terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A eficácia da graça de Deus

I. CORRIGINDO UM MAL-ENTENDIDO

Depois de haver demonstrado que a salvação dos gentios e judeus dá-se unicamente pela fé, por meio de Jesus Cristo, agora surge uma dificuldade gerada por uma interpretação errônea.
1. O duplo problema. Se a salvação é pela fé, então cada um pode fazer o que quer e andar como quiser? Se a lei não salva, temos algum compromisso com ela? A dificuldade era dupla, porque havia os que se interessavam por essa interpretação distorcida (Jd v.4). Por outro lado, os que entendiam o ensino paulino dessa forma o condenavam. Haja vista os judeus (Rm 3.8). Mais adiante, o apóstolo defende-se dessa acusação (v.31).
2. A preocupação do apóstolo. A preocupação de Paulo não era somente evitar o mal-entendido dos seus leitores, mas também defender-se dos que o interpretavam de maneira errônea. O apóstolo via nisso o risco de o Cristianismo cair no antinomianismo, que é libertinagem. A preposição grega anti, significa “contra”, e o substantivo nomos, “lei, norma”. A partir daí o apóstolo dos gentios faz uma exposição mostrando, provando e justificando ser incompatível com o espírito do evangelho de Cristo o crente viver em pecado.
3. A doutrina de Paulo. Convém lembrar que a Epístola aos Romanos não é fruto do acaso, nem o apóstolo a ditou de improviso conforme as ideias lhe iam surgindo (Rm 16.22).
Essa carta representa o que Paulo vivia. Ele respirava essas coisas. São frutos de muitos anos de experiências com Deus. Ele pregava essa doutrina em todas as igrejas (At 21.21). E, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu essas mesmas coisas aos romanos.

II. A INCOMPATIBILIDADE DO CRISTÃO COM O PECADO

1. Origem das perguntas. As perguntas do apóstolo nos versículos 1 e 2 são diretamente em decorrência dos versículos 20 e 21 do capítulo anterior: “... onde o pecado abundou, superabundou a graça”.
Paulo esclarece que isso não significa que devamos pecar e continuar a pecar para recebermos mais graça. Essas perguntas são o ponto de partida para esclarecer a necessidade de santificação dos crentes, para que ninguém venha confundir a graça de Deus com abuso da liberdade cristã.
2. Romanos 5.12-19. Nesse texto, o apóstolo traça um paralelo entre Adão e Cristo, mostrando que toda a humanidade está unificada em Adão e em Cristo.
Por causa da transgressão de Adão, todos os homens tomaram-se pecadores, e por isso a morte passou a todos os homens. Mas em virtude da justiça de Cristo, Deus coloca gratuitamente, pela fé em Jesus, a salvação à disposição de toda a raça humana.
3. O paralelo exato. O apóstolo afirma que, com a promulgação da lei, abundou o pecado. A condição humana piorou ao invés de melhorar. Até que veio o Salvador e então “superabundou a graça”. No v.21, Paulo apresenta um paralelo exato com relação à graça: “Para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor”.
4. O significado de Romanos 5.20. Isso não significa que o cristão deve aprofundar-se no pecado esperando obter maior graça. Mas, assim como o pecado reinou com domínio total sobre o homem, Deus quis que sua graça dominasse, por meio da justiça de Cristo, produzindo vida abundante, no povo salvo.

III. MORTO PARA O PECADO

Morto para o pecado não significa que o pecado, no cristão, tenha sido zerado. Isso seria perfeição absoluta. Vejamos o que Paulo ensina a respeito.
1. “Morto para o pecado” (v.2). Essa fraseologia era muito comum entre judeus, gregos e romanos. Para esses povos, “morrer” para uma pessoa, ou coisa, significava separar-se totalmente, não ter mais nada com a situação anterior.
Isso significa que o novo nascimento é o divisor de águas entre o velho homem e a nova vida em Cristo. Não temos mais nada com o mundo; agora vivemos para Cristo (Cl 3.3-5). Como pode alguém estar morto para o pecado e, ao mesmo tempo, continuar a viver nele? Não é possível o cristão viver do mesmo modo que vivia antes de conhecer Jesus.
2. O velho homem crucificado (v.6a). Não confundir com Gálatas 5.24: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”, pois, no v.6, o apóstolo fala de algo que já nos aconteceu, enquanto que, em Gálatas, ele fala de algo que acontece com todos os que são crucificados com Cristo. A primeira (v.6a) fala de morte definitiva, legal — cravado, abolido legalmente —, e é algo passado; enquanto que a segunda diz respeito à morte moral, que é contínua, repetitiva. Essa morte espiritual do cristão, com respeito à santidade, é morte para o pecado; e a de Gálatas 5.24 é a mortificação do “eu”.
3. Desfeito o corpo do pecado (v.6b). Essa expressão, usada pelo apóstolo, denota a natureza pecaminosa que se exterioriza por meio do corpo. O pecado foi abolido legalmente na morte de Cristo, e com Ele, morremos (2Co 5.14). Diante disso não há como servir a um tirano destronado nem obedecer a um sistema caído.
A palavra grega para “desfeito” tem o sentido de “vencido, dominado” e não destruído. A expressão: “A fim de que não sirvamos mais ao pecado”, assinala o propósito de tudo isso. Ou seja: devemos servir unicamente a Cristo, que é o nosso Senhor.
4. A morte liberta o homem de suas obrigações (v.7). “Porque aquele que está morto está justificado do pecado”. Não se pode aplicar uma sentença a um morto. Por conseguinte, nosso compromisso com o pecado se foi quando morremos com Cristo. Por isso, estamos libertos do reino do pecado. “Justificado”, aqui, diz respeito à libertação do poder do pecado.

IV. VIVO PARA CRISTO

1. A ilustração do batismo (vv.4,5). Paulo ilustra essa situação na prática do batismo, pois os cristãos de então tinham essa experiência (Mt 28.19; At 2.38). Era, portanto, fácil compreender a ilustração do batismo. Essa passagem mostra, com muita clareza, que o batismo é por imersão, como o próprio verbo grego baptizo sugere: “mergulhar, imergir”, o oposto de aspergir.
2. Nossa identidade com Cristo (vv.8-11). Leia mais uma vez os versículos 4 e 5, e veja a analogia que o apóstolo faz. “Sepultados com ele pelo batismo na morte” significa que estamos identificados com Cristo na sua morte. Da mesma maneira, fomos ressuscitados com ele na sua ressurreição (vv.9,10). Diante disso, vem a conclusão: “Considerai-vos como mortos para o pecado; mas vivos para Deus, em Cristo Jesus nosso Senhor” (v.11).
3. Santificação (v.11). “Vivo para Deus” significa viver em santidade. A santificação é um dos aspectos da salvação, bem como a justificação e regeneração (1Co 6.11; Tt 3.5-7). O termo original grego, hagiasmos, “santificação”, significa “separar do mundo, apartar-se do pecado, consagrar”.
4. Agora devemos dominar o pecado (vv.12-14). A salvação pela graça traz como resultado a santificação (1Co 6.11). “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal” (v.12), implica viver em retidão moral, de maneira irrepreensível e inculpável no meio de uma geração perversa e corrompida (Fp 2.15; Cl 1.22; 1Ts 2.10).

CONCLUSÃO

Ainda hoje há quem interprete erroneamente a doutrina bíblica “pela graça e pela fé somente” da sola graciasola fide. Essa doutrina, porém, mostra que não somos servos da lei, mas servos voluntários de Cristo.
Somos livres do pecado para servir à justiça de Deus (Rm 6.18). A salvação pela graça não nos exime de compromissos com Deus, com a Palavra e com a Igreja. Devemos ter muito cuidado, pois o abuso da liberdade cristã leva o cristão à libertinagem.



Fonte: Lições Bíblicas CPAD 1998 2º Trimestre — Jovens e Adultos

Privilégios dos justificados pela fé

I. FRUTOS DA JUSTIFICAÇÃO

1. A segunda seção de Romanos. Os capítulos 5 a 8 de Romanos registram os privilégios dos que são justificados pela fé: paz com Deus (Rm 5): união com Cristo (Rm 6); libertação da lei (Rm 7) e vida abundante no Espírito (Rm 8).
2. “Temos” ou “tenhamos”? (v.1). A expressão “tenhamos paz com Deus” não é apropriada nesse contexto. “Temos” é a tradução mais adequada, pois a “paz com Deus” nos toma aceitos por Cristo. E, dessa forma, não estamos mais sob a ameaça da ira de Deus. A palavra hebraica para “paz” é shalom, e a grega, eirene, que significa “completo”.
3. “Paz com Deus” (v.1). O homem no pecado é inimigo de Deus (v.10); mas quando é justificado pela fé em Jesus Cristo, é reconciliado com Deus, e essa reconciliação traz-lhe paz. Esse é o efeito imediato da justificação.
4. “Entrada pela fé a esta graça” (v.2a). Graça é favor imerecido. Nós não merecíamos a salvação, mas por Jesus, agora, temos acesso a esta graça. É Cristo quem introduz o pecador à presença de Deus. “Estamos firmes” significa o efeito contínuo da justificação.
5. “E nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (v.2b). “Gloriamos” revela o regozijo e o gozo inefável do crente como antecipação das bênçãos futuras. “Glória de Deus” é o mesmo que a manifestação de Deus. Aqui, é uma expressão que significa o céu, lugar da habitação de Deus e de sua manifestação.

II. O SOFRIMENTO

1. Gloriar-se nas tribulações (v.3a). O quadro glorioso registrado nos versículos 1 e 2 não significa uma vida totalmente isenta de tribulações. Jesus disse: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (Mc 8.34)
Essas tribulações não são apenas dores, enfermidades, depressões, tristezas nem aflições; são também as pressões deste mundo hostil que crucificou o nosso Senhor Jesus Cristo (At 14.22). Jesus disse que no mundo teríamos aflição, mas que ficássemos seguros, pois Ele venceu o mundo (Jo 16.33).
2. Ser cristão não significa ser masoquista. Paulo não afirma nem dá a entender que ser cristão seja sentir prazer no sofrimento. Veja o que ele diz: “mas também nos gloriamos”. A Palavra é realista, mostrando que encontramos espinhos na jornada da vida cristã, e que, mesmo assim, o crente é feliz e glorifica a Deus. Isso em virtude da glória que em nós será revelada (Rm 8.18), e que traz resultados positivos para a vida cristã, pois tudo concorre para o bem dos que amam a Deus (Rm 8.28). Temos júbilos nas bênçãos e também nas tribulações.
3. “A tribulação produz a paciência” (v.3b). Aqui “paciência”, no grego, é hypomene, que vem de duas palavras gregas hypo, “sob” e o verbo meno, “permanecer”.
O referido vocábulo significa: “paciência, perseverança, firmeza, fortaleza”. É a virtude de alguém sofrer com resignação. Se não existisse sofrimento não existiria paciência. Estejamos certos de que o bem proveniente da paciência é maior que os males das tribulações.
4. A paciência produz a experiência (v.4a). A paciência nas perseguições torna o cristão aprovado e vitorioso (2Ts 1.4,5). Isso serve para o nosso amadurecimento e para uma maior aproximação com Deus.
5. A experiência produz a esperança (vv.4b,5). O caráter cristão é produzido em meio aos sofrimentos. É nessas circunstâncias que o Espírito Santo mais trabalha a nossa vida, gerando em nós a confiança de que Deus nos levará à glória do porvir. A esperança está entre as principais virtudes da fé cristã, ao lado do amor e da fé (1Co 13.13).

III. A MORTE DE CRISTO PELOS PECADORES

1. Quem pode garantir que essa esperança não falhe? A base da justificação são a morte e a ressurreição de Jesus Cristo (Rm 3.24-26; 4.25). Tudo isso provém do amor de Deus (v.8). Paulo demonstra nos vv.6-8 por que a esperança não falha. Ele apresenta duas provas: a evidência subjetiva e a evidência objetiva.
2. Prova subjetiva (v.5). O amor de Deus derramado em nossos corações, e isso através do Espírito Santo. Esta é a prova subjetiva. Interessante é que o apóstolo acrescentou: “que nos foi dado”. O Espírito Santo nos foi dado quando recebemos a Jesus Cristo como Salvador.
Nada no mundo pode roubar a convicção da vida eterna, pois o Espírito Santo de Deus “testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). E algo que Deus colocou em nós, e está dentro de nós. Esse amor de Deus inunda todo o nosso ser de esperança e de júbilo. Essa prova, porém, não serve para os outros, mas só para quem tem essa comunhão com Deus.
3. Prova objetiva (vv.6-8). O amor de Deus está no fato de haver Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. A morte de Jesus é um fato histórico. Por isso é uma prova objetiva.
Éramos inimigos de Deus; ultrajávamos o seu santo nome com palavras e ações. Que interesse Deus poderia ter por nós? Paulo diz: “pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer” (v.7). Ora, se Deus se interessou por nós quando ainda éramos seus inimigos, quanto mais agora que estamos reconciliados com Ele. A morte de Jesus é a prova objetiva e externa do amor de Deus por nós (Jo 3.16).

IV. A RECONCILIAÇÃO DOS PECADORES

1. “Muito mais” (vv.9,10). O argumento do apóstolo é indestrutível. No capítulo 5 de Romanos, ele usa quatro vezes a expressão “muito mais”. Duas com referência à segurança do crente, e outras duas (vv.15-17) acerca da abundância da graça. Nós, que estávamos em estado de miséria, e éramos rebeldes e inimigos de Deus, fomos alvos de seu amor inaudito. Fomos justificados no tempo presente. Portanto, “muito mais” agora, que somos filhos de Deus, estamos, por Ele, livres da condenação futura (1Ts 1.10).
2. Reconciliação (v.11). O referido substantivo só aparece quatro vezes no Novo Testamento grego, e vem do verbo katallasso, “reconciliar”. Quanto ao verbo reconciliar, encontrado nestas passagens: Rm 5.10; 1Co 7.11; 2Co 5.18-20, significa mudar de inimizade para amizade. Foi isso que aconteceu entre nós e Deus!

CONCLUSÃO

Agora, sabemos e sentimos que estamos reconciliados com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, desfrutamos desses benefícios e privilégios. Quem ainda não tem essa esperança nem está usufruindo das bênçãos mencionadas nessa lição, precisa urgentemente crer na graça de Deus, aceitando a Jesus como o seu Salvador pessoal.



Fonte: Lições Bíblicas CPAD 1998 2º Trimestre — Jovens e Adultos

A experiência de Abraão, nosso pai na fé


I. A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

1. Definição. A justificação é um ato divino, de cunho jurídico, e implica em declarar justo o indivíduo. Diz Daniel B. Pecota, na obra Teologia Sistemática, Uma Perspectiva Pentecostal (CPAD): “O termo ‘justificação’ refere-se ao ato mediante o qual, com base na obra infinitamente justa e satisfatória de Cristo, na cruz, Deus declara os pecadores condenados livres de toda a culpa do pecado e de suas consequências eternas, declarando-os plenamente justos aos seus olhos”.
Myer Pearlman definiu assim a justificação: “É um ato da livre graça de Deus pelo qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos aos seus olhos somente por ser imputada a justiça de Cristo, que se recebe pela fé”.
2. Justificação significa perdão dos pecados (vv.7,8). O sentido do verbo “justificar”, (que aparece 39 vezes no Novo Testamento, 27 das quais nos escritos paulinos), vai muito além de um mero conceito jurídico humano e diminuto, e de um estéril pronunciamento forense. Através da justificação, sublime doutrina fundamental, o pecador arrependido passa a ser visto por Deus como um justo.
3. O que isso representa? Representa vida (Rm 5.17-19), perdão de pecados (vv.7,8), cujo resultado é a santificação. Romanos 4.25 diz que a ressurreição de Jesus originou a nossa justificação. Se Jesus não tivesse ressuscitado não haveria justificação, nem salvação.

II. O PATRIARCA ABRAÃO

1. A fé de Abraão (v.1). Ele estava com 75 anos quando partiu de Harã. Deus prometera-lhe multiplicar a sua descendência, e dar-lhe a terra de suas peregrinações. Promessa esta ratificada quando Abraão era já velho, o qual não duvidou do poder de Deus nem de sua promessa. Abraão não levou em conta a sua idade nem a de Sara, cujo período de maternidade já havia passado. Além disso, ela era estéril.
Essa fé em Deus foi-lhe imputada como justiça. Todo o capítulo 4 de Romanos gira em torno de Gênesis 15.6: “E creu ele no SENHOR, e foi-lhe imputado isto por justiça”. O apóstolo está mostrando que Abraão foi justificado diante de Deus pela fé e não pelas obras.
2. Uma doutrina coerente (vv.2-5). Essa passagem citada por Paulo não foi uma escolha aleatória. As boas obras de Abraão eram frutos de sua fé em Deus. Vejamos o desdobramento dos versículos acima. Você já viu alguém agradecer a seu patrão por haver recebido seu salário? Claro que não! Por que? Porque o patrão cumpriu com o seu dever, retribuindo-lhe um serviço prestado: “Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida” (v.4).

III. O REI DAVI

1. A bem-aventurança do perdão (vv.6,7). O apóstolo aproveitou a oportunidade para citar o Salmo 32, que corresponde ao mesmo contexto. O verbo “imputar” no Salmo 32 é o mesmo de Gn 15.6. “Imputar” é creditar ou lançar na conta de uma pessoa. Deus credita a justiça na conta do pecador. Isto é: Deus “conta” os homens como justos por causa do que creem e não por causa de suas obras. Assim, diante de Deus o cristão, embora pecador na condição humana seja posto na posição (imputado) de justo. O salmista diz que é bem-aventurado o homem que obtém o perdão de Deus. O perdão é gratuito, depende de o pecador buscar e crer na bondade de Deus.
2. Pecados cobertos. Esta expressão dizia respeito às transgressões e pecados “cobertos” com o sangue expiador do sacrifício de animais no tempo do Antigo Testamento (Lv 4.1-5.13; 6.4-30; 8.14-17; 16.3-22). Mas, agora, o perdão dos pecados é alcançado pelos homens através da fé no sacrifício único e perfeito de Cristo pelos pecados (Hb 10.1-12). Essa fé é contada como justiça diante de Deus.
Cabe aqui uma observação: Não confundir “pecados cobertos” com “pecados encobertos”. Esta última expressão diz respeito a pecados escondidos, que, na dispensação da graça, no caso dos fiéis, é necessário confessá-los para se obter vitória (Pv 28.13).

IV. A CIRCUNCISÃO

1. Definição. Circuncisão é uma espécie de cirurgia de remoção do prepúcio. Essa prática, em Israel, foi instituída por Deus como sinal da aliança feita com Abraão (Gn 17.11), e depois com toda a nação israelita (Dt 10.16; 30.6).
2. Novo Testamento. Os cristãos, tanto gentios como judeus, estão desobrigados dessa prática (At 15.3-21; Gl 2.3; 5.6). O apóstolo já havia advertido os gálatas: o cristão que observa tal prática, como condição para a salvação, ainda reconhece a sua dívida com a lei, e, por isso, está obrigado a cumpri-la na sua totalidade (Gl 5.1-4). Em outras palavras, ele volta ao seu estado original de pecador, carente de salvação.
3. Significado da circuncisão de Abraão (vv.9,10). Se Abraão é o pai dos judeus, segundo a carne (v.1), isso significa que a justificação pela fé é só para os judeus? O apóstolo lembra que Abraão foi justificado pela fé quando ainda era incircunciso. Pois de Gênesis 15.6, (justificação de Abraão pela fé) a Gênesis 17.11, época em que ele foi circuncidado, há um período de 14 anos. Assim, Abraão é o pai de todos os que creem — tanto judeus como gentios. Daí, a Igreja Cristã ser reconhecida como o verdadeiro Israel. O fator raça já não tem qualquer importância na dispensação da graça.
4. Abraão é nosso pai (vv.11,16). Esta doutrina era uma afronta para os judeus. Para nós que nascemos numa cultura diferente da que viveu Paulo, e por estarmos habituados aos conceitos cristãos, nada disso soa estranho. Naquela época, porém, afirmar que os verdadeiros filhos de Abraão eram os cristãos, independentemente de serem ou não judeus, caía como uma bomba no meio judaico. Nesse sentido, Paulo era visto como progressista e inovador.
Os judeus daqueles dias achavam que Paulo estava destruindo os costumes de seus antepassados, e não se contentaram com isso. Eles também achavam que o apóstolo estava-lhes roubando Abraão como o patriarca da nação israelita. Até mesmo no seio da Igreja, Paulo enfrentava perseguição dos judeus e oposição dos judeus cristãos (2Co 11.24-26). A fúria dos judeus chegava a ponto de perseguirem a Paulo de cidade em cidade, até o prenderem (At 21.20-22,28).
5. Selo da justiça da fé (v.11). O selo não é a essência de algo que foi selado, mas a sua confirmação ou aprovação oficial do que se acha escrito. Uma pessoa pode ser um exímio motorista, um ás no volante, mas precisa submeter-se a um exame a fim de receber a carteira, que é o certificado que atesta a sua habilitação: No caso de Abraão, a circuncisão atestava a sua justificação; isto é: ele já estava justificado quando foi circuncidado.
O mesmo se pode dizer com respeito ao batismo. O cristão é batizado porque já é salvo, e não para ser salvo. O batismo serve como selo daquilo que já possuímos — a salvação pela fé em Jesus. Se acrescentarmos qualquer coisa à fé, como condição para se obter a salvação, voltaremos ao legalismo. Por isso pregamos que o batismo não é salvação.

CONCLUSÃO

Se o homem é salvo pelas obras, como ensinam o Judaísmo, o Catolicismo e as seitas, ele não tem de agradecer a Deus. O homem estaria recebendo o salário condizente aos seus feitos. A salvação, portanto, é um ato soberano da graça de Deus (Ef 2.8,9; Tt 2.11; 3.5), e não dos méritos humanos (Is 64.6).




Fonte: Lições Bíblicas CPAD 1998 2º Trimestre — Jovens e Adultos