(Subsídio Teológico ) CAPÍTULO 1 UMA PROMESSA DE SALVAÇÃO

A salvação é obra de Deus e é oferecida como presente pela sua graça (Ef 2.8-9), não podendo ser alcançada por mérito ou esforço humano (Tt 2.11). Ela tornou-se necessária após a experiência destrutível que o homem experimentou ao pecar no Jardim do Éden, o que tornou deplorável o estado do homem.

Um dos maiores tesouros que a raça humana perdeu com a Queda foi a capacidade de amar plenamente a Deus, a seu semelhante e a si mesmo — essa era a essência da imagem de Deus; agora, apesar da capacidade de amar, foi incorporada a desconfiança, a ira, o rancor, o ódio e a vingança, que passaram a fazer parte dos relacionamentos, alienando (separando) o ser humano do seu semelhante, de Deus e de si mesmo. Isso é motivo de angústias e desesperos no ser humano.
O pecado tem como consequência a destruição da comunhão com Deus, provocando alienação; esta, por sinal, provoca a ira de Deus, bem como a culpa (expectativa de horror pela alienação) no homem, impedindo-o de chegar-se a Deus, estabelecendo a parede de separação (Is 59.2; Ef 2.14);
A santidade de Deus exige uma restituição à altura; o homem, entretanto, não tem condições de satisfazer essa exigência. Sendo assim, Deus evidencia sua misericórdia e amor providenciando uma solução, mas a honra de Deus exigiu o sacrifício de um homem perfeito como único meio suficiente de reconciliação. O ser humano é incapaz de satisfazer essa exigência. Assim, Cristo morreu em lugar da humanidade. Essa incapacidade humana exigiu a morte de cruz para que se compreendesse o imensurável amor de Deus.
Esse estado de pecado no homem causou-lhe a culpa pelo pecado e o medo da morte como consequência (Rm 6.23). Antropologicamente, a culpa tenta ser amenizada aplacando o clamor da alma do homem que lhe grita de forma ensurdecedora: “um preço precisa ser pago”; a exemplo dos povos mais primitivos que criam formas e rituais religiosos para amenizar essa culpa, alguns deles sacrificando animais, fazendo oferendas ou sacrificando ao seu deus algo que lhe custe caro, muitos crentes também podem estar tentando aplacar esse grito de forma errônea, ou sem estarem entendendo todos os benefícios da salvação, ou, ainda, querendo aprofundar esse tema. Daí a necessidade de estudarmos o significado da salvação em Cristo Jesus.
Para livrar-se desses medos anteriormente descritos, o homem procura criar preceitos morais e éticos5 que limitam sua esfera de ação, definindo o que é certo e o que é errado. Quando transcende esse limite, ele sente-se culpado e condenado. Quando se comporta dentro desse limite, pode sentir-se falsamente bem. Alguns círculos religiosos têm procurado satisfazer essa ansiedade traçando para si limites mais estreitos, ou seja, quanto maior seu sentimento de culpa e condenação, mais eles tentam, com isso, amenizar sua consciência. Tal situação pode produzir sujeitos neuróticos e doentes, que muitas vezes não conseguem viver a plenitude da salvação e nem se contentam enquanto os outros não se tornarem como eles. Abusados, tornam- se abusadores da liberdade dos outros e vice-versa, num constante círculo vicioso de proselitismo doentio.
O crente precisa transferir esse apelo para Cristo para livrar-se do legalismo e da culpa. Todos os falsos deuses e legalismos exigem algo do homem para aplacar a ira desse “deus”, mas o Deus verdadeiro fez o contrário: Ele deu a si mesmo em resgate da humanidade! (cf. Gl 1.4)
1. O CONCEITO BÍBLICO DE SALVAÇÃO
A palavra salvação em latim é composta por salvare (tornar seguro) e por salus (boa saúde, ajuda). Disso, é oriundo o cumprimento latino “salve” como um desejo de boa saúde. Portanto, salvação é um termo abrangente cujo significado evoca bem-estar físico, mental, social e espiritual, justamente o que a Bíblia diz ser cura, redenção, remédio, completude, inteireza, integridade e integralidade. “Salvação significa a ação ou resultado de livramento, preservação de algum perigo ou enfermidade, subentendendo segurança, saúde e prosperidade.6 A salvação não é uma ideia ou um projeto apenas; é uma pessoa.
É o próprio Jesus, o próprio Deus quem se dá. Em sua presença todos os debates intermináveis que despertam em nós o sentimento de culpa, todas as diferenças moralistas e nossas defesas contra os julgamentos de outros, tudo isto se esvai. [...] O remorso é silenciado pela sua absolvição. Ele substitui o remorso com uma simples pergunta, aquela que fez para o apóstolo Pedro: “Tu me amas?” (Jo 21.15).7
Tanto os nomes de Deus e de Jesus no hebraico têm semelhanças com a palavra salvação, que é yeshü‘â (livramento, facilidade). Yahweh é Jeová em Êx 14.13 e combina esse nome com o anterior para designar livramento. Yehoshua significa Josué, que é derivado de Yeshua (Jesus), que significa “Yahweh é a salvação”. Portanto, há uma semelhança semântica muito interessante que designa Jesus como o Salvador. “E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (1 Jo 4.14). A palavra para “paz”, em hebraico shãlôm, cujo significado é completude, saúde, bem-estar, harmonia, paz e algo que não foi violado, tem raiz comum com a palavra “salvação”.
O sentido original de salvação (de salvus, “curado”) pode ser interpretado como cura. A humanidade precisa ser curada do pecado. Nesse sentido, curar significa reunir Deus e o ser humano, que estão separados um do outro, e superar a divisão e a inimizade entre as pessoas e Deus. É exatamente por isso que Jesus disse à mulher que foi curada por tocar na vestimenta dEle: “Filha, a tua fé te salvou” (Mc 5.34).
“Salvação” tem origem também na palavra grega sóter. O vocábulo “soteriologia” é um termo teológico composto por duas palavras gregas: sōtēria que significa “salvação, cura, recuperação, redenção, remédio, bem- estar”, e do substantivo logia, cujo significado primário é “estudo, tratado ou ensino”. Em sentido literal, soteriologia é “o estudo, ensino, ou tratado acerca da salvação”. O substantivo grego soteria ocorre cerca de quarenta e cinco vezes nas Escrituras Neotestamentárias, enquanto o verbo sōzō (salvar, conservar do mal, socorrer), ocorre cento e seis vezes.8
Salvação é a saída do estado de pecado para o estado de graça e perdão. O cristão que aceita a Jesus como seu Salvador vive sua vida de forma abundante, ou seja, ele experimenta não apenas a certeza da vida eterna, mas também, já aqui nesta vida, a antecipação do Reino de Deus, podendo viver em paz, em saúde e em prosperidade em todas as dimensões da vida; além disso, ele experimenta também a comunhão com Deus, o perdão e a libertação dos pecados, apazigua sua alma de temores, desfruta a vida em felicidade; ele é nova criatura e esforça-se para compartilhar e implantar as realidades do Reino de Deus em sua vida e no mundo. Salvação significa que Cristo fez a expiação pelo pecador, ocupando seu lugar na cruz (passado); significa que o crente é regenerado e santificado (presente) e será glorificado integralmente (futuro).
Existem várias doutrinas bíblicas relacionadas à salvação; algumas delas serão discorridas neste livro, dentre as quais citamos:9 do pecado (Rm 3.23); da graça de Deus (Tt 2.11); da expiação (Lv 17.11); da redenção (Ef 1.7); da propiciação (Êx 32.30); da fé salvífica (Ef 2.8); do arrependimento (Mc 1.14- 15); da confissão dos pecados (Rm 10.9-10); do perdão dos pecados (Cl 3.13); da regeneração (1 Pe 1.3); da adoção (Gl 4.5-6); da santificação (1 Co 6.11); da eleição divina (1 Pe 1.2); da predestinação dos salvos (Rm 8.29); do livre-arbítrio (Mc 16.16); da justificação (Rm 8.30) e da glorificação futura (Rm 8.30). Os principais aspectos da salvação,10 que serão abordados num capítulo específico, referem-se à regeneração, à justificação e à santificação.
Essas doutrinas podem ser divididas em duas partes, que são: (1) as provisões feitas por Deus, que incluem a morte, ressurreição, ascensão e exaltação de Cristo; e (2) a aplicação das provisões, que são arrependimento, fé, justificação, regeneração, adoção, eleição, santificação, confiança e segurança.11
No Antigo Testamento, a salvação está relacionada a escapar das mãos dos inimigos, à libertação da escravidão e ao estabelecimento de qualidades morais e espirituais (Is 33.22ss;). Portanto, diante de ameaças de calamidade física (Êx 15.25), de perseguição (Jz 15.18; 1 Sm 10.19; 2 Sm 22.3), de escravidão, de doenças e da morte, Deus promete salvação no sentido de libertação (Êx 14.13; 15.2,13), livramento e cura (Is 38.16; 58.8). As narrativas do Antigo Testamento têm em vista demonstrar como Deus intervém na história através do amor e, com isso, fica evidente seu imenso interesse em salvar a humanidade perdida.
A salvação no Antigo Testamento envolve o fato de que, quando há transgressão do povo de Deus e o consequente cativeiro, Deus provê libertação (Ne 9.27; Is 46.13; 52.10). Assim sendo, salvação no AT aponta para várias figuras e tipos de Cristo como o Messias Salvador. Os personagens de José do Egito, Moisés, Josué, Davi, Isaías e vários reis e profetas apontam para o caráter salvífico que Cristo efetuaria de uma vez portodas na cruz do Calvário.
        O sacrifício de Cristo teve um grande sentido salvífico. Foi um favor imerecido da parte de Deus para com os pecadores que deveriam sofrer merecidamente, mas Cristo fez essa substituição: o santo pelos pecadores, o justo pelos injustos. Os sacrifícios do Antigo Testamento tinham sua transitoriedade temporal, mas o de Cristo teve validade eterna, como escreveu o autor de Hebreus: “mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus” (Hb 10.12).
Paulo, em suas epístolas, é quem mais esclarece os conceitos de salvação, mostrando que não há salvação por intermédio da Lei, nem por esforços humanos, mas unicamente pela graça de Deus (Gl 2.16). Cabe ao homem confiar pela fé na retidão de Cristo que o redimiu por sua morte e que o justificou por sua ressurreição (Rm 4.25). Através de Cristo, Deus justifica o pecador sem que este mereça, perdoa o seu pecado, reconcilia-o consigo (Rm 5.11), adota-o em sua família (Gl 4.5), dando-lhe o selo do seu Espírito, fazendo dele uma nova criatura. O Espírito Santo capacita o crente a viver em santidade, mortificando a força do pecado, tornando-o semelhante a Cristo (Rm 8.29), esperando sua salvação completa e gloriosa (Fp 3.21).
2. A IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA DA SALVAÇÃO
A importância da doutrina da salvação dá-se porque Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5). Ele é o único Salvador, e sua obra salvadora abrange todas as dimensões humanas: física, emocional, mental, religiosa, social, econômica, histórica e escatológica. Portanto, algo tão abrangente é de suma importância para ser conhecido por todos os crentes. Ela significa que o crente experimenta uma nova vida em Cristo, onde a salvação é a porta de entrada no Reino de Deus e da vivência das realidades deste Reino, aqui e agora, e que receberá a plenitude dEle na vida eterna.
As realidades presentes na salvação no aqui e agora dizem respeito à indelicada posição que o homem ocupa diante de Deus por causa do pecado, que é desafiá-lo em arrogância e “desejo de ser igual a Deus. [Em] asserção de independência humana contra Deus”.12 O homem encontra-se alienado, fracassado, escravo, rebelde, enfermo e condenado à morte; mas, através da salvação, essa condição é resolvida, dando-lhe condições satisfatórias de viver em harmonia consigo, com Deus e com o próximo. Por melhores que sejam, nem a religiosidade e nem mesmo condições sociais e econômicas favoráveis podem mostrar-se eficazes no combate à angústia do pecado, à culpa e à condenação ao Inferno. Somente a obra salvadora de Cristo, aceita em atitude de fé e confiança, pode trazer alívio a essa terrível condição humana. A salvação de Cristo proporcionou-nos a salvação do Inferno — a chamada morte eterna — e a salvação em relação àquilo que conduz ao Inferno, que é o pecado.
Embora haja na vida do cristão um momento de conversão, de ruptura com uma velha vida e nascimento para uma nova vida em Cristo, é necessário esta ser acompanhada de um sempre maior conhecimento de seus benefícios (1 Tm 2.4). Nesse sentido, deve-se tomar o capacete da salvação e a couraça da justiça (Ef 6.14,17); e preencher a mente e o coração com as verdades e mudanças processadas através da salvação para estarmos livres das investidas de Satanás, que coloca dúvidas, e para compreendermos conceitos e práticas fundamentais da doutrina cristã da salvação e apropriarmo- nos sempre mais dos benefícios espirituais e materiais desta tão grande salvação.
A salvação abrange todas as dimensões da vida; para isso, basta apenas aceitar a Cristo (Rm 10.10) — muitas vezes, seu processo é lento e requer compreensões maiores — é o que chamamos de aperfeiçoamento dos santos. Como a salvação pode ser negligenciada (Hb 2.3), devemos esforçar-nos para conhecer e apropriarmo-nos de todos os seus benefícios, dentre os quais citamos: livramento da condenação do Inferno, libertação do poder do pecado e do poder das trevas (Cl 1.13) para experimentar a redenção em Cristo (1 Pe 1.18,19), para cuidar da criação (Rm 8.22), para andar segundo o Espírito (Rm 8.1), para nascer de novo (Jo 3.5) e participar da ressurreição (Cl 3.1).
A realidade da salvação convoca-nos para um agir no mundo, como uma antecipação do Reino de Deus, promovendo a paz, o amor e a justiça numa sociedade caótica e carente de Deus, cujos valores estão cada vez mais deturpados pelos pecados da ganância, do egoísmo, do individualismo, do capitalismo selvagem e de toda variedade de situações que o pecado cria e impõe sobre o homem. Dessa forma, o evangelho torna-se a única solução possível, cabendo àqueles que foram alcançados por ele propagarem essa tão grande verdade a respeito da bondade e do interesse de Deus em proporcionar vida plena a todo ser humano.
Embora a salvação tenha implicações para a eternidade e religue o ser humano a Deus, ela manifesta-se também no tempo presente, na reconciliação do relacionamento do ser humano com o outro, “no pão sobre a mesa, no bem-estar do corpo, numa mente sadia” e num relacionamento saudável consigo e com a criação. “Esta vida humana reconciliada com Deus anda em justiça, amor e na prática do bem (At 27.20,31,34; Rm 1.16; Ef 1.1- 14)”.13
A compreensão da doutrina da salvação nos primórdios era entendida como fuga do mundo, depreciando-se a criação e desconfiando de todas as coisas da vida nesta terra. Hoje, os pentecostais já pensam de outra maneira, sentindo sua responsabilidade que engloba a vida em sua plenitude. O sopro do Espírito, através da educação teológica, tem aberto os olhos para a estética, as artes e as questões públicas e políticas; portanto, uma salvação que tem implicações práticas de construir uma vida melhor.14 Entretanto, os extremos devem ser salientados, pois uma preocupação com a vida apenas aqui nesta terra tem indícios de Teologia da Prosperidade, o que novamente é uma afronta à obra de Cristo na cruz que, além de preparar-nos uma vida plena aqui na terra, prepara-nos especialmente para a vida além.
3. A SALVAÇÃO PROMETIDA NO ÉDEN
O pecado é a ruptura da comunhão do homem com Deus e a ruptura da comunhão dos homens entre si; é o fechamento do homem sobre si mesmo como multiforme atitude de ruptura com os demais e também com a natureza, a flora e a fauna, promovendo destruição e morte. Essa é a realidade do homem desde que ele pecou no Jardim do Éden. Como consequência natural do pecado, Deus disse que a terra perderia parte de sua capacidade produtiva; por conseguinte, todos os animais e plantas também sofreriam as consequências. Deus ainda disse que tanto o homem quanto a mulher teriam esforços excessivos e dores para organizarem suas vidas fora do Éden e que seus próprios corpos experimentariam as consequências do pecado até mesmo nas situações econômicas e sociais e, por fim, a terrível sentença de morte. Portanto, o pecado foi a pior tragédia para o homem como jamais se presenciou na história.
Num sentido ético, as consequências do pecado foram que:15 (1) ocorreu a depravação ou corrupção da natureza humana. No pentecostalismo, tal depravação não impede que o homem responda positivamente ao gesto gracioso de Salvação que Deus oferece; (2) originou-se a culpa como obrigação de reparar pelo pecado cometido diante da santidade divina; (3) uma pena teria que ser paga, ocasionando sofrimento e perdas para reparar o dano; outra consequência do pecado foi que, ao se sentirem culpados, o homem e a mulher (4) afastaram-se de Deus, alienaram-se dEle — o que é um estado natural do homem pecador —, mas a salvação em Cristo proporciona o reencontro com Deus religando a comunhão com o Criador, que é necessária e vital para o ser humano.
A partir do momento que pecou, a raça humana passou a expressar e vivenciar a maldade; até então, viviam nus um diante do outro, ou seja, não havia limites para conhecerem um ao outro, e eles podiam relacionar-se com confiança plena; a partir do pecado, eles tiveram que encobrir a maldade do coração para conseguirem relacionar-se. A obra de Cristo permite-nos conviver em verdade e sinceridade, pois a maldade do coração é substituída pela capacidade de relacionar-se em amor, bondade e cuidados como uma consequência prática da salvação.
A resposta que Adão e Eva deram a Deus ao serem questionados por Ele após pecarem aponta para o fato de que o homem é incapaz de resolver o problema do pecado e de sua salvação. Ambos transferiram suas culpas para outros, e foi justamente essa a solução que Deus já havia providenciado: a substituição. Naquele instante, Deus transferiu a culpa para um animal inocente, cuja pele foi usada para cobrir a nudez, o qual simbolizava Cristo, que seria o sacrifício perfeito para salvar a raça humana e cobrir a nudez do pecado.
Deus anunciou no Éden o que é chamado de protoevangelho, ou seja, a primeira vez na história humana em que é proclamado que Deus daria um jeito definitivo para a queda do homem. Deus não abandonou o homem, pois sabia que este não sobreviveria nesse estado, que lhe rouba toda a alegria e vitalidade. O intento de Satanás não ultrapassa a tentativa de ferir o calcanhar do homem, mas Cristo, através de sua salvação outorgada na cruz, esmaga- lhe a cabeça, significando uma solução definitiva para o estado do homem (Gn 3.15). A peçonha do pecado, que Satanás tenta passar ao ser humano quando fere seu calcanhar, é aniquilada pela morte redentora de Cristo. Portanto, Deus promete a salvação ao ser humano apesar de sua condição de rebelado, de pecador e de inimigo de Deus por causa do pecado. Ainda mais:
Deus pode realizar o que promete, pois Ele é fiel.
O Senhor prometeu salvação ao homem desde que este pecou no Jardim do Éden. A partir desse momento, Deus moveu-se na história humana a ponto de, em todas as suas intervenções, manifestar sua intenção de salvar, curar e preservar a raça humana. Existe a história geral da humanidade como micro- história, protagonizada pelos homens, e também a história da salvação como macro-história, protagonizada pelo próprio Deus. A história humana é emoldurada pela história de Deus e tem a ver com as intervenções que Ele faz de acontecimentos ligados entre si pelo nexo soteriológico/revelacional. Assim sendo, Deus revela-se à humanidade através da história da salvação, a macro-história, cujos eventos são essenciais para que a mensagem do evangelho seja entendida.
Jesus inseriu-se na história da salvação como seu executor, proclamador e mediador, criando a redenção com sua morte. Os apóstolos declararam fé no novo evento divino e interpretaram-no de forma soteriológica. É feita uma nova revelação da história da salvação a Paulo, o qual se sente chamado a expô-la aos pagãos. Tal revelação é a exposição do desígnio divino de redenção (Gl 1.12ss). O apóstolo João uma claríssima base histórico- soteriológica em que Jesus ocupa posição central ao longo da trajetória da história da salvação. A Igreja, por sua vez, acolhe o Antigo Testamento no Novo Testamento significando que a fé cristã é fé numa ação divina para a salvação ao longo da história.16 Assim, o fio vermelho (linha central) de toda a Bíblia é Cristo, de onde decorre toda a história humana. A morte de Cristo na cruz e sua ressurreição são o ápice da história da salvação que Deus vivencia com a raça humana. Nessa morte, todo o amor, misericórdia e bondade de Deus manifestaram-se como um gesto salvífico sem comparações na história.
As intervenções de Deus na história têm como alvo central a revelação de si mesmo ao homem através de seu Filho. Assim, a própria Bíblia, a consciência e natureza e, finalmente, Cristo, são a revelação de Deus na história. As intervenções de Deus na história da humanidade são sempre cheias de amor, bondade e justiça, inclusive as intervenções particulares (histórias individuais de cada um). As suas intervenções vão muito além da fé pessoal naquilo que Ele é capaz de fazer, ou seja, elas extravasam o limite de fé. Se nossa fé pessoal fosse limitada, Deus deixaria de ser Deus, pois seu agir vai muito além de nossa capacidade de crer, e não haveria história da salvação para contar.
Segundo Oscar Culmann (1902–1999), toda a história da salvação está virtualmente contida num único evento: no fato de que todo o passado da história da salvação tende para essa intervenção; dela brota todo o presente e representa todo o futuro da redenção, ou seja, para a morte de Cristo na cruz, inaugurando o “já agora” da redenção, quando estamos na fase intermediária da salvação definitiva chamada de “ainda não” escatológico. A morte de Cristo na cruz foi a batalha decisiva da história da salvação, mas a vitória final será dada no fim da história. Dessa forma, vive-se, na atualidade, na tensão (spannung) aflitiva e hostil empenhada pela força das trevas e do mundo entre o “já agora” e o “ainda não”.17 A morte de Cristo, embora sendo o centro da história, não é o seu fim; porém, profeticamente, tem caráter final, conclusivo, sendo o início da vitória final. Em Cristo, a salvação de Deus revela sua integralidade e torna-se visível.18
Deus faz a macro-história acontecer quando cria todas as coisas e intervém quando for preciso. A título de exemplificação, ele interviu: quando do sacrifício temporário para o pecado original; para proteger Caim; no Dilúvio, para refrear o mal; na Torre de Babel, para evitar o caos; no chamado de Abraão e nascimento de Isaque; na ascensão de José, para preservar seu povo da fome; na liberação do Egito com milagres evitando a opressão de seu povo; no provimento das necessidades de Israel na travessia do deserto; na conquista da Terra Prometida; na escolha de Davi e de sua linhagem como rei; no envio de profetas que avisaram seu povo da destruição e do cativeiro; na ida para o cativeiro, para eliminar a idolatria de seu povo; na ascensão de Ester a um trono pagão para proteger seu povo; na libertação do cativeiro babilônico; tudo isso visando à sua maior intervenção na história humana: o envio de seu Filho ao mundo. O Senhor interveio, ainda, na descida do Espírito Santo em Pentecostes; na disseminação do evangelho aos gentios através de Paulo; na capacitação da igreja para a revelação de Jesus Cristo na terra; no chamamento particular de cada um para a salvação; na escolha e chamado para o ministério de cada um. Ele, da mesma forma, intervirá na volta de Jesus para arrebatar seu povo e também quando se fizerem novas todas as coisas e, enfim, morarmos para sempre com Ele na nova Jerusalém.
Existem três instâncias humanas que a promessa de salvação opera. Temos a passada e instantânea, que se refere tanto ao sacrifício efetuado temporalmente na cruz no tempo passado e a imposição do alcance dessa morte no pecador agora redimido que confiou em Cristo para o perdão e que, assim, torna-se filho de Deus e co-herdeiro com Cristo (Cl 1.22). A segunda instância é a presente e progressiva, cuja ação santificadora do Espírito demonstra em atitudes, palavras e ações (Fruto do Espírito) o que aconteceu internamente no passado (Fp 3.12-13; 2 Pe 3.18). A terceira instância é a futurista e escatológica, que é a finalização definitiva da salvação em que nem o pecado nem a morte terão qualquer domínio sobre o crente e quando estaremos para sempre com o Senhor.
Deus tem poder ilimitado e demonstra sua intervenção na história, apesar de os acontecimentos e catástrofes apontarem, muitas vezes, para o caos. Além disso, o protagonismo humano na história, na maioria das vezes, é destrutivo, tendo em vista sua situação de pecado; todavia, a história da salvação de Deus em Cristo terá um final feliz e tem força sobre os acontecimentos presentes, pois foi efetuado com um alto preço na cruz do Calvário. Cabe aos alcançados por essa salvação utilizar sua capacidade profética de interpretar o tempo presente e denunciar onde os seres humanos violam a história da salvação divina. Os alcançados trabalham em favor do evangelho para que a salvação alcance os confins da terra, os corações mais endurecidos e as situações de miséria humana como, por exemplo, fome, guerras, opressão e destruição, a fim de que os benefícios dessa salvação sejam acessíveis a todos os que sofrem pelas condições precárias da vida humana e também pelas perdas que o pecado causou a toda a humanidade. Ele é antes do início, foi crucificado (passado), reina agora invisível e voltará no fim dos séculos para estabelecer seu reinado eterno.




Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Clainto Ivan Pommerening.

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(SUBSÍDIO TEOLÓGICO) LIÇÃO 13/2017- A FAMÍLIA E A SUA NATUREZA

          
 
O tema “família” é vasto e complexo porque abrange a diversas áreas do saber humano. No contexto religioso, envolve a área bíblica, teológica e doutrinária; no campo social, envolve sociologia, antropologia, psicologia e o campo jurídico. Desde a Antiguidade, os judeus tinham uma legislação específica sobre o assunto, a interpretação dos diversos preceitos sobre da Lei de Moisés relativos à família na sua amplitude. É a terceira parte da Mishná, intitulada, Nashim, “mulheres”, que legisla sobre noivado, casamento e divórcio. A Mishná é a segunda parte do Talmude, antiga literatura judaica, a Lei Oral identificada no Novo Testamento como a “tradição dos anciãos” ou “dos antigos” (Mt 15.2; Mc 7.3).

         Muitas obras sobre o tema aqui em tela já foram publicadas com grande sucesso, trazendo bênçãos para as igrejas, e vários seminários sobre a família são promovidos pelas igrejas, e têm sido uma bênção. Não se pretende aqui repetir o que os outros já disseram com clareza e muita propriedade, nos seus escritos e seminários. O enfoque do presente estudo se restringe a alguns pontos já conhecidos dos crentes, como reiterar e reafirmar alguns aspectos da tradição cristã com respeito ao conceito de família, reiterando os princípios do casamento estabelecido por Deus na criação: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2.24), da monogamia, da heterossexualidade e de sua indissolubilidade.
A Igreja, como um povo especial, zeloso e de boas obras, está muito distante de tais práticas, e os crentes em Jesus jamais terão formadores de opinião como referência.

O CONCEITO DE FAMÍLIA
         Os dois principais termos hebraicos para “família” no Antigo , â, “família, clã, parentes”, e bayît. Testamento são mishpah “casa, lar, templo, família”. Mas o termo “família” na Bíblia tem significado amplo; pode indicar o lar, o clã, a tribo e a própria nação, como também uma dinastia e até a Igreja. Mas o sentido que nos interessa aqui é família composta de pai e mãe ou pai, mãe e filhos, a família nuclear (Gn 35.2; Hb 11.7).
         No entanto, a família nuclear é também identificada como “casa” nas Escrituras Sagradas: “Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Js 24.15); “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (At 16.31). Está claro em Josué 7.14-18, no â. O significado de mishpah caso do pecado de Acã, na ordem para determinar por sorteio o ( â. shebet), depois a família [mishpah culpado, primeiro a tribo [ em seguida a casa [bayît] (vv. 14, 17, 18).
         Essa mesma ordem reaparece mais adiante: “Fazendo chegar a tribo de Benjamim pelas suas famílias, tomou-se a família de Matri; e dela tomou Saul, filho de Quis” (1 Sm 10.21); “Não sou eu o menor da tribo de Benjamin? E a minha família, a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim?” (1 Sm 9.21). A tribo é a shebet de â de Matri, de onde a família ou clã é a mishpah Benjamim, procedeu o pai de Saul, Quis. A ordem é a seguinte: tribo, clã e família nuclear.
          O clã é a família estendida. A palavra bayît indica geralmente os moradores de uma única casa, ao passo que é uma subdivisão da tribo. â. mishpah A família no contexto deste capítulo é a nuclear, composta de pai, mãe e filhos (Sl 128.1-4). Nem todos os casais têm filhos, ou seja, não é sempre que a família tem filhos. Abraão e Sara só tiveram Isaque já avançados em idade e em cumprimento das promessas de Deus (Gn 18.9-15); da mesma forma, Zacarias e Isabel só tiveram João Batista na velhice (Lc 1.5-25). O termo “família” expressa em si mesmo a ideia de que o homem não foi criado para viver só, isolado e na solidão, mas em amor, companheirismo e responsabilidade de pacto (Gn 2.18).13 Família é um conceito de pacto, que une um homem e uma mulher (Ml 2.14). O casamento é o início de uma nova família, um novo lar, uma nova vida que começa como realização dos sonhos dos noivos.
         O casamento é uma instituição estabelecida pelo Criador (Gn 2.18-24) e sancionada pelo Senhor Jesus Cristo, com sua presença nas bodas de Caná da Galileia (Jo 2.1-6). Consiste na união de um homem e uma mulher que se amam e se respeitam.
É a melhor e a mais sólida estrutura social que Deus estabeleceu, com três propósitos, a saber: a) para que o casal edifique um altar de adoração a Deus em seu lar; b) para a felicidade humana; c) para conservar a raça humana sobre a terra – a procriação. O apóstolo Paulo ressaltou a pureza e a santidade do ato conjugal ao compará-lo com a união mística entre Cristo e a sua Igreja (2 Co 11.2; Ef 5.22-33).
         A família não é invenção humana; ela é sagrada e foi instituída por Deus na criação: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1.27, 28) e ratificada e sanificada pelo Senhor Jesus com a sua presença no casamento de Caná da Galileia (Jo 2.111).
         As palavras “macho e fêmea os criou” mostram que o homem, ’adam, em hebraico aqui, significa ser humano. A recente edição da Bíblia, Nova Versão Transformadora (NVT), traduz assim o v. 27: “Assim, Deus os criou seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou”, explicando no rodapé o significado ’adam.
Sem dúvida, o relato da criação aqui remete à igualdade ontológica de ambos (Gl 3.28), pois ambos são portadores da imagem divina; a diferença é em sexualidade (1 Pe 3.7).
         A Bíblia ilustra essa união entre um homem e uma mulher com a comunhão de Deus com seu povo Israel (Is 54.5) e de Cristo com a sua Igreja (2 Co 11.2; Ef 5.22-33). Deus instituiu a família para a procriação do gênero humano sobre a terra, para a multiplicação da espécie humana: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra”, e para o bem-estar espiritual, emocional e físico, o companheirismo e a felicidade do casal, isto é, do homem e da mulher (Gn 2.18-25). Ao unir esse casal, Adão e Eva, estava Deus instituindo o casamento. É de Myer Pearlman essa declaração: “A natureza dessa união foi instituída por Deus com o primeiro casal humano, Adão e Eva, lá no jardim do Éden; seu propósito foi proporcionar felicidade à raça humana. Desde então os seres humanos a têm praticado, e, para dar-lhe consistência, a têm legalizado. Pode dizer-se que o matrimônio é o contrato legal de uma união espiritual” (PEARLMAN, 1987, pp. 6, 7).
         A família é um dos temas importante da Bíblia. A atenção que Deus dá a família não deve passar despercebida. A família consta desde o relato da criação. O Gênesis é o livro das origens de todas as coisas: dos céus e da terra, do homem e do pecado, do sacrifício e da promessa de redenção, do casamento e da família, do homicídio, das nações, das línguas e da nação de Israel. A historicidade dos seus três primeiros capítulos é confirmada em toda a Bíblia. Há no Decálogo pelo menos três preceitos em defesa da família – o quinto: “Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12; Dt 5.16), o sétimo: “Não adulterarás” (Êx 20.14; Dt 5.18), e
o último: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Êx 20.17; Dt 5.21). A Lei de Moisés dispõe de diversos preceitos para proteger a família. O Antigo Testamento traz diversos conselhos e orientações para a harmonia e a alegria no lar. O Novo Testamento não é diferente. Quando o Senhor Jesus Cristo trata do assunto do divórcio, condenando o adultério e toda a formação de prostituição, e mencionando os preceitos do Decálogo, está na mesma linha do Antigo Testamento. O apóstolo Paulo é mais específico no aconselhamento de casais e no relacionamento de pais e filhos (1 Co 7.1-40; Ef 5.22-33; 6.1-4; Cl 3.18-21; 1 Tm 2.9-15; 3.4, 5, 8-16; Tt 2.1-8). O apóstolo Pedro também aconselha os casais (1 Pe 3.1-7).
         O ensino transmitido pelas famílias cristãs aos filhos é uma contribuição importante na construção de uma sociedade justa e solidária. Mas o mundo espera uma solidariedade sem Deus, e paz e justiça sem Jesus; o modelo mundano é uma afronta a Deus, por isso os expoentes ateus e incrédulos veem na família uma ameaça e assim procuram eliminá-la com suas leis. Tudo o que é de Deus ou provém dele é odiado pelo reino das trevas. Jesus disse: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim” (Jo 15.18). Daí esse desprezo pela família cristã.


PRINCÍPIOS BÁSICOS
         São três os princípios básicos originais do casamento estabelecido pelo Criador: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2.24). O fato de o homem deixar pai e mãe e “apegar-se-á à sua mulher” remete a dois princípios fundamentais: a heterossexualidade, pois o casamento é entre um homem e uma mulher; e a monogamia, porque está escrito “à sua mulher” e não “às suas mulheres”. O homem deve se casar com uma só mulher.
O terceiro princípio original é o da indissolubilidade, “e serão ambos uma carne”.
         A heterossexualidade é o relacionamento conjugal com aprovação divina dentro do casamento. Quando Deus disse:
“Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1. 28), estava se referindo ao casal “macho e fêmea” (v. 27). Isso diz respeito à procriação, que só é possível pelo ato conjugal entre um homem e uma mulher. Com o avanço dos recursos científicos, é possível o invento de muitas coisas, mas esses princípios são invioláveis, a heterossexualidade e dentro do casamento, numa relação sexual responsável. Ninguém tem o direito de fazer o que quiser com o seu corpo, pois está escrito que ele pertence a Deus e não a nós mesmos (1 Co 6.20; 7.23), e nem a outrem sem responsabilidade.
A ideia gnóstica é de que o corpo é por natureza mau, mas não danifica a pureza do espírito; assim pode-se fazer dele o que quiser é completamente falsa, pois Deus veio ao mundo num corpo (Jo 1.14; Hb 10.5), o nosso corpo é a morada de Deus e do Espírito Santo (1 Co 3.16; 6.19) e Deus irá ressuscitá-lo (1 Co 15.42). Assim, o corpo deve ser conservado em santidade (1 Ts 5.23). A heterossexualidade é pecado fora do casamento; isso se chama adultério ou fornicação.
         A prática homossexual é condenada de ponta a ponta na Bíblia (Gn 19.4, 5; Lv 18.22; 20.13; Jz 19.22; Rm 1.24-28; 1 Co 6.10; 1 Tm 1.9, 10; Jd 7); mesmo assim, há um esforço concentrado de eliminar essa condenação exarada no Livro de Deus, até mesmo por alguns “teólogos”. Eles podem até convencer as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde, os parlamentares do mundo inteiro, todos os governantes da terra, mas jamais poderão convencer o Deus do céu, autor da Bíblia.
         A monogamia é o sistema que estabelece o casamento de um homem com uma única mulher e vice-versa, estabelecido por Deus na criação: “apegar-se-á à sua mulher” (Gn 2.24). O texto não diz “às suas mulheres”; este é o princípio original. O vocábulo vem de dois termos gregos: monós, “único”, e gamos, “casamento”. O sistema monogâmico é o oposto da poligamia e da poliandria.14 O modelo divino original é resgatado no cristianismo, a começar pelo Senhor Jesus ao ratificar a instituição no relato da criação (Mt 19.4-6). O apóstolo Paulo também reafirma esse princípio: “Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido” (1 Co 7.2). E, mais adiante, nos requisitos para os presbíteros, cujo ensino vale para todos os cristãos, o apóstolo afirma: “marido de uma só mulher” (I Tm 3.2). Havia no começo do cristianismo muitas famílias polígamas, provenientes tanto dos judeus como dos gentios. Eram situações que não podiam ser facilmente resolvidas. Essas pessoas abraçaram o evangelho de Jesus, nasceram de novo. O que deviam fazer com suas mulheres e filhos? Muitos ficaram assim, nessa condição, mas não podiam exercer cargos na Igreja.
         O termo “poligamia” vem de duas palavras gregas: polys, “muito”, e gamos, “casamento”. Trata-se do sistema social que permite a um homem se casar com mais de uma mulher ao mesmo tempo, e isso foi introduzido pelo pecado (Gn 4.19). No antigo Oriente Médio, era mais uma ostentação de poder (1 Rs 11.1-3). A poligamia nunca foi um mandamento; simplesmente aparece na legislação mosaica (Êx 21.9, 10; Dt 21.15). Os judeus abandonaram essa prática, mas os muçulmanos ainda a mantêm.
         Ela não aparece no Antigo Testamento depois da monarquia, exceto no caso de alguns reis, como Davi e Salomão, isso mostra que nesse período não era estilo de vida do povo, mas exceção.
         A indissolubilidade do casamento está no propósito divino desde o princípio da criação, como disse Jesus: “Não tendes lido que, no princípio, o Criador os fez macho e fêmea e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem” (Mt 19.4-6). O Senhor Jesus está dizendo que a vontade de Deus expressa nas palavras de Gênesis 2.24 é a indissolubilidade. Isso é da natureza do casamento, independentemente da confissão religiosa dos nubentes. Deus está presente no voto solene durante o pacto do casamento, a cerimônia, qualquer que seja o regime, cultura regional ou época. Essa verdade está presente numa repreensão divina à falta de fidelidade conjugal: “Porque o SENHOR foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher do teu concerto” (Ml 2.14). Assim, o casamento é mais que um contrato jurídico; é uma união espiritual e indissolúvel.
         O divórcio é um remédio amargo para uma solução inglória. A Bíblia não incentiva nem encoraja o divórcio (1 Co 7.10, 11); apenas o permite em situações específicas por causa da pecaminosidade humana (Mt 19.7, 8). Em termos genéricos, pode-se afirmar que casamento só termina pela morte de um dos cônjuges (Rm 7.4), pela infidelidade conjugal (Mt 5.31; 19.7) ou pela deserção por parte do cônjuge descrente (1 Co 7.14, 15). A nota de rodapé sobre 1 Coríntios 7.8-16 da Bíblia de Estudo Apologia Cristã, publicação da CPAD, conclui assim o assunto:
         Paulo não estava contradizendo o ensinamento de Jesus, nem fazendo acréscimos a ele, mas aplicando-o a um contexto particular. As Escrituras apresentam duas claras infrações ao concerto do casamento (Gn 2.24; Mt 19.5): a deserção (que infringe a instrução de “apegar-se”) e o adultério (que infringe a instrução de ser “uma só carne”); em minha opinião, estas infrações são motivos legítimos para o divórcio (e, portanto, um novo casamento). Onde esta ruptura não tiver ocorrido, o novo casamento depois do divórcio não é opção aceitável. Quando possível, todavia, a reconciliação é o ideal.
         O cônjuge vítima de traição e de deserção não estará em adultério se contrair novas núpcias.
Pacto é o mesmo que uma aliança, um concerto; o termo vem do hebraico berît e do grego diatheke, é uma obrigação entre pessoas, como amigos, marido e mulher; entre grupos de pessoas; ou entre divindade e indivíduo ou um povo. O verbo “fazer” presente em “fazer aliança, pacto, concerto” corresponde ao hebraico karat berît, que literalmente significa “cortar aliança, pacto ou concerto”. Isso porque sua origem está no sacrifício de animais que são partidos ao meio durante a cerimônia de um pacto (Gn 15.9-18; 31.44-54).
         A poliandria é o sistema social e familiar que inclui a pluralidade de maridos; é a poligamia às avessas, quando uma mulher pode ter mais de um marido ao mesmo tempo. Não é muito comum, mas ainda pode ser visto na região do Tibet.

EXTRAÍDO DO LIVRO CUJA INFORMAÇÕES ABAIXO.

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Sábado - Ef 5.31-33®LBA¬ A sacralidade da família.

Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne.

Extraído do livro comentário  do novo testamento aplicação pessoal.

5.31 A história da criação fala do plano de Deus para que o marido e a esposa sejam um (Gn 2.24); Jesus também se referiu a esse plano (Mt 19.4-6). A união do marido e da esposa funde duas pessoas de tal maneira, que pouca coisa pode afetar um sem afetar o outro. A unidade no casamento não significa que uma pessoa anule a sua personalidade em função da personalidade da outra. Ao contrário, significa que cada um dos cônjuges se preocupe com o outro como se preocupa consigo mesmo, aprendendo a antecipar a necessidade do outro, ajudando-o a alcançar o seu potencial.

5.32 A união do marido e da esposa, embora algumas vezes imperfeita, fornece o melhor retrato para descrever a união de Cristo com a sua igreja. O quadro que vivenciamos no casamento é uma analogia do relacionamento entre Cristo e os crentes. As palavras em Gênesis ganham um significado mais profundo ao contemplarmos Cristo e a sua igreja. A frase “grande é este mistério” retrata uma profunda verdade oculta. Quando Paulo contemplou o amor e a lealdade mútuos, a liderança afetuosa do marido e a submissão amorosa da esposa, as riquezas guardadas, a intimidade e a unidade, e o auto-sacrifício que devem caracterizar todo casamento, ele viu nestes um retrato de Cristo e sua igreja.

5.33 Este versículo retorna aos mandamentos sobre o casamento humano, resumindo as atitudes que devem ser mostradas por ambos, marido e esposa. Aqui Paulo se dirige primeiro aos maridos: cada um em particular ame a sua própria mulher como a si mesmo.

Esta é a essência do casamento cristão. Cada mulher, por sua vez, deve reverenciar o marido. Quantos casamentos não poderiam se tornar fortes e saudáveis se tanto o marido como a esposa cumprissem estas instruções simples, porém profundas?

Sexta - Sl 128.1-4 ®LBA¬ O segredo de uma família .


Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos!

O comentário a seguir foi extraído do livro comentário BEACON.

Abençoado com um Lar Feliz (128.1-3)
O temor ao Senhor é a descrição característica da religião do AT. A atitude do verdadeiro seguidor de Deus era uma atitude de respeito reverente que o levou a trilhar os caminhos descritos na lei (1). Comer do trabalho das tuas mãos (2) significava desfrutar de uma vida pacífica, sem a presença de saqueadores levando a colheita ou sem a seca ou a praga causando fome. A mulher será como a videira frutífera (3), com inúmeros filhos. Taylor comenta acerca do versículo 3: “Enquanto seu marido olha para os seus filhos reunidos em torno da sua mesa, ele se lembra das inúmeras mudas que aparecem debaixo de uma oliveira lavrada”.

Quinta - Js 24.15 ®LBA¬ Minha casa e eu servimos ao Senhor.


Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais: se os deuses a quem serviram vossos pais, que estavam dalém do rio, ou os deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR.

O comentário a seguir foi extraído do livro comentário BEACON.

Deus fizera uma aliança com Abraão, ao afirmar que favoreceria de maneira especial a ele e aos seus descendentes. Este acordo foi renovado tanto com Isaque como com Jacó. Se tudo mostrava que era preciso a geração de Josué continuar como o povo de Deus, então eles deveriam escolher hoje a quem sirvais (15). A implicação era que somente se eles mesmos ratificassem este concerto é que poderia haver esperança de receber o favor de Deus.
Se não queriam servir a Deus a alternativa seria adorar os deuses que anteriormente foram abandonados e derrotados (15). Estes mostraram-se sem poder para ajudar. Eles sempre exerceram uma influência desmoralizante sobre a vida humana. Os israelitas testemunharam que esses deuses fizeram com que o povo dissipasse sua força de alma e destruísse as consciências e o intelecto das pessoas.
Josué sabia que seu povo deveria fazer uma escolha definitiva em relação a quem serviria. Ele insistiu para que eles afirmassem claramente Aquele em quem colocavam todas as suas esperanças. A quem eles seriam leais? Seria tal devoção entregue àqueles a quem já haviam derrotado? A indecisão seria um erro fatal, uma causa certa de fracasso. Portanto, escolhei hoje (15).
Josué já fizera sua escolha. Ele já havia estabelecido o tipo de exemplo que queria que os outros seguissem. Ele exerceria toda a influência de que dispunha para ajudá-los a fazer a escolha certa: eu e a minha casa serviremos ao Senhor (15).

Josué estava disposto a dar a qualquer pessoa a liberdade de escolher ou rejeitar a Deus. Ele concluiu que os méritos do Senhor eram tão bem conhecidos que nenhuma pessoa com um mínimo de discernimento deixaria de fazer a escolha certa.