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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

"SUBSÍDIO LIÇÃO 11" LBJ - CRENÇAS RELIGIOSAS.


As pessoas estão ávidas por prosperidade material. Muitas acreditam que não basta apenas chegar ao topo das conquistas sociais e econômicas, o mais importante é manter-se lá. Essa ideia simpática dificilmente pode ser confrontada, salvo se for feita uma análise sob o prisma da eternidade. É a partir desse exame que se poderá observar o perigo teologia da prosperidade. C . S. Lewis fez uma abordagem extraordinária, em poucas palavras, trazendo a “visão do demônio” sobre essa questão:

A prosperidade faz com que o homem fique preso ao mundo. Ele sente que está “encontrando o seu lugar no mundo”, quando, na verdade, é o mundo que encontra lugar nele. Sua reputação crescente, seu círculo de amizades cada vez maior, sua sensação de importância, a pressão cada vez maior do trabalho que lhe agrada e o absorve, tudo isso causa nele a sensação de estar em casa no mundo, que é exatamente o que queremos (grifos acrescidos).1

Infelizmente, muitas pessoas têm sido enganadas com essas crenças que não provêm das Escrituras, como no caso a seguir. Jim Bakker foi um televangelista norte-americano muito conhecido nas décadas de 1970 e 1980. Ele pregava que o crente que tem fé não poderia ser pobre nem doente, pois tudo isso era maldição... O Evangelho da Prosperidade. Bakker um pastor muito rico. Em 1987, entretanto, começou a trajetória descendente ao ser descoberto que m antinha um caso extraconjugal com sua secretária e, mais adiante, em 1989, foi condenado a 45 anos de detenção pelos crimes de violação de correspondência e realização “grampos” telefônicos ilegais.
A vida de estrela desmoronou completamente. Quando saiu em liberdade, após cumprir cinco anos em um a prisão federal, lançou o livro I was Wrong [Eu Estava Errado], em que descreve como suas crenças religiosas eram deformadas e como prejudicou as pessoas com seus ensinamentos hereges. Jim Bakker, por exemplo, dizia que ninguém orasse “seja feita a tua vontade” quando queriam um carro novo, pois bastava pedir e o Senhor teria que fazer! Ele m andava as pessoas se apaixonarem pelo dinheiro, pois Deus desejava que todo mundo fosse rico e sem problemas. Enquanto estava na penitenciária, ele começou a estudar a Palavra de Deus e entendeu seu grande erro.
Com o aconteceu Jim Bakker, o qual usava indevidamente o púlpito de uma igreja evangélica para falar contra os ensinamentos da Bíblia Sagrada (não obstante aparentemente a defendesse), existem inúmeras personalidades evangélicas que propagam desvios doutrinários importantes, tais como o misticismo (que é uma forma de sincretismo, oriundo de rituais afro-brasileiros, esotéricos, liturgias da igreja católica romana e até práticas indígenas), a teologia liberal, teísmo aberto, dentre outros, que quando dizem interpretar a Bíblia exibem esnobismo intelectual e conceitos humanos e diabólicos, mas não interpretação genuína.
Hoje, porém, grande parte da pregação evangélica, em muitos lugares, perdeu sua feição genuinamente bíblica e, portanto, transformadora, tornando-se uma erva daninha que tem causado sérios danos à lavoura de Deus.

1. Crescimento Evangélico e Crenças Religiosas

Século I
O crescimento do cristianismo no Século I foi exponencial. Na primeira pregação, Pedro ganhou quase 3 mil almas. Na segunda, cerca de 5 mil. E em cada dia, havia novas conversões. Com tanta gente reunida,  houve a  necessidade de alguns ajustes  entre  os judeus e os gentios acerca da Lei  mosaica.
Foi preciso “acertar o passo”, cortar arestas, para acomodar todas as vertentes emergentes. Isso se chama “construir a unidade”. E era fundamental, para que todos os cristãos pudessem seguir juntos. Em frente. C om uma base sólida. Deus queria que o Corpo de Cristo, a Igreja, crescesse consistentemente. Então, foi realizada uma assembléia em Jerusalém. Após a palavra de Tiago, o Espírito Santo alinhou os entendimentos. A igreja conciliou o que era aparentemente inconciliável. O cristianismo seguiu sua marcha triunfal. O s cristãos demonstraram tolerância, uns com os outros, e obediência à vontade de Deus. Abdicaram de seus gostos pessoais, por uma causa maior — , a unidade do povo de Deus. Jesus havia destruído todas as barreiras étnicas e, portanto, peculiaridades do povo judeu não deveriam ser ensinadas aos estrangeiros, mas somente as coisas essenciais para o cristianismo. O amor os fez “acertar o passo”, para poderem andar na mesma cadência, na mesma direção, mantendo a identidade cristã.
C om este gesto de humildade, em acatar a decisão de quem detinha autoridade espiritual sobre eles, os cristãos conquistaram muitas vidas para o Cordeiro de Deus e mantiveram a unidade. Permaneceram juntos, como no início, em Jerusalém.

Séculos XX e XXI

O Brasil experimentou, ao longo das últimas décadas, um vertiginoso crescimento numérico da igreja evangélica. De acordo com o IBG E, em 1980, algo em torno de 6,6% dos brasileiros eram evangélicos; em 1991, o percentual passou a 9,0%; no ano 2000, subiu para 15,4% da população e no último censo, em 2010, o índice saltou para 22,2% , um aumento de cerca de 16 milhões de pessoas (de 26,2 milhões para 42,3 milhões). Talvez hoje os evangélicos brasileiros já totalizem mais de 50 milhões de pessoas! O triste nisso tudo é que, não obstante esse impressionante crescimento numérico, os índices de criminalidade, prostituição infantil, trabalho escravo, corrupção, dentre outras mazelas sociais, não têm diminuído.
Num a análise matemática, portanto, o crescimento evangélico não está fazendo diferença na cultura nacional.
O verdadeiro cristianismo funciona como um catalisador das condutas inapropriadas, para transformá-las em algo moral e eticamente recomendável, para o bem da humanidade. O cristianismo essencialmente é, e sempre foi, a resposta mais contundente de Deus para o mundo decaído. Entretanto, como visto, as evidências mostram que, no Brasil, o padrão de algum as crenças religiosas perdeu as características principais do Evangelho. Observe-se que nunca houve “um período em que a adoração espiritual tenha sido reduzida a um nível tão baixo. Em muitos lugares, a igreja perdeu totalmente a noção do que seja adoração”.3 Com tudo isso, outro não poderia ser o resultado: igrejas cheias de pessoas vazias de Deus, que não produzem frutos dignos de arrependimento.

Sincretismo evangélico

As crenças religiosas evangélicas pós-modernas são eminentemente sincréticas, ou seja, misturadas com elementos cultuais e culturais da sociedade. Um a miscelânea de ideias e conceitos antagônicos entre si, que buscam o crescimento a qualquer custo...Daí advém à realização de novenas, o uso do sal grosso, rosa ungida, a deificação de líderes (cujo suor pode curar), a formulação de poções feitas com dezenas de ingredientes “mágicos”, dentre inúmeras outras práticas, que indicam que os “convertidos” permanecem prisioneiros de práticas místicas, embora tenham alterado o rótulo religioso.
O Senhor nunca autorizou qualquer alteração em sua Palavra para facilitar o convívio social ou para atrair os incrédulos. Ele disse que havia uma diferença irreconciliável com o mundo, que jamais seria superada (Jo 17.14,16). Não se podem desconstruir exigências, e, muito menos, abrandar mandamentos.
Assim, a realidade da fé em Jesus não admite a mistura de elementos litúrgicos de outras culturas, a fim de simplificar ou adaptar as coisas. Observe-se o momento em que o Senhor foi confrontado por um a comitiva estranha, conforme M arcos 2.18. Está escrito que perguntaram a Jesus: “...Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos?
Faziam parte daquela comitiva de questionadores alguns discípulos de João Batista e, possivelmente, uns religiosos fariseus, os quais concordavam com um aspecto: Jesus era pouco ortodoxo e nem um pouco ascético. N a verdade, os dois grupos se sentiam ofendidos por Jesus não pregar o sincretismo, entretanto, o Senhor tencionava ressignificar a adoração a Deus, excluindo elementos ritualísticos nocivos.
Jesus explicou, naquela oportunidade, que sob o prisma do Novo Pacto, depois da partida do Noivo, os discípulos jejuariam, m as sem estabelecer com isso uma relação de mérito com Deus, que era a base teórica do ascetismo. Era com o se Jesus estivesse dizendo, usando um a linguagem moderna: o “aplicativo” antigo, que é ultrapassado, obsoleto, não “abre” no novo programa “criado” pelo Filho de Deus. São incompatíveis.
Jesus estava ressignificando o jeito de se consagrar a Deus. Os atos de devoção deveriam ser secretos, para agradar o Criador, não públicos, para exaltar os praticantes. Ele explicou, então, ao contar a parábola do “remendo novo em veste velha” que o cristianismo não poderia conviver com práticas do passado. O s “trapos velhos” não poderiam estar juntos aos “panos novos” de uma vida redimida.
Jesus veio para alterar completamente as coisas, notadamente as que diziam respeito a Deus. Um a mudança tão radical que nem mesmo os seguidores de um de seus melhores amigos, João Batista, compreendiam. Um novo tempo, de novos parâmetros espirituais, estaria disponível para aqueles que nascessem da água e do Espírito.

II. Os Males do Sincretismo Cultural e Religioso

Pregação da cultura do mundo
A pregação cristã deve basear-se exclusivamente nas Escrituras {Sola Scriptura), mas quando o sincretismo religioso surge, elementos exógenos culturais e doutrinários são incorporados gerando mensagens apóstatas como, por exemplo, aquelas que valorizem o amor ao dinheiro e às riquezas. É como dizia Tozer: “É um escândalo dentro do Reino ver os filhos de Deus famintos, apesar de estarem assentados à mesa do Pai”.4 Billy Graham afirmou que não se pode modificar a mensagem bíblica, da mesma forma que um apresentador de televisão não é livre para modificar as notícias.5 Entretanto, infelizmente, algumas denominações, para atrair mais adeptos, dão ênfase à frase: “Pare de Sofrer”. Enquanto, na verdade, Jesus ensinou que o evangelho inclui o sofrimento de levar a cruz, negar-se a si mesmo, e dar a vida pelos irmãos (1 Jo 3.16). Dessa forma, parte desta geração emergente “gospel” não está fazendo a diferença no mundo, não está resplandecendo como luzeiros (F1 2.15), não estão sendo sal e luz. Para muitos, o foco tem sido as coisas materiais.
Há uma forte advertência nesse sentido, mencionando sobre o perigo de um a mensagem evangélica que valoriza a cultura do mundo:

O verdadeiro Cristo e a verdadeira fé bíblica estão sendo rapidamente substituídos por alternativas doentias, oferecidas por um grupo de mestres que pertencem ao denominado “Movimento da Fé”. [...] Para evitar essa crise, precisamos mudar nossa percepção de Deus como um meio para se chegar a um fim, reconhecendo que Ele é um fim em si mesmo. Precisamos mudar duma teologia baseada em perspectivas temporais para uma teologia alicerçada sobre verdades eternas (grifos acrescidos).

A famigerada teologia da prosperidade, como mencionada, coloca os bens materiais em posição de destaque na vida, destruindo lenta­ mente o anelo pelo céu, em prestígio à conquista de riquezas nesta vida. E bom nos lembrarmos de que não foi Jesus quem disse: “Tudo de darei se prostrado me adorares”, mas o próprio Diabo (M t 4.8,9). Todo cuidado é pouco.

Humanismo secular

Consequência indissociável do sincretismo das crenças ditas evangélicas é o aparecimento do humanismo secular, — o homem se torna o centro de todas as coisas.
O humanismo tira a primazia de Deus e faz o homem assentar-se soberano; então, assim, a obra de Deus se transforma em “ministério” desta ou daquela celebridade, o púlpito da congregação se transforma em palco e o culto em show. C om o se não bastasse, são outorgados títulos ufanistas aos líderes, tais como “paipóstulo”, patriarca, sumo sacerdote, e até rei, dentre outros, de maneira a identificá-lo acima dos demais líderes cristãos. Isso é humanismo secular e trata-se de uma apostasia à fé cristã.
A Igreja Primitiva, em Jerusalém, apresentou ao mundo a força de um a nova comunidade inaugurada sob a égide do Calvário. Ali não havia culto ao homem. Assim está escrito: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em com um ” (At 2.44). C om pouco tempo, os judeus e romanos identificaram o surgimento de um novo grupo religioso em Jerusalém, a Igreja, formado por pessoas que exaltavam somente a Jesus, mantendo um a exuberante humildade, alegria e comunhão.
Hoje, porém , depois de 2 mil anos, o humanismo secular se embrenhou no evangelicalismo, com o observado anteriormente e, em muitas denominações, verifica-se um verdadeiro culto à personalidade, que envolve desde a imitação do jeito de falar do líder, até a quase idolatria. Entretanto, existem remanescentes fiéis, que não se vergaram às celebridades, aos modismos, às vaidades, e, assim, estão vencendo o mundo.

Uma longa história

A história do sincretismo do fenômeno religioso é bastante antiga. Quando Moisés demorou a descer do monte, os israelitas fizeram um bezerro de ouro “egípcio” e disseram que aquele era o Senhor. Jeroboão I, ao criar os altares em D ã e Betei, iguais ao de Damasco, convenceu o povo que aqueles lugares seriam os substitutos do Templo em Jerusalém. As consequências em ambos os casos foram terríveis.
Paulo, ao escrever aos Gálatas (1.6-8), repreendeu-os severamente pelo sincretismo daquela igreja. Eles estavam colocando as experiências religiosas acima das Escrituras. Então o apóstolo dos gentios recomendou que não aceitassem outro evangelho nem que fosse pregado por um anjo. Qualquer “revelação” que contrariasse a cosmovisão judaico-cristã deveria ser considerada um a maldição.
Durante toda a história, o inferno sempre investiu contra a igreja cristã para que houvesse uma contam inação cultural, doutrinária e litúrgica, imitando os padrões do mundo. Nesse sentido, observe-se o grave dano conjuntural sofrido quando a igreja católica passou a ser a religião oficial do Império Romano.
Não há espaço, aqui, para expor pormenorizadamente o que aconteceu nos concílios e como a doutrina da, assim chamada, igreja oficial se dissociou tão fortemente dos ensinamentos neotestamentários. Inequivocamente, quando a igreja se envolveu institucional e sincreticamente com o Estado, a descaracterização do Evangelho foi bastante severa, e os danos para o Reino de Deus incomensuráveis.

III. 0 Perigo do Adultério Espiritual

Tempos trabalhosos

U m a vez consolidada a corrupção de um a prática cristã, seja ela cultural ou doutrinária, aos olhos do Senhor surge um adultério espiritual, o que Deus não tolera. Abundantes são os casos, na Bíblia, em que pessoas cometeram adultério espiritual e foram grandemente punidos. Ananias e Safira, por exemplo, decidiram doar um imóvel à igreja, porém mentiram sobre o valor da venda, porque tencionaram repassar apenas um a parte. Aparentemente foi um pequeno erro, todavia Deus não achou que aquela conduta fosse irrelevante, por isso matou a ambos. A morte de Ananias e Safira foi um marco para aquela nova comunidade. A Dispensação do Espírito Santo seria um tempo de liberdade, m as isso não significava que poderiam descumprir as regras morais estabelecidas por Deus.
C . S. Lewis diz que as leis de Deus existem “como instruções do uso da máquina chamada Homem” e que elas visam “prevenir o colapso, a sobrecarga ou uma falha de funcionamento da máquina”.7Ananias e Safira não sabiam ou simplesmente esqueceram disso, e houve o colapso total de suas vidas.
O fato decisivo, como visto, é que esse o casal não tinha escondido a Palavra de Deus no coração, para não pecar contra o Senhor (SI 119.11). Ravi Zacharias menciona um episódio da história judaica de desprezo à Lei de Deus, que muito se assemelha ao caso de Ananias e Safira, bem como com o que está acontecendo nos dias atuais:

No enorme Templo que Salomão construiu para adoração do único Deus verdadeiro, as cerimônias eram comuns. Tudo aquilo que brilhava era ouro. A generosidade representada era quase sem precedentes... o esplendor régio do Templo era proverbial. [...] Mas Salomão se perdeu, e em pouco tempo seu povo se tornou como ovelhas sem pastor. O Templo permaneceu ocupado; as cerimônias continuaram a ser celebradas; mas algo fundamental havia sido perdido.
Muitos anos mais tarde, Josias se tornou rei e ordenou uma limpeza completa do Templo. Veja só o que aconteceu! Em meio àquela purificação massiva, o Livro da Lei — a Palavra escrita de Deus para seu povo — foi encontrado enterrado na poeira em algum lugar em uma sala dos fundos. O Templo era o lugar onde o Livro da Lei havia sido valorizado e protegido. Mas ninguém sabia nem mesmo que ele estava lá. E o mais triste de tudo, as pessoas não sentiram sua falta. Isso significava que as pessoas ainda estavam indo ao Templo para orar, mas Deus não mais estava no meio delas e elas nem mesmo sabiam disso. Na prática, era como se elas estivessem falando sozinhas. Elas compareciam ao Templo para ouvir, mas o livro estava perdido, então não havia ninguém para falar com elas. Elas estavam sentadas em uma câmara de eco, ouvindo apenas a si mesmas. Não havia ouvido para ouvi-las e nem voz para falar com elas. Elas viviam suas vidas em um vazio, e realizavam as suas cerimônias e cultos nessa mesma condição.8

O grande problema de tantas denominações atuais, como aconteceu com o povo de Deus no passado, é que não há mais compromisso com a Bíblia, que deixou de ser o centro de algumas crenças religiosas. As doutrinas antropocêntricas dessacralizam as coisas de Deus, perdendo o que há de mais importante no cristianismo. Esses são, de fato, tempos trabalhosos.
Subcultura
O  sincretismo  evangélico tende a produzir apenas  uma subcultura, e não um a contracultura do Reino, ou seja, as pessoas passam a viver com particularidades culturais cristãs, sem, todavia, se desprender do modo de vida dominante no mundo.  Há  uma conformação aos moldes sociais  (Rm  12.2),  uma aceitação  tácita da cultura secular.
O perigo é que a cultura popular cristã pode imitar os costumes da cultura dominante em estilo, mudando somente o conteúdo. O mercado de música está transbordando com Rock, Rap, Blue, Jazz e Heavy Metal cristãos. As prateleiras das livrarias estão cheias com “ficção cristã”, desde e histórias de aventuras infantis até romances quase picantes. [...] Temos sempre de perguntar: estamos criando uma genuína cultura cristã ou estamos apenas criando uma cultura paralela com aparência cristã? Estamos impondo um conteúdo cristão para uma forma já existente? Pois a forma e o estilo sempre enviam uma mensagem própria. [...]
Quando criamos uma cultura popular cristã, temos que ter cuidado para não simplesmente inserir o conteúdo cristão em qualquer estilo corrente no mercado. Ao invés disso, deveriamos cultivar alguma coisa distintamente cristã tanto no conteúdo quanto na forma. Temos de aprender a identificar as cosmovisões expressadas em várias formas para podermos criticá-las e produzir uma alternativa que seja realmente bíblica.

Colson tem razão. Várias crenças religiosas “evangélicas” do tempo atual, sem nenhum critério, aderem à cultura mundana visando conquistar “bons resultados”. O objetivo numérico, com essa tática, pode vir a ser alcançado, todavia a mensagem transformadora do evangelho perderá força, ante a mistura inadequada. Acã, por exemplo, ao absorver coisas impróprias de Jerico, em um primeiro momento foi bem sucedido, mas depois aquilo ocasionou a sua morte e de sua família.
A miscigenação da cultura cristã produzida por uma denominação, assim, pode fazer a abertura para novas conquistas, mas, por outro lado, também pode significar, a médio ou longo prazo, quiçá, a destruição total dos projetos de Deus.


Cristianismo puro e simples

O  resultado prático de se viver o  cristianismo na sua forma original,  é o estabelecimento de uma contracultura capaz de responder efetiva­ mente a qualquer questionamento de ordem emocional, espiritual ou social. Está escrito que os crentes primitivos “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão...  E  todos os dias acrescentava o  Senhor à igreja aqueles que se haviam  de salvar”  (At 2.42,  47).
Hoje, igualmente, Deus chama a todos para viverem um cristianismo puro e simples. Talvez alguns que leem este livro ainda não estejam alistados neste exército. Paulo foi um que entrou na batalha tardiamente, mas produziu frutos extraordinários no Reino de Deus. Quem  sabe você será o  Paulo desta geração?
“Em seguida, ouvi o Senhor dizer:  —  Quem  é que eu vou enviar?
 Quem  será o  nosso  mensageiro? 
Então  respondí: —  Aqui estou eu.
Envia-me a mim !” (Is 6.8 N T L H ).

Extraído do livro:





TEMPO PARA
TODAS AS COISAS
Aproveitando as Oportunidades que Deus nos dá

 REYNALDO ODILO

terça-feira, 22 de agosto de 2017

“SUBSÍDIO TEOLÓGICO LBJ” - CAPÍTULO 9 HEDONISMO, UM PERIGO DO NOSSO TEMPO

"Você não tem uma alma... Você é uma alma. Você tem um corpo.
— Walter M. Miller Jr.
“A cultura que temos não contribui para que as pessoas se sintam felizes com elas mesmas. [...] E preciso ser forte para dizer que, se a cultura não serve, não interessa ficar com ela. ”
 — Morrie Schwartz

 I. Hedonismo, A Cultura do Prazer

Conceito

O hedonismo pode ser definido, de maneira direta, como a “doutrina filosófica, da época pós-socrática, segundo a qual o prazer individual e imediato é o supremo bem da vida”.1 Outros teóricos acrescentam que, além de buscar o prazer, o hedonismo tem como objetivo, simultaneamente, evitar a dor e o sofrimento.

Destarte, diante desse grau exacerbadamente egoísta, que coloca o bem-estar pessoal como a coisa mais importante da existência, o hedonismo se constitui numa das cosmovisões mais perniciosas deste mundo, uma vez que contamina o jeito das pessoas pensarem. O hedonismo justifica, por exemplo, às condutas que ferem a integridade e os compromissos morais, desde que sejam prazerosas pessoalmente, e pode até autorizar o estabelecimento de políticas públicas extremante cruéis com o próprio ser humano, como o aborto e a descriminalização do uso de drogas. Tudo em homenagem à satisfação pessoal, no mais elevado patamar.
Ao divinizar o prazer, o hedonismo faz dele um fim em si mesmo... O bem supremo, transformando-o em um deus ou, quem sabe, em um demônio, que fará de tudo para conseguir seu objetivo.

C. S. Lewis abordou isso da seguinte maneira:

Mas Eros, quando honrado sem reservas e obedecido incondicionalmente, torna-se um demônio. E é exatamente assim que ele exige ser louvado e obedecido. Divinamente indiferente aos nossos interesses pessoais, ele é também diabolicamente rebelde a todas as exigências de Deus ou do Homem que lhe forem contrárias. Como diz o poeta:
Os amantes são imunes à bondade. E a oposição os faz sentir-se mártires. “Mártires” é a palavra exata.

Como visto, o desejo sexual, como aduz C. S. Lewis, pode se transformar, caso não seja controlado, em um demônio. De fato, esse desejo pode se tornar em algo tão forte e irracional que lutará contra tudo e todos, independentemente das consequências e trará graves danos. Lewis, em outro livro clássico, arremata que o prazer em si mesmo é uma coisa salutar, porém o equívoco fatal consiste em buscá-lo excessivamente, a qualquer custo, pelos métodos errados.

Dizer que o hedonismo coloca o prazer como um deus, o qual deve ser adorado, não é um exagero, mas uma triste realidade. Walter Schubart afirma isso, quando engrandece o prazer sexual como um ato de redenção, e coloca “Eros” na condição de uma divindade por meio do qual virá à salvação da humanidade. Vejamos:

O processo sexual mais rudimentar já é, pois, misteriosamente ligado à entrega em si, criação e redenção [...]. Desde que é tomado pelo amor redentor, o homem é aflorado pelo absoluto. [...] O amor libertador visa a conversão do homem. Sua natureza e seus efeitos são idênticos, quer o Absoluto irrompa na alma sob a forma do sentimento divino, quer sob a forma do amor sexual.

Sem dúvida, a adoração pela satisfação do corpo não é algo que deva ser buscado. O excesso do hedonismo pode ser plenamente percebido.
E óbvio que Deus não veta o prazer aos seus servos, mas isso deve vir como consequência natural por se viver a vida adequadamente, servindo ao Senhor. É preciso entender as palavras de Walter M. Miller Jr.:
“Você não tem uma alma... Você é uma alma. Você tem um corpo”.
Isso significa que ninguém deve ser dominado por aquilo que possui, seja o corpo ou as coisas do mundo. A Bíblia afirma que “necessidade padecerá quem ama os prazeres...” (Pv 21.17). Dessa forma, pela Palavra, podemos dizer: Quem ama o prazer, penúria passará. Ceder aos impulsos impensadamente, na busca dos prazeres, não é a coisa mais sabia a ser realizada, como bem arremata um adágio popular: “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece”.

Origens

A palavra hedonismo deriva do termo grego hedone, que significa prazer, deleite, aprazimento. Assim, objetivando que a felicidade assumisse o sentido de “obtenção do prazer”, surgiu na Grécia, organizado como pensamento filosófico, o hedonismo, tendo como maior arauto Aristipo de Cirene (435-335 a.C.). Ao longo da história, porém, muitos se levantaram para defender o prazer como o valor mais precioso da existência.

Thomas More (1478-1535), por exemplo, ensinava um epicurismo utópico, onde os prazeres poderiam ser satisfeitos amplamente, ao mesmo tempo em que todo o sofrimento poderia ser evitado. Já os utilitaristas Jeremy Benthan (1782-1875) e John Stuart Mill (1806-1873) ensinavam que o objetivo maior da existência humana é beneficiar e dar prazer para o maior número de pessoas, pelo tempo mais longo possível, dentre muitos outros. Também na seara da psicologia, a escola de pensamento chamada behaviorismo, igualmente, palmilhou pela teoria hedonista, defendendo que o homem deveria anelar as coisas que visam o auto interesse, de acordo com o princípio do prazer, evitando toda espécie de dor.

É importante dizer, também, que o Senhor nunca chancelou a tese que coloca o prazer ou a felicidade própria como a prioridade na vida.
Ao contrário, elegendo o prazer como o bem supremo da existência (a mesma coisa que faz o avarento, em relação ao dinheiro — Cl 3.5), o hedonista torna-se um idólatra. O primeiro lugar em cada coração deve, sempre, pertencer a Deus (Mt 6.33; Rm 11.36).

Consequências

A vida do hedonista é vazia de significado, porque “não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, mas seres espirituais vivendo uma experiência humana”, como dizia Teilhard de Chardin (1881-1955).
Assim, a autossatisfação sensorial não pode preencher todo o interesse do homem, um ser triúno. Em um primeiro instante, é possível que os prazeres da carne (Rm 8.8) alcancem um patamar valorativo importante, porém os momentos de angústia posteriores, pelo vazio existencial, e pela separação de Deus, serão abundantes, significativos e determinantes.

O rei Salomão, por exemplo, depois de prometer a si mesmo “gozar o prazer” (Ec 2.1), satisfazer a concupiscência dos olhos e realizar seus desejos mais secretos (Ec 2.10), olhou para as obras de suas mãos e disse: “Eis que tudo era vaidade e aflição de espírito e que proveito nenhum havia debaixo do sol” (Ec 2.11). Ele abandonou a sabedoria, tornando-se idólatra de deuses estranhos pela influência de mulheres que supostamente lhe davam prazer (1 Rs 11.1-8)!

II. Hedonismo e as Obras da Carne

Ideologia de Gênero

A Bíblia diz que haverá juízo para quem chamar o mal de bem e o bem de mal (Is 5.20), assim como para aqueles que fazem leis injustas (Is 10.1). A ideologia de gênero é uma dessas inversões de valores, pois viola imutáveis leis da natureza. Se um bebê nasce com identificação genética masculina (XY) não poderá, por inclinação sexual, ser considerado um indivíduo com a configuração cromossômica (XX) que representa e sexo feminino e vice-versa. O que se vislumbra é que essas reivindicações pós-modernas chancelam algumas obras da carne, tais como, neste caso, “prostituição, impureza e lascívia...” (G15.19). O fundamento de tudo isso, portanto, são paixões sensuais que atentam contra a própria existência da humanidade, e agridem a santidade de Deus (Rm 1.26-28).

Recentemente, uma famosa atriz brasileira contou em entrevista que “até os 14 anos, qtferia ser homem”.7 Isso chocou muitas pessoas que nunca suspeitaram que ela enfrentara tal questionamento íntimo. Se na época de sua adolescência a ideologia de gênero estivesse em alta, talvez a talentosa atriz tivesse seguido outro caminho na vida. Esse comportamento demonstra que crises existenciais, inclusive sobre identidade sexual, podem não ser para sempre e não significam que a pessoa deva assumir outra personalidade.

Aborto

Os que defendem o aborto dizem que o corpo feminino pertence à mulher e, por isso, ela pode dispor dele como quiser. Falam assim, porque acreditam ser a gestante a proprietária da vida gerada, e que o feto é tão somente um apêndice do corpo feminino; por tal motivo, arrazoam que a gravidez pode ser interrompida. Ledo engano.

O aborto é uma obra da carne chamada homicídio (G1 5.21). Não há meias palavras. No salmo 139, Davi, sob inspiração divina, mencionou como Senhor se relaciona proativamente com a vida que ainda não tem contornos humanos. Ainda que seja uma pequena “semente” no ventre materno, Deus já a trata com o cuidado de um filho ou filha. Há, nesse sentido, abundantes e irrefutáveis estudos médicos, e bioéticos que demonstram que a vida começa com a fecundação.

Sendo assim, qualquer agressão que se desenvolve contra a vida gerada, atentará contra o mandamento de Deus (Ex 20.13), violará a cláusula pétrea (que não pode ser mudada) da Constituição Federal do Brasil de 1988, que diz ser inviolável o direito à vida (art. 5o, caput) e transgredirá o art. 2o do Código Civil Brasileiro, que anui que a lei “... põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”

A obrigação do cristão, independentemente da lei do país, deve ser proteger e até dar a vida pelos irmãos (Gn 4.9; 1 Jo 3.16) e não tolher precocemente o direito de nascer. Essa é a missão primacial de todo que tem sua existência transformada por Cristo — um pequeno vislumbre dessa maravilhosa cosmovisão transformadora chamada cristianismo.

Descriminalização das drogas

Recentemente, inúmeras publicações mencionaram o reconhecimento da Holanda de que a liberação da maconha no país foi um erro. Sem dúvida, a chancela estatal do uso de drogas que alteram a capacidade de raciocinar não pode nem poderia dar certo. Os jovens, sem esperança e Deus no mundo, sempre buscarão novas sensações incansavelmente e, em seguida, experimentarão todas as substâncias psicotrópicas que lhes forem apresentadas, num círculo vicioso interminável. Essa estrada só possui um destino: a morte precoce.

A obra da carne denominada “bebedice” (G1 5.21; Is 5.11) também tem sua motivação no hedonismo. É a busca pelo prazer que faz uma pessoa “gastar o seu dinheiro naquilo que não é pão” (Is 55.2). Está escrito: “não estejas entre os beberrões de vinho... porque o beberrão...” cairá “em pobreza”(Pv 23.20,21). O uso de substância embriagante tira o homem do senso comum, confere-lhe um novo status e provoca novas sensações prazerosas. Esse é o processo das drogas ilícitas modernas:
maconha, crack, cocaína, LSD, êxtase, etc. Consumi-las, portanto, é uma obra da carne e, por isso, devem ser evitadas e combatidas.

lil. A Cosmovisão Judaico-Cristã

O cristianismo traz consigo a verdade absoluta, inquebrável, inegociável, transformadora, o que gera, em regra, conflito no cerne da sociedade, pelo confronto de valores entre a Lei de Deus e os paradigmas humanos. Isso não tem como ser resolvido consensualmente, pois a chegada do cristianismo sempre imporá um novo padrão, que afetará a vida das pessoas. Esse conjunto de ideias, oriundas da Bíblia, convencionou-se denominar majoritariamente de cosmovisão judaico-cristã.
Os apologistas Charles Colson e Nancy Pearcey expressam com clareza o assunto, ao afirmarem:

O termo “visão de mundo” (cosmovisão) pode parecer abstrato ou filosófico [...]. Mas, na verdade, a visão de mundo de uma pessoa é intensamente prática. Ela é a soma total das nossas crenças sobre o mundo, o “quadro geral” que dirige as nossas decisões e ações diárias.
E assim, entender as visões de mundo é extremamente importante para a maneira como vivemos — saber como avaliar todas as coisas [...]. A base da visão de mundo cristã, naturalmente, é a revelação de Deus nas Escrituras. [...]

O cristianismo genuíno é mais do que o relacionamento com Jesus que é expresso por meio da devoção pessoal, da presença na igreja, do estudo bíblico e das obras de caridade. É mais do que um discipulado, mais do que crer em um sistema de doutrinas a respeito de Deus. O cristianismo genuíno é uma maneira de ver e de compreender toda a realidade. É uma visão de mundo.

Entender o cristianismo como um completo sistema de vida é absolutamente essencial, por duas razões. Primeiro, isso permite que o mundo em que vivemos faça sentido para nós e, portanto, ordenemos a nossa vida mais racionalmente. Segundo, isso permite que entendamos as forças hostis à nossa fé, nos preparando para evangelizar e defender a verdade cristã como instrumentos de Deus para transformar a cultura.

Assim, a visão de mundo esposada pela igreja de Cristo confronta os padrões hedonistas da sociedade, não admitindo, como citado, a existência de leis que justifiquem e estimem as obras da carne e permita que o corpo seja um instrumento do pecado.

0 corpo como sacrifício vivo

Enquanto o hedonismo segue transtornando o mundo, ao levar mais jovens à sensualidade, libertinagem, prostituição e drogas, e a todo o tipo de vícios, Deus oferece um jeito diferente de enxergar os valores da vida: com pureza de coração. Roberts Daniels, ao abordar a questão do desejo sexual, assim arremata:

Deus fixou padrões para uma vida santa e correta levando em consideração a conduta e o pensamento sexual. Violar esses padrões irá
afundar nossa fé. O inimigo vence outra batalha sempre que afunda um cristão antes mesmo de ele entrar na luta.

Esse pensamento sobre a sexualidade é repelido fortemente pelo mundo, que deseja que a libertinagem seja o ponto alto da civilização ocidental. Na proporção que o mundo, com sua sensualidade, leva os jovens à morte, o Senhor conduz seus filhos pela estrada da vida, ensinando-os a levarem a cruz de cada dia. Isso significa, em poucas palavras, oferecer o corpo em sacrifício vivo, santo é agradável a Deus; o culto racional (Rm 12.1).

A mente transformada (Rm 12.2)

Outro aspecto da cosmovisão judaico-cristã é a necessidade de se ter uma “mudança de mente”, do grego metánoia (Rm 12.2). Novos pensamentos que visem à glória de Deus, para que se compreenda toda a sua vontade.

A mentalidade a sociedade atual inclina-se totalmente ao hedonismo, nos seus mais variados aspectos. O sentimento de ter prazer pessoal com as coisas da vida, e nada padecer, suplanta todo o sentimento de amor ao próximo. Assim, por exemplo, contribuir com a obra missionária de povos não alcançados pelo Evangelho, ajudar na melhoria da saúde de crianças pobres e desnutridas, trazer algum consolo aos órfãos, viúvas, presos e doentes, como ensinou Jesus, são ideias impensáveis para um hedonista, o qual não sai da sua “zona de conforto” para cumprir o segundo Mandamento. O interesse é tão somente de crescer, brilhar e desfrutar dos prazeres do mundo. Phil Callaway, com perspicácia, traz à tona o que está acontecendo nos dias atuais:

Nossa televisão nos promete que um carro mais novo, uma bebida mais gelada ou uma esposa mais bonita são a chave para chegar lá.
Os cartazes de rua garantem-nos que um degrau a mais na escada, um voo para algum lugar exótico ou uma viagem despreocupada até a aposentadoria vão tornar a vida mais rica. Mas, lá no fundo, sabemos que é tudo mentira. Apesar disso, milhões que nós gastamos a vida inteira atrás do que não têm... e acabam se esquecendo do que realmente precisam. [...]

Esta é a nossa cidade — um lugar onde as pessoas gastam dinheiro, que não suaram para ganhar, para comprar coisas de que não precisam, para impressionar gente de quem não gostam.

O brilhante Charles Colson (1931-2012) também visualizou o mesmo problema no mundo atual. Ele disse:

Toda vez que ligamos a televisão, ou abrimos uma revista, ou um jornal, somos bombardeados com as boas novas do comercialismo:
para cada necessidade, cada insegurança, cada preocupação, existe um produto à venda que pode satisfazer as nossas necessidades, levantar a nossa autoestima e acalmar a nossa preocupação. [...] elaboram imagens sedutoras e frases apropriadas para nos prender, levando-nos a pensar que adquirindo os produtos anunciados satisfaremos aquelas necessidades fundamentais."

Assim, como visto, a cultura deste mundo hedonista não deve ser paradigma para aqueles que pretendem andar com Deus. Mas como fazer para não ser influenciado por um modo de pensar tão amplo e atraente? Para responder essa pergunta, fazemo-nos valer, mais uma vez, da afirmação do professor Morrie Schwartz: “A cultura que temos não contribui para que as pessoas se sintam felizes com elas mesmas. É preciso ser forte para dizer que, se a cultura não serve, não interessa ficar com ela”.

A mentalidade deste tempo, portanto, representa bem o que o escritor de Eclesiastes pontificou: “Vaidade de vaidades. Tudo é vaidade” (1.2).
O cristianismo, por outro lado, traz ao mundo a única visão capaz de solucionar todos os problemas da sociedade moderna: a cosmovisão judaico-cristão. Se o homem deste século a absorvesse, o mundo seria um lugar bem melhor para se viver.

A contracultura do Reino

A cultura deste mundo produz, diariamente, uma grande quantidade de lixo cibernético hedonista. Calcula-se que, ao dia, cerca de 1 bilhão de novos arquivos são postados na Internet. A presente geração é, de fato, viciada em novas informações, como acontecia, em menor grau, com os habitantes da Atenas, os quais “[...] de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade” (At 17.21). Se em Atenas as pessoas eram ávidas em compartilhar “alguma novidade”, a sociedade contemporânea já compilou grande conhecimento, em multiformes áreas, por milênios, entretanto, a ânsia por uma nova sensação, a busca desenfreada por um novo prazer, sem nenhum sofrimento, ainda não chegou ao fim. E nunca chegará, pois essa é a essência do hedonismo.
Neste mercado do prazer, sempre haverá espaço para uma nova droga, um pecado mais atual, uma experiência prazerosa mais intensa.

A busca licenciosa pelo prazer contaminou, de maneira decisiva, a terra com o pecado. Haveria necessidade de os pais da raça humana experimentarem novas sensações, além daquelas propiciadas por Deus no Éden? Claro que não! Eles tinham tudo para ser felizes. A Queda de Adão e Eva, portanto, foi o resultado de um impulso hedonista primário, como explica Tiago (Tg 1.14,15). A cultura do prazer, de fato, é uma coisa muito antiga.

Diante disso, os cristãos devem viver uma contracultura, uma confrontação com os paradigmas sociais, que desafie a mentalidade dominante no mundo decaído, como faz o filósofo Roger Scruton, o qual se insurge contra alguns valores estabelecidos socialmente, criticando, por exemplo, a denominada arte erótica, ao compará-la à pornografia, e asseverando que tais condutas estão em oposição aos interesses da humanidade:

[...] a pornografia não pertence à esfera da arte, porque ela é incapaz da beleza em si e porque dessacraliza a beleza das pessoas que retrata.
A imagem pornográfica é como uma varinha mágica que transforma sujeitos em objetos e pessoas em coisas; assim, acaba por tirar-lhes o encanto e destruir a fonte de sua beleza. [...]

A comparação entre a pornografia e a arte erótica revela-nos que o gosto está enraizado em nossas preferências mais amplas e que essas preferências expressam e estimulam certos aspectos de nosso caráter moral. O ataque à pornografia é o ataque ao interesse que ela serve — o interesse em ver as pessoas reduzidas a seus corpos, objetificadas como animais, reificadas e obscenizadas. Trata-se de um interesse que muitos têm, mas está em oposição à nossa humanidade.

Roger Scruton, com isso, defende uma contracultura que afronta o prazer a qualquer custo. Ele critica a utilização da arte com temas eróticos ao afirmar que isso não é arte, e sim uma forma de pornografia. Que ideia! Essa concepção do filósofo conservador inglês traz em seu bojo a contracultura do Reino, calcada nos paradigmas da Palavra de Deus.

O mais importante disso tudo é saber que cada cristão, dentro da sua área de atuação, deve rechaçar a mentalidade dominante no mundo, seja com açóes concretas ou defendendo um jeito de viver baseado na cosmovisão judaico-cristã. O certo é que, por amor, a Igreja do Senhor não pode ficar calada, mas deve cumprir com ousadia o mandato cultural recebido de Deus de transformar o mundo, porquanto “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”.


Extraído do livro:
  TEMPO PARA
  TODAS AS COISAS
Aproveitando as Oportunidades que Deus nos dá .
REYNALDO ODILO.
ISBN: 978-85-263-1464-1

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

SUBSÍDIO TEOLÓGICO LBJ- LIÇÃO 8 - DEPRESSÃO, UM MAL DO NOSSO TEMPO


“Quando alguém diz que não há esperança para uma situação ou uma pessoa, está batendo a porta no rosto de Deus. ”

— Charles L. Allen

O sofrimento humano é um grande mistério, uma vez que a Bíblia diz que Deus é amor e que Ele é o Todo Poderoso. Assim, uma doença incurável, a morte repentina de um ente querido, uma traição, perdas materiais, muitas vezes não se explicam racionalmente, e podem suscitar dúvidas e questionamentos sobre o agir de Deus. Isso aconteceu com Jó, um dos homens mais notáveis que o mundo já viu. Sua trajetória, sua dor, sua fé e, é claro, seus dilemas, falam muito alto sobre o que pode acontecer com um justo.

Jó foi extraordinariamente rico e irrepreensivelmente religioso.
Possuía um padrão moral tão elevado, que foi o próprio Deus quem deu testemunho sobre isso (Jó 1.8). Entretanto, quando Jó perdeu seus filhos, todo o seu patrimônio e sua saúde. Ele chegou a amaldiçoar o dia do seu nascimento e sobrevieram-lhe muitos dilemas (Jó 3).

Está escrito: “Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo.” (Jó 10.2). Aqui, o patriarca atribuiu suas condições e suas perdas ao próprio Deus, que, supostamente, o perseguia.
Ao que tudo indicava, para ele, Deus não o amava mais. E tratava-lhe com injustiça. Foram momentos terríveis e angustiantes. A fé de Jó foi fortemente provada. E para piorar a situação, Deus, durante toda a prova, mantinha-se calado. As perguntas mais intrigantes da existência, que questionavam a bondade e justiça de Deus, perturbavam o cambaleante Jó.

Tal circunstância é bastante comum, também em nossos dias. Há algum tempo, conversei com uma mulher que, em lágrimas, confessou que antes servia ao Senhor, mas se afastou de seus caminhos depois que seu filho foi brutalmente assassinado. Ela culpou a Deus pelo ocorrido.
Seus dilemas pessoais lhe levarem para longe do seu Criador. Jó, entretanto, mesmo cheio de dilemas, por não entender os motivos que o levaram a perder absolutamente tudo que era importante na vida, continuou crendo e servindo a Deus. Mesmo estando em profunda dor, ele disse: “Eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).

No fim da prova, Deus quebrou o silêncio e resolveu todos os dilemas de Jó, que reconheceu o efeito benéfico da tribulação: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos veem” (Jó 42.5, ARA).
O patriarca da paciência, mesmo sem compreender, aceitou a vontade de Deus e tudo foi solucionado maravilhosamente, no tempo e modo do Senhor. Ele viu, no fim, que Deus é digno de confiança, pois seu caráter apresenta-se maravilhosamente bom e graciosamente justo.

Em Jó 42.12 está escrito que “abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro...” Deus não ficou devendo nada a Jó, como não fica devendo nada a ninguém. Se alguém é fiel a Ele, ainda que “se envelheça na terra a sua raiz, e o seu tronco morra no pó, ao cheiro das águas brotará, e dará ramos...” (Jó 14.8, 9). A história de Jó é concluída assim: “E, depois disto, viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração. Então, morreu Jó, velho e farto de dias” (Jó 42.16,17).

Os dilemas não surgem para destruir a fé do cristão. Eles surgem para fortalecê-la! Se houver paciência, como a que Jó teve, o Senhor transformará as perguntas que mais inquietam a alma em trampolins para grandes revelações, a fim de que se chegue à compreensão de qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. E, com isso, a vida poderá seguir em frente, sem sobressaltos. E sem depressão!

I. A Dor Invisível sem Fim

Conceito

Depressão não é tristeza, angústia, mas a perda do prazer e da alegria de viver. E uma profunda “dor do coração” que “abate o espírito” (Pv 15.13). Não é algo que aconteça durante algumas horas do dia ou com duração de um dia ou dois. Traduz-se, portanto, em uma dor invisível sem fim, sem limite.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão não deve ser entendida como meras mudanças de humor. Porque esse distúrbio consolida-se por um sentimento de tristeza duradouro, com a duração de pelo menos quinze dias, que impede a pessoa de levar uma vida normal. A depressão é fruto da interação de fatores sociais, psicológicos e biológicos e, nos casos mais graves, pode levar o indivíduo a pensar em suicídio.

Segundo o Dr. Paul Eskin, entretanto, a depressão pode conduzir ao suicídio, e, também, ao parassuicídio, que é a tendência de chamar a atenção das pessoas para os seus sofrimentos por meio de ações desesperadas (como consumir remédios exageradamente ou cortar os pulsos). Nesses casos, a pessoa depressiva é impulsionada pela raiva ou frustração, geralmente ao presenciar brigas e desavenças familiares, constituindo-se, na maioria das vezes, “num meio de dominação e de controle interpessoal”.

0 doutor Eskin acredita que a ideia de dar cabo à própria existência faz parte da psicologia humana, e que existem poucas pessoas felizes e realizadas a ponto de nunca terem pensado em suicídio alguma vez na vida.

Características

a) Sofrimento moral

A pessoa perde a consideração pela sua própria vida. A autoestima entra em trajetória descendente, não existindo forças para reagir.
Segundo a OMS, a depressão tem se transformado, na verdade, em um problema de saúde mundial, já que entre 11% e 15% da população mundial está suscetível a ser atingido pela doença, sendo que as mulheres se mostraram duas vezes mais propensas a terem depressão do que os homens.

Essa desconsideração pessoal profunda e duradoura atinge milhões de pessoas atualmente, o que se apresenta bastante grave, mas isso não é novo. O profeta Elias, ao ser ameaçado pela rainha Jezabel (1 Rs 19.1-3), viu-se em grande sofrimento moral. Essa dor foi claramente demonstrada a Deus, de maneira repetida (1 Rs 19.10,14). A baixa autoestima do profeta pode ser vista na argumentação lamuriosa de que “não era melhor do que seus pais” (1 Rs 19.4). Observe-se que Elias da fraqueza não tirou forças, mas entendeu que sua vida valia pouquíssimo, típico quadro depressivo.

b) Perda progressiva do prazer pelas coisas

De acordo com a OMS, para a ocorrência do diagnóstico da depressão também é preciso que a pessoa, dentre outras coisas, apresente perda de interesse ou prazer pelas ‘atividades cotidianas, pouca energia e pouca concentração. Esse desinteresse pelas coisas boas da vida demonstra um perigoso caso psicológico.

O Dr. Paul Eskin pergunta: “Qual o maior erro da pessoa deprimida?”
E ele mesmo responde: “Abandonar-se”.4 Sem dúvida, quando o indivíduo entrega-se ao descaso, deixando de lutar pela vida, abandonando tudo o que lhe interessa e concede-lhe prazer, então é preciso buscar ajuda. A alegria de viver não pode ser perdida, como aconteceu com o profeta Elias, o qual se deitou debaixo de um zimbro e pediu a Deus para morrer (1 Rs 19.4, 5).

O profeta tinha perdido a alegria, a esperança e o entusiasmo pela vida, como também desistira de seu ministério, pois se via sozinho e desamparado, caracterizado pelo gesto de cobrir o rosto com a capa (1 Rs 19.13).

O professor Morrie Schwartz contou ao seu biógrafo que:

— Estar morrendo é apenas uma circunstância triste, Mitch. Viver infeliz é diferente. Muitas das pessoas que me visitam são infelizes.

— Por quê?

— Porque a cultura que temos não contribui para que as pessoas se sintam felizes com elas mesmas. Estamos ensinando coisas erradas. E preciso ser forte para dizer que, se a cultura não serve, não interessa ficar com ela. E melhor criar a sua própria. A maioria das pessoas não consegue fazer isso. São mais infelizes do que eu, mesmo na situação em que estou. Posso estar morrendo, mas estou cercado de almas amorosas e dedicadas. Quantos podem dizer o mesmo?

Fiquei impressionado com a completa falta de autocomiseração. Este Morrie que não pode mais nadar, tomar banho, andar a pé, este Morrie que não pode mais atender à porta, não pode se enxugar depois do banho, nem mesmo se virar na cama — como pode ser tão resignado?
Eu o vi atrapalhado com o garfo, tentando pegar uma fatia de tomate, ela escapulindo por duas vezes, uma cena patética, e, no entanto, tenho de reconhecer que a presença dele transmite serenidade....

É preciso pedir forças a Deus para lutar até o fim, como um guerreiro do Senhor. O professor Schwartz aprendeu a valorizar as coisas mais simples da vida e, com isso, viveu com qualidade nos momentos mais sombrios. Ele não desistiu de ser feliz!

c) Perda da motivação vital

Por qual razão perde-se o sentido de viver? Isso pode acontecer por muitas causas, entretanto, o desapontamento com as circunstâncias da vida, no aspecto mais amplo, pode ser a chave do problema. Sonhos que são frustrados, anelos que se esvaem...

Sobre isso, Les Parrott afirmou:

Nunca estamos felizes ou satisfeitos, até pararmos de avaliar nossas realizações na vida real em contraste com o sonho de qualquer coisa que imaginamos que nos faria felizes. Daniel Levinson chama isso de “tirania do sonho”. Cada um de nós desenvolveu esse sonho quando éramos jovens. Talvez ele foi plantado por pais, ou professores, ou talvez tenha surgido de nossa própria imaginação. O sonho era ser realmente especial um dia. Sonhamos que nosso trabalho seria reconhecido, nosso casamento seria perfeito e nossos filhos seriam exemplares.
Podemos ter ousado sonhar que seríamos famosos e influentes. E se tivermos sido atingidos por um choque maior — um diagnóstico de câncer, por exemplo — nosso sonho é adiado enquanto esperamos pela cura. Mas seja o que for que estejamos sonhando, mantemos a esperança de que um dia o sonho se realizará e o conto de fadas estará completo. Todavia, como Anaís Nin nos lembra: “Estamos
envenenados por contos de fadas. Eles não se tornam realidade. O sonho nunca pode nos fazer felizes. Mesmo se alcançarmos o sucesso que imaginamos é provável que nos sintamos vazios. Por quê? Porque nossa maior esperança não é por fama, conforto, riqueza ou poder.
Essas esperanças são rasas. Nossa maior esperança é mais profunda.
Saibamos disso ou não, nossa maior esperança é por sentido”.

A perda da motivação de viver, por falta de sentido, corroborada por decepções com os desfazimentos dos sonhos estabelecidos, precisa ser combatida. Deus restaurou a vida do profeta Elias (1 Rs 19.4-7), que estava em desânimo profundo. Aquele homem de fé se apequenou, e não tinha mais em suas emoções o brilho da existência. Não conseguia encontrar razão, inclusive, para ser usado por Deus, o qual, acreditava ele, também lhe decepcionara, conforme suas próprias palavras: “Eu tenho sido muito zeloso pelo Senhor... e eu fiquei só...” (1 Rs 19.10,14).

Com essas palavras, ele estava dizendo: O Senhor não levou em conta minha fidelidade e abandonou-me.

Tratamento medicamentoso

No tratamento de doenças da alma há posicionamento majoritário que, em regra, deve ser evitado o uso de remédios psiquiátricos. Entretanto, o Dr. Paul Eskin, PhD, recomenda, na obra aqui referida, “que além dos recursos da ciência médica, o paciente busque também uma orientação religiosa, tanto de forma isolada, por meio de leitura sistemática da Bíblia e meditação pela fé, como por meio de uma igreja na qual confie”.7 Assim, o uso de remédios é importante, mas a confiança deve ser posta em Deus. Lembremo-nos do que aconteceu com o rei
Asa, o qual morreu porque não buscou ao Senhor, mas confiou nos médicos (2 Cr 16J2).

Sendo a hipótese, porém, da depressão ser motivada primordialmente pela deficiência de substância química no corpo e, por soberania divina ou inapetência humana (há pessoas que não querem ser curadas), não aconteça o milagre, não há problema em tomar medicamentos psiquiátricos; afinal, Jesus ratificou que os doentes precisam de médico (Lc 5.31).

O grande problema é que alguns desses psicotrópicos podem causar dependência, razão pela qual a substância só deve ser administrada em último caso e com o acompanhamento contínuo de um profissional da saúde. E preciso ter muita cautela para o remédio não se transformar na causa ou na potencialização da depressão.

II. A Psicoterapia de Deus

Fortalecimento do corpo

As consequências da depressão são diversas, e oscilam de acordo com cada indivíduo, porém a perda do apetite, o que leva ao enfraquecimento, e a vontade de dormir continuamente, são bastante frequentes, e aconteceram nesse caso. O grande problema é quando a pessoa decide, realmente, abandonar a si mesma. Quando ela faz questão de não seguir adiante. Está escrito que, se no dia da angústia a pessoa se demonstrar frouxa, a força dela será pequena (Pv 24.10). O sofrimento, sem dúvida, é um traço da vida debaixo do sol, mas o indivíduo não pode se entregar à dor e aos traumas emocionais. Ele precisa reagir.

C.S. Lewis captou isso magistralmente:

O Inimigo [neste caso, Deus já deixou bem claro para seus simpatizantes humanos [os crentes] que o sofrimento é parte essencial do  que Ele chama de redenção; assim, uma fé que foi destruída por uma guerra ou por uma peste não vale todo o nosso esforço para destruí-la. (...) obviamente, naquele exato momento de horror, de luto ou dor física você poderá capturar a sua presa, quando ela deixar momentaneamente de raciocinar. Mas eu descobri que, mesmo nesse instante, se ele buscar refúgio no Inimigo, quase sempre será atendido.
Afetuosamente, seu tio, FITAFUSO.

Assim, é preciso tirar das fraquezas forças. Isso aconteceu com Elias.
No início do tratamento psicoterápico descrito em 1 Reis 19, o anjo acordou o profeta e disse: “Levanta-te e come”, por duas vezes (w. 5,7).
Elias precisava ficar em pé e alimentar-se (não era para comer deitado ou sentado) para dar início recuperação de suas energias emocionais e físicas respectivamente. Como o homem é uma unidade psicossomática (espírito, alma e corpo) com descrito em 1 Tessalonicenses 5.23, tais condutas eram primordiais.

Verbalização do problema

Sabe-se que, no processo de cura dos dramas emocionais, a verbalização da dor é de suma importância, pois é nessa ocasião em que o profissional faz o diagnóstico. O preclaro Morrie Schwartz, aqui já mencionado, afirmou:

Abra-se, deixe as lágrimas correrem, sinta a solidão em sua plenitude, e chegará o momento de se poder dizer: “Muito bem, esse foi o meu momento de solidão, não tenho medo de me sentir solitário, mas agora vou afastar essa solidão do meu caminho e reconhecer que existem outras emoções no mundo e que quero experimentá-las também”.
— Desapegue-se — repetiu Morrie.

Que grande exemplo: Desapegar-se! Abrir o coração e deixar fluir toda a dor e, depois, seguir no rumo certo. A experiência acima descrita apresenta-se importantíssima no processo de cura, e foi exatamente isso que Deus promoveu em Elias. O Senhor perguntou: “Que fazes aqui, Elias” (1 Rs 19.9, 13), quando ele expressou toda sua indignação (1 Rs 19.14), inclusive, nas entrelinhas, questionando a Deus. Aquele momento era uma parte necessária do processo psicoterapêutico para a cura daquele trauma emocional. Deus já sabia o diagnóstico e estava realizando a cura interior do seu servo, para que se cumprisse que “o justo é libertado de sua angústia” (Pv 11.8).

Vida com propósito

Ter um propósito na vida é indispensável para se viver; foi isso que Deus fez com o profeta Elias. No fim na “sessão”, o Senhor ressignificou o ministério profético de Elias: “Vai e volta pelo tu caminho... vem e unge...” (1 Rs 19.15-18). Deus lhe outorgou uma nova missão, para que ele recuperasse sua motivação vital e se sentisse restituído moralmente. Deu certo. A Bíblia mostra, a partir de então, inúmeros eventos extraordinários dos quais Elias foi o protagonista, porque está
escrito que “o coração com saúde é a vida da carne” (Pv 14.30). Uma vida com propósitos é essencial para a depressão ser debelada. Observe-se que Deus tratou Elias fazendo-o indispensável na vida de pessoas. Esse é um grande segredo que garante saúde emocional (Gn 45.15).

III. Vacina Contra a Depressão

Conhecer a Deus

A morte de Jesus trouxe, para todos os discípulos, um grande vazio.
Foi o fim de um sonho de liberdade e de amor. A sexta-feira de dor foi absorvida pelo sábado da desilusão. Quanta saudade... Não houve repouso naquele sábado, somente desânimo e medo.

As narrativas bíblicas sobre o estado emocional dos discípulos, no dia seguinte à morte de Jesus, são estarrecedoras. Marcos diz que os discípulos “estavam tristes e chorando” (Mc 16.10). Lucas deixa claro eles ficaram desiludidos (Lc 24.11, 21) e João fala sobre o medo dos discípulos (Jo 20.19). O sábado seria o pior dia, pois o sangue esfriara, a poeira baixara. Aquilo era real. Eles não veriam mais a Jesus.

Na existência, as pessoas que conhecem a Deus habitualmente se deparam com “sábados de desânimo”. São instantes em que “cai a ficha”. Desembaça-se o vidro, esclarece-se as ideias, enxerga-se a vida como, aparentemente, ela é: sem esperança. Nesses “sábados”, só tem significado, aquilo que é tangível. As promessas de Deus desaparecem das expectativas pessoais. Foi isso que aconteceu com os discípulos. Eles estavam em estado de choque. E Deus náo disse nada, nem enviou um anjo. Não naquele sábado. Essa é a parte mais complicada.

As densas sombras daquele sábado nunca seriam esquecidas. Nem deviam. Os homens precisavam delas, para saber que haveria dias de tristeza e de solidão. Dias em que a voz mais alta é do silêncio de Deus. Dias sem consolo. Dias de medo. Momentos que parecerão eternos. E o serão... pelos ensinamentos deixados, para aqueles que conhecem a Deus.

O sábado dos discípulos foi um dia mau. Que começou e terminou mau. Mas o domingo da ressurreição estava próximo. Jesus ressurgiria da morte para a vida. O sol brilharia como nunca antes bem ali, logo no dia seguinte. Os mais caros ideais dos discípulos estariam mais garantidos do que nunca, por isso eles não tinham razão para estar tristes ou chorando. Nós também não temos motivos em nossos “sábados”.
Conhecer a Deus, sempre, faz toda a diferença.

Manter o foco na Palavra

A Palavra de Deus é uma arma de ataque e de defesa da fé. Manter os olhos postos nela fará uma enorme diferença na vida do cristão. E isso porque, conforme Hebreus 4.12, ela penetra no íntimo da alma, descortinando tudo o que se encontra escondido e de difícil acesso.

A Palavra de Deus encoraja, consola, aponta o caminho. Assim, contra a depressão, a verdade das Escrituras constitui-se numa poderosa vacina. Se o cristão mantiver o foco na Palavra, meditando nela continuamente (SI 1.1,2), seus pensamentos serão bons e positivos (F1 4.8), as tristezas prolongadas, os complexos de inferioridade e os sentimentos de culpa, terão dificuldade em triunfar, haja vista que a mente redimida normalmente reage de maneira tranquila e coerente aos dramas emocionais (Gn 45.7,8; Jó 1.20-22).

Viver em comunhão fraternal

A depressão possui dificuldade em ganhar espaço na alma humana, quando o amor verdadeiro está bem arraigado. As conexões entre as pessoas — a que a teologia denomina de comunhão (gr. koinonia) — faz emergir um grande poder —, o poder do amor.

Barnabé, o filho da consolação, entendia muito bem isso. Ele agia de maneira parecida com a ação do Espírito Santo. Ele congregava as pessoas e as fazia andar juntas. Que belo exemplo! A importância do amor fraternal (amizade) é tão grande que a Bíblia diz que, quando os cristãos forem perfeitos em amor, as coisas serão bem melhores... e diferentes (Jo 13.35; 17.21; 1 Jo 4.18)... Isso pode significar a distinção entre a tristeza e a alegria, a solidão e o riso, a depressão e a vitalidade.

O Maligno quer separar e trazer animosidade às pessoas que vivem
“próximas”, para enfraquecê-las e assim destruí-las. C. S. Lewis abordou isso de forma perspicaz:

O melhor a fazer é voltar a animosidade para os semelhantes mais próximos, aqueles que ele encontra todos os dias, e voltar a benevolência para um círculo mais distante, para as pessoas que ele não conhece. Desse modo, a animosidade torna-se completamente real e a benevolência, em grande medida, imaginária.

Conheço pessoas que oram e clamam pela igreja perseguida em países muçulmanos e socialistas, e até contribuem, porém nada fazem em relação àqueles que passam necessidades em seu bairro. São indiferentes às causas da igreja local... Pode até nem parecer, mas essas pessoas caíram na armadilha do Inimigo.

Um dos antídotos para a depressão é fazer parte de uma comunidade terapêutica espiritual —normalmente uma igreja.

E a bondade com o próximo (não aquela quase “imaginária” com os distantes e inalcançáveis), no dia a dia, que trará saúde espiritual, emocional e física.




Extraído do livro:
  TEMPO PARA
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REYNALDO ODILO.

ISBN: 978-85-263-1464-1