Lição 1 - A Formação do Caráter Cristão

O Caráter do Cristão:
Moldado pela Palavra de Deus e Provado como Ouro

Lição 1 - A Formação do Caráter Cristão

Propósito do Trimestre

 A sociedade contemporânea sofre a ausência de referências éticas. Nas esferas públicas, parece não haver muitas pessoas de caráter ilibado, o que não significa ser uma verdade. Mas há ações sub-reptícias a reforçarem uma sensação de que a maioria das pessoas da esfera do poder é corrupta. Nessa perspectiva, a presente lição tem o objetivo de apresentar ao povo de Deus o testemunho das Sagradas Escrituras a respeito do caráter de diversas pessoas que o Senhor usou numa época e cultura específicas para manifestar sua vontade ao mundo. E, consequentemente, convidar a Igreja a refletir sobre o caráter e as virtudes do Reino de Deus na sociedade atual.
As Escrituras Sagradas testemunham que a causa desse caos espiritual é a deformidade da natureza humana por intermédio do pecado original. No Jardim do Éden, o ser humano caiu. Embora a imagem de Deus tenha permanecido nele, o caráter e a personalidade do ser humano foram bastante degradados.

Sobre o conceito de caráter

Segundo a psicóloga Ana Lucia Santana, o caráter é um traço da personalidade. Enquanto esta, de acordo com o Dicionário Houaiss, é a “qualidade ou condição de ser uma pessoa”, determinada por “um conjunto de qualidades que define a individualidade de uma pessoa moral”; aquele diz respeito ao modo de agir do indivíduo, seu temperamento, os aspectos bons ou maus que expõem o seu comportamento e valores particulares. Logo, o caráter é o resultado de um processo que se inicia desde a mais tenra idade, perpassa a infância, a adolescência, a juventude e, assim, estabelece a maturidade na vida adulta. De modo que o convívio com a família, a igreja local, a escola e a sociedade torna-se a plataforma para a formação do caráter humano.

A formação do caráter cristão

O cristão, ou melhor, o discípulo de Jesus é uma pessoa que teve um encontro com Cristo. A partir desse encontro; de degradado, o caráter do outrora pecador sofre um processo de metanoia, ou seja, uma transformação radical no modo de pensar e agir. Nesse sentido, as Escrituras Sagradas são uma fonte donde brota exemplos preciosos de pessoas comuns que tiveram o caráter transformado por Deus quando do processo desse encontro pessoal com o Pai Celestial.
É uma experiência maravilhosa adentrarmos às páginas sagradas a fim de contemplarmos a beleza da formação do caráter cristão. Bom trimestre!


(Subsídio Teológico Lição 13/ 1º Trim 2017) Uma Vida de Frutificação

    Frutificar é frutescer, produzir resultados, ser útil, dar lucro. Deus fez a terra com a capacidade de ser produtiva. Nela constam elementos que a fazem produzir. Porque a terra por si mesma frutifica; primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga (Mc 4.28).
    Na vida espiritual, para que de fato haja frutificação, isto é, o efeito de frutificar, é imprescindível que a terra do coração seja trabalhada pela Palavra de Deus. Dessa forma, os bons frutos irão aparecer, e é por meio dessa fertilidade que se prova a fidelidade do crente (Mt 13.8).
    Em duas passagens das cartas paulinas, o autor trata com os crentes sobre a frutificação para Deus, mas veja que ele se inclui também nessa sentença: “Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus” (Rm 7.4).
    A frutificação agora é possível porque a lei da carne, a qual operava para morte, foi desfeita pelo poder de Cristo Jesus, de modo que doravante podemos desenvolver um novo relacionamento e produzir frutos para Deus. Em Colossenses, Paulo diz:
    “Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus” (Cl 1.10).
    Em meu livro Tesouros nas Cartas da Prisão, fazendo comentário sobre esse versículo, afirmo que:
Quando o crente tem o conhecimento de Cristo, ele tem uma fé definida, anda dignamente diante do Senhor, em seu viver busca agradar a Deus e produzir frutos para Ele, tem força para vencer o inimigo e seu gozo é completo (Cl 1.10,11). (GOMES, 2015, p. 185)

A Parábola da Videira e seus Ramos

    1. Limpeza pela Palavra (Jo 15.1-6) 
A primeira coisa que vemos quando lemos o capítulo 15 de João, é que não há como acontecer produtividade se não houver investimento, mas note que Deus investiu grandemente em Israel, que é comparado a uma videira (Is 5.1,2; Sl 80.8-19), esperando fruto, mas não aconteceu.
    Deus investe no seu Filho, que no texto aparece como a genuína videira. Ele faz isso porque sabe que é por intermédio do seu filho que a vida verdadeira para o mundo irá surgir. E dEle que vem a seiva para a salvação, a capacidade para a frutificação. Há um cuidado especial do Pai com a videira, Cristo, mas Ele cuida dos ramos produtivos, eliminando os galhos que não servem para nada, para que a produção seja ainda maior.
    A produtividade espiritual é possível quando acontece tanto o aírei, que aqui é uma ação direta de Deus de tirar, arrancar, quanto o kathaírei, que é a ação de limpar, podar, ou fazer sua própria análise. Essas duas ações acontecem por meio da Palavra.
2. Capacitados para produzir frutos (Jo 15.7,8)
    Não há capacidade em nós mesmos para produzirmos o fruto; ele é resultado da nossa permanência em Cristo Jesus. Observe que o verbo imperativo grego meínate, permanecei, é o segredo para que a produtividade aconteça, pois é de Cristo que sai a vida para o ramo a fim de que a produção do fruto do Espírito seja real.
    Quem permanece em Cristo recebe a seiva para não ser um ramo inútil, infrutífero. Muitas pessoas ficam impressionadas com o desempenho do grande ministério do apóstolo Paulo, como ele conseguiu levar tão longe a mensagem do evangelho e escrever tantas cartas. O segredo é que ele sempre permanecia em Cristo, recebia dEle a vida verdadeira: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (G1 2.20).
    Improdutividade, esterilidade, falta de fruto, é resultado da quebra de comunhão com Cristo. Israel desvencilhou-se da vontade de Deus, por isso se tornou apenas um galho seco de uma videira, que não prestava para nada, a não ser para ser queimada.
    A produtividade é frutescente quando Cristo e sua Palavra habita no crente. Note que a preposição grega en, que tem vários sentidos: de lugar, de causa, de tempo, nesse texto de João está sendo usada para expressar o envolvimento completo de estar dentro de Cristo ou Ele estar dentro de nós. *
    E interessante ressaltar que em João 1.1 diz-se que o verbo se fez carne. A palavra “verbo” já aparecia nas páginas do Antigo Testamento, só que com o conceito de sabedoria. Logos quer dizer palavra. A razão de João fazer uso dessa palavra é porque no seu tempo todos sabiam muito bem o sentido e a expressão que essa palavra tinha, o que ela enunciava; todavia, o propósito de João fazer uso dessa palavra é que ele usa esse logos para denotar a palavra de Deus em ação conforme também registra o escritor aos hebreus (Hb 1.1-3). Esse logos, palavra, pode ser entendido como o logos cósmico, isto é, o agente de toda a criação. João especifica que dEle não vem somente a vida, mas que Ele é a própria vida, é Ele quem dá a verdadeira luz, conhecimento da própria vida de Deus (Jo 17.3). Esse conhecimento que o verbo dá de Deus, possibilita ao homem receber as verdades divinas;
assim ele pode deixar as trevas, que é a vida moral comprometida com o pecado.
    Mas no texto Jesus diz que se suas palavras estivessem nos seus discípulos. Observe que nesse caso Ele faz uso de hêma, que é a palavra falada, dizeres, expressão, mas tudo se resume em Cristo, de modo que quer eles estivessem em Jesus, quer na Palavra, estariam vivendo e recebendo a verdadeira vida.
    E a fé que leva a oração do crente a ser atendida quando segue todo o ensino dito por Jesus, e os que permanecem em sua Palavra são transformados, purificados para dar muitos frutos.
É importante entender uma coisa: oração respondida é também frutificação espiritual (Jo 14.13), e pela produção de fruto o Pai é glorificado, pois isso prova o relacionamento perfeito que o crente está tendo com Ele. Entendemos então que estar em Cristo e nos seus ditos é a forma de sermos capacitados para produzirmos muito para Deus. Isso dá glorificação ao Pai, pois prova que o crente está produzindo o fruto segundo a sua espécie, ou seja, ele está sendo semelhante a Jesus, e tal fruto é o descrito em Gálatas 5.22. Não há como duvidar, quem está em Cristo reproduz seu caráter (Jo 8.31; ljo 3.2).
    3. Permanecendo no amor de Cristo (Jo 15.9-11)
    E no relacionamento do Pai com o Filho e do discípulo com Cristo que o verdadeiro amor se processa, gerando vida, alegria, obediência, sem qualquer constrangimento. O desejo de Jesus para que todos permanecessem nEle, isto é, no seu amor, é porque tudo vinha do Pai, pois assim como Ele era amado, quem permanecesse nEle seria amado também (Jo 3.35; 5.20).
Jesus sempre permaneceu no amor do Pai, isso é comprovado por causa de sua obediência, sempre fazendo aquilo que lhe agradava (Jo 8.29).
    A grande prova do amor dos discípulos para com Jesus estava na obediência plena ao Pai. Se assim eles procedessem, estariam sempre tendo aprovação em tudo e gozando da companhia divina. É impossível um cristão ser produtivo fora da obediência a Cristo, aos seus ensinos, pois o amor, como virtude do fruto do Espírito, leva o crente a ser obediente, para que Deus possa se comprazer nele.
    É o que acontece atualmente; muitas pessoas não gostam dos crentes porque reprovam as obras da carne, das trevas, as quais são praticadas por aqueles que não querem vir para luz. Paulo diz que até falar das obras que os homens sem Deus praticam é vergonhoso (Ef 5.12). Jesus se revelou como amor, o mundo o odiou. Jesus se revelou como a luz, o mundo não quis brilhar. Jesus se revelou como a vida, eles não quiseram. Jesus se revelou como o caminho, pão, água, e eles descartaram.
Jesus diz que todo o ensino que transmitiu aos seus discípulos não deixaria de ter seu vigor, pois quando Ele fosse retirado deste mundo, o Espírito Santo estaria com eles, capacitando-os a suportarem toda e qualquer situação ou perseguição difícil (Mt 10.19) e uma prova de que isso aconteceu pode ser vista em Atos 5.32. O Espírito Santo estaria no coração dos discípulos fortalecendo-os nas verdades ensinadas por Jesus, posto que Ele é a própria verdade (Jo 14.17).
    A Sublimidade do Amor (1 Co 13.1-3)
    O amor é a base para expressarmos nossas ações, que não deve ser somente em palavras, mas sim em um amor que se expressa em caridade. A palavra amor do grego é ágape. Muitos falam dela como o amor de Deus; aqui ela está sendo aplicada como a mais bela virtude cristã (Gl 5.22), uma qualidade abstrata (Rm 13.10). Apenas frases, palavras bonitas, ações sem verdade, não produzem nada.
    A palavra língua do grego é glóssais, e denota o órgão do paladar (Mc 7.33-35; Tg 1.26; Lc 16.24). Laleín quer dizer falo, digo, dirijo, anuncio, prego, repito, faço soar (Mt 12.34; 1 Co 13.11; Jo 3.34). Existe uma distinção entre légo e laleín: a primeira refere-se ao sentimento proferido; a segunda, ao emprego dos órgãos da fala. Os que querem negar a experiência pentecostal, tem feito uso de laleín como uma forma de expressa uma fala extática, absorto, ou seja, é um tipo de êxtase que acontece durante o culto nas pessoas que estão em grande estado de emoção, muitos dizem que isso fala de línguas estranhas (At 19.6; 1 Co 12.10).
    O teólogo D. Mounce diz que glôssa quer dizer uma língua, um idioma (At 2.11), que não é nativa de quem fala, mas que pode ser um dom ou faculdade para falar tal língua. Nessa mesma linha de pensamento segue o exegeta Edward Robinson.
    Qualquer ação sem amor pode apenas produzir ruídos de um gongo, um instrumento musical de percussão. Paulo diz que o amor está acima de qualquer mistério, profecia, ele está acima até mesmo da fé, pois a fé é apenas um meio para conduzir o homem a Cristo (Ef 2.8,9); o amor é o fim.
    Muitas ações podem ser realizadas pelo egocentrismo humano, na busca do reconhecimento das pessoas, tendo apenas um caráter filantrópico. Sabemos que algumas pessoas neste mundo foram martirizadas por uma causa nobre, outros queriam apenas valorizar sua instituição, seu pensamento, mas quando o verdadeiro amor não está presente nada terá proveito.
    A Natureza do Amor (1 Co 13.4-7)
    Note que nesse texto o amor está personificado, Paulo fala de sua própria natureza, o que realmente ele é. No cristão, esse amor evidencia a própria característica de Cristo. No seu contexto histórico, o apóstolo fala que os problemas existentes na igreja de Corinto foi por causa da ausência desse verdadeiro amor, pois se os seus corações estivessem dominados por esse amor, tudo o que estava se passando entre eles não teria acontecido.
    Se o coração de cada membro daquela comunidade estivesse cheio de amor, eles não seriam dominados pelo orgulho, vaidade; não teriam levado os seus irmãos aos tribunais, não teriam sacrificado aos ídolos, pois não buscariam os seus próprios interesses; não teriam ciúmes de ninguém, não tratariam os dons menos expressivos com desprezo, não seriam desconfiados, nem teriam praticado a imoralidade.
    Paulo usou esse assunto do amor como um espelho, para mostrar como eles estavam longe de alcançarem o ideal divino. Antes os seus corações estavam cheios de pecado; o nível de espiritualidade deles era baixo, razão por que estavam procedendo dessa forma.
    A palavra espelho do grego é esóptrou. Por meio dele podemos apenas contemplar uma imagem em uma superfície metálica, e não a realidade em si. Conforme lemos na Bíblia, os espelhos eram fabricados de metal polido (Ex 38.8; Jó 37.18). O real e verdadeiro amor é Cristo; quem nele vive expressa as mais belas virtudes cristãs.

Dados do autor desta obra em o livro obra da carne e o fruto do Espírito.
Osiel Gomes é pastor, formado em Teologia,Filosofia, Direito, Pedagogia, Psicanálise e pós--graduado em Docência do Ensino Superior.
Preside a Igreja evangélica Assembleia de Deus - Campo Tirirical, em São Luis, Maranhão.

Autor do blog: Almir Batista 

Jesus, o Juiz que Há de Vir

Texto: João 5.19-47

Introdução
No capítulo cinco, temos um sinal (v. M4) c um sermão (v. 19-47) que se explicam c ilustram mutuamente. O milagre registrado na primeira parte do capítulo mostra dois aspectos de Cristo: primeiro, como Doador da Vida. O homem que fora paralítico ouve a voz do Filho de Deus c recebe a vida (v. 25). Segundo, como Juiz. O homem curado fica diante do Juiz, e recebe a absolvição: “Eis que já estás são; não peques mais, para que não tc suceda alguma coisa pior”.
Quando os judeus objetavam que Jesus tinha violado o sábado ao curar o paralítico, ele pregou um sermão explicando o significado do milagre c asseverando a sua autoridade para operá-lo.
I - As Bases da Autoridade de Cristo
(Jo 5.15-20)
Quando o homem que fora paralítico soube quem o curara, contou o fato às autoridades dos judeus, que, por sua vez, queriam prender Jesus sob a acusação de ter violado o sábado. Na sua defesa, Jesus levanta os seguintes argumentos:
/. Sua unidade com o Pai. “E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha ate agora, c eu trabalho também”. Noutras palavras: Deus trabalha no sábado, sustentando o Universo, comunicando vida, abençoando os homens, respondendo às orações. Perguntou um zombador, em conversa com um rabino judeu: “Por que Deus não guarda o sábado?” Respondeu o rabino: “Não é permitido que um homem se locomova dentro do seu próprio lar? O lar de Deus é o universo inteiro, de alto a baixo. Deus não precisa do sábado; é uma bênção que ele concede às suas criaturas, para a felicidade delas”. E esta superioridade sobre o sábado que Jesus também considerou privilégio seu. Sua atividade é tão necessária para o mundo como a de Deus Pai; realmente, ao efetuar a cura no sábado, estava meramente agindo cm nome do Pai.
Os judeus entenderam, corretamente, que Jesus estava declarando sua própria divindade mediante tal resposta. Se estivesse simplesmente argumentando que, já que Deus trabalha no sábado, ele também, como judeu piedoso, podia trabalhar no sábado, sua defesa teria sido absurda. A declaração da sua própria deidade, no entanto, deu conteúdo real à sua defesa.
Jesus declarou, portanto, que a cura do paralítico era uma obra do Pai, c que os judeus, ao acusá-lo da quebra do sábado, estavam realmente fazendo a acusação contra o Pai.
2. Sua comunhão com o Pai. “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho faz igualmente”. Cristo vivia em tão perfeita harmonia com o Pai que lhe era impossível operar qualquer milagre por sua própria iniciativa, ou do seu próprio desejo. Ele estava tão acostumado a submeter-se ao propósito divino que eslava fora de cogitação a ideia de Ele entender mal a vontade de Deus ou se opor a ela. O Filho nada pode fazer de si mesmo, não por lhe faltar poder, e sim porque lhe falta o desejo de agir independentemente de Deus. A sua expressão é semelhante ã de um homem consciencioso  que, quando alguém insiste com ele para que faça algo errado, responde: “Não posso fazê-lo”. Poderia, se desejasse, mas seu caráter reto e justo lhe proíbe tal coisa.
A atitude filial de Cristo é correspondida pelo amor do Pai: “Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz”. O Filho tem sido um espectador contínuo das obras do Pai nos corações e vidas dos homens. Estava tão pro- fundamente enfronhado nos conselhos do Pai que sabia instintivamente qual era a vontade do Pai cm todos os casos. Assim, uma só olhada na direção do homem paralítico bastava para convencê-lo de que era da vontade do Pai a realização da cura, apesar de ser no dia de sábado.
II - () Alcance da Autoridade de Cristo
(Jo 5.21-30)
“F ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis”. A nova vida comunicada ao paralítico era um sinal que indicava o poder de Jesus para comunicar a vida eterna a quem ele quisesse. A vida física assim transmitida apontava para sua capacidade de transmitir a vida espiritual também.
As “obras maiores” de Cristo se manifestam em duas esferas:
/. Na vivificação dos mortos. Dois tipos de ressurreição se mencionam nestes versículos - a espiritual e a física. O pecado causa a morte espiritual, bem como a morte física; Cristo, Salvador dos pecadores, dá a vida eterna à alma (v. 24) c a imortalidade na ressurreição (v. 25). Os versículos 21 a 25  aplicam-se à ressurreição física e à espiritual. O

Filho de Deus exerce estas prerrogativas porque “assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo”.
2. No exercício do julgamento. “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo”. Isto inclui o julgamento que os homens pronunciam contra si mesmos quando rejeitam a Cristo, bem como o juízo que será realizado no dia final. O propósito desta atribuição é “para que todos honrem o Filho, como honram o Pai”. Quando consideramos as declarações de Cristo acerca de si mesmo, não podemos fugir do mistério da Trindade. Dizer que o Filho deve ser honrado como o Pai, é dizer que o Filho c o Pai são um, com os mesmos poderes e honras, muito embora Jesus, nos dias em que viveu na terra, estivesse sujeito ao Pai de acordo com o plano divino.
Há aqueles que pensam da seguinte forma: sou um homem, com as fraquezas humanas, passando por uma vida cheia de dificuldades. Deus, lá no Céu, é perfeito e livre de qualquer tentação. Como poderia Ele simpatizar com meu ponto de vista? A resposta de Cristo c: “E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem”. Noutras palavras: no dia do juízo os homens comparecerão diante de quem já viveu na natureza deles, experimentou as tristezas deles, enfrentou as tentações deles, e que sabe por experiência o que é a vida humana.
“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma”, por causa do perfeito vínculo de comunhão entre Jesus e o Pai. Desejando que haja a mesma comunhão entre ele mesmo e os seus discípulos, Jesus disse: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5).
Talvez alguns dos ouvintes se queixassem, dizendo que Cristo era muito severo ou dogmático ao julgar as pessoas, assim como há aqueles que levantam a objeção de serem as palavras de Jesus em Mateus 23 muito duras para aquEle que veio salvar, e não condenar. A resposta de Cristo foi c continua sendo: “Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou”. Cristo se refere às suas declarações de aprovação e de condenação, definindo o que é certo e o que é errado. Tinha, por exemplo, autoridade para dizer: “Estão perdoados os teus pecados”; “A tua fé te salvou”; “Melhor seria para tal homem não ter nascido”; “Vinde a mim”; “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”. Estes e outros julgamentos pronunciados, no que diz respeito aos fariseus, aos hipócritas, a Pilatos e Herodes, a Jerusalém, ao mundo, aos demônios, são expressões da vontade do Pai, e não de ressentimento pessoal. São a verdadeira e infalível expressão da vontade divina.
III - Ensinamentos Práticos
1. A divindade de Cristo. No trecho aqui estudado, temos um exemplo das tremendas asseverações feitas por Cristo com respeito a si mesmo, declarações que somente Deus pode fazer com razão. No entanto, as afirmações foram tão singelas c naturais como, por exemplo, quando Paulo dizia: “Eu sou judeu”. Para chegar-se à conclusão de que Cristo é divino, basta reconhecer duas coisas: primeiro, que Jesus não era um homem mau. Segundo, que Jesus não era louco. Se alegasse sua própria divindade, enquanto soubesse não ser Deus, não poderia ser um homem bom; se falsamente imaginasse ser Deus, sem que isso correspondesse à realidade, não poderia ser um homem mentalmente são. Posto que nenhuma pessoa séria pode duvidar da perfeição do caráter de Jesus, nem da superioridade da sua sanidade, não nos resta outra conclusão senão a de que ele era o que declarava ser - o Filho de Deus, no sentido especial e reservado da palavra.

2. O aluai juízo de Cristo. No plano da salvação, há íntima relação entre o presente c o futuro. A plenitude da vida eterna c a possessão que receberemos no futuro, embora comece aqui c agora. Aquele que crê em Cristo “tem a vida eterna”. A condenação final ainda aguarda os pecadores não arrependidos, mas começa aqui e agora. No entanto, agora, a ira de Deus permanece sobre o descrente (Jo 3.36).
Esta verdade foi ilustrada na vida terrestre de nosso Senhor. Toda pessoa que apareceu na sua presença foi julgada - ou recebeu aprovação, ou foi condenada. Lemos que os fariseus, cheios de suspeita, queriam submeter Jesus ao escrutínio; mas, na realidade, eles é que foram submetidos ao julgamento. Lemos que Jesus foi levado perante Herodes, mas, na realidade, tratava-se de Herodes comparecendo perante Jesus! (Lc 23.8-11). Jesus foi levado a Pilatos, mas, na realidade, Pilatos é que foi julgado por Jesus. Lemos sobre o processo de Jesus perante o Sinédrio, mas, realmente, julgava-se a autoridade moral do Sinédrio. Em todos os casos, foram invertidos os papéis, porque c Ele agora o Exaltado, e eles, os condenados.
Na presença de Jesus, portanto, os homens são julgados de acordo com a sua atitude para com Ele. L Ele ainda é a pedra de toque das nossas vidas. Certo visitante altivo e crítico estava examinando uma coletânea de obras-primas de pintura numa galeria de arte. “Não vejo nada de especial nesses quadros”, disse, com ar de desprezo. O curador respondeu, tranquilamente: “Senhor, aqui não está cm causa a qualidade dos quadros, e sim a dos observadores”. Os críticos procuram submeter o caráter divino ao microscópio, mas são realmente eles o objeto de escrutínio. Uma boa pergunta a dirigir a um cético seria: “O que você pensa de Cristo?” Mas a pergunta mais importante é: “O que Cristo pensa de você?”


3. “Vindo, depois disso, o juízo” (Hb 9.27). Lemos em João 3.17: “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele". Em João 5.22, lemos: “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo”. Não há nenhuma contradição aqui. É da vontade de Deus que todos sejam salvos, e Jesus provou a morte em prol de todos os homens. Quando, porém, os homens rejeitam a cura do pecado, têm de sofrer a sua penalidade; quando zombam da oferta da misericórdia divina, não há escape da condenação divina.
Pessoas há, hoje, que duvidam do juízo vindouro tanto quanto os homens da época de Noé, mas nem por isso deixou de vir o dilúvio, nem deixará de vir o dia do juízo final.
4. “Da morte para a vida” (v. 24). Assim como um cadáver pode ser cercado por flores e enlutados, sem com eles ter o mínimo contato, assim também uma alma morta pode ter coisas espirituais ao seu alcance, sem, porém, tomar a mínima consciência da sua presença. “Mas a que vive cm deleites, vivendo está morta” (lTm 5.6). “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas c pecados” (Ef 2.1). Assim como um mineral está morto no que diz respeito ao reino vegetal, também o homem não convertido está morto com respeito ao Reino de Deus.
Cristo veio possibilitar a transição do homem da morte para a vida: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3.36). E esta verdade que faz a distinção entre o Cristianismo c todas as demais religiões. E o homem mental c moral mais a pessoa de Cristo; é a nova vida transmitida ao homem espiritual, uma qualidade bem diferente do que qualquer outra coisa existente no mundo (cf. Jo 14.20-23; 15.5; 1 Co 6.15; 2 Co 13.5; G1 2.20). Cristo é a fonte da nossa vida. Nenhum homem espiritual alega, em hipótese alguma, que a sua espiritualidade é dele mesmo. “E vivo não mais cu, mas Cristo vive em mim” (G1 2.20). Quando alguém verdadeira c sinceramente se volta do pecado para Cristo, passa da morte para a vida.
5. A certeza da vida eterna. Na data desta tradução, noticia-se a morte de um russo que viveu 168 anos. É um período muito grande de tempo, cm que houve profundas modificações em todas as nações da terra, mas não passa de alguns poucos segundos em comparação à vida eterna, que é o presente recebido por todos os que tem fé cm Cristo. Muitos rejeitam a vida eterna, não por não crerem que ela seja boa, mas porque a acham boa demais para ser verdadeira. Outros gostariam que fosse verdadeira, mas não têm base sólida para fundamentar as suas esperanças. Roberto E. Ingersoll, destacado inimigo da Bíblia c do Cristianismo, na ocasião do enterro do seu irmão, fez um discurso declarando não existir nada que apoie o conceito da vida além-túmulo. Depois, disse: “Aquele que aqui jaz confundiu a aproximação da morte com a volta da saúde, e sussurrou, com seu derradeiro alento: ‘Já sarei’. Oxalá possamos crer, a despeito das dúvidas e dogmas, das lágrimas e temores, que sejam verdadeiras estas preciosas palavras, no que diz respeito a todos os incontáveis mortos”. Este desejo de ter alguma esperança, da parte de quem rejeitou as Escrituras, é a sólida segurança de quem conhece a Cristo: “Porque eu vivo, e vós vivereis” (Jo 14.19).
6. O coração sem nuvens. “O meu juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, c sim a daquele que me enviou”. Com estas palavras, Jesus revelou a inexistência de motivos errados cm seus julgamentos. Tudo quanto dizia c fazia era isento da influencia do egoísmo que distorce todas as coisas.
Assim como a poluição do ar vai obscurecendo a nossa vista ao derredor, também o egoísmo, o medo e a ambição formam uma nuvem que obscurece o raciocínio e perverte o juízo. Não havendo qualquer defeito ou lesão específica, sempre terão sanidade mental as pessoas que têm pureza de coração.
Feliz o homem que nega-sc a si mesmo c que pode dizer: “Não busco a minha própria vontade, mas a vontade do Pai que me enviou”. Tal consagração desanuviará nosso discernimento c julgamento e alimentará o espírito (Jo 4.34), iluminando o entendimento (Jo 7.17) e dando descanso ao coração (Ml 1 1.29).


Fonte livro e autor.
João
 Pearlman, Myer
João, o Hvangelho do Filho de Deus.../

 Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.
Almir Batista

0 Paralítico do Tanque de Betesda

Texto: João 5.1-14

Introdução
Como já notamos num estudo anterior, João chama os milagres de Cristo de “sinais” porque são indicadores da divindade do Senhor. Sete deles (antes da crucificação) são selecionados pelo evangelista: a transformação da água em vinho; a cura do filho de um oficial do rei; a cura do paralítico; a multiplicação dos pães para alimentar a multidão; Jesus andando sobre o mar; a cura do cego; e a ressurreição de Lázaro.
Este nosso estudo trata do terceiro destes milagres, que nos oferece as seguintes lições acerca de Cristo: Ele é o doador da vida, e, como o paralítico oüviu a voz de Cristo e foi restaurado, assim, no fim dos tempos, os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e viverão (Jo 5.25).
I - O Sinal (Jo 5.1-9)
I. A cena que entristece o coração. “Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia uma multidão de enfermos; cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento das águas. Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água, c o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse''. Trata-se de uma fonte intermitente, que possuía - ou cria-se que possuía - poderes de cura, ao redor da qual alguma pessoa benevolente edificara cinco pórticos para servirem de abrigo à multidão de enfermos que aguardava o movimento da água.
A multidão ao redor do tanque faz lembrar que o mundo está cheio de pessoas que sofrem das mais variadas enfermidades, sendo, porém, todas elas doentes; simboliza o mundo que se aglomera, com uma ansiedade que c quase desespero, ao redor de qualquer coisa que prometa solução, por mais vaga que seja, no sentido de ajudar e de curar.
2. A pergunta que desperta a esperança. Num dia de festa religiosa, Jesus se encaminhou para este “hospital natural”. Assim como o olhar experiente do cirurgião rapidamente seleciona o pior caso na sala de espera da sua clínica, Jesus logo fixou seus olhos em “um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo”. Era um aleijado, provavelmente um paralítico. Passara todo esse tempo esperando, ouvindo a conversa monótona dos outros enfermos, descrevendo detalhes dos seus sofrimentos que ninguém mais queria ouvir.
Jesus, chegando a este homem, aborda-o com a pergunta emocionante: “Queres ficar são?” A pergunta parece estranha porque, após trinta c oito anos de sofrimento e espera, nada mais natural do que pensar que era a única coisa que o homem desejava. A pergunta, no entanto, tinha várias razões para ser feita:
2. /. Para despertar a esperança. O coitado esperara tanto tempo e sofrerá tantas decepções, que a esperança mirrara dentro dele, assim como era mirrado o seu corpo. Era necessário, portanto, que Jesus despertasse nele novas esperanças, ajudando-o a ter a fé necessária para receber a cura.
2.2. Para despertar a Fé. Cristo não era como certos milagreiros que operam suas maravilhas mediante um preço, sem levar em conta a atitude ou condição moral da pessoa. Quando possível, Jesus exigia que a pessoa a ser curada tivesse fé. O propósito principal de Jesus em curar o corpo era transformar a alma, porque mesmo quando vivia na terra era o Salvador e, como tal, requeria a fé como elo espiritual que vinculasse o paciente à sua Pessoa. Note como a cura neste caso foi acompanhada por uma advertência ao homem, que deixasse de levar a vida de pecado que fora a causa de sua aflição (v. 14).
2.4. Para testar a sinceridade do desejo. Quando Jesus perguntou ao paralítico se queria ser curado, a pergunta era sincera c real porque existem enfermos que não desejam ser curados. Os médicos se oferecem para curar gratuitamente as feridas do mendigo, como ato de caridade, c são rejeitadas as suas ofertas; mesmo o enfermo que não usa sua enfermidade como fonte de renda, mediante a mendicância, tende a tirar vantagem da simpatia e indulgência dos amigos, a ponto de o caráter ficar tão fraco, que ele começa esquivar-se do trabalho. Há, portanto, muitos que, por uma ou outra razão, preferem ter saúde fraca.
A pergunta de Cristo significava: “Você está disposto a ser restaurado a uma condição que o capacitará a assumir as tarefas e responsabilidades da vida?”
3.Enquanto o homem responde, relembrando os anos de sofrimento e o lato de não ter escolhido aquela situação, as palavras de Jesus soam nos seus ouvidos: “Levanta-te, toma a tua cama, c anda”. A primeira vista, pode-se imaginar ser uma zombaria mandar um paralítico levantar-se e andar; devemos, no entanto, levar cm conta que quem falou estas palavras tinha poder para curar o homem, c que o homem tinha fé em quem falou com ele. O homem creu, e manifestou a sua fé mediante um alo de obediência a um mandamento que parecia impossível cumprir. Se Deus nos mandasse passar através de um muro de pedra, nossa obediência fiel nos levaria a traspassá-lo como se fosse uma folha de papel de seda, sempre na condição de termos a certeza de que a ordem partiu de Deus! A fé é crer c obedecer em tudo o que diz respeito àquilo que sabemos ser a Palavra de Deus. O paralítico obedeceu c “logo aquele homem ficou são; e tomou a sua cama, e partiu”. A fé é o elo entre a incapacidade humana e a onipotência divina.
II - A Sequela (Jo 5.10,11)
/. A condenação. Os milagres de Jesus eram sinais, mas nem sempre estes sinais foram entendidos. Ele alimentou as multidões e sentia-se decepcionado porque poucos perceberam ser Ele o Pão enviado do céu para nutrir as almas humanas (Jo 6). Curou o cego, demonstrando assim ser a Luz do Mundo, mas os fariseus hostis queriam apagar aquela Luz (Jo 9). Ressuscitou Lázaro dentre os mortos, mostrando ser a Ressurreição c a Vida, e este milagre provocou no Sinédrio o desejo dc matar o Autor da Vida. Na ocasião aqui estudada, Jesus operou um milagre que demonstrou ser Ele o que opera a vontade divina em restaurar a vida c a saúde, e os judeus queriam matá-lo por operar uma cura no sábado! (v. 16).
"E aquele dia era sábado. Então os judeus disseram àquele que tinha curado: É sábado, não te é lícito levar a cama”. Estes judeus tinham apoio nas Escrituras, nas palavras de Jeremias: “Guardai as vossas almas, e não tragais cargas no dia de sábado” (Jr 17.21). Naturalmente, a proibição dizia respeito a cargas que faziam parte de empreendimentos comerciais, mas os judeus, no seu exagerado literalismo, levaram o mandamento ao extremo.
2. A vindicação. O homem lançou a responsabilidade sobre Jesus, e respondeu: “Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma a tua cama, c anda.” Noutras palavras: “Foi aquele que me deu as minhas forças o mesmo que me mandou como empregá-las.” Que lógica magnífica! Na sua simplicidade, o homem acabou enunciando uma regra do discipulado cristão: aquEle que nos sarou e salvou tem o direito de dirigir a nossa vida. Se Cristo é a fonte da nossa vida, é também a fonte da nossa lei.


Fonte livro e autor.
João
 Pearlman, Myer
João, o Hvangelho do Filho de Deus.../
 Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.

Almir Batista

Jesus e Maria, Sua Mãe

Textos: Lucas 1.26-33; 2.41-51; João 2.1-4; Marcos 3.31-35; João 19.25-27
Introdução
O objetivo deste capítulo é estabelecer o caráter e posição de Maria quanto ao seu relacionamento com aquEle que era, ao mesmo tempo, filho e Senhor.
I. Predito o Nascimento de Jesus (Lc 1.26-33)
1. A profecia. “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Esta gloriosa promessa brilhou nas trevas em que o pecado lançara nossos primeiros pais. Predisse o conflito entre a raça humana e o poder do mal que lhe causou a queda, e a vitória mediante alguém nascido de mulher. A esperança da salvação era um menino que viria da parte de Deus. Talvez pensasse Eva ser Caim o descendente prometido (Gn 4.1); mas, com grande decepção, descobriu que aquele que imaginara ser o vencedor da serpente demonstrou ter o espírito do próprio maligno. Nascendo-lhe Sete, porém, reno- varam-se-lhe as esperanças; exclamou: “Deus me deu outra semente” (Gn 4.25).
Passaram-se séculos, e, através da boca de Isaías, foi reafirmada a promessa: um filho da casa de Davi, nascido de uma virgem, instauraria o Reino de Deus (Is 7.14;
9.6,7). Doravante, a esperança de libertação vinculava- se ao nascimento de um descendente de Davi; à mulher judia, não poderia haver mais alta esperança que a de ser a mãe do Messias.
2. O cumprimento. Imagine, agora, os sentimentos de Maria, ao ouvir do anjo que tão grande honra lhe caberia: “Salve, agraciada; o Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres”! Embora nada possa diminuir a honra devida ao Filho, e que a Ele exclusivamente adoraram os magos quando o acharam com Maria na noite do seu nascimento (Mt 2.11), foi ela grandemente honrada por Deus, sendo escolhida para ser a mãe humana de Jesus; sem dúvida, tinha um caráter exemplar de pureza, humildade e ternura, exemplo da glória e nobreza de ser mãe, digno de ser seguido por todas as outras.
Podemos imaginar as emoções de enlevo e medo misturadas em Maria, ante à extraordinária informação. Enlevo, pela honra de ter sido escolhida, entre milhões de mães judias, para dar à luz o Salvador do mundo; medo, por causa dos mal-entendidos e acusações falsas que pesariam sobre ela, se a gravidez fosse noticiada antes do casamento com José. Curvou-se, no entanto, à vontade do Senhor: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Maria crê e submete-se à mensagem, disposta a aceitar e enfrentar todas as conseqüências. É esta a verdadeira fé!
A Visita ao Templo (Lc 2.41-51)
A primeira visita ao Templo é história bem conhecida. Ao voltar da festa da Páscoa, Maria e José sentiram falta de Jesus. Após busca ansiosa, acharam-no a debater com os rabinos, no Templo. Nesse período, o Templo exercia grande fascínio sobre Jesus, porque a este fora dada, pelo Espírito, a clara visão de sua natureza divina e missão celestial.
1. O espanto de Maria. “E quando o viram, maravilharam-se; e disse-lhe sua mãe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu, ansiosos te procurávamos” (v. 48,50). Espanto natural, pois chegara ao humilde lar de Maria um tesouro grande demais o qual ao próprio céu era difícil conter. Não estranhemos, portanto, seu desconhecimento quanto ao valor do filho e ao motivo da ausência, e que lhe desse suave repreensão. É verdade que já recebera revelação quanto à natureza divina de Jesus (Lc 1.32,33), mas, sendo mãe exemplar, era perfeitamente natural que os cuidados matemos predominassem sobre quaisquer considerações. Não importa quão grande e famoso alguém seja, sua mãe sempre o considerará seu “menino”. Napoleão era um poderoso ditador, diante de quem nações inteiras tremiam; mas, para a sua mãe, era o mesmo menino levado que ela antes disciplinava com vara!
2. O assombro de Jesus. “E ele lhes respondeu: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” Há surpresa nas palavras de Jesus, como se dissesse: “A senhora foi informada, mesmo antes do meu nascimento, sobre minha natureza e o que vim fazer neste mundo. Um pouco de reflexão, e saberia que um bom lugar para me procurar seria na casa do meu Pai, já que meu desejo é fazer a vontade dEle”.
“E desceu com eles, e foi para Nazaré; e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas”.
Nestas palavras, Lucas deixa-nos entender que a declaração de Jesus do verso 49 não se constituía em repúdio aos deveres de filho humano. Apesar de Filho de Deus, jamais procurou ver-se livre das responsabilidades, obrigações e fardos desta vida. Às revelações, não as tratou a mãe como assunto de conversa, mas guardou-as como preciosos segredos. E, quando veio a entender totalmente seu significado? Ver Atos 1.14.
Nas palavras de Jesus vislumbramos a futura mudança naquele relacionamento. O filho de Maria revelar-se-ia Filho do homem, quando teria de deixar em segundo plano os relacionamentos, a fim de criar uma família espiritual. Tal conceito surge nos dois incidentes seguintes.
III. As Bodas de Caná (Jo 2.1-4)
Ver o respectivo comentário. “E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho”. A falta de vinho redundaria em desonra para a família hospedeira. Maria leva o assunto a Jesus, com singeleza. “Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora”. Jesus estava ingressando no ministério público; seu papel de filho de Maria passava a segundo plano. Maria, humildemente, aceitou o inevitável, sabendo que não mais lhe caberia ditar normas na vida do filho. E disse aos servos: “Fazei tudo quanto ele vos disser”. A fé e a obediência seriam doravante a única maneira de se chegar ao coração de Jesus.
IV. Os Temores de Maria (Mc 3.31-35)
A popularidade de Jesus multiplicara-se rapidamente, mas, de outro lado, fora despertada a hostilidade dos escribas, cuja frieza espiritual Ele desmascarava sem hesitação. Não obstante, seu ministério crescia. Tanto o assediavam as multidões que não lhe sobrava tempo para alimentar-se. Os amigos preocupavam-se, pensando que o zelo excessivo lhe perturbara a mente (Mc 3.21).
À Maria, assaltou-lhe a preocupação, quando as autoridades denunciaram o ministério de Jesus como sendo de Satanás (v.22). Procurou, então, fazer com que Ele se retirasse - pelo menos por um pouco - da vida pública: “Chegaram então seus irmãos e sua mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar”. Maria talvez o imaginasse em perigo entre as multidões, as‘quais os fariseus facilmente poderiam incitar contra Ele. Ela permitiu a seus filhos mais jovens, irmãos de Jesus, persu- adirem-na a intervir na situação.
Ressuscitado o instinto materno, Maria voltou a demonstrar o mesmo espírito que, já por duas vezes, Jesus repreendera ternamente (Lc 2.49; Jo 2.4). Maria e os irmãos de Jesus foram por demais presunçosos em fazer aquela interrupção, apelando ao relacionamento puramente natural, por estreito que fosse. Queriam sobrepor interesses naturais àquEle ocupado em distribuir o Pão da Vida aos espiritualménte famintos. Jesus, então, esclarece que os vínculos familiares são inferiores aos do Reino de Deus: “E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe”. Verdadeiro parente de Jesus é aquele que é espiritualmente semelhante a Ele. Como Filho do homem, Jesus tinha parentes na carne; como Filho de Deus, porém, não reconhece parente algum, a não ser os filhos de Deus. Indicam tais palavras não serem os laços naturais a maior glória de Maria, mais o seu relacionamento espiritual com Ele. Sua presença no cenáculo (At 1.14) sugere necessidades espirituais idênticas às dos demais seguidores de Cristo.
V. Maria Junto à Cruz (Jo 19.25-27)
Ver o respectivo comentário: “E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria de Cleofas, e Maria Madalena. Ora Jesus vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho”. Vendo a mãe aflita, desamparada e confusa, e sentindo-lhe a angústia por contemplá-lo assim, quis o Filho de Deus que João, o discípulo amado, a retirasse da triste cena, e lhe oferecesse um lar onde Jesus era amado.
VI. Ensinamentos Práticos
1. A mensagem de Maria às mães. A mãe do maior de todos os filhos transmite grandes lições às mães modernas:
• Mães que desejam filhos de nobre caráter devem, elas mesmas, possuir um caráter assim. John Quincy Adams, presidente dos Estados Unidos, declarou: “Tudo quanto vim a ser, minha mãe conseguiú fazer de mim”. Napoleão disse sobre seu país algo que se aplica a todas as nações: “A maior necessidade da França é de haver boas mães”. Caterina Booth, filha do fundador do Exército da Salvação, resolveu que nunca teria um filho que menosprezasse a religião, e não teve mesmo. A primeira e principal oportunidade para moldar o caráter de uma pessoa, tem-na a mãe. E de suma importância que esteja espiritualmente qualificada para tal tarefa!
• Não se estrague a criança pelo abuso de comentários orgulhosos sobre suas capacidades e virtudes. Coisas maravilhosas haviam sido ditas sobre Jesus, e pareceria natural que ela as compartilhasse com as amigas e vizinhas. No entanto, “guardava todas estas palavras, meditando-as no coração”. Esta lição aplica-se a muitas mães. Falam tanto sobre as virtudes dos filhos, que os ouvintes se cansam e os próprios filhos estragam-se por convencimento. Como resultado, só os choques dolorosos da vida podem retirar-lhes o orgulho infundido pela irresponsabilidade da mãe. Seja ensinado às crianças de grande talento a modéstia e o hábito de prestar contas a Deus, fonte única de toda boa dádiva.
• Manifestem as mães de filhos talentosos simpática compreensão aos ideais que eles alimentam. Mostram-nos os trechos examinados três incidentes em que Maria parece ter esquecido a divina missão de Jesus que lhe fora revelada. Sabia do terrível destino que o aguardava (Lc 2.34,35), mas talvez o seu intenso amor maternal quisesse desviá-lo do caminho do sofrimento e indicar-lhe um caminho mais fácil. Sem faltar com respeito à mãe, Jesus firmemente a fez lembrar a prioridade das reivindicações divinas sobre sua vida. A tríplice repreensão de Jesus recomenda as mães simpatia aos ideais dos filhos, mesmo quando não os entendem muito bem. Não sejam as crianças presas com os laços da sua própria voluntariedade.
2. A mensagem de Cristo às crianças. Jesus, mesmo em agonia excruciante ao morrer pelos pecados do mundo, não esqueceu de cumprir o dever simples e prático de cuidar da mãe. Lembra-noJ isto que nenhum dever, por importante que seja, justifica a falta de cuidado pelas pessoas que dependem de nós.
3. A família divina é composta de pessoas piedosas. “Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe”. Não nos ensina isto fazer a vontade de Deus independentemente de Jesus, porquanto este revelou: “Sem mim nada podeis fazer . Somente pela união espiritual com Cristo podemos demonstrar sua bondade. O que Ele está nos ensinando é que, se realmente somos seus parentes espirituais, faremos a vontade de Deus, não para nos tornarmos cristãos, mas porque somos cristãos. Tem sido levantada a objeção de que aqueles que pregam a salvação pela fé muitas vezes negligenciam a ênfase à retidão prática. Tal possibilidade foi reconhecida por Tiago: “A fé sem obras é morta”. A doutrina correta, as experiências extáticas e as formas externas são todas necessárias; no entanto, são apenas o andaime para a edificação do caráter conforme a vontade de Deus. É mediante o cumprimento da vontade divina, seja em grandes ou pequenos feitos, que os crentes demonstram pertencer à família divina.
Fonte:
Pearlman, Myer
Lucas, ó Evangelho do Homem Perfeito.../ Myer Pearlman l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995

Almir Batista

Nascimento e Infância de João Batista

(Lc 1.18-20, 57-64)
O sacerdote achou boa a mensagem; por um momento, boa demais para ser verdadeira. Pediu mais um sinal. Não lembrava ele de Abraão e Sara, de Isaque e Rebeca? Sua descrença era ofensa grave, merecedora de punição. Condenou-o então o anjo à mudez. Isto lhe seria por sinal e castigo. Mesmo assim, ao julgamento acompanhava a misericórdia. Foi-lhe prometido que voltaria a falar na ocasião do nascimento do menino (SI 30.5).

1. A alegria da mãe. Completou-se a alegria de Isabel; os parentes e as amigas regozijavam-se com ela. Veio o momento da circuncisão e de dar nome à criança. Sugeriram os vizinhos lhe fosse dado o nome do pai. Surpreenderam-se, no entanto, ao saberem que receberia um nome desconhecido na família do sacerdote. Isto era novidade. Até hoje, dão-se aos filhos de judeus os nomes de parentes mais velhos ou falecidos, a fim de manter viva a memória deles em Israel.

2. O louvor do pai. O sacerdote recuperou a fala, e irrompeu em louvores a Deus. Enquanto derramava o coração diante de Deus, o Espírito Santo apoderou-se da sua língua, transformando a canção em profecia inspirada: Deus não desamparara o seu povo; um Libertador se levantaria da família de Davi, e o filho de Zacarias seria o seu precursor.

3. O crescimento da criança. As promessas cumpriam-se na vida do pequeno João. Os que o conheciam maravilhavam- se, não só com a história do seu nascimento, como pelo rápido desenvolvimento de forças na jovem vida: “E a mão do Senhor [o poder de Deus] estava com ele” (v. 66) - expressão que lembra cenas da vida de Elias e de Eliseu, cujas obras poderosas atribuíam-se à “mão do Senhor” sobre eles.
“O menino crescia, e se robustecia em espírito”. Ao crescimento físico seguia o crescimento espiritual. Sob o sol da graça divina e ao sabor da vivificante brisa do Espírito, amadureciam os poderes espirituais do menino, enquanto seu corpo se fortalecia no clima das montanhas da Judéia.
“E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel”. Os pais de João provavelmente morreram antes que ele chegasse à idade adulta. O jovem, deixado sozinho no mundo, optou pela solidão como forma de preparar-se para o ministério. No deserto, meditava sobre as profecias e buscava ao Senhor, aguardando a ordem divina para começar a obra entre o povo.
Fonte:
Pearlman, Myer
Lucas, ó Evangelho do Homem Perfeito.../ Myer Pearlman l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995

 Almir Batista