 1.13,14). Assim como a glória de Deus habitava no Tabernáculo antigo, assim também, quando Cristo nasceu neste mundo, sua divina natureza habitava no seu corpo como num templo.
“E vimos a sua glória” (caráter divino), não meramente a glória externa revelada na transfiguração (2Pc 1.16,17), mas, também, o esplendor do seu divino caráter. Não era uma glória refletida, como a glória de um santo, e sim a “glória do unigenito do Pai”. Um filho participa da mesma natureza do pai; Cristo, como Filho de Deus, tem a própria natureza de Deus. Este divino caráter estava “cheio de graça e de verdade”. A graça é o favor divino, o amor inabalável de Deus, a misericórdia divina, c a verdade não somente é a fala leal, sincera c veraz, como também a conduta à altura.

Por qual ato, ou meio, o Filho dc Deus veio a ser Filho do homem? Qual milagre poderia trazer ao mundo “o segundo homem”, que é o Senhor do Céu (1 Co 15.47)? A resposta é que o Filho de Deus entrou no mundo, como Filho do homem, por meio da concepção no ventre de Maria mediante o Espírito Santo, independentemente de pai humano. No fato do nascimento virginal baseia-se a doutrina da encarnação (Jo 1.14).

II - A Rejeição do Verbo (Jo 1.5-11)

 Rejeitado como a luz dos homens. “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.” A luz era derivada do Verbo, e pela capacidade recebida da parte dEle podiam reconhecer o que era útil à sua natureza espiritual. Mesmo assim, fecharam os olhos à Fonte da luz, como o olho doentio que rejeita a luz natural, embora aquela fosse a vida deles. A queda foi um obstáculo, na história da humanidade, ao entendimento da Palavra de Deus, porque envolveu o mundo em trevas morais e espirituais, de tal modo que os homens, criados por Deus, não podiam mais entender as instruções de seu Criador, tendo sido obscurecidas as suas mentes pelo efeito do pecado e da ignorância.

O pensamento básico do trecho é interrompido pelos versículos 6-8, que enfatizam a posição de João Batista como testemunha c refletor da luz, e não como Messias. Alguns dos seus discípulos se apegaram tanto a ele que, a despeito da advertência contida no testemunho que deu de si mesmo em João 3.25-30, teimaram em sustentar ser João Batista o Messias, e, posteriormente, formaram a seita dos mandeus, da qual existem ainda seguidores no Oriente.
Voltando ao pensamento básico: “Estava no mundo, c o mundo foi leito por ele, e o mundo não o conheceu”. Os homens tinham tão pouco entendimento da origem do seu ser, aprenderam tão pouco acerca da razão da sua existência, que não reconheceram seu Criador quando Ele surgiu no meio deles. A civilização romana registrou seu nascimento, lançou-o no cadastro de pessoas físicas para finalidades dc impostos, mas não tomou o mínimo conhecimento dEle como sendo o próprio Deus revelado cm seu meio.


 Rejeitado como Messias de Israel. “Veio para o que era seu, c os seus não o receberam”. Jesus ensinou esta verdade na parábola dos lavradores maus (Mt 21.33- 43). Que tragédia! A nação que aguardava a vinda do Messias, orando ardentemente por este acontecimento, cantando e profetizando acerca da sua vinda, não quis recebê-lo quando chegou! (Cf Is 53.2,3; Lc 19.14; At 7.51,52).

1 - A Revelação do Verbo (Jo 1.1-4)

/. Seu relacionamento com Deus. “No princípio era o Verbo”. Esta expressão nos leva de volta a Gênesis 1.1, onde se lê: “No princípio criou Deus os céus e a terra.” João nos informa que, na época da criação, o Verbo já existia: “E o Verbo estava com Deus”, existia cm relacionamento com Deus, o que sugere a eterna comunhão entre o Pai e o Filho. “E o Verbo era Deus” não significa que o Verbo é o Pai, porque o Pai e o Filho, sendo um quanto à sua natureza, são, porém, distintos quanto às suas personalidades. O Verbo c da mesma natureza do Pai, ou seja, divino.
A palavra do homem é o modo de ele se exprimir, de se comunicar com outras pessoas. Pela sua palavra, faz conhecidos seus pensamentos e sentimentos; pela sua palavra, dá ordens c efetua a sua vontade. A palavra que ele fala transmite o impacto do seu pensamento e caráter. Um homem pode ser conhecido de modo completo pela sua palavra, c ate um cego pode conhecê-lo perfeitamente assim. Ver a pessoa não daria muitas informações quanto à sua personalidade a alguém que não a tivesse ouvido falar. A palavra da pessoa é seu caráter recebendo expressão. Da mesma forma, a “Palavra de Deus” (ou "Verbo de Deus”, expressão que a tradução bíblica em português emprega quando se trata de uma referência direta a Jesus Cristo na sua vida terrena) é sua maneira de exprimir sua inteligência, vontade c poder. Cristo é aquele Verbo, porque Deus revelou sua atividade, vontade c propósito através dele, e porque é por meio dele que Deus entra cm contato com o mundo. Nós nos exprimimos por meio de palavras; o Deus eterno se exprime através de seu Filho, que é “a expressa imagem da sua pessoa” (Hb 1.3). Cristo c o Verbo de Deus porque revela Deus, demonstrando-o pessoalmente. Ele não somente traz a mensagem de Deus - Ele é, pessoalmente, a mensagem de Deus.
Deus se revelara mediante a palavra dos profetas, e através de sonhos, visões e manifestações temporárias. Os homens, porém, ansiavam por uma resposta ainda mais compreensível à sua pergunta: Como é Deus? Como resposta a esta pergunta, ocorreu o evento mais estupendo da história do mundo: “E o Verbo se fez carne” (Jo 1.14). O eterno Verbo de Deus tomou sobre si a natureza humana c se fez homem, a fim de revelar o Deus eterno através de uma personalidade humana (Hb 1.1,2). Assim sendo, diante da pergunta “Como é Deus?”, o cristão responde: Deus é como Cristo, porque Cristo c o Verbo - a expressão do conceito que o próprio Deus faz de si mesmo.
2. Seu relacionamento com a criação. “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. “Ele estava no princípio com Deus”, ou seja, já na época em que o Universo estava para ser criado (cf. Hb 1.2; Cl 1.16; 1 Co 8.6). A quem falou Deus em Gênesis 1.26?
3. Seu relacionamento com os homens. “Nele estava a vida”. Ele dá vida a todos os organismos vivos, e guia todas as operações da natureza. O Pai é fonte original da vida; e toda a vida está reservada nElc, como numa cisterna de armazenamento. O universo de coisas vivas veio a existir por meio do Verbo, e é sustentado pelo seu poder. A cura do paralítico (Jo 5.1-9) e a ressurreição de Lázaro são ilustrações do poder do Verbo.
“E a vida era a luz dos homens”. Toda a luz que já veio aos homens mediante a consciência, a razão ou a profecia, foi irradiada pelo Verbo de Deus, mesmo antes dele entrar no mundo.




SÉRIE Comentário Bíblico


Pearlman, Myer
João, o Hvangelho do Filho de Deus.../

Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.