EXTRAÍDO DO COMENTÁRIO BEACON.
E,
tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando (1). Ele estava a caminho de Jerusalém,
pouco antes de sua Paixão. Jericó era uma próspera cidade comercial na
estrada da Peréia para Jerusalém e Egito. Estava
localizada no vale do Jordão, a cerca de 8 quilômetros do Jordão e 27
quilômetros de Jerusalém.
E eis que havia ali um homem, chamado Zaqueu; e era este
um chefe dos publicanos e era rico (2). Devido ao considerável comércio que passava por
Jericó, e à sua localização estratégica em uma importante rota comercial, e
também ao fato de ser o centro do tráfego internacional de bálsamo,
provavelmente ali se encontrava uma das maiores alfândegas daquela parte do
Império Romano. Zaqueu era o chefe dos cobrado res da alfândega em Jericó, e a
renda que obteve com esta atividade fez dele um homem rico. O nome Zaqueu é de
origem hebraica e significa "puro".
E procurava ver quem era Jesus (3). Estas palavras sugerem a curiosidade como
a razão para o seu desejo. Mas a sequência mostra que ele não
tinha um motivo mais profundo, ou que depois de ter visto Jesus ficou tão
impressionado que houve uma mu dança em seus motivos. É bem provável que pelo
menos uma parte do seu interesse tenha surgido do fato de ter ouvido algumas
das famosas observações do Senhor acerca dos publicanos.
E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava (4). Sendo pequeno em esta
tura, para poder ver acima da cabeça
daqueles que formavam a multidão em volta de Jesus, ele foi correndo até à rua
onde Jesus deveria passar para se dirigir a Jerusalém. Lá procurou e encontrou
um ponto de vantagem do qual poderia ver Jesus. A figueira brava (ou
sicômoro) em que ele subiu era o fícus-sycomorus. Seu tronco horizontal
e baixo facilitava a subida, e sua folhagem era suficiente para escondê-lo da
multidão.
E, quando Jesus chegou àquele lugar... disse-lhe: Zaqueu,
desce depressa,
porque, hoje, me convém pousar em tua casa (5)- literalmente, "é necessário que eu fique em tua
casa". Isto indica que havia no coração do Mestre um desejo interior para
ir à casa de Zaqueu. Tal desejo foi inspirado e motivado pela ansiedade de
Zaqueu em ver Jesus. Nosso Senhor sempre responde com simpatia àqueles que
procuram conhecê-lo.
Jericó era uma das cidades dos
sacerdotes, mas Jesus escolheu hospedar-se e comer na casa do chefe dos
publicanos em vez de na casa de algum sacerdote. Ele sabia que estava
escolhendo como anfitrião o homem que mais mereceu a sua presença; porém, quem
teria esperado que Ele escolhesse Zaqueu?
E,
vendo todos isso, murmuravam (7). A multidão deve ter
sido quase unânime na
reprovação
da escolha de Jesus. Sentiram que a sua atitude era uma afronta aos sacerdotes
e a outros líderes religiosos dos locais por onde Ele passara. Sua escolha era
uma aprovação visível deste homem chamado tão rotineiramente de
"pecador". Duas coisas os impediram de reconhecer o verdadeiro motivo
de Jesus. Uma era o exclusivismo cego deles, que se recusava a enxergar
qualquer coisa boa em um publicano. A outra era a incapacidade de entender como
Jesus poderia se associar com pecadores sem se contaminar.
E... Zaqueu, disse... Senhor, eis que eu dou aos pobres
metade dos meus
bens;
e, se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplica do (8). Aqui vemos tanto um verdadeiro espírito generoso como o
desejo genuíno de reparar qualquer erro do passado. As duas atitudes refletem
uma mudança de coração. O discurso de Zaqueu não foi dirigido à multidão, mas a
Jesus. Não era um esforço para convencer as pessoas de que ele era sincero. Ao
invés disso, era uma resposta não preme ditada, espontânea, de um coração que
se tornara limpo, e de um espírito que se tornara novo e que havia recebido a
vida eterna.
A generosidade de Zaqueu é vista na oferta da metade da
sua riqueza àqueles que
eram menos afortunados do que ele. A
oferta da restituição quadruplicada mostra que ele estava extremamente desejoso
de reparar os seus erros. Zaqueu era indubitavelmente culpado de algumas
injustiças nas cobranças da alfândega - isto pode ser constatado pelo fato de
ele mesmo ter abordado o assunto. De qualquer forma, não é provável que ele
fosse cruel, ou que tivesse obtido a maior parte de sua riqueza de forma
desonesta, como é acusado tanto pelos judeus daqueles dias como por muitos
pregadores atuais. Se tivesse conseguido toda a sua riqueza por intermédio da
desonestidade, como muitos sugerem, ele não teria dinheiro suficiente para
restituir quatro vezes mais.
E disse-lhe Jesus: Hoje, veio a salvação
a esta casa (9). Um
pecador em busca do Salvador se encontra com o Salvador que está em busca do
pecador. Com verdadeiro arrependimento, o homem encontrou a salvação pessoal.
Estas palavras graciosas do Mestre eram uma garantia da salvação de Zaqueu, uma
proclamação em sua defesa diante da multidão, e uma promessa a todos os homens,
em todos os lugares, e em todas as épocas, de que Jesus Cristo salva os
pecadores.
Pois também este é filho de Abraão. Esta era uma lembrança àqueles judeus
cheios de justiça própria, de que Zaqueu, também, era um judeu, um descendente
de Abraão. Estas palavras também eram um anúncio de que Zaqueu tinha, agora, de
uma forma nova e viva, se tornado filho de Abraão, o "pai dos fiéis".
Por meio do novo nasci mento, ele era agora um filho espiritual de Abraão e um
membro do novo Israel.
Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se
havia perdido (10).
Aqui
temos uma declaração do próprio Senhor Jesus sobre o maior propósito de sua
vinda a este mundo. A verdade desta afirmação universal é o fundamento da
garantia dada a Zaqueu no versículo anterior.
O bispo Ryle sugere várias lições a
serem aprendidas por meio deste episódio: 1) Ninguém é tão mau que não
possa ser salvo, e não há ninguém que esteja além do poder da graça de Cristo;
2) Como são pequenas e insignificantes as coisas que impedem a salvação da
alma! 3) A sincera e voluntária compaixão de Cristo pelos pecadores, e o poder
que Cristo tem para transformar corações; 4) Os pecadores convertidos sempre darão evidências de sua conversão.
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