quarta-feira, 11 de abril de 2018

Classe de Adulto – L 03 - Ética Cristã e Direitos Humanos.


RETIRADO DO LIVRO - VALORES CRISTÃOS -
Enfrentando as questões morais do nosso tempo.
 Douglas  Baptista.

O “cilindro de Ciro” é historicamente considerado a primeira Declaração dos Direitos Humanos. O cilindro é uma peça arredondada, feita a partir da argila, dividida atualmente em vários fragmentos, no qual está escrita uma declaração em grafia cuneiforme acadiana que contém uma declaração do rei persa Ciro II após sua conquista do Império Babilônico. Em um trecho do cilindro, o imperador mandou registrar: “quanto aos habitantes de Babilônia [...] eu aboli o jugo que era contrário à sua condição. Trouxe melhoria às suas degradadas condições de habitação, acabando com as suas razões de queixa” (MELO, 2014, p. 55-58). Esse decreto foi emitido no primeiro ano de seu governo após a conquista de Babilônia, isto por volta do ano 538 a.C. e 537 a.C. O documento também autorizava os povos exilados na Babilônia a regressarem às suas terras de origem. Os textos bíblicos informam que Ciro recebeu essa mensagem da parte de Deus, que o ordenava a enviar de volta à Palestina todos os judeus cativos naquela cidade (Ed 1.2-4). O decreto de Ciro II pôs fim ao cativeiro babilônico dos judeus.
Apesar de o cilindro de Ciro ser considerado o primeiro documento oficial a tratar de direitos humanos, muito antes disso, outro conquistador da Babilônia, o rei Hamurabi, estabeleceu um dos mais importantes códigos jurídicos da antiguidade. Hamurabi reinou aproximadamente de 1792 a 1750 a.C. As leis contidas no Código de Hamurabi estavam precedidas de um longo prólogo no qual o rei representava a si mesmo como um pastor e um príncipe piedoso, fazendo com que a estela do código fosse gravada e colocada em um lugar público para que “o forte não oprimisse ao débil, e que para que a justiça prevalecesse no reino” (THOMPSON, 1999, p. 1572). No entanto, em grande parte da história da humanidade, os direitos foram prerrogativas de uma minoria privilegiada. Em tempos modernos, surgiu o conceito do homem como portador de direitos considerados como inerentes ou fundamentais para a dignidade humana. Apesar de tais conceitos florescerem em tempos atuais, desde a criação do homem, as Escrituras Sagradas têm revelado a vontade de Deus acerca daquilo que é direito e errado nas relações humanas.

I. A ORIGEM DOS DIREITOS HUMANOS
No período da Idade Moderna (séculos XV até XVIII), a revolução científica e literária que se deu durante o Renascimento (movimento cultural, econômico e político) contribuiu para o surgimento do Humanismo (movimento intelectual focado no homem). Os humanistas valorizavam os direitos individuais do cidadão e acreditavam no progresso e na capacidade humana. Suas ideias se espalharam e foram aceitas graças à invenção da imprensa. Os ideais dos humanistas despertaram nos cristãos a necessidade de reformar a igreja, especialmente o clero.
Como resultado desse e de outros fatores, a reforma religiosa foi deflagrada em 1517, na Alemanha. A reforma do monge agostiniano Martinho Lutero rompeu a unidade religiosa da Europa Ocidental e quebrou o monopólio mantido até então pela Igreja de Roma. Esse processo de abertura permitiu a “consideração dos indivíduos como cidadãos livres e iguais” (CHEHOUD, 2012, p. 32). Esses ideais passaram a ser pensados e construídos, não necessariamente executados. Porém, foi a partir da Reforma que os conceitos de liberdade e tolerância tornaram-se visíveis.
O Iluminismo, também chamado de “século das luzes” (movimento cultural da elite intelectual europeia do século XVIII), ensinava que “os homens tinham direitos iguais e que, para corrigir a desigualdade, a sociedade deveria ser modificada” (ARRUDA, 1982, p. 137, 138). Para efetivar essas mudanças, o Iluminismo difundiu os ideais de liberdade de expressão e de culto, proteção contra a escravatura e a injustiça social.

1. Definição de Direito
A raiz da palavra “direito” tem origem no latim rectus, que significa “aquilo que é reto, correto, justo”. Na perspectiva da ética, aquilo que é direito torna-se modelo daquilo que é bom e correto. Nesse contexto, a ética ou a moral comum a todas as culturas pode ser expressa em termos de direitos do homem. Esses direitos se relacionam com a dignidade do ser humano tendo a proteção da vida, da liberdade e da igualdade como pressuposto principal.

2. Declaração Universal dos Direitos Humanos
Foi adotada em 10 de dezembro de 1948, após a Segunda Guerra Mundial, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ela foi uma resposta aos milhões de vítimas do conflito e do extermínio deliberado de judeus (principalmente), ciganos e outras etnias promovido pelos nazistas (SILVA, 2014, p. 110). A declaração contém 30 artigos e reconhece os direitos “fundamentais” e “universais” do ser humano como o ideal a ser atingido por todos os povos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.
No entanto, a partir do ponto de vista das Ciências Sociais, a construção dos direitos humanos não deve ser desassociada dos “direitos de cidadania”, que são divididos em três grupos ou em três gerações:1 os civis, os políticos e os sociais. Os “direitos civis” começaram a aparecer nos séculos XVII e XVIII, e são identificados com a igualdade perante a lei, o direito de ir e vir, a liberdade de expressão e outros. Esses direitos são “fundamentais”, e não “universais”, e se aplicam às leis de uma determinada nação. Os “direitos políticos” foram reivindicados no século XVIII e também são considerados fundamentais. Entre eles estão o direito de votar e ser votado, filiar-se a partidos políticos e sindicatos, realizar manifestações, etc. Esses direitos atingiram o seu apogeu no século XX, quando o direito de voto foi estendido às mulheres. E, por fim, ainda no século XX começam a despontar “os direitos sociais” que buscam assegurar a igualdade de condições indispensáveis para a sobrevivência e o exercício dos demais direitos.
ênfase desses direitos recai sobre a educação básica, assistência à saúde, programas de moradia, transporte coletivo, sistema previdenciário e outros.

3. Declaração Universal dos Direitos Humanos
Foi adotada em 10 de dezembro de 1948, após a Segunda Guerra Mundial, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ela foi uma resposta aos milhões de vítimas do conflito e do extermínio deliberado de judeus (principalmente), ciganos e outras etnias promovido pelos nazistas (SILVA, 2014, p. 110). A declaração contém 30 artigos e reconhece os direitos “fundamentais” e “universais” do ser humano como o ideal a ser atingido por todos os povos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. Com essa ideia universalista, Tomazi considera que “os direitos humanos estão acima de qualquer poder existente, seja do Estado, seja dos governantes. Em caso de violação, os responsáveis devem ser punidos” (2010, p. 136).
No entanto, a partir do ponto de vista das Ciências Sociais, a construção dos direitos humanos não deve ser desassociada dos “direitos de cidadania”, que são divididos em três grupos ou em três gerações:2 os civis, os políticos e os sociais. Os “direitos civis” começaram a aparecer nos séculos XVII e XVIII, e são identificados com a igualdade perante a lei, o direito de ir e vir, a liberdade de expressão e outros. Esses direitos são “fundamentais”, e não “universais”, e se aplicam às leis de uma determinada nação. Os “direitos políticos” foram reivindicados no século XVIII e também são considerados fundamentais. Entre eles estão o direito de votar e ser votado, filiar-se a partidos políticos e sindicatos, realizar manifestações, etc. Esses direitos atingiram o seu apogeu no século XX, quando o direito de voto foi estendido às mulheres. E, por fim, ainda no século XX começam a despontar “os direitos sociais” que buscam assegurar a igualdade de condições indispensáveis para a sobrevivência e o exercício dos demais direitos.
ênfase desses direitos recai sobre a educação básica, assistência à saúde, programas de moradia, transporte coletivo, sistema previdenciário e outros.
Assim, apesar daquilo que é assegurado na “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, os direitos civis, políticos e sociais, embora fundamentados no princípio de igualdade, para o sociólogo inglês T. H. Marshal (1893-1981), eles não podem ser considerados universais “pois são vistos de modo diferente em cada Estado e em cada época” (TOMAZI, 2010, p. 138). Não obstante, os direitos contidos nessa Declaração passaram a ser o ideal para todas as pessoas e foram introduzidos nas legislações dos países democráticos. O Brasil participou ativamente da elaboração da Declaração e tem sido signatário de todas as suas resoluções, e, portanto, os direitos humanos estão contemplados em nossa Constituição Federal.

4. Direitos Humanos no Brasil
Em nosso país, a expressão “direitos humanos” foi popularizada durante a década de 80. Nessa época, militantes políticos de esquerda passaram a usar a expressão em oposição ao regime militar. Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a Constituição Cidadã. No escopo dos direitos e garantias fundamentais presentes no texto constitucional estão elencados os princípios de liberdade, igualdade, tolerância, solidariedade e neutralidade estatal:
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
 VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei (CF/1988).
Visando ampliar a promoção dos Direitos Humanos no Brasil, o decreto nº 7.037/2009 instituiu o “Programa Nacional de Direitos humanos” (PNDH), que já está em sua terceira versão. O PNDH-3 está estruturado em 6 (seis) eixos orientadores que se subdividem em 521 ações programáticas que tratam dos direitos universais. Ocorre que desde a sua primeira versão o PNDH vem recebendo críticas de variados setores. A principal oposição diz respeito às ações que pretendem tutelar a sociedade e impor ideologias ao cidadão. No âmbito da religião, os pontos mais controversos são a legalização do aborto e a ideologia de gênero. Nos meios de comunicação, a insatisfação se refere à fiscalização da mídia por parte do governo como um meio de censura.
Quanto ao sistema prisional, as discordâncias se concentram no direito de voto para os presos, na proibição de divulgação pública de informações sobre o perfil de criminosos e no direito as visitas íntimas inclusive as homoafetivas. Por isso, após a redemocratização do Brasil e a concessão de amplos direitos ao cidadão, constantemente a expressão “direitos humanos” tem sido associada como “direitos de bandidos”. Discute-se, por exemplo, que os “direitos humanos” deveriam valer unicamente para os “humanos direitos”.

II. A BÍBLIA E OS DIREITOS HUMANOS
Cremos que a Bíblia Sagrada possui dois propósitos essenciais: revelar o próprio Deus e expressar a sua vontade à humanidade. Dessa forma, tudo o que precisamos saber sobre a vontade de Deus, inclusive em nosso relacionamento com o próximo, está suficientemente revelado em sua Palavra. É mediante a revelação divina que aprendemos os padrões morais e éticos de conduta preconizados pelo Criador para com as suas criaturas. A Bíblia contém  vários ensinos sobre o que é “bom” e “mal”, sobre o que é “direito” ou “errado”. Neste tópico, veremos os direitos dos homens revelados e registrados nos livros do Pentateuco, nos Evangelhos e nos escritos de Paulo.

1. Direitos Humanos no Pentateuco
Os cinco livros de Moisés revelam o código divino e indicam a maneira de viver de seu povo (Dt 6.1-9). Observa-se nesses escritos um arcabouço de concepções libertárias e igualitárias que antecedem muitos direitos que iriam reaparecer apenas na modernidade. Na revelação, Deus requer que o estrangeiro não seja maltratado (Êx 22.21). Essa orientação significa que a pessoa de cultura, raça ou etnia diversa não deve ser tratada com discriminação e nem de modo indiferente. Assegura-se ao forasteiro o direito de não ser explorado e nem de ser perseguido. Ao contrário, o estrangeiro tem o direito de receber tratamento igualitário e humano. Com esse elevado padrão moral, as Escrituras condenam a prática da xenofobia (aversão ou antipatia com os estrangeiros).
Os mandamentos bíblicos ainda determinam que a viúva e o órfão sejam protegidos (Êx 22.22), e que o pobre não seja explorado (Êx 22.25,26).
Observa-se nesses textos o gentil cuidado da revelação divina para com as pessoas com necessidades. Aqui a preocupação se volta para um grupo que normalmente era alvo de tirania e injustiça social — pobres, viúvas e órfãos.
A pobreza se relaciona com “a insuficiência de renda” para subsistência pessoal e da família. As viúvas e os órfãos, além da dor e tristeza pela perda sofrida, ainda penavam com a falta de assistência social. Para coibir e corrigir essas violações para com os desafortunados, Deus asseverou que derramaria da sua ira e imprimiria a mesma dor aos opressores: “a minha ira se acenderá, e vos matarei à espada; e vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos órfãos” (Êx 22.24). Sob a tutela desses preceitos do Pentateuco, os cristãos mantêm especial atenção para com os desprovidos (Tg 1.27).
No caso específico dos estrangeiros, pobres, viúvas e órfãos, a lei tinha uma provisão especial (Dt 10.18,19; 24.19,20). Após a posse da Terra Prometida, a sociedade dos israelitas tornou-se agrícola e a lei da generosidade requeria benevolência com o produto da terra para com o próximo necessitado. Por ocasião da festa da colheita, em meio à alegria dos frutos e grãos em abundância, os infortunados não podiam ser esquecidos.
Eles também tinham direito a colheita. Para isso, uma parte do campo não podia ser colhida, não podendo ser menos do que uma sexta parte de toda a plantação. Esse canto do campo e também as espigas que caiam eram reservadas para os necessitados (Lv 19.9,10).
Ainda em relação ao cuidado com os pobres, a lei mosaica proibia os ricos de tirar vantagens do infortúnio de seus semelhantes: “se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como um usurário; não lhe imporeis usura” (Êx 22.25). A ordenança bíblica não autorizava a cobrança de juros para o empréstimo que visava saciar a fome do pobre. A premissa dos juros aqui proibidos não se refere aos empréstimos de cunho comercial. Esses preceitos eram estranhos ao mundo antigo e constitui-se numa espécie de síntese da Torá: o cuidado divino para com os menos favorecidos e o valor da dignidade humana.

2. Direitos Humanos nos Evangelhos
A mensagem de Cristo presente nos evangelhos resume-se na prática do amor a Deus e ao próximo (Mt 22.37-40; Mc 12.31). Os evangelistas enfatizam que Deus é a fonte de todo o amor (Jo 3.16). A mensagem do evangelho considera hipocrisia a religiosidade desprovida do amor ao próximo (1 Jo 4.20a). Por isso, as Escrituras enfatizam que o amor cristão requer sacrifício em favor dos seres humanos (Jo 15.13). Ainda, ensinam os evangelhos que o amor cristão é antídoto contra o mal, o ódio e a vingança contra o semelhante (Mt 5.44). O amor não deve ser seletivo, e sim despretensioso (Mt 5.46). Na conhecida parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37) narrada por Jesus, o amor e a misericórdia para com o outro prevaleceram contra o ódio e o preconceito racial. Dessa maneira, o amor cristão é imperiosamente altruísta e humanitário, incapaz de desrespeitar os direitos de seu próximo.
Durante seu ministério, Jesus quebrou vários paradigmas da cultura reinante entre os judeus na palestina. Cristo entrou em uma sinagoga e, em pleno sábado, curou um homem que tinha a mão atrofiada (Mt 12.9-11) e acrescentou o seguinte ensino: “é perfeitamente correto fazer o bem em dia de sábado” (Mt 12.12, ACF). Em consequência, ao curar no sábado, Cristo colocou a dignidade humana acima do legalismo (Mt 12.10-13).
Em outra ocasião, ao conversar com uma mulher junto ao poço de Jacó, Cristo se opôs ao preconceito de gênero, a intolerância religiosa, a discriminação racial e a hostilidade cultural existente entre judeus e samaritanos (Jo 4.9,10). Cabe ainda destacar a ênfase do evangelho no combate à segregação social. Durante o jugo romano, os judeus desejavam libertar-se dos aguilhões de Roma, e, por causa do forte zelo nacional, os coletores de impostos (publicanos) eram odiados, desprezados e considerados traidores. Assim, ao jantar em casa de Levi e também na casa de Zaqueu — ambos publicanos — Cristo rechaçou atitudes discriminatórias entre as classes sociais judaicas (Mc 2.14-17; Lc 19.1-10). E, ainda em conotação com os ideais de igualdade e liberdade sem distinção alguma, ao receber e abençoar os meninos, Cristo defendeu os direitos da criança e dos adolescentes (Lc 18.15,16). Portanto, esses exemplos e outros registrados nas Escrituras Sagradas indicam que a fé cristã não está dissociada da preocupação com as necessidades humanas. Ressalta-se, porém, que todos esses oprimidos foram transformados e mudaram de atitude após o encontro que tiveram com Jesus.

3. Direitos Humanos em Paulo
Em seus escritos, o apóstolo dos gentios reconhece o direito de igualdade entre raças, classe social e gênero. Ele escreveu aos Gálatas: “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28). Ao remover essas distinções, o cristianismo situou os seres humanos em nível de igualdade e promoveu uma mudança de paradigmas totalmente estranhos naquele contexto histórico.
Além de defender a igualdade entre os seres humanos, o apóstolo também legitimou o uso dos direitos civis. Ao ser preso em Jerusalém, evocou sua cidadania romana para não ser açoitado (At 22.25-29). O apóstolo exigiu obediência à lei romana chamada Lex Sempronia, que não permitia ao cidadão romano ser condenado sem o direito de defesa. Em uma situação posterior, ao perceber as manobras dos judeus para condená-lo sumariamente, reivindicou o direito de um julgamento justo e apelou para César (At 25.9- 12). Pode-se então constatar nos escritos e feitos de Paulo a defesa dos direitos humanos e os valores da cidadania.

III. A IGREJA E OS DIREITOS HUMANOS
A Igreja de Cristo na terra é atuante e militante. A igreja batalha pela fé que uma vez foi dada aos santos e pelos preceitos bíblicos divinamente revelados (Jd 3). Formada por todos aqueles que seguem a Cristo, a Igreja luta contra as depravações da carne e as injustiças no mundo, luta contra o Diabo e seus ardis, e contra o pecado e suas terríveis consequências (Ef 6.12). Nesse papel, a Igreja tem como pressuposto a prática do amor, que é o elemento motivacional de conduta para todo cristão. Desse modo, a Igreja de Cristo é agente de transformação social e espiritual da sociedade.
As Escrituras Sagradas é o livro texto utilizado como única regra infalível de fé e prática para a Igreja. E nenhum outro livro tem enaltecido tanto a dignidade e os direitos do ser humano como o faz a Bíblia Sagrada. As Escrituras revelam o amor de Deus sem acepção de pessoas (Jo 3.16; Rm 2.11). A Palavra de Deus condena as injustiças sociais e a exploração do cidadão (Tg 5.4). A Igreja é advertida em perseverar na prática do bem ao próximo (2 Ts 3.13). E aqueles que ficam impassíveis diante da violação dos direitos humanos são considerados pecadores (Tg 4.17).

1. A Igreja e o Trabalho Escravo
O trabalho é essencial para o sustento da vida. Desde a criação, o trabalho está presente na raça humana (Gn 2.15). Sustentar a si mesmo e à família por meio do trabalho é uma dádiva divina e dignifica o homem (Ec 3.13; Ef 4.28). O próprio Senhor Jesus desempenhou a função de carpinteiro para o seu sustento e de sua família terrena (Mc 6.3). Quanto à importância da atividade laboral, Cristo declarou: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). A exemplo de Cristo, o apóstolo Paulo também não viveu dependente dos trabalhos dos outros (At 20.33-35, 1 Ts 2.9) e aos que viviam
desordenadamente exortou: “se alguém não quiser trabalhar, que não coma também” (2 Ts 3.10).
Tornou-se bastante notável a transformação histórica da posição do trabalho por meio da postura protestante. E, conforme constatou McGrath, “não foi por acidente que as regiões europeias que adotaram o protestantismo logo se viram prosperando economicamente” (2012, p. 333). Por outro lado, se o trabalho for entendido como um fim em si mesmo, segue-se a isso um conjunto de prioridades distorcidas cujo inevitável resultado é negativo para os relacionamentos sociais, familiares e pessoais. O trabalho se torna um fardo pesado, quando a carga horária é exaustiva, os salários são baixos, a competividade é desleal, o crescimento profissional é nulo e as condições de trabalho são degradantes. Quando isso acontece, a dignidade humana é violada e o trabalho se torna em escravidão.
Certamente, que a Igreja de Cristo não pode ficar insensível diante da exploração do trabalhador ou do trabalho escravo. O povo de Deus não pode ser conivente com a exploração da mão-de-obra infantil, da mulher, das pessoas na lavoura, dos estrangeiros e dos operários em geral. O apóstolo Tiago condenou a opressão e a injustiça praticada contra os trabalhadores em sua época. O meio-irmão de Jesus repudiou o comportamento dos ricos que angariavam altas somas em dinheiro e aumentavam seus lucros à custa do pagamento de parcos salários aos trabalhadores. E ainda, o líder da Igreja em Jerusalém alertou aos empregadores gananciosos que os clamores de tristeza dos pobres eram ouvidos por Deus (Tg 5.4). Paulo também escreveu posicionando-se contra a vexação a que eram expostos os trabalhadores. Na carta dirigida a Filemom, o apóstolo apresenta claras orientações acerca do tratamento benevolente que se deveria dispensar a Onésimo — um escravo fugitivo (Fm 15-18). Aos Efésios, Paulo estabelece o princípio do respeito mútuo entre empregados e patrões (Ef 6.5-9).

2. A Igreja e os Prisioneiros
Em 2014, o Conselho Nacional de Justiça do Brasil divulgou que a nossa população carcerária era de 563.526 presos e que estavam encarcerados 206.307 pessoas além da capacidade de vagas. Somado ao problema da superlotação, os presídios públicos também não oferecem as condições mínimas de dignidade humana, higiene e salubridade. Nosso índice de reincidência no crime é de 70%, o que demonstra a ineficiência do Estado na ressocialização dos prisioneiros. Ressocializar significa reintegrar o detento ao convívio em sociedade. A violência e a reincidência no crime indicam falhas nesse processo de ressocialização promovido pelo Estado. Isso acontece pelo fato de a ressocialização de um presidiário depender de diversos fatores fora do alcance do braço estatal.
As vidas encarceradas em presídios e demais unidades de internação são extremamente carentes de afeto, perdão, e de transformação no caráter, na  alma e no espírito. Por isso, a Igreja, por meio da Bíblia Sagrada, acompanhada de orações e aconselhamento dos capelães e visitadores deve cumprir o que preconiza as Escrituras: “Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo” (Hb 13.3). Sob essa premissa, a Igreja, por meio do trabalho de capelania prisional, desempenha a nobre missão de levar o refrigério às almas angustiadas e encarceradas de nossa nação.
Essa atividade de capelania prisional desenvolvida pela Igreja preocupa-se com a assistência espiritual aos encarcerados e também com a ressocialização dos presos ou dos egressos da prisão. Portanto, a Igreja é orientada a realizar seu trabalho concentrado na salvação, cura e libertação das almas. O aspecto moral do cristianismo, no que diz respeito ao criminoso, é que Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (1 Tm 1.15).

3. A Igreja e o Problema Social
Os principais problemas sociais do Brasil são o desemprego, precariedade de moradia, saúde, segurança, educação, desigualdades sociais, má distribuição de renda, dentre outros. Como resultado da ineficiência do Estado, os índices de violência e criminalidade aumentam a cada dia. É consenso que tais problemas são agravados pelo desvio das verbas públicas, pela nefasta prática da corrupção. Como agência do Reino de Deus na terra, a Igreja do Senhor possui uma responsabilidade social e não pode viver alienada aos problemas enfrentados na vida em sociedade. O cristão vive tanto na igreja quanto no mundo, e tem responsabilidades para com ambos. É papel da igreja evangelizar o mundo todo por meio da pregação do evangelho (Mt 28.19), mas também é função da igreja aliviar o sofrimento alheio por meio de sua atuação na sociedade, como instrumento de transformação da realidade social que a rodeia. Acerca da fé desacompanhada de ações práticas, o líder da Igreja em Jerusalém questiona aos fiéis: “se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?” (Tg 2.15,16).
O profeta Habacuque, em sua época, constatou que os problemas sociais eram causados por fatores similares aos que vivemos hoje: opressão, violência, litígio, impunidade, suborno e juízo distorcido (Hc 1.1-4). Diante dessa lamentável situação, como nos ensina o apóstolo Tiago, a Igreja deve se comprometer com as ações sociais com o propósito de aliviar a fome, a sede, o frio e a carência do ser humano. Trabalhos sociais podem ser desenvolvidos nas mais diversas áreas, tais como: campanha de agasalhos, distribuição de sopas e cestas básicas, implantação de escolas, creches, asilos, centros de recuperação e tantas outras ações. Contudo, apesar de todo o esforço social promovido pela Igreja (que deve continuar até Cristo voltar), precisamos ter consciência de que o verdadeiro mal a ser combatido é o pecado. Como fez Habacuque e como ensina o cronista, a Igreja deve unir forças para restaurar a nação por meio do clamor e da consagração (2 Cr 7.14). Por meio de um avivamento espiritual e do combate ao pecado, o despertar da Igreja de Cristo pode corrigir e superar os problemas sociais.

1 É importante salientar que o instituto é mormente denominado de gerações ou dimensões. Contudo, o autor entende que a nomenclatura não abarrota os direitos ali garantidos. Pelo escasso espaço, bem como pela pretensão da presente obra, o autor não tratará das demais gerações dos direitos fundamentais difundidas por alguns autores constitucionais.
2 É importante salientar que o instituto é mormente denominado de gerações ou dimensões. Contudo, o autor entende que a nomenclatura não abarrota os direitos ali garantidos. Pelo escasso espaço, bem como pela pretensão da presente obra, o autor não tratará das demais gerações dos direitos fundamentais difundidas por alguns autores constitucionais.


quarta-feira, 4 de abril de 2018

CLASSE JOVENS- L 02 - A ALEGRIA PELA NOVA VIDA EM CRISTO.


O capítulo inicial de 1 Tessalonicenses pode ser natural- mente subdividido em três temáticas centrais:
1) Palavras de gratidão de Paulo. Gratidão pela vida dos cristãos emTessalônica, pela preservação da fé destes, mesmo em meio a uma situação adversa complexa, e pelo desenvolvimento espiritual daqueles irmãos;
2) Um emocionado testemunho do apóstolo sobre a fé contagiante dos  tessalonicenses. O cristianismo apregoado por Paulo e praticado pelos tessalonicenses constituiu-se como o fundamento de uma prática de vida restaurada e inspiradora; e
3) Uma síntese daquilo que Paulo compreende como natureza, desenvolvimento e finalidade do evangelho. Ao final desse primeiro capítulo de 1 Tessalonicenses, o apóstolo apresenta os elementos constitutivos do evangelho que se tornou fundamento de fé para aqueles cristãos. Analisemos, assim, pormenorizadamente, cada um desses aspectos do capítulo introdutório da epístola.

O Cristianismo como Amor Fraterno:
A Saudade de Paulo e dos Tessalonicenses
Há uma característica no ministério paulino que, já aqui no seu primeiro texto epistolar, sobressai-se de maneira bastante desta- cada: Paulo é muito mais que um pregador itinerante — figura tão comum no ambiente religioso daquela época, muito em função de uma compreensão apocalíptica daquele contexto histórico que influenciava, inclusive, o judaísmo da época1 —, ele era um plantador de igrejas, um pastor.
O comprometimento de alguém com tal vocação com as pessoas para quem o evangelho é anunciado é algo muito forte. Não basta apregoar, não é suficiente demonstrar a razoabilidade do discurso que se anuncia; é necessário mais. O comprometimento de Paulo com as comunidades que pastoreou e, em especial, Tessalônica, por ser objeto de nossa análise, envolve dedicação pessoal, atenção, acompanhamento, mentoria — em suma, discipulado. O cristianismo que Paulo apregoa àqueles irmãos não teria sentido algum se não fosse vivenciado em práticas efetivas, que resultassem em efeitos reais tanto na vida dos cristãos em Tessalônica como do próprio apóstolo. É por isso que as epístolas aos tessalonicenses podem ser lidas a partir de conceitos como, por exemplo, o anelo pela vida em comunidade ou a confiança mútua que foi estabelecida nos vários tipos e níveis de relacionamentos que são identificados nos textos — Deus para com Paulo/Paulo para com Deus; Paulo para com os membros de sua equipe mis sionária (Silvano e Timóteo)/Os auxiliares de Paulo e o apóstolo; Deus e os tessalonicenses/Os tessalonicenses e Deus; Paulo e os tessalonicenses/os tessalonicenses e Paulo; os tessalonicenses e os auxiliares de Paulo/Os auxiliares de Paulo e os Tessalonicenses. É bem verdade, como veremos capítulos a frente, que alguns relacionamentos não estavam desenvolvendo-se bem em Tessalônica; todavia, esse detalhe aponta, inclusive, para a centralidade dos conceitos de comunhão, comunidade e fé mútua nas epístolas aos Tessalonicenses. Paulo, ao referir-se a elementos básicos da fé compartilhada com os tessalonicenses, utiliza-se  exaustivamente do plural — não porque esteja em busca de auto gloriar-se por meio do uso de um plural majestático —, pois, em Tessalônica, a experiência primitiva de Atos 2.44-46 estava sendo novamente vivida.

 Entre os tessalonicenses, Jesus Cristo é nosso — nunca egoisticamente meu (1 Ts 1.3;2.19; 3.11,13; 5.9,23,28); o Deus adorado também é de todos — bem diferente das divindades mistéricas da religião greco-romana (2.2; 3.9,11,13); o evangelho não é objeto de posse exclusiva de ninguém e também é nosso (1.5); depois de anunciado o evangelho, a salvação iguala a todos; por isso, Paulo pode falar sobre verdades espirituais sempre no plural (5.5,8,10); o trabalho realizado para o Reino é de uma equipe para uma coletividade, jamais apenas de um indivíduo para outro indivíduo (2.13; 3.5); o maravilhoso resultado espiritual obtido nunca é propriedade de alguém, mas sempre um bem da comunidade (2.19,20); até os acontecimentos escatológicos que a Igreja presenciará serão numa vivência coletiva (4.15).
Paulo lembrava-se do esforço amoroso —  que havia entre os tessalonicenses (1.3). Ele era sofredor e estava disposto a enfrentar os revezes da vida para testemunhar o novo que Deus estava trazendo àquela comunidade. Não é possível seguir a Deus sem a consciência de que, diante das situações adversas, devemos vencer mediante o amor de Deus derramado em nossos corações.
Deve-se notar que, em 1 Tessalonicenses 1.3, tem-se a primeira menção das três virtudes teologais — fé, esperança e amor —, tão comuns nos textos paulinos. Sobre a tradução e interpretação desse versículo, o mesmo Hendriksen traz-nos um extenso, porém enriquecedor comentário:

As principais teorias estão melhor representadas pelas várias traduções que têm sido sugeridas, das quais, apresentamos três:
“Lembrando sem cessar” (ou outra frase semelhante):
1.     “sua obra de fé E labor de amor E paciência de esperança.”
Rejeita-se esta tradução pela simples razão de fazer pouco ou nenhum sentido. O que é mesmo uma “paciência de esperança”?
2.     “sua obra, isto é, fé E labor, isto é, amor E paciência, isto é, esperança.”
Além de haver objeções doutrinárias, rejeitamos esta porque, embora seja gramaticalmente possível, dificilmente pode ser julgada fiel à ênfase paulina. Também, o conceito “paciência, isto é, esperança”, é difícil.
3.     “sua fé atuante E amor diligente E esperança tenaz.”
Mas a ênfase aqui é colocada onde não deveria estar, pelo original. As palavras enfatizadas no original não são a fé, o amor e a esperança, e sim, trabalho, esforço (ou labor) e firmeza. A nosso ver, a construção gramatical da locução é a seguinte: Os substantivos “operosidade, diligência e firmeza” estão no genitivo objetivo e servem para completar o verbo “tendo em mente”. Portanto, a palavra sua modifica as três: sua operosidade, sua diligência, sua firmeza. Cada um desses substantivos tem um modificador no genitivo (sentido de posse). A ideia aqui é que a obra é decididamente uma obra de fé, isto é, uma obra que surge da fé, é realizada pela fé e revela fé. Não fosse a presença da fé viva, essa obra não estaria em evidência. E assim ocorre com os outros modificadores: o esforço é motivado pelo amor (e revela) amor: e a firmeza é inspirada pela esperança (e evidencia) esperança. (HENDRIKSEN, 2008, p.60)

Defendendo uma compreensão oposta a de Hendriksen, Staab afirma que:
Os primeiros frutos [dos tessalonicenses] são a fé, o amor e a esperança, que, entre os fiéis de Tessalônica, não são apenas um sentimento interior, senão uma força que penetra e preenche inteiramente suas vidas. Paulo fala da “atividade” da fé, do “esforço” do amor e da “constância” da esperança. Três termos que expressam certa gradação ascendente, como a que se dá entre as três virtudes mencionadas. A fé não chega a converter-se em força ativa senão pelo amor (Gl 5.6), e este não alcança seu fim próprio enquanto a esperança não tenha a suficiente vitalidade para poder traduzir-se em constância, resignação e confiança. (STAAB, p. 23)

Os argumentos de Staab parecem-nos mais coerentes como possibilidade de tradução e compreensão hermenêutica do que os de Hendriksen, em face de sua maior integralidade com aquilo que seria um pensamento paulino como um todo. Como se dará nos outros textos de Paulo, em que as três virtudes aparecem juntas, a ênfase conceitual dá-se nestas; sendo que as expressões adjuntas servem para qualificá-las.
A hipótese interpretativa de Staab assemelha-se muito a de Tomás de Aquino (1225–74) (2015, p.34), que, em seu comentário às epístolas aos tessalonicenses, argumenta que Paulo vê na igreja em Tessalônica uma fé operosa, um amor sofredor e uma esperança constante.
Duas naturais contra-argumentações que se podem apresentar a essa hipótese é a de que, em 1 Tessalonicenses, o pensamento paulino ainda está em contínua construção; logo, relacionar o que se afirma nesse momento do ministério de Paulo com todo o corpus paulinum seria uma inferência impossível de sustentar. Outro argumento, um tanto quanto mais radical, porém não menos plausível para alguns especialistas, é a defesa de que todo esforço de sistematização do pensamento de Paulo é uma operação completamente artificial, uma vez que cada texto tem seu contexto específico e natureza própria, não podendo, assim, haver qualquer tipo de hierarquização, interpolação conceitual ou mesmo qualquer tipo de apropriação semântica intertextual entre os textos paulinos contidos no Novo Testamento.

Os Tessalonicenses como Imitadores de Paulo e Exemplo dos Fiéis
Este caráter positivo do elemento mimético, imitativo, do cristianismo é um conceito extraído da cultura helênica e, depois, ressignificado por Paulo.4 A imitação entre os gregos e romanos tinha uma natureza absolutamente limitada, circunscrita apenas ao entretenimento ou a não criticidade. É por isso que, na Antiguidade greco-romana, há um esforço para separar a produção de conhecimento que se propaga por meio da imitação daquela que se fundamenta na reflexão.
O  imitador, é o ator que, de maneira representativa, finge ser quem ele não é. Tal natureza da mímesis pode ser exemplificada pelo uso obrigatório de máscaras nas encenações teatrais.

Como se pode perceber, a imitatio pauli tem como objetivo comunicar aos tessalonicenses um padrão de vida que se identifique com Cristo — pois, se o Mestre sofreu e foi perseguido, não há como o destino dos discípulos ser diferente. Ao contrário do que os críticos contemporâneos pretendem afirmar, a imitação na teologia de Paulo é um exercício de “depotencialização”, por meio do qual cada cristão deve assumir sua natureza frágil em si mesma, porém restaurada e fortalecida pela graça de Deus Pai.
Na verdade, o padrão não é Paulo, mas Cristo (Ef 5.1). Ao invés de um discurso hierarquizante, por meio do qual o apóstolo pudesse ascender a um nível não acessível aos demais indivíduos, aqui em 1 Tessalonicenses — assim como em outros escritos paulinos —, encontramos um Paulo que se identifica com as pessoas,
com seus sofrimentos e agruras cotidianas, convidando-as a um padrão de vida pautado na simplicidade, alegria e piedade a Deus.

O Testemunho de Paulo, a Conversão dos Tessalonicenses e a Esperança da Parusia
A parte final dessa perícope (1 Ts 1.2-10) termina com um resumo da operação do evangelho entre os tessalonicenses. Foi um movimento que apontou para o testemunho externo das cidades circunvizinhas, as convicções internas da nova igreja que a levou a romper com a ordem idolátrica vigente e as promessas futuras oriundas do evangelho anunciado. Os versículos 9 e 10 subdividem-se assim, naturalmente, em três partes:

1.     O testemunho da população de toda a Macedônia e Acaia sobre a eficácia da evangelização de Paulo e sua equipe entre os tessalonicenses. Os acontecimentos em Tessalônica tornam-se notórios para além dos limites da própria cidade. A repercussão sobre os efeitos do poder transformador do evangelho comove as cidades circunvizinhas. Essa infor- mação apresentada por Paulo corrobora a tese de que os acontecimentos entre os tessalonicenses foram divinamente guiados, a ponto de inspirar as igrejas vizinhas a manter o mesmo nível de perseverança e alegria no evangelho que aquela recém-fundada igreja desfrutava.

2.     O testemunho de Paulo sobre como a conversão dos tessalonicenses foi algo genuíno. Como já sabemos, o contexto cultural dos tessalonicenses expunha-os a um panteão, literal- mente, de deuses; as várias opções de divindades e os cultos das mais diversas naturezas impunham-se como um elemento de obstáculo ao estabelecimento de uma fé genuinamente cristã. Todavia, a experiência de salvação dos tessalonicenses foi algo tão profundo que — tal como ocorreu com os efésios (ver At 19.19) — eles resolveram abandonar publicamente a idolatria e declarar exclusivamente Jesus como Senhor. A decisão dos tessalonicenses torna-se mais radical ainda quando lembramos que o culto ao imperador romano era uma prática corriqueira e quase que imposta naquela sociedade.

Como nos afirma Green:

Os tessalonicenses haviam abraçado o evangelho anti-imperial e estavam sofrendo por sua lealdade ao “outro rei” chamado “Jesus”. Em sua correspondência com eles Paulo chama a mensagem que lhes havia pregado de εὐαγγέλιον, palavra que comumente traduzimos por “boas novas” ou “evangelho”. Naquele contexto de então este substantivo e verbo afim εὐαγγελίζομαι se usavam em referência a notícias de vitórias em guerras, as palavras de um oráculo ou as boas novas de uma boda. [...] Em Tessalônica, cidade que celebrava o poder imperial no seu templo dedicado a Júlio César e o “filho de deus” Augusto, εὐαγγέλιον soava nos ouvidos dos habitantes como as “boas novas” do culto imperial que exaltava o imperador como soberano, mas também como deus e salvador. (GREEN, 2007, p.10,11)

O rompimento dos tessalonicenses com a ordem religiosa vigente obviamente desencadeou uma série de perseguições sobre aquela jovem comunidade; porém, nem mesmo essa oposição popular e institucional que se arremeteu contra os tessalonicenses fizeram com que se desviassem do foco de servir ao Senhor Jesus apregoado por Paulo.

RETIRADO DO LIVRO DE APOIO: A IGREJA DO ARREBATAMENTO.
O Padrão dos Tessalonicenses para estes Últimos Dias  
Thiago Brazil  

CLASSE JUNIORES - L 02 - UMA CASA DE ORAÇÃO.


MATEUS 21.13
Vv. 12-17. Cristo encontrou parte do átrio do templo convertido em mercado de gado e de coisas usadas nos sacrifícios, e parcialmente ocupado por cambistas. Nosso Senhor os lançou fora daquele lugar, como havia feito ao iniciar seu ministério (Jo 2.13-17). Suas obras testificavam dEle mais que os "Hosanas", e as curas que realizou no templo foram cumprimento da promessa, de que a glória da última casa seria maior que a glória da primeira. Se Cristo viesse agora à muitas partes da sua igreja visível, quantos males secretos descobriria e limparia! Quantas coisas que são praticadas diariamente sob o manto da religião. Ele não demonstraria que são mais adequadas para um covil de ladrões do que para uma casa de oração!
COMENTÁRIO MATHEUS HENRY.

EFÉSIOS 6.18
1. Orar sempre (6.18)
Em todo tempo é tradução da expressão en panti kairo, que pode ser traduzida por “em todas as ocasiões” (NVI), “o tempo todo” (BV), “sempre” (NTLH). Kairos às vezes tem a força de circunstância especial e, por conseguinte, neste contexto, significaria “na ocasião do conflito”. O mais provável é que se refira à oração habitual e constante. Em 1 Tessalonicenses 5.17, Paulo exorta os crentes: “Orai sem cessar”. Nosso Senhor declarou que as pessoas devem “orar sempre e nunca desanimar” (Lc 18.1, BAB, NTLH, NVI). A constância em oração é imperativa para a vitória.

2. Orar no Espírito (6.18)
No Espírito não se refere ao espírito humano com sua capacidade de devoção e ardor, mas ao Espírito Santo, que é quem poderosamente inspira e intercede. Ele nos ajuda a formular as petições de acordo com a vontade de Deus (cf. Rm 8.26,27).

3. Orar com Toda Perseverança e Súplica por todos os Santos (6.18)  Vigiando  (agrypnountes) transmite a ideia militar de “manter-se alerta”. Os cristãos têm de ser vigilantes em oração, não se permitindo a indiferença. Esta é a única maneira de estarmos preparados. Perseverança está relacionada à súplica por todos os santos. Beare comenta: “A agilidade incansável do cristão deve ser mostrada especialmente na intercessão perseverante a favor de todos os seus companheiros de luta”.  A unidade na luta contra o mal é absolutamente necessária. A oração, portanto, tem de ser altruísta. Erdman  observa: “O crente luta com mais valentia e coragem quando sabe que não está só”.  E sobretudo quando ele percebe que os outros estão “firmes com ele em oração”.

COMENTÁRIO BEACON.