quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Quinta - Lc 15.18 – LBJ – Voltando para recuperar o perdão do pai .

Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti.

Este comentário foi extraído do livro comentário bíblico de aplicação pessoal vol 1.

15.17-19 Sentado entre os porcos que eram mais bem alimentados do que ele, o jovem pensava na vida em casa. Sem dinheiro, sem dignidade, e, pelo menos era o que ele pensava, sem direito de chamar-se filho na casa de seu pai, ele decidiu irei ter com seu pai, confessar seu pecado e pedir para ser aceito como um trabalhador contratado. Pelo menos assim ele não passaria fome. A chave estava nas palavras que ele planejava dizer ao seu pai:
“Pai, pequei contra o céu e perante ti”. Ele queria dizer ao seu pai que sentia muito o que tinha feito. Ele queria arrepender-se do egoísmo que o tinha levado a partir e gastar todo o dinheiro que o seu pai tinha separado para o seu futuro. Mesmo que tivesse que viver como um trabalhador contratado na sua própria casa, ele voltaria para dizer estas coisas ao seu pai.



“SUBSÍDIO TEOLÓGICO- LBJ” 06/08/2017- CAPÍTULO 6 RECUPERANDO O TEMPO PERDIDO


“Um navio no porto está seguro, mas os navios não foram construídos para isso. — John Shedd

David e Svea Flood, em 1921, responderam ao chamado de Deus para o campo missionário e foram enviados ao antigo Congo Belga, atualmente República Democrática do Congo, na África. Eram membros da Igreja Pentecostal Filadélfia, em Estocolmo, Suécia, que enviava missionários para o mundo todo. Era, inclusive, a Igreja dos missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg.

Ao chegarem ao Congo Belga, juntamente com o filho David Jr., a família não foi recebida em nenhuma tribo e, por isso, fizeram uma casa de barro, no meio da selva, e lá moraram. Pouco tempo depois, Svea adoeceu de malária e também engravidou. O filho do casal também ficou doente.

Por vários meses, Svea aguentou uma febre muito forte, a ponto de causar-lhe alucinações. Durante todo esse tempo, ela fielmente pregava para um menino. Ele vinha de uma aldeia próxima trazendo algumas frutas à gestante. Com o tempo, Svea deu à luz a pequena Aggie e, após uma semana, faleceu.

Emocionalmente abalado pela morte de sua esposa, David reúne suas últimas forças e enterra sua amada ali mesmo, em uma caixa de madeira que servia como caixão. Nesse instante, uma enorme ira e amargura invadiam o seu coração. Ele gritou: “Por que o Senhor permitiu isto, Deus? Nós viemos aqui para dar as nossas vidas! A minha esposa era tão bonita, tão talentosa. E aqui ela jaz, morta com 27 anos de idade”.


David Flood voltou para a Suécia, mas deixou a pequena Aggie na África, com outro casal de missionários. Ele se tornou uma pessoa amargurada, que não admitia ninguém sequer pronunciar o nome do Altíssimo perto dele. Casou-se novamente, teve mais quatro filhos e enveredou pelo alcoolismo. Aggie, por outro lado, foi com sua nova família morar nos Estados Unidos e lá se casou.

Durante alguns anos Aggie, já adulta, tentou fazer contato com o seu pai, porém não conseguiu resultados. Enfim, aos 40 anos, Aggie e o marido puderam ir à Suécia, para tentar encontrar David Flood.

Após haverem cruzado o Atlântico, o casal passou um dia de parada temporária em Londres. Eles resolveram fazer uma caminhada, e então andaram pelo auditório do Royal Albert Hall. Para a sua alegria, lá estava ocorrendo uma convenção de missões pentecostais das Assembléias de Deus.
Eles entraram, e ouviram um pregador negro testificando a respeito da grande obra que Deus estava fazendo num país africano, o antigo Congo Belga!

O coração de Aggie saltava. Após a reunião, ela se aproximou do pregador e perguntou:

— O senhor alguma vez conheceu os missionários David e Svea Flood?

— Sim — ele respondeu. — Svea Flood me levou ao Senhor quando eu era um garotinho. Eles tinham uma filha bebezinha, mas eu nunca soube o que sucedeu a ela.

Aggie exclamou:

— Eu sou a menina! Eu sou Aggie!

Quando o pregador ouviu isso, abraçou-a e chorou de alegria. Aggie mal podia acreditar que este homem era o garotinho convertido, a quem a sua mãe havia ministrado. Ele havia crescido e se tornado um evangelista missionário para o seu próprio país — que agora incluía 110 mil cristãos, 32 postos missionários, várias Escolas Bíblicas e um hospital de 120 leitos.

No dia seguinte, Aggie e Dewey, seu esposo, partiram para Estocolmo e lá encontraram David Flood, em um apartamento deteriorado, garrafas de bebidas alcoólicas espalhadas por toda a parte, aos 73 anos, gravemente enfermo.

Aggie pulou para o seu lado, gritando:

— Papai, sou a sua filhinha! Aquela que o senhor deixou na África.

O velho virou e olhou para ela. Lágrimas formaram-se em seus olhos. Ele respondeu:

— Eu jamais desejei entregar você para os outros. Eu simplesmente náo conseguia cuidar de vocês dois.

— Tudo bem, papai. Deus cuidou de mim — respondeu Aggie.

Subitamente, o rosto de seu pai se cobriu de trevas.

— Deqs não cuidou de você! — ele vociferou. — Ele arruinou, com toda a nossa família! Ele nos levou para a África, e a seguir nos atraiçoou. Não houve nenhum resultado do tempo que passamos lá.
Foi um desperdício de nossas vidas!

Aggie contou-lhe a respeito do menininho, o então pregador que acabara de encontrar em Londres, e de como o país havia sido evangelizado através dele.

— É tudo verdade, papai — ela dizia. — Todo o mundo está sabendo a respeito daquele garotinho que se converteu. A história chegou a todos os jornais.

De repente, o Espírito Santo caiu sobre David Flood. Ele se quebrantou. Lágrimas de dor e arrependimento desceram pelo seu rosto. Deus o havia restaurado.

Pouco tempo após o encontro deles, David Flood morreu. E apesar de ter sido restaurado para o Senhor, deixou atrás dele uma trilha de ruínas. Além de Aggie, o seu legado eram cinco filhos — nenhum deles salvo, e todos tragicamente amargurados.

O problema é que o “relógio” de Deus funciona diferente do relógio humano, como disse Tommy Barnett; por isso, os homens desejam a resposta imediatamente, mas nem sempre isso acontece, pois o agora para Deus é o momento em que Ele fala ou deseja que algo seja feito, mas para os homens o agora é somente quando a bênção chega.

David Flood, por falta de perseverança e fé, deixou de desfrutar das bênçãos da “recuperação do tempo perdido”. Cinco dos seus filhos acabaram seus dias longe da presença de Deus; apenas Aggie serviu ao Senhor. Poderia ter sido diferente. Sua história hoje é contada como uma lembrança triste de alguém que poderia ter feito a diferença, ocupando um lugar na galeria dos “heróis da fé”, como o fizeram Gunnar Vingren e Daniel Berg, os quais, mesmo enfrentando muitas lutas, inclusive na família, caminharam com seus cônjuges e filhos na presença do Eterno, até o fim. Eles, aparentemente, estavam perdendo tempo ao virem morar no Brasil, porém experimentaram a restituição
do tempo “perdido” pela ação sobrenatural de Deus, pois se tornaram os missionários com o maior número de filhos espirituais na América Latina: fundaram a igreja Assembléia de Deus, que, segundo o Censo do IBGE de 2010, possui mais de 12 milhões de membros.

O importante não é o início das coisas, mas o fim delas e como se desenvolve a trajetória entre um ponto e outro.

I. Tempo de Recomeçar
A suprema perda de tempo

O Senhor, como o Bem supremo, deseja que todos os homens acertem o alvo, mas quando erram, isto é, vivem em pecado, perdem o que há de melhor na vida e no tempo. Esse conceito, embora verdadeiro à luz das Escrituras, é percebido exatamente ao contrário, quando a análise é feita sob o prisma do materialismo. Perder tempo é, para a cultura e filosofia dominantes no mundo, não aproveitar todos os prazeres terrenos.

Observe-se esse exemplo paradigmático. Com o objetivo dar sentido à sua vida, de maneira que ela não fosse uma “perda de tempo”, Ernest Hemingway, um celebrado romancista do século XX que afirmava que Deus não existia, decidiu viver de maneira libertina. Para isso, ele se comprometeu consigo mesmo a provar os prazeres a fundo — experimentaria tudo, sentiria tudo e faria tudo. No fim da vida, desiludido, cometeu suicídio. Uma triste história, porém, infelizmente, milhões de indivíduos estão trilhando inadvertidamente a mesma estrada. Por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 800 mil pessoas cometem suicídio, sendo que, para cada morte por suicídio, há
outras 20 tentativas. Ou seja, por ano, no mundo, algo em torno de 16 milhões de pessoas tentam dar cabo à sua própria existência, sendo esta, por isso, a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

Grandes filósofos, imbuídos do mesmo sentimento de Hemingway, no afã de encontrar razões para viver, construíram elaboradas teses exaltando o prazer e rejeitando todo tipo de dor, a fim de que a existência não fosse um fardo, um desperdício de tempo. Mas nada disso resolveu o problema do vazio interior do homem, pois, paradoxalmente,
o caminho da autossatisfaçáo sensorial só trouxe desespero e perdição. Jesus, porém, explicou que, aos olhos do Senhor, ganhar a vida não significava*desfrutar de modo desenfreado os prazeres do “aqui e agora”, mas poder viver feliz, com Deus, por toda a eternidade; e isso passava inexoravelmente por renunciar a si mesmo. Por tal motivo, pode-se afirmar que a suprema perda de tempo acontece em todas as ocasiões em que se vive fora dos propósitos divinos.

Reconhecendo o tempo

Muitas pessoas que se notabilizaram com Deus, na Bíblia e fora dela, tornaram-se experts em buscar recomeçar, que é a regra daqueles que têm relacionamentos duradouros com o Senhor. Paulo, o apóstolo, afirmou: “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono [...]” (Rm 13.11). Ele reconhecia que era tempo de sair do marasmo da fé e voltar ao avivamento espiritual.

Observa-se que, com uma frequência incrível, as pessoas pedem antecipadamente a herança dada pelo pai e vai desperdiçá-la em uma terra distante, como fez o filho mais novo da parábola de Lucas 15. Se essa é sua situação, caro leitor, “é hora de despertar do sono”. E interessante como o filho que desperdiça os bens do Pai sabe, de certo, que está fazendo a coisa errada e isso se dá tanto pelos conceitos que o Pai ensinou como pelo vazio interior, pela não atuação do Espírito Santo, pois quando se erra o caminho, a alegria da presença do Senhor se esvai. Nesse instante, logo na primeira queda, é hora de voltar para Casa, antes que os danos se tornem muito altos.

Bilquis Sheikh, uma ex-mulçumana convertida ao evangelho, narrou uma experiência muito interessante. Ela contou que foi a um funeral maometano, ocasião em que, por tradição, ninguém cozinha ou come até que o corpo seja enterrado. Entretanto, ela tinha o hábito de tomar chá todas as tardes e, sentindo o desejo, inventou uma desculpa de que precisava lavar as mãos; saindo da casa, foi a um estabelecimento próximo quando, às escondidas, bebeu o seu precioso chá e, após, voltou para perto dos pranteadores.
Após isso, ela descreve:

Imediatamente senti uma solidão estranha, como se um amigo tivesse saído de junto de mim. É claro que eu sabia o que era. A presença confortadora de seu Espírito havia-me deixado.

“Senhor”, disse para mim mesma, “que fiz?” E então eu sabia. Tinha mentido enquanto dava a desculpa.

“Mas foi somente uma mentira inocente, Senhor”, disse eu. Não percebi nenhum conforto do Espírito. Só silêncio.

“Mas, Senhor”, continuei, “não tenho de seguir mais essas práticas de luto muçulmano. Além disso, simplesmente não posso passar sem meu chá. O Senhor sabe disso”.

Nenhum sentimento de seu Espírito.

“Mas, Pai”, continuei, “não podia dizer-lhes que ia sair a fim de procurar chá e bolo. Isso os teria magoado”.

Nenhum Espírito.

“Está bem, Pai”, disse eu. “Compreendo. Errei em mentir. Percebo que procurava a aprovação dos homens e que devo viver somente para a tua aprovação. Sinto muito, de verdade, Senhor. Magoei-te. Com a tua ajuda não mais farei isso.”

E com essas palavras sua presença confortadora inundou-me de novo, como a chuva que cai num leito de rio ressecado. Descontraí-me.
Sabia que Ele estava comigo.

E foi assim que aprendi a voltar para sua presença rapidamente.
Sempre que não sentia sua proximidade, sabia que o tinha entristecido.
Voltava ao passado, até ao momento em que tinha sentido sua presença pela última vez. Então fazia uma revisão de cada ato, cada palavra ou pensamento até descobrir onde me havia desviado. Então confessava meu pecado e pedia seu perdão.

Esse “despertar do sono” que Paulo menciona, como se viu, também era compreendido perfeitamente por Bilquis Sheikh. Na verdade, náo se pode baixar a guarda quanto a um aspecto tão importante da existência: viver no centro da vontade de Deus. Em várias ocasiões, servos de Deus que são atingidos pelo sono da indolência, mas faz-se necessário reconhecer que é tempo de despertar, para recomeçar de onde aconteceu o erro. O Senhor Jesus mandou uma carta à igreja de Éfeso,exortando-a que se lembrasse de onde havia caído, e voltasse a fazer o que era correto (Ap 2.5). Sempre é tempo de recomeçar!

Desistir jamais

A resistência é uma das características do amor, que tudo suporta e nunca falha (1 Co 13.7,8). A ideia de prosseguir, enquanto se espera o tempo da restauração, da restituição, somente pode ser encontrada naqueles que amam o Senhor, pois apenas o filho fica para sempre na casa do Pai (Jo 8.35). Quem não tem vínculo de amor com Deus logo se dispersa e segue seu próprio caminho.

Esse sentimento filial, de nunca desistir, pode ser caracterizado pelas palavras de um homem excepcional, Jó, quando declarou: “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13.15). Ele estava encarnando a compleição espiritual da Igreja de Cristo, a qual não desiste jamais, aguardando “o tempo da restauração de tudo” (At 3.21).

II. A Restituição do Tempo
Deus, o agente da restituição

Deus é o único protagonista em relação ao tempo, pois só o Senhor tem poder sobre o tempo e, por isso, pode restituí-lo. É mais ou menos assim: as oportunidades e potenciais que a pessoa perdeu em determinado período, reaparecem noutro tempo linear, e todo o crescimento perdido é concedido milagrosamente.

Na história da família de David Flood, contada na introdução deste capítulo, fica bem claro que Deus é o agente da restituição do “tempo perdido”. Essa mesma percepção se depreende de incontáveis testemunhos que brotam das áureas páginas da Bíblia Sagrada.
Israel, por exemplo, em face do seu pecado, viu a produção agrícola cair vertiginosamente. Muitas pragas assolaram aquele país. Deus, porém, diante de um grande caos econômico e social, prometeu uma extraordinária restituição. Está escrito: “E restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto [...]” (J12.25). Na verdade, o Senhor estava garantindo o cumprimento integral dos termos de sua aliança com os descendentes de Abraão; bastava que eles se arrependessem.

Com Deus não há tempo perdido.
0 homem, o beneficiário do milagre

Os critérios da justiça de Deus são prioritariamente regulados pela graça e misericórdia divinas e, por tal razão, geralmente não apresentam um arcabouço lógico-jurídico. Assim, perde-se tempo na vida quando o homem “erra o alvo”. Dessa forma, ao quebrar o pacto de servir ao Senhor, em regra, as coisas, cedo ou tarde, saem do controle.

Isso aconteceu, por exemplo, com Moisés quando, cheio de si, tentou libertar o povo pela força do seu braço. Por sua loucura e altivez, teve que fugir para o deserto, sendo tratado por Deus por um prazo de quarenta anos. Entretanto, percebe-se que o Senhor lhe restituiu o tempo cronologicamente perdido, pois durante os anos em que cuidava de ovelhas no deserto, Moisés esteve na faculdade de Deus, saindo-se graduado. O restante da sua formação ministerial aconteceu nos quarenta anos seguintes. Deus o preparava para assumir a posição de guia e libertador do povo de Israel.
Como se vê, o homem pode até errar o alvo, mas, mesmo assim, por graça e misericórdia divinas, torna-se o beneficiário do milagre da restituição.

No caso de Jó, entretanto, a aparente perda de tempo não decorreu de um pecado, mas havia algo que o Senhor queria tratar em seu caráter, de maneira a aumentar a vida de comunhão do patriarca. No fim, isso pode ser claramente percebido pelo fato de Jó mencionar que, antes, ele conhecia a Deus por ouvir, mas agora os seus olhos o viam. O favorecido Jó, no seu último estado, experimentou mais que bens materiais; ele desfrutou da bênção “que enriquece e não acrescenta dores”. Matthew Henry aborda esse assunto com maestria:

Os seus bens [de Jó] estranhamente aumentaram pela bênção de Deus sobre o pouco que seus amigos lhe deram. Ele recebeu a cortesia deles com gratidão, e não passou por sua cabeça ter os seus bens restituídos pelas contribuições. [...] Deus lhe deu aquilo que era muito melhor do que o dinheiro e os pendentes de ouro deles: a sua bênção (Jó 42.12). O Senhor o consolou agora de acordo com os dias em que o havia afligido, e abençoou o seu último estado mais do que o seu início.

[...] Os últimos dias de um homem bom às vezes se mostram os seus melhores dias; as suas últimas obras as suas melhores obras; as suas últimas consolações, as suas melhores; o seu caminho, como o da luz da manhá, brilha cada vez mais até ser dia perfeito. [...] Deus às vezes se agrada em fazer o último estado da vida de um bom homem mais confortável do que foi a sua primeira parte, e estranhamente para superar as expectativas do seu povo afligido, que pensava que jamais viveria para ver dias melhores, para que náo percamos a esperança mesmo estando nas profundezas da adversidade. Não sabemos que tempos bons podem estar reservados para nós no final dos nossos dias.

Deus pode, com um movimento, de forma surpreendente, restaurar o amor, a fé, a paz e a esperança esquecidos, reconstruir as amizades arruinadas, restituir o que foi perdido ao longo do caminho, fazendo novas todas as coisas. Ele é Senhor do tempo, espaço e da matéria. Nada é difícil para Ele.

0 Reino, o ambiente do milagre

O milagre da restituição acontece, sempre, na ambiência do Reino de Deus. Somente quando Deus está presente na vida de alguém, as coisas e o tempo podem ser restaurados completamente. Sem Deus, tudo não passará de ilusão. Assim, de nada adianta tentar reencontrar a alegria perdida, a paz perdida, o amor perdido, se Deus não for o timoneiro dessa embarcação, que navega pelo rio da vida.

Foi na ambiência do Reino de Deus que Abraão viu o filho de sua velhice — Isaque — transformar-se em um homem virtuoso, amável, obediente, cheio de fé. O tempo de espera pelo seu nascimento valeu a pena. Ele não chegou atrasado, mas veio no tempo certo. Assim, a aparente demora não trouxe prejuízos; antes, pelo contrário, Isaque fez brotar uma grande alegria para a sua família, por meio da qual todas as demais famílias da Terra seriam abençoadas. O Senhor não escreve certo por linhas tortas, mas age, na ambiência de seu Reino, de maneira a ver cumprido o seu propósito na vida de seus filhos.


III. Um Jovem Parado no Tempo
Um terrível engano

A sensação de estar parado no tempo é terrível. A pessoa se sente perdida, desprestigiada, inútil, desanimada, sem futuro, decepcionada com a vida e até mesmo com Deus, em profunda monotonia... Talvez todos esses pensamentos passaram pela mente do filho pródigo (Lc 15.11-32), motivando-o a pedir o “adiantamento da herança” e sair pelo mundo afora. Sem dúvida, esse sentimento de falta de sentido na vida conduz o indivíduo a querer preencher o vazio com outras coisas.

O professor Morrie Schwart analisou com profundidade a crise de significado da vida, grande mal desta sociedade:

—Temos uma forma de lavagem cerebral em nosso país — disse suspirando.
— Sabe como se lavam cérebros? Repete-se uma coisa constantemente.
E isso que fazem em nosso país. Possuir coisas é bom. Mais dinheiro é bom. Mais posses é bom. Mais consumo é bom. Mais é bom. Mais é bom. Repetimos isso, e nos repetem isso constantemente, até ninguém sequer pensar diferente. O cidadão comum fica tão zonzo com tudo isso que perde a perspectiva do que é verdadeiramente importante.

[...] — São pessoas tão famintas de amor que aceitam substitutos.
Abraçam coisas materiais e ficam esperando que essas coisas retribuam o abraço. Nunca dá certo. Não se pode substituir amor, ou suavidade, ou ternura, ou companheirismo, por coisas materiais.

Dinheiro não substitui ternura, poder não substitui ternura. Escreva o que estou dizendo, sentado aqui perto da morte: quando mais se precisa dos sentimentos que nos faltam, nem dinheiro nem poder nos podem dá-los [...].5

A abordagem de Schwartz parece uma descrição do que se passou com o filho caçula da parábola de Lucas 15. Ele pensou em preencher sua vida com coisas tangíveis, mas tudo foi em vão. Acreditou (como Adão e Eva) que estava perdendo tempo, parado ali naquela “vidinha” rotineira. Não sabia, porém, que estar “parado no tempo” é viver fora do propósito de Deus.
E estar longe da casa do Pai. Depois ele compreendeu perfeitamente isso.


Aprendendo com o erro

O reconhecimento do erro é um passo fundamental para a recuperação do tempo perdido. Isso aconteceu com o filho caçula, quando pensou em dizer: “Pai, pequei Só há um modo de encontrar o bem, e isso acontece quando ocorre o distanciamento de todo o mal.

Decerto, aquele moço nunca mais cometeria o desatino de sair do regaço de sua família. O sofrimento deixaria marcas indeléveis em seu viver. Isso acontece frequentemente com aqueles que se relacionam com Deus: após sofrerem pelo erro cometido e serem perdoados, criam certa resistência ao equívoco, como aconteceu no caso da idolatria de Arão, a traição dos irmãos de José, o adultério e o recenseamento de Davi, dentre outros casos. O arrependimento introduz um novo modo de vida, com excelentes resultados. Já o remorso...

Seguindo em frente

Para a pessoa ter restituído o tempo perdido é preciso ter coragem.
Nada acontece por acaso. O jovem que gastou a herança do pai teve que voltar para a sua terra maltrapilho, sabendo que enfrentaria a ira do irmão e, quem sabe, a indiferença do pai. Mesmo assim ele decidiu fazer o que era certo.

Os grandes homens de Deus tinham uma característica interessante: “da fraqueza tiraram forças” (Hb 11.34). Como Jesus, eles venceram.
Este é o desfecho da vida do homem de Deus: ser mais que vencedor (Rm 8.37), porque Ele já venceu o mundo (Jo 16.33).







Este material foi extraído deste livro


TEMPO PARA TODAS AS COISAS

Aproveitando as Oportunidades que Deus nos dá

REYNALDO ODILO

Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite o site: http://www.cpad.com.br.

Casa Publicadora das Assembléias de Deus
Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro - RJ

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

“SUBSIDIO TEOLÓGICO” 06/08/2017- LBA-CAPÍTULO 6 A PECAMINOSIDADE HUMANA.

            

A definição teológica do pecado descrito na Declaração de Fé da Assembleia de Deus é “rebelião e desobediência, incapacidade espiritual, a falta de conformidade com a vontade de Deus em estado, disposição ou conduta e a corrupção inata do homem”. O pecado é um assunto nada agradável, mas o estudo dessa doutrina é extremamente importante por várias razões. Há uma diferença abissal entre a depravação humana e a santidade e a glória de Deus. Qualquer desvio dos padrões divinos se constitui num ato grave, que se chama pecado. A experiência humana é uma confirmação de tudo o que a Bíblia ensina sobre a realidade do pecado, do mal que existe no mundo, de como o ser humano criado em santidade à imagem de Deus veio a se corromper de modo que somente em Cristo é possível a sua restauração a Deus.


COMO A BÍBLIA DESCREVE O PECADO
            O pecado é descrito de diversas maneiras e existem dezenas de termos hebraicos e gregos na Bíblia para descrever suas causas, às vezes, sua natureza e até mesmo suas consequências. Os termos mais comuns para o pecado são o hebraico hatta’â eo seu equivalente grego na Septuaginta e no Novo Testamento, hamartia. O verbo hata’ significa literalmente “errar o alvo” (Jz 20.16; Pv 19.2). Essa palavra é usada também no campo secular na quebra de uma lei civil (Gn 41.9; Ec 10.4), mas seu uso comum diz respeito ao pecado contra Deus (Sl 103.10; Dn 9.16). O ser humano erra o alvo e desvia-se do objetivo da vida estabelecido pelo Criador por causa de uma disposição inata que há em todas as criaturas humanas.
            O pecado é a transgressão da lei de Deus: “porque o pecado é a transgressão da lei” (1 Jo 3.4 – ARA). O substantivo “transgressão” ou o verbo “transgredir” é de uso comum desde o Antigo Testamento. O verbo hebraico ‘avar, literalmente “atravessar, passar”, não tem conotação moral: “E passou Abrão por aquela terra” (Gn 12.6). Mas é comum o seu uso no sentido de ir além de um limite estabelecido e é isso o que significa “transgredir um mandamento” ou “traspassar o mandado do SENHOR” (Nm 22.18; 24.13); “seus moradores, porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos e quebram a aliança eterna” (Is 24.5); “eles traspassaram o concerto, como Adão” (Os 6.7); “porque traspassaram o meu concerto e se rebelaram contra a minha lei” (Os 8.1). A Septuaginta traduz ‘avar em todas essas passagens pelo verbo grego parabaino, “transgredir, desviar-se”. O substantivo é parábasis, “transgressão, violação de uma lei”. É nesse sentido que esses termos aparecem no Novo Testamento: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus pela vossa tradição?” (Mt 15.2, 3). Foi exatamente esse o pecado de Adão: o primeiro casal foi além do limite que Deus estabeleceu, não comer do fruto proibido (Gn 2.17). O profeta Oseias chama essa atitude de Adão e Eva de transgressão (Os 6.7). O apóstolo Paulo emprega o substantivo parábasis para identificar o pecado de Adão e Eva: “até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão”
(Rm 5.14); E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Tm 2.14).
            O termo grego para “transgressão” em 1 João 3.4 é anomía, que literalmente quer dizer “falta de lei, quebra da lei”; o ánomos é alguém para o qual não existe uma lei. A versão Almeida Atualizada e a Tradução Brasileira traduzem essa palavra por “iniquidade”.
            A Septuaginta emprega com frequência o termo anomía para traduzir a palavra hebraica ‘awôn, “iniquidade, perversão” (Êx 34.7), além de mais de 20 termos alusivos ao pecado. ‘Awôn  é  sinônimo de pecado: “Nós pecamos como os nossos pais; cometemos iniquidade, andamos perversamente” (Sl 106.6).
            Outro termo hebraico usado como “transgressão” é pasha‘: “Qual é a minha transgressão? Qual é o meu pecado, que tão furiosamente me tens perseguido?” (Gn 31.36). Há ainda diversos termos para designar o pecado, como impiedade: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça” (Rm 1.18); maldade: “como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia e à maldade para a maldade” (Rm 6.19); perversidade: “a vossa língua pronuncia perversidade” (Is 59.3); engano: “Ó filho do diabo, cheio de todo o engano” (At 13.10); sedução: “Seduziu-o com a multidão das suas palavras” (Pv 7.21); “a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera” (Mt 13.22); injustiça: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9) e incredulidade: “porque o fiz ignorantemente, na incredulidade” (1 Tm 1.13); “E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade” (Hb 3.19).
            O pecado não se originou no Éden; surgiu primeiro na esfera angelical, quando o querubim ungido (Ez 28.12-15) se rebelou contra Deus e dessa forma foi expulso do céu juntamente com os anjos rebeldes (Is 14.12-14; Ap 12.7-9). Mas parece que muitos teólogos preferem pular essa parte. De qualquer maneira, o que aconteceu no Éden foi outra queda. Adão e Eva foram criados em total inocência e não conheciam o mal antes de desobedecerem a Deus (Gn 3.5). Não havia nenhum tipo de malícia na sua natureza ou no ambiente onde eles foram inseridos. Eles “não se envergonhavam” (Gn 2.25) e ainda não conheciam o “bem e o mal” (Gn 3.5). Em suma, além de não conhecerem nenhum tipo de culpa por nenhum tipo de pecado, também eram inocentes com relação ao pecado. A ordem de Deus foi clara: “E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16, 17). Aqui está claro que Deus dotou o ser humano de livre-arbítrio.
            A serpente perguntou primeiro se o fruto de todas as árvores do jardim estava liberado (Gn 3.1). Ao ouvir a resposta da mulher, apresentou um discurso contrário do que Deus havia dito: “Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn 3.4, 5). Com essas astúcias, a serpente levou a mulher a desobedecer a Deus, pois despertou a curiosidade de Eva que chamou a sua atenção para o fruto proibido: “E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela” (Gn 3.6). O pecado não é causado por Deus: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tg 1.13). A tentação vem dos próprios desejos ilícitos (Tg 1.14, 15). “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2.16). A tentação envolve, além da indução externa, os desejos carnais pelas coisas proibidas. A serpente seduziu Eva com três elementos. Adão e Eva tinham total capacidade de rejeitar a proposta da serpente, pois Deus criou o ser humano com livre-arbítrio e liberdade de escolher entre o bem e o mal (Gn 2.16, 17).
            A sutileza é uma maneira refinada e sutil de mostrar algo de maneira disfarçada, quase imperceptível, que exige agudeza de espírito para ser detectada. Essa é uma das especialidades de Satanás e foi com sutileza que Satanás levou o primeiro casal à ruína e, com ele, toda a humanidade (Rm 5.12).
            A morte de Adão quando desobedeceu a Deus foi instantânea. Morte significa separação. Deus advertiu a Adão dizendo: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). Foi o que aconteceu. A comunhão com Deus foi interrompida imediatamente, pois seus olhos foram abertos e eles logo perceberam que estavam nus, conheceram pessoalmente o mal e procuraram se esconder da presença de Deus porque sentiram medo (Gn 3.7, 8, 10). O senso de culpa foi imediato. Eles morreram espiritualmente no mesmo instante em que comeram o fruto proibido; era a ruptura da comunhão: “Porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).


CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
            A Queda do Éden arruinou a humanidade de maneira tão profunda que transmitiu a todos os seres humanos a tendência ou inclinação para o pecado. A depravação total do gênero humano não significa ser um pecador ao extremo em último grau, totalmente insensível quanto à consciência no que diz respeito ao certo e o errado (Rm 2.15). Todo o gênero humano se corrompeu, mas a imagem de Deus no ser humano não foi perdida (Gn 9.6; Tg 3.9); ela ficou desfigurada, e a restauração só é possível em Cristo (Ef 2.10). A depravação total significa que nada há no ser humano que não tenha sido contaminado pelo pecado, da cabeça à planta do pé (Is 1.5, 6); significa natureza mental e moral corrupta (Gn 6.5, 12), coração enganoso e perverso (Jr 17.9), morto em ofensas e pecados (Ef 2.1), inimigo de Deus (Rm 8.7), escravo do pecado (Rm 6.17; 7.5). A Bíblia afirma categoricamente que “não há um justo sequer” (Rm 3.10); que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Até um bebê recém-nascido (Sl 51.5), antes mesmo de cometer o seu primeiro pecado, já é pecador (Sl 58.3). Por causa do pecado de Adão, todas as pessoas recebem uma natureza corrompida e culpada aos olhos de Deus.
            Todos os seres humanos são pecadores: “Como está escrito:
Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só... Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.1-12, 23). Já nascemos pecadores: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5) e “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras” (Sl 58.3). A queda do Éden trouxe a corrupção geral do gênero humano, a natureza moral se corrompeu (Gn 6.5, 12). Essa corrupção afetou a pessoa na tua totalidade, com todas as suas faculdades – a alma, o corpo e o espírito: “Toda a cabeça está enferma, e todo o coração, fraco.
            Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres, não espremidas, nem ligadas, nem nenhuma delas amolecida com óleo” (Is 1.5, 6), como disse o teólogo Millard J. Erickson: “Não somos pecadores apenas porque pecamos; nós pecamos porque somos pecadores” (ERICKSON, 2015, p. 559).
            O apóstolo Paulo apresenta uma breve amostra da situação espiritual dos gentios (Rm 1.21-32), mas em seguida explica que a situação dos judeus não é diferente da humanidade (Rm 1.1723) e depois coloca no mesmo bojo judeus e gentios: “Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma! Pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado” (Rm 3.9) e “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). A Bíblia mostra que “o pecado de Adão nos afetou muito mais que a ele próprio” (HORTON, 1996, p. 269). Isso se baseia nas epístolas paulinas (Rm 5.12-21; 1 Co 15.21, 22). É a isso que chamamos pecado original.
            Mas a declaração mais surpreendente é quando o apóstolo afirma: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). Essa doutrina do pecado original não é inovação paulina; ela consta da tradição judaica, no Talmude (Berakoth, 61a; Nedarim, 32b). O ensino paulino veio da revelação de Jesus Cristo, das Escrituras do Antigo Testamento e da tradição judaica. O apóstolo Paulo desenvolveu essa doutrina. A morte é universal e nisto está a evidência incontestável da universalidade do pecado. Depois, o apóstolo mostra que, da mesma maneira que o pecado de Adão contaminou toda a humanidade, assim também a justiça de Cristo a graça veio para todas as pessoas: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18).

            Não existe uma teoria detalhada nas Escrituras sobre o pecado original, mas os dados da revelação nos dão base para uma dedução da Bíblia. O ser humano é concebido em pecado: “em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5) e “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras” (Sl 58.3). Isso mostra por que o apóstolo Paulo afirma: “Andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” (Ef 2.3). Por dedução, é razoável que um ser humano corrompido produza filhos igualmente corrompidos: “Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!” (Jó 14.4); “Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons” (Mt 7.18) e “Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto” (Lc 6.43). Os bebês recém-nascidos e as crianças, apesar de nascerem com natureza pecaminosa (Sl 58.3), ainda não conhecem experimentalmente o pecado. Elas não são responsabilizadas por seus atos antes de terem condições morais e intelectuais para discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado (Rm 9.11). O sacrifício de Jesus proveu salvação a todas as pessoas, até mesmo às crianças que falecerem na fase da inocência.


AS TEORIAS
            Muitas teorias foram apresentadas ao longo da história na tentativa de explicar o processo de transmissão do pecado original. As três principais são o pelagianismo, o calvinismo e o arminianismo. Essas teorias apresentadas a seguir são gerais, pois em todas elas existem as tendências radicais e moderadas e cujos detalhes não são discutidos aqui por absoluta falta de espaço.
            O pelagianismo é a mais antiga dessas teorias. Pelágio foi um britânico (360-420), contemporâneo de Agostinho de Hipona, que se transferiu para Roma e, depois em 409, seguiu com seu discípulo Celéstio, para Cartago, no norte da África. Segundo Pelágio, o pecado de Adão não foi transmitido a toda a humanidade, nem a morte física é resultado do pecado de Adão.
            Na sua teoria, cada alma é criada imediatamente por Deus, no nascimento de cada pessoa, portanto ela não pode vir ao mundo maculada pelo pecado de Adão. O pecado de Adão diz respeito só a ele e não pode ser imputado sobre o destino de sua posteridade. Pelágio enfatizava também a ideia do total livre-arbítrio. Segundo ele, os seres humanos possuem a graça, capacidade de optar livremente por Deus. Por se tratar de criaturas feitas à imagem de Deus, as pessoas têm condições morais e espirituais de fazerem o bem e evitarem o mal, salvando-se com suas próprias forças. Pelágio dizia ainda “que não existe necessidade da graça para a salvação, pois ela pode ser alcançada por meio da nossa livre-escolha, independente de auxílio externo” (GEISLER, vol. 2, 2010, p. 122). Pelágio acreditava que o pecado de Adão era apenas um mal exemplo para os seus descentes, assim como a morte de Jesus não passava do mais eminente exemplo da vida cristã.
            A princípio, a sua doutrina teve acolhida popular e não era considerada herética porque parecia um assunto ético e não teológico. A controvérsia não foi desencadeada com o próprio Pelágio, mas com Celestio. Agostinho foi o primeiro a constatar o perigo dessa doutrina pelagiana. O bispo de Hipona via nisso uma doutrina de autorredenção disfarçada e completamente contrária ao pensamento soteriológico e cristológico. Isso porque, se as pessoas chegam à salvação se baseando simplesmente na sua natureza criada e na decisão de sua livre vontade, significa que Jesus morreu em vão.
            O arminianismo ensina o contrário do pelagianismo. Jacó Armínio foi um teólogo holandês de origem reformada (1560 1609) que modificou consideravelmente a linha teológica em que havia sido criado. João Wesley, teólogo e pregador britânico (1703-1791), fez mudanças no pensamento arminiano. O pecado de Adão corrompeu a natureza humana na sua totalidade, e iniciamos a vida sem nenhuma retidão. O ser humano é incapaz de fazer a vontade de Deus e cumprir os seus mandamentos no tocante às coisas espirituais de Deus. A imagem de Deus no ser humano não foi aniquilada, mas desfigurada, por isso necessita da graça de Deus para superar isso em direção a ele. Essa graça não é irresistível; ela opera de forma suficiente “sobre todos, aguardando a sua livre-cooperação antes de se tornar salvificamente efetiva” (GEISLER, vol. 2, 2010, p. 123).

            O calvinismo defende os cinco pontos aprovados no Sínodo de Dort em 1619-1620, cerca de 60 anos depois da morte de João Calvino, e muitos duvidam de que ele aprovaria todos esses pontos. São eles:
1) depravação total,
2) eleição incondicional,
3) expiação limitada,
4) graça irresistível e
5) perseverança dos santos.

             Os arminianos concordam em parte com o primeiro ponto e discordam dos demais. Ninguém é coagido a ser salvo, Jesus morreu por todos os pecadores, o pecador pode resistir à graça e é possível o crente decair da graça.

            Adão é apresentado como figura de Cristo: “o qual é a figura daquele que havia de vir” (Rm 5.14). Existe só um ponto em comum entre Adão e Cristo, um é o cabeça da humanidade caída, representante da morte; o outro, o cabeça da nova eternidade, representante da vida. Fora isso, a comparação paulina é uma antítese que nos enche de gozo.



Sobre este material:
Todo a obra aqui exposta foi extraído do livro cujas informações abaixo sem nenhuma adaptação. 












Todos os direitos reservados. Copyright © 2017 para a
língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias
de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Capa: Wagner de Almeida
Projeto gráfico e editoração: Paulo Sérgio Primati
Ilustrações: Filipe Soares
Revisão: Lettera Editorial
Produção de ePub: Cumbuca Studio
CDD: 230- Cristianismo e Teologia Cristã
ISBN: 978-85-263-1463-4
ISBN digital: 978-85-263-1483-2
As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida
Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade
Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.
Para maiores informações sobre livros, revistas,
periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite
nosso site:http://www.cpad.com.br.

Casa Publicadora das Assembleias de Deus
Av. Brasil, 34.401 – Bangu – Rio de Janeiro – RJ
CEP 21.852-002