sábado, 3 de junho de 2017

“ SUBSIDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 10”- MARIA, IRMÃ DE LÁZARO: UMA DEVOÇÃO AMOROSA

Nos evangelhos, há menção de sete Marias.1 Neste estudo, veremos a pessoa de Maria, irmã de Lázaro. Era um nome bem comum. Deriva do nome Miriã, no hebraico, que era a irmã de Moisés e de Arão, e compunha a liderança do povo de Israel na saída do Egito em direção a Canaã.
         Maria, irmã de Lázaro, ou Maria de Betânia, era uma mulher humilde e, ao mesmo tempo, cheia de energia e ousadia. Tendo Jesus hospedado-se em sua casa, quando ia para Jerusalém, Maria preferiu ficar ouvindo a palavra do Mestre enquanto sua irmã envolvia-se nas tarefas domésticas (Lc 10.39). Ela foi reprovada por Marta, mas recebeu enorme elogio de Jesus por ter escolhido “a boa parte” (10.41,42). Na mesma semana daquele acontecimento, vemos os fatos em que Maria, irmã de Lázaro, aparece protagonizando um dos momentos mais interessantes e polêmicos do ministério de Jesus.
         O fato ocorreu na última semana de Jesus antes de sua morte na cruz do Calvário. Era um período muito tenso em Jerusalém, pois aproximava-se a Páscoa, a maior festa judaica, e milhares de pessoas invadiam a cidade para as comemorações pascais (Jo 11.55). Maior motivo para as tensões era a determinação dos principais dos sacerdotes de materem Jesus (v. 57), por inveja, por motivo político em relação a César, ainda que todo o desenrolar dos acontecimentos estivessem sob o controle de Deus, em cumprimento à sua palavra, às profecias e também seu plano para a salvação da humanidade.
         Naquelas circunstâncias, o evangelista João narra o que aconteceu em Betânia num jantar que foi oferecido a Jesus. Quem aparece em primeiro plano é Marta, que ajudou a organizar o evento — como sempre muito solícita e cuidadosa na demonstração de hospitalidade para com Jesus. Mas quem toma a cena, de forma bem dramática, é Maria. Ela aparece inesperadamente e faz algo que deixou os presentes atônitos. “Então, Maria, tomando uma libra de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento” (Jo 12.3).
         Ela demonstrou ser ousada, cheia de iniciativa, decidida e generosa. Primeiramente, porque não era comum uma mulher entrar num ambiente repleto de homens. Ao que tudo indica, ali não era a sua casa. Depois, porque o valor do perfume derramado sobre os pés de Jesus era caríssimo. O dispêndio na aquisição daquele unguento era em torno de 300 denários, o valor dos salários de um trabalhador durante quase um ano inteiro. E ainda, porque ela passou por cima de todas as convenções e costumes do seu tempo ao abaixar-se e enxugar os pés de Jesus com os próprios cabelos, que eram crescidos e abundantes sem dúvida. E todo o ambiente ficou impregnado com o cheiro agradável e forte daquele unguento.
         Além do episódio protagonizado por Maria, que ficou conhecido como “a unção em Betânia”, e é narrado por João, que dá respaldo a este capítulo em seu livro no capítulo 12, do versículo 1 a 8, Mateus faz referência a episódio semelhante no capítulo 26, do versículo 6 a 13, e Marcos no capítulo 14, do versículo 3 a 9, com narrativas diferentes em alguns aspectos. Há discordâncias se são eventos únicos ou episódios distintos. No texto em apreço, veremos algumas explicações, a nosso ver, consistentes.


I - O EXEMPLO DE MARIA DE BETÂNIA
I. Maria “escolheu a boa parte”
         Não se sabe como Jesus travou conhecimento com a família dos três irmãos Lázaro, Maria e Marta, que viviam em Betânia, e deles tornou-se bastante amigo, provando bem de perto de sua amizade fraternal. Sempre que ia a Jerusalém, o Mestre costumava pousar na casa dessa família. Era uma família amada por Jesus (Jo
II. 5,32). Certa vez, acompanhado de seus discípulos, Jesus entrou em Betânia. Ali, Ele foi recebido na casa de Lázaro por sua irmã, Marta. Na ocasião, sua outra irmã, Maria, percebendo a rica oopor- tunidade de ter Jesus em sua própria casa, deu prioridade ao estar na presença de Jesus, ouvindo suas sábias mensagens. Aquela não era uma ocasião comum. Jesus só passava por aquela aldeia chamada Betânia quando ia para Jerusalém. Maria teve a percepção de que aquele era um momento que deveria ser aproveitado plenamente por várias razões.
         1) Jesus entrou na aldeia. Maria tinha conhecimento de quem era Jesus desde que suas mensagens ecoaram pela Palestina. Mateus diz que Jesus andava por todas as cidades e aldeias levando sua mensagem, fazendo suas jornadas a pé com seus discípulos. Certamente, Ele não podia privilegiar uma cidade em detrimento de outra, visitando-a várias vezes. Estar em Betânia era uma ocasião especial. “E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo” (Mt 9.35). Lucas diz que o Mestre passava por todos os lugares, mas seu foco era Jerusalém: “E percorria as cidades e as aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém” (Lc 13.22). Pouquíssimas cidades tiveram a honra de ter Jesus em suas ruas, em suas praças, e também de tê-lo hospedado em alguma de suas residências. Como Betânia ficava próxima de Jerusalém, Jesus, em lugar de pousar na capital, preferia repousar na tranquilidade da aldeia, algumas vezes na casa da família de Lázaro, seu amigo (Jo 11.11).
         2) Jesus na casa de Maria. O texto de Lucas 10 diz que Marta, irmã de Maria, recebeu Jesus em sua casa (10.38). Havia muitas casas em Betânia, mas receber Jesus e seus discípulos no lar era motivo de muita alegria e orgulho para uma família piedosa. Certamente, a casa não era pequena, pois lá tinha lugar para Jesus e seus discípulos. Cremos que, ao receber Jesus e seus discípulos em sua caminhada, Ele não chegou a casa e começou logo a pregar. Tudo indica que Jesus foi acomodado nas dependências que a família destinou a Ele e a seus seguidores, comeu de suas refeições e foi acolhido com muita hospitalidade, como era comum e altamente valorizado em Israel (Hb 13.2).
         3) Maria prefere ficar aos pés de Jesus. Num momento apropriado, Jesus aproveitou para ministrar sua palavra naquele lar. O texto em apreço é muito curto, porém encerra lições preciosas para quem sabe valorizar a presença de Jesus no seu lar. Lucas diz que Marta recebeu Jesus e que Maria assentou-se aos pés dEle e ouvia a sua palavra: “E tinha esta uma irmã, chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra” (10.39). Lucas não faz menção do teor da palavra de Jesus; por isso, não podemos especular a respeito, mas podemos imaginar que eram lições preciosas, de grande valor e relevância para aquela família e também para todos os que ali se encontravam, incluindo os discípulos e o próprio Lázaro. Enquanto Maria ouvia Jesus, Marta, sua irmã, estava mais preocupada com as atividades domésticas e, talvez, em como agradar a Jesus, oferecendo-lhe a cortesia do seu lar. De início, não podemos julgá-la por isso. No entanto, ela demonstrou não saber aproveitar aquele momento e ainda criticou a irmã, julgando que a mesma não estava agindo bem, ficando aos pés de Jesus: “Marta, porém, andava distraída em muitos serviços e, aproximando-se, disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude” (10.40). Além de não priorizar aquele momento de estar ouvindo Jesus, Marta ainda fez uma insinuação crítica de que Jesus não tinha sensibilidade para com ela e, diante de todos os presentes, numa atitude descortez, cobrou de Jesus que dissesse a Maria que fosse ajudá-la.
2. Maria Deu Prioridade a Jesus
         Maria é um exemplo de serva de Deus que soube avaliar as prioridades no relacionamento com Jesus. Ela tinha tarefas domésticas a realizar assim como Marta, sua irmã, porém entendia também que, se Jesus estava ali, naquela ocasião, a prioridade era ouvir sua palavra, e não ficar “distraída em muitos serviços” como Marta ficou. Ao ser questionado por Marta, que cobrava de Jesus que determinasse que Maria se levantasse de sua presença e fosse ajudá-la, Jesus respondeu de forma amorosa, porém cheia de ensino precioso: “[...] Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada” (w. 41,42). A “boa parte” que Maria escolheu foi ouvir Jesus, ficar a seus pés em atitude de reverência e adoração e procurar não perder uma só palavra proferida por Ele — uma grande lição para nós, nos tempos presentes, quando a agitação da vida pós-moderna faz grande parte dos crentes perder a noção do que é essencial e do que é secundário no seu dia a dia.
3. Mais Martas do que Marias
         Podemos afirmar que, no mundo atual, há muito mais “Martas” do que “Marias”. Hoje em dia, mulheres e homens cristãos têm muito mais coisas para se distraírem, afadigarem-se e ficarem ansiosos do que tinham no tempo de Maria. A vida moderna exige que a mulher deixe de ser apenas dona de casa, esposa e mãe, e assuma posições na vida dos estudos e na profissão. Não há nada de errado nessa realidade. Mas o tempo para Deus, o tempo para estar aos pés de Jesus, ouvindo atenciosamente a sua Palavra é muito mais escasso do que na época de Marta e Maria. Além dos excessos de atividades em casa, na escola e na igreja, homens e mulheres estão sendo dominados e até escravizados por redes sociais, por causa do uso excessivo das tecnologias da informação e da imagem, a ponto de não haver mais tempo para a maior parte das famílias estar nos cultos de oração, nos cultos de doutrina e na Escola Bíblica Dominical. As “Martas” são o tipo de crente que, além de se deixarem assoberbar de tarefas, ainda criticam aqueles que buscam mais as coisas de Deus, as “coisas que são de cima” — as “Marias” (Cl 3.1).
         Se, por parte da família, não houver uma decisão sábia e firme de dar prioridade às coisas de Deus, em poucos anos, ocorrerá o que aconteceu na Europa. O Diabo incutirá de vez o materia- lismo nas escolas, e os filhos serão dominados pelo ateísmo. As famílias, especialmente os filhos, perderão o interesse de estar aos pés do Senhor, e a tragédia espiritual será inevitável. É tempo de seguir o conselho registrado em Eclesiastes: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ec 3.1). Notemos que há tempo “para todo o propósito” debaixo do céu; não diz que há “tempo para tudo”. Se quisermos agir como Maria, escolhendo “a boa parte” — a de estar aos pés do Senhor — precisaremos ter no coração o propósito de dar prioridade à vida devocional, de ler a Bíblia, de orar, de ir à igreja, de envolvermo-nos no serviço da Obra do Senhor. O culto doméstico é a forma mais eficaz de reunir a família para adoração a Deus no lar. Bastam 20 a 30 minutos, no máximo, para a família louvar a Deus, ler a Bíblia, pedir orações e orár juntos. Essa simples reunião informal tem sido usada por Deus para fortalecer a família cristã, livrando-a da desgraça espiritual e moral que tem destruído grande parte dos lares cristãos.
|| - MARIA, A MULHER QUE UNGIU O SENHOR
         Maria, irmã de Lázaro — ou Maria de Betânia — era uma mulher cujo caráter tinha a marca da sensibilidade, da afetividade intensa. Ela amava tanto Jesus como amigo e benfeitor da família que, na última semana, antes da morte do Senhor, ela ungiu-o duas vezes. Jesus estava ameaçado de prisão e morte pelos chefes dos sacerdotes, e Maria resolveu fazer o que achou de melhor para demonstrar seu amor pelo seu Mestre.
1. Maria Ungiu os Pés de Jesus
         De acordo com a cronologia dos fatos que antecederam a morte de Cristo, conforme diz a Bíblia, Jesus dirigiu-se a Betânia, onde Lázaro encontrava-se: “Foi, pois, Jesus seis dias antes da Páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera e a quem ressuscitara dos mortos” (Jo 12.1). Jesus tinha enorme apreço por Lázaro e sua família. Ele, milagrosamente, por seu eterno Poder, ressuscitou o líder da família quando já não havia mais a mínima esperança. Esse acontecimento teve um impacto extraordinário sobre toda a sociedade de sua época. Para o ministério de Jesus, aquela família tinha significância muito especial. Sempre que ia a Jerusalém ou a seus arredores, Ele hospedava-se na casa de Lázaro e suas irmãs. Betânia estava situada aproximadamente a 3 quilômetros de Jerusalém, na estrada que leva a Jericó.
         1) Uma ceia para Jesus. Embora o texto não diga que a ceia foi na casa de Lázaro, Marta certamente foi a organizadora da ceia a ser oferecida a Cristo. Mais uma vez, ela tinha especial cuidado com a hospitalidade e com a recepção ao ilustre visitante: “Fize- ram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele” (Jo 12.2). Sem dúvida alguma, ela fez o melhor que sabia para atender bem ao grande amigo da família.
         2) Maria unge os pés de Jesus. Tudo indica que, após a ceia cuidadosamente preparada por Marta, Maria surpreendeu a todos, pois, “[...] tomando uma libra de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento” (12.3). O gesto de Maria considerado extravagante provocou grande rebuliço entre os presentes, principalmente em Judas Iscariotes, o tesoureiro do grupo de discípulos. Diz o texto: “Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros, e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isso não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão, e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” (w. 4-6). Uma libra de “nardo puro” equivalia a cerca de “trezentos denários”, como acentuou Judas, ou seja, quase o salário de um trabalhador durante um ano inteiro. Judas, além de traidor, era mentiroso e hipócrita. Seu cuidado não era com os pobres e nem com a assistência social, mas, sim, com sua ambição desenfreada por dinheiro.
         3) Jesus aprova o gesto de Maria. O traidor reprovou a generosidade de Maria, mas Jesus reconheceu a grandeza das intenções do seu coração agradecido. “Disse, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto” (12.7). Pela fé, de forma profética, Maria ungiu antecipadamente o corpo de Jesus para seu sepultamento. Sua visão era mais ampla e mais profunda. Marta via em Jesus o amigo e visitante ilustre; já Maria via Ele como o seu Salvador, que havería de morrer em seu lugar e que não tinha familiares que pudessem ungir seu corpo na sua morte. Ante o argumento falacioso de Judas, pretensamente em defesa dos pobres, Jesus acrescentou: “Porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes” (v. 8). Maria sabia discernir o tempo e a prioridade das coisas, e Jesus reforçou essa compreensão. Naquele momento, para ela, o mais importante era demonstrar sua gratidão e amor a Cristo. Os pobres poderíam ser atendidos em qualquer tempo. A multidão de judeus acorreu à casa de Lázaro, por saber que Jesus ali estava, querendo também ver de perto aquele que fora ressuscitado depois de quatro dias. A repercussão foi tão grande que os principais dos sacerdotes deliberaram matar a Jesus e também a Lázaro. Um bom número de judeus creu em Jesus por causa do milagre da ressurreição de Lázaro (12.9-11).
         2. Maria Ungiu a Cabeça de Jesus
Na mesma semana que antecedeu à morte de Jesus, Maria, mais uma vez, foi movida de profundo sentimento de ternura e valorização do seu Mestre. Mateus diz que Jesus, após o seu sermão profético proferido em Jerusalém, concluiu seus discursos e disse aos discípulos: “Bem sabeis que, daqui a dois dias, éa Páscoa, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado” (Mt 26.2 - grifo nosso). Dali, Ele dirigiu-se a Betânia, onde, na
casa de “Simão, o leproso”, ofereceram outro jantar a Ele. Ali, diz o texto, que “uma mulher” ungiu os seus pés. O evangelista Mateus registra esse fato, dizendo: “E, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa” (v. 6,7). Marcos também diz que esse fato ocorreu “dois dias antes da páscoa” (Mc 14.1,3-9). Há indagações sobre se a “mulher” deste texto é mesmo Maria, irmã de Lázaro. Mas o texto de João, que registra a ressurreição de Lázaro, diz: “Estava, então, enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com unguento e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão, Lázaro, estava enfermo” (Jo 11.1,2).
         Os estudiosos do Novo Testamento não são unânimes em definir se, naquela ocasião, a mulher que ungiu a cabeça de Jesus era a mesma Maria que ungiu os seus pés (cf. Jo 12.3). Mas Michaels2 diz sobre esse fato, que “O narrador já fez alusão a esse incidente ao apresentar Lázaro (11.2); todavia, reconta-o agora com pormenores e na sequência apropriada. Trata-se reconhecidamente da mesma unção que deve ter ocorrido em Betânia, na casa de um leproso chamado Simão, de acordo com Marcos 14.3-9 e Mateus 26.6-13”. A Bíblia de Estudo Cronológica - Aplicação Pessoal, em nota sobre Mateus 26.7, confirma esse entendimento: “Esta mulher era Maria, a irmã de Marta e Lázaro, que vivia em Betânia (Jo 12.1-3)”.3 De igual modo, essa Bíblia diz, em nota sobre Marcos 14.3, que “A mulher que ungiu os pés de Jesus foi Maria, a irmã de Lázaro e Marta”.4
         Mais uma vez, a devoção extremada de Maria por Jesus, com seu gesto de intensa generosidade, provocou grande indignação e, dessa feita, não só por parte de Judas, mas também dos discípulos, que consideraram aquele ato um “desperdício”. Assim como Judas, eles viram apenas o valor monetário do precioso unguento, que podería ser vendido “por grande preço” e dado aos pobres. Jesus, porém, percebendo a inquietação dos discípulos, ficou ao lado da mulher, indagando e dizendo: “[...] Por que afligis esta mulher? Pois praticou uma boa ação para comigo. Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento. Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez para memória sua” (Mt 26.10-13).
3. Devemos Oferecer o Melhor a Jesus
         O exemplo de Maria ensina-nos que devemos oferecer a Jesus aquilo que temos de melhor em nossa vida. Na ocasião extrema, sendo iminente a morte de Jesus, Maria quis demonstrar seu amor e sua gratidão oferecendo algo que tivesse valor elevado, e não qualquer coisa por mera formalidade ou religiosidade. Ela podería ter oferecido um unguento de menor preço, mas ungiu Jesus “com unguento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça”. O gesto torna-se mais impressionante, e até extravagante, pois, além do valor do bálsamo, ela derramou-o sobre a cabeça de Jesus, fazendo com que a maior parte do perfume caísse ao chão do local, o que provocou a indignação dos circunstantes. O mais importante na adoração a Jesus é saber se Ele aceita nosso louvor. E Jesus declarou sua aprovação ao gesto de Maria, dizendo: “Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez para memória sua” (Mt 26.13; Mc 14.9). A adoração a Deus deve ter um caráter de sacrifício, de algo que tenha valor. O salmista disse: “Oferece a Deus sacrifício de louvor e paga ao Altíssimo os teus votos” (Sl 50.14, 23). Chama-nos a atenção o que acontece nos dias presentes. Em igrejas, cantores e grupos musicais só se apresentam se receberem elevados “cachês” — às
vezes, quantias exageradas —, dizendo ainda que são “levitas”, que oferecem sacrifício a Deus. O sacrifício não é o que se cobra dos outros, e sim o que se oferece a Deus.
III - O CARÁTER HUMILDE DE MARIADE BETÂNIA
         Com base nos textos citados, podemos concluir que Maria, irmã de Lázaro, era uma mulher humilde, mesmo sendo possuidora de ótima condição financeira, a ponto de poder oferecer a Jesus valiosa oferta como verdadeiro sacrifício de louvor e adoração. No episódio em que ela ficou assentada aos pés de Jesus (cf. Lc 10.39), revelou um profundo senso de valor diante do Mestre, considerando prioridade maior ouvir seus valiosos ensinos. Na ocasião, mesmo ouvindo sua irmã Marta reclamar diante de todos que ela deveria sair da presença de Jesus para ajudá-la nas tarefas domésticas, Maria não revidou, criticando a atitude da irmã, mas ficou em silêncio, sendo compensada por Jesus, que a defendeu dizendo que ela escolhera “a boa parte, a qual não lhe será tirada” (Lc 10.42). Da mesma forma, quando foi criticada por Judas e, em outra ocasião, pelos discípulos, pelo seu gesto generoso e extravagante de amor e adoração a Jesus, ela soube ficar calada. Cristo, porém, falou por ela, não aprovando a atitude dos discípulos e dizendo que ela fizera aquele ato, talvez até inconscientemente, preparando Jesus para o seu sepultamento (Mt 26.12).
CONCLUSÃO
Maria de Betânia, irmã de Lázaro, deixou um exemplo de como o cristão deve dar prioridade a Cristo em sua devoção sincera. O cristão deve saber aproveitar os momentos especiais, de oração, de meditação e de aprender as santas Escrituras. Uma serva de Deus não deve negligenciar os afazeres domésticos sob sua responsabilidade, mas precisa saber administrar o tempo e as oportunidades para não se deixar ficar tão assoberbada, a ponto de não ter tempo para Jesus, sendo, assim, um exemplo para os crentes em todos os tempos e lugares.


Fonte :
Livro o Caráterdo Cristão
Moldado pela Palavra de Deus e provado como ouro

Elinaldo Renovato de Lima


domingo, 28 de maio de 2017

Algumas Maneiras Diferentes de como a Bíblia Fala do Amor de Deus

Extraído do livro "A Difícil Doutrina do Amor de Deus"

É melhor eu lhe avisar que nem todas as passagens a que faço referência usam na verdade a palavra amor. Quando falo da doutrina do amor de Deus, incluo temas e textos que retratam o amor de Deus sem nunca usar a palavra,            assim como Jesus diz parábolas que retratam a graça, sem usar a palavra graça.
Com este aviso à frente, chamo a sua atenção para cinco maneiras distinguíveis com que a Bíblia fala do amor de Deus. Esta não é uma lista exaustiva, mas é heuristicamente útil.

            (1) O amor peculiar do Pai pelo Filho, e do Filho pelo Pai. O Evangelho de João é especialmente rico neste tema. Duas vezes somos informados que o Pai ama o Filho, uma vez com o verbo grego agapad (Jo 3.35), e uma vez comphiléõ (Jo 5.20). No entanto, o evangelista insiste também que o mundo deve aprender que Jesus ama o Pai (Jo 14.31). Este amor intra-Trinitariano de Deus não só separa o monoteísmo cristão de todos os outros monoteísmos, mas está ligado de maneirassurpreendentes com a revelação e a redenção. Voltarei a este tema no próximo capítulo.

            (2) O amor providencial de Deus sobre tudo o que Ele fez. De um modo geral, a Bíblia não usa a palavra amor neste sentido, mas o tema não é difícil de achar. Deus cria todas as coisas, e, antes que haja um sopro de pecado, Ele anuncia que tudo o que fez foi "bom" (Gn 1). Este é o produto de um Criador amoroso. O Senhor Jesus retrata um mundo no qual Deus veste a erva dos campos com a glória das flores silvestres talvez não vista por seres humanos, mas vista por Deus. O leão ruge e ataca a sua presa, mas é Deus que alimenta o animal. As aves encontram alimento, mas isto é o resultado da providência amorosa de Deus, e nenhuma delas cai sem a autorização do Todo-Poderoso (Mt 6.26; 10.29).
Se esta não fosse uma providência benevolente, uma providência amorosa, então a lição moral que Jesus revela, isto é, que podemos confiar que este Deus é capaz de prover o sustento do seu próprio povo, seria incoerente.

            (3) A postura salvadora em relação ao seu mundo caído. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho (Jo 3.16). Eu sei que alguns calvinistas tentam tomar o grego kosmos ("mundo") aqui para se referir aos que eles chamam de eleitos. Mas isto realmente não servirá. Todas as evidências do uso da palavra no Evangelho de João são contrárias a esta sugestão. Para dizer a verdade, mundo em João não se refere tanto a grandeza como a maldade. No vocabulário de João, mundo é primeiramente a ordem moral em rebelião intencional e culpável contra.
Deus, Em João 3.16 o amor de Deus ao enviar o Senhor Jesus deve ser admirado, não porque seja estendido a algo tão grande quanto o mundo, mas a algo tão mau; não a tantas pessoas, mas a pessoas tão impiedosas. Entretanto, em outra passagem, João pôde falar de " todo o mundo" (1 Jo 2.2), unindo assim a grandeza com a maldade. Mais importante ainda, na teologia joanina os próprios discípulos pertenciam ao mundo, mas foram tirados dele (por exemplo, João 15.19). Neste eixo, o amor de Deus pelo mundo não pode ser reduzido ao seu amor pelos chamados eleitos» A mesma lição é aprendida em muitas passagens e temas nas Escrituras. Embora Deus se coloque em juízo sobre o mundo, Ele também se apresenta como o Deus que convida e ordena que todos os seres humanos se arrependam.

            Ele ordena que o seu povo leve o Evangelho até os confins da terra, anunciando-o aos homens e mulheres de toda parte.
Aos rebeldes o Senhor soberano diz, "Vivo eu, (...), que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva; convertei-vos, converteivos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis, ó casa de Israel?" (Ez 33.11).9

            (4) O amor particular, efetivo e seletivo de Deus em relação aos seus eleitos. Os eleitos podem ser toda a nação de Israel, a Igreja como um corpo, ou os indivíduos. Em cada caso, Deus coloca a sua afeição em seus escolhidos, de um modo que Ele não coloque a sua afeição sobre outros. O povo de Israel é informado: "O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em números do que todos os povos, mas porque o Senhor vos amava; e, para guardar o juramento que jurara a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito" (Dt 7.7,8; cf. 4.37).
Outra vez: "Eis que os céus e os céus dos céus são do Senhor, teu Deus, a terra e tudo o que nela há. Tão somente o Senhor tomou prazer em teus pais para os amar; e a vós, semente deles, escolheu depois deles, de todos os povos, como neste dia se vê" (10.14,15).
O mais admirável sobre estas passagens é que quando Israel é contrastado com o universo ou com outras nações, a característica distinguível não tem nada de mérito pessoal ou nacional; não é nada além do amor de Deus. Então, na própria natureza do caso, nestas passagens, o amor de Deus é dirigido a Israel de um modo que não é direcionado a outras nações.
Obviamente, esta maneira de tratar o amor de Deus é diferente das outras três que observamos até agora. Esta característica aparentemente discriminatória do amor de Deus emerge com certa freqüência. "Amei a Jacó e aborreci a Esaú" (Ml 1.2,3), Deus declara. Permita todo o espaço que você desejar para a natureza semita deste contraste, observando que a forma absoluta pode ser uma maneira de articular uma preferência absoluta; no entanto, o fato é que o amor de Deus nestas passagens é peculiarmente dirigido aos escolhidos.
Semelhantemente, no Novo Testamento: Cristo "amou a igreja" (Ef 5.25). De forma repetida, os textos do Novo Testamento nos contam que o amor de Deus (ou o amor de Cristo) é dirigido àqueles que constituem a Igreja. Retomarei a esse assunto no quarto capítulo.

            (5) Finalmente, às vezes é dito que o amor de Deus é dirigido ao seu próprio povo de uma maneira provisional ou condicional condicionado, isto é, à obediência. Isto faz parte da estrutura relacional de conhecer a Deus; não tem a ver com como nos tornamos verdadeiros seguidores do Deus vivo, mas com o nosso relacionamento com Ele uma vez que o conhecemos.
"Conservai a vós mesmos na caridade de Deus", Judas exorta os seus leitores (v. 21), deixando a impressão inequívoca de que alguém poderia não se conservar no amor de Deus.
Está claro que este não é o amor providencial de Deus; é muito difícil escapar disso. Nem é este o amor anelante de Deus, refletindo a sua postura salvadora em relação à raça caída. Nem é este o seu amor eterno e eletivo. As palavras têm os seus significados; e uma delas, como veremos, também se afasta deste amor.
Judas não é o único que fala nestes termos. O Senhor Jesus ordena aos seus discípulos que permaneçam no seu amor (Jo 15.9), e acrescenta, "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor" (Jo 15.10). Permita-me fazer uma fraca analogia: Embora haja um sentido no qual o meu amor pelos meus filhos seja imutável (Deus é testemunha) independentemente do que eles façam, há um outro sentido no qual eles sabem muito bem que devem permanecer no meu amor. Se não houver um bom motivo para que os meus filhos adolescentes não cheguem em casa no horário combinado, o mínimo que eles experimentarão é uma repreensão, e também poderão incorrer em algumas sanções restritivas.

            Não adianta lembrá-los de que estou agindo assim porque os amo. Isto é verdade, mas a manifestação do meu amor por eles quando os coloco de castigo, e quando saio com eles para comer alguma coisa, ou compareço em uma de suas apresentações musicais, ou levo o meu filho para pescar, ou a minha filha para uma excursão de algum tipo, é bastante distinta nos dois casos. A diferença é apenas que o segundo caso se parecerá muito mais com permanecer no meu amor, do que cair sob a minha ira.

            Isto também não é apenas um fenômeno da nova aliança.          O Decálogo declara que Deus é aquele que mostra o seu amor "a mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamento  (Êx 20.6). Sim, "Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade" (SI 103.8).
Neste contexto, o seu amor é contrastado com a sua ira. Diferentemente de alguns textos que examinaremos, o seu povo vive debaixo de seu amor ou debaixo de sua ira, em função de sua fidelidade à aliança, pois Ele: "Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira. Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos retribuiu segundo as nossas iniqüidades. Pois quanto o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem. Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.
            Mas a misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade sobre aqueles que o temem, (...); sobre aqueles que guardam o seu concerto, e sobre os que se lembram dos seus mandamentos para os cumprirem" (SI 103.9-11,13,17,18; grifos meus). Esta é a linguagem do relacionamento entre Deus e a comunidade da aliança.
Concluirei este capítulo com:
C. Três Observações Preliminares sobre estas Maneiras Distintas de Falar do Amor de Deus Estas três reflexões serão abordadas um pouco mais nos capítulos restantes. Entretanto, será útil unir alguns elementos.
(1) É fácil ver o que irá acontecer se qualquer uma destas cinco maneiras bíblicas de falar sobre o amor de Deus se
tomar absoluta e exclusiva, ou se a rede de controle da discussão for as outras maneiras de falar sobre o amor de Deus que, por sua vez, se tornaram relativas.

            Se começarmos com o amor intra-Trinitariano de Deus e usarmos isto como o modelo para todos os seus relacionamentos amorosos, falharemos em observar as distinções que devem ser mantidas. O amor do Pai pelo Filho e o amor do Filho pelo Pai são expressos em um relacionamento de perfeição, sem ser atingido pelo pecado. Embora muito do amor intra-Trinitariano sirva, como veremos, como um modelo do amor a ser compartilhado entre Jesus e os seus seguidores, não há nenhum sentido no qual o amor do Pai redima o Filho, ou o amor do Filho seja expresso em um relacionamento de perdão concedido e recebido. Precioso e realmente extraordinário é o amor intra-Trinitariano de Deus, um foco exclusivo nesta direção leva muito pouco em consideração como Deus se manifesta em relação àqueles rebeldes que levam a sua imagem, em ira e em amor, na cruz.
            Se o amor de Deus não é nada mais do que a sua ordem providencial para todas as coisas, não estamos longe de uma "força" beneficente, e um tanto misteriosa. Seria fácil integrar este tipo de postura no panteísmo ou em alguma outra forma de monismo. A ecologia verde pode assim ser fortalecida, mas não a linha da história magnífica que nos leva da criação para a nova criação, para o novo céu e a nova terra, por meio da cruz e ressurreição do nosso Mestre e Senhor.
            Se o amor de Deus for exclusivamente retratado como uma paixão convidativa, desejosa, bastante perdida de amor, e que busca o pecador, podemos fortalecer as mãos dos arminianos, semi-pelagianos, pelagianos, e daqueles mais interessados na vida emocional interior de Deus do que em sua justiça e glória; mas o custo será imenso. Há alguma verdade neste retrato de Deus, como veremos, alguma verdade gloriosa. Tornada absoluta, porém, ela não só trata os textos complementares como se não estivessem ali, mas rouba de Deus a soberania, e a nossa segurança. Este pensamento adota uma teologia da graça muito diferente da teologia da graça de Paulo, e pior ainda, termina com um Deus tão insípido que Ele nem pode intervir para nos salvar, nem dispor a sua vara de castigo contra nós. Seu amor é "incondicional" demais para isso. Este é um mundo muito afastado das páginas das Escrituras.
            Se o amor de Deus se referir exclusivamente ao seu amor pelos eleitos, é fácil se desviar em direção a uma bifurcação simples e absoluta: Deus ama os eleitos e odeia os reprováveis.  Corretamente posicionada aqui, há uma verdade nesta afirmação; desprovida das verdades bíblicas complementares, esta mesma afirmação gerou o  hiper-calvinismos Eu uso o termo intencionalmente, me referindo a grupos dentro da tradição da Reforma que proibiram a livre oferta do Evangelho. Spurgeon lutou contra eles em seus dias.  O número deles não é grande na América hoje, mas seus ecos são encontrados em jovens ministros da Reforma que sabem que é certo oferecer o Evangelho gratuitamente, mas que não fazem idéia de como fazê-lo sem infringir algum elemento em sua concepção da teologia da Reforma. Se o amor de Deus for explicado inteiramente dentro do tipo de discurso que liga o amor de Deus à nossa obediência (por exemplo, "Conservai a vós mesmos na caridade de Deus"), os perigos que nos ameaçam mudam mais uma vez.

            Na verdade, em uma igreja caracterizada, antes, mais pela preferência pessoal e pelo antinomismo do que pelo temor piedoso ao Senhor, tais passagens certamente têm algo a nos dizer. Mas separados das declarações bíblicas complementares sobre o amor de Deus, tais textos podem nos fazer retroceder na direção da teologia do mérito, uma irritação incessante sobre se temos ou não sido suficientemente bons hoje para desfrutarmos o amor de Deus para estarmos livres de todos os acessos de culpa dos quais somente a cruz pode nos libertar.
            Em resumo, precisamos de tudo o que a Escritura diz sobre este assunto, ou as ramificações doutrinárias e pastorais se mostrarão desastrosas.
(2) Não devemos considerar estas maneiras de falar sobre o amor de Deus, como amores independentes e compartimentados. Não será útil começar a falar com muita freqüência sobre o amor providencial de Deus, seu amor eletivo, seu amor intra-Trinitariano, e assim por diante, como se cada um deles estivesse hermeticamente separado do outro. Nem podemos permitir que qualquer uma destas maneiras de falar sobre o amor de Deus seja diminuída pelas outras, mesmo quando não podemos, com as evidências bíblicas, permitir que qualquer delas domestique todas as outras. Deus é Deus, e Ele é um. Não só devemos agradecidamente reconhecer que Deus na perfeição de sua sabedoria achou melhor nos prover com estas várias maneiras de falar de seu amor, se pensarmos nEle corretamente, mas devemos defender estas verdades e aprender a integrá-las em proporção e equilíbrio bíblicos.
            Devemos aplicá-las à nossa vida e à vida daqueles a quem ministramos com inspiração e sensibilidade formadas pelo modo como estas verdades funcionam nas Escrituras.
(3) Dentro da estrutura estabelecida até agora, bem podemos nos perguntar como certos clichês evangélicos perduram.
(a) "O amor de Deus é incondicional". Sem dúvida alguma isto é verdadeiro no quarto sentido, com respeito ao amor eletivo de Deus. Mas isto certamente não é verdadeiro no quinto sentido: A disciplina de Deus aos seus filhos significa que Ele pode vir sobre nós com o equivalente divino da "ira" de um pai sobre um filho adolescente teimoso.
Na verdade, citar o clichê "O amor de Deus é incondicional" para um cristão que está se desviando para o pecado, pode transmitir a impressão errada e causar grandes prejuízos. Estes cristãos precisam ser informados de que só permanecerão no amor de Deus se fizerem o que Ele diz.
Então, é óbvio que é, pastoralmente, importante saber que passagens e temas aplicar a quais pessoas em qualquer dado momento, (b) "Deus ama a todos exatamente da mesma maneira".

            Isto certamente é verdadeiro em passagens pertencentes à segunda categoria, o domínio da providência. Afinal, Deus manda o seu raio de sol e a sua chuva sobre o justo e o injusto, igualmente. Mas certamente isto não é verdadeiro em passagens pertencentes à quarta categoria, o domínio da eleição.
Mais um ou dois clichês serão examinados depois nestes capítulos. Porém já fica claro que o que a Bíblia diz sobre o amor de Deus é mais complexo e diverso do que é permitido pelo mero uso de slogans.

Para resumir: A fidelidade cristã vincula a nossa responsabilidade a crescermos em nossa compreensão do que significa confessar que Deus é amor. A este fim dedicamos os próximos capítulos.

DESCENDENTES DE NOÉ ATÉ JACÓ. DIVERSOS PAÍSES QUE ELES OCUPARAM.

        Gênesis 10. Os filhos dos filhos de Noé, para honrar-lhe a memória, deram os próprios nomes aos países onde se estabeleceram. Assim, os sete filhos de Jafé, que se estabeleceram pela Ásia desde o monte Tauro e o Amã até o rio de Tanais e na Europa até Gades, deram os seus nomes às terras que ocuparam e que não eram ainda povoadas. Gomer fundou a colônia dos gôrneres, que os gregos chamam gaiatas. Magogue fundou a dos magogianos, a que chamam citas. Javã deu o nome à Jônia e a toda a nação dos gregos. Madai foi o fundador dos madianos, que os gregos chamam medas. Tubal deu o seu nome aos tubalinos, que agora se chamam iberos.* Meseque deu o próprio nome aos mescinianos (o de capadócios, que eles têm agora, é novo), e ainda hoje uma de suas cidades tem o nome de Malaca, o que nos mostra que essa cidade antigamente se chamava assim. Tiras deu o seu nome aos tírios, dos quais foi o príncipe e que os gregos chamam trácios. Assim, todas essas nações foram fundadas pelos filhos de Jafé.
         Gomer, que era o mais velho dos filhos de Jafé, teve três filhos: Asquenaz, que deu o seu nome aos asquenázios, aos quais os gregos chamam reginianos; Rifate, que deu o seu nome aos rifanianos, aos quais os gregos chamam paflagonianos; Togarma, que deu o seu nome aos togarmanianos, aos quais os gregos chamam frígios.
         Javã, outro filho de Jafé, teve quatro filhos: Elisa, Társis, Quitim e Dodanim. Elisa deu o seu nome aos elisamos, que hoje se chamam ecolianos. Társis deu o seu nome aos tarsianos, que hoje são os cilicianos, cuja principal cidade ainda hoje se chama Tarso. Quitim ocupou a ilha que agora se chama Chipre, à qual deu o seu nome, razão por que os hebreus chamam de Quitim todas as ilhas e todos os lugares marítimos. Ainda hoje, uma das cidades da ilha de Chipre é chamada Citium por aqueles que dão nomes gregos a todas as coisas, que pouco difere do nome Quitim. Eis as nações de que os filhos de Jafé se tornaram senhores. Antes de retomar o fio de minha narração acrescentarei uma coisa que talvez os gregos ignorem: esses nomes foram mudados segundo a maneira de falar, para tornar a pronúncia mais agradável, pois entre nós não serão jamais mudados.
         Os filhos de Cam ocuparam a Síria e todos os países que estão além dos montes de Amane e do Líbano até o oceano, dando-lhes nomes dos quais alguns são hoje inteiramente desconhecidos, e outros, modificados de tal modo que mal se poderiam reconhecer. Somente os etíopes, dos quais Cuxe, filho de um dos quatro filhos de Cam, foi príncipe, conservaram o nome ancestral, não somente naquele país mas em toda a Ásia. Ainda hoje eles são chamados cuxeenses. Os mizraenses, descendentes de Mizraim, também conservaram o seu nome, pois nós chamamos Mizrau ao Egito e mizraenses aos egípcios. Pute povoou a Líbia e chamou a esses povos com o seu nome: puteenses. Existe ainda hoje, na Mauritânia, um rio que tem esse nome, e vários historiadores          gregos o mencionam, como também ao país vizinho, a que chamam Pute, mas que depois mudou de nome, por causa de um dos filhos de Mizraim, Leabim.
         Direi em seguida por que lhe deram o nome de África. Canaã, quarto filho de Cam, estabeleceu-se na Judéia, a que chamou com o seu nome: Canaã. Cuxe, o mais velho dos filhos de Cam, teve seis filhos: Sebá, príncipe dos sebaenses; Havilá, príncipe dos havilenses, que agora são chamados getulienses; Sabtá, príncipe dos sabataenses, a que os gregos chamam astabarienses; Raamá, príncipe dos ramaenses (que teve dois filhos, que moram entre os etíopes ocidentais: um de nome Dedã e outro de nome Sabá, que deu nome aos sabaenses); Sabtecá. Quanto a Ninrode, sexto filho de Cuxe, ficou entre os babilônios e tornou-se senhor deles, como já o disse anteriormente. Mizraim foi pai de oito filhos, que ocuparam todos os países que estão entre Gaza e o Egito. Mas somente um desses oito, Filistim, manteve o nome no seu país — os gregos deram o nome de Palestina a uma parte dessa província. Quanto aos sete outros irmãos, chamados Ludim, Anamim, Leabim, Naftuim, Patrusim, Casluim e Caftorim, com exceção de Leabim, que fundou uma colônia na Líbia e lhe deu o seu nome, nada sabemos de suas obras, porque as cidades que construíram foram destruídas pelos etíopes, como diremos a seu tempo.
         Canaã teve onze filhos: Sidônio, que construiu na Fenícia uma cidade à qual deu o seu nome e à qual os gregos chamam Sidom; Hamate, que construiu a cidade de Hamate, que ainda hoje se vê e conserva o mesmo nome entre os que nela habitam, embora os macedônios lhe chamem Epifania, nome de um de seus príncipes; Arqueu, que teve como herança a ilha de Aruda; Amom, que teve a cidade de Arce, situada no monte Líbano. Quanto aos outros sete irmãos, chamados Heveu, Hete, Jebuseu, Arvadeu, Sineu, Zemarco e Cirgaseu, só ficaram os nomes nas Sagradas Escrituras, porque os hebreus destruíram-lhes as cidades por motivo que depois direi. Gênesis 9. Quando, depois do dilúvio, a terra foi restaurada ao seu estado primitivo, Noé cultivou-a como antes e plantou uma vinha, da qual ofereceu as primícias a Deus. Bebeu vinho que dela fez e, como não estava acostumado a uma bebida tão forte e ao mesmo tempo tão deliciosa, bebeu demais e ficou embriagado. Dormiu em seguida, tendo-se descoberto ao dormir, contra o que lhe permitia a decência. Cam, o mais novo de seus filhos, vendo-o naquele estado, zombou dele e mostrou-o aos irmãos. Estes, porém, ao contrário, cobriram a nudez do pai com o respeito que lhe deviam. Noé, ao saber o que se havia passado, deu-lhes a sua bênção, e a ternura paternal fê-lo perdoar Cam, contentando-se em amaldiçoar apenas os seus descendentes, que foram assim castigados pelo pecado de seu pai, como iremos expor em seguida.
         Gênesis 11. Sem, outro filho de Noé, teve cinco filhos, que estenderam o seu domínio desde a Ásia, a partir do rio Eufrates, até o oceano Índico. De Elão, o mais velho, vieram os elameenses, e dele os persas tiveram a sua origem. Assur, o segundo, construiu a cidade de Nínive e deu o nome de assírios aos seus súditos, os quais foram extraordinariamente ricos e poderosos. Arfaxade, o terceiro, também chamou aos seus pelo seu nome, isto é, arfaxadeenses, que são hoje os caldeus. De Arã, o quarto, vieram os arameenses, aos quais os gregos chamam sírios, e de Lude, o quinto, vieram os ludeenses, que hoje são chamados lídios.
         Arã teve quatro filhos, dos quais Uz, o mais velho, estabeleceu-se na Traconites e aí construiu a cidade de Damasco, que está situada entre a Palestina e a Síria, cognominada Coelem. Hul, o segundo, ocupou a Armênia. Geter, o terceiro, foi príncipe dos bactrianos. E Más, o quarto, dominou os mesanianos, cujo país hoje se chama o vale de Pasin.
         Arfaxade foi pai de Sala, e Sala, pai de Éber, de cujo nome os judeus foram chamados hebreus. Éber teve por filhos Joctã e Pelegue, este nascido quando se fazia a divisão das terras, pois Pelegue em hebreu significa "partilha", joctã teve treze filhos: Almodá, Selefe, Hazar-Mavé, Jerá, Hadorão, Uzal, Dicla, Obal, Abimael, Sabá, Ofir, Havilá e Jobabe, que se espalharam desde o rio Confem, que está na índia, até a Assíria.
         Depois de haver falado dos descendentes de Sem, é preciso agora falar dos hebreus, descendentes de Éber. Pelegue, filho de Éber, teve por filho Reú. Reú teve Serugue, Serugue teve Naor e Naor teve Terá, pai de Abraão, que assim foi o décimo desde Noé e nasceu duzentos e noventa e dois anos após o dilúvio, pois Terá tinha setenta anos ao nascer Abraão. Naor tinha vinte e nove anos quando teve Terá, Serugue tinha trinta anos quando teve Naor, Reú tinha trinta e dois anos quando teve Serugue, Pelegue tinha trinta anos quando teve Reú, Éber tinha trinta e quatro anos quando teve Pelegue, Sala tinha trinta anos quando teve Éber. Arfaxade tinha trinta e cinco anos quando teve Sala e Arfaxade, filho de Sem e neto de Noé, nasceu dois anos após o dilúvio.
         Abraão teve dois irmãos: Naor e Harã. Este morreu na cidade de Ur da Caldéia, onde ainda hoje se vê o seu sepulcro, e deixou um filho de nome de Ló e duas filhas: Sara e Milca. Abraão desposou Sara, e Naor desposou Milca.
         Terá, pai de Abraão, tendo concebido aversão pela Caldéia, porque lá perdera o filho Arã, deixou-a e foi com toda a família para Harã, na Mesopotâmia. E lá morreu, com a idade de duzentos e cinco anos — a duração da vida humana já ia pouco a pouco diminuindo, continuou a diminuir até Moisés, e foi então que Deus a reduziu a cento e vinte anos, o tempo que viveu esse admirável legislador. Naor teve de sua mulher, Milca, oito filhos: Uz, Buz, Quemuel, Quésede, Hazo, Pildas, jidlafe e Betuel; de Reumá, sua concubina, teve Teba, Gaã, Taás e Maaca. Betuel, que foi o último filho de Naor, teve um filho de nome Labão e uma filha de nome Rebeca.

  
Livro Histora dos Hebreus Flávio Josefo.