Classe Adolescentes L.8 - A resistência contra a tentação


4.1 O mesmo Espírito Santo que havia enviado Jesus para ser batizado o conduziu ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus tomou a ofensiva contra o inimigo, Satanás, dirigindo­ se ao deserto para enfrentar a tentação. Em grego, a palavra "diabo" significa "acusador" e em hebraico a palavra "Satanás" tem o mesmo sentido (4.10). Satanás é um arcanjo caído, é um ser realmente criado, ele não é um símbolo, e está lutando constantemente contra aqueles que seguem e obedecem a Deus.
A palavra "tentar" significa "colocar em teste para ver o que de bom e de mau, de força e de fraqueza" existem em uma pessoa. As tentações do diabo estavam focalizadas em três áreas essenciais: (1) desejos e necessidades físicos, (2) possessões e poder, e (3) orgulho (veja 1 João 2.15 para uma relação semelhante). Essa tentação do diabo nos mostra que Jesus era humano e lhe deu a oportunidade de reafirmar o plano de Deus para o seu ministério. Também nos dá um exemplo a seguir quando somos tentados.
4.2      E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. O hábito de jejuar era usado como disciplina espiritual para a oração e um tempo de preparação para as grandes tarefas futuras. Ao final do jejum de quarenta dias, era óbvio que Jesus estivesse faminto. Sua condição de Filho de Deus não tornava essa tarefa menos difícil e a falta de sustento levou seu corpo físico a sofrer de terrível fome e sofrimento. As três tentações mencionadas acima ocorreram quando Jesus estava com seu estado físico mais debilitado.

4.3  O tentador expressou sua tentação dizendo: Se tu és o Filho de Deus. A partícula "se" não implicava uma dúvida, pois tanto Satanás como Jesus conheciam a verdade. Satanás tentou Jesus com seu próprio poder. Como Jesus era o Filho de Deus, então Ele certamente podia transformar pedras em pães a fim de satisfazer sua fome. "O Filho de Deus não tem razão para ter fome", Satanás sugeriu. Ele queria que Jesus usasse seu poder e condição para atender suas próprias necessidades.

4.4    Fle [Jesus], porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Jesus respondeu com as palavras de Deuteronômio 8.3. Em todas as três citações de Deuteronômio (Mt 4.4,7, 1O), o contexto mostra que Israel fulhou todas as v=:s em cada teste. Jesus transmitiu a Satanás que embora o teste pudesse ter levado Israel a errar, isso não aconteceria com Jesus. Para verdadeiramente cumprir sua missão, Jesus precisava ser completamente humilhado. Se fizesse seu próprio pão, Ele teria mostrado que não havia desistido de todos os seus poderes, não teria se humilhado, e não teria se identificado totalmente com a raça humana. Mas Jesus se recusou, mostrando que só usaria os seus poderes em submissão ao plano de Deus.

4.5 ,6 A tentação seguinte foi realizada em Jerusalém, a sede política e religiosa da Palestina. O Templo era o centro religioso da nação judaica e o lugar onde o povo aguardava a chegada do Messias (MI 3.1). O Templo era o edifício mais elevado da área e esse pináculo era provavelmente a parede lateral que se projetava para fora da colina. Dessa vez, Satanás usou a escritura  para tentar convencer Jesus a pecar. Ele citou as palavras do Salmo91.l l,12:"SetuésoFilhodeDeus,lança­ te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra''. Satanás queria testar o relacionamento de Jesus com Deus Pai para ver se a promessa de proteção divina era verdadeira. Satanás estava citando a escritura fora do seu contexto,
fazendo parecer que Deus protegeria qualquer um, mesmo se essa pessoa tentasse desafiar as leis naturais. Segundo o contexto, o Salmo promete a proteção de Deus para aqueles que, embora permanecendo na vontade do Senhor, e servindo a Ele, se encontrarem em perigo. Ele não promete proteção para crises criadas artificialmente, nas quais os cristãos clamam a Deus a fim de testar o seu amor e o seu cuidado.

4.7 Jesus respondeu usando Deuteronômio 6.16: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus". Nessa passagem, Moisés estava se referindo a um incidente ocorrido durante a passagem de Israel pelo deserto, registrada em Êx 17.1-7. O povo estava sedento e pronto para se rebelar contra Moisés e voltar para o Egito se ele não lhes fornecesse água. Deus forneceu a água, mas só depois que o povo tinha tentado ao Senhor dizendo: "Está o Senhor no meio de nós, ou não?"
Jesus podia ter saltado do Templo. Deus teria enviado anjos para conduzi-lo ao solo com segurança. Mas teria sido um ridículo teste do poder de Deus e contra a sua vontade. Jesus sabia que seu Pai podia protegê-lo e também entendia que todos os seus atos estavam dirigidos à realização da missão que seu Pai lhe havia destinado, mesmo se isso quisesse dizer sofrimento e morte (o que realmente aconteceu).

4.8,9 Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. E disse­ lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Essa experiência era provavelmente uma visão. Os reinos do mundo estão sob o domínio de Satanás Qo 12.31). Ele sabia que um dia Jesus iria reinar sobre a terra (veja Fp 2.9-11). Sua tentação era, basicamente: "Por que esperar? Posso te dar tudo isso agora!" Satanás tentou Jesus a receber o reino da terra naquele exato momento, antes de executar seu plano de salvar o mundo do pecado. Para Jesus, isso significava alcançar o prometido domínio sobre o mundo sem passar pelo sofrimento e pela morte na cruz. Satanás estava oferecendo um atalho indolor. Mas ele não entendia que o sofrimento e a morte faziam parte do plano de Deus que Jesus havia decidido obedecer.

4.10 Jesus expulsou Satanás com as palavras: "Vai-te Satanás". Se Jesus considerasse o atalho como um objetivo - reinar sobre o mundo, mas adorando Satanás - (4.9) - Ele teria transgredido o primeiro mandamento: "Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás" (cf. Dt 6.4,5). Jesus preferiu tomar o caminho de obedecer a Deus, pois somente assim seria capaz de cumprir sua missão, que era trazer a salvação ao mundo.

4.11 Como Jesus era superior a Satanás, Satanás tinha que fazer o que Jesus lhe ordenara. Portanto, o diabo o deixou, Esse era apenas o primeiro dos muitos encontros que Jesus teria com o poder de Satanás. O fato de os anjos terem vindo e servido a Jesus não diminui a intensidade das tentações por que passou. Os anjos podem ter-lhe servido alimento (chegaram os anjos e o serviram), mas também atenderam às suas necessidades espirituais.

RETIRADO DO LIVRO COMENTARIO NOVO TESTAMENTO APLICAÇÃO PESSOAL.

JUNIORES L - 8 - O AMIGO QUERIDO


Na sua hora de desespero, por causa da terrível doença de Lázaro, as irmãs enviaram um recado a Jesus, que estava em Peréia (10.40), talvez a uma distância entre trinta e cinquenta quilômetros (ver o mapa 1), dizendo: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas (3). A mensagem foi enviada "com a afeição natural de seu relacionamento pessoal". A reação inicial de Jesus foi dizer três coisas: a primeira, Esta enfermidade não é para morte (4). Estas palavras "significam, para os ouvintes, que a doença é temporária, mas para Jesus elas significam que a morte de Lázaro não é mais do que uma morte temporária", porque Ele sabia o que iria fazer (cf. 6.6). A segunda, esta doença é para glória de Deus. "A cura indubitavelmente capacitaria os homens a ver a glória de Deus em ação".  Em terceiro lugar, esta enfermidade é para que o Filho de Deus seja glorificado por ela. O milagre de ressuscitar Lázaro dos mortos é, no Evangelho de João, a justificativa para o julgamento e a morte de Jesus (ver 11.47- 48,57), que é também a sua hora de glorificação (12.23; 17.1).

           Quando Jesus disse: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono (11), Ele estava usando a palavra "sono" com duplo sentido. Como usada no Novo Testamento, ela tem o sentido eufemístico de "morte" em treze ocorrências, contra somente três vezes no sentido de "sono normal". Mas os discípulos pensaram que Jesus se referia ao sono normal, daí a sua observação: Senhor, se dorme, estará salvo ("ele se recuperará", NEB, 12). Para deixar esta situação perfeitamente clara para os discípu­los, Jesus disse claramente: Lázaro está morto (14).  A ausência de Jesus junto àquele leito de morte se converteria em uma coisa boa para os discípulos. Jesus disse: folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para ["com a finalidade de", Berk] que acrediteis. Mas vamos ter com ele (15). Ressuscitar Lázaro dentre os mortos seria um milagre que traria um convencimento maior do que curar a sua enfermidade.
Já não havia protestos por parte dos discípulos quanto ao perigo que espreitava na Judéia; mas Tomé, com o seu pessimismo característico, em um tipo de desespero leal insistiu com os discípulos para que acompanhassem o destino do seu Mestre:  Vamos nós também, para morrermos com ele (16). Sobre Tomé, Westcott diz: "Ele será capaz de morrer pelo amor que sente, porém jamais fingirá uma fé que não sente". 

RETIRADO DO COMENTARIO BEACON.






LIÇÃO - 8 CLASSE DE JOVENS JESUS ENTRA EM JERUSALÉM MONTADO EM UM JUMENTO

21.1-5 O monte das Oliveiras é uma cadeia de montanhas, de cerca de quatro quilômetros de extensão, no outro lado do vale de Cedrom, a leste de Jerusalém. O monte das Oliveiras é importante no Antigo Testamento, por ser o lugar da revelação e do julgamento final de Deus (veja Ez 43.2-9; Zc 14.1-19).
Jesus estava em Betfagé, e enviou dois discípulos a uma aldeia próxima (possivelmente Betânia) para conseguir a jumenta e seu jumentinho e trazê-los. Quando Jesus entrou em Jerusalém montado num jumentinho, Ele confirmou a sua realeza messiânica, como também a sua humildade. O povo reconheceu que Ele estava cumprindo profecias. A primeira parte vem de Isaías 62.11, o restante de Zacarias 9.9.


21.6-8
O jumentinho, por nunca ter sido montado (Me 11.2), não tinha sela, de modo que os discípulos puseram as suas vestes sobre ele, para que Jesus pudesse se sentar. O ato de colocar as roupas sobre o jumentinho para que Jesus montasse nele tem a conotação de majestade (veja 2 Rs 9.13). Multidões de pessoas já estavam reunidas nesta parte do caminho, aproximadamente um quilômetro e meio antes de Jerusalém, dirigindo-se à cidade
para participar das festividades. A celebração espontânea da multidão honrou Jesus; eles estenderam as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores. Alguns ramos eram estendidos ao longo do caminho, outros provavelmente agitados no ar (veja SI 118.27). Os ramos, possivelmente de oliveiras ou figueiras, eram usados para dar as boas vindas a um libertador nacional, e s1mbplizavarn vitória. Este versículo é uma das poucas passagens em que os Evangelhos registram que a glória de Jesus foi reconhecida na terra. Hoje em dia, os cristãos comemoram este evento no Domingo de Ramos.

21.9 As multidões entoavam palavras do Salmo 118.25,26. "Longa vida ao Rei" era o significado por trás dos seus gritos de alegria, porque eles sabiam que Jesus estava deliberadamente cumprindo a profecia. Esta foi a aclamação da multidão de que Ele realmente era o tão esperado Messias. O povo tinha certeza de que a sua libertação de Roma estava próxima. Embora a multidão visse corretamente a Jesus como o cumprimento destas profecias, elas não entendiam aonde o reinado de Jesus as iria levar. Eles esperavam que Ele fosse um líder nacional que iria devolver à sua nação a glória anterior. Desta forma, estavam surdos às palavras dos seus profetas e cegos à verdadeira missão de Jesus. Quando ficasse aparente que Jesus não satisfaria suas esperanças, muitos se voltariam contra Ele. Outra multidão iria gritar "Seja crucificado!" quando Jesus estivesse em julgamento, dias depois.

21.10,11 As pessoas de Jerusalém estavam naturalmente muito interessadas em quem estava causando tal furor. Quando Jesus nasceu, e os magos vieram procurando por Ele, toda a cidade "perturbou-se" (2.3). Uma vez mais, Jesus causava um grande alvoroço nesta grande cidade. À pergunta "quem é este?" foi dada a seguinte resposta: "Este é Jesus, o Profeta de Nazaré da Galiléia". Mas Jesus não era apenas outro profeta; Ele era o profeta que havia de vir, e que estava sendo esperado (Dt .18.15-18). Não é de admirar que a cidade estivesse tão agitada!

RETIRADO DO COMENTÁRIO  APLICAÇÃO PESSOAL NOVO TESTAMENTO.


Classe de Adulto - Uma Aliança Superior - Comentário de Hebreus 8.1-13

Extraído do livro: A supremacia  de  Cristo , Fé, esperança  e ânimo na carta aos Hebreus.

José Gonçalves.

No capítulo sete, o autor detalhou a relação entre a ordem sacerdotal de Melquisede  e o sacerdócio de Jesus, sempre contrastando   com o sacerdócio levítico. Ele tem consciência de que o assunto parecia envolto em abstrações, razão essa que, neste capítulo, ele começará a mostrar as implicações práticas do sacerdócio de Jesus.
"Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal,que está assentado nos céus à destra do trono da Majestade" (v. 1). Em primeiro lugar, destaca o autor, nosso Sumo Sacerdote está assentado à destra do "trono da Majestade". Na cultura judaica, essa era outra forma de dizer que o sacerdócio de Jesus possuía realeza. Essa é a mesma linguagem usada no Salmo 110, que é uma poesia profética sobre o sacerdócio do Messias. A expressão "assentado nos céus" é outra forma de dizer que Cristo terminou, de fato, a obra da redenção e que estava de vez qualificado para ser Sumo Sacerdote.
"Ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem" (v. 2). F. F. Bruce observa que, daqui para frente, o autor passa a discorrer sobre os temas da aliança, santuário e sacrifício, que estavam intimamente ligados ao sacerdócio arônico. Dessa forma, o sacerdócio arônico dá lugar àquele que é segundo a ordem de Melquisedeque; o antigo pacto dá lugar ao novo, e o santuário terrestre é substituído pelo celeste.' Esse novo santuário, que é parte do verdadeiro tabernáculo, é obra de Deus, e não do homem. Embora esse novo santuário não seja revestido de materialidade, como era o santuário terrestre, ele é muito mais real e glorioso. Richard Taylor destaca que

"o tabernáculo celestial está em contraste com o terreno, como o espiritual está em contraste com o material, o tabernáculo terreno era rico em seu apelo material, mas pobre em sua habilidade de mudar ou satisfazer a alma em seu relacionamento pessoal com Deus. O tabernáculo celestial, em contraste, é privado de esplendor terreno e materialidade, mas completo em sua substância espiritual".

É nesse tabernáculo celeste que os cristãos podem agora ser apresentados diante de Deus pelo Sumo Sacerdote, Jesus. Ele, portanto, é o ministro desse verdadeiro santuário celestial. A palavra grega leitourgos, traduzida aqui como ministro, ocorre cinco vezes no texto grego.3 Na Septuaginta, versão que o autor recorre com frequência, era usada para referir-se ao serviço sacerdotal. No Novo Testamento, a sua forma verbal foi usada no contexto da adoração cristã: “Enquanto eles ministravam (leitourgeo) perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: Separai-me a Banabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (At 13.2). Esse fato revela que Jesus, ao contrário do sistema sacerdotal levítico, que se tomara obsoleto, continua seu serviço em favor dos filhos de Deus.
"Porque todo sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; pelo que era necessário que este também tivesse alguma coisa que oferecer” (v. 3). O autor já havia discorrido sobre dons e sacrifícios em Hebreus 5.1. Aqui, ele aponta em que sentido a sua argumentação avançara daqui para frente. O sacerdote levita oferecia as ofertas de cereais no santuário, as quais eram usadas como uma forma de agradecimento e consagração a Deus. Por outro lado, os sacrifícios são uma referência às ofertas de sangue, que fazia expiação pelo pecado. No capítulo 7.27, o autor já havia falado que a oferta oferecida por Jesus fora sua própria vida. “Ora, se ele estivesse na terra, nem tampouco sacerdote seria, havendo ainda sacerdotes que oferecem dons segundo a lei" (v. 4). A construção verbal usada aqui (imperfeito do indicativo ativo) demonstra que o sistema sacerdotal levítico ainda estava em vigor quando o autor redigiu sua carta.4 Por outro lado, esse versículo mostra a incompatibilidade existente entre as duas ordens sacerdotais — Levi e Melquisedeque. Ambas não podiam coexistir uma ao lado da outra. Embora se tenha tomado obsoleta — pois uma nova ordem sacerdotal havia sido estabelecida — , o sistema sacerdotal levítico ainda continuava em vigor nos dias em que o autor redigia sua carta. A lógica é simples: se Jesus não podia oficiar como sacerdote aqui na terra, visto não ser Ele da tribo de Levi, e havia ainda os que exerciam esse ministério, o seu oficio só poderia ser exercido no tabernáculo celestial. Logo, isso tornava totalmente antiquado todo o sistema sacerdotal levítico. “Os quais servem de exemplar e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que, no monte, se te mostrou” (v. 5). O autor usa os termos gregos hypodeigma e skia, traduzidas aqui como exemplo e sombra respectivamente. Mas os termos figura e sombra refletem melhor o original. Alguns intérpretes têm argumentado que o autor de Hebreus tomou emprestado do platonismo judaico alexandrino as figuras de um santuário celeste, onde o terrestre é apenas uma sombra. Nos seus diálogos, Platão descreve um mundo ideal do qual o mundo físico seria apenas uma cópia imperfeita, o que ele denominava claramente na argumentação do autor de Hebreus que há um pano de fundo cultural hebraico, e não grego. Isso é perfeitamente visto quando vemos Deus dizer a Moisés para fazer o Tabernáculo de acordo com o modelo (gr. typos) que o profeta vira no monte (Êx 25.40). Moisés, e não Platão, serviu de inspiração para o autor dessa carta. Donald Guthrie observa acertadamente que cada detalhe exposto na sombra, que era um tipo, tinha o propósito de aproximar-se da realidade, isto é, do antítipo. Nesse aspecto, o autor tencionava mostrar por contraste a maior excelência com que o santuário celeste revestia-se.5 “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas" (v. 6). O autor continua fazendo o contraste entre o sacerdócio levítico e o de Cristo. Não sendo apenas uma sombra, mas a própria realidade, o ministério de Cristo é mais excelente do que o levítico em tudo. A palavra “alcançou” traduz o termo grego tynká- nô, que mantém o sentido de obter, receber e conseguir. Ao usar esse verbo no tempo perfeito, que é uma referência a uma ação passada com efeitos no presente, o autor tenciona mostrar que o ministério de Jesus continuava em pleno exercício quando ele redigia seu texto. Mais uma vez aqui, como fizera em 8.2, o autor usa a palavra leitourgia (liturgia) em referência ao serviço, ministério e serviço sagrado.6 Nesse ministério sagrado, Cristo é o mediador de uma melhor aliança. Ele é a ponte entre o homem e Deus, tomando desnecessária a existência de intermediários. A superioridade das promessas da Nova Aliança em relação à antiga não são em relação à garantia de cumprimento, mas, sim, ao conteúdo. Deus sempre cumpriu suas promessas, tanto na Antiga Aliança como na nova. Todavia, na cruz do Calvário, Ele proveu uma aliança substancialmente superior à antiga. “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo" (v. 7). O contexto do cristianismo primitivo mostra o conflito entre judaizantes e cristãos. Os primeiros, como demonstra o livro de Atos dos Apóstolos no capítulo 15, insistiam em manter de pé as crenças e práticas do antigo judaísmo. Por outro lado, o segundo grupo, representado pelos apóstolos, via que algumas práticas existentes dentro dessas duas tradições eram mutuamente excludentes. O autor tem consciência do peso que essa tradição judaica possuía dentro da comunidade judaico-cristã para a qual ele endereçaria sua carta. Ele não procura desvalorizar a Antiga Aliança, pois sabe que a mesma teve sua finalidade; todavia, ela era imperfeita e incompleta, possuindo um papel transitório. Esse fato já havia sido revelado pelos profetas quando Deus disse que substituiria o primeiro concerto por um segundo. “Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei um novo concerto” (v. 8). A promessa do estabelecimento de um novo concerto de simulacro. Todavia, é possível percebermos  claramente na argumentação do autor de Hebreus que há um pano de fundo cultural hebraico, e não grego. Isso é perfeitamente visto quando vemos Deus dizer a Moisés para fazer o Tabernáculo de acordo com o modelo (gr. typos) que o profeta vira no monte (Êx 25.40). Moisés, e não Platão, serviu de inspiração para o autor dessa carta. Donald Guthrie observa acertadamente que cada detalhe exposto na sombra, que era um tipo, tinha o propósito de aproximar-se da realidade, isto é, do antítipo. Nesse aspecto, o autor tencionava mostrar por contraste a maior excelência com que o santuário celeste revestia-se.5 “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas" (v. 6). O autor continua fazendo o contraste entre o sacerdócio levítico e o de Cristo. Não sendo apenas uma sombra, mas a própria realidade, o ministério de Cristo é mais excelente do que o levítico em tudo. A palavra “alcançou” traduz o termo grego tynká- nô, que mantém o sentido de obter, receber e conseguir. Ao usar esse verbo no tempo perfeito, que é uma referência a uma ação passada com efeitos no presente, o autor tenciona mostrar que o ministério de Jesus continuava em pleno exercício quando ele redigia seu texto. Mais uma vez aqui, como fizera em 8.2, o autor usa a palavra leitourgia (liturgia) em referência ao serviço, ministério e serviço sagrado.6 Nesse ministério sagrado, Cristo é o mediador de uma melhor aliança. Ele é a ponte entre o homem e Deus, tomando desnecessária a existência de intermediários. A superioridade das promessas da Nova Aliança em relação à antiga não são em relação à garantia de cumprimento, mas, sim, ao conteúdo. Deus sempre cumpriu suas promessas, tanto na Antiga Aliança como na nova. Todavia, na cruz do Calvário, Ele proveu uma aliança substancialmente superior à antiga. “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo" (v. 7). O contexto do cristianismo primitivo mostra o conflito entre judaizantes e cristãos. Os primeiros, como demonstra o livro de Atos dos Apóstolos no capítulo 15, insistiam em manter de pé as crenças e práticas do antigo judaísmo. Por outro lado, o segundo grupo, representado pelos apóstolos, via que algumas práticas existentes dentro dessas duas tradições eram mutuamente excludentes. O autor tem consciência do peso que essa tradição judaica possuía dentro da comunidade judaico-cristã para a qual ele endereçaria sua carta. Ele não procura desvalorizar a Antiga Aliança, pois sabe que a mesma teve sua finalidade; todavia, ela era imperfeita e incompleta, possuindo um papel transitório. Esse fato já havia sido revelado pelos profetas quando Deus disse que substituiria o primeiro concerto por um segundo. “Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei um novo concerto” (v. 8). A promessa do estabelecimento de um novo concerto fora feita pelo Senhor ao profeta Jeremias (Jr-31.31-34). A partir das Escrituras do Antigo Testamento, o autor demonstra que esse novo pacto havia sido estabelecido com Cristo. A expressão grega syntelesô epi ton oikon Israel, traduzida aqui como "estabelecerei minha aliança com a casa de Israel”, demonstra a disposição de Deus em cumprir o seu plano salvífico em favor de seu povo.7 “Não segundo o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não permaneceram naquele meu concerto, eu para eles não atentei, diz o Senhor” (v. 9). Orton Wiley põe em evidência a superioridade da Mova Aliança em relação à Antiga. 1. A primeira Aliança era falha; a nova é perfeita. A primeira era temporária e feita com vistas a Outro que havia de vir; a segunda é a expressão final e duradoura da graça de Deus. 2. A Antiga Aliança era e tratava com os homens coletivamente; a segunda trata com o indivíduo e fundamenta-se, afinal, na promessa feita a Abraão pessoalmente e à sua semente, como indivíduos. 3. A aliança anterior relacionava-se às coisas materiais e baseava-se em promessas seculares. Devia haver uma herança material, a terra de Canaã. O Senhor entregaria os inimigos do seu povo na mão deste e alargaria as suas fronteiras. A nova aliança é espiritual, pois as coisas materiais não podem satisfazer a alma do homem. 4. A aliança mosaica estabeleceu um padrão ou regra de vida, mas não podia dar o poder nem a disposição para obedecer aos mandamentos que Deus impunha ao Seu povo. Pela nova aliança, a Lei de Deus é escrita interiormente no coração do homem; assim, não apenas ilumina a mente com a possibilidade de conhecer ao Senhor, mas proporciona a disposição para a obediência interior. 5. A antiga aliança não podia, com suas ofertas contínuas, remover o pecado. Os sacerdotes ofereciam o que nada lhes custara. A nova aliança foi estabelecida por Cristo, que se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado (Hb 9.26 - ARA). 6. A antiga aliança se limitava aos filhos de Abraão segundo a carne; a nova é universal em seu escopo, pois os que são de são descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa (Gl 3.29). Visto que a fé real era a única condição da aceitação de Abraão, é, portanto, a única condição exigida dos filhos espirituais desse patriarca. A aliança mosaica, com suas obras, é posta de lado para sempre como condição básica de aceitação da parte de Deus: Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça (Rm 4.16a - ARA).8 “Porque este é o concerto que, depois daqueles dias, farei com a casa de Israel, diz o Senhor: porei as minhas leis no seu entendimento e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo” (v. 10). A promessa de uma aliança superior, onde a Lei de Deus seria gravada por dentro, e não por fora, encontra eco em outras partes do Antigo Testamento: “E vos darei um coração novo a porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juizes, e os observeis” (Ez 36.26,27). Fritz Laubach observa que "a inacreditável novidade desta aliança reside em que a obediência à Palavra de Deus será concretizada integralmente, porque todos os membros do povo de Deus sem exceção possuirão o entendimento correto de Deus. A antiga lei de Moisés estava escrita em tábuas (Êx 31.18; 34.27,28) ou num livro (Êx 24.7). Ela se contrapunha ao povo como um poder que demandava. Agora, porém, todos os membros desse povo de Deus trazem essa lei no coração, estão interiormente unificados com ela, de maneira que coincidem num só ato o conhecimento da lei e o seu cumprimento”.9 “E não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior” (v. 11). A Antiga Aliança, rica em símbolos, porém pobre em produzir relacionamento com Deus, é substituída pela Nova Aliança. Na Nova Aliança, todos têm a oportunidade de conhecer o Senhor. Esse fato toma-se possível porque o Espírito Santo, que, na Antiga Aliança, se manifestava sobre pessoas especiais — profetas, sacerdotes e reis — viria sobre toda carne. "E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos” (At 2.17). O apóstolo Paulo escreveu uma longa exposição à igreja de Corinto, mostrando como se davam essas manifestações espirituais no contexto da igreja (1 Co 12-14). Se, na Antiga Aliança, somente o profeta falava em nome de Deus, na Nova Aliança, embora existindo ainda o ministério profético (Ef 4.11), o dom da profecia estava disponível a todos os crentes (1 Co 14.31). O apóstolo João afirma essa mesma verdade quando diz: "E a unção que vós recebestes dele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” (1 Jo 2.27). “Porque serei misericordioso para com as suas iniquidades e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais" (v. 12). A Antiga Aliança sobrevivia de sombras. Dessa forma, o problema do pecado jamais fora tratado de uma forma completa. Na Nova Aliança, por estar fundamentado em um superior sacrifício, o de Cristo, o problema do pecado é totalmente tratado. Esse versículo mostra a grandeza da graça e a misericórdia divina em tratar com o problema do pecador, mesmo esse não sendo merecedor de coisa alguma nem tampouco capaz de alguma coisa por si mesmo. Paulo afirma essa mesma verdade: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (Cl 2.13,14). “Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tomado velho e se envelhece perto está de acabar" (v. 13). O sistema de sacrifí­cios ainda continuava em vigor quando o autor de Hebreus escreveu essas palavras. Todavia, como um autor inspirado, ele sabia que, espiritualmente, tudo aquilo já havia sido destituído de valor. Uma Nova Aliança, que era a própria realidade e cumprimento das promessas e da qual a Antiga Aliança era apenas um tipo, havia sido estabelecida uma vez por todas.

Jovens Lição 7 - O Perigo da Falsa Religiosidade

A Impureza Cerimonial (15.1-9)
Mais uma vez Jesus entrou em conflito com os fariseus. Dessa vez eles tinham o apoio dos escribas, ou doutores da Lei, de Jerusalém (1), que ficava a uma distância de cerca de cento e sessenta quilômetros (veja o mapa). É bem possível que eles fizessem parte de uma representação oficial do Sinédrio, enviada para questionar Jesus (cf. João 1.19).
Esses escribas queriam saber por que os seus discípulos haviam desobedecido à tradição dos anciãos (2). A importância dessa expressão é explicada por M'Neile: "Os 'anciãos' eram os grandes mestres do passado e do presente...; a 'tradição' representava a lei oral, transmitida por eles, embora incompleta, e que mais tarde foi codificada no Mishna".
A transgressão  dos fariseus,  que foi especificamente citada,  era  a  seguinte: Não lavam as mãos quando comem pão.  Isto não significa que os discípulos comessem com as mãos sujas, mas que eles não faziam o elaborado cerimonial de lavagem prescrito na  tradição  dos anciãos. Marcos explicou esse costume aos seus leitores romanos (Me 7.2-4). Mateus assumiu que os seus leitores judeus o compreenderiam com facilidade.
O Senhor Jesus respondeu aos fariseus fazendo a seguinte pergunta: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus pela vossa tradição? (3) Depois, Ele explicou o que queria dizer fazendo o contraste entre o que Deus ordenou (4) e o que eles diziam (5). O quinto mandamento diz: Honra a teu pai e a tua mãe (cf. Êx 20.12). Também havia uma advertência para qualquer um que amaldiçoasse- a palavra grega significa literalmente "falar mal de" - seu pai ou sua mãe; tal pessoa deveria ser condenada à morte (Êx 21.17).
Os fariseus haviam se esquivado desse mandamento divino por meio da sua tradição humana. Eles diziam que os filhos, que eram obrigados a cuidar de seus pais - um ponto extremamente importante para os orientais - podiam declarar que o dinheiro necessário para o sustento deles seria dado como uma oferta (5), isto é, poderia ser dedica­ do a Deus. Dessa forma eles ficavam isentos de cumprir sua obrigação legal (6) e "tornavam nulo", "invalidavam" o mandamento de Deus através da tradição deles.
As implicações antiéticas e irreligiosas desse costume dos rabinos foram descritas por Carr: "Os escribas afirmavam que essas palavras, mesmo quando pronunciadas em uma situação de ira e de desrespeito para com os pais que precisavam de socorro, isentavam os filhos de seu dever natural; na verdade, deixava-os livres para não oferecê-lo. Por outro lado, elas também não o obrigavam realmente a dedicar a soma ao serviço de Deus ou do Templo"1.8  M'Neile concorda com essa análise. Ele diz: "A verdadeira contribuição deles não era realmente contemplada, a soma era dedicada (isto é, ficava indisponível) apenas em relação aos pais, ou a outra pessoa, que esperasse recebê-la".19
Não é de admirar que Jesus chamasse os escribas de hipócritas (7). Para descrevê­los Ele citou (8-9) Isaías 29.13 (uma citação que se baseia mais na Septuaginta do que no texto hebraico).

A Impureza Moral (15.10-20)
À multidão (10) Jesus explicou que não era o que entra pela boca que contamina, mas o que dela sai (11). O verbo vem de koinos, "comum", portanto, ele significa literal­ mente "tornar comum". Mas como o adjetivo adquiriu o significado de "cerimonialmente impuro" (cf. Atos 10.14), o verbo passou a ter o significado de "contaminar" (no sentido cerimonial). Cristo declarou: "Não é o que você come que contamina a sua vida, mas o que você diz". Montefiore, um escritor judeu, expressou bem a lógica do que Jesus queria dizer. "Coisas não podem ser religiosamente puras ou impuras; somente as pessoas o podem ser. E as pessoas não podem ser contaminadas pelas coisas, mas somente por si mesmas quando agem de forma ímpia."
Essa era uma escandalosa negação do judaísmo farisaico, que colocava sua maior ênfase na pureza cerimonial. Não é de admirar que os discípulos tenham informado o Mestre (12) de que os fariseus se escandalizaram. Sua resposta deixava implícito que esses críticos não haviam sido plantados por Deus; portanto, seriam arrancados (13). Ele os chamou de condutores cegos de outros cegos (14).
Em seguida, Pedro (15) pediu uma explicação dessa parábola- referindo-se, evi­ dentemente, ao versículo 11. Uma parábola (parábola) foi usada aqui no estrito sentido de uma afirmação semelhante a uma parábola, isto é, fazendo uma comparação.
O Mestre expressou sua surpresa, e sem dúvida o seu desapontamento, porque nem os discípulos conseguiam ainda entendê-lo (16). Ele tentou tornar o assunto do versículo 11 um pouco mais claro, procurando aperfeiçoá-lo. O alimento tem um efeito apenas físico, e não espiritual (17). Mas o que vem do coração contamina uma pessoa (18). Embora o Senhor tenha mencionado a palavra boca pela quarta vez (cf. 11, 17), os versículos 19 e 20 deixam claro que Ele não está se referindo apenas às palavras de uma pessoa, mas também aos seus atos.

Extraído do Livro Comentário Bíblico Beacon.



Juniores Lição 7 - A Amiga Atenciosa – João 12.1-8.

Embora Maria seja a última a ser introduzida à cena, o seu ato de devoção amorosa é o tema central de todo o relato.202 Ela tomou uma libra — uma libra romana de cerca de doze onças (453 g) — de ungüento de nardo puro, de muito preço,203 ungiu os pés de Jesus e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos (3). A despeito do que os outros membros da casa de Betânia pudessem ter pensado de Jesus, uma palavra descreve o sentimento de Maria — amor.
Aqui é visto “o dom do amor”: 1. Em exorbitante extravagância, ungüento... de muito preço; 2. Na humildade, ela ungiu os pés do Senhor; 3. No completo desprendimento, enxugou-lhe os pés com os seus cabelos. Existe uma qualidade universal em um amor como esse. João escreveu em linguagem poética — e encheu-se a casa do cheiro do ungüento (3)— ou melhor, “da fragrância do perfume”.
Judas Iscariotes, que também estava na ceia, levantou uma objeção ao ato de Maria, dizendo: Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros [denários], e não se deu aos pobres? (5) João é rápido em acrescentar seus comentários. Ele questionou os motivos de Judas. Não pelo cuidado que tivesse dos pobres
(6). Então ele declara o problema. Judas era ladrão (6). Como o tesoureiro do grupo dos discípulos (“Ele tinha a caixa do dinheiro”, NASB. Ou ainda, como em algumas traduções, “Ele tomava conta da bolsa de dinheiro”, NTLH), era a sua prática “tirar o que ali se lançava” (6, tradução literal). Já se perguntou por que Judas tinha sido escolhido para essa função, uma vez que ela lhe causaria tentações incomuns. Westcott responde: “A tentação normalmente nos sobrevêm através de áreas de nossa vida em que já apresentamos alguma tendência a pecar”.
Maria e Judas estão em um vívido contraste. “Maria, na sua devoção, inconscientemente provê a honra dos mortos. Judas, no seu egoísmo, inconscientemente traz a própria morte”

Jesus veio rapidamente em defesa de Maria. Deixai-a; Ele disse: para o dia da minha sepultura guardou isto (7) — literalmente, “para que ela possa guardar isto para o dia do meu sepultamento” (NASB). A linguagem neste ponto é difícil, mas parece indicar, segundo Hoskyns, que “Maria conscientemente admitiu a necessidade da morte de Jesus, e também, reconhecendo que a hora era chegada, antecipou o seu sepultamento com um ato de devoção inteligente”.
O pedido de Judas pelos pobres não escapou da resposta de Jesus. Os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes (8; cf. Dt 15.11). O agudo senso de oportunidade de Maria não podia passar despercebido. “Há algumas coisas que podemos fazer a qualquer momento, e existem algumas coisas que nunca faremos, a menos que agarremos a oportunidade de fazê-las no momento certo”.

Extraído do Livro Comentário Bíblico Beacon .

Jesus: Sumo Sacerdote de uma Ordem Superior Comentário de Hebreus 7.1 -28

Extraído do livro: A supremacia  de  Cristo , Fé, esperança  e ânimo na carta aos Hebreus.
José Gonçalves.

         Tendo terminado a sua seção parentética no capítulo 6, que havia introduzido no final do capítulo 5, o autor volta a tratar do assunto que ele acha central em sua argumentação — a doutrina do sacerdócio   de Cristo. Para tal, ele principia resgatando sua fundamentação histórica e profética.
         “Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou” (v. 1). O autor já afirmara (Hb 5.4-6) que Jesus havia sido constituído por Deus como Sumo Sacerdote de uma ordem superior a de Melquisedeque. Aqui, ele vai mostrar a importância que teve essa figura enigmática dentro do plano divino. Ele chama a atenção para o fato de que Melquisedeque fora rei e sacerdote. Melquisedeque, portanto, é o único personagem na história do Velho Testamento que fora rei e sacerdote ao mesmo tempo. Donald Hegner observa que, no judaísmo primitivo, prevalecia a crença de que o Messias acumularia essas duas funções.1 A intenção do autor é mostrar, não pelo simples fato de que essa era uma expectativa judaica, mas, sobretudo, porque era um fato profético, que Jesus era Sumo Sacerdote dessa mesma ordem. Foi esse sacerdote-rei que abençoou o patriarca Abraão. “A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça e depois também rei de Salém, que é rei de paz” (v. 2). De acordo com a Enciclopaedia Judaica, o nome Melquisedeque é interpretado pelo autor de Hebreus como sendo “rei de justiça" e “paz" com o propósito de associá-lo à pessoa de Jesus”.
         “Na epístola aos Hebreus (7.1-7), Melquisedeque (rei de justiça - Zedek; de paz - Salém) é descrito como único, sendo ambos um sacerdote e rei, e porque ele é ‘sem pai, sem mãe, sem genealogia’; ele é eterno, ‘não tendo começo de dias e nem fim da vida’. Nesse sentido, Melquisedeque assemelha-se a Jesus, o Filho de Deus, e, assim, é um tipo do Salvador".
         “Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fm de vida, mas, sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre” (v. 3). Esse versículo forneceu combustível para muitos debates em tomo da figura enigmática de Melquisedeque.' To­davia, a interpretação mais natural, como descreveu a Enciclopaedia Judaica, é aquela que a tradição cristã tem-lhe atribuído — um tipo de Cristo.  O vocábulo grego aphomoioo, traduzido como semelhante, só aparece aqui no Novo Testamento. A. T. Robertson destaca “que essa semelhança está na figura tirada do Gênesis, e não na própria pessoa".  Melquisedeque é um tipo do qual Jesus é o antítipo. A ordem sacerdotal, e não simplesmente a pessoa de Melquisedeque, está no foco da argumentação do autor. De forma análoga, Richard Taylor observa que as descrições dadas sobre a pessoa de Melquisedeque no versículo 3 (sem pai, sem mãe e sem genealogia) devem referir-se à sua ordem sacerdotal, e não à sua pessoa.6 Esse entendimento é confirmado no fato de que, para um judeu conhecedor do sistema levítico, era totalmente inconcebível alguém reivindicar o sacerdócio sem que seus pais fossem sacerdotes. John Nelson Darby (1800-1882) destaca que
"como sacerdote, Cristo era sem genealogia, não como homem. Sua mãe era conhecida. Uma vez feito sacerdote, não podia ser descartado ao chegar a uma certa idade, como aqueles sacerdotes. Ele permanece para sempre. ‘Feito semelhante ao filho de Deus’ — somente como sacerdote. A realeza está vinculada com o sacerdócio".
Melquisedeque foi uma pessoa física, histórica, mas o seu sistema sacerdotal era atemporal, eterno.  Muito barulho tem sido feito em torno da figura enigmática de Melquisedeque porque é desconhecida a forma como a hermenêutica judaica interpretava o silêncio de determinado texto. Na interpretação rabínica dos textos sagrados, até mesmo o silencio falava alto. Filo, um judeu de Alexandria, por exemplo, utilizou-se muito desse recurso.Donald Hegner destaca:
"Do ponto de vista rabínico, o silencio é tido como verdadeiramente significativo, em vez de apenas fortuito, de modo especial em se tratando de uma pessoa tão importante, rei e sacerdote ao mesmo tempo. Visto não ter registro da morte de Melquisedeque, nem do término do seu sacerdócio, pode se concluir que ele permanece sacerdote para sempre. Considerando-se, pois, o que as Escrituras dizem e o que silenciam a respeito de Melquisedeque, toma-se evidente que ele é semelhante ao filho de Deus, que também jamais teve início de dias, nem fim de vida, com um sacerdócio de validade eterna”.
"Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos" (v. 4). Há um jargão popular que diz: “Na terra de Melquisedeque, Abraão só paga o dízimo”. Nesse versículo 4, o autor mostra a superioridade de Melquisedeque em relação a Abraão. Todos os judeus, incluindo os cristãos provenientes do judaísmo, tinham consciência da grandeza do patriarca Abraão para a história hebraica. Todavia, o autor de Hebreus está mostrando a seus leitores que Abraão foi grande sim, mas que Melquisedeque fora ainda maior do que ele, visto Abraão ter reconhecido como legítimo o sacerdócio de Melquisedeque através da devolução dos dízimos. É exatamente dessa ordem sacerdotal muito superior à Ievítica que advém o sacerdócio do Filho de Deus .
          “E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham descendido de Abraão" (v. 5). O autor tem em mente mostrar a seus leitores que, no contexto do Antigo Testamento, há duas linhas sacerdotais. Uma delas começa com Abraão, passando por Levi e seus descendentes, e a outra tem início com Melquisedeque, o sacerdote-rei. Essa ordem sacerdotal, que começou com Melquisedeque, vai até o Messias, Jesus Cristo (SI 110.4). Dessa forma, o autor prova que, embora o sacerdócio levítico tenha recebido dízimos, assim como Melquisedeque recebeu do patriarca Abraão, nem mesmo assim eles podem equiparar-se em grandeza ao rei-sacerdote de Salém.
"Mas aquele cuja genealogia não é contada entre eles tomou dízimos de Abraão e abençoou o que tinha as promessas” (v. 6). Esse sacerdócio de Melquisedeque, que nem mesmo registro possuía entre eles, tinha mais realeza do que o sistema levítico. A ordem sacerdotal Ievítica era humana, terrena; já a ordem de Melquisedeque era divina, celestial.
“Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior" (v.7). O fato relevante mostrando que Abraão devolveu o dízimo a Melquisedeque e que ele fora abençoado pelo mesmo demonstra a superioridade de Melquisedeque sobre o patriarca hebreu. O rei deve abençoar o súdito; o soldado presta continência para o oficial; o filho subordina-se ao pai. Da mesma forma, foi Abraão em relação a Melquisedeque.
         “E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive" (v. 8). Simon Kistemaker observa, como já foi destacado neste livro, que o autor de Hebreus segue uma lógica diferente da nossa porque emprega uma metodologia rabínica adotada no primeiro século. Dentro dessa metodologia interpretativa, o autor declara que o testemunho sobre Melquisedeque é que ele "vive”. Estaria ele querendo dizer com isso que Melquisedeque jamais morreu? Se a lógica fosse essa, ele seria um ser sobrenatural, o próprio Filho de Deus, fato esse que o autor já descartou quando disse que o sacerdote de Salém era “semelhante” ao Filho de Deus, e não o próprio Jesus (Hb 7.3). Kistemaker destaca que "nos lugares onde seu nome é mencionado (Gn 14.18-20; SI 110.4), Melquisedeque (quanto a seu sacerdócio) é descrito como uma pessoa que ‘vive’. Isso significa que a ordem sacerdotal de Melquisedeque é permanente’’.  Entendimento semelhante é dado pelo expositor Donald Hegner:
"O argumento do v. 8 tem caráter rabínico, pois atribui grande significado ao silêncio do texto (cf. v.3). A referência àquele de quem se testifica que vive, no entanto, encontra paralelismo nas referências a Cristo nos w . 15, 16 e 24, em que a referência à vida eterna sem fim é absolutamente verdadeira".
         Dentro da tradição cristã, portanto, esse versículo ganha o sentido de que, aqui, a ordem levítica, constituída por homens mortais, toma dízimos; ali, isto é, na ordem sacerdotal de Melquisedeque, personificada em Jesus Cristo, o Sacerdote Eterno, recolhia dízimos porque é superior à ordem levítica e continuará sempre existindo. Melquisedeque não era eterno, mas a sua ordem sacerdotal sim. A ordem sacerdotal levítica, encarregada de tomar os dízimos, era temporal, passageira, pois era constituída de homens mortais. Essa ordem sacerdotal tomou-se obsoleta e caducou. A ordem de Melquisedeque, porém, jamais acabará porque é eterna. É dessa mesma ordem que Cristo, o Sacerdote-Rei, exerce o seu sacerdócio para todo o sempre!
“E, para assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos" (v. 9). A ordem sacerdotal de Melquisedeque é superior à levítica, visto que todo o sistema levítico, representado na pessoa de Abraão, pagou dízimos a Melquisedeque. Esse fato é usado para mostrar a superioridade e relevância da ordem do sacerdote-rei de Salém. Mesmo que ainda não tenha sido gerado, Levi, tribo da qual seriam escolhidos os sacerdotes, pagou dízimos na pessoa de Abraão.
"Porque ainda ele estava nos lombos de seu pai, quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro” (v. 10). O fato está estabelecido — há mais de uma ordem sacerdotal: Melquisedeque e Levi. Todavia, a ordem sacerdotal de Melquisedeque é superior à levítica. O sistema levítico de sacerdotes era imperfeito, mas o melquisedequiano, perfeito.
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão?” (v. 11). Se o sistema levítico fosse perfeito e, logo, não sujeito à substituição, então por que a profecia prenunciou o surgimento de outra ordem sacerdotal superior e mais perfeita (SI 110.4)?
“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei” (v. 12). O autor fala da necessidade da mudança do “sacerdócio” enquanto sistema legal e vigente, e não apenas do “sacerdote” enquanto pessoa. Neil R. Lightfoot observa que o autor refere-se a toda ordem mosaica concebida como sacrificial em sua essência. A Lei e o sacerdócio eram entidades inseparáveis dentro do sistema mosaico, sendo que a própria Lei fora dada com base no sacerdócio. Nesse aspecto, observa Lightfoot, “a lei dependia do sistema sacrificial e não podia funcionar sem ele. O sacerdócio era para a Lei o que o alicerce era para o edifício”.15 Noutras palavras, caindo um, o outro vai junto.
“Porque aquele de quem essas coisas se dizem pertence a outra tribo, da qual ninguém serviu ao altar” (v. 13). Tendo provado que todo o sistema mosaico, com o sacrifício e a Lei, tomara-se obsoleto, o autor chama a atenção para quem o Espírito profético do Salmo 110.4 está mostrando — “de quem essas coisas se dizem" — uma referência ao Messias. “Visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo nunca Moisés falou de sacerdócio” (v. 14). De acordo com o Pentateuco, a quem o autor denomina aqui de “Moisés", somente da tribo de Levi é que sacerdotes poderiam ser levantados. Jesus Cristo, entretanto, era da tribo de Judá, que, de acordo com o antigo sistema sacerdotal, jamais poderia possuir sacerdotes. Mas o autor já havia mostrado que justamente aqui se encontra a profecia — Jesus era sacerdote de uma ordem superior e que substituíra a antiga — a ordem de Melquisedeque. Como poderia, pois, os seus leitores estarem voltando para um sistema que havia sido substituído por outro muito melhor?
“E muito mais manifesto é ainda se, à semelhança de Melquisedeque, se levantar outro sacerdote" (v. 15). O autor chegou onde queria: mostrar a necessidade de outro sacerdócio plenamente cumprido em Jesus. O sacerdócio de Cristo possui semelhança com o de Melquisedeque, ou seja, é superior ao levítico e é eterno. A palavra semelhança usada aqui aparece anteriormente na carta aos Hebreus no capítulo 4.15, onde está dito que Jesus foi feito semelhante a nós. Naquele contexto, significa que Jesus identificou-se com a raça humana e, por isso, pode representá-la diante de Deus.
“Que não foi feito segundo a lei do mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível" (v. 16) A palavra grega sarkinos, traduzida aqui como carnal, tem o sentido, nesse contexto, de algo que está relacionado com aquilo que é humano. “A ordenação foi carnal no sentido de que tinha a ver apenas com a carne. Fazia com que o sacerdócio estivesse implicado com/e dependente da descendência carnal”.  Ao contrário do sistema sacerdotal levítico, o sacerdócio de Jesus estava fundamentado no princípio de uma vida "incorruptível”, isto é, indestrutível. Essa indestrutibilidade está fundamentada nas palavras do salmista.
         “Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque" (v. 17). Para o autor, somente Jesus pode cumprir essa profecia porque, como Messias e Filho de Deus, Ele assentou-se à direita do Pai. "Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés (SI 110.1).
“Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade" (v. 18). A antiga ordem sacerdotal e também as leis que o regiam foram substituídas por uma nova que havia chegado. A razão é que esse sistema tomara-se inadequado em razão de sua fraqueza e inutilidade. A ideia do autor é mostrar que o antigo sistema só tinha valor antes da manifestação de Cristo, para quem a antiga ordem apontava.
“(pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus" (v. 19). A palavra grega eteleiosin, aoristo de teleioô, tem o sentido de conduzir ao alvo. James Moffatt (1870-1944) observou que, em Josefo, esse termo ganha o sentido de substituição. A Lei tomou-se antiquada, e sua substituição tornou-se necessária porque jamais pôde chegar ao alvo tencionado por Deus. Em Cristo, esse alvo havia sido alcançado, e essa é a razão de nossa esperança.
“E, visto como não é sem prestar juramento (porque certamente aqueles, sem juramento, foram feitos sacerdotes" (v. 20). A superioridade do sacerdócio de Cristo está também evidenciada pela palavra empenhada por Deus (juramento) de que Ele é para sempre. O sistema levítico não teve tal garantia.
"Mas este, com juramento, por aquele que lhe disse: Jurou o Senhor e não se arrependerá: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque.)" (v. 21). O comentarista C. S. Keener observa que esse juramento de Deus estabelecendo uma nova ordem sacerdotal desfaz por inteiro qualquer pretensão de perpetuação do antigo sistema sacerdotal. Deus empenhara a sua palavra de que o mesmo seria substituído. "Este ponto constitui uma resposta parcial para qualquer possível apelação ou reivindicação ao Antigo Testamento de que as prescrições levíticas eram ordenanças eternas”.
 "De tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador" (v. 22). O termo grego engyos, traduzido como fiador, só aparece aqui no Novo Testamento. O lexicógrafo Celas Spicq mostra que esse termo tem o sentido de uma "promessa colocada na mão de alguém”. A ideia é a de segurança. Spicq destaca:
"Uma pessoa é fiadora de outra, comprometendo-se com um credor dando-lhe uma garantia para a execução de uma obrigação no caso de inadimplência do devedor. Um fiador é, portanto, aquele que é responsável pela dívida de outra pessoa; sua responsabilidade toma-se operacional quando o devedor declara-se insolvente com relação aos termos do contrato”.
A garantia do cristão é total, pois Jesus já pagou o preço. “E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque, pela morte, foram impedidos de permanecer” (v. 23). O sacerdócio levítico possuía a necessidade de ser renovado constantemente, visto que seus oficiantes eram impedidos de continuar em razão da morte. Todavia, o sacerdócio de Cristo não estava sujeito a essa limitação.
"Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo" (v. 24). O infinitivo presente menein, traduzido como permanecer, continuar, tem ação contínua e interminável. O seu sacerdócio é para sempre ou perpétuo, assim como vaticinou o oráculo divino no Salmo 110.
“Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (v. 25). A expressão grega eis to pantelés, traduzida aqui como “perfeitamente” em virtude do contexto, mantém o sentido temporal que lhe dá a versão americana RSV e significa "em todas as épocas”. Ao contrário do sacerdócio levítico, o ministério de Cristo não é prejudicado pelo tempo. Em qualquer época, Ele continua sendo sacerdote. Ele salva aqueles, conforme observou Adam Clarke, que, mediante a graça de Deus, através de seu sacrifício e propiciação, achegam-se a Ele implorando misericórdia.21 Cristo é o intercessor de todos os salvos.
“Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus" (v. 26). Cinco coisas são afirmadas aqui sobre Jesus: (1). Ele é santo. Aqui, no texto grego, temos a palavra hosios em vez de hagios (separado). O termo grego hosios ocorre oito vezes no NT e tem o sentido de “santo, piedoso, misericordioso". Aqui, a ideia é a mesma encontrada na palavra hebraica chasid, "misericordioso”; (2) Ele é inocente. Aqui, a ideia é de alguém que não tem maldade. A sua santidade não é apenas externa, mas também interna. Ele é santo por dentro e por fora;22 (3). Ele é imaculado. A ideia aqui é extraída dos princípios exigidos na consagração dos sacerdotes. O sacerdote na antiga aliança não poderia ter defeito corporal algum. O autor mostra que Jesus possui um caráter imaculado. O seu sentido vai muito além da pureza ritual, mostrando a natureza ética do sacerdócio de Jesus; (4) separado dos pecadores. Ao fazer essa declaração, o autor usa o tempo perfeito, que mantém a ideia de algo que começou no passado, mas cujos efeitos continuam no presente. Nesse aspecto, Jesus foi separado dos pecadores, isto é, pertence a uma classe distinta deles e continua dessa forma. Ele não pode ser alcançado pelo pecado. Não há pecado nEle; (5) mais sublime do que os céus. Ele está acima de tudo, até mesmo das mais altas hostes angelicais.
“Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente, por seus próprios pecados e, depois, pelos do povo; porque isso fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo" (v. 27). A Almeida Revista e Corrigida (ARC) enfraqueceu o sentido da palavra grega ephapaks ao traduzi-la simplesmente como "uma vez”. O seu sentido está melhor demonstrado na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) como “uma vez por todas". O sacrifício de Cristo foi perfeito e completo. Não há, pois, necessidade, em tempo algum, de sua repetição.
“Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre" (v. 28). A “perfeição” aludida pelo autor tem um sentido de "obra cumprida integralmente”, isto é, “completada”. Esse fim jamais poderia ser alcançado pelo sacerdócio levítico, devido a seu caráter transitório e imperfeito.



Extraído do livro: A supremacia  de  Cristo , Fé, esperança  e ânimo na carta aos Hebreus.
José Gonçalves.