terça-feira, 31 de janeiro de 2017

LIÇÃO 6 * PACIÊNCIA: EVITANDO AS DISSENSÕES (Subsídio Teológico 6ª Lição /2017 1º Trim)


Paciência versus Dissensões
         A palavra paciência no grego é makrothumía. Ela é uma palavra composta: a primeira parte é makro, que refere-se a algo grande e longo; a segunda parte é o thumos, que significa ânimo, disposição, índole e natureza. Então, podemos dizer que makrothumía fala de se ter paciência com as pessoas, ou seja, nunca perder o ânimo, ainda que as pessoas não sejam agradáveis conosco.
         O pastor Antônio Gilberto, na obra O caráter Cristo, precisamente define essa palavra assim:
         O vocábulo grego original traduzido por “paciência” (na versão portuguesa, usamos em Gálatas 5.22, longanimidade) é makrothumía (vem de nutkros, que significa longo, e tbumia temperamento, natureza e índole). A palavra original, pois, combina nas ideias de muita paciência e de um temperamento bem equilibrado, controlado por Deus. Em outras palavras, a pessoa em quem o Espírito Santo estiver produzindo o fruto da paciência aprende a esperar no Senhor sem perder a esperança, não admitindo derrotas e nem deixando se dominar pela ira. (GILBERTO, 2007, p. 116).
         Vale ressaltar que a paciência não está apenas relacionada com as pessoas, mas também com o tempo e certos acontecimentos em nossa vida. Quantos não perdem a paciência quando sofrem derrotas, quando não conseguem conquistar aquilo que pensavam que iriam alcançar em determinado tempo, todavia, o cristão que tem em sua vida a virtude do fruto do Espírito Santo chamada paciência jamais desiste ou perde a fé, ainda que tudo não lhe seja favorável.
         David Lim falou da longanimidade da seguinte maneira: A palavra grega makrotbumía refere-se à paciência que temos com nosso próximo. Ser longânimo é tolerar a má conduta dos outros contra nós, sem nunca buscar vingança. Dentro em breve, os cristãos em Roma passariam por perseguições.
Sob tensão e sofrimento, os cristãos podem vir a ter menos paciência uns com os outros, de modo que Paulo conclama:
“Sede pacientes na tribulação” (Rm 12.12). Ao ensinar sobre os dons, Paulo inicia tratando da paciência com as pessoas e termina com paciência nas circunstâncias (ICo 13, 4, 7).
Para nós, que formamos a Igreja, leva tempo para amadurecermos através de todas as diferenças que provêm das nossas culturas, níveis educacionais e personalidades. Por isso, Paulo nos conclama a ser completamente humildes e mansos, “com longanimidade”. (Ef 4.19) (LIM, 1996, p. 490)
         Entendemos que a paciência como virtude do fruto do Espírito faz com que o crente não se exaspere, nem seja impaciente, mas saiba como controlar-se diante de qualquer situação desagradável, sem ceder à cólera ou a ira. Para essa virtude do fruto podemos dizer que se trata de um autocontrole, que não se descontrola para agir bruscamente, que não age buscando vingança, quando for injuriado, mas pela fé vai suportando tudo.
         Quando a paciência está na vida do crente ele não desiste, não reclama, não faz murmúrios, mas segue até completar sua carreira, Paulo disse que combateu o bom combate até o fim, depois guardou a fé, ou seja, em meio às lutas, perseguição e falsidade foi por meio da paciência que ele suportou tudo, para ganhar a sua coroa (2Tm 4.7,8).
Barclay diz que a makrothumía pode ser entendida como o espírito que não reconhece derrota. O que caracterizava fortemente os romanos era esse espírito, ainda que perdessem batalhas, não desistiam. A paciência ajuda o cristão a não desistir, ainda que perca uma ou duas vezes.


As Diversas Características da Paciência
O cristão que produz pelo espírito santo a virtude da paciência sabe como tratar as pessoas, ainda que elas sejam cheias de defeitos e falhas, mesmo assim, ele espera que um dia elas mudem, por isso não desiste. Com paciência o cristão sabe sempre perdoar, pois não se deixa dominar pela ira (Pv 19.11). Ele trata as pessoas com humildade, pois seu alvo é vê-las bem, não se põe como dono da situação nem como superior a ninguém (Ec 7.8).
         Temos visto que a falta de paciência tem sido a causa para muitas brigas e contendas em algumas igrejas; pessoas que poderiam ser aproveitadas em certas atividades são execradas, tudo porque falta essa virtude maravilhosa. Salomão disse que aquele que tem o espírito longânimo sabe muito bem apaziguar a luta (Pv 15.18). Pela paciência é que se consegue manter as boas amizades, preservar a unidade no lar e na igreja, pois até o homem mais irado pode ser vencido por aquele que sabe ser paciente.
“Pela longanimidade se persuade o príncipe, e a língua branda quebranta os ossos” (Pv 25.15).
         Sem paciência não se pode tratar ninguém, sem paciência não podemos salvar os que estão longe do Senhor. Pedro diz que a paciência deve ser acrescentada em nossa vida (2Pe 1.6). Um cristão que não sabe ser paciente com as pessoas não as ajudará, especialmente aqueles que se irritam com qualquer coisa. Quem tem a paciência é considerado sábio e prudente (Pv 14. 29).
         Alguém pode perguntar: Pastor, mas qual é o resultado ou a bênção em ser paciente? Essa resposta pode ser encontrada na Palavra de Deus. Note que a igreja de Efeso foi louvada pelo Senhor por causa de sua paciência (Ap 2.3). Sempre haverá bênçãos de Deus para os que são pacientes e que suportam a provação, como, exemplo, a história de Jó mencionada no livro de Tiago (Tg 5.11).
         Em momento algum a Bíblia faz elogios a quem não tem paciência, que age sem pensar e que não tem controle sobre seus impulsos, porque agindo precipitadamente, sem controle, uma pessoa pode destruir a própria felicidade e a de outros a sua volta. Salomão disse que é melhor o homem longânimo do que o grande herói de guerra, pois, às vezes, o herói pode  conquistar ou dominar uma cidade, mas não consegue dominar o seu espírito (Pv 16.32). Quem não tem controle de si mesmo, não está preparado para controlar os outros.


Deus, o Maior Exemplo de Longanimidade
         Em diversas passagens do Antigo Testamento é declarado que Deus é paciente e longânimo (Ex 34.6; Ne 9.17; SI 103.8).
Uma prova clara da paciência de Deus para com o homem pode ser vista no episódio envolvendo o profeta Jonas (Jn 4.2).
         Jonas não tinha compaixão pelos outros, ele estava voltado para a sua mensagem, aguardando seu cumprimento, ele preferia ter o seu próprio conforto a ver as almas serem salvas da ira de Deus. Para melhorar o assunto, podemos dizer que Jonas tinha em sua vida certo grau de compaixão, só que era mal direcionada, não sabia fazer bom uso dela, por isso teve que aprender com o Senhor.
         Jonas tinha que entender que: Quanto à pessoa de Deus, Ele é um Pai bondoso, misericordioso, paciente e grande em benignidade.
Ele tanto castiga como manifesta o seu grande amor, quando há verdadeiro arrependimento.
         Deus manifestou o seu poder sobrenatural, Ele fez a planta crescer rapidamente para proteger do sol o profeta, mas o “vento oriental”, que é conhecido naquela região pelo seu calor ardente, consumiu a planta.
         A lição que Deus ensina para Jonas por meio desse ato é que se ele não fez nada para a sua existência, e declarava uma raiva por causa da sua perda, justificando assim a sua ira, como é que Deus não poderia manifestar compaixão para com o povo da cidade de Nínive?
Deus tem paciência com os pecadores, é isso que aprendemos nesse acontecimento envolvendo Jonas. Caso Ele não fosse paciente, o pecador não teria qualquer oportunidade de salvação, mas Deus oferece a chance para que todos os pecadores se arrependam (Jl 2.13). Por vezes, a paciência divina é mal interpretada, como se não tivesse olhando para os pecadores, mas Deus procede assim oportunizando a todos sua salvação (Nm 14.18).
         O homem nunca deve abusar da paciência divina, pois Deus deixa a corda solta por um certo tempo, até que a medida dos pecados encha, mas logo virá com o castigo para os que abusaram de sua longanimidade, foi isso que aconteceu com os habitantes de Canaã, por muito tempo tiveram a oportunidade de se voltarem para Deus, mas diante de sua paciente se entregaram dissolutamente ao pecado.
         O teólogo Cari B. Gibbs, falando sobre a destruição e da paciência que Deus teve para com eles diz:
         Canaã constituía a encruzilhada do mundo antigo, sendo um local ideal de onde poderia influir e doutrinar o mundo inteiro. Sabemos, de fato, que os ideais religiosos dos cananeus vigoraram por muitas gerações até os dias do apóstolo Paulo, 1.445 anos depois. Na Grécia do primeiro século da era cristã ainda havia povos que cultuavam deuses que possuíam as mesmas características atribuídas às divindades cananeias. Assim, dada a potencial influencia moral e espiritual que possuíam, era preferível a destruição de alguns milhares deles na época de Josué, do que impedir a salvação de milhões de almas nos séculos posteriores. (GIBBS, s/d, p.20)
         Entendemos que se Deus, na sua paciência continuasse a tolerar os pecados dos cananeus, o mundo seria contaminado ainda mais por meio dos seus ensinos e práticas pecaminosas, mas fica claro que Deus teve paciência para com eles por séculos e séculos, dando-lhes chances de arrependimento, mas eles não quiseram.
         A paciência de Deus não pode ser vista ou entendida como apatia, Pedro escreve que a longanimidade divina era uma chance que estava sendo dada aos pecadores para que todos se arrependessem e procurassem servir a Deus em santidade (2 Pe 3.15). Paulo escreveu que foi devido a paciência divina que foi salvo (1 Tm 1.12.16).
         Nos dois exemplos acima, no qual em um se tem um mundo que está totalmente no pecado há muito tempo, no outro percebemos um homem que persegue os crentes e blasfema a fé que os cristãos pregavam, caso Deus fosse um ser sem paciência de imediato poderia desfalcar todos os pecadores de uma só vez, mas sua paciência é uma oportunidade que Ele dá para que os pecadores possam buscar a salvação.
         No Comentário Bíblico de Michael Green, falando sobre a paciência divina, ele comenta:
         [...] Os falsos mestres reaparecem na mira de Pedro por um momento. Na sua impaciência, atribuíram a demora na volta de Cristo ao descuido dEle, e asseveram que esta trará decepções. Pedro reitera que é devido à longanimidade e que conduz à salvação. A diferença nas atitudes é determinada pela única palavra do nosso Senhor. Os falsos mestres tinham negado o Senhor que os comprara. Naturalmente, portanto, estavam ansiosos por lançarem descréditos sobre sua volta.
Os cristãos genuínos procuravam crescer no conhecimento do seu Senhor. Naturalmente, portanto, zelosamente antecipavam a sua volta. (GREEN, 2006, p. 138)
         Teologicamente, podemos dizer que quando a Bíblia faz menção da paciência de Deus, ela não está sendo descrita como um tipo de sentimento no qual o Ser Divino se compraz em ver alguém sofrer para depois lhe abençoar, mas conforme Pedro escreveu, essa paciência é um convite ao pecador para que ele abandone seus pecados, pelos quais sempre ataca a santidade divina, e se volte para Deus enquanto Ele ainda está sendo longânimo, paciente (Rm 2.4; 2 Pe 3.9).
         Deus é paciente e longânimo, Ele espera o tempo necessário para que o homem se arrependa, mas quando este passa a abusar dessa paciência, sendo pertinaz no pecado, Deus permite que o homem haja como quiser, no entanto, ele jamais merecerá a salvação divina (Rm 9.22).


O Cristão e a Paciência
         O que deve assinalar fortemente a vida do crente é a paciência, sempre suportando a todos em amor (Ef 4.2; Cl 3.12; 2Co 6.6; lCo 13.14). Existe crente que diz assim: “Não suporto ouvir esse irmão falar”; outros dizem: “Não gosto desse irmão nem um pouco, ele é muito chato, por mim esse pastor já teria ido embora daqui há tempo”. Pergunto: Um crente que tem a virtude da paciência em sua vida, que está cheio do amor de Cristo agirá assim?
Creio que não, pois é consciente de que assim como Deus teve paciência com a sua vida de pecado, dando-lhe oportunidade para mudar, assim Ele irá proceder para com as pessoas ao seu redor.
         Quando a paciência está na vida do crente, ele sabe suportar e esperar com alegria, na certeza de que no tempo certo Deus lhe ouvirá e trará a solução para todo problema. A paciência deve estar presente também na vida do pastor, ele precisa de paciência para apascentar o rebanho de Cristo. Um pastor que tem esse maravilhosa virtude jamais deixará de acreditar nas pessoas, dará tempo ao tempo para que certas coisas se resolvam e investirá nas pessoas.
         A paciência é um aspecto que Paulo incentivou o jovem Timóteo buscar (lTm 6.11; 2Tm 3.10), caso o obreiro não tenha a paciência, viverá frustrado, decepcionado, e mudando constantemente de igreja, pois o que não falta no meio das ovelhas é bode. Tratando desse assunto, o pastor Antônio Gilberto fala da importância desse aspecto na vida dos obreiros:
         A paciência, como fruto do Espírito, é algo muito valioso na vida e no trabalho de um ministro do evangelho. A paciência é necessária na preparação, na oração, no estudo bíblico, no treinamento e no desenvolvimento do crente. E necessária para os líderes, para que ajudem outros crentes. Isso foi o que Paulo ensinou a Timóteo, no tocante à necessidade de servir com paciência. (GILBERTO, 1984, p. 126)
         Os crentes são incentivados a proceder em tudo com paciência, e nunca agir como o povo sem Deus, que por qualquer coisa cria confusão, baderna, motins e causa escândalos ao Reino de Deus. O escritor aos hebreus falou da importância dos salvos em Cristo não serem negligentes, mas procurarem proceder com fé e paciência, como aqueles que herdaram a promessa (Hb 6.12).
         Precisamos entender que o ato de esperar com paciência, é uma virtude do fruto do Espírito, tendo essa virtude o cristão não fica ansioso nem triste, em cada situação de sua vida se alegra por saber que está debaixo vontade de Deus, certo de que no momento exato Ele agirá. Paulo sabia muito bem da importância da paciência na vida do crente, por isso orava para que todos o tivessem (Cl 1.11).
         O homem é um ser que não gosta de esperar, quer que as coisas aconteçam de modo rápido. Alguns querem ganhar dinheiro fácil, outros querem subir no ministério de elevador, outros saltam os degraus da escada, tudo porque não querem enfrentar os dissabores de sua caminhada, mas quando a virtude do fruto do Espírito, a paciência, está em sua vida, cristão sabe esperar o agir de Deus, assim como faz o lavrador (Tg 5.7-10).


A Paciência na Visão Estóica
         Ouvimos comumente que as pessoas estão vivendo muito estressadas, que a pressa da vida moderna tem tomado enfastiante o comportamento dos seres humanos, de modo que as reações têm sido as mais diversas: briga no trânsito, depressão, agressão física e verbal, falta de controle emocional e assassinatos. Mas qual é realmente a causa para tanto desequilíbrio? Quem de fato está no controle das coisas?
         Para os seguidores do estoicismo frente a tudo o que se contempla hoje, a melhor coisa a ser feita é exercer um controle mental, isso quer dizer que devemos aceitar as coisas como elas são, isto é, em relação àquilo que não podemos mudar. Por exemplo, por mais que sejamos inteligentes, capazes e bem racionais, não podemos evitar a chuva, o envelhecimento, as doenças, a morte, pois essas coisas fazem parte da vida.
         As pessoas que buscaram encontrar um controle mental procuraram se firmar na filosofia estóica, a qual teve diversos representantes, Zenão de Cítio (334-262 a.C.) foi um dos primeiros deles.  A palavra estoico vem de stoa, uma colunata pintada em Atenas onde esses filósofos costumavam se encontrar, esse pórtico era em diversos níveis.
         Os estoicos desenvolviam seus argumentos filosóficos em variadas ideias sobre a realidade, ética, verdade, lógica e moral, contudo ficaram mais conhecidos por causa do pensamento que expressavam sobre o controle mental. Eles diziam que o homem só deveria se preocupar com aquilo que pode mudar, por isso, a tranquilidade de espírito era o ponto de convergência deles.
         Para o estoicismo tudo depende da nossa atitude em relação ao que nos acontece, ainda que a situação seja a mais desagradável, angustiante e triste, quem está no controle de tudo somos nós. Nós podemos escolher nossas reações diante das situações controversas da vida, se será boa ou má.
         O estoicismo via as emoções não como situações climáticas, que podem mudar a qualquer momento e involuntariamente, pelo contrário, eles diziam que as nossas respostas diante de determinada situação dependem da nossa própria escolha.
         Se alguma coisa desse errado, se alguém fosse enganado, diziam que era uma escolha do homem ficar triste ou zangado.
Para um estoico ser dominado pelas emoções era prejudicar o lado racional, pois ela obscurece a mentalidade humana, e não permite que o homem perceba o que é certo, sendo assim é preferível que elas sejam debeladas do nosso ser.
         Não era mera teoria que marca a filosofia estóica, mas o praticismo.
Epíteto (55-135), que foi um dos últimos estoicos, tinha sido escravo, sofreu muito durante toda sua vida e teve seu corpo ferido, por isso mancava. Ele passou fome, sede e desprezo, mas por meio dessa experiência dizia que a mente pode permanecer livre enquanto o corpo é escravizado. Os sofrimentos vividos na prática levaram esse estoico a lidar com a dor e o sofrimento.
         Não demorou muito para que a filosofia estóica ganhasse seguidores no mundo, generais, médicos e pessoas enfermas, todos começaram a querer adotar essa filosofia de vida, como no caso do general James B. Stockdale. Quando Stockdale se encontrava nas batalhas, frentes as lutas que combatia, manteve- se impassível, não se importando com a dor ou alegria, segundo ele, como não poderia mudar a situação o melhor era não se deixar dominar por ela. E nesse particular que se diz que nossos pensamentos dependem de nós.
         A filosofia estóica atingiu muitos romanos de classe, dentre eles citamos Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), Lúcio Aneu Sêneca (1 a.C.- 65 d.C.). Esses dois diziam que o envelhecimento era coisa normal da vida, por isso não procuraram mudar nada, mas afirmavam que deveríamos fazer do nosso tempo o melhor tempo.
         Cícero, advogado, político e filósofo, dizia que a velhice não poderia ser evitada, mas ela não precisaria ser temida, pois na velhice, ainda que as forças físicas não sejam tantas, as pessoas de idade avançada poderiam ganhar mais trabalhando menos, isso por causa da experiência alcançada ao longo da vida. Uma pessoa de idade avançada tem capacidade de apresentar um trabalho com mais resultados. Na velhice, quando os prazeres físicos se esvaem, os idosos têm mais tempo para ficar ao lado das pessoas.
         Para fecharmos o conceito de filosofia estóica vamos falar mais um de seus defensores: Sêneca. Enquanto alguns viviam dizendo que a vida era curta demais, para esse filósofo, dramaturgo e empresário, a questão não era simplesmente o tempo da vida, mas, sim, o quanto usamos desse tempo de modo ruim. Não fique aborrecido com a vida, dizia ele, antes aproveite o tempo que você tem para viver, pois tudo depende de sua atitude de como encara as coisas.
         A questão não é viver cem anos, afirmava Sêneca, pois muitos alcançaram essa longevidade e nada fizeram, o mais importante era fazer as escolhas certas. Muitos gastam o tempo da vida correndo freneticamente em busca de dinheiro, fama, poder, bebida, prazer e jogos, não tendo mais tempo para fazer outras coisas belas da vida.
         Por causa de escolhas e coisas ruins feitas na juventude, para muitos a velhice será cansativa e marcada de lembranças tristes. Não podemos transformar nossa vida como um barco que foi lançado ao mar, que é carregado pelas ondas e atacado pelos ventos. Para que a viagem se torne agradável aos tripulantes é imprescindível que o capitão do navio tenha o controle do barco.
         Aqueles que são carregados pelas decisões dos outros, que não têm controle de suas emoções, que têm suas vidas conduzidas por ideologias e acontecimentos, e não vivem suas próprias experiências valiosas, jamais terão um viver glorioso. Muitas pessoas, na terceira idade, temem ter lembranças do passado, pois o que construíram não valeu a pena, e uma vida bela é aquela que nos faz feliz com as memórias do passado.
         Não podemos negar que a filosofia estóica é importante, mas ela se esquece de que o homem não tem poder em si mesmo para produzir a verdadeira paciência nem uma mente pura para exercer controle sobre toda situação. O profeta Jeremias disse que enganoso é o coração mais do que todas as coisas (Jr 17.9).
         O pecado afetou o homem, agora ele vive sem Deus e não pode por si mesmo produzir controle sobre tudo, por isso precisa buscar a ajuda do alto. Paulo fala que para o homem ter uma vida equilibrada, precisa ter sua mente transformada para poder experimentar a perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12.2).
Tendo a mente de Cristo o homem poderá pensar no que é bom, agradável, puro (ICo 2.16).
         Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Fp 4.8)
         As pessoas que temem a velhice devem fazer como ensinou Salomão: lembrar-se sempre de Deus na juventude, procedendo da maneira certa, para que ao olhar o passado não sintam desgosto e descontentamento (Ec 12.1), mas, pelo contrário, “Na velhice ainda darão frutos: serão viçosos e florescentes” (SI 92.14).

As Dissensões e seus Males
         Do grego a palavra dissenção é dichostasia, segundo o Dicionário Vine.
         Literalmente, que dizer à parte (formado de dicbe, à parte, separadamente, e stasis, posição; a raiz di- indicando divisão, é encontrada em muitas palavras em vários idiomas), é usada em Romanos 16.17, onde os crentes são ordenados a  marcar aqueles que causam “divisão” e a se afastar deles; e em Gl 5.20, onde “dissensões” são referidas como “obras da carne”. Alguns manuscritos têm este substantivo em 1 Co 3.3. (VINE; UNGER, WHITEJR., 2002, p. 571)
         No Dicionário do Grego do Novo Testamento, Carlos Rusconi faz uma definição bem simples da palavra dissensão, dicbostatéo, separar, discordar, causar dissenso. Essa palavra não sendo tão comum no Novo Testamento, pois aparece apenas em Gálatas 5.20 e Romanos 16.17, é suficiente para mostrar que essa obra da carne sempre procura criar discrepância e dissidência, seu alvo prioritário é causar intranquilidade, contrariedade, e até oposição com o passado frente ao novo.
         A dissensão sempre cria inimizades e divisão, ela rompe de vez com a comunhão, quer seja no convívio social, na família, na política e na igreja, e provoca grande destruição. Os que vivem dominados pela dissensão sempre estão separados, isolados, não partilham o verdadeiro amor de Cristo, e trabalham incansavelmente para que a comunidade de salvos seja prejudicada.
         Percebemos quando a dichostasia está presente na igreja por causa do isolamento e da separação, por vezes até existe um encontro pessoal, mas não há uma unidade de espírito, existe diálogo, mas não saudável, há interesses, mas não pelo Reino. Em muitas igrejas existem grupos, famílias que de praxe já são conhecidas como os separados, aqueles que têm opiniões sempre contrárias em tudo, buscando estorvar o trabalho do Senhor.
         Jamais podemos pensar que um cristão não pode ter pensamento diferente de outro, opiniões diferentes, mas tais pensamentos e opiniões podem ser desenvolvidos para atrapalhar a unidade do corpo de Cristo, a Igreja. No Comentário Beacon, volume 9, o autor tratando sobre dissensões, diz:
         De estreita relação estão as dissensões (20, dichostasuai), cuja tradução melhor é “divisões”. A rivalidade, motivada por egoísmo, só pode resultar em divisões que destroem a unidade da igreja. Aqui, Paulo não está falando de diferenças fundamentadas em crenças sinceras; ele está preocupado com divisões ocasionadas por motivos errados, cuja procedência é determinada à carne pecaminosa. Diferenças honestas não são incompatíveis com comunhão harmoniosa, porque parte vital da liberdade e do amor é o respeito pelas opiniões dos outros, mesmo quando estas conflitam com a nossa. Entretanto, convém que todo crente examine constantemente o coração para que preconceito não seja confundido com princípio e teimosia com dedicação. (BEACON, 2006, p. 72)
         Os cristãos podem ter opiniões diferentes, uma igreja, em seus ensinos teológicos pode ter interpretações diferentes, mas os verdadeiros crentes jamais têm opiniões pautadas na obra da carne, buscando dividir o Corpo de Cristo, caso isso esteja acontecendo, é preciso que o crente se arrependa e se volte para Deus com sinceridade.
         Entendemos que as divisões que campeiam nos partidos, classes, muitas delas são oriundas de ideologias baseadas e fundamentadas em interesses particulares. Barclay diz que na divisão de classes; na realidade, são ideologias baseadas em nada menos do que a necessidade de lutas entre as classes (BARCLAY, 1988, p. 54).
         Na atualidade, fala-se muito sobre a consciência ideológica como sendo um conjunto de ideias que dissimulam a realidade, pois mostra não como as coisas são em sua essência, mas, apenas, expõem as coisas de modo parcial em relação ao que é de verdade, buscando assim ocultar ou dissimular na realidade o domínio de uma classe social sobre a outra. Esse termo foi criado pelo filósofo Francês Destutt de Tracy (1754-1836), afirmando ser a ciência das ideias, compreendendo o estudo da origem e do desenvolvimento das ideias.
         Pelo uso constante desse termo por meio do filósofo Karl Max, essa expressão passou a ser usada frequentemente tanto na filosofia como também na ciência, mas devemos levar em consideração o seu uso feito por Max. Ele usava esse termo num contexto totalmente diferente, buscando expressar as diferenças existentes em leituras diferenciadas dos estudiosos de algum tipo de assunto.
Hoje, a maneira como se usa o termo ideologia é no sentido de reprimir as classes, são explicações que visam evitar um conflito aberto entre aqueles que oprimem e os que são oprimidos.
A ideologia se apresenta também como um tipo de consciência parcial da realidade seus conceitos e preconceitos firmam-se na busca pela dominação.
         Marilena Chauí diz que a ideologia tem os seguintes traços:
       a) Anterioridade. A ideologia predetermina o pensamento e a ação, desprezando a história e a pratica na qual cada pessoa se insere, vive e produz. Nesse sentido a ideologia busca um modo de aplicar, sentir e agir de cada indivíduo, prescrevendo de antemão o estilo de vida de cada ser vivente.
       b) Generalização. Nesse aspecto, a ideologia apresenta o bem de alguns como se fosse o bem de todos; com isso a ideologia busca colocar na mente de cada pessoa um tipo de consenso coletivo, uma aceitação geral de valores, ocultando os interesses sociais que nascem da divisão das classes.
       C) Lacuna. Quando há omissões e silêncio, monta-se uma lógica para ocultar e não para revelar, para falsear, sendo assim as “verdades” criadas devem parecer verdades válidas para todos.
         Sabemos que nem todos concordam com o posicionamento de Chauí. O filósofo húngaro, Gyorgy Lukács (1885-1971), afirma que a ideologia não tem um caráter dissimulador de lutas de classes, pois não seria um fenômeno apenas das sociedades divididas em classe. Para o pensador italiano Antonio Gramsci (1891-1937), a ideologia é o cimento que garante a coesão social.
         No pensamento de Gramsci, por meio de uma ideologia vinda da educação, religião e mídia, a preponderância, supremacia de um povo sobre outro, ou de uma cidade sobre outra, só seria possível por meio da ideologia hegemônica.
         Para que a classe operária pudesse se sobrepor, ela teria que ter uma consciência revolucionária, desse modo estaria capaz de atuar como revolucionadora. Os operários teriam que atuar seguindo uma ideologia, a qual deveria ser arquitetada e montada por intelectuais que falassem a mesma linguagem da classe, e que estes deveriam estar presentes nos sindicatos, escolas, instituições de renomes, associações, etc.
         Uma coisa é certa, sendo verdade ou não o conceito de ideologia, sabemos que existem grupos e classes que estão dominadas por ideias que visam destruir a família, os bons costumes e os valores. Os cristãos não podem operar com esse tipo de sentimento, mas devem unir-se para que o trabalho do Senhor sempre esteja de pé, pois, como falou Jesus, a casa dividida não fica de pé (Mt 12.25).
         Não precisamos ir longe para ver o quanto as dissensões estão presentes no nosso dia a dia; observe que boa parte da política partidária busca vantagens nas crises da política nacional.
         Tristemente podemos dizer que a dichostasía está presente nos partidos políticos, nos relacionamentos pessoais, onde uns são valorizados, outros não, na questão racial, em que a cor, e não o caráter, é o que é valorizado, posto que o próprio Deus se manifestou terminantemente contra isso (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.15; Tg 2.1,9).
         Portanto, queridos irmãos, devemos cultivar o fruto do Espírito para não cedermos às dissensões, causado divisão ao Corpo de Cristo, destruindo a beleza de sua união. Reavaliemos nossos pensamentos e ideias, nossas teologias, para vermos se não estamos causando mais prejuízos do que bem, pois o que na verdade edifica é o amor e não meras opiniões ou ciências vazias.
         Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica. (lCo 8.1)

FONTE:
Livro de apoio 1º Trimestre de 2017
 As Obras da Carne e o Fruto do Espírito
Escrito por: Osiel Gomes.
Osiel  Gomes é pastor, formado em Teologia, Filosofia, Direito, Pedagogia, Psicanálise e pós--graduado em Docência do Ensino Superior.
Preside a Igreja evangélica Assembleia de Deus - Campo Tirirical, em São Luis, Maranhão

sábado, 28 de janeiro de 2017

SOBRE O PRIMEIRO MANDAMENTO DO DECÁLOGO

 I. Os dez preceitos do decálogo são, convenientemente, distribuídos entre os da primeira e os da segunda tábua. À primeira tábua são atribuídos aqueles preceitos que prescrevem, diretamente, o nosso dever, para com o próprio Deus; deste tipo, há quatro. A segunda tábua contém os preceitos que contêm os deveres dos homens para com os seus companheiros; para isso são atribuídos os seus últimos.

II. Esta é a relação que subsiste entre os mandamentos de cada tábua – o fato de que, por amor a Deus e com referência a Ele, manifestamos amor e as funções do amor para com o nosso próximo; e se acontecer de necessitarmos abrir mão de nosso dever para com Deus ou para com o nosso próximo, Deus deve ter a preferência, acima do nosso próximo. Esta relação, no entanto, deve ser interpretada como sendo a respeito apenas daqueles preceitos que não são de adoração cerimonial; caso contrário [a respeito das cerimônias] esta declaração é válida: “Misericórdia quero e não sacrifício” (Mt 9.13).

III. O primeiro mandamento é: “Não terás outros deuses diante de mim”.

IV. É certo que, neste preceito negativo, a afirmativa acrescentada é incluída ou pressuposta, como algo que é precedente,sendo um requisito: “Eu sou o Senhor, teu Deus... portanto, não reconhecerás outro deus além de mim”. Isto é imediatamente consequente ao prefácio: “Eu sou o Senhor, teu Deus”, portanto, “Deixa me ser o Senhor, teu Deus”, ou, o que é a mesma coisa, “Portanto, tereis a mim, o Senhor, como vosso Deus”.

V. Todavia, ter o Senhor como nosso Deus é parte, tanto do entendimento como da inclinação, ou vontade; e, por fim, de um efeito que procede de ambos, e de cada um deles.

VI. “Outro deus” é tudo aquilo que a mente humana inventa, a que se atribui a divindade que é apropriada e adequada apenas ao Deus verdadeiro – quer essa divindade seja essência e vida, ou propriedades, obras ou glória.

VII. Ou se a coisa a que o homem atribui divindade seja algo existente ou criado, ou seja algo que não existe e seja meramente imaginária e uma fábula da mente, é, igualmente, “outro deus”, pois toda a divindade desse outro deus está radical, essencial e praticamente na atribuição humana, e de maneira alguma naquilo a que tal divindade é atribuída. Daí, a origem desta frase, nas Escrituras: “não seguireis após o vosso coração”.

VIII. Porém, este “outro deus” pode ser concebido sob uma tripla diferença, segundo as Escrituras. Pois aqueles que o têm, (1.) foram os que o inventaram, (2.) ou o receberam de seus pais, ou (3.) de outras nações, quando nem eles nem seus pais o conheciam; e esta última situação acontece pela força, ou pela persuasão, ou pela livre e espontânea escolha da vontade.

IX. Por este motivo, esse “outro deus” é, na verdade, chamado “ídolo”, e o ato pelo qual ele é considerado outro deus é idolatria, quer seja cometido na mente, por avaliação, conhecimento e crença, ou pelos sentimentos, amor, temor, confiança e esperança, ou algum efeito externo da honra, adoração, e invocação.

X. A enormidade deste pecado é aparente pelo fato de ser chamado “uma deserção de Deus”, “o abandono da fonte viva” e “cisternas rotas, que não retêm as águas”, “um pérfido abandono do santo matrimônio” e uma “violação ao pacto matrimonial”. Na verdade, os gentios são descritos como sacrificando aos demônios o que deveriam oferecer a Deus, nesta ignorância de Deus e alienação da vida de Deus.

XI. A causa pela qual os homens são ordenados a servir os demônios, ainda que eles mesmos tenham outras ideias, é esta: porque Satanás é a fonte principal e origem de toda idolatria; e é o autor, persuasor, instigador, aprovador e defensor de toda a adoração que é dedicada a outro deus. Consequentemente, é o maior grau de idolatria, quando alguém considera divino, ou atribui divindade a Satanás, como Satanás, exibindo-se como Satanás e louvando a si mesmo, diante de Deus.

XII. Porém, embora os gentios adorassem anjos ou demônios, não como o Deus supremo, mas como divindades menores e seus ministros, por cuja intervenção podiam ter uma comunicação com o Deus supremo, ainda assim, a adoração que lhes prestavam era idolatria, porque esta adoração não era devida a ninguém, exceto ao Deus verdadeiro. Apesar disso, a definição de idolatria não diz que uma pessoa deva prestar a outra a adoração que é devida somente ao Deus verdadeiro; pois será suficiente se o reconhecer como Deus, atribuindo-lhe a adoração divina, embora, em sua mente, possa não considerá-lo como o Deus supremo. Isto não é um alívio para o crime, mas um agravo, se alguém presta, conscientemente, uma adoração divina a alguém que sabe que não é Deus.

XIII. E Cristo deve ser honrado como o Pai, pois foi constituído por seu Pai como REI e SENHOR, recebendo todo o juízo e, assim, todo joelho deve se dobrar diante dEle. Ele deve ser invocado como Mediador e Cabeça de sua Igreja, de modo que a Igreja possa prestar esta honra exclusivamente a Ele, sem incorrer no crime de idolatria; portanto, os papistas, que adoram Maria, ou os anjos, ou os santos, invocando-os como os doadores e administradores de dons, ou intercessores por seus próprios méritos, são culpados do crime de idolatria.

XIV. Além disto, quando adoram o pão, na Ceia do Senhor, e recebem e consideram o papa como aquele personagem de que ele se vangloria ser, cometem o pecado de idolatria.

Fonte:
Todos os direitos reservados. Copyright © 2015 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

Título do original em inglês:The Works of James Arminius, vol.1

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

"SUBSÍDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 5 - 1º TRIM 2017" PAZ DE DEUS ANTÍDOTO CONTRA AS INIMIZADES.
















                                                 
Paz versus Inimizade
Definição sobre a Paz
Em toda a existência do homem o que ele sempre desejou e deseja é paz, tanto para a cidade como a paz interior. Na busca pela paz nas cidades, as autoridades têm feito de tudo para que ela esteja presente, isso aconteceu no tempo de César, ele até conseguiu trazer a paz para Roma, mas não a paz para a vida interior do homem.

         O mundo vive sem paz porque é habitado por pessoas que vivem dominadas pela natureza pecaminosa, essa posição é defendida por Tiago: “Donde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?” (Tg 4.1).
A falta da paz na cidade tem origem na ausência de Deus.  Paulo disse que quanto mais o homem fala em paz, mais haverá repentina destruição (lTs 5.3).

         Não é utopia, mas um mundo sem guerra, sem conflitos armados, sem brigas, com todos vivendo em tranquilidade, só será possível quando Jesus Cristo reinar e todos os seus súditos estiverem transformados. Jesus tanto trará a paz para o mundo como a paz interior, somente Ele tem autoridade para conceder paz (Jo 14.27).

         Na busca por uma definição precisa sobre a palavra paz, estudiosos e filósofos têm procurado descrevê-la de diversas formas. Na filosofia, alguns ensinaram que para a paz realmente acontecer era necessário evitar os prazeres e o aumento de bens materiais, pois quanto mais temos essas coisas, mas se avolumam as perturbações em todos os sentidos.
        
Ensinaram também que caso uma pessoa deseje realmente ter paz, não deve deixar que as emoções fujam do controle, nem que outras pessoas dominem sua vida. Caso isso aconteça, ele facilmente cairá; por isso, para que não ceda a tais desejos o primordial é controlar a mente, fazer boas escolhas. Sendo assim, em relação às coisas que estão diante de seus olhos, ao seu redor, o melhor é manter-se negligente e jamais depender delas.
        
Na definição filosófica, a paz desejada pelo homem só seria possível caso ele se mantivesse separado das coisas exteriores, refreasse seus desejos e se mantivesse desinteressado com o mundo que o rodeia. Note que a paz proposta pelos filósofos é sem vida e sem alegria, pois exclui o homem do próprio mundo em que vive
e de seus prazeres, como se todo o problema estivesse nas coisas.
        
A Bíblia sempre deu ênfase ao homem desfrutar das coisas deste mundo, posto que tudo o que Deus criou é bom e perfeito (Gn 1.31). Riqueza, poder e prazer no trabalho, todas essas coisas são bênçãos de Deus para o homem, delas ele precisa desfrutar com alegria.
        
         Não há poder nos objetos para conceder felicidade e paz. Jesus disse que a felicidade do homem não está na abundância de bens que alguém possui (Lc 12.15). Na obra de Humberto Rohden, O Pensamento Filosófico da Humanidade, a felicidade é retratada assim:

         O estoicismo é, substancialmente, socrático, universalista; mas, diversamente dos cínicos, não pensa que a felicidade do homem consinta em não possuir nada, e sim em que não ser possuído de coisa alguma, seja de fora, seja de dentro. Pode o homem possuir externamente o que quiser, mas não deve internamente ser apegado a coisa alguma, de maneira que suas posses sejam a causa de sua felicidade, ou a falta dessas posses seja a causa de sua infelicidade. A felicidade não está naquilo que o homem possui, porém no modo como possui. (ROHDEN, s/d, p. 81)

         Jesus disse que o homem bom tira do seu tesouro coisas boas, ao contrário do homem mau, que tudo o que sai de sua vida será destruidor (Mt 12.35). Os que vivem sob o poder destruidor da natureza pecaminosa produzirão ações para a morte, mas os que desfrutam da comunhão com Cristo, tendo a paz como virtude do fruto do Espírito, produzirão um ambiente de alegria e harmonia.


A Paz na Definição Bíblica
         No Antigo Testamento, a paz é denominada Shalom, essa é uma saudação normalmente usada no dia a dia com a qual os judeus se cumprimentam. Na obra do pastor Billy Graham, fazendo uma definição da paz como fruto do Espírito, ele afirma que:
Paz traz a ideia de unidade, satisfação, descanso, segurança e tranquilidade. No Antigo Testamento a palavra é Shalom.
Quando encontro algum amigo judeu o cumprimento com Shalom. E quando cumprimento um dos meus amigos árabes uso um termo semelhante que na língua deles significa paz, Shalom. (GRAHAM, 2009, p. 222)

         A palavra Shalom pode ser entendida como boa saúde, um bom viver, prosperidade e riqueza (Gn 43.27; Sl 38.3; Jó 15.21).
Para os judeus, esse Shalom é visto como algo que faz com que a vida se torne uma vida de qualidade, eles não viam a paz apenas como uma ausência de guerras, uma vez que pessoas podem estar juntas sem que tenham harmonia, outras podem ter muitos bens, mas não desfrutam da verdadeira paz. O aspecto positivo da paz, na visão dos hebreus, é aquilo que age na produção de um bem para todos. Os judeus viam a paz como algo que contribuía para um estado permanente de felicidade, nela estava presente a bênção de Deus, de modo que o Shalom não seria uma mera saudação convencional, mas, sim, um agir divino para a promoção do bem e da felicidade daqueles que confiavam em Deus (Is 23.6). A Septuaginta carregou o mesmo significado do judaísmo, em sua forma eirene passou a ser traduzida por tranquilidade, felicidade, segurança, prosperidade, harmonia, unidade, acordo, quietude e descanso, certo que tudo isso vinha diretamente de Deus (Is 32.17; SI 4.8).
Quem tem a paz na vida está disposto a viver bem com todos. Vivendo na paz, Shalorn ou eirene, o homem poderá desenvolver relacionamentos saudáveis com o seu próximo, já que estaria vivendo na paz que lhe encaminharia para o bem, evitando comportamentos que prejudicasse o seu próximo. O salmista, querendo incentivar a todos a viverem bem, buscando relacionamentos estruturados, não diz primeiro: sejam unidos, pelo contrário, ele começa incentivando a todos a buscarem a paz, e que todos se empenhem por ela (SI 34.14) ainda que outros não queiram (Rm 12.18). Um homem de Deus sempre agirá buscando a paz com todos, nas páginas do Antigo Testamento os homens de Deus sempre procuraram promover a paz com o seu próximo (Js 9.15), eles agiam dessa maneira porque estavam em paz com Deus (Is 54.10; Jr 29.11).

         Ter a paz na vida é algo muito singular, pois, ainda que os servos de Deus enfrentem problemas, lutas, desavenças e contrariedades, essa paz concede um bem-estar para a alma, para o corpo e uma serenidade grandiosa, e os conduzem a procurar viver harmoniosamente com o seu semelhante.


A Paz no Novo Testamento
         Nas saudações do apóstolo Paulo o eirene, isto é, paz, sempre estava presente; em Romanos 1.7 ele diz: “A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus nosso pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Rm 1.7).
Cháris humin kaí eiréne (Graça a voz e paz). Pelas palavras finais de Paulo, percebemos que as pessoas às quais ele falava eram gentios convertidos, que agora estavam separados, ou seja, separados para viverem os ideais divinos, vivendo em Roma com cristãos verdadeiros, cheios da graça e paz, que pode soar como uma saudação pessoal, contudo ela vai muito mais além, indica a ação salvadora de Deus em suas vidas. Esses cristãos poderiam impactar Roma com o poder do Evangelho que estava em suas vidas.

         Em muitos outros textos Paulo fazia uso de eiréne como uma saudação (ICo 1.3; Gl 1.3; Fp 1.2; lTs 1.1; lTm 1.2), deixando claro aos irmãos que eles poderiam estar sempre bem, porque tinham recebido tudo o que precisavam para serem felizes. Paulo entendia que essa paz maravilhosa vinha de Deus por meio da fé (Rm 15.13), e levava os crentes a crer no gozo divino.

         Vivendo na paz que vinha por meio da fé em Deus o cristão poderia praticar o bem para com todos os homens (Rm 2.10), isso porque ele desejaria estar em total e absoluta obediência, pois é do Senhor que vem a tranquilidade para a vida. O homem não pode criar sua paz, Paulo esclarece que a paz vem de Deus,por isso está acima da mente humana (Fp 4.7).

         Paulo sempre falou da importância da paz na vida do crente, e algo importante quando lemos João 14.27 é que Jesus poderia ter provido a paz na terra, pois em seus dias a falta de paz era grande, mas Ele desejou conceder aos seus filhos a sua paz.

          Os discípulos de Jesus Cristo tinham muitos problemas, inclusive medo; cremos que o que eles mais desejariam ouvir do seu Mestre eram as seguintes palavras: “Eu os farei prosperar, darei boas condições de vida a todos, os melhores cargos e empregos”, mas, não foi bem assim, antes de morrer dos seus lábios saíram as palavras mais maravilhosas:

         Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. (Jo 14.27)

Essa paz presente no coração dos discípulos acalmou seus medos, suas desesperanças, seus anelos e suas ansiedades, eles procuraram viver certos de que o eiréne divino lhes conduziria a todo tipo de bem.

         Quem vive na paz de Deus sempre batalha para que tudo concorra para o bem, Paulo disse que um crente que tem a paz na vida não intenciona criar dificuldade, mas procura desenvolver relacionamentos harmoniosos porque sabe que o desígnio de Deus é: que todos vivam em paz (1 Co 7.15).

         Um casal cristão, que tem a paz de Deus, no momento em que surgir um conflito não pensará logo no divórcio nem em separação, como os dois tem ciência de que Deus os chamou para paz, seu alvo primordial é procurar desenvolvê-la. É triste dizer, mas em muitos lares cristãos as brigas e contendas são constantes, criando um ambiente de infelicidade, porque a verdadeira paz está ausente.

         Jesus morreu na cruz para promover paz no nosso interior e com o próximo (Ef 2.14-17). Paulo diz que Jesus derribou a parede de separação. No meu livro Cartas da Prisão, tratando sobre esse assunto, escrevo:

         A palavra parede no grego é mesótoichon, muro. Note que essa palavra é composta, mésos fala de meio, ou no meio (Jo 19.18), isso como adjetivo, como substantivo fica o meio (Mc 7.31), no caso neutro funciona como um advérbio, nesse caso é usado como preposição com genitivo: no meio (Mt 14.24; Fp 2.15). Paulos está falando do muro que separava o pátio dos gentios e o dos judeus no Templo, nessa parede tinha um escrito que advertia aos gentios sob certas penalidades, inclusive a morte, se eles se atrevessem a entrar no lugar dos judeus. Essa inimizade o Senhor Jesus Cristo desfez, tudo isso foi feito por meio da cruz de Cristo, por meio dela todos têm acesso a Deus. (GOMES, 2015, p. 50)

         A paz que Deus dá aos crentes faz com que os relacionamentos sejam sólidos na igreja (Ef 4.2), observe que a paz que recebemos divinamente não está limitada apenas ao nosso interior, como um rio ela se alastra atingindo outras pessoas. E impossível um crente ter a paz de Deus e estar criando confusão, contendas e  brigas na igreja, isso porque a paz de Deus é seu árbitro, é ela que decide tudo (Cl 3.15).

Quando a paz de Deus está no coração de cada membro da igreja, as decisões, atitudes, projetos, nada é feito baseado na buscada autopromoção, nem governado pelo espírito de louvor pessoal, pois quem decide tudo é a paz de Deus que age como um ser soberano, um juiz que dirime.

         O cristão que tem a paz sente-se responsabilizado em promovê-la com todas as pessoas (Hb 12.14), anelando que os relacionamentos sejam bem construídos, não cedendo aos desejos carnais na intenção de promover dissidência. Quem tem paz com Deus busca promover o que é bom, pois já foi justificado (Rm5.1), o cristão é consciente que por meio de Jesus foi restabelecida sua paz com Deus (Cl 1.20), como então ele poderá trabalhar para desfazer essa paz?Na paz de Deus o nosso relacionamento é tanto vertical como horizontal, podemos nos voltar para o nosso Senhor em qualquer lugar e a qualquer momento, e chamá-lo de
Pai, como fez seu Filho Jesus Cristo (Rm 8.15).


A Paz como Virtude Fruto do Espírito
         Acima descrevemos um tipo de paz que o homem não pode produzir, porque depende exclusivamente de Deus para tê-la e desenvolvê-la (Jo 14.27; 16.33). O restabelecimento da paz entre Deus e o homem, conforme já falamos, foi feita por Jesus, que concedeu restauração ao homem, o que é chamado de paz com
Deus (Rm 5.1). O cristão tem tranquilidade na alma, firmeza, alegria e paz, porque por intermédio da cruz tudo isso foi conquistado (Cl 1.20).

Matthew Henry em seu Comentário Bíblico do Novo Testamento, Atos a Apocalipse, falando sobre a paz como virtude do Espírito diz:

[...] Depois vem a paz com Deus e com a própria consciência, ou seja, uma harmonia pacífica de temperamento e comportamento em relação aos outros. (HENRY, 2012 p. 568).

         A paz como virtude do fruto do Espírito age no crente concedendo-lhe tranquilidade em meio ao desespero, tempestade, tumultos e agitação. A paz que reina em nosso coração é denominada de Paz de Deus, a qual vem precedida pela Paz com Deus.


Entendendo a Inimizade no Antigo e no Novo Testamento
         A inimizade nasce no momento em que o homem peca contra Deus no Éden, e logo se dará escatológicamente uma oposição ferrenha entre o homem e Jesus (Gn 3.15). A inimizade não é apenas um sentimento de ódio contra alguém, e sim contra tudo aquilo que é bom e perfeito.

         A definição de inimizade descreve um sentido de oposição que se dá entre o bem e o mal e, biblicamente falando, os que são aliciados pelo mau constituem-se inimigos de Deus (Tg 4.4).

         Pela formação da palavra inimigo logo se pode perceber seu grande aspecto negativo, do latim a palavra inimigo é inimicu, o in aponta para não, amicus quer dizer amigo, depreende-se então que, inimigo quer dizer não amigo, alguém adverso, contrário e hostil.

         Frente ao conceito descrito acima, podemos dizer que a inimizade se processa no campo da rivalidade, ressentimento, ideias e ações maléficas para com o próximo. No hebraico existem algumas palavras que são usadas para descrever um inimigo, a primeira é ar, descreve um inimigo que está acordado (1 Sm 28.16), como adversário aparece a palavra tsar (Gn 14.20) e o inimigo que odeia é chamado de sane (Êx 1.10). No grego, a palavra para inimigo é echtbrós.

         Na palavra inimigo ou inimizade está expresso o ódio que alguém dominado pela obra da carne pratica. A Bíblia está repleta de exemplos de inimigos; Israel, o povo escolhido de Deus, sempre enfrentou grandes inimigos (Sl 6.10; Is 1.24), e a Palavra declara que todos os que são dominados por essa obra da carne
sempre causam grandes males.

         A inimizade é dominada pelo ódio e seu objetivo é prejudicar.
Está relatado em Gênesis 4.5-8 que o primeiro homicídio na terra foi por causa da inimizade, por isso esse sentimento sempre foi combatido por Deus. Moisés escreveu para os israelitas afirmando que eles deveriam amar a todos, quer fosse judeu ou não (Lv 19.34), em o Novo Testamento o amor será ainda mais destacado, visto que o Espírito Santo estaria em cada crente produzindo as melhores virtudes do Espírito.

         Os que vivem na prática da inimizade, inclusive contra o povo de Deus, serão punidos (Lm 2.4; SI 97.1,3), essa castigo seria feito ou baseado segundo a lei da semeadura (Ex 21.24). O bom para todos nós é procurar sempre desenvolver boas amizades, jamais manifestando sentimento de ódio contra quem quer que
seja, especialmente para com os que vivem em comunhão com o Senhor, pois os que os atacam estão atacando o próprio Deus.

         Deus falou para Abraão que iria abençoar os que lhe abençoassem, mas iria amaldiçoar todos quantos o amaldiçoassem (Gn 12.3), nesse caso se entende que quem se opusesse a um escolhido do Senhor estaria combatendo contra Ele mesmo, ou sendo seu inimigo (Ex 23.22).

         Nas páginas do Novo Testamento de modo diáfano, o termo inimigo, do grego echtbrós, pode ser entendido de diversas formas, em destaque podemos dizer que se trata de inimigos pessoais e contra os cristãos (Rm 12.19-21; G1 4.16). Também é dito que aqueles que fazem oposição aos servos do Senhor estão tentando combater contra Ele (At 13.10; Rm 5.10), e o grande inimigo dos que servem a Deus é Satanás; ele usa as pessoas para disseminarem o ódio de modo hostil, procurando de todas as formas acabar com todos (Mt 13.30; IPe 5.8).

         Uma coisa interessante, no que diz respeito à inimizade no Antigo Testamento, é que Israel fora ensinado a odiar os seus inimigos, e incentivado a amar o seu próximo, que se trata dos seus conterrâneos e estrangeiros, mas quanto aos seus inimigos declarados, os quais sempre os estavam cercando, ele deveria odiar.

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão havereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. (Mt 5.43-48).

         Esse tipo de amor que era ensinado por Jesus está contrapondo-se ao costume judaico, como também o manual de disciplina do Kumran, que dizia: “Amar todos o que Ele escolheu, e odiar a todos o que Ele rejeitou”. Jesus fala da importância de se amar o inimigo, veja que Ele coloca o amor agápe em destaque, esse amor
busca atingir o coração do inimigo, daquele que está dominado pelo ódio, então, é dever do cristão lutar para libertar o inimigo que está dominado pelo ódio. Esse amor é desenvolvido por meio de ações maravilhosas e atitudes de um verdadeiro servo de Deus.

         O amor do servo de Deus deve ser expansivo, ou seja, não se direciona apenas a pessoas perfeitas, ou àquelas pessoas que têm notoriedade; antes, o amor do cristão deve ser como o amor do Pai, que abrange a todos indistintamente, é nesse particular que devemos ser perfeitos como Deus. Nós não somos perfeitos como Deus, pois o próprio Senhor Jesus fala nesse texto que devemos sempre ter sede pela justiça, uma prova de que não somos justos na íntegra. Precisamos sempre ser sedentos nas coisas espirituais. Podemos entender que os inimigos que Israel deveria odiar seriam aqueles que vivessem na prática do pecado, isso pode ser comprovado pelas seguintes passagens bíblicas (Dt 20.16-18; SI 26; 31.6), pois não podemos imaginar um Deus que ensina a amar e ao mesmo tempo manda odiar. Jesus ensinou que nós devemos amar ao próximo, ou seja, não deve haver em nossas atitudes qualquer artifício de ódio contra o nosso semelhante, porque esse princípio era também um mandamento (Mc 12.30,31).


O Comportamento do Cristão para com o Inimigo
         O comportamento do cristão fora da esfera congregacional é uma prova clara da ação do Espírito Santo de Deus em sua vida, além disso, um testemunho vivo para o mundo de que nossa vida é dirigida pelo Espírito Santo. O cristão deve manifestar um amor sincero e sem hipocrisia, deve sempre aborrecer o mal e apegar-se ao bem, deve ter um amor fraternal, deve ser incandescente, isto é, fervoroso de espírito e deve sempre servir ao Senhor.

         O cristão precisa alegrar-se sempre na esperança diante de tudo aquilo que Deus lhe tem feito e prometido, sempre viver em oração e suportar as provações, deve ser hospitaleiro e suprir as necessidades dos outros, e manifestar uma atitude de abençoar os outros e orar pelos que os perseguem sempre; manifestar
alegria para com os que estão alegres e ser complacente com os que estão tristes.

         Quando um crente demonstra alegria para com aqueles que estão alegres, é sinal de que ele já tem domínio próprio e muita maturidade.

         A harmonia deve ser um marco na vida dos cristãos, ela faz com que a competição egoística não se nomeie no meio deles, não há busca por coisas grandiosas, antes a simplicidade os domina, sendo assim não são convencidos e acomodam-se as coisas simples.
Os cristãos não podem pagar o mal com o mal, a sua preocupação é com aquilo que é moral e bom perante todos, viver em paz com todos é a meta de cada cristão. O crente também não vive procurando vingança, antes confia na providência de Deus em tudo.

         O cristão deve ter um comportamento totalmente diferente diante dos seus inimigos. Quando os seus inimigos se encontrarem em dificuldades, o cristão deve tratá-los bem, assim estarão amontoando braças sobre suas cabeças; diante dessa delicadeza eles ficarão envergonhados (Rm 12.19-21). Nessa competição o
cristão nunca deve perder para o mal, mas com o bem ele deve vencer a tudo e a todos.

         Podemos dizer que o comportamento do crente diante de seus inimigos não é resultado de um esforço próprio, mas procede da comunhão que se tem com o Espírito Santo, pois é Ele quem faz com que os bons frutos apareçam (G1 5.22). Quando o crente, por meio de suas ações, manifesta um amor sincero para com o seu inimigo, é sinal de que de fato o fruto do Espírito está em sua vida e que realmente tem o caráter de Cristo, que pediu perdão por aqueles que o crucificaram (Lc 23.34).

         Teologicamente, podemos dizer que Deus quer que tenhamos paz com Ele, pois a inimizade que nos distanciava dEle foi desfeita por meio de Cristo Jesus (Rm 5.10), assim, reconciliados pelo evangelho, tendo o Espírito Santo na vida, podemos agora manifestar esse amor para com os nossos piores inimigos (Cl 1.23).