terça-feira, 11 de julho de 2017

UM ANJO APARECE A JOSÉ / 1.18-25

  Nessa seção, Mateus conta a história que antecede o nascimento de Jesus.
Embora os atos de Deus estivessem além da sua compreensão, e tivessem que enfrentar olhares questionadores e mal entendidos dos que os cercavam, Maria e José estavam dispostos a seguir a orientação divina. Será que também estamos dispostos a fazer o que Deus mandar, seja qual for a sua vontade? Será que podemos obedecer à orientação de Deus sem questionar?

         1.18 Ora o nascimento de Jesus Cristo foi assim... Em 1.16 Mateus havia afirmado que Maria era a mãe de        Jesus, mas não mencionou o nome de José como seu pai. Este fato exigia uma explicação, afim de não parecer uma situação imoral. Maria, sua mãe... estava desposada com José, antes de se ajuntarem...
Os leitores modernos precisam entender as tradições envolvidas nos antigos casamentos judeus. Primeiro, as duas famílias precisavam concordar com a união e negociar o dote.
Depois, era feita uma proclamação pública e o casal ficava “comprometido”. Embora o casal não estivesse oficialmente casado, seu relacionamento só poderia ser quebrado com a morte ou o divórcio. As relações sexuais ainda não eram permitidas. Esse segundo estágio durava um ano, e durante esse período o casal vivia separadamente, junto aos seus respectivos pais. Esse período de espera tinha o propósito de demonstrar a pureza da noiva, pois se fosse demonstrado que ela estivesse grávida, o casamento poderia ser anulado.
            Como Maria e José estavam comprometidos, eles ainda não tinham tido relações sexuais.
Mas, antes de se ajuntarem, [Maria] achou-se ter concebido do Espírito Santo. Maria estava comprometida e grávida, e José sabia que o filho não era seu. A aparente infidelidade de Maria acarretava um rigoroso estigma social.
De acordo com a lei civil judaica, José tinha o direito de se divorciar dela. A lei também explicava que o castigo para a infidelidade era a morte por apedrejamento (Dt 22.23,24), embora isso fosse raramente praticado na época. Para eliminar qualquer dúvida sobre a pureza de Maria, Mateus explicou que Maria concebeu do Espírito Santo. Durante a época do Antigo Testamento, o Espírito agia sob a iniciativa de Deus (por exemplo, Gênesis 1.2). Desse modo, ficou esclarecida a iniciativa divina na concepção de Jesus. Lucas 1.26-38 registra esta parte da história.

         1.19 Então, José, seu marido, como era justo e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente.           Sendo um homem justo, José não queria agir contra as leis de Deus.
Casar com Maria teria sido uma confissão de culpa, quando ele não era culpado. Um divórcio público iria desgraçar Maria e, aparentemente, a compaixão que sentia não iria permitir que fizesse isso. Portanto, José escolheu a opção, também legítima, de ter um divórcio particular perante duas testemunhas (Nm 5.11-31), rompendo secretamente o  noivado.

         1.20 Eis que, em sonho, lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo. Quando José decidiu ir adiante em seu plano, Deus interveio. A concepção de Jesus Cristo foi um acontecimento sobrenatural, portanto Deus enviou anjos para ajudar certas pessoas a compreenderem o significado do que estava acontecendo (veja 2.13, 19; Lc 1.11,26;
2.9). Nesse caso, em sonho... apareceu um anjo do Senhor a José. Na Bíblia, os sonhos funcionam como uma forma de transmitir a mensagem de Deus ao povo.
Os anjos são seres espirituais, criados por Deus, que ajudam a executar a sua obra na terra. Eles levam a mensagem de Deus ao povo (Lc 1.26), protegem o povo de Deus (Dn 6.22), oferecem encorajamento (Gn 16.7), dão orientação (Ex 14.19), executam os castigos (2 Sm 24.16), patrulham a terra (Zc 1.9-14), e combatem as forças do mal (2 Rs 6.16-18; Ap 20.1,2). O anjo que apareceu a José era um dos mensageiros de Deus, e a finalidade de sua visita era ajudar José a resolver a sua questão com Maria.
O anjo chamou José de filho de Davi, e isto significava que José tinha um papel especial em um evento especial. O anjo explicou que José deveria receber Maria como sua esposa, pois a criança deveria pertencer à linhagem real de Davi. José não precisaria temer receber Maria como sua esposa - a despeito das repercussões sociais que isso poderia provocar. Maria não tinha cometido nenhum pecado. O próprio Deus havia preparado essa gravidez, e este filho seria muito especial - Ele seria o Filho de Deus.

         1.21 E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. O nome Jesus corresponde à forma grega de “Josué” e significa “o Senhor salva”. O infante Jesus iria nascer para salvar o seu povo dos seus pecados. Desde o início o livro explica que Jesus não iria salvar o povo do jugo de Roma, ou da tirania, nem iria estabelecer um reino na terra. Ao invés disto, Jesus iria salvar o povo do pecado.

1.22,23 Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta. Através do seu Evangelho, Mateus fez citações ou alusões às Escrituras do Antigo Testamento para mostrar que Jesus veio para cumpri-las. Ele deveria se chamar Emanuel (que traduzido é: Deus conosco), segundo a previsão de Isaías 7.14. Jesus era o Deus encarnado; portanto, Ele estava literalmente “conosco”. A questão não era Jesus trazer o nome “Emanuel”, mas o Seu Nome deveria descrever o Seu papel – trazer a presença de Deus ao povo. Jesus Cristo, que é Deus (Jo 1.1), trouxe Deus à terra através do seu corpo humano - vivendo, comendo, ensinando, curando, morrendo e ressuscitando.

         1.24 E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara. Embora soubesse que tomar Maria como esposa podia ser humilhante, José preferiu obedecer à ordem do anjo, casando-se com ela. Ele não hesitou. A decisão deixara de ser difícil, pois ele simplesmente fez o que sabia ser a vontade de Deus.
Aparentemente, José estava quebrando a tradição quando recebeu M aria como sua mulher, pois o habitual período de um ano de espera ainda não tinha se passado.
Entretanto, ele fez o que Deus mandou e “concluiu” o trâmite do casamento, levando Maria para viver consigo. Não importava o estigma social, não importava o que as más línguas locais dissessem ou pensassem sobre sua atitude, José sabia que estava obedecendo à ordem de Deus ao se casar e cuidar de Maria durante a sua gravidez.

         1.25 E [José] não   a conheceu até que deu à luz seu filho. Para terminar com quaisquer dúvidas sobre a concepção e o nascimento de Jesus enquanto Maria ainda era virgem,  Mateus explicou que ela permaneceu virgem até que deu à luz seu filho. Essas palavras também deixam de lado a noção de que Maria viveu a vida toda como virgem: depois do nascimento de Jesus, José e Maria consumaram seu casamento e Jesus teve vários meio-irmãos (12.46). Dois dos seus meio-irmãoS foram mencionados na igreja primitiva - Tiago, como líder da igreja de Jerusalém, e Judas, autor do livro que leva o seu nome.
Tradicionalmente, os meninos recém-nascidos eram circuncidados e recebiam seu nome oito dias após o nascimento.
Lucas registra que “quando os oito dias foram cumpridos para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus” (Lc 2.21). José fez tudo que Deus havia lhe dito através do anjo (1.21), dando ao bebê o nome que foi escolhido por Deus - Jesus.

Fonte:
Comentário o novo testamento Aplicação Pessoal

Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

O REGISTRO DO S ANCESTRAIS D E JESU S /MATEUS 1.1-17

Mais de 400 anos haviam se passado desde as últimas profecias do Antigo Testamento, e os judeus religiosos de todo o mundo ainda estavam esperando pelo Messias (Lc 3.15). Sob a inspiração do Espírito Santo, Mateus escreveu esse livro dirigido aos judeus para apresentar Jesus como Rei e Messias, o prometido descendente de Davi que iria reinar para sempre (Is 11.1-5). O Evangelho de Mateus faz uma ligação entre o Antigo e o Novo Testamento contendo muitas referências para mostrar como Jesus cumpriu as profecias do Antigo Testamento. Jesus era judeu, viveu entre os judeus e obedecia às suas leis (desde que fossem verdadeiramente as leis de Deus). Agindo assim, Ele cumpriu as Escrituras do Antigo Testamento.

        1.1 Registro dos ancestrais de Jesus, o Messias. Os dezessete primeiros versículos do Evangelho de Mateus apresentam os ancestrais de Jesus. Como a linhagem de uma família servia para provar que ela pertencia ao povo escolhido de Deus, Mateus começou mostrando que Jesus era descendente (ou “ filho” ) de Davi, que era descendente de Abraão (versão NTLH), cumprindo assim as profecias do Antigo Testamento sobre a linhagem do Messias (a expressão “pai de” também pode significar “ancestral de”). Mateus traçou a genealogia de Jesus até Abraão, através de José. Essa genealogia comprova a linhagem legal (ou real) de Jesus através de José, que era descendente do rei Davi (veja também 2 Sm 7.16; Is 9.6,7; Ap 22.16).
        1.2 Abraão gerou a (“era o pai de” ) Isaque. A frase “era o pai de” também pode significar “era o ancestral de”. Dessa forma, não havia necessidade de haver um relacionamento direto entre o pai e o filho entre todos aqueles que estavam relacionados numa genealogia. Na antiguidade, as genealogias eram muitas vezes arranjadas de forma a ajudar a memorização.
Assim, Mateus registrou sua genealogia através de três conjuntos de quatorze gerações (veja 1.17). Abraão foi chamado por Deus, recebeu as promessas da aliança, e creu que Deus iria manter as suas promessas (Gn 15.6). Sua história é contada em Gênesis 11-25. Abraão gerou a Isaque. Abraão e Sara queriam saber se Deus lhes enviaria o filho prometido; mas Deus sempre cumpre as suas promessas. Veja Gênesis 21-22.
        Isaque gerou a Jacó. Muitas vezes esses três homens - Abraáo, Isaque e Jacó – são mencionados juntos como “patriarcas”, pais da nação e depositários da aliança (ou concerto) de Deus (veja Gn 50.24; Ex 3.16; 33.1; Nm 32.11; Lc 13.28; At 3.13; 7.32).
        Jacó gerou a Judá e a seus irmãos. Jacó teve doze filhos através de suas esposas Raquel e Lia, que se tornaram as doze tribos de Israel (veja Gênesis 49.1-28). Mateus, desejando traçar a linhagem real de Jesus, fez uma especial anotação sobre Judá, porque a linhagem real iria continuar através dele (Gn 49.10).
        1.3 Judá gerou de Tamar a Perez e a Zerá. Nesse verso aparece uma interessante observação. Geralmente, se espera que uma genealogia evite mencionar ancestrais menos respeitáveis, mas, os filhos de Judá nasceram de Tamar, que havia se prostituído com o sogro.
A história de Judá e Tamar é contada em Gênesis 38. Embora Judá fosse o pai de Perez e Zerá, não estava casado com Tamar.
Perez e Zerá eram gêmeos (veja também 1 Crônicas 2.4). A linha que traça Perez até ao rei Davi também está registrada em Rute 4.12,18-22.
        Esrom... Rão [ou Arão]. Pouco se sabe sobre Ezrom e Rão. Ezrom é mencionadoem Gênesis 46.12 e 1 Crônicas 2.5. Rão [ou Arão] é mencionado em 1 Crônicas 2.9.
        1.4 Aminadabe e Naassom são mencionados em Êxodo 6.23. A filha de Aminadabe, e irmã de Naassom, Eliseba casou-se com Arão que se tornou sumo sacerdote de Israel. Veja também Números 1.7; 2.3; 7.12-17. Salmom é mencionado novamente apenas na genealogia de Rute 4,18-21. Esses homens também estão relacionados em 1 Crônicas 2.10,11.
        1.5 Salmom gerou de Raabe a Boaz, e Boaz gerou de Rute a Obede, e Obede gerou a Jessé. Raabe é a mulher da cidade de Jerico que escondeu os espias de Israel: e depois foi salva por eles quando os israelitas destruíram Jericó. Raabe era uma prostituta (Js 2.1) que veio a crer no Deus de Israel: Ela foi incluída na Galeria dos Heróis da Fé de Hebreus 11, entretanto existe um problema cronológico ao fazer de Raabe a verdadeira mãe de Boaz.
Assim como na frase “pai de”, as mulheres que são relacionadas como mães numa genealogia podem ser ancestrais, ao invés de mães verdadeiras.
O livro de Rute conta a história de Boaz e de uma jovem chamada Rute, que tinha vindo de uma nação vizinha. Boaz casou-se com Rute e eles se tornaram os pais de Obede (Rt 4.13-17). Mais tarde Obede se tornou o pai de Jessé (Rt 4.21,22). Veja também 1 Crônicas 2.12.
        1.6 Jessé teve vários filhos, sendo que um deles foi ungido pelo profeta Samuel para ser o próximo rei de Israel, depois do rei Saul (veja 1 Sm 16.5-13). A história do rei Davi é contada em 1 e 2 Samuel, com a transferência do trono para seu filho Salomão, registrada em 1 Reis 1.
        Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias. Essa história, registrada em 2 Samuel 11, descreve como Salomão nasceu de Davi e Bate-Seba, e como Davi mandou matar Urias. Deus ficou muito irado com as más açóes de Davi e o primeiro filho que nasceu de Davi e Bate-Seba morreu (2 Sm 11.27-12.23). O segundo filho a nascer foi Salomão, que mais tarde foi rei de Israel, cujo reinado foi chamado de idade de ouro dessa nação. A sabedoria que recebeu de Deus tornou-se mundialmente conhecida e ele escreveu muitos provérbios, que estão registrados no livro de Provérbios, assim como em Eclesiastes e Cantares. Sua história é contada em 1 Reis 1-11 e 2 Crônicas 1-10.
        1.7 O cruel filho de Salomão, Roboão, dividiu o reino por causa de uma decisão orgulhosa e imprudente (veja 1 Reis 12.1-24) e assim surgiram dois novos reinos: o reino do sul, chamado Judá, governado por Roboão, e o reino do norte, chamado Israel, governado
por Jeroboão. O filho de Roboão, Abias (também chamado Abião) também foi um rei cruel (1 Rs 15.3,4). Asa foi um rei temente ao Senhor (1 Rs 15.11).
        1.8 O bom rei Asa foi o pai de outro rei, Josafá (1 Rs 22.43). Entretanto, o filho de Josafá, Joráo (também chamado Jeoráo), era cruel (2 Rs 8.18). O filho de Jeoráo, Uzias (também chamado Azarias) deu um exemplo de como essa frase nem sempre quer dizer
verdadeiramente “filho de”. De Acordo com a genealogia mostrada em 1 Crônicas 3.10- 14, Mateus omitiu três nomes entre Jorão e Uzias: esses três reis eram Acazias, Joás e Amazias. Mateus provavelmente não incluiu esses nomes a fim de manter seu padrão de
três conjuntos de quatorze gerações nessa genealogia.
        1.9 Jotáo andou firmemente na presença de Deus (2 Cr 27.6), mas a sua boa influência não se estendeu ao seu filho, pois Acaz era um homem cruel a ponto de sacrificar seu próprio filho no fogo (2 Rs 16.3,4). Depois do reinado excessivamente cruel de Acaz, veio o próspero reinado do bom rei Ezequias (2 Rs 18.5).
        1.10 Manassés. Ezequias obedecia a Deus, mas seu filho Manassés foi o rei mais cruel que reinou no reino do sul (2 Cr 33.9). Entretanto, ao chegar ao fim da vida, ele se arrependeu dos seus horríveis pecados (2 Cr 33.13). Infelizmente, seu filho Amom herdou
muito do caráter do pai. Ele cometia pecados e adorava e oferecia sacrifícios aos ídolos (2 Cr 33.22,23). Mais uma vez Deus teve misericórdia da nação e o filho de Amom, Josias, tentou desfazer todas as más ações do pai (2 Rs 23.25).
        1.11 Josias gerou a Jeconias (ou Joaquim) e a seus irmãos na deportação para a Babilônia. Mateus omitiu outro nome da linhagem. Josias era, na verdade, o pai de Jeoaquim que foi deportado para a Babilônia quando se rebelou novamente contra Nabucodonosor. Depois da partida de Jeoaquim, seu filho Jeconias (também chamado Joaquim) reinou em Jerusalém.
Seu reino durou apenas três meses, antes de Nabucodonozor sitiar a cidade, provocando sua rendição. A frase “ea seus irmãos” refere-se ao irmão de Jeconias (ou Joaquim), Zedequias, a quem Nabucodonosor colocou no trono de Jerusalém como um rei “fantoche”. Mas Zedequias cometeu o grande erro de também se rebelar, e isso provocou a ira final do rei da Babilônia que conquistou Judá de forma completa, destruindo Jerusalém, inclusive seu maravilhoso Templo. Toda a nação de Judá foi levada para o exílio na Babilônia (2 Rs 24.16-25.21). Isso aconteceu em 586 a.C.
         1.12 Depois da deportação para a Babilônia, Jeconias (ou Joaquim) gerou a Salatiel. Nesse agrupamento final, Jeconias (ou Joaquim) é relacionado como pai de Salatiel, de acordo com 1 Crônicas 3.17. Ao dizer que Jeconias (ou Joaquim) gerou a Salatiel, Mateus se afastou da genealogia de 1 Crônicas 3.19 que relaciona Pedaías como pai de Zorobabel. Entretanto, Mateus concorda com várias outras Escrituras que relacionam Salatiel como pai de Zorobabel (Ed 3.2; 5.2; Ne 12.1; Ag 1.1; 2.2; 23). Zorobabel figurou de forma proeminente na história de Israel depois do exílio. Quando o povo de Judá teve finalmente permissão de retornar à sua nação, Zorobabel tornou-se seu governador (Ag 1.1) e começou a obra do Templo de Deus (Ed 5.2). Deus abençoou imensamente o seu servo Zorobabel, reafirmando e garantindo sua promessa de um Messias através da linhagem de Davi (Ag 2.23).
        1.13-15 Abiúde... Eliaquim... Azor...Sadoque... Aquim... Eliúde... Eleazar...Matã... Jacó. Nada se sabe nas Escrituras sobre qualquer um desses homens. Na linhagem do Messias foram incluídas pessoas comuns, que nunca haviam sido relacionadas em quaisquer genealogias e nunca tiveram sua história contada através das gerações.
        1.16 A linhagem real continuou através de José que, embora não fosse o pai de Jesus, era o marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo. Mateus havia terminado seu objetivo de relacionar essa genealogia para mostrar, sem qualquer dúvida, que Jesus era descendente de Davi e que, dessa forma, estava cumprindo as promessas de Deus.
        1.17 Todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e, desde Davi até a deportação para a Babilônia, catorze gerações; e, desde a deportação para a Babilônia até Cristo, catorze gerações.
O Evangelho divide a história de Israel em três conjuntos de quatorze gerações, mas provavelmente houve mais gerações do que aquelas relacionadas aqui. Muitas vezes as genealogias condensam a história, e com isso nem todas as gerações dos ancestrais foram
especificamente relacionadas.
Parece que também existe um problema ao compararmos a genealogia de Mateus com a de Lucas (registrada em Lucas 3.23-37). As diferenças em Mateus podem ser explicadas pela omissão de alguns nomes a fim de obter a simetria de três conjuntos de quatorze gerações. Também é muito provável que Lucas estivesse traçando os ancestrais humanos de Jesus através de José, enquanto Mateus estava preocupado com os nomes legais e reais para enfatizar a sucessão ao trono de Davi e a chegada de Jesus como o prometido Rei. Mateus insistia na história israelita enquanto a genealogia mais longa de Lucas traça seus ancestrais através de Natã, filho de Davi, e

não através de Salomão, como fez Mateus. Mateus também incluiu os nomes de quatro mulheres, ao contrário de Lucas.

sábado, 8 de julho de 2017

Martinho Lutero - Heróis da Fé

O grande reformador

(1483-1546)
No cárcere, sentenciado pelo Papa a ser queimado vivo, João Huss disse: "Podem matar o ganso (na sua língua, 'huss' é ganso), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar".
Enquanto caía a neve, e o vento frio uivava como fera em redor da casa, nasceu esse "cisne", em Eisleben, Alemanha. No dia seguinte, o recém-nascido era batizado na Igreja de São Pedro e São Paulo. Sendo o dia de São Martinho, recebeu o nome de Martinho Lutero.
Cento e dois anos depois de João Huss expirar na fogueira, o "cisne" afixou, na porta da Igreja em Wittenberg, as suas noventa e cinco teses contra as indulgências, ato que gerou a Grande Reforma. João Huss enganara-se em apenas dois anos, na sua predição.
Para dar o valor devido à obra de Martinho Lutero, é necessário notar algo das trevas e confusão dos tempos em que nasceu.
Calcula-se que, pelo menos, um milhão de albigenses foram mortos na França, a fim de cumprir a ordem do Papa, para que esses "hereges" fossem cruelmente exterminados. Wyclif, "a Estrela da Alva da Reforma", traduzira a Bíblia para a língua inglesa. João Huss, discípulo de Wyclif, morrera na fogueira, na Boêmia, suplicando ao Senhor que perdoasse aos seus perseguidores. Jerônimo de Praga, companheiro de Huss e também erudito, sofrera o mesmo suplício, cantando hinos, nas chamas, até o último suspiro. João Wessália, notável pregador de Erfurt, fora preso por ensinar que a salvação é pela graça; seu frágil corpo fora metido entre ferros, onde morreu quatro anos antes do nascimento de Lutero. Na Itália, quinze anos depois de Lutero nascer, Savonarola, homem dedicado a Deus e fiel pregador da Palavra, corpo reduzido a cinzas, por ordem da Igreja Romana. foi enforcado e seu Em tempos assim, nasceu Martinho Lutero. Como muitos dos mais célebres entre os homens, era de família pobre. Dizia ele: "Sou filho de camponeses; meu pai, meu avô e meu bisavô eram verdadeiros camponeses". A isso acrescentava: "Há tanta razão para vangloriarmo-nos de nossa ascendência, quanto há para o Diabo se orgulhar da sua linhagem angélica".
Os pais de Martinho, para vestir, alimentar e educar seus sete filhos, esforçavam-se incansavelmente. O pai trabalhava nas minas de cobre; a mãe, além do serviço doméstico, trazia lenha às costas, da floresta.
Os pais, não somente se interessavam pelo desenvolvimento físico e intelectual dos filhos, mas também do espiritual. O pai, quando Martinho chegou à idade de compreender, ensinou-o a ajoelhar-se ao lado da sua cama, à noite, e rogava a Deus que fizesse o menino lembrar-se do nome de seu Criador (Eclesiastes 12.1)..
A sua mãe era sincera e devota; ensinou seus filhos a considerarem todos os monges como homens santos, e a sentirem todas as transgressões dos regulamentos da igreja como transgressões das leis de Deus. Martinho aprendeu os Dez Mandamentos, o "Pai Nosso", a respeitar a Santa Sé na distante e sagrada Roma, e a olhar, tremendo, para qualquer osso ou fragmento de roupa que tivesse pertencido a algum santo. A base da sua amigo de crianças (Mateus 19.13-15). Quando já era adulto, Lutero escreveu: "Estremecia e tornava-me pálido ao ouvir alguém mencionar o nome de Cristo, porque fui ensinado a considerá-lo como um juiz encolerizado. Fomos ensinados que devíamos, nós mesmos, fazer propiciação por nossos pecados; que não podemos fazer compensação suficiente por nossa culpa, que é necessário recorrer aos santos nos céus, e clamar a Maria para desviar de nós a ira de Cristo."
O pai de Martinho, satisfeitíssimo pelos trabalhos escolares do filho, na vila onde morava, mandou-o, aos treze anos, para a escola franciscana na cidade de Magdeburgo.
O moço apresentava-se freqüentemente no confessionário, onde o padre lhe impunha penitências e o obrigava a praticar boas obras, para obter a absolvição. Esforçava-se incessantemente para adquirir o favor de Deus, pela piedade, desejo esse que o levou mais tarde à vida de convento.
Para conseguir a sua subsistência em Magdeburgo, Martinho era obrigado a esmolar pelas ruas, cantando canções de porta em porta. Seus pais, achando que em Eisenach passaria melhor, mandaram-no para estudar nessa cidade, onde moravam parentes de sua mãe. Porém esses parentes não o auxiliaram, e o moço continuou a mendigar o pão.
Quando estava a ponto de abandonar os estudos, para trabalhar com as mãos, certa senhora de recursos, D. Ursula Cota, atraída por suas orações na igreja e comovida pela humilde maneira de receber quaisquer restos de comida, na porta, acolheu-o entre a família. Pela primeira vez Lutero sentira fartura. Mais tarde, ele referia-se à cidade de Eisenach como a "cidade bem amada". Quando Lutero se tornou famoso, um dos filhos da família Cota cursava em Wittenberg, onde Lutero o recebeu na sua casa.
Domiciliado na casa da sua extremosa mãe adotiva, D. Ursula, Martinho desenvolveu-se rapidamente, recebendo uma sólida educação.
Seu mestre, João Trebunius, era homem culto e de métodos esmerados.
Não maltratava os alunos como os demais mestres. Conta-se que, ao encontrar os moços da sua escola, cumprimentava-os tirando o chapéu, porque "ninguém sabia quais seriam dentre eles os doutores, regentes, chanceleres e reis..." O ambiente da escola e no lar era-lhe favorável para produzir um caráter forte e inquebrantável, tão necessário para enfrentar os mais temíveis inimigos de Deus.
sua idade. Acerca deste fato, D. Ursula, na hora da morte, disse que Deus tinha abençoado o seu lar grandemente desde o dia em que Lutero entrara em sua casa.
Logo depois, os pais de Martinho alcançaram certa abastança. O pai alugou um forno para fundição de cobre e depois passou a possuir mais dois. Foi eleito vereador na sua cidade e começou a fazer planos para educar seus filhos. Mas Martinho nunca se envergonhou dos dias da sua provação e miséria; antes reconhecia que fora a mão de Deus dirigindo-o e qualificando-o para a sua grande obra.
- Como poderia alguém, depois de homem feito, encarar fiel e destacadamente as vicissitudes da vida, se não aprendesse por experiência enquanto era jovem?
Aos dezoito anos, Martinho ansiava estudar numa universidade.
Seu pai, reconhecendo a idoneidade do filho, enviou a Efurt o centro intelectual do país, onde cursavam mais de mil estudantes . O moço estudou com tanto afinco que, no fim do terceiro semestre, obteve o grau de bacharel em filosofia. Com a idade de vinte e um anos, alcançou o segundo grau acadêmico e o de doutor em filosofia. Os estudantes, professores e autoridades prestaram-lhe significativa homenagem.
Havia dentro dos muros de Erfurt, cem prédios que pertenciam à igreja, inclusive oito conventos. Havia, também uma importante biblioteca, que pertencia à universidade, e aí Lutero passava todo o tempo de que podia dispor. Sempre suplicava fervorosamente a Deus que o abençoasse nos estudos. Dizia ele: "Orar bem é a melhor parte dos estudos." Acerca dele escreveu certo colega: "Cada manhã ele precede seus estudos com uma visita à igreja e uma prece a Deus".Seu pai, desejoso de que seu filho se formasse em direito e se tornasse célebre, comprou-lhe a caríssima obra: "Corpus Juris".
Mas a alma de Lutero suspirava por Deus, acima de todas as coisas.
Vários acontecimentos influenciaram-no a entrar para a vida monástica, passo que entristeceu profundamente seu pai e horrorizou seus companheiros de universidade.
Primeiro, achou na biblioteca o maravilhoso Livro dos livros, a Bíblia completa, em latim. Até aquela ocasião, supunha que as pequenas porções escolhidas pela igreja para serem lidas aos domingos, constituíssem o todo da Palavra de Deus. Depois de uma longa leitura, exclamou: "Oh! se a Providência me desse um livro como este, só para mim!" Continuando a ler as Escrituras, o seu coração começou a perceber a luz, e a sua alma a sentir ainda mais sede de Deus.
A essa altura, quando se bacharelou, os estudos custaram-lhe uma doença que o levou às portas da morte. Assim, a fome pela Palavra de Deus ficou ainda mais enraizada no coração de Lutero. Algum tempo depois da sua doença, em viagem para visitar a família, sofreu um golpe de espada, e duas vezes quase morreu antes de um cirurgião conseguir pensar-lhe a ferida. Para Lutero, a salvação da sua alma ultrapassava qualquer outro anelo.
Certo dia, um de seus íntimos amigos na Universidade foi assassinado. "Ah!" exclamou Lutero, horrorizado, "o que seria de mim se eu tivesse sido chamado desta para a outra vida tão inopinadamente!"
Mas, de todos esses acontecimentos, espírito, foi o que experimentou durante uma tempestade, quando voltava de visitar seus pais. Não havia abrigo próximo. Os céus estavam em brasa, os raios rasgavam as nuvens a cada instante. De repente um raio caiu ao seu lado. Lutero, tomado de grande susto, e sentindo-se perto do Inferno, prostrou-se gritando: "Sant'Ana, salva-me e tornar-me-ei monge!"
Lutero chamava a esse incidente "A minha estrada, caminho de Damasco" e não tardou em cumprir a sua promessa feita a Sant'Ana.
Convidou então os seus colegas para cearem com ele. Depois da refeição, enquanto eles se divertiam com palestras e música, repentinamente anunciou-lhes que dali em diante poderiam considerá-lo como morto, pois ia entrar para o convento. Debalde os seus companheiros procuraram dissuadi-lo do seu plano. Na escuridão da mesma noite, o moço, antes de completar vinte e dois anos, dirigiu-se ao convento dos agostinianos e bateu.
A porta abriu-se e Lutero entrou. O professor admirado e festejado, a glória da universidade, aquele que passara os dias e as noites curvado sobre os livros, tornara-se irmão agostiniano!
O mosteiro dos agostinianos era o melhor dos claustros de Erfurt.
Seus monges eram os pregadores da cidade, estimados por suas obras entre os pobres e oprimidos. Nunca houve um monge naquele convento mais submisso, mais devoto, mais piedoso, do que Martinho Lutero.
Submetia-se aos serviços mais humildes, como o de porteiro, coveiro, varredor da igreja e das celas dos monges. Não recusava mendigar o pão cotidiano para o convento, nas ruas de Erfurt.
Durante o ano de noviciado, antes de Lutero ser feito monge, os seus amigos fizeram tudo para dissuadi-lo de confirmar esse passo. Os companheiros, que convidara para cearem com ele, quando anunciou a sua intenção de ser monge, ficaram no portão do convento dois dias, esperando que ele voltasse. Seu pai, vendo que seus rogos eram inúteis e que todos os seus anelantes planos acerca do filho iam fracassar, quase enlouqueceu.
Assim se justificou Lutero: "Fiz a promessa a Sant'Ana, para salvar a minha alma. Entrei para o convento e aceitei esse estado espiritual somente para servir a Deus e ser-lhe agradável durante a eternidade."
Quão grande, porém, era a sua ilusão. Depois de procurar crucificar a carne pelos jejuns prolongados, pelas privações mais severas, e com vigílias sem conta, achou que, embora encarcerado na sua cela, tinha ainda de lutar contra os maus pensamentos. A sua santidade ou morro por toda a eternidade; leva-me ao rio de água pura e não a estes mananciais de águas poluídas; traze-me as águas da vida que saem do trono de Deus!"Certo dia Lutero achou, na biblioteca do convento, uma velha Bíblia latina, presa à mesa por uma cadeia. Achara, enfim, um tesouro infinitamente maior que todos os tesouros literários do convento.
Ficou tão embevecido que, durante semanas inteiras, deixou de repetir as orações diurnas da ordem. Então, despertado pelas vozes da sua consciência, arrependeu-se da sua negligência: era tanto o remorso, que não podia dormir. Apressou-se a reparar o seu erro: fê-lo com tanto anseio que não se lembrava de alimentar-se.
Então, enfraquecidíssimo por tantos jejuns e vigílias, sentiu-se oprimido pelas apreensões até perder os sentidos e cair por terra. Aí os outros monges o acharam, admirados novamente de sua excepcional piedade! Lutero somente voltou a si depois de um grupo de coristas o haver rodeado, cantando. A suave harmonia penetrou-lhe o coração e despertou o seu espírito. Porém ainda assim lhe faltava a paz perpétua para a alma; ainda não havia ouvido cantar o coro celestial: "Glória a Deus nas maiores alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!"
Nessa altura, o vigário geral da ordem agostiniana, Staupitz, visitou o convento. Era homem de grande discernimento, e devoção enraizada; compreendeu logo o problema do jovem monge; ofereceu-lhe uma Bíblia na qual Lutero leu que "o justo viverá da fé". Por quanto tempo tinha ele anelado: "Oh! se Deus me desse um livro destes só para mim!" – e agora o possuía!
Na leitura da Bíblia achou grande consolação, mas a obra não podia completar-se em um dia. Ficou mais determinado do que nunca a alcançar paz para a sua alma, na vida monástica, jejuando e passando noites a fio sem dormir. Gravemente enfermo, exclamou: "Os meus pecados! Os meus pecados!" Apesar da sua vida ter sido livre de manchas, como ele afirmava e outros testificavam, sentia sua culpa perante Deus, até que um velho monge lhe lembrou uma palavra do Credo: "Creio na remissão dos pecados". Viu então que Deus não somente perdoara os pecados de Daniel e de Simão Pedro, mas também os seus.
Pouco tempo depois destes acontecimentos, Lutero foi ordenado padre. A primeira missa que celebrou foi um grande evento. O pai, irreconciliável, desde o dia em que o filho abandonara os estudos de advocacia até aquela ocasião, assistiu à primeira Mansfield, com uma boa oferta para o convento, acompanhado por vinte cinco amigos.
Depois de completar vinte e cinco anos de idade, Lutero foi nomeado para a cadeira de filosofia em Wittenberg, para onde se mudou para viver no convento da sua ordem. Porém a sua alma anelava pela Palavra de Deus, e pelo conhecimento de Cristo. No meio das ocupações do professorado  dedicou-se ao estudo das Escrituras e no primeiro ano conquistou o grau de bacharelado da  bíblia. Sua alma ardia com o fogo dos céus; de todas as partes acorriam multidões para ouvir os seus discursos, os quais fluíam abundante e vivamente do seu coração, sobre as maravilhosas verdades reveladas nas Escrituras. Um dos mais afamados professores de Leipzig, conhecido como a "Luz do Mundo", disse: "Este frade há de envergonhar todos os doutores; há de propalar uma doutrina nova e reformar toda a igreja, porque ele se baseia na Palavra de Cristo, Palavra à qual ninguém no mundo pode resistir, e que ninguém pode refutar, mesmo atacando-a com todas as armas da filosofia.
Um dos pontos iluminantes da biografia de Lutero é a sua visita a Roma. Surgiu uma disputa renhida entre sete conventos dos agostinianos e decidiram deixar os pontos de dissidência para o Papa resolver. Lutero, sendo o homem mais hábil, mais eloqüente e altamente apreciado e respeitado por todos que o conheciam, foi escolhido para representar o seu convento em Roma.
Lutero ainda continuava a dedicar-se fiel e inteiramente à Igreja Romana.
Quando, por fim, chegaram ao ponto da estrada onde se avistava a famosa cidade, Lutero caiu em terra e exclamou: "Saúdo-te, santa cidade!"
Os dois monges passaram um mês em Roma, visitando os vários santuários e os lugares de peregrinação. Lutero celebrou missa dez vezes. Lastimou, ao mesmo tempo, que seus pais ainda não tivessem morrido a fim de poder resgatá-los do Purgatório! Um dia, subindo a Santa Escada de joelhos, desejando a indulgência que o chefe da igreja prometia por esse ato, ressoaram nos seus ouvidos como voz de trovão, as palavras de Deus: "O justo viverá da fé". Lutero ergueu-se e saiu envergonhado.
Depois da corrupção generalizada que viu em Roma, a sua alma aderiu à Bíblia mais que nunca. Ao chegar novamente ao seu convento, o vigário geral insistiu em que desse os passos necessários para obter o título de doutor, com o qual teria o reconhecendo a grande, responsabilidade perante Deus e não querendo ceder, disse: "Não é de pouca importância que o homem fale em lugar de Deus... Ah! Sr. Dr., fazendo isto, me tirais a vida; não resistirei mais que três meses." O vigário geral respondeu-lhe: "Seja assim, em nome de Deus, pois o Senhor Deus também necessita nos céus de homens dedicados e hábeis".
O coração de Lutero, elevado à dignidade de doutor em teologia, abrasava-se ainda mais do desejo de conhecer as Sagradas Escrituras e foi nomeado pregador da cidade de Wittenberg. Os livros que estudou e as margens cheias de anotações que escreveu em letras miúdas, servem aos eruditos atuais como exemplo de como cuidadosa e minuciosamente estudava tudo em ordem.
Acerca da grande transformação da sua vida, nesse tempo, ele mesmo escreve: "Desejando ardentemente compreender as palavras de Paulo, comecei o estudo da Epístola aos Romanos. Porém, logo no primeiro capitulo consta que a justiça de Deus se revela no Evangelho (vv. a justiça de Deus, porque, conforme fui ensinado, eu a considerava como um atributo do Deus santo que o leva a castigar os pecadores. Apesar de viver irrepreensivelmente, como monge,
a consciência perturbada me mostrava que era pecador perante Deus.
Assim odiava a um Deus justo, que castiga os pecadores... Senti-me ferido de consciência, revoltado intimamente, contudo voltava sempre para o depois de meditar sobre esse ponto durante muitos dias e noites, Deus, na sua graça, me mostrou a palavra: 'O justo viverá da fé.' Vi então que a justiça de Deus, nesta passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus pela fé, como dádiva."
A alma de Lutero dessa forma saiu da escravidão; ele mesmo escreveu assim: "Então me achei recém-nascido e no Paraíso. Todas as Escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a 'justiça de Deus'. Antes, estas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como a porta do Paraíso.
Depois dessa experiência, pregava diariamente em certas ocasiões pregava até três vezes ao dia, conforme ele mesmo conta: O que o pasto é para o rebanho, a casa para o homem, o ninho para o passarinho, a penha para a cabra rnontês, o arroio para o peixe, a Bíblia é para as almas fiéis. " A luz do Evangelho, por fim, tomara o lugar das trevas e a alma de Lutero abrasava por conduzir os seus ouvintes ao Cordeiro de Deus, que tira todo o pecado mera profissão, ou sistema de doutrinas, mas como vida em Deus. A oração não era mais um exercício sem sentido, mas o contato do coração com Deus que cuida de nós com um amor indizível nos seus sermões  Deus revelou o seu próprio coração a milhares de ouvintes, por meio coração de Lutero.
Convidado a pregar durante uma convenção dos agostinianos, não deu uma mensagem doutrinai de sabedoria humana, como se esperava, mas fez um discurso ardente contra a língua maldizente dos monges. Os agostinianos, levados pela mensagem, elegeram-no diretor sobre onze conventos!
Lutero não somente pregava a virtude, mas praticava-a, amando verdadeiramente o próximo. Nesse tempo, a peste vinda do Oriente, visitou Wittenberg. Calcula-se que a quarta parte do povo da Europa, inclusive a metade da população alemã, foi ceifada pela morte. Quando professores e estudantes fugiram da cidade, instaram que Lutero fugisse também, porém ele respondeu: - "Para onde hei de fugir? O meu lugar é aqui: o dever não me permite ausentar-me do meu posto até que Aquele que me mandou para aqui me chame. Não que eu deixe de temer a morte, mas espero que o Senhor me dê ânimo". Assim ele ministrava à alma e ao corpo do próximo durante um tempo de aflição e de angústia.
A fama do jovem monge espalhou-se ate longe. Entretanto, sem o reconhecer, enquanto trabalhava incansavelmente para a igreja, já havia deixado o rumo liberal que ela seguia em doutrina e prática.
Em outubro de 1517, Lutero afixou à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e não a penitência. Lutero afixou as teses ou proposições para um debate público, na porta da igreja, como era costume nesse tempo. Mas as teses, escritas em latim, foram logo traduzidas em alemão, holandês e espanhol. Antes de decorrido um mês, para surpresa de Lutero, já estavam na Itália, fazendo estremecer os alicerces do velho edifício de Roma. Foi desse ato de afixar as 95 teses da Igreja de Wittenberg, que nasceu a Reforma, isto é, que tomou forma o grande movimento de almas que em todo o mundo ansiavam voltar para a fonte pura , mas antes, pensou fazer a defesa do Papa contra os vendedores de indulgências.
enúncia de heresia. Contudo, o eleitor Frederico não consentiu que fosse levado para fora do país; assim Lutero foi intimado a apresentar-se em Augsburgo. "Eles te queimarão vivo", insistiram seus amigos. Lutero, porém, respondeu resolutamente: "Se Deus sustenta a causa, ela será sustentada".
A ordem do núncio do Papa em Augsburgo foi: "Retrate-se ou não voltará daqui". Contudo Lutero conseguiu fugir, passando por uma pequena cancela no muro da cidade, na escuridão da noite. Ao chegar de novo em Wittenberg, um ano depois de afixar as teses, era o homem mais popular em toda a Alemanha. Não havia jornais nesse tempo, mas fluíam da pena de Lutero respostas a todos os seus críticos para serem publicadas em folhetos. O que escreveu dessa forma, hoje seriam cem volumes.
O célebre Erasmo, da Holanda, assim escreveu a Lutero: "Seus livros estão despertando todo o país... Os mais eminentes da Inglaterra gostam de seus escritos..."
Quando a bula de excomunhão, enviada pelo Papa, chegou em Wittenberg, Lutero respondeu com um tratado dirigido ao Papa Leão X, foi queimada fora do muro da cidade de Wittenberg, perante grande ajuntamento do povo. Assim escreveu Lutero ao vigário geral: "No momento de queimar a bula, estava tremendo e orando, mas agora estou satisfeito de ter praticado este ato enérgico". Lutero não esperou até que o Papa o excomungasse, mas deu logo o pulo da Igreja Romana para a Igreja do Deus vivo.
Porém, o imperador Carlos V, que ia convocar sua primeira Dieta na cidade de Worms, queria que Lutero comparecesse para responder, pessoalmente, aos seus acusadores. Os amigos de Lutero insistiam em que recusasse ir. -Não fora João Huss entregue a Roma para ser queimado, apesar da garantia de vida da parte do imperador?! Mas em resposta a todos que se esforçavam por dissuadi-lo de comparecer perante seus terríveis inimigos, Lutero, fiel à chamada de Deus, respondeu: "Ainda que haja em Worms, tantos demônios quantas sejam as confiando em Deus, eu aí entrarei". Depois de dar ordem a cerca do trabalho, no caso de ele não voltar, partiu.
Na sua viagem para Worms, o povo afluía em massa para ver o  grande homem que teve coragem de desafiar a autoridade do Papa. Em Mora, pregou ao ar livre, porque as igrejas não mais comportavam as multidões que queriam ouvir seus sermões. Ao avistar as torres das igrejas de Worms, levantou-se na carroça em que viajava e cantou o seu hino, o mais famoso da Reforma: "Ein Feste Berg", isto é: ''Castelo forte é nosso Deus". Ao entrar, por fim, na cidade, estava acompanhado de uma multidão de povo muito maior do que a que fora ao encontro de Carlos V. No dia seguinte foi levado perante o imperador, ao lado do qual se achavam o delegado do Papa, seis eleitores do império, vinte e cinco duques, oito margraves, trinta cardeais e bispos, sete embaixadores, os deputados de dez cidades e grande número de príncipes, condes e barões.
É fácil imaginar que o reformador era um homem de grande coragem e de físico forte para enfrentar tantas feras que ansiavam despedaçar-lhe o corpo. A verdade é que passara uma grande parte da vida afastado dos homens e, mais ainda, achava-se fraco da viagem, na qual foi necessário que um médico o atendesse. Entretanto mostrou-se corajoso, não na sua própria força, mas no poder de Deus.
Sabendo que tinha de comparecer perante uma das mais imponentes assembleias de autoridades religiosas e civis de todos os em terra, lutou com Deus, chorando e suplicando. Um dos seus amigos ouviu-o orar assim: "Oh! Deus todo-poderoso! a carne é fraca, o Diabo é forte! Ah! Deus, meu Deus, que perto de mim estejas contra a razão e a sabedoria do mundo! Fá-lo, pois somente tu o podes fazer. Não é a minha causa, mas sim a tua. - Que tenho eu com os grandes da terra? É a tua causa, Senhor, a tua justa e eterna causa. Salva-me, oh! Deus fiel! Somente em ti confio, oh! Deus! meu Deus... vem, estou pronto a dar, como um cordeiro, a minha vida. O mundo não conseguirá prender a minha consciência, ainda que esteja cheio de demônios, e, se o meu corpo tem de ser destruído, a minha alma te pertence, e estará contigo eternamente..."
Conta-se que, no dia seguinte, na ocasião de Lutero transpor a porta para comparecer perante a Dieta, o veterano general Freudsburgo, colocou a mão no ombro do Reformador e disse-lhe: "Pequeno monge, vais a um encontro diferente, que eu ou qualquer experimentamos, mesmo nas nossas conquistas mais ensanguentadas Contudo, se a causa é justa, e sabes que o é, avança no nome de Deus, e não temas nada! Deus não te abandonará" - O grande general não sabia que Martinho Lutero vencera a batalha em oração e que entrava somente para declarar-lhes que a havia vencido de maiores inimigos.
Quando o núncio do papa exigiu de Lutero, perante a augusta assembléia, que se retratasse, ele respondeu: "Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras ou por argumentos - desde que não creio somente nos papas e nos concílios, por ser evidente que já muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros - a minha consciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus. Não posso retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, pois não é justo nem seguro agir contra a consciência. Deus me ajude! Amém."
De volta ao seu aposento, Lutero levantou as mãos ao Céu e exclamou com o rosto todo iluminado: "Está cumprido! Está cumprido! Se eu tivesse mil cabeças, preferiria que todas fossem decepadas antes de me retratar".
A cidade de Worms, ao receber as notícias da ousada resposta de Lutero ao núncio do papa, alvoroçou-se. As palavras do reformador foram publicadas e espalhadas entre o povo que afluiu para honrá-lo.
Apesar de os papistas não conseguirem influenciar o imperador a violar o salvo-conduto, para que pudessem queimar numa fogueira o edito de excomunhão entraria imediatamente em vigor; Lutero por causa da excomunhão, era criminoso e, ao findar o prazo do seu salvo-conduto, devia ser entregue ao imperador; todos os seus livros deviam ser apreendidos e queimados; o ato de ajudá-lo em qualquer maneira era crime capital.
Mas para Deus é fácil cuidar dos seus filhos. Lutero, regressando a Wittenberg, foi repentinamente rodeado num bosque por um bando de cavaleiros mascarados que, depois de despedirem as pessoas que o acompanhavam, conduziram-no, alta noite, ao castelo de Wartburgo, perto de Eisenach. Isto foi um estratagema do príncipe de Saxônia para salvar Lutero dos inimigos que planejavam assassiná-lo antes de chegar a casa.
No castelo, Lutero passou muitos meses disfarçado; tomou o nome de cavaleiro Jorge e o mundo o considerava oravam dia e noite pelo reformador. As alavras do pintor  Allberto Durer exprimem o sentimento do povo: - "Oh! Deus! se Lutero fosse morto, quem agora nos exporia o Evangelho?"
Contudo, no seu retiro, livre dos inimigos, foi-lhe concedida a liberdade de escrever, e o mundo logo soube, pela grande quantidade de literatura, que essa obra saía da sua pena e que, de fato, Lutero vivia. O reformador conhecia bem o hebraico e o grego e em três meses tinha vertido todo o Novo Testamento para o alemão - em poucos meses mais a obra estava impressa e nas mãos do povo. Cem mil exemplares foram vendidos, em quarenta anos, além das cinqüenta e duas edições impressas em outras cidades. Era circulação imensa para aquele tempo, mas Lutero não aceitou um centavo de direitos.
A maior obra de toda a sua vida, sem dúvida, fora a de dar ao povo alemão a Bíblia na sua própria língua - depois de voltar a Wittenberg.
Já havia outras traduções, mas escritas em uma forma de alemão latinizado que o povo não compreendia. A língua alemã desse tempo era um agregado de dialetos, mas Lutero, ao traduzir a Bíblia, deu ao povo a língua que serviu depois a homens como Goethe e Schiler para escreverem as suas obras. O seu êxito em traduzir as Sagradas Escrituras para o uso dos mais humildes, verifica-se no fato de que, depois de quatro séculos, a sua tradução permanece como a principal.
Outra coisa que contribuiu para o êxito da tradução de Lutero, é originais. Contudo, o valor da sua obra não se baseia tão-somente sobre seus indiscutíveis dotes literários. O que lhe deu realidade é que ele conhecia a Bíblia, como ninguém podia conhecê-la, sem primeiro sentir a angústia eterna e achar nas Escrituras a verdadeira e profunda consolação.
Lutero conhecia intimamente e amava sinceramente o autor do Livro. O resultado foi que o seu coração abrasou-se com o fogo e poder do Espírito Santo. Foi esse o segredo de ele traduzir tudo para o alemão em tão pouco tempo.
Como todo mundo sabe, a fortaleza de Lutero e da Reforma foi a Bíblia. Escreveu de Wartburgo para o seu povo em Wittenberg: "Jamais em todo o mundo se escreveu um livro mais fácil de compreender do que a Bíblia. Comparada aos outros livros, é como o sol em contraste com todas as demais luzes. Não vos deixeis levar a abandoná-la sob qualquer pretexto da parte deles. Se vos afastardes dela por um momento , tudo estará perdido , podem levar-vos para onde quer que desejem se permanecerdes com as escrituras sereis vitoriosos.”
Depois de abandonar o hábito de monge, Lutero resolveu deixar por completo a vida monástica, casando-se com Catarina von Bora, freira que também saíra do claustro, por ver que tal vida é contra a vontade de Deus. O vulto de Lutero sentado ao lume, com a esposa e seis filhos que amava ternamente, inspira os homens mais que o grande herói ao apresentar-se perante o legado em Augsburgo.
Nos cultos domésticos, a família rodeava um harmônio, com o qual louvavam a Deus juntos; o reformador lia o Livro que traduzira para o povo e depois louvavam a Deus e oravam até sentirem a presença divina entre eles.
Havia entre Lutero e sua esposa profundo amor de um para com o outro. São de Lutero estas palavras: "Sou rico, Deus me deu a minha freira e três filhos; não me importo das dívidas: Catarina paga tudo." Catarina von Bora era estimada por todos. Alguns, de fato, censuravam-na porque era demasiado econômica; mas que teria acontecido a Martinho Lutero e à família se ela tivesse feito como ele? Dizia-se que ele, aproveitando-se da doença dela , cedeu seu prato de comida a certo estudante que estava com fome. Não aceitava  kreuzer dos seus alunos e recusava vender seus escritos, deixando todo o lucro para os tipógrafos.
Nas suas meditações sobre as Escrituras, muitas vezes se esquecia no quarto comendo somente pão e sal. Quando a esposa chamou um serralheiro e quebraram a fechadura, acharam-no escrevendo, mergulhado em pensamentos e esquecido de tudo em redor.
É difícil concebermos a magnitude das coisas que devemos atualmente a Martinho Lutero. O grande passo que deu para que o povo ficasse livre para servir a Deus, como Ele mesmo ensina, está além da nossa compreensão. Era grande músico e escreveu alguns dos hinos mais espirituais cantados atualmente. Compilou o primeiro hinário e inaugurou o costume de todos os assistentes aos cultos cantarem juntos.
Insistiu em que não somente os do sexo masculino, mas também os do feminino fossem instruídos, tornando-se, assim, o pai das escolas públicas.
Antes dele, o sermão nos cultos era de pouca importância. Mas Lutero fez do sermão a parte principal do culto. Ele mesmo serviu de exemplo para acentuar esse costume: era pregador como sendo nada; a mensagem saía- lhe do intimo do coração: O povo sentia a presença de Deus. Em Zwiekau pregou a um auditório de 25 mil pessoas na praça pública. Calcula-se que escreveu 180 volumes na língua materna e quase um número igual no latim. Apesar de sofrer de várias doenças, sempre se esforçava dizendo: "Se eu morrer na cama será uma vergonha para o papa."
Os homens geralmente querem atribuir o grande êxito de Lutero à sua extraordinária inteligência e aos seus destacados dons. O fato é que Lutero também tinha o costume de orar horas a fio. Dizia que se não passasse duas horas de manhã orando, recearia que Satanás ganhasse a vitória sobre ele durante o dia. Certo biógrafo seu escreveu: "O tempo que ele passa em oração, produz o tempo para tudo que faz. O tempo que passa com a Palavra vivificante enche o coração até transbordar em sermões, correspondência e ensinamentos".
A sua esposa disse que as orações de Lutero "eram", às vezes, como os pedidos insistentes do seu filhinho Hanschen, confiando na bondade de seu pai; outras vezes, eram como a luta de um gigante na angústia do combate".
Encontra-se o seguinte na História da Igreja Cristã, por Souer, Vol. 3, pág. 406: "Martinho Lutero profetizava, evangelizava, falava línguas e interpretava; revestido de todos os dons do Espírito". Nos seus sessenta e dois anos pregou seu último sermão sobre o texto: "Ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos". No mesmo dia escreveu para a sua querida Catarina: "Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá. Amém". Isso foi na última carta que escreveu. Vivia sempre esperando que o papa conseguisse executar a repetida ameaça de queimá-lo vivo. Contudo não era essa a vontade de Deus: Cristo o chamou enquanto sofria dum ataque do coração, em Eisleben, cidade onde nascera. São estas as últimas palavras de Lutero: "Vou render o espírito". Então louvou a Deus em alta voz: "Oh! meu Pai celeste! meu Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, em quem creio e a quem preguei e confessei, amei e louvei! Oh! meu querido Senhor Jesus Cristo, encomendo-te a minha pobre alma. Oh! meu Pai celeste! Em breve tenho de deixar este corpo, mas sei que ficarei eternamente contigo e que ninguém me pode arrebatar das tuas mãos". Então, depois de recitar João 3.16 três vezes, repetiu as palavras: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois tu me resgataste, Deus fiel". adormeceu. Assim fechou os olhos e Um imenso cortejo de crentes que o amavam ardentemente, com cinqüenta cavaleiros à frente, saiu de Eisleben para Wittenberg; passando pela porta da cidade onde o reformador queimara a bula de excomunhão, entrou pelas portas da igreja onde, há vinte e nove anos, afixara suas 95 teses. No culto fúnebre, Bugenhangen, o pastor, e Melancton, inseparável companheiro de Lutero, discursaram. Depois abriram a sepultura, preparada ao lado do púlpito, e ali depositaram o corpo.
Quatorze anos depois, o corpo de Melancton achou descanso do outro lado do púlpito. Em redor dos dois, jazem os restos mortais de mais de noventa mestres da universidade.

As portas da Igreja do Castelo, destruídas pelo fogo no bombardeio de Wittenberg em 1760, foram substituídas por portas de bronze em 1812, nas quais estão gravadas as 95 teses. Contudo, este homem que perseverou em oração, deixou gravadas, não no metal que perece, mas em centenas de milhões de almas imortais, a Palavra de Deus que dará fruto para toda a eternidade.

Almir Batista 
Extraído do livro Heróis da fé.