SUBSÍDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 12- OS PÃES DA PROPOSIÇÃO.


 Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
Antes de iniciar este capítulo, fui à internet para ver alguns quadros que tivessem como motivo o pão, o alimento por excelência. E, ali, entre gravuras de todos os tempos e lugares, reparei que o pão combina com todas as mesas e harmoniza-se com todas as iguarias. Quer numa cozinha ocidental, quer numa oriental, faz-se ele presente. Aqui, tem um formato cilíndrico; ali, uma forma cúbica; mais além, uma silhueta abaulada como os gostosos pães italianos.

Nas Sagradas Escrituras, o pão é apresentado não apenas como alimento, mas também como liturgia e comunhão. No Tabernáculo Santo, servia para honrar e enaltecer o Senhor. Já na Igreja Cristã, é utilizado como símbolo do corpo do Filho de Deus, que, no Calvário, deixou-se partir vicariamente por mim e por você, querido leitor.

Estudaremos, neste capítulo, os pães da proposição. Conhecidos ainda como os pães da apresentação, encerram eles, quando dispostos no Lugar Sagrado, uma teologia lindamente remidora; soteriologia eterna. Depois, veremos a sua tipologia em relação a Jesus Cristo, que, num pronunciamento carregado de significados redentores, declarou-se como o Pão que desceu do Céu.

I. UMA BREVE HISTÓRIA DO PÃO

Nas linhas a seguir, esboçaremos rapidamente a história do pão que, conforme já dissemos, é o mais universal dos alimentos. Nos mais diversos formatos e nos mais variados sabores, é encontrado em todas as sociedades. Feito de trigo, de cevada ou de milho, o pão orna a mesa do rico e não deixa de embelezar a mesa do pobre. Comecemos por estudar essa palavra tão abençoada.

1. A origem da palavra “pão”. A palavra “pão”, em português, origina-se do substantivo latino panis que, por seu turno, provém de um termo antiquíssimo: pa, que significa nutrição. Para os romanos, acostumados ao amanho do trigo, o pão é aquilo que nutre o homem. Acredito que, desse conceito, ninguém discorda. Hoje mesmo, antes de assentar-me a escrever, precisei alimentar-me com uma gostosa fatia de pão integral. A partir daí, ganhei forças e disposição para dar sequência a este trabalho. Senhor, ajuda-me.

2. A origem do pão. A história tem o Egito como a primeira padaria do mundo. Ali, às margens do Nilo, onde a fertilidade já era proverbial há cinco mil anos, os trigais espalhavam-se do Alto ao Baixo Egito. E, muito cedo, o egípcio veio a descobrir que o grão do trigo, se esfarinhado, levedado e levado ao forno, transforma-se num alimento nutritivo e delicioso.

No Egito, havia mais de trinta variedades de pães. Ovais, cônicos ou triangulares, eram tidos como a iguaria predileta dos deuses. Conta-se que o Faraó Ramsés III (1194 – 1163 a.C.) teria ofertado aos ídolos mais de duzentos mil pães.

Os padeiros tornaram-se tão requisitados no Egito, que não demoraram a organizar suas guildas e aquilo que, modernamente, chamamos de sindicato. Eram orgulhos de seu ofício; exigentes ao extremo. Às vezes, insuportáveis. Não foi sem motivo que o Faraó, nos dias de José, filho de Jacó, mandou executar o seu padeiro-mor.

Antes de avançarmos, neste tópico, ressalvamos que há uma leve controvérsia quanto à origem do pão. Para alguns historiadores, este alimento teria surgido não no vale do Nilo, mas no vale entre os rios Tigre e Eufrates. Mas, se perguntarmos a um chinês acerca da proveniência do pão, é bem provável que ele nos responda que este não proveio nem do Egito, nem da Mesopotâmia, mas apareceu no vale do rio Huang He. Não obstante as controvérsias acadêmicas, o certo é que o pão aí está, em nossas mesas, todos os dias. Obrigado, Senhor.

3. O pão em Israel. Antes mesmo de os israelitas descerem ao Egito, precedidos por José e liderados por Jacó, o pão já fazia parte da dieta hebreia. A primeira referência que aparece, na Bíblia, acerca do pão é feita pelo próprio Deus ao disciplinar Adão: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.19, ARA). Até aquele momento, o homem não havia precisado amanhar a terra para arrancar dela o seu sustento; vivia da coleta exuberante do Éden. No entanto, a partir do juízo divino, teria ele de trabalhar arduamente, a fim de prover o seu pão diário.
Teria Deus se referido indiretamente ao trigo ao mencionar o pão? Vejamos o significado dessa palavra no idioma original do Antigo Testamento. A palavra hebraica lechem significa, além de pão, alimento, refeição, comida, mantimento e, também, pão sagrado ou da proposição.

Quer direta, quer indiretamente, o Senhor alertava Adão de que, a partir de agora, teria ele de processar arduamente o seu sustento diário. E, nessa proposição, temos bem presente a palavra de Paulo aos irmãos de Tessalônica. Aos desocupados daquela congregação, afirmou energicamente o apóstolo: “Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2 Ts 3.10, ARA).

Sem trabalho não há pão; a agricultura é a base da riqueza das nações.

Acostumados a uma dieta rica e variada, os hebreus, já no final de sua estadia no Egito (cativeiro escancarado), tiveram de adaptar-se a um cardápio pobre e ralo; subsistência amarga. Nas panelas que lhes dava Faraó, havia carne e peixe; pão não havia. É o que inferimos deste lamento proferido numa das apostasias de Israel no Sinai: “Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos” (Nm 11.5).

Por que o rei do Egito não lhes dava pão? Alimento destinado à comunhão social egípcia e à liturgia dos templos faraônicos, o pão jamais poderia, no imaginário egípcio, ser destinado a uma sociedade abominável e servil como a hebreia. Então, que o trigo do Nilo fosse trazido a Rá-Atum, a Hathor e a Osíris. Quanto aos filhos de Israel, que se contentassem com o refugo da mesa de seus amos.

De acordo com nossos padrões nutricionais, a dieta descrita no murmúrio hebreu parece rica. Mas, se numa mesa israelita faltasse o pão, nenhuma refeição estaria completa.

Libertos do cativeiro, os israelitas puderam retornar à sua dieta. Como não havia trigo para alimentar toda a multidão que atravessara o mar Vermelho, os levitas houveram por bem reservar o trigo, que ainda tinham e que de alguma maneira produziam, ao uso litúrgico. Para que o povo não viesse a desnutrir-se, proveu-lhes o Senhor o maná; pão dos anjos comungado aos homens.

4. O pão na Grécia. O trigo começou a ser processado como pão, na Grécia, quando as várias famílias helenas, chegadas do Leste, por volta do século XII a.C, instalaram-se naquelas paragens, que, ainda hoje, são acariciadas pelos ventos elísios. Para aquela gente de terra pobre e mente rica, os cereais eram considerados um dom dos deuses. Ou, mais propriamente, de uma deusa que, embora gentil e prestativa, era malcomportada e vingativa. Filha de Cronos e de Reia, Deméter saiu pelo mundo, na companhia de Dionísio, a ensinar os homens a plantar e a colher. Por isso, reverenciavam-na como a divindade responsável pela agricultura. Em Roma, ela receberia outro nome: Ceres; daí a palavra cereal. Por que os egípcios, gregos e romanos atribuíam o seu sustento a deuses nulos e inúteis, e não ao Todo-Poderoso? Que eles não ignoravam a existência de Deus, todos o sabemos. Pelo menos os gregos, conforme a narrativa lucana, haviam consagrado um altar ao Deus Desconhecido. Mas, tendo eles os moradores de Heliópolis (morada dos deuses egípcios) e do monte Olimpo (albergue das divindades gregas) como mais acessíveis, pois eram estes tão dissolutos e imorais quanto aqueles, ignoravam os benefícios que, diariamente, recebiam do Senhor.

Em seu discurso em Listra, o apóstolo Paulo, depois de ser confundido com o deus Mercúrio, deixou bem patente aos moradores daquela antiga cidade da Licaônia, que a subsistência de todos os seres humanos depende unicamente do Deus Único e Verdadeiro, e não dos ídolos que, a bem da verdade, não passam de coisas bizarras e grotescas:

Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles; o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria. (At 14.15,16, ARA)

Dizendo isto, relata ainda Lucas, “foi ainda com dificuldade que impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios”. Que provação para Barnabé e Paulo. Como tinham suficiente maturidade, não se deixaram enredar pelo marketing do Diabo. Em seu discurso, o apóstolo elaborou, rápida e profundamente, o que podemos chamar de teologia do pão.


II. A TEOLOGIA DO PÃO: A DOUTRINA QUE NUTRE

Talvez, você, querido leitor, esteja dizendo que o autor destas linhas vê teologia em todas as coisas. Você não está errado. Na verdade, vejo não apenas teologia em tudo, mas em tudo vejo o próprio Deus. Por esse motivo, teologizo sempre. Nesse verbo intransitivo e, às vezes, tão mal conjugado, diviso a solução para todos os problemas humanos. Não agiam assim os profetas e apóstolos? Então, que reflitamos sobre a teologia do pão.

1. Terceiro dia; a semente do pão. No livro de Gênesis, observo que o reino vegetal teve início no terceiro dia da criação. Narra o autor sagrado:

Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez. À porção seca chamou Deus Terra e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus que isso era bom. E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez. A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom. Houve tarde e manhã, o terceiro dia. (Gn 1.9-13, ARA)

Lavrador de excelência, o Senhor da vinha preparou o terreno, amanhou a terra e, só então, lançou a sementeira, abundante e pródiga, sobre a terra. Entre as plantas que não demorariam a brotar, estava o trigo. Daquela sementinha, agora inumada, brotaria uma planta que os homens cientificamente alcunharam, alguns milênios depois, de Triticum Aestivum.

Acredito que, dentre todos os cereais, o trigo é o mais belo de todos. Como descrever seu caule ereto, suas folhas planas, suas espigas densas e suas cariopses intumescidas e gentilmente tenras? Ante um trigal, tem-se a impressão de estar à beira de um campo polvilhado de ouro.

Dessa beleza toda, porém, sai o grão que, triturado e moído, alimentará milhões de pessoas todos os dias. Se Deus fez o trigo, como não o agradecer pela subsistência?

2. Ações de graças pelo pão. Na Oração Dominical, o Senhor Jesus colocou uma petição nos lábios de seus discípulos, que jamais deveria abandonar-nos a boca. Em menos de dez palavras, aprendemos a garantir a nossa subsistência até que, da terra dos viventes, sejamos tirados: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11). Aqui, nessa oração tão singela e despretensiosa, despojada de ativismos sociais e reivindicações políticas, acha-se o equilíbrio e o segredo à paz mundial.

Se os governantes todos, ao invés de terçarem armas, dirigissem clamores e rogos a Deus, implorando-lhe pelo sustento de seus povos, não haveria necessidade de conflitos ou guerras. Todos os confrontos haveriam de ser substituídos por orações, preces e lágrimas. Quanto aos apetrechos bélicos, seriam transformados em implementos agrícolas, conforme profetiza Isaías ao antever o reinado de Jesus Cristo, no Milênio: “Ele julgará entre os povos e corrigirá muitas nações; estas converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra” (Is 2.4, ARA).

Mas, para que isso ocorra, é urgente que todos nos voltemos aos exemplos de petição e gratidão deixados pelo Filho de Deus, durante a sua missão na Terra de Israel. Se no início de seu ministério, Ele ensinou os discípulos a implorar ao Pai pela manutenção diária, no encerramento de seu ofício terreno, levou-os a aprender a beleza do agradecimento.

Na celebração da última Páscoa, e já na comemoração da primeira Santa Ceia, deixou-nos o maior exemplo de gratidão, conforme registra Paulo. Embora não haja presenciado a instituição da segunda ordenança, o apóstolo considerou as palavras do Filho de Deus mais do que um sacramento; era uma rememoração profética, cujo cumprimento ansiosamente aguardamos: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (1 Co 11.23,24, ARA).

Do que já estudamos, concluímos: na teologia do pão, há três grandes proposições: petição, ações de graças e liturgia. Quem diariamente nos sustenta é Deus; a Ele, nossas petições. Se Ele é o nosso sustento, apresentemos-lhe, em cada cotidiano, reconhecimentos e gratidões. Então, o que já vislumbramos? Uma liturgia em torno do pão nosso de cada dia.

3. A liturgia do pão. A primeira ação litúrgica envolvendo o pão deu-se no encontro de Abraão com Melquisedeque. Em Salém, como já vimos, o rei da então Cidade Santa trouxe ao patriarca hebreu pão e vinho. E, ali, num momento em que convergiam o Antigo e o Novo Testamento, ambos celebraram, perspectivamente, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo (Gn 14.18-20).

Abraão participaria ainda de outra refeição profética e memorial. Agora, com o próprio Deus. Ao ver o Senhor, teofanicamente manifestado, o patriarca dispôs-se de imediato a preparar-lhe uma refeição que, generosa e farta, aprofundaria a comunhão entre ambos. Disse-lhe Abraão, agradecendo-o já por todas as promissões: “Senhor meu, se acho mercê em tua presença, rogo-te que não passes do teu servo; traga-se um pouco de água, lavai os pés e repousai debaixo desta árvore; trarei um bocado de pão; refazei as vossas forças, visto que chegastes até vosso servo; depois, seguireis avante” (Gn 18.3-5, ARA).

Dessa forma, o patriarca consagrou ao Senhor, naquele dia já tão memorável, e sob os carvalhais de Manre, o primeiro pão da apresentação. As árvores, servindo-lhe de Tabernáculo, e a terra na qual pisava, erigindo-se-lhe como mesa, tinha Abraão um santuário perfeito para adorar a Deus. Aquele pão, assado ao borralho, fez-se presença e santa proposição naquele instante; prenúncio da adoração levítica.

III. OS PÃES DA APRESENTAÇÃO

Para que os pães da proposição fossem introduzidos no Tabernáculo, Deus ordenou o fabrico de uma mesa especial. Quanto aos pães, deveriam estes ser preparados de acordo com uma receita bastante específica.

1. A mesa dos pães. A mesa que receberia os pães da proposição, feita de madeira de acácia, tinha essas medidas: dois côvados de cumprimento (90 centímetros), um côvado de largura (45 centímetros) e sua altura, um côvado e meio (70 centímetros) (Êx 25.23-30). A mesa, toda revestida de ouro fino, recebeu adornos da altura de quatro dedos, mui apropriados para conter os pães sagrados. Suas argolas serviam para transportá-la. A madeira de acácia, por ser medicinal, evitava fungos e parasitas que poderiam contaminar os pães sagrados.

2. Os pães da proposição. Os pães da proposição eram preparados todos os sábados pelos coatitas (1 Cr 9:32). Em sua composição, usava-se a flor da farinha de trigo (Lv 24.5). Ou seja, a parte mais fina e nobre desse produto. Depois de cozido, eram postos em duas fileiras sobre a mesa, sendo entremeados por incenso (Lv 24.6,7). Doze pães, um para cada tribo de Israel.
Eis como os pães eram dispostos. O culto divino, embora repulse o formalismo, não dispensa a ordem nem a decência. Todas as coisas, tanto ontem quanto hoje, devem ser feitas para glorificar o nome de Deus. Às vezes, na tentativa de fugir ao cerimonialismo, caímos numa informalidade bizarra e afrontosa que, a seu próprio modo, não deixa de ser um cerimonialismo.

Aprendamos com os levitas como proceder no culto divino. Fugindo aos extremos, adoremos a Deus em espírito e em verdade. Até na mesa dos pães sagrados, observa-se a reverência devida ao Pai Celeste.

3. A simbologia dos pães. Os pães da proposição simbolizavam a presença sempre providencial de Deus no meio de seu povo (Jr 32.38). Desta forma, os israelitas deveriam saber que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus (Mt 4.4). Quanto ao pão estar acompanhado de incenso, significa isso que a presença do Senhor sempre vem acompanhada pelas orações dos santos (Ap 5.8; 8.3,4).

Os pães da proposição ou da presença, representam ainda a Palavra de Deus, que, por intermédio do Evangelho, alimenta o mundo faminto (Jo 1.1).



IV. A PALAVRA DE DEUS É O PÃO DA VIDA

Para o povo de Israel, o pão é mais do que um alimento; é uma experiência cerimonial e tipológica (Gn 14. 18-20). Quer no Tabernáculo quer fora do Tabernáculo, o pão sempre simbolizou a presença de Deus entre o seu povo.
1. A Palavra de Deus é vida. Durante a peregrinação de Israel no Sinai, os israelitas conscientizaram-se de que nem só de pão vive o homem, mas da Palavra de Deus (Dt 8.3). Durante 40 anos, Deus os sustentou com o maná, o pão que descia dos céus a cada manhã (Êx 16.31-35). A presença divina era perceptível tanto no Tabernáculo quanto no arraial. Todos sabiam que, apesar das asperezas do deserto, o Senhor jamais os abandonaria naquela árdua caminhada.

Sem a intervenção divina no cotidiano hebreu, eles jamais teriam sobrevivido às inclemências do Sinai. Os oásis, quando encontrados, não eram suficientes para saciar a sede de uma população ambulante de aproximadamente dois milhões de pessoas. Ali, longe do Egito e ainda distante de Canaã tinham de confiar, exclusivamente, na providência divina. Relata-nos a Bíblia que, apesar de uma jornada de 40 anos, foram sobrenaturalmente preservados. Os óbitos deixamo-los por conta das apostasias e desvios de uma geração que, apesar de arrancada do Egito, com mão poderosa, não pôde ou não quis, arrancar o Egito de seu coração.

2. A Palavra de Deus é o nosso sustento diário. Além do pão, Deus proporcionava cotidianamente ao seu povo água, direção, proteção e iluminação (Êx 13,21; 15.22-27, 17.1-16). Diariamente, os israelitas eram sustentados, orientados e protegidos pelo Senhor. À semelhança de Davi, eles podiam declarar que o Senhor era o seu pastor; nada lhes faltava (Sl 23.1).

Já antes mesmo de haver completado 60 anos, deixava-me tomar por uma preocupação: “Como será o meu futuro?”. Nessas horas, porém, lembrava-me da confiança do salmista nos cuidados do Senhor. Já tomado pelas cãs, confessou que, apesar de velho, jamais viu um justo a passar necessidade, nem a sua descendência a mendigar o pão. Nessa confiança, descanso, hoje, como se tudo já estivesse resolvido; de fato, já o está. Glória a Deus.

3. A Palavra de Deus é o nosso sustento específico. Na mesa do Tabernáculo, havia, como já vimos, doze pães distribuídos em duas fileiras, sendo um pão para tribo de Israel (Lv 24.5). Entre as fileiras de pães, o incenso (Lv 24.7). O que isso significa? Antes de tudo, que Deus alimenta o seu povo tanto coletiva, quanto individualmente. Ele conhece perfeitamente nossas necessidades (Sl 103.14; Mt 6.8). O que podemos inferir dessa lição? Deus tem uma comida personalizada para mim, para você e para cada santo em particular.

O Pai Celeste é mais do que um chefe de cozinha; é um nutricionista zeloso e consciente de nossas carências, necessidades e precisões. Por isso, administra-nos o alimento certo na hora certa. Se estamos fracos, eis-nos uma comida leve. Mas, se já fortalecidos, serve-nos uma refeição sólida como o pão que o anjo dispôs a Elias. Com a força daquela comida, o profeta caminhou quarenta dias e quarenta noites (1 Rs 19.8). Chegando a Horebe, seu ânimo ainda se renovava.


V. JESUS CRISTO, O PÃO QUE DESCEU DO CÉU

Os pães da proposição são o mais perfeito símbolo do Senhor Jesus Cristo, pois a sua missão, neste mundo, foi (e sempre será) alimentar-nos com a Palavra de Deus (Jo 1.1).

1. Jesus, o pão da vida. O Senhor Jesus, por meio de sua palavra, revela-se como a água e o pão da vida (Jo 4.13,14; 8.32; Ap 7.17). Certa vez, Ele foi tão claro acerca de sua missão redentora, que levou alguns de seus discípulos mais chegados a escandalizarem-se com o seu discurso (Jo 6.48-60).

O Senhor Jesus, como o pão vivo, não se limitou a ficar no santuário, mas, encarnando-se, trouxe a presença do Pai Celeste a toda a humanidade (Mt 1.23; Hb 1.3).

2. Jesus, o pão de nossa comunhão com o Pai. Jesus, como o pão vivo que desceu do céu, não precisa ser trocado todos os sábados, como os pães da proposição (Lv 24.8). Nosso Salvador, além de ser um sumo sacerdote infinitamente superior a Arão, é o pão divino; e, do próprio sábado, é Senhor (Mt 12.8; Jo 6.41; Hb 7.17-25). Aliás, Jesus Cristo é o próprio Tabernáculo de Deus. Ao encarnar-se, tornou-se semelhante a nós (Jo 1.14; Hb 9.11,12). E, com a sua morte e ressurreição, fez-nos acessível o trono da graça, no qual, hoje, entramos ousadamente (Hb 4.16).


3. Dai-lhes vós de comer. Hoje, ao proclamarmos o Evangelho, outra coisa não fazemos senão alimentar os famintos com a Palavra de Deus (Mt 28.18-20; Lc 9.13). Portanto, evangelizemos e façamos missões enquanto há tempo. A fome espiritual nunca foi tão acentuada como nos dias de hoje (Am 8.11,12).
A um mundo faminto e desesperançado, ofereçamos o que, de fato, pode sustentá-lo: a Palavra de Deus. Soa-nos aos ouvidos, a ordem urgente e irresistível do Mestre: “Dai-lhes vós de comer”. Se temos o Evangelho, por que retardar a evangelização de nosso bairro? Se começarmos a falar de Jesus à nossa vizinha, em breve o nosso país experimentará um grande avivamento. Não nos esqueçamos da Obra Missionária. Regiões, como o Leste da Europa e o Oriente Médio, clamam por nossa intervenção.


CONCLUSÃO

No Antigo Testamento, apenas o sumo sacerdote e seus filhos tinham direito de comer dos pães da proposição. A única exceção foi Davi e seus homens (Mc 2.26). Por intermédio de Cristo, entretanto, temos acesso não somente aos pães da proposição como também ao lugar mais santo do Tabernáculo. E, todas as vezes que nos reunimos para celebrar a Ceia do Senhor, lembramo-nos de que Jesus é a presença eterna do Pai entre nós; o pão de nossa comunhão santa (1 Co 11.23,24).

Jesus é o pão da vida. Na simbologia de sua paixão e morte, Ele, qual grão de trigo, foi triturado e moído em consequência de nossos pecados. Aliás, a etimologia da palavra “trigo” significa exatamente isto: aquilo que se tritura. Mas, ressurreto e glorificado, nosso Amado Senhor está a alimentar-nos com a sua presença. Você já orou hoje? Já leu a Bíblia Sagrada? Então, não morra de fome. Faça uma pausa: ore, mesmo em espírito. No instante seguinte, vá aos profetas e apóstolos; medite neles.

Sábado – Jo 6.35 - Jesus, o pão da vida.


         Os judeus não entenderam que Jesus falava de si mesmo como o Pão da Vida; eles queriam um suprimento diário de pão físico, dizendo, “Dá-nos sempre desse pão” .
         Como a mulher no poço que pediu a Jesus que lhe desse da água viva para que não tivesse mais sede, a multidão queria o que Jesus pudesse dar para que suas vidas pudessem ser facilitadas. Eles não entenderam o que Jesus quis dizer. Então Jesus lhes disse diretamente: “Eu sou o pão da vida” .

         Se as pessoas quisessem este pão, deveriam vir a Jesus e crer nele. Quando Jesus usou as palavras  “Eu sou”, Ele estava apontando para a sua identidade incomparável e divina. Em essência, esta declaração diz: “Eu, o Senhor Deus, estou aqui para prover a vocês tudo o que precisam para a sua vida espiritual”. Jesus dizer que é o Pão da Vida é para Ele o mesmo que dizer: “Eu sou o sustento da vida de vocês”.
         Da mesma forma que o pão fornece aos nossos corpos força e nutrição, Jesus, o verdadeiro Pão do Céu, veio para fortalecer e nutrir o seu povo, para que jamais tenham fome e nunca tenham sede.

 Comentário novo estamento aplicação pessoal.

Sexta – Mt 6.11 - LEITURA DIÁRIA- O pão nosso de cada dia.

“Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia”. Talvez isso soe redundante para os leitores ocidentais, mas é uma petição preciosa e urgente para só ter o essencial para viver”.

O comentário de Mateus / D.A. Carson.

Quinta – Êx 16.31-35 - O pão que desce do céu.

O maná era como semente de coentro (31), “uma semente pequena e cinzento- branca, com sabor picante e agradável, usada amplamente como tempero para cozinhar”. Tinha gosto de bolos feitos de farinha de trigo, óleo e mel. O alimento que Deus dava era agradável ao paladar.
e) O maná comemorativo (16.32-36). Moisés, sob ordens divinas, ordenou que fosse colocado diante do SENHOR um vaso contendo um gômer cheio de maná (33), na casa de Deus, diante do Testemunho (34). Este recipiente seria guardado para as gerações (32) futuras. O escritor aos Hebreus mencionou a existência de “um vaso de ouro” de “maná” no “Santo dos Santos” (Hb 9.3,4).

Comentário bíblico BEACON.

Quarta – Dt 8.3 - LEITURA DIÁRIA - A suficiência da Palavra de Deus.

Para humilhar (8.2,16). A provisão do maná no deserto foi intencionada para educar Israel. O povo necessitava aprender que sua simples existência não dependia de seus próprios esforços, mas de Deus ir ao encontro de suas necessidades.
Cada manhã Deus diria uma nova palavra e providenciaria o alimento daquele dia. Jesus citou esse verso para vencer a primeira tentação de Satanás (Mt 4; Lc 4).
Apesar de faminto, Jesus escolheu esperar uma palavra de Deus, sabendo que esperar por Ele é mais essencial à vida do que o próprio alimento!

É esta verdade que a experiência no deserto, com suas severas privações superadas dia a dia pela provisão divina, pretendeu ensinar.

LAWRENCE O. RICHARDS

Terça – Lv 24.5 - LEITURA DIÁRIA - O material do pão.

Os vss. 5-9 tratam das regras concernentes aos pães da proposição (ver a esse respeito no Dicionário) e sobre os cuidados com a mesa onde esses pães eram arrumados. O parágrafo diante de nós nos dá a informação essencial de Êxo. 25.23-30, onde notas mais completas foram providas para o leitor.
Cada um dos doze pães tinha o peso de dois décimos de um efa de farinha de trigo. Isso equivalia a cinco quilogramas, o que significa que os pães eram grandes. Cada pão tinha cerca de 75 cm de comprimento, metade disso quanto à largura, e cerca de 12,5 cm de altura. O número doze falava sobre as doze tribos de Israel, as quais participavam dos benefícios desse rito.

Comentário Russell Norman Champlin.

Segunda – 1 Cr 9.32 - LEITURA DIÁRIA - Os pães eram feitos pelos coatitas.


Cada um deles conhecia o seu oficio. o trabalho tem maior probabilidade de ser bem feito, quando todos conhecem o dever de seu cargo e fazem dele uma ocupação.  Deus e o Deus de ordem. Assim, o templo era uma figura do santuário celestial, onde não se cessa nem de dia e nem de noite de louvar a Deus (Ap 4.8). (Comentário  Mattew Henry).

OS PÃES DA PROPOSIÇÃO

Como o candelabro tinha uma simbologia diretamente aplicada ao Israel de Deus do Antigo Testamento, “os Pães da Proposição” tem uma simbologia aplicada mais tarde diretamente ao nosso Senhor. Sim, o nosso Senhor é o Pão da Vida descido dos céu para saciar o pecador faminto. Só Cristo pode saciar plenamente o ser humano que vive em busca de um significado para vida.
Os Pães da Proposição
No Antigo Testamento a simbologia dos Pães da Proposição refletia a presença providencial de Deus para o seu povo. Uma presença que substituía qualquer meio material para trazer-lhe alguma solução, pois, assim, o povo de Israel aprenderia que “nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4). Sim, os pães da proposição mostravam que a presença de Deus no meio do seu povo era sufi ciente, providencial e definitiva.
A Palavra de Deus, o Pão da vida
“E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram, para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem.”, é o que diz a Palavra de Deus (Dt 8.3). Mais do que o pão material, o pão espiritual é que sustentaria o povo no deserto. O pão espiritual é a Lei de Deus. Ora, não adiantava o povo de Israel alimentar-se bem da comida material, mas não comer o pão espiritual, isto é, guardar a Lei do Senhor e amá-la de todo coração. Sem o pão espiritual, a nação morreria.
O problema mais grave é quando o ser humano confia somente em seu braço material, na sufi ciência do dinheiro, ou na beleza dos bens. É quando a visão cega, o coração esfria e a alma morre sem a presença do Altíssimo. Portanto, a verdadeira vida está na Palavra de Deus! O sustento diário está na Palavra de Deus! O sustento específico está na Palavra de Deus!
Jesus Cristo, o Pão que desceu do céu
Toda a beleza da Palavra de Deus, o provimento da Lei do Senhor e a essência do Verbo que vem do Criador estão plenamente revelados em Cristo Jesus, o Pão Vivo que desceu do céu. É o pão da vida que foi partido por nós, para nos trazer salvação e vida eterna (Lc 22.14-23). Jesus Cristo é a síntese de toda providência divina para dar sentido à alma do ser humano e prover-lhe salvação e vida eterna.
Quando o homem “come” desse pão, ele sacia a alma e a fome espiritual para sempre. E compreende definitivamente que não só de pão o ser humano vive, mas de toda Palavra de Deus.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 11 - A LAMPADA ARDERÁ CONTINUAMENTE.

 Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.

Autor: Claudionor de Andrade.A teologia que subjaz tipologicamente, no candelabro de ouro do Tabernáculo Santo, tem por objetivo realçar o Senhor Jesus como a única luz deste mundo. Fora de Cristo, só há trevas; densas e pesadas trevas. Por isso, numa de suas declarações essenciais, afirmou o Filho de Deus: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8.12). Semelhante luz só pode ser encontrada nas Escrituras Sagradas. Da luz do primeiro dia, no Gênesis, à luz da Jerusalém Celeste, no Apocalipse, não há luz como a luz que desce do Pai das luzes (Gn 1.3; Ap 22.5; Tg 1.17).

Toda essa pleníssima luz é representada, no Tabernáculo, pelo candelabro de ouro que ficava à esquerda de quem entrava no lugar santo. Ali, em frente à mesa dos pães da apresentação, e olhando para o altar de incenso, logo à frente, o candeeiro, incandescendo o azeite batido, iluminava a Casa de Deus naquelas vigílias escuras e silentes do Sinai.

Que figura perfeita de Cristo. Quando de sua apresentação a Israel, foi Ele de imediato reconhecido, por João, o Teólogo, como a luz verdadeira (Jo 1.9). Uma luz tão intensa que veio a cegar os judeus daquela época formalmente religiosa, mas essencialmente vazia; teologia cega. Mas, para alguns pescadores rudes, de alma ainda sensível, a luz evangélica não foi inútil. Espargindo-se pelos termos de Zebulom e pelas regiões de Naftali, a luz da casa de Davi iluminou a Pedro, brilhou sobre André e, gentilmente, aclarou a trilha dos filhos de Zebedeu, João e Tiago.

Antes de nos determos no fabrico do candelabro e na tipologia que ele guarda, maravilhemo-nos com a luz divina.

I. A LUZ DIVINA, ÚNICA E IMPRESCINDÍVEL

Antes de conceituarmos a luz divina, buscaremos definir a luz em si mesma. Não será uma tarefa fácil. Apesar de a vermos do primeiro ao último arrebol, ainda não sabemos como defini-la adequadamente. Se o conceito é difícil, como será possível a descrição? Os físicos mais abalizados veem-se ainda perplexos ante as maravilhas de um fenômeno que, embora comum, ainda se revela incomum nos tratados e compêndios.

1. A definição da luz. Se formos a um dicionário da língua portuguesa, leremos uma definição que não irá além destas palavras: iluminação que, tendo como fonte o Sol, ilumina a Terra e os demais corpos da Galáxia. Mais adiante, nesse mesmo léxico, deparar-nos-emos com este complemento conceitual: claridade que parte de alguma fonte luminosa, e ilumina áreas escuras.

As fontes de luz variam em tamanho, potência e cor. Vai do Sol, poetizado como o astro-rei, à lamparina que brilha fracamente na casa do humilde campônio. Mas, quer o primeiro, quer a segunda, ambos simbolizam o Evangelho de Cristo. Nalgumas ocasiões, a mensagem da cruz resplende como no dia de Pentecostes, em Jerusalém. Noutras, tremeluz num folhetozinho já sujo e de letras escondidas; lamparina quase apagada. Seja como for, a Palavra de Deus jamais deixa de refulgir nas trevas. Quanto à cor, apesar das lentes e vidros que se antepõem às suas fontes, a luz será sempre clara e bela.

Vejamos, agora, como a física vê a luz. Aos olhos dessa ciência, a luz não passa de uma onda eletromagnética; sua extensão compreende ondas que, em intervalos regulares, possibilitam a sua visibilidade. Ela pode ser descrita também como a radiação eletromagnética, que se situa entre as radiações infravermelha e ultravioleta. Eis aqui as três grandezas básicas da luz: intensidade, frequência e polaridade.

Já que definimos razoavelmente a luz, de acordo com a nomenclatura da física, olhemo-la, doravante, a partir do prisma profético e apostólico. Nesse sentido, a luz vai sempre além da luz.
2. A luz no Antigo Testamento. Nos prolegômenos teológicos, aprendi que a Bíblia, conquanto não seja um livro científico, não contradiz a verdadeira ciência. Até hoje não descobri a mínima contradição entre a Palavra de Deus e os fatos comprovadamente científicos. Quanto à teoria da evolução, levemos em conta que este palavrório todo jamais saiu do campo das hipóteses desprezíveis.

Sem mais tardança, entremos a examinar a visão hebraica da luz. No terceiro versículo de Gênesis, lemos: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). Logo após o aparecimento da luz, a que convencionamos chamar de cósmica, manifesta-se o Criador acerca de sua obra: “E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.” (Gn 1.4).

A luz já existia, mas ainda não tinha nome. Como alcunhá-la no início da criação? Mas Deus, que jamais teve dificuldades para encontrar palavras, vocábulos e termos, apresentou uma nomenclatura que, embora diversa nas línguas humanas, jamais deixou de ser eufônica e poética em todos os idiomas. Narra o autor sagrado o ornato da linguística divina: “Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (Gn 1.5).

Recorramos ao léxico hebraico, para uma definição mais precisa do vocábulo “luz” no idioma do Antigo Testamento. A palavra ‘owr, na língua hebraica, traduzida em nossas bíblias como luz, traz uma gama considerável de significados: luz do dia, luz sideral, aurora, brilho, resplendor. A luz era empregada também como sinônimo de instrução, de prosperidade e da própria verdade. Por essa razão, Jeová era visto, pelos santos profetas, como a Luz de Israel.

Na devoção dos salmos, o rosto de Jeová é descrito como a luz imprescindível; sem ela, a vida é impossível. Num momento de perplexidade, roga Davi ao Senhor: “Há muitos que dizem: Quem nos dará a conhecer o bem? SENHOR, levanta sobre nós a luz do teu rosto” (Sl 4.6, ARA). Por isso, o sumo sacerdote despedia a congregação de Israel com uma bênção que, entre as menções às bondades divinas, havia uma referência à luz do rosto de Jeová: “O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26, ARA).

Nas palavras dessa belíssima liturgia, o rosto de Jeová é descrito como o Sol em sua máxima resplandecência; uma luz além da luz. E, rebrilhando dessa forma sobre o peregrino, reunia este força e graça para superar o insuperável. Sem o rosto divino a resplender em nossa alma, jazemos em trevas. Mas, raiando em nosso coração, as mesmas trevas fazem-se luz.

A luz de Jeová é necessária ao indivíduo; às nações, insubstituível. Por esse motivo, o salmista, considerando a experiência de Israel, louva ao Senhor: “Bem-aventurado o povo que conhece os vivas de júbilo, que anda, ó SENHOR, na luz da tua presença” (Sl 89.15, ARA).

Se os israelitas tinham como luz a Jeová, não deveriam retê-la; era a sua obrigação profética e sacerdotal apregoar a Palavra de Deus a todos os gentios; missão primordial. No espírito desse reclamo, Isaías exorta, falando pelo Senhor, o remanescente fiel: “Eu, o SENHOR, te chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da aliança com o povo e luz para os gentios” (Is 42.6, ARA).

Nessa profecia, há uma dupla referência. No plano inicial, a palavra é dirigida a Israel. Já no seguinte, a profecia refere-se ao messiado de Jesus Cristo, que haveria de nascer 700 anos depois. Luz por luz, o Filho de Deus levantar-se-ia para iluminar os filhos de Abraão e os descendentes de Noé, que se haviam espalhados a partir da torre de Babel. O Evangelho de Cristo, qual benfazejo sol, espargiria sua luz, indistintamente, sobre as famílias semitas, jafetitas e camitas.

3. A luz em o Novo Testamento. No primeiro capítulo do Evangelho de João, somos agraciados com um gênesis admiravelmente interpretado à luz de Jesus Cristo. Já em suas palavras iniciais, é-nos facultado ver, ali, em plena criação e junto ao Criador, o Verbo a criar os Céus, a Terra, o reino vegetal, o império animal e, primordialmente, o ser humano. Sem o Filho, nada do que existe, existiria. Ele é ação executiva do Pai.

No gênesis joanino, encontramos a luz já no quarto versículo: “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (Jo 1.4, ARA). Na frase seguinte, o Evangelista descreve o ministério da luz: “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (Jo 1.5, ARA). Nesse princípio, a luz não precisa de ajuda para separar-se das trevas. Vencendo penumbras e escuridões, ela resplandece em trevas espirituais, morais, emocionais e éticas. Até mesmo nas trevas teológicas, resplandece ela; nada a pode conter; irresistível.

Agora, numa pausa linguística, examinemos a palavra “luz”, de acordo com o idioma que serviu de plataforma ao Novo Testamento.

Segundo a mitologia grega, a luz origina-se de Phosphorus, uma divindade menor responsável pela claridade do Cosmos. Filho de Eos, a deusa da aurora, o Phosphorus era reverenciado como a Estrela da Alva. Desse substantivo, originou-se o vocábulo phos, traduzido em português como “luz”.

Despido já das roupagens mitológicas, o termo phos seria largamente usado pelos autores do Novo Testamento. Encontramo-lo nos evangelhos, nas epístolas e na revelação final. Examinemos, com mais atenção, essa palavra tão significativa e tão bela. Além de sua primitiva significação, ela é usada para representar a claridade de um candeeiro, o clarão de uma tocha, o brilho de uma estrela e o resplendor do Sol.

Metaforicamente, representa Deus, a verdade, o conhecimento, a pureza e a razão. Todavia, a maior imagem que a luz pode evocar é a do Filho de Deus que, na rude cruz, deu-se em resgate por nossas almas. Ele é a luz profetizada por Isaías, que começaria a alumiar o mundo a partir da Galileia dos gentios:

Mas para a terra que estava aflita não continuará a obscuridade. Deus, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios. O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. (Is 9.1,2, ARA)

Com base nessa passagem, já nos é possível definir uma teologia da luz. Em seguida, estudaremos as implicações do candelabro do Tabernáculo Santo na soteriologia do Testamento Novo.

4. A teologia da luz. A teologia da luz nada mais é do que a doutrina que ensina ser Deus o pai das luzes; alumiar é a sua função. Ele não se limita a espargir luz sobre as trevas espirituais; deleita-se também em esclarecer as simples e elementares dúvidas intelectuais. Se estamos emocionalmente obscurecidos, aclara-nos Ele os sentimentos; ilumina-nos os recônditos do coração e faz-nos a alma brilhar. Para simbolizar a luz por excelência — Jesus em Deus —, ordenou Moisés o fabrico da mais bela mobília do Tabernáculo, que, hoje, serve de símbolo ao Estado de Israel.

II. O CANDELABRO DE OURO

Didaticamente, o Senhor ordenou o fabrico do candeladro, a fim de conscientizar os filhos de Israel de sua missão profética, sacerdotal e real no mundo. Era plano de Deus que, por intermédio dos israelitas, todos os povos viessem a ser abençoados com a luz do Messias.

1. O fabrico do candelabro. Segundo a determinação divina, os artífices fizeram um candelabro de ouro puro e batido (Êx 25.31). A mobília foi de tal forma trabalhada, que formava uma só peça com o seu pedestal, hastes, cálices, maçanetas e flores. Em seu feitio Bezaleel e Aoliabe precisaram de um talento de ouro; de 35 a 40 quilos (Êx 25.39).

Toda a peça era rigorosamente simétrica e harmônica (Êx 25.31-36). Doutra forma, a sua luz jamais viria a brilhar com a intensidade e a perfeição que Deus requer de cada um de seus filhos (Mt 5.16).

2. A luz do candelabro. O azeite para as lâmpadas foi trazido voluntária e generosamente pela congregação de Israel (Êx 25.6). Tendo em vista o significado do candelabro para o culto sagrado, o azeite teria de ser puro e batido; o moído era de qualidade inferior. Sem essas qualidades, o Tabernáculo do Senhor ficaria na penumbra ou até mesmo em trevas. Que simbologia extraímos daqui? Jesus demanda de cada um de nós uma luz de comprovada excelência (Mt 6.23). Nós somos a luz do mundo.

3. O seu lugar no tabernáculo. Para quem entrava no lugar santo, o candelabro de ouro encontrava-se no lado esquerdo ou na parte sul do Tabernáculo (Êx 26.35). Nessa posição, o candelabro, plenamente aceso, proporcionava uma visão única e emblemática da glória de Deus. Se por um lado, lembrava o próprio Cristo, por outro, fazia uma clara referência à Jerusalém Celeste (Ap 1.12,13; 21.18,21).

Mas para que esse brilho perdurasse, era imperioso que Arão e seus filhos cuidassem diariamente do candelabro (Êx 30.7,8). À luz do dia, limpavam-no, provendo-o de azeite. E, quando a noite chegava, ele já estava pronto a reluzir novamente. Assim devemos nós agir em relação ao mundo. Só viremos a reluzir se nos dermos à leitura da Bíblia Sagrada, à oração, ao jejum, à comunhão dos santos e ao serviço cristão.

Ora, se o candelabro já era uma perfeição em si, o que dizer do Senhor Jesus Cristo? Logicamente, a luz do antítipo era infinitamente mais intensa do que a do tipo; proposição básica.


III. JESUS, A LUZ PERFEITA

O candelabro simbolizava Jesus, a sua Igreja e cada um de nós. Nesse móvel, há uma teologia, cuja profundidade não pode ser mensurada; é cristológica, eclesiológica e antropologicamente sublime. Ela mostra que, assim como Cristo é a luz do mundo, assim também deve a Igreja, coletivamente, e o homem de Deus, individualmente, resplandecer como astros num século tenebroso e caótico.

1. Jesus a luz do mundo. No Apocalipse, o Senhor Jesus anda livremente entre os candelabros (Ap 1.12,13). Na descrição do Evangelista, somente a luz do Cordeiro é capaz de levar os castiçais a refulgir. Ele é a luz do mundo por excelência (Jo 8.12). Portanto, só podemos brilhar se estivermos em perfeita comunhão com o Filho de Deus.

Como está o nosso testemunho cristão? Quando eu trabalhava na Imprensa Metodista, na cidade paulista de São Bernardo do Campo, todas as sextas-feiras nos reuníamos para cultuar o Senhor. Ali, naquela humilde capela, tínhamos oportunidade de aprender belíssimos hinos. Num destes cânticos, composto mui provavelmente no século XVIII, havia uma indagação que mexia profundamente comigo. No estribilho, indagava o poeta: “Pode o mundo ver Cristo em ti?”.

Que Jesus é a luz do mundo, todos os crentes o sabem. No entanto, o mundo só poderá vê-la se ela for refletida plenamente em nós. Que não falte o brilho celeste no meu pensar, agir e reagir. Resplandecendo-a em seu cotidiano, os antigos alcançaram bom testemunho.



2. A Igreja é a luz do mundo. Aos seus discípulos, o Senhor Jesus foi claro e decisivo: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5.14). Enquanto estava no mundo, Ele era de fato a luz do mundo (Jo 9.5). Mas após a sua ascensão ao Céu, a missão de alumiar este século passou a ser nossa. E, agora, somos exortados a reluzir não somente como um candelabro, mas como verdadeiros astros (Fp 2.15). Quanto mais anunciarmos o Evangelho e ensinarmos a justiça divina, mais glorificaremos a Deus com a luz de nossa confissão e de nosso bom testemunho (Dn 12.3).

Se a Igreja já não brilha, o que fazer? É hora de emprestarmos as palavras de Habacuque, e humildemente rogar ao Pai; “Aviva, Senhor, a tua obra”. Se brilharmos apenas por nossas riquezas, seremos os mais pobres e miseráveis dos homens. Se reluzirmos somente em virtude de nossa ascensão social, jamais seremos conhecidos diante de Deus. E se viermos a resplandecer tão somente por causa de nossa força política, jamais subsistiremos neste século mau e maligno; quão fracos seremos. Voltemos a brilhar como fiéis testemunhas de Jesus Cristo.

3. O crente como luz do mundo. Individualmente, o Senhor Jesus exorta a cada crente a agir como luz do mundo (Lc 11.35). A luz da confissão de Estêvão brilhou de tal forma, que os seus algozes viram o seu rosto como se fosse a feição de um anjo (At 6.15). Apesar de apedrejado, o seu testemunho ainda hoje reluz, legando-nos um exemplo de pureza, fé e coragem. Ele foi um reluzente candelabro nas trevas espirituais daqueles dias.

A essa altura, a pergunta é inevitável, como manter o fulgor e o brilho de nossa luz? No tópico, a seguir, apresentaremos uma receita simples e bastante comezinha; entretanto, infalível. Seguindo-a fielmente, jamais nos faltará azeite nas lamparinas.


IV. MANTENDO A LUZ BRILHANDO CONTINUAMENTE

Para que a nossa luz continue a brilhar, três coisas são imprescindíveis: a união com Cristo, a comunhão fraternal e o testemunho diário.



1. A união com Cristo. Para reluzirmos como luz do mundo, nossa união com Cristo é imprescindível. O candelabro visto por Zacarias ardia de forma ininterrupta, pois estava ligado a um vaso de azeite, e este, por sua vez, achava-se conectado a duas oliveiras (Zc 4.1-3). Dessa forma, havia um fluxo contínuo de azeite àquele candelabro que, naquela hora tão difícil para o povo de Deus, brilhava continuamente.

Jesus é a oliveira, na qual fomos enxertados (Rm 11.17-24). Unidos a Ele, jamais nos faltará o precioso azeite, para vivermos uma vida plena e vitoriosa (1 Jo 2.20).

2. Nossa comunhão fraternal. O candelabro, embora se destacasse por seus ricos e variados detalhes, formava uma única peça (Êx 25.31). O mesmo podemos dizer da Igreja de Cristo. Embora formada por membros de várias procedências e origens, constituí um único corpo (1 Co 12.13). Agora, todos somos um em Cristo (Rm 12.5). E, por esse motivo, temos de preservar o vínculo do amor fraternal (Ef 4.3; Cl 3.14). Se nos amarmos como Cristo nos recomenda, seremos conhecidos como seus discípulos (Jo 13.34).

A Igreja, como o candelabro de Cristo, deve ser reconhecida por sua unidade, por seu amor e por sua comunhão no Espírito Santo (2 Co 13.13). Não há luz tão intensa como a unidade e a cooperação cristã.

3. Nosso testemunho diário. Nosso testemunho cotidiano não deixa de ser uma expressão profética; protesta contra o pecado. Lembremo-nos de que o candelabro era adornado por figuras de amendoeiras, nas quais brotava a luz gloriosa (Êx 25.33). Esta foi a árvore que marcou o chamamento do profeta Jeremias (Jr 1.11,12). Na tipologia profética, ela é a árvore despertador, por ser a primeira a florescer na primavera.

Quando o mundo vê o bom testemunho de um cristão, o nome do Pai Celeste é glorificado (Mt 5.16). Nosso testemunho diário está intimamente relacionado à luz. Se for realmente bom, nosso candelabro cumpre fielmente a sua missão. Eis por que devemos ser um padrão de boas obras (Tt 2.7).



CONCLUSÃO

Na visão inicial de Patmos, o Senhor Jesus é visto como a andar entre os sete castiçais de ouro; a súmula da Igreja. Não nos é dado saber qual deles mais resplandecia ou qual dentre eles apagava-se. De qualquer forma, ali estava o Filho de Deus a conferir a luz deste, o brilho daquele e, mais adiante, o fulgor daquele outro. Se no quarto faltasse alguma resplandecência, Ele o saberia. Caso, no quinto, a chama estivesse a oscilar, assopraria Ele o seu Espírito Santo. Se, no sexto candelabro, já faltava o precioso azeite, o Cordeiro tudo supriria. Quanto ao sétimo, que continuasse a reluzir como o Crucificado luzira na hora extrema do Calvário.

Que o Senhor Jesus jamais se ausente de nossa vida. Sua luz, em cada um de nós, é um farol neste mundo tenebroso. Amém! Maranata. Ora vem, Senhor Jesus.