Deus é maior que todos os deuses (11); nada se
iguala à sua glória, santidade e poder. Esta é a primeira menção explícita da
santidade de Deus no Antigo Testamento (cf. 3.5) ( BEACON pag 164
v.02)
segunda-feira, 23 de julho de 2018
quarta-feira, 18 de julho de 2018
SUBSIDIO LIÇÃO 04 - A FUNÇÃO SOCIAL DOS SACERDOTES
Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
Autor: Claudionor de Andrade.
INTRODUÇÃO
Neste capítulo,
mostraremos por que as ordenanças de Levítico fizeram de Israel o povo mais
avançado na área médica, urbanística e jurídica de todo o Oriente Médio. Não
exageraremos se considerarmos os hebreus, nesse mesmo período, mais adiantados
do que os chineses, egípcios e babilônios. Quanto aos gregos e romanos, ainda
lutavam por se firmarem como civilização.
Acredito que, sem as
orientações levíticas, o Ocidente jamais teria alcançado o seu atual estágio de
desenvolvimento. A razão é bastante simples. A Igreja Cristã, ao fazer uso da
Bíblia Sagrada, jamais deixou de aplicar os princípios mosaicos ao seu dia a
dia. Não quero dizer, com isso, que os teólogos patrísticos e medievais
porfiaram em judaizar a sociedade na qual estavam inseridos. Mas, sabiamente,
souberam como separar os mandamentos específicos a Israel daqueles que devem
ser observados por todos os povos. E, dessa forma, lançaram os alicerces da
Civilização Ocidental.
Acompanhemos, pois, o
processo de santificação dos israelitas. Esse processo, aliás, não contemplava
apenas a interioridade humana, mas também a sua exterioridade, porque esta
deveria ser um reflexo perfeito daquela. Para que isso ocorresse, a
Universidade Levítica fez-se indispensável.
I. A UNIVERSIDADE
LEVÍTICA
Ao separar os levitas
para servirem como sacerdotes e ministros do altar, Deus lançava, naquele
instante, os alicerces de uma instituição que faria dos hebreus o povo mais
civilizado do mundo. Vejamos em que consistia a epistemologia dessa entidade
que, com muita justiça, poderia ser chamada de Universidade Levítica.
1. Teologia, a
verdade sobre o único Deus. Os sacerdotes levitas, por serem os grandes mestres
e catedráticos de Israel, partiam de um pressuposto que faz toda a diferença no
campo filosófico, científico e literário: Deus existe. Mas, ao contrário dos
deístas atuais, acreditavam eles que Deus não se limitou a criar os Céus e a
Terra, mas continua a preservá-los e a intervir em todos os seus negócios, pois
Ele é o Senhor de todas as coisas (Gn 1.1).
A teologia levítica
não se embasava em meras teorias ou simples assentimentos intelectuais;
firmava-se em algo profundo e experimental: o temor de Deus. Como diria mais
tarde o sábio rei de Israel, “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os
loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7, ARA).
Tendo esse texto de
ouro como a pedra de esquina de sua epistemologia, os levitas avançaram nos
mais diversos campos das ciências e saberes humanos.
Façamos uma pausa, a
fim de explicar o que é a epistemologia. Essa palavra é formada por dois
vocábulos gregos: episteme, conhecimento, ciência; e logos, estudo, ou discurso
racional. A epistemologia, portanto, é a reflexão em torno da natureza,
estágios e abrangências do conhecimento produzido, adquirido e transmitido pelo
homem.
2. Cosmologia, o
Universo é de Deus. Os sacerdotes do Senhor não se perdiam em teorias loucas e
bizarras acerca do aparecimento dos Céus e da Terra. Eles sabiam que, no
princípio, Deus criara tudo quanto existe. Se tudo quanto existe é criação
divina, depreende-se logo que somente o Criador é quem deve ser adorado; não a
criatura. Tal proposição é fundamental para se estabelecer uma epistemologia
segura, eficaz e que conduza o ser humano ao progresso.
Quando os levitas
oficiavam a Deus, apresentando-lhe alguma oferenda ou dom, sabiam estar
reconsagrando-lhe algo que já lhe pertencia. Por isso, tratavam a Terra não
como a deusa intocável dos gregos, nem como a mãe caprichosa dos ecologistas
atuais; tratavam-na como criação divina. Tinham eles ciência suficiente para
entender que a Terra fora criada por causa do homem, e não o homem por causa da
Terra. Que esta, pois, seja o santuário do Senhor, pois do Senhor é a Terra (Sl
24.1).
3. Antropologia, o
homem é a imagem de Deus. Já imaginou se os levitas tivessem sido educados por
Charles Darwin (1809-1882)? Como iriam eles tratar os filhos de Israel a partir
de uma antropologia bizarra, fantasiosa e sem a mínima base científica? Mas,
sabendo eles que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, jamais
deixariam os hebreus embrenharem-se nas promiscuidades egípcias, cananeias e
mesopotâmias. Todos eles porfiavam por serem reconhecidos como o povo escolhido
do Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
Eis porque os
sacerdotes do Senhor obrigavam-se a cuidar tanto da interioridade quanto da
exterioridade dos hebreus. Eles estavam cientes de que Deus exigia de seu povo
santidade, pureza e distinção. Todos deveriam ser santos, porque Santo é o Senhor.
Diante de tal reivindicação, como devemos nós, hoje, proceder? Que o Espírito
Santo nos ajude a ter uma vida irrepreensível perante Deus e diante dos homens.
Como seria bom se os
médicos e os demais profissionais de saúde tivessem uma antropologia realmente
bíblica. A partir dessa perspectiva, tratariam melhor seus pacientes, pois
nestes veriam a imagem e a semelhança do Criador. E, assim, seriam banidos das
universidades e dos hospitais experimentos cruéis e desumanos como aqueles
realizados pelos alemães e japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.
4. Direitos e
deveres. Os sacerdotes do Senhor, orientados pelos Dez Mandamentos e pelas
demais ordenanças do Pentateuco, foram além dos mestres e juristas da
antiguidade. Se Hamurabi, por exemplo, que viveu por volta do século XIX a.C.,
teve uma influência meramente local, o código levita fez-se universal; eterno.
E, hoje, em não poucos tribunais, encontramos uma cópia dos Dez Mandamentos.
Se compararmos a Lei
de Moisés à de Dracon ou à de Solon, ambos legisladores gregos do século VII
a.D., constataremos que estes jamais lograram alcançar a excelência da
legislação que Deus, por meio de Moisés, entregara aos levitas. Por isso, devem
os sacerdotes ser vistos como os juristas, advogados, promotores e juízes de
Israel. Além disso, lançaram a base jurídica da civilização ocidental.
5. Contrastes entre a
Universidade Levítica e a Faraônica. Antes de encerrarmos este tópico, faremos
um pequeno contraste entre a academia egípcia, formada, em sua maior parte, por
magos e astrólogos, e a hebreia, representada pelos levitas. A egípcia, apesar
de suas notáveis conquistas científicas, centrava-se em ciências ocultas e
duvidosas (Êx 7.11). Quanto à hebreia, tinha à sua disposição não os
conhecimentos escondidos e entretecidos nas profundezas de Satanás, mas o saber
verdadeiro que o próprio Deus revelara a Moisés e ainda mostraria aos profetas
que viriam depois do grande legislador.
Por essa razão, quem
hoje se interessa pelas ciências egípcias dos magos e astrólogos de Faraó? No
entanto, a Bíblia Sagrada é lida todos os dias do Ocidente ao Oriente como a
inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.
II. O INÍCIO DOS
HOSPITAIS MODERNOS
Parece que os médicos
egípcios existiam apenas em função dos faraós. Quanto ao povo, que se arrumasse
com as suas doenças, moléstias e enfermidades. No que tange aos levitas,
observamos que estes, apesar de não serem médicos profissionais, dedicavam-se
desvelada e sagradamente aos cuidados preventivos da saúde hebreia. E, assim,
vieram a lançar as bases dos modernos hospitais.
1. O hospital, a Casa
do Bom Samaritano. Na língua alemã, a palavra “hospital” tem um significado
interessante e que, em sua essência, revela um pouco da filosofia pagã. O termo
Krankenhaus significa, etimologicamente, casa do enfermo.
Se buscarmos a
etimologia da palavra “hospital”, descobriremos não somente um novo significado
linguístico, mas também uma renovada filosofia. O termo, proveniente do latim
medieval, vem de hospes que, naquele período, significava “hospedeiro” ou
“hospede”. A partir daí, nasceu o vocábulo “hospital”: local onde os viajantes
eram bem recebidos e muito bem cuidados. Com o tempo, devido à influência da
Igreja Cristã, o hospital começou a ser visto não mais como uma simples
hospedaria, mas como um lugar para se acolher os enfermos.
Em seus primórdios, o
hospital não era uma casa de enfermo ou de enfermidade, mas um lugar onde o
hóspede, se enfermo, podia receber cuidados médicos. A parábola do Bom
Samaritano é um quadro que ilustra muito bem a fundação dos hospitais como hoje
os conhecemos. Nessa belíssima narrativa, observemos algo muito importante. Os
desvelos ministrados pelo samaritano àquele pobre homem refletiam, de certa
forma, as funções de um sacerdote levita. Se bem que tanto o sacerdote como o
levita, nessa narrativa, embora até possuíssem alguma ciência médica, passaram
de largo e ignoraram o seu paciente.
Segundo a história, o
primeiro hospital moderno foi estabelecido, em 370 d.C., na cidade de Cesareia,
como resultado de um benévolo édito imperial. Mais tarde, Basílio, o Grande
(329-379), recomendou a criação de hospitais, tendo como referência um famoso e
eficiente hospital de Roma. Não nos esqueçamos da Ordem dos Hospitalários que,
apesar de sua forte vocação militar, não deixou de cuidar dos peregrinos que se
dirigiam à Terra Santa.
Na história de
Israel, as práticas clínicas dos levitas precederam a medicina. É o que podemos
inferir do texto sagrado. A seguir, vejamos como os sacerdotes cuidavam da
saúde dos hebreus, não propriamente curando-lhes as enfermidades, mas
prevenindo-as. Esse cuidado torna-se mais visível em relação à lepra que,
naquele tempo, além de ser uma doença incurável, era socialmente repulsiva.
2. Lepra, o símbolo
do pecado. Libertos de uma terra idólatra e insalubre, os israelitas corriam o
risco de transmitir à próxima geração enfermidades como a lepra, a doença mais
repelente da antiguidade (Dt 7.15). Por isso, Deus encarregou os sacerdotes de
inspecionar clinicamente o seu povo. Nos tempos bíblicos, a lepra causava repulsa
devido ao seu aspecto e contágio (Lv 13.2). Se Deus não a curasse, médico algum
poderia fazê-lo. Haja vista o caso do general sírio Naamã (2 Rs 5.1-14). O
Senhor Jesus, durante o seu ministério terreno, curou a diversos leprosos e
ordenou a seus discípulos a que os purificasse (Mt 10.8; 11.5).
3. A inspeção
clínica. Em sua peregrinação à Terra Prometida, os israelitas não contavam com
médicos e sanitaristas. Era um luxo restrito aos nobres egípcios (Gn 50.2).
Portanto, sempre que alguém apresentava algum dos sintomas da lepra, deveria
encaminhar-se ao sumo sacerdote para ser examinado (Lv 13.1-30). De acordo com
o diagnóstico, o paciente era declarado limpo ou impuro. Se constatada a
doença, o enfermo era imediatamente apartado da comunidade (Lv 13.46).
4. A limitação do
sacerdote. Os sacerdotes, por conseguinte, encontravam-se habilitados a
diagnosticar, mas não a curar os leprosos; era uma função mais preventiva que
curativa. O próprio Senhor Jesus reconheceu a perícia do sacerdote na diagnose
da enfermidade (Lc 5.14).
Durante o seu
ministério terreno, o Senhor Jesus, louvado como o Médico dos médicos, admitiu
a utilidade dos médicos humanos. Embora limitados e, às vezes, até inúteis
diante de algumas situações, eles aí estão para aliviar-nos a dor (Mt 9.12).
Pelo que deduzimos desta saudação tipicamente paulina, Lucas era um médico mui
amado entre os cristãos primitivos (Cl 4.14).
III. O INÍCIO DA
URBANIZAÇÃO MODERNA
Às vezes, pergunto-me
por que uma cidade como o Rio de Janeiro, que já foi alcunhada de maravilhosa,
possui tantas mazelas urbanísticas. Ao lado de condomínios, que vivem no luxo,
há comunidades que tentam sobreviver do lixo e no lixo. Dessa forma, vemos
proliferar doenças que, há mais de um século, já haviam sido debeladas. No
Israel do Antigo Testamento, tal situação era inadmissível.
1. O urbanismo e o
sanitarismo do sacerdócio levítico. O urbanismo é a disciplina relacionada ao
estudo, regulação, controle e planejamento da cidade. Nessa ciência, não se
pode confundir urbanismo com ação urbanizadora. Se esta não promover a melhoria
de vida da população não é urbanismo; é mera preocupação estética. A cidade,
pois, antes de ser bonita, tem de ser saudável.
O urbanismo deve
caminhar de mãos dadas com o sanitarismo. Modernamente, o sanitarismo,
conhecido também como higienismo, é conhecido como a ciência que tem por
objetivo promover a saúde pública. A menos que tenhamos uma população saudável,
qualquer projeto urbanístico, por mais belo e aprazível, será inútil. Eis por que
Deus recomendou aos sacerdotes que zelassem pela saúde de seu povo.
De acordo com as leis
urbanas que encontramos no Levítico, a urbanização de Israel deveria começar de
dentro para fora; do interior das casas ao centro da cidade. Se uma casa estava
doente, todos os demais domicílios corriam perigo; a epidemia era eminente.
Vejamos, pois, como agiam os sacerdotes na fiscalização urbana de Israel.
Aliás, a sua função incluía, também, o sanitarismo.
2. A função urbanista
e sanitarista dos sacerdotes. Apesar de ser a terra que mana leite e mel,
Canaã, por causa dos povos que a habitavam, tornara-se tão doentia e
insustentável quanto o Egito (Lv 14.34). Até suas casas e vestes estavam
sujeitas a uma espécie de lepra, fatal aos israelitas.
Por isso, Deus
instruiu os sacerdotes a atuarem também como sanitaristas e urbanistas.
3. A função
sanitarista do sacerdote. O sanitarista é um especialista em saúde pública; sua
função é mais preventiva do que curativa. Sua obrigação é manter a cidade livre
de focos de doenças e infecções. Por isso, os sacerdotes, em Israel,
inspecionavam casas e roupas (Lv 14.34-57).
4. A lepra na casa. A
lepra numa casa é descrita como manchas esverdinhadas e avermelhadas que, via
de regra, pareciam mais fundas que a parede (Lv 14.37). Sempre que isso
ocorria, o proprietário deveria recorrer ao sacerdote que, após examiná-la,
ordenava o seu despejo, para que a praga não se espalhasse, contaminando toda a
propriedade (Lv 14.36).
Em seguida, a casa
era interditada por sete dias (Lv 14.38). Caso a praga não cedesse, as pedras
contaminadas eram retiradas e as paredes todas eram raspadas. Em último caso, o
sacerdote tinha autoridade para ordenar a demolição do imóvel (Lv 14.45). Para
que a lepra não contaminasse outras propriedades, todo o seu entulho era jogado
fora do perímetro urbano.
5. A lepra nas vestes.
As vestes e objetos domésticos também estavam sujeitos à lepra. No caso destes,
tratavam-se de mofos e fungos igualmente nocivos à saúde (Lv 13.47-50). De
imediato, a roupa deveria ser levada ao sacerdote (Lv 13.51). Caso a praga se
mostrasse persistente, a roupa deveria ser queimada, a fim de evitar a
propagação de doenças (Lv 13.52).
Deus advertiu
solenemente os israelitas a guardarem-se da praga da lepra, pois a doença abria
a porta a outras enfermidades e moléstias (Dt 24.8). Era um dos mais fortes
símbolos do pecado (Is 1.6).
IV. A ESTRUTURA
JURÍDICA DE ISRAEL
No Israel dos
sacerdotes e levitas, o direito estava sempre ao alcance dos pobres, porque a
Lei de Deus havia sido proclamada a toda a nação, e não apenas a uma minoria
privilegiada. Ali, pobres e ricos, pequenos e grandes, nobres e plebeus; todos,
enfim, estavam sujeitos aos mandamentos divinos. Não havia minoria
privilegiada, nem maioria ignorada; eram todos iguais diante da Lei de Deus.
1. A função judicial
dos sacerdotes. Judicialmente, o livro de Levítico apresenta várias
disposições, a fim de proteger a família, a propriedade privada e,
principalmente, a vida humana. Nesse sentido, o sacerdote atuava também no
campo jurídico. No Israel do Antigo Testamento, não havia uma lei-maior para
dirigir o país; uma espécie de constituição. Ali, toda a Palavra de Deus
funcionava como a ordenança que não podia ser ignorada quer pelo rei, quer pelo
plebeu. E, para zelar pelo fiel cumprimento dos estatutos divinos, os
sacerdotes e demais levitas faziam-se presentes.
2. Proteção da
família. Com o objetivo de manter a pureza e a legitimidade no relacionamento
familiar, o Senhor, por intermédio de Moisés, proíbe aos israelitas: o
sacrifício infantil (Lv 20.2); o incesto, (Lv 18.6-9); o abuso sexual doméstico
(Lv 18.10); a exposição das filhas à prostituição (Lv 19.29); o homossexualismo
e a bestialidade (Lv 18.22,23). Os israelitas, como adoradores do Único e
Verdadeiro Deus, eram obrigados a honrar seus pais e a preservar-lhes a
autoridade (Lv 19.3; 20.9).
3. Proteção da
propriedade privada. A posse de uma propriedade, em Israel, era considerada
algo sagrado; uma dádiva de Deus ao seu povo (Êx 3.7,8). Por esse motivo, os
israelitas deveriam tratar suas casas e campos de maneira responsável e amorosa
(Lv 19.9). As colheitas eram feitas de tal maneira, que os pobres jamais
deixavam de ser contemplados (Lv 23.22).
Sendo, pois, a terra
propriedade do Senhor, não poderia ser explorada de maneira irresponsável e
contrária à natureza (Lv 25.3,4). Do texto sagrado, depreendemos que o
sacerdote tinha por obrigação supervisionar o uso sustentável da terra.
A propriedade da
terra não era considerada roubo, conforme diria o francês Pierre-Joseph
Proudhon (1809 – 1865), mas uma herança pela qual valia a pena lutar (1 Rs
21.3). No Israel de Deus, os governantes não se digladiavam hoje pela esquerda,
e, amanhã pela direita; punham-se todos no centro da vontade divina.
Ali, nas terras do
Senhor, não havia lugar para o comunismo assassino e mentiroso, nem para o
fascismo desumano e cruel, pois a Lei de Moisés supria todas as carências e
lacunas sociais. E, quando do advento da injustiça, Jeová enviava os seus
mensageiros que, corajosamente, clamavam contra a opressão, o roubo, o crime e
a infidelidade doméstica.
4. Proteção da vida.
Também estava sob o encargo do sacerdote a inspeção das casas (Dt 22.8) e da
criação de animais (Êx 21.36). A mulher grávida recebia proteção especial (Êx
21.22). Enfim, a vida na sociedade judaica era e é sagrada; um dom do Criador
(Nm 16.22). Por isso, Deus determina no Sexto Mandamento: “Não matarás” (Êx
20.13). Mencionemos ainda as cidades de refúgio que, administradas pelos
levitas, serviam para acolher o que, sem o querer, matava alguém (Nm 35.10-15).
Oremos, para que o
nosso país seja realmente justo e misericordioso. Não nos faltam leis, nem
legisladores, nem juízes. Ei-los pelos tribunais; ei-los saindo das faculdades
e academias. Todavia, falta-nos o temor do Senhor, sem o qual não pode haver
princípio algum de sabedoria. É chegado o momento de rogarmos ao Senhor que nos
cure a terra. Achamo-nos tão enfermos, hoje, quanto o Israel dos tempos de
Isaías (Is 1.1-9). Neste momento, conscientizemo-nos de nossa responsabilidade
como sal da terra e luz do mundo.
Conforme profetizou
Malaquias, a aliança do Senhor com a tribo de Levi era firme e bem conhecida de
todo o Israel. Nesse sentido, seus descendentes deveriam ser o mais alto
referencial da nação no que tange à Lei de Moisés, à instrução e à
administração da justiça (Ml 2.4-7). Infelizmente, os sacerdotes não souberam
como guardar o concerto levítico.
Se o Senhor exigiu
excelência e correção dos levitas, no Antigo Testamento, como devemos nós agir?
Que o nosso culto seja marcado pelo amor e pela não conformação com este mundo.
Nós, obreiros de
Cristo, temos de ser um padrão na sã doutrina, segundo recomenda o apóstolo:
“Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade,
reverência” (Tt 2.7, ARA). Ainda que não sejamos sacerdotes como os filhos de
Levi, nossa responsabilidade, diante do povo de Deus, não é menor. Se o Senhor
exigiu deles excelência, o que não exigirá de nós, seus despenseiros? Ou será
que já não tememos ser reprovados no Tribunal de Cristo? Que o Senhor nos
ajude.
sábado, 14 de julho de 2018
Lição 3 - Os Ministros do Culto Levítico
Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
Autor: Claudionor de Andrade.
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, faremos algumas considerações acerca do chamado extraordinário dos levitas ao ministério sacerdotal de Jeová. Logo de início, buscaremos responder à pergunta: “Por que a escolha recaiu sobre Levi, se esta tribo não era a mais excelente de Israel?”. Em seguida, contemplaremos outra questão igualmente importante: “Não teria sido mais consensual se Moisés houvesse selecionado os ministros do altar dentre os melhores homens de cada tribo?”.
Antes, porém, de nos ocuparmos dessas questões, trataremos de uma temática comum às comunidades divinas de ambos os Testamentos: o serviço a Deus. Afinal, todos fomos chamados a servir ao Criador, pois Ele nos fez e dEle somos.
Portanto, ainda que não sejamos chamados a trabalhar num ministério específico, não poderemos ficar inativos; na Vinha do Senhor, há um trabalho para cada um de nós. Às vezes, o nosso afazer nem lembra um ministério, devido à sua pequenez e aparente insignificância. Mas, se é feito para Deus, jamais deixará de ter a glória e o galardão de ministério.
Feitas essas considerações, voltaremos às perguntas que deram ocasião à abertura deste capítulo. Que Deus nos ajude.
I. DIACONOLOGIA, A TEOLOGIA DO SERVIÇO DIVINO
Em qualquer diálogo teológico, precisamos levar em conta este pressuposto básico: “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1, ARA). A partir daí, conscientizar-nos-emos de que, neste mundo, devemos atuar como servos humildes e fiéis a Deus, e não como soberanos e ditadores; tudo pertence ao Senhor, inclusive você e eu, querido leitor. Eis a essência do que chamamos de diaconologia.
1. Etimologia e definição. A palavra “diaconologia” provém de dois vocábulos gregos: diáconos: servo ou ministro; e logos: tratado ou discurso racional. Portanto, a diaconologia é a seção da teologia bíblica que se aplica ao estudo do serviço consagrado ao Reino de Deus.
Tal serviço não compreende apenas o esforço dos membros do ministério santo; reclama também o concurso de todos os que foram chamados à vida eterna.
2. A diaconologia no Antigo Testamento. No período do Antigo Testamento, a diaconologia divina repousava sobre o tripé: rei, sacerdote e profeta. Todavia, em momentos de emergência nacional, todo o povo erguia-se como um só homem (1 Sm 11.7). Nessas ocasiões, não se fazia distinção entre o clero e o laicato – todos, sem exceção, identificavam-se como povo de Deus. Mas, com a burocratização do serviço divino, a nação hebreia fragmentou-se de tal forma, que a união do povo com a classe dirigente tornou-se impossível.
A maior expressão da diaconologia vétero-testamentária deu-se na construção do Tabernáculo. Apesar das agruras do deserto, o povo atendeu prontamente ao apelo de Moisés, trazendo-lhe não apenas matérias-primas como ouro, prata, madeira e essências aromática, como também mão de obra especializada. Nesse serviço, os hebreus mostraram-se de tal forma liberais e generosos, que Moisés foi obrigado a proibi-los de trazer-lhe mais oferendas (Êx 36.6).
Nunca mais se repetiu, em Israel, tal exemplo de diaconia. Foi um exemplo único no Antigo Testamento.
3. A diaconologia no Novo Testamento. Nos Atos dos Apóstolos, as ações evangelísticas e missionárias não se limitavam ao colégio apostólico; ilimitavam-se nas intervenções de diáconos como Estêvão e Filipe e dos crentes anônimos que, aonde iam, espalhavam as Boas-Novas de Cristo.
O mais perfeito exemplo de diaconia do Novo Testamento é assim descrito por Lucas:
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos. (At 2.42-47)
Tendo por base o relato lucano, concluímos que a diaconia da Igreja Primitiva estava longe de ser um ativismo social. Em primeiro lugar, era essencialmente teológica, uma vez que os crentes só vieram a doar seus bens depois de se haverem fundamentado na doutrina dos apóstolos. Em segundo lugar, era litúrgica e orante: acompanhavam-na a celebração da Santa Ceia e as preces cotidianas. E, finalmente, era marcada por uma profunda koinonia: todos, possuindo tudo em comum, depositavam o resultado de suas ofertas e despojamentos aos pés dos apóstolos. Acrescentemos, ainda, que a diaconia de Atos dos Apóstolos era fortemente soteriológica; redundava na salvação de almas.
Ao contrário da diaconologia de muitos ramos da cristandade atual, quer do catolicismo romano, quer do protestantismo nominal, que resultaram em ações pastorais contrárias às Sagradas Escrituras, a diaconia da Igreja Primitiva teve como fruto imediato a expansão do Reino de Deus.
Feitas essas considerações, voltemo-nos agora ao ministério levítico que, em si, representava formal e essencialmente a diaconologia do Antigo Testamento.
II. O CHAMADO DE LEVI EM ABRAÃO
O autor da Epístola aos Hebreus, inspirado pelo Espírito Santo, teve um discernimento excepcional quanto à chamada de Levi ao ministério sagrado. Conforme veremos, o terceiro filho de Jacó fora chamado a servir como sacerdote antes mesmo de nascer.
1. A presença de Levi na celebração de Melquisedeque. Segundo vimos no capítulo anterior, o encontro de Abraão com Melquisedeque, rei de Salém, constituiu-se na maior celebração divina do Antigo Testamento (Gn 14.18-20).
Nessa ocasião, de acordo com o autor sagrado, Levi, bisneto de Abraão, ali esteve presente nos lombos de seu avoengo: “Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo tirado dos melhores despojos. E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste” (Hb 7.4,9,10).
Na presciência de Deus, Levi já havia sido escolhido mesmo antes de nascer. Sua diaconologia, como sacerdote transitório dos bens que serviriam de sombra aos eternos, consistiria em servir ao sacerdócio eterno de Melquisedeque, que, naquele momento, representava o Senhor Jesus Cristo.
2. A importância de Levi no Concerto Sagrado. Se lermos o capítulo 14 de Gênesis, à luz de Hebreus 7, concluiremos que, no âmbito da diaconologia do Antigo Testamento, o patriarca Levi foi mais importante do que Isaque, Jacó, Judá e o próprio José. Tais varões, apesar de sua importância na formação e preservação do povo escolhido, jamais tiveram acesso ao sacerdócio litúrgico.
Mas, ao acompanharmos a biografia de Levi, ficamos sem entender por que o patriarca, que nem primogênito era de Jacó, alcançaria tanta preeminência no decorrer da História Sagrada.
III. O CARÁTER FORTE E CONSERVADOR DE LEVI
Só viremos a entender a pessoa de Levi, se nos detivermos em sua biografia que, a rigor, nem biografia pode ser considerada. No entanto, o que a narrativa sagrada revela acerca de sua juventude e velhice é suficiente para formarmos uma imagem de seu caráter.
1. O nascimento de Levi. Levi, ao contrário de José, não era filho de Raquel, a esposa sempre querida e predileta de Jacó. Quando de seu nascimento, Lia, sua mãe, ainda ressentida por ter sido preterida em relação à irmã, desabriu toda a sua mágoa: “Agora, desta vez, se unirá mais a mim meu marido, porque lhe dei à luz três filhos” (Gn 29.34). Por isso, deu-lhe um nome que reunia esperança e redenção: Levi, que, em hebraico, significa ligado, unido ou vinculado.
Pelos usos e costumes da época, o menino já estava destinado, desde o ventre, a uma vida comum, medíocre e sem ascendência no clã. Afinal, além de não ser o primogênito, era o terceiro filho de uma mulher que, no coração do marido, estava longe do primeiro lugar.
2. O episódio de Diná. O caráter forte, conservador e moralista de Levi aflorou quando do estupro de Diná. Após tramar, juntamente com Simeão, a ruína da família de Siquém, o jovem que abusara de sua irmã, justificou o seu ato com uma alegação que, ainda hoje, reflete os costumes de alguns clãs: “Abusaria ele de nossa irmã, como se fosse prostituta?” (Gn 34.31).
O autor sagrado não deixa claro se tais palavras foram proferidas por Levi. Mas, tendo em conta a história de seus descendentes, entendo que tal discurso é mais apropriado a Levi do que a Simeão. Em termos morais, aliás, Simeão era nada recomendável. Talvez, por isso mesmo, José o manteria preso no Egito, ao receber a primeira visita de seus irmãos (Gn 42.24).
3. O episódio de José. Da história de José, inferimos que Levi estivera tão envolvido na venda do jovem sonhador quanto os outros irmãos. O que ele fez para livrar o caçula? Embora fosse o terceiro filho em responsabilidade moral, agiu, naquele momento, como Caim: “Acaso sou eu o guardador de meu irmão?”.
Portanto, se fôssemos analisar a vida de Levi, até aqui, jamais poderíamos referendar-lhe o nome como o chefe da tribo sacerdotal de Israel. Mas Deus, que nos sonda as intenções mais profundas, age doutra forma; usa as coisas que não são, para confundir as que são.
4. A bênção de Levi. Estando já próximo da morte, Jacó reúne seus filhos para abençoá-los e profetizar-lhes o futuro na História Sagrada. Das palavras do velho patriarca ao terceiro filho, logo concluímos que, para Levi, não haveria futuro ou promissão:
Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel. (Gn 49.5-7)
Naquele momento, o moribundo Jacó jamais poderia vir a imaginar que o seu terceiro filho erguer-se-ia, séculos depois, como o sacerdote de toda a sua família. Levi, devido ao seu furor, foi disciplinado. Em Israel, espalhou-se; nenhuma herdade jamais. Todavia, a maldição seria revertida em bênçãos. A sua única herança, agora, era o Deus de Abraão.
IV. LEVI, UMA FAMÍLIA DE NOBRES
Seja-me permitido dizer que Levi, apesar de seu furor juvenil, amadureceu e soube como educar seus filhos. Acredito que, dentre todas as tribos hebreias, a mais piedosa e espiritual era a dos levitas, pois destes o Senhor chamaria o Legislador, o Sumo Sacerdote de Israel. Não nos esqueçamos dos cantores e músicos saídos desse abençoadíssimo clã.
1. Moisés, o legislador dos hebreus. Se estivéssemos à beira da cama do moribundo Jacó, a ouvir-lhe as profecias quanto ao futuro de seus filhos, jamais poderíamos supor que, de Levi, tão censurado quanto Simeão, sairia um Moisés, um Arão, uma Miriã e, mais tarde, um Barnabé, fazedor de missionários. Talvez, ali, ao pé daquele leito terminal, imaginássemos que Moisés viria de Judá, a tribo do cetro; Arão proviria de José, o ramo frutífero; e Miriã seria gerada por Naftali, a tribo das palavras formosas. E quanto a Barnabé? Talvez de Zebulon, uma gente dada ao mar e às viagens ao desconhecido.
Mas, surpreendendo a todas as expectativas, Deus suscitou o maior profeta do Antigo Testamento da tribo de Levi, conforme lemos no Êxodo:
Foi-se um homem da casa de Levi e casou com uma descendente de Levi. E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que era formoso, escondeu-o por três meses. Não podendo, porém, escondê-lo por mais tempo, tomou um cesto de junco, calafetou-o com betume e piche e, pondo nele o menino, largou-o no carriçal à beira do rio. (Êx 2.1-3)
Da frágil arcazinha, levada pelas águas do Nilo, o Senhor chama o libertador de seu povo. Essa família levita, por sua coragem e bravura, entra na História Sagrada como heróis da fé (Hb 11.23).
2. Arão, o sumo sacerdote de Israel. Da família de Anrão e Joquebede, o Senhor vocacionaria ainda o sumo sacerdote de Israel (Êx 6.20). Três anos mais velho que Moisés, ajudou-o a organizar Israel como nação santa, sacerdotal e profética. Mais adiante, veremos como se deu a sua vocação ao ministério sacerdotal. Volto a repetir que nem mesmo Levi, em sua mais profunda comunhão com o Senhor, fora capaz de imaginar que, de seus lombos, o Senhor levantaria os mais ilustres personagens do Antigo Testamento.
3. Miriã, a profetisa de Israel. Miriã, irmã de Moisés e Arão, reunia três virtudes à execução de um trabalho extraordinário: profecia, poesia e vocação celibatária (Êx 15.20,21). Ao contrário de seus irmãos, ela não constituiu família, pois a sua família eram Arão e Moisés, mais novos do que ela. E, pelo que inferimos da narrativa sagrada, ela esteve ao lado de ambos até que Deus a tomou para si.
Apesar do lamentável episódio de Números 12, Miriã entrou para a História Sagrada como um exemplo de coragem, audácia e sabedoria. Deus usou-a para salvar o infante Moisés das garras de Faraó. Em seus lábios, havia um cântico de vitória; era uma mulher de Jeová. O que mais diremos dos descendentes de Levi? Hoje, não são poucos os judeus que trazem, no nome, tão ilustre ascendência. E, no período do Milênio, conforme vimos no capítulo anterior, voltarão eles a exercer novamente o seu ofício. Dessa feita, porém, em caráter memorial, recordando a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
V. LEVITAS, OS PRIMOGÊNITOS DE DEUS
De acordo com o princípio pascal, todos os primogênitos israelitas teriam de ser apresentados a Deus como as primícias da nação (Êx 13.2). Ao Senhor, entretanto, aprouve substituí-los pela tribo de Levi. Vejamos por que Deus assim agiu.
1. A formação espiritual da tribo de Levi. Se lermos com atenção o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, constataremos que, após os 400 anos de cativeiro no Egito, a única família mencionada, como exemplo de fé e coragem, foi a de Anrão e Joquebede, da tribo de Levi (Hb 11.23). Isso leva-nos a inferir que os levitas, instruídos por seu patriarca, conservaram-se fiéis aos princípios da fé abraâmica. Nem mesmo a tribo de Judá, que receberia o cetro e o trono de Israel, alcançara tamanha excelência espiritual. Tendo em vista a urgência do estabelecimento de seu Reino, por meio de Israel, o Senhor houve por bem santificar a tribo de Levi, colocando-a em lugar dos primogênitos de todas as tribos: “Eis que tenho eu tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo primogênito que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus” (Nm 3.12). A partir desse momento, Levi, embora fosse o terceiro filho de Jacó com Lia, a mulher menosprezada, passou a figurar como o primogênito espiritual do Senhor Deus. Quanto a Judá, o quarto filho do patriarca com a mesma esposa, seria galardoado com a primazia messiânica. A desprezada Lia, sem o saber, seria honrada eternamente em dois de seus filhos.
2. O comprometimento da tribo de Levi com a obra de Deus. Tenho para mim que o episódio do bezerro de ouro foi mais do que decisivo para o Senhor chancelar, de vez, a escolha de Levi para exercer o sacerdócio. Enquanto os hebreus todos embeveciam-se com a imagem concupiscente e lasciva, os levitas permaneciam fiéis ao Deus Único e Verdadeiro. E, conclamados a lutar pela santidade do Senhor, não se ausentaram; fizeram-se presentes, conforme o relato sagrado:
Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois Arão o deixara à solta para vergonha no meio dos seus inimigos, pôs-se em pé à entrada do arraial e disse: Quem é do Senhor venha até mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi, aos quais disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um cinja a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho. E fizeram os filhos de Levi segundo a palavra de Moisés; e caíram do povo, naquele dia, uns três mil homens. (Êx 32.25-28, ARA)
Desse episódio, aprendemos que o compromisso com a santidade divina é imprescindível ao ministério sagrado. Tanto ontem quanto hoje, o Senhor continua a requerer homens fiéis e comprometidos com a sua obra, a fim de levarem o Reino dos Céus até aos confins da Terra.
3. A logística ministerial. Além do compromisso espiritual de Levi, levou Deus em conta, também, a logística do ofício sagrado. Já imaginou formar um ministério a partir dos primogênitos de cada tribo? O futuro rei de Israel, para evitar ciúmes e queixas, teria de fazer rodízios contínuos, a fim de agradar razoavelmente a todos. Mas, na prática, ninguém ficaria satisfeito. E, com o tempo, a função, que deveria ser ungida e santa, transformar-se-ia num cadinho de vaidades e orgulhos incandescentes. Ao escolher Levi, como a tribo sacerdotal, o Senhor não precisou formar uma equipe específica, porque esta já estava devidamente formada. Por acaso não agiu o Senhor Jesus de igual modo ao estabelecer o colégio apostólico? O núcleo de seu grupo foi constituído a partir dos irmãos pescadores da Galileia. Seu ministério, a partir daí, fluiu até a fundação da Igreja, no Pentecostes.
VI. DIREITOS E DEVERES DOS LEVITAS
Os descendentes de Levi, principalmente os da casa de Arão, deveriam observar estes direitos e deveres: viver do altar, santificar-se ao Senhor e ser uma referência moral, ética e espiritual.
1. Viver do altar. Já que os sacerdotes dedicavam-se ao ministério do altar, do altar deveriam viver (Lv 7.35). Portanto, não tinham eles direito a qualquer herança territorial entre os seus irmãos, porque a sua herança e porção eram o Senhor (Nm 18.20). Moisés, então, divinamente instruído, destinou-lhes cidades estratégicas por todo o Israel (Nm 35.8). Algumas delas serviam também como refúgio ao homicida involuntário (Nm 35.6).
2. Santificar-se ao Senhor. Em virtude de seu ofício, os sacerdotes deveriam erguer-se, em Israel, como referência de santidade e pureza. O sumo sacerdote, por exemplo, tinha de ostentar uma faixa de ouro, em sua mitra, na qual estava escrito: “Santidade ao SENHOR” (Êx 28.36). Caso o sacerdote profanasse o seu ofício, seria punido com todo o rigor (Lv 10.1-3).
3. Tornar-se uma referência espiritual e moral. Os sacerdotes, por serem responsáveis pela aplicação da Lei de Deus, tinham a obrigação de constituir-se num modelo espiritual, moral e ético a Israel (Ml 2.1-10). Os filhos de Eli, em consequência de seu proceder, tornaram-se uma péssima referência aos israelitas. E, por causa disso, Deus os matou (1 Sm 2.25). Andemos, pois, em santidade e pureza diante do Senhor. Ele continua a reivindicar santidade de todo o seu povo, principalmente de nós, obreiros.
VII. A ESCOLHA DE ARÃO COMO SUMO SACERDOTE
O sumo sacerdote de Israel teria de ser, obrigatoriamente, descendente de Arão, aspergido com sangue, vitalício e servo de Deus.
1. Descendente de Arão. O sumo sacerdote era o principal representante do culto divino no Antigo Testamento (Êx 28.1). Por essa razão, o Senhor exigia que ele proviesse de uma tribo específica, a de Levi, e de uma família ainda mais específica, a casa de Arão (Êx 6.16-23). Assim, duplamente separado, teria condições de apresentar-se como a maior autoridade espiritual da nação; era o símbolo da plenitude espiritual requerida pelo Deus de Israel (Sl 133.1).
Constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, o sumo sacerdote oferecia dons e sacrifícios pelos pecados do povo (Hb 5.1). Portanto, ele fazia a intermediação entre Israel e o santíssimo Deus. Era sua responsabilidade, ainda, instruir o povo na Lei divina (Lv 10.10,11).
2. Ungido para o ofício. O Senhor determinou que o sumo-sacerdote fosse ungido, a fim de dignificá-lo como ministro extraordinário do culto divino (Êx 28.41; 29.1-7). Assim teria condições de tornar a nação israelita propícia diante do Santíssimo Deus (Hb 5.1).
3. Aspergido com sangue. Ao consagrar Arão e seus filhos ao ofício sagrado, Moisés tomou do sangue do carneiro da consagração e lho pôs sobre o polegar da mão direita, o dedão do pé direito, e a ponta da orelha direita (Lv 8.22-24). O sangue fala de redenção e de purificação. O seu significado para, hoje, é claro: que ninguém ministre no altar do Senhor, se ainda não foi remido pelo sangue de Cristo.
O sangue na mão direita fala de destreza para a execução dos deveres sacerdotais, além de atos santos e justos. Sobre o pé direito, demanda que o ministro ande na vereda da justiça e só trilhe caminhos retos. E, sobre a orelha direita, que seja capaz de ouvir o Espírito Santo e atender, prontamente, às ordens do Senhor.
4. Vitaliciedade no cargo. A vitaliciedade do sumo sacerdócio está patente na história da família de Arão. Antes de este morrer, Moisés o desvestiu das roupas litúrgicas, para vesti-las em Eleazar, seu filho (Nm 20.23-29). Mais tarde, o mesmo Eleazar faria o mesmo em relação ao seu filho, Finéias (Js 24.33; Jz 20.28). Todavia, no tempo do Novo Testamento, a vitaliciedade já não era observada (Jo 11.49-51). Ao que tudo indica, havia um rodízio entre os principais membros da família de Arão (Lc 3.2).
5. Servo de Deus. Apesar da importância do cargo, o sumo sacerdote não era considerado infalível, nem estava acima da Lei de Deus (At 23.1). Sua obrigação era servir o altar e conservar-se puro, a fim de que o nome do Senhor fosse exaltado tanto entre os israelitas quanto entre os gentios (Êx 28.43). O capítulo três de Zacarias detém-se na dignidade do sumo sacerdote constituído sobre Israel.
VIII. A EXCLUSIVIDADE DO SUMO SACERDÓCIO HEBREU
Na História Sagrada do Antigo Testamento, os bons reis, como Davi, Salomão, Ezequias e Josias, muito auxiliaram o sumo sacerdote a cumprir seus deveres. Eles sabiam que, se a Casa de Arão fracassasse, todo o Israel fracassaria com ela. Vejamos, pois, a participação de cada um desses monarcas no ofício araônico.
1. Davi, o rei sacerdote. Devido ao caráter de seu chamamento, Davi pode ser considerado o primeiro rei-sacerdote de Israel. Nalgumas ocasiões, ele fazia questão de vestir-se sacerdotalmente, a fim de emprestar maior solenidade às celebrações de Jeová (2 Sm 6.14). Como se não bastasse tamanho zelo, o filho de Jessé estabeleceu turnos de cantores e músicos na Casa de Deus (1 Cr 15.16).
Embora admirasse o ofício sacerdotal, Davi jamais transpôs seus limites como rei, a fim de apropriar-se das honras devidas somente aos filhos de Levi e, mui reservadamente, aos descendentes de Arão. E, como profeta e excelente teólogo que era, ele sabia que, acima do ofício araônico, achava-se o sacerdócio messiânico de Melquisedeque (Sl 110.4). Ele também sabia que semelhante ofício seria exercido por um de seus descendentes, Jesus Cristo, Senhor nosso.
2. Salomão, o rei do Templo Sagrado. O ministério levítico alcançou o seu auge com a inauguração do Santo Templo, por Salomão, filho de Davi (1 Rs 8). Não somente pela suntuosidade do edifício, mas notadamente pela manifestação da glória divina, o Santuário de Jerusalém legou aos filhos de Levi uma honra que, doutro modo, jamais viriam a desfrutar.
De acordo com a profecia, eles só voltarão a participar de semelhante honraria quando da inauguração do Templo do Milênio. Para maiores informações, leia os últimos nove capítulos de Ezequiel.
3. Ezequias e Josias. Estes foram os dois últimos bons reis de Judá. Cada um, a seu tempo, empreendeu grandes reformas estruturais e espirituais no Santo Templo, objetivando o sustento do ministério levítico. Mas, com o desaparecimento de ambos os monarcas, o sacerdócio sagrado pôs-se a degenerar a tal ponto, que levou Jeremias a protestar duramente contra a Casa de Levi (Jr 5.31).
Os levitas, por não guardarem o seu ministério, também foram censurados por Malaquias. O importante, em toda essa história, é que o patriarca da família, apesar de seus arroubos juvenis, foi recolhido em paz ao seu povo. E, na Jerusalém Celeste, terá o seu nome honradamente destacado (Ap 21.12).
CONCLUSÃO
O sacerdócio levítico era glorioso; seus membros eram considerados príncipes de Deus (Zc 3.8). Todavia, o Senhor Jesus Cristo é superior ao sacerdócio levítico, pois é eterno (Sl 110.4). Quanto a nós, somos uma nação santa, profética e sacerdotal – recebemos a incumbência de proclamar o Evangelho e interceder pelos que perecem (1 Pe 2.9). Portanto, sirvamos ao Senhor com todo o nosso ser, para que, por meio de nossa vida, venha o Reino do Céus à Terra.
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