quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Subsídio Teológico lição 8 - Adulto

A Igreja é a comunidade do Senhor Jesus Cristo formada por pessoas de todos os lugares ao longo dos séculos. Ela já existia no plano divino antes dos tempos dos séculos, mas iniciou a sua jornada histórica no dia de Pentecostes (At 2), com um grupo de 120 discípulos e discípulas, incluindo os apóstolos que estavam reunidos no cenáculo em Jerusalém aguardando a “promessa do Pai” (At 1.4, 5, 13-15). A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes marcou o início da sua longa jornada (At 2.1-12) com a conversão de “quase três mil pessoas” (At 2.41) como primícias de uma grande colheita que se iniciava naquela ocasião.

A igreja, como corpo espiritual de Cristo, é um organismo vivo com suas reuniões em torno do Senhor Jesus e suas ordenanças; como congregação ou assembleia, é também uma organização, com sua forma de governo. O ponto de partida de sua proclamação é a ressurreição de Cristo. A existência da Igreja não é resultado de um entusiasmo coletivo, mas a manifestação do poder de Deus.

A IGREJA
         O termo grego ekklesía, usado no Novo Testamento para “igreja”, vem do verbo ekkaleo, “chamar, convocar”, que a Septuaginta traduziu do hebraico qara‘ el, “chamar para” em: “E chamaram Ló e disseram-lhe...” (Gn 19.5). A ekklesía, “eclésia, assembleia, ajuntamento, igreja”, era a Assembleia do Povo na antiga Grécia que funcionava como poder legislativo, mas formada por todos os cidadãos; apesar disso, segundo Mário Curtis Giordani, “na prática, era relativamente pequeno o número de cidadãos que compareciam às reuniões” (GIORDANI, 1986, p. 172). Mas os tradutores da Septuaginta empregaram ekklesía para traduzir o hebraico qahal, “assembleia, multidão humana reunida”, em referência à congregação de Israel, além de outros termos que aparecem com menos frequência no Antigo Testamento.

O Novo Testamento grego usa ekklesía para se referir à congregação de Israel: “Este é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida para no-las dar” (At 7.38). Só mais uma vez ekklesía se aplica à comunidade de Israel no Novo Testamento (Hb 2.12). Três vezes se usa para o ajuntamento ou a assembleia provocada por Demétrio contra o apóstolo Paulo no teatro em Éfeso (At 19.32, 39, 41); e 110 vezes o termo se refere à Igreja. Nesse sentido, a comunidade do Senhor é uma congregação especial formada por pessoas de todas as épocas e de todos os lugares chamadas pelo Senhor Jesus para pertencerem a Cristo (Rm 1.6), ter comunhão com ele (1 Co 1.9) e fazer parte da família espiritual de Deus (Ef 2.19), como afirma a Declaração de Fé. O termo “igreja” refere-se
também a um grupo de crentes em cada localidade geográfica (Rm 16.16; 1 Co 1.2; Gl 1.2).
A Igreja é um organismo, um corpo espiritual em que todos os crentes em Jesus estão unidos uns aos outros e todos eles com a sua cabeça, que é o Senhor Jesus Cristo: “o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo” (Ef 1.22, 23); “ele é a cabeça do corpo da igreja” (Cl 1.18). Trata-se de uma congregação espiritual cujos membros foram remidos pelo sangue de Jesus, que veio a existir no palco da história como resultado da obra da cruz, do triunfo da ressurreição de Cristo e da vinda do Espírito Santo; é exatamente o que o Senhor Jesus chamou de “minha igreja” (Mt 16.18). Em resumo, “a Igreja é a assembleia universal dos santos de todos os lugares e de todas as épocas, cujos nomes estão escritos nos céus: “À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” [Hb 12.23]”


(Declaração de Fé).
         É o novo povo que o Senhor Jesus formou dentre judeus e gentios (Ef 2.12-14) em torno de Si mesmo como o próprio corpo de Cristo (1 Co 12.12-27), para adoração e louvor da glória de Deus e para anunciar o evangelho da salvação ao mundo inteiro (Ef 1.11, 12; Mc 16.15). Cada crente em Jesus é a morada de Deus: Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16); “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Co 6.19); “no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito” (Ef 2.22).

AS ORDENANÇAS
         A ordenança é um rito simbólico universal e pessoal que aponta para as verdades centrais da fé cristã. São duas as ordenanças da Igreja. A primeira é o batismo em águas: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19); e a segunda, a Ceia do Senhor: “Tomando o pão e tendo dado graças, partiu-o e deu aos discípulos, dizendo: Este é o meu corpo que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Depois da ceia tomou do mesmo modo o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22.19, 20).
Essas duas cerimônias ou ritos sagrados são conhecidos também como sacramentos por alguns grupos protestantes e também pelos católicos. Mas a Igreja Católica acrescentou mais cinco sacramentos, ao passo que os protestantes mantiveram os dois ritos bíblicos. No entanto, nem sempre os dois termos são intercambiáveis, pois isso depende da interpretação e cada grupo sobre o assunto. O termo sacramentum vem do latim que originalmente era para um juramento público de fidelidade do soldado romano, mas, antes disso, era o nome dado ao depósito feito em lugar sagrado pelas partes envolvidas numa questão jurídica até o pronunciamento da sentença. Os pais latinos empregaram essa palavra para o vocábulo grego mysterion, “mistério, secreto”, que veio a significar ordenança ou rito sagrado. Para muitos, esses rituais transmitem graça espiritual ou salvífica levando a pessoa da morte espiritual para a vida. Para os grupos que pensam dessa maneira, ordenanças e sacramentos não são termos alternativos. A Assembleia de Deus não emprega o termo “sacramento”, mas a palavra “ordenança”, do latim ordo, “fileira, ordem”, conforme o capítulo XI da sua Declaração de Fé.

         Essas ordenanças não produzem nenhuma mudança espiritual em quem se submete ao batismo e participa da ceia do Senhor.
Mas isso não diminui a sua importância; antes, pelo contrário, elas são de grande valor. Esses rituais são ordens de nosso Senhor Jesus Cristo, pois ele mesmo pediu para ser batizado (Mt 3.14, 15). E também se trata de um símbolo da nossa união com ele e ao mesmo tempo a confissão pública dessa união (Rm 6.3-5). A ceia do Senhor é o memorial de sua morte em nosso lugar (1 Co 11.23-26). Essas são razões pelas quais os crentes nunca tratam dessas coisas sagradas com leviandade. Assim, o batismo em águas e a ceia do Senhor foram instituídos por ordem de Jesus para que fossem observados na Igreja, não porque transmitem algum poder místico ou graça salvífica, mas porque simbolizam o que já aconteceu na vida de quem aceitou a salvação de Cristo.


O batismo
         O batismo em águas é o rito que simboliza o início da vida espiritual. É um testemunho público de “nossa identificação com Jesus, em sua morte e ressurreição, que tornou possível a nossa vida que temos nEle (Rm 6.1-4)” (MENZIES & HORTON, 2001, p. 93). Trata-se de um ato significativo e importante em que o crente em Jesus é mergulhado nas águas, o corpo inteiro de uma só vez, “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19), conforme ordenou o Senhor Jesus. Muitos debates surgiram ao longo dos séculos sobre o modus operandi desse ritual, como o batismo por imersão, por aspersão e assim por diante. Mas o Novo Testamento deixa claro que o ato era realizado por imersão: “porque havia ali muitas águas; e vinham ali e eram batizados” (Jo 3.23); “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água” (Mt 3.16); “E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe” (At 8.38, 39). A ilustração paulina do batismo em águas reforça a do batismo por imersão: “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6.3, 4); “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Cl 2.12). Todas essas declarações são evidências de um batismo por imersão.
         O batismo era efetuado conforme a fórmula ordenada pelo Senhor Jesus: “batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19), e isso é confirmado num antigo documento da Igreja, chamado Didaque11, ou Instrução dos Doze Apóstolos: “Depois de ditas todas essas coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Se você não tem água corrente, batize em outra água; se não puder batizar em água fria, faça-o em água quente” (Didaque, 7.1, 2). Hoje, os unicistas batizam só em nome de Jesus e colocam essa forma de batismo como condição para a salvação.
         O batismo “em nome de Jesus” não é uma fórmula. A prova disso é que não existe um padrão nessas palavras para que seja possível uma fórmula. A expressão só aparece quatro vezes no Novo Testamento: “em nome de Jesus Cristo” (At 2.38), “em nome do Senhor Jesus” (At 8.16; 19.5) e “em nome do Senhor” (At 10.48). Isso apenas significa ser o batismo realizado na autoridade do nome de Jesus. Afinal, tudo o que fazemos é em nome de Jesus (Cl 3.17), isto é, na sua autoridade, como a oração (Jo 14.13; Ef 5.20), a pregação do evangelho (Lc 24.47; At 8.12), a cura de coxos (At 3.6), de paralíticos (At 9.34) e de enfermos (Tg 5.14, 15) e a expulsão de demônios (At 16.18), entre outros milagres.
         O batismo não é essencial para a remissão de pecados. A frase “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados” (At 2.38) tem sido motivo de controvérsias sem fim. Uma leitura isolada parece isso mesmo.
Muitos pais da Igreja a interpretavam dessa maneira. Isso aparece no Credo Niceno-Constantinopolitano (ver capítulo 4). Mas, segundo A. T. Robertson, a exegese do texto permite outro significado. Ele afirma que a preposição grega eis, traduzida por “para”, aqui, tem amplo significado, por isso deve ser compreendida à luz do contexto. Há outro emprego tão correto quanto o de propósito ou objetivo. Veja o uso dessa preposição em três versões diferentes de um mesmo versículo bíblico: “Quem recebe um profeta na qualidade de profeta receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo” (Mt 10.41 – ARC); “no caráter de profeta... no caráter de justo” (ARA); “por ser profeta... por ser justo” (TB). A mesma preposição é usada aqui para “na qualidade de profeta ... na qualidade de justo, no caráter de profeta... no caráter de justo ... por ser profeta... por ser justo”. Poderíamos dizer ainda: “em nome de profeta... em nome de justo”. Os ninivitas “se arrependeram com a pregação de Jonas” (Mt 12.41). O “com” nessa passagem é a mesma preposição eis. Diante disso, Robertson é da opinião que o apóstolo apelava ao “batismo para cada um daqueles que já se haviam arrependido, e que isso foi feito em nome de Jesus Cristo com base no perdão dos pecados que eles já tinham recebido” (ROBERTSON, tomo 3, 1989, p. 50).
         A salvação é pela fé somente (Ef 2.8, 9). O Novo Testamento mostra que o batismo não salva: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16). A segunda cláusula não diz: “Quem não for batizado será condenado”. João batizava as pessoas depois de manifestarem “frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.8; Lc 3.8); as pessoas batizadas no dia de Pentecostes haviam primeiramente recebido a palavra (At 2.41). O malfeitor crucificado ao lado do Senhor Jesus não foi batizado; no entanto, Jesus lhe disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.43).
         A prática do batismo infantil se fundamenta basicamente na interpretação de que o batismo é um meio da graça salvadora, para uns; e outros o interpretam como sinal e selo da aliança, que teria sido substituído pela circuncisão dos israelitas, mas está escrito: “Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura” (Gl 6.15). Essas interpretações não se sustentam biblicamente. O batismo é somente para os crentes em Jesus e é necessário primeiro crer nele e também pedir para ser batizado (At 8.36-38). Para isso, é necessário arrependimento e fé. A criança não preenche esses requisitos. O Novo Testamento mostra o batismo seguido da fé (At 2.41; 8.12). Isso não deixa margem para o batismo infantil. Os que defendem essa prática costumam apelar para o testemunho de Lídia (At 16.15), do
carcereiro de Filipos (At 16.33, 34), de Crispo, o principal da sinagoga de Corinto, juntamente com os demais que receberam a Jesus como seu Salvador (At 18.8) e a família de Estéfanas que o apóstolo Paulo batizou (1 Co 1.16). Nenhum desses testemunhos remete a crianças; é uma interpretação forçada querer introduzir batismo infantil nessas passagens bíblicas.

A Ceia do Senhor
         A Ceia do Senhor é o rito da comunhão e significa a continuação da vida espiritual (1 Co 11.20). A Ceia do Senhor foi instituída diretamente pelo Senhor Jesus após a refeição da Páscoa na companhia de seus discípulos (Mt 26.26-28). Desde então a Igreja vem celebrando esse memorial e proclamando a nova aliança: “Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim” (1 Co 11.25). Essa solenidade envolve o passado, a morte de Jesus; o presente, a nossa comunhão; e o futuro, a sua vinda – “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Co 11.26).
         As palavras de Jesus “Isto é o meu corpo” (Mt 26.26) e “Isto é o meu sangue” (Mt 26.28) são os seus dois elementos da ceia do Senhor. O Senhor Jesus estava pessoalmente com os seus discípulos quando disse essas palavras. Isso mostra que o corpo e o sangue aqui não são literais; trata-se de uma linguagem metafórica (1 Co 5.8). Os católicos romanos ensinam que, no ato da consagração, o pão e o vinho são literalmente transformados no verdadeiro corpo e sangue de Cristo, uma mudança metafísica; eles afirmam que essa mudança é na essência ou substância, não nos acidentes, como eles chamam, mantendo o pão a forma, a textura e o sabor do pão. Essa doutrina é chamada de transubstanciação, aprovada no Concílio de Latrão IV em 1215 e reafirmada no Concílio de Trento no século 16. Durante a Reforma Protestante, surgiram novas interpretações. Lutero rejeitou a doutrina da transubstanciação, mas defendia a ideia de que o corpo e o sangue de Jesus estão presentes “em, com e sob” o pão e o vinho, mas as moléculas não são transformadas em carne e sangue. Essa doutrina foi chamada mais tarde de consubstanciação. No entendimento dos católicos romanos, o pão e o vinho são o corpo e o sangue físico de Cristo; na concepção luterana, o pão e o vinho contêm o corpo e o sangue físico. As igrejas reformadas defendem a presença espiritual do corpo e do sangue, mas o apóstolo Paulo não fala sobre essa presença na reunião porque Jesus já está presente conosco e principalmente nos cultos (Mt 18.20; 28.20; Jo 14.23). Zwínglio, reformador suíço contemporâneo de Lutero, ensinava que esses elementos são emblemas que representam o corpo e o sangue de Jesus. Na verdade, esses elementos são metafóricos e representam o corpo e o sangue de Jesus. A Ceia do Senhor é um momento sublime de relacionamento e comunhão com Jesus.
         Trata-se de um compêndio de preceitos morais e de instrução sobre a organização das comunidades cristãs sobre diversos assuntos, como batismo, ceia do Senhor, oração, jejum e assim por diante. O texto foi produzido entre os anos 70 e 120, mas, segundo Eusébio de Cesareia, não é obra de nenhum apóstolo (História eclesiástica, livro 3.XXV).


Sobre este material:
Todo a obra aqui exposta foi extraído do livro cujas informações abaixo sem nenhuma adaptação. 



















terça-feira, 15 de agosto de 2017

Pai das missões modernas - Guilherme Carey- Heróis da FÉ

Guilherme Carey
Pai das missões modernas
(1761-1834)
            O menino Guilherme Carey, era apaixonado pelo estudo da natureza. Enchia seu quarto de coleções de insetos, flores, pássaros, ovos, ninhos, etc. Certo dia, ao tentar alcançar um ninho de passarinhos, caiu de uma árvore alta. Ao experimentar a segunda vez, caiu novamente. Insistiu a terceira vez: caiu e quebrou uma perna. Algumas semanas depois, antes de a perna sarar, Guilherme entrou em casa com o ninho na mão. - "Subiste à árvore novamente?!" -exclamou sua mãe. - "Não pude evitar, tinha de possuir o ninho, mamãe" - respondeu o menino.
            Diz-se que Guilherme Carey, fundador das missões atuais, não era dotado de inteligência superior e nem de qualquer dom que deslumbrasse os homens. Entretanto, foi essa característica de persistir, com espírito indômito e inconquistável, até completar tudo quanto iniciara, que fez o segredo do maravilhoso êxito da sua vida.
            Quando Deus o chamava a iniciar qualquer tarefa, permanecia firme, dia após dia, mês após mês e ano após ano,até acabá-la. Deixou o Senhor utilizar-se de sua vida, não somente para evangelizar durante um período de quarenta e um anos no estrangeiro, mas também para executar a façanha por incrível que pareça, de traduzir as Sagradas Escrituras em mais que trinta línguas.
            O avô e o pai do pequeno Guilherme eram sucessivamente professor e sacristão (Igreja Anglicana) da Paróquia. Assim o filho aprendeu o pouco que o pai podia ensinar-lhe. Mas não satisfeito com isso, Guilherme continuou seus estudos sem mestre.
            Aos doze anos adquiriu um exemplar do Vocabulário Latino, por Dyche,. o qual decorou. Aos quatorze anos iniciou a carreira como aprendiz de sapateiro. Na loja encontrou alguns livros, dos quais se aproveitou para estudar. Assim iniciou o estudo do grego. Foi nesse tempo que chegou a reconhecer que era um pecador perdido, e começou a examinar cuidadosamente as Escrituras.
            Não muito depois da sua conversão, com 18 anos de idade, pregou o seu primeiro sermão. Ao reconhecer que o batismo por imersão é bíblico e apostólico, deixou a denominação a que pertencia. Tomava emprestados livros para estudar e, apesar de viver em pobreza, adquiria alguns livros usados. Um de seus métodos para aumentar o conhecimento de outras línguas, consistia em ler diariamente a Bíblia em latim, em grego e em hebraico.
            Com a idade de vinte anos, casou-se. Porém os membros da igreja onde pregava eram pobres e Carey teve de continuar seu ofício de sapateiro para ganhar o pão cotidiano. O fato de o senhor Old, seu patrão, exibir na loja um par de sapatos fabricados por Guilherme, como amostra, era prova da habilidade do rapaz.
            Foi durante o tempo que ensinava geografia em Moulton, que Carey leu o livro As Viagens do Capitão Cook e Deus falou à sua alma acerca do estado abjeto dos pagãos sem o Evangelho. Na sua tenda de sapateiro afixou na parede um grande mapa-mundi, que ele mesmo desenhara cuidadosamente. Incluíra neste mapa todos os dizeres disponíveis: o número exato da população, a flora e a fauna, as características dos indígenas, etc., de todos os países. Enquanto consertava sapatos, levantava os olhos, de vez em quando, para o mapa e meditava sobre as condições dos vários povos e a maneira de os evangelizar. Foi assim que sentiu mais e mais a chamada de Deus para preparar a Bíblia, para os muitos milhões de indus, na própria língua deles.
            A denominação a que Guilherme pertencia, depois de aceitar o batismo por imersão, achava-se em grande decadência espiritual. Isto foi reconhecido por alguns dos ministros, os quais concordaram em passar "uma hora em oração na primeira segunda-feira de todos os meses" pedindo de Deus um grande avivamento da denominação. De fato esperavam um despertamento, mas, como acontece muitas vezes, não pensaram na maneira em que Deus lhes responderia.
            As igrejas de então não aceitavam a ideia, que consideravam absurda, de levar o Evangelho aos pagãos. Certa vez, numa reunião do ministério, Carey levantou-se e sugeriu que ventilassem este assunto: O dever dos crentes em promulgar o Evangelho às nações pagãs. O venerável presidente da reunião, surpreendido, pôs-se em pé e gritou: "Jovem, sente-se! Quando agradar a Deus converter os pagãos, ele o fará sem o seu auxílio, nem o meu."
            Porém o fogo continuou a arder na alma de Guilherme Carey. Durante os anos que se seguiram esforçou-se ininterruptamente, orando, escrevendo e falando sobre o assunto de levar Cristo a todas as nações. Em maio de 1792, pregou seu memorável sermão sobre Isaías 54.2,3: "Amplia o lugar da tua tenda, e as cortinas das tuas habitações se estendam; não o impeças; alonga as tuas cordas, e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás à mão direita e à esquerda; e a tua posteridade possuirá as nações e fará que sejam habitadas as cidades assoladas."
            Discursou sobre a importância de esperar grandes coisas de Deus e, em seguida, enfatizou a necessidade de tentar grandes coisas para Deus.
            O auditório sentiu-se culpado de negar o Evangelho aos países pagãos, a ponto de "levantar as vozes em choro." Foi então organizada a primeira sociedade missionária na história das igrejas de Cristo para a pregação do Evangelho entre os povos nunca evangelizados. Alguns como Brainerd, Eliot e Schwartz já tinham ido pregar em lugares distantes, mas sem que as igrejas se unissem para sustentá-los.
            Apesar de a sociedade ser o resultado da persistência e esforços de Carey, ele mesmo não tomou parte na sua formação. O seguinte, porém, foi escrito acerca dele nesse tempo:
             "Aí está Carey, de estatura pequena, humilde de espírito, quieto e constante; tem transmitido o espírito missionário aos corações dos irmãos, e agora quer que saibam da sua prontidão em ir onde quer que eles desejem, e está bem contente que formulem todos os planos".
            Nem mesmo com esta vitória, foi fácil para Guilherme Carey concretizar o sonho de levar Cristo aos países que jaziam nas trevas. Dedicava o seu espírito indômito a alcançar o alvo que Deus lhe marcara.
            A igreja onde pregava não consentia que deixasse o pastorado: somente com a visita dos membros da sociedade a ela é que este problema foi resolvido. No relatório da igreja escreveram: "Apesar de concordar com ele, não achamos bom que nos deixe aquele a quem amamos mais que a nossa própria alma.
            " Entretanto, o que mais sentiu foi quando a sua esposa recusou terminantemente deixar a Inglaterra com os filhos. Carey estava tão certo de que Deus o chamava para trabalhar na Índia que nem por isso vacilou.
            Havia outro problema que parecia insolúvel: Era proibida a entrada de qualquer missionário na Índia. Sob tais circunstâncias era inútil pedir licença para entrar. Nestas condições, conseguiram embarcar sem esse documento. Infelizmente o navio demorou algumas semanas e, pouco antes de partir, os missionários receberam ordem de desembarcar.
            A sociedade missionária, apesar de tantos contratempos, continuou a confiar em Deus; conseguiram granjear dinheiro e compraram passagem para a Índia em um navio dinamarquês. Uma vez mais Carey rogou à sua querida esposa que o acompanhasse. Ela ainda persistia na recusa e nosso herói, ao despedir-se dela, disse: "Se eu possuísse o mundo inteiro, daria alegremente tudo pelo privilégio de levar-te e os nossos queridos filhos comigo; mas o sentido do meu dever sobrepuja todas as outras considerações. Não posso voltar para trás sem incorrer em culpa a minha alma."             Porém, antes de o navio partir, um dos missionários foi à casa de Carey. Grande foi a surpresa e o regozijo de todos ao saberem que esse missionário conseguiu induzir a esposa de Carey a acompanhar o seu marido. Deus comoveu o coração do comandante do navio a levá-la em companhia dos filhos, sem pagar passagem.
            Certamente a viagem a vela não era tão cômoda como nos vapores modernos. Apesar dos temporais, Carey aproveitou-se do ensejo para estudar o bengali e ajudar um dos missionários na obra de verter o livro de Gênesis para a língua bengaleza.
             Guilherme Carey aprendeu suficiente o bengali, durante a viagem, para conversar com o povo. Pouco depois de desembarcar, começou a pregar e os ouvintes vinham para ouvir em número sempre crescente.
             Carey percebeu a necessidade imperiosa de o povo possuir a Bíblia na própria língua e, sem demora, entregou-se à tarefa de traduzi-la. A rapidez com que aprendeu as línguas da Índia é uma admiração para os maiores lingüistas.
            Ninguém sabe quantas vezes o nosso herói se mostrou desanimadíssimo na Índia. A esposa não tinha interesse nos esforços de seu marido e enlouqueceu. A maior parte dos ingleses com quem Carey teve contato, o tinham como louco; durante quase dois anos nenhuma carta da Inglaterra lhe chegou às mãos. Muitas vezes faltava aos seus dinheiro e alimento. Para sustentar a família, o missionário tornou-se lavrador da terra e empregou-se em uma fábrica de anil.
            Durante mais de trinta anos Carey foi professor de línguas orientais no colégio de Fort Williams. Fundou também, o Serampore College para ensinar os obreiros. Sob a sua direção, o colégio prosperou, preenchendo um grande vácuo na evangelização do país.
             Ao chegar à Índia, Carey continuou os estudos que começara quando menino. Não somente fundou a Sociedade de Agricultura e Horticultura, mas criou um dos melhores jardins botânicos, redigiu e publicou o "Hortus Bengalensis". O livro "Flora Índica", outra de suas obras, foi considerada obra-prima por muitos anos.
            Não se deve concluir, contudo, que, para Guilherme Carey, a horticultura fosse mais do que um passatempo. Passou, também, muito tempo ensinando nas escolas de crianças pobres. Mas, acima de tudo, sempre lhe ardia no coração o desejo de se esforçar na obra de ganhar almas.
            Quando um de seus filhos começou a pregar, Carey escreveu: "Meu filho, Félix, respondeu à chamada para pregar o Evangelho". Anos depois, quando esse filho aceitou o cargo de embaixador da Grã Bretanha no Sião, o pai, desapontado e angustiado, escreveu para um amigo: "Félix encolheu-se até tornar-se um embaixador!
            " Durante o período de quarenta e um anos, que passou na Índia, não visitou a Inglaterra. Falava, embora com dificuldade, mais de trinta línguas da Índia, dirigia a tradução das Escrituras em todas elas e foi apontado ao serviço árduo de tradutor oficial do governo. Escreveu várias gramáticas indianas e compilou notáveis dicionários dos idiomas bengali, marati e sânscrito. O dicionário do idioma bengali consta de três volumes e inclui todas as palavras da língua, traçadas até a sua origem e definidas em todos os seus sentidos.
            Tudo isto era possível porque sempre economizava o tempo, segundo se deduz do que escreveu seu biógrafo:
            "Desempenhava estas tarefas hercúleas sem pôr em risco a sua saúde, aplicando-se metódica e rigorosamente ao seu programa de trabalho, ano após ano. Divertia-se, passando de uma tarefa para outra. Dizia que se perde mais tempo, trabalhando inconstante e indolentemente do que nas interrupções de visitas. Observava, portanto, a norma de entrar, sem vacilar, na obra marcada e de não deixar coisa alguma desviar a sua atenção para qualquer outra coisa durante aquele período."  O seguinte escrito pedindo desculpas a um amigo pela demora em responder-lhe a carta, mostra como muitas das suas obras avançavam juntas:
            "Levantei-me hoje às seis, li um capítulo da Bíblia hebraica; passei o resto do tempo, até às sete, em oração. Então assisti ao culto doméstico em bangali, com os criados. Enquanto esperava o chá, li um pouco em persa com um munchi que me esperava; li também, antes de comer, uma porção das Escrituras em industani. Logo depois de comer sentei-me, com um pundite que me esperava, para continuar a tradução do sânscrito para o ramayuma. Trabalhamos até as dez horas, quando então fui ao colégio para ensinar até quase as duas horas. Ao voltar para casa, li as provas da tradução de Jeremias em bengali, só findando em tempo para jantar. Depois do jantar, traduzi, ajudado pelo pundite chefe do colégio, a maior parte do capítulo oito de Mateus em sânscrito. Nisto fiquei ocupado até as seis. Depois das seis assentei-me com um pundite de Telinga, para traduzir do sânscrito para a língua dele. Às sete comecei a meditar sobre a mensagem para um sermão e preguei em inglês, às sete e meia. Cerca de quarenta pessoas assistiram ao culto, entre as quais, um juiz do Sudder Dewany'dawlut. Depois do culto, o juiz contribuiu com 500 rupias para a construção de um novo templo. Todos os que assistiram ao culto tinham saído às nove horas; sentei-me para traduzir o capítulo onze de Ezequiel para o bengali. Findei às onze, e agora estou escrevendo esta carta. Depois, encerrei o dia com oração. Não há dia em que disponha de mais tempo do que isto, mas o programa varia."
            Com o avançar da idade, seus amigos insistiam em que diminuísse os seus esforços, mas a sua aversão à inatividade era tal, que continuava trabalhando mesmo quando a força física não dava para a necessária energia mental. Por fim, viu-se obrigado a ficar de cama, onde continuava a corrigir as provas das traduções.
            Finalmente, em 9 de junho de 1834, com a idade de 73 anos, Guilherme Carey dormiu em Cristo.
            A humildade era uma das características mais destacadas da sua vida. Conta-se que, no zênite da fama, ouviu certo oficial inglês perguntar cinicamente: - "O grande doutor Carey não era sapateiro?" Carey, ao ouvir casualmente a pergunta, respondeu: "- Não, meu amigo, era apenas um remendão."
            Quando Guilherme Carey chegou à Índia, os ingleses negaram-lhe permissão para desembarcar. Ao morrer, porém, o governo mandou içar as bandeiras a meia haste em honra de um herói que fizera mais para a Índia do que todos os generais britânicos.
            Calcula-se que traduziu a Bíblia para a terça parte dos habitantes do mundo. Assim escreveu um de seus sucessores, o missionário Wenger: "Não sei como Carey conseguiu fazer nem a quarta parte das suas traduções. Faz cerca de vinte anos (em 1855), que alguns missionários, ao apresentarem o Evangelho no Afeganistão (país da Ásia central), acharam que a única versão que esse povo entendia era o Pushtoo, feita em Sarampore por Carey."

            O corpo de Guilherme Carey descansa, mas a sua obra continua a servir de bênção a uma grande parte do mundo.

Retirado  o livro Heróis da Fé .
Vinte homens extraordinários que incendiaram o mundo.
 Orlando S. Boyer.
 Biografias cristãs CPAD – Casa Publicadora das Assembléias de Deus .
Rio de Janeiro, RJ 15ª Edição – 1999.

Quarta - Sl 91.1 – LBJ – Deus, nosso refúgio em meio à dor.

Este texto foi retirado do livro comentário bíblico BEACON.

Confiança (91.1-8)

A primeira alternância entre a primeira e a segunda pessoa está nos versículos 1-8. Nos versículo 1-2, o poeta expressa sua confiança na segurança proporcionada pelo esconderijo do Altíssimo (1), que é o seu refúgio e sua fortaleza (2). Nos versículos 3-8, ele dirige palavras de confiança e conforto aos seus ouvintes ou leitores. O esconderijo (1) é o lugar escondido ou encoberto provido pelo cuidado de Deus; a sombra é a proteção de Deus possivelmente uma alusão à metáfora das asas da águia do versículo 4. Os títulos Altíssimo e Onipotente são alusões ao poder soberano de Deus para proteger e suprir os seus. O salmista encontra seu refúgio e sua fortaleza no Senhor Deus (cf. comentário em 18.2; 31.3 e 71.3).