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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

“SUBSÍDIO LIÇÃO 14” - VIVENDO COM A MENTE DE CRISTO.

Extraído do livro: A obra da Salvação.
Autor da obra: Claiton  Ivan Pommerening.
                 
As principais características da mente de Cristo estão evidenciadas em Filipenses 2.5-8, bem como em 1 Coríntios 2.16. No primeiro texto, refere-se ao seu esvaziamento da condição divina assumindo todas as dimensões e características humanas, num gesto de extrema humildade, submissão, obediência e sacrifício com o objetivo de concretizar a salvação humana. No segundo texto, Paulo tem em vista as atitudes, as palavras e as ações tomadas por aqueles que vivem a lei do amor, porque não agem nem reagem de maneira natural às circunstâncias da vida, mas em tudo realizam movimentos que impressionam pela singularidade da manifestação de Deus através desses gestos, pois não levam em conta o egoísmo e o individualismo, tão comuns na sociedade, mas, sim, o altruísmo e a benevolência.

HUMILDADE: O SENTIMENTO DE CRISTO
Há um grande desafio quando se explica o que é humildade, pois parte-se do princípio de que quem fala sobre esse assunto é humilde, mas nem sempre isso acontece. Geralmente, fala-se do que se quer ser ou alcançar, como é o caso aqui. A origem da palavra vem de humus, que significa solo, terra; aquele que está equiparado a terra, pois provém dela. Humano deriva-se da palavra humus, significando que a principal característica humana é ser humilde, em contrapartida ao querer ser Deus. Quando os seres humanos pretensamente invadem essa dimensão, que não lhes pertence, incorrem no mesmo erro de Adão e Eva influenciados por Lúcifer. Isso é teologicamente chamado de hybris, quando o ser humano, ao invés de ter sua centralidade em Deus e depender dEle, desloca-a para si mesmo, autoinvestindo-se da prerrogativa divina. Somente Cristo pôde ser as duas coisas ao mesmo tempo sem que isso aniquilasse a estrutura do seu ser. Quando as pessoas assumem esse lugar, elas automaticamente caminham para a autodestruição de seu ser, porque, sendo humanos, é-lhes impossível serem Deus. Somente Ele pode ser o todo centrado em si mesmo. A diferença é que não significa ser orgulhoso ou vaidoso para Ele como seria para os seres humanos, pois Ele é o único ser completo e perfeito. Portanto, deve centrar-se em si mesmo, pois não há outro ser no qual Ele possa afirmar-se para ser. Ele é o todo e o tudo; Ele pode tudo. Amar a Deus sobre todas as coisas é deixar que toda glória seja dEle.
Quando Lúcifer quis ser alguém, ele não levou em conta que havia outro alguém maior. Portanto, a individuação do seu eu levou-o à sua ruína. Por isso, o orgulho é considerado, em algumas teologias, o pecado dos pecados, pois dá origem a todos os demais pecados. O problema do orgulho é que este supervaloriza o eu em detrimento do outro, e ninguém consegue ser alguém a não ser que se deixe interagir com outros. O orgulho é um pecado solitário porque o orgulhoso sempre quererá ficar acima dos outros e sempre quererá olhar para os outros de cima para baixo. Ele não consegue olhar para cima, não precisa de Deus, mesmo achando que está com Ele. O orgulhoso, por ser solitário, tem um ego absoluto, pensa saber mais que os outros, acha-se melhor do que todos e não aceita ser criticado ou contrariado. Ele precisa ser agradado sempre. Nos relacionamentos, o orgulhoso aniquila o outro e sempre exige do outro além do que ele pode dar. Por isso, o orgulho sempre é competidor e dificilmente consegue pedir perdão, pois ele pensa que nunca erra.
Geralmente, por trás de uma virtude, há um orgulho velado por ser quem é. Assim, a virtude pode tornar-se um vício por alimentar o orgulho. Sendo assim, o orgulho pode atingir a qualquer um e normalmente está mais presente do que se possa imaginar. Pode estar desde o púlpito da igreja até o mais simples e pretensamente humilde crente. No púlpito, pode estar presente em testemunhos mirabolantes irreais de pessoas que se gabam de como a vida dá certo em todas as coisas e de como é um sucesso em tudo. Pode estar por trás de uma pretensa espiritualidade desencarnada e de uma humildade impressionista fabricada.
Quem, a todo custo, aspira à fama e o reconhecimento acaba deixando de lado a ética e o respeito, pois, para alcançar a fama, torna-se aceitável ferir, lograr, manipular e mentir. Atrás da fama, vem o poder e o orgulho, e esses destroem relacionamentos, a confiança, o diálogo e a integridade.   Quando se atinge a fama e o poder, a pessoa geralmente se convence de que o que faz é igual ao Reino de Deus e que qualquer pessoa que se oponha estará errada e sendo usada pelo Diabo. Atinge-se, assim, um estado de falsa perfeição (At 12.21-23).   Jesus foi tentado a começar o ministério com fama : “Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra” (Mt 4.5-6). Mas Ele venceu essa tentação com uma determinação certeira à humildade. Não acalentou pensamentos de possibilidade de executar tal ato orgulhoso, mas, sim, combateu-o pela raiz com a Palavra de Deus: “Também está escrito” (Mt 4.7).
É a cruz de Cristo que inverte a ordem das coisas, porque Deus Filho não precisava humilhar-se, mas Ele o fez (Fp 2.5ss). Humildade nada mais é do que reconhecer nossa humanidade. Querer ser humilde é ser humano, querer ser como Deus é maligno. Humildade não é um pensamento altruísta apenas; também não é um sentimento de inferioridade em relação aos outros, mas, antes, um estilo de vida em que a identidade do crente é estabelecida a partir do modelo do Cristo encarnado. Não parte somente do modelo do Christus Victor, o sempre vencedor e vitorioso, que está triunfantemente assentado à destra do Pai, que foi colocado acima de todo principado e potestade; modelo este que serve de base para o crente vencer o pecado e Satanás. Mas parte especialmente do modelo do Cristo humilde e sofredor, que fez a vontade do Pai de maneira submissa, sem se impor sobre ninguém, mas, ao mesmo tempo, sem se deixar manipular ou subjugar a qualquer forma de escravidão, às estruturas religiosas, culturais, econômicas ou sociais.
A Bíblia afirma que é a humildade que precede a honra (Pv 15.33; 18.12); que é com os humildes que está a sabedoria (Pv 11.2); Deus exalta o humilde e humilha o soberbo (Ez 21.26). Os apóstolos aconselharam a serem todos humildes uns para com os outros, porque “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (1 Pe 5.5); e com humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo (Fp 2.3). Jesus tornou bem-aventurado o humilde de espírito, porque dele é o Reino dos céus (Mt 5.3). Nesse sentido, outra versão da Bíblia afirma: “Abençoados são vocês, que nada mais têm para oferecer. Quando vocês saem de cena, há mais de Deus e do seu governo”. A humildade é condição primeira para que Deus possa realizar sua obra na vida do crente, conforme Isaías afirmou: “Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).
Paulo afirmou que pode haver apenas um motivo de orgulho: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo” (Gl 6.14). Entretanto, esse aparente orgulho de Paulo nada mais é do que estar crucificado com Cristo, que é a única maneira de vencer o orgulho, pois a cruz aponta para o que é humilhante e vil, para os nossos pecados levados sobre Cristo, para o estado em que não pertencemos mais a nós mesmos, mas unicamente a Cristo, onde o orgulho, de fato, é vencido. “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20).
Viver em humildade é saber valorizar o outro sem perder a própria dignidade. Assim, tem-se a possibilidade de permanecer com o coração puro e altruísta. A humildade revela bom senso, sempre será bem vista, tem capacidade de gerar coisas novas e boas nos outros, consegue persuadir mais facilmente e tem o poder de inspirar outros a seguir a Cristo.
SERVIÇOS E CUIDADOS: A MENTE DE CRISTO
As atitudes de qualquer pessoa revelam seu estado mental; por mais que alguém tente disfarçar o mal, em algum momento ele aparecerá. Ter a mente de Cristo é desenvolver os mesmos pensamentos e atitudes que Ele teve. Não se trata apenas de uma aquiescência mental ou desejo esporádico, mas de um estilo de vida, de uma reordenação dos pensamentos, das vontades, dos desejos e das atitudes, no sentido de refletirem a pessoa de Cristo (Jo 13.15).
Organizar a vida em torno desse modelo de Cristo é desenvolver empatia e compaixão para com todos os que sofrem e necessitam da misericórdia divina, mesmo para com os inimigos e opositores. Essa atitude não é fácil, mas Jesus agiu assim com aqueles que se levantaram contra Ele quando bradou na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34).
Jesus usou sua autoridade para abençoar as pessoas, não para ser servido (Mt 20.28). Sua autoridade era a exsousia, no sentido de alargar e ampliar as possibilidades humanas, e era exercida para beneficiar as pessoas, e não para prevalecer, disputar ou subjugá-las. Seu poder era exercido a favor das pessoas, alargando suas possibilidades de ser e de atuar. Essa forma de poder e autoridade é uma das mais usadas no Novo Testamento  e aparece 108 vezes. Já o sentido do verbo kratós, como poder e dominação exercidos pela força, no sentido físico ou por imposição moral,  nunca é atribuído a Jesus, e Ele argumenta contra o seu uso (Mc 10.41-43).
A chave hermenêutica para compreender a mente de Cristo nos evangelhos é aprender a observar delicadamente as atitudes, palavras e milagres de Jesus como gestos de cura, perdão e acolhimento, e não somente sob a ótica de moralismos ou religiosidades; não que isso não esteja presente porque também são necessárias. No contexto em que Paulo define que devemos ter a mente de Cristo, ele afirma que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido” (1 Co 2.14-15). Significa que, para ter a mente de Cristo, é necessária essa hermenêutica do Espírito Santo, que abre os olhos às realidades antes não percebidas.
Assim, Ele deseja ver as pessoas livres de regras religiosas que tiram a vida (Mc 2.27);  o coração deve estar livre de ídolos, pois acabamos nos tornando exatamente como os ídolos que veneramos (Lc 12.34). Jesus é capaz de gestos carinhosos para curar (Lc 4.39). Ele chamou o homem da mão mirrada para o meio, ensinando que quem quer fugir de seus problemas precisa aprender a encará-los (Mc 3.4-5). Os sobrecarregados pelos fardos da vida são chamados a olharem (prosphonein – falar olho no olho) para Jesus e andarem eretos (Lc 13.10-13). Prova disso foi quando Ele defrontou-se com o paralítico no tanque de Betesda e perguntou-lhe: “queres ficar são?”. Cristo quer libertar-nos de comodismos, medos e do aparente benefício que o sofrimento pode trazer (Jo 5.5-9); o contato com Deus isenta-nos da contaminação, mesmo quando precisamos tocar nas enfermidades das pessoas (Mc 1.40-42). Na cura dos dez leprosos, Jesus quer que percebamos o extraordinário da transformação cotidiana mesmo fazendo o que é ordinário, além de ensinar-nos a sermos gratos pelo ordinário, ainda que seja difícil cumprir certas liturgias engessadas e costumes ultrapassados (Lc 17.11-16); descobrir quem de fato ocupa o coração humano, porque quem não sabe quem é perdeu a sua identidade, e esta precisa ser restaurada (Mc 5.68). A pergunta de Jesus ao cego Bartimeu (“que queres que te faça?”) instiga-o a largar o manto, que servia de máscara na qual se escondia. A pergunta de Jesus fez com que o cego entrasse em contato consigo mesmo e com o anseio mais profundo da sua alma (Mc 10.49-51). Jesus, em outro momento, separa o surdo-mudo da multidão, num gesto de respeito à individualidade e intimidade, e dá atenção especial num espaço protegido dos críticos e censuradores. Jesus, então, cospe e coloca um pouco de saliva na língua do homem, mas Ele percebe a impossibilidade de aquele surdo-mudo expressar-se. Jesus dá um suspiro abrindo o seu coração em luta por ele (Mc 7.32.35). Em outra ocasião, Ele toma outro cego pela mão e leva-o para longe do povo. Num espaço de confiança e individualidade, toca nos olhos de forma espantosa (saliva), porém carinhosa; depois lhe impõe as mãos e envia- o para sua casa — a casa do pai, onde é o nosso lugar, pois a cegueira pode impedir-nos de ir para casa (Mc 8.23-26). Enfim, nas inúmeras atitudes de Jesus, vimos seu desejo de servir e cuidar.
Não é um método específico que traz a solução, mas o encontro, o relacionamento, a sensibilidade para com cada um. Além dos gestos vistos anteriormente, Jesus utilizou-se do poder das palavras que curam e trazem vida. Através delas, Ele perdoou pecados, trouxe novas possibilidades de vida, apontou novos rumos e caminhos antes desconhecidos, consolou os que sofriam as mais terríveis dores da vida, trouxe esperança aos desalentados e espalhou uma cultura de amor.
Essas atitudes e palavras de Jesus, que também devem estar presentes na vida do cristão, é o que Paulo chama de homem espiritual em seu texto, aquele que entende as coisas do Espírito e sabe discerni-las bem, que não mede a si nem aos outros com as medidas do mundo, nem cogita das coisas do mundo, porque elas invertem a lógica do Reino de Deus, “porque
o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).
“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14)
OBEDIÊNCIA: A VONTADE DO PAI
O ministério de Jesus foi pautado pela obediência ao Pai. Todas as suas ações eram uma realidade daquilo que Ele via o pai fazer. As suas palavras eram oriundas daquilo que Ele ouvia o Pai falar (Jo 5.19); não que Jesus fosse um robô autômato, mas, sim, que havia uma concordância com o Pai em tudo, pois Ele estava na terra em obediência ao Pai; portanto, para cumprir plenamente o eterno propósito divino, Cristo sujeitou-se completamente em obediência. Ele sabia que a vontade do Pai era boa, agradável e perfeita (Rm 12.2), e isso lhe dava segurança e tranquilidade para sujeitar-se inteiramente. Esse mesmo sentimento deve ocupar também a mente e o coração dos discípulos de Cristo hoje.
A obediência de Jesus não se sujeitou a estruturas humanas, políticas ou religiosas, mas estritamente ao Pai. Sempre que havia conflitos entre a vontade do Pai e das estruturas, sua opção era ouvir a vontade de Deus. Por esse motivo, Ele desafiou as autoridades políticas e religiosas com suas hipocrisias e preceitos mortos para estabelecer um novo jeito de adorar ao Pai em espírito e em verdade (Jo 4.23-24), confrontando as estruturas pesadas e impossíveis de serem obedecidas.
Nossa obediência deve seguir essa mesma lógica de Jesus quanto à obediência primeiramente a Deus Pai. Entretanto, é preciso tomar cuidado e deixar-se discernir pelo Espírito Santo para não confundir a vontade do Pai com rebeldias e teimosias próprias de nossos corações, contra as estruturas com as quais compartilhamos a vida. A obediência ao Pai poderá até confrontar as estruturas; porém, jamais o fará com rebeldias, amarguras, rancores ou qualquer maldade humana. Ainda que sob ameaças de morte e riscos, a obediência ao Pai sempre trará vida, como a de Cristo.
Ter a mente de Cristo em obediência ao Pai significa também estar ciente das responsabilidades como cidadão nesta terra, bem como cumprir com todas as responsabilidades que cabem, para que possamos refletir a imagem do Cristo. Ao mesmo tempo, saber que, a partir do momento que se entrega a vida para Deus, a conduta de vida precisa ser mais espiritual do que natural, conforme anteriormente descrito. Ter a mente de Cristo significa estar menos focado em coisas e projetos naturais e mais naquilo que é do Reino de Deus. Significa compreender que não nascemos para ser o melhor profissional da área, ou para ganhar muito dinheiro, ou para galgar posições sociais e políticas. Tudo isso, no entanto, pode até acontecer como consequência do que realmente significa a vontade do Pai.
Nascemos para representar Cristo nessa terra, para transmitir, através da mensagem do evangelho, que existe um Deus além dessa vida que vale a pena aceitar e seguir e que não há como representá-lo se o que prevalece ainda é a carnalidade, os maus desejos e os sonhos e projetos egoístas. Ter a mente de Cristo significa deixar que todas essas coisas, se for necessário, morram, para que os projetos e sonhos dEle sejam instaurados como prioridade.

Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Claiton  Ivan Pommerening.

Todos os direitos reservados. Copyright © 2017 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

LIÇÃO 13 GLORIFICADOS EM CRISTO


Extraído do livro: A obra da Salvação.
Autor da obra: Claiton  Ivan Pommerening.

A glorificação dos salvos é o clímax e o ato final do processo de salvação. Além de ser o evento mais sublime para os salvos, é também o lugar em que
a doutrina da salvação e a escatologia encontrar-se-ão. Trata-se de um evento tão glorioso que afetará a própria criação, que será renovada e redimensionada (Ap 21.5) para receber a Jerusalém Celestial, a futura habitação dos salvos remidos. Isso acontecerá na segunda vinda de Cristo, e salvos experimentarão a transformação completa da corruptibilidade humana e serão revestidos da glória de Deus.
PEREGRINOS NA TERRA
O anseio verdadeiro de todo crente é poder chegar ao seu destino final, que é o céu. Esse anseio é totalmente possível através da plenitude da salvação que se dará nesse momento quando a essência do ser humano atingirá seu clímax de potencialidades positivas e santas e quando cessarão as coisas próprias da humanidade decaída. Todavia, enquanto espera esse dia glorioso, o crente é conduzido a peregrinar (Sl 119.19; Hb 11.13) na terra da mesma forma como tantos heróis da o fizeram, como escreve o autor aos Hebreus: “Todos estes [Abraão, Sara, Isaque, Jacó, Moisés, etc.] morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe, e crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Porque os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria” (Hb 11.13.14).
O peregrinar é cheio de vida e alegrias no Senhor, mas também é permeado por circunstâncias difíceis, as quais nos desafiam a respostas, soluções, resignações, processos de cura, resiliência e fé. É o olhar fito no além que dá as condições necessárias para suportar as dificuldades, assim como fez Abraão, que, “pela fé, habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa” (Hb 11.9). O crente Abraão é o modelo bíblico ideal dessa realidade, pois fez da peregrinação o seu estilo de vida (Hb 11.9). Da mesma forma, nós, cristãos, somos peregrinos aqui e precisamos adquirir esse estilo de vida. Por esse motivo, não podemos ficar embaraçados com as coisas do mundo, nem permitir que elas ocupem o lugar que pertence ao Senhor em nossos corações (Mt 6.21). Isso não significa relaxamento quanto ao trabalho, estudos e família, mas, sim, um direcionamento correto do coração, buscando, em primeiro lugar, as coisas que são de cima (Cl 3.1).
A Bíblia refere-se ao fato de que os crentes não são deste mundo (Jo 17.16) e anseiam por sua pátria celestial, como disse Paulo: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Dessa forma, nossos valores não podem conformar-se com este mundo, e nosso estilo de vida deve refletir o exemplo de Jesus presente nos evangelhos, marcado pela prática da justiça, do acolhimento aos que sofrem, de libertação dos oprimidos do Diabo e, especialmente, em praticar em todos os atos o amor de Deus, que será uma das poucas coisas da terra presentes no céu (1 Co 13.13). Assim, antecipa-se o Reino de Deus na terra na tensão entre o que vivemos agora e o que há de vir (Mt 6.33), pois sabemos que tudo aqui na terra é transitório e passageiro.
A certeza da transitoriedade de todas as coisas é o que alimenta a fé cristã. Todas as igrejas que são vivas em sua liturgia e aplicam o evangelho ao seu cotidiano, como no caso dos pentecostais, são as que mais intensamente aguardam o desenrolar escatológico, exatamente como escreve Moltmann:
O cristianismo é total e visceralmente escatologia, e não só como apêndice; ele é perspectiva e tendência para frente, e, por isso mesmo, renovação, e transformação do presente. O escatológico não é algo que se adiciona ao cristianismo, mas é simplesmente o meio em que se move a fé cristã, aquilo que dá o tom a tudo o que há nele.
O peregrino é aquele que está de passagem por uma terra que não lhe pertence. Ele caminha em direção a um país que seu coração almeja e, então, sacrifica-se para isso, não tendo lugar permanente por onde caminha, não experimentando conforto e ainda carregando o mínimo de bagagem para tornar o trajeto mais fácil. “Amados, peço-vos [exorto-vos], como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências da carne, que combatem contra a alma” (1 Pe 2.11).


Paulo exorta-nos a termos o mesmo sentimento que houve em Cristo, o de esvaziar-se (Fp 2.5) para poder cumprir o propósito de Deus, que é servir. Isso significa que devemos abandonar toda prepotência, orgulho e apego a títulos, cargos e posições para servir às pessoas necessitadas à nossa volta em obediência completa a Jesus (Jo 13.1ss; Fp 2.7-8); o que passar disso assume a prepotência de querer ser igual a Deus (Fp 2.6).
Aqui, somos constantemente levados à ganância, ao consumismo, ao poder e às riquezas, as quais estão traindo a esperança futura de muitos crentes na vinda de Cristo e também nas bem-aventuranças eternas, fazendo com que queiram desfrutar (embora seja lícito dentro de limites) inadvertida e completamente focados nas coisas da terra, esquecendo-se das celestiais, que, de fato, tem valor eterno. Jesus disse para buscarmos “primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas [nos] serão acrescentadas” (ver Mt 6.33).
Essa mudança de foco por parte daqueles que deveriam estar esperando e ansiando pelo Reino vindouro torna-se num secularismo religioso,184 o qual afasta as esperanças do Reino, fazendo-os focar em ídolos criados pelos homens. Nesse sentido, os ídolos podem ser qualquer coisa que tome o lugar do Senhor como prioridade última na vida. O ídolo sempre é opaco, ou seja, ele ofusca aquilo que se quer buscar, passando a apontar para si mesmo. O ídolo serve como um substituto muito fútil para Deus. A religiosidade e as denominações religiosas podem, inclusive, tornar-se um ídolo quando passam a manipular o povo para obter vantagens próprias e adquirir poder (não do Espírito Santo, mas de forças humanas), ou, quando elas tornam-se um fim em si mesmas.185
Algumas religiões atuais que crescem vertiginosamente — em especial as neopentecostais — secularizaram Deus a um mero atendedor de desejos humanos e instrumentalizaram-no para fins de interesses duvidosos, extirpando qualquer possibilidade de esperança futura, pois a religião nem sempre está em busca de Deus e nem sempre cumpre seu propósito de religare186 com Deus. Isso faz com que um falso reino de Deus seja implantado aqui e agora. O deus-ídolo que a religião criou para atender esses desejos humanos, alguns até legítimos, porém obtusos, não coincide com o Deus bíblico187 e escatológico.
Há, portanto, uma imensa crise de esperança futura do Reino de Deus,


fazendo muitos acharem que esse Reino não é mais necessário. O neopentecostalismo já criou seus anticristos, que proclamam que o reino já chegou materialmente. Trata-se de um reino que está esplendidamente cheio de promessas de riqueza e que já está na concretude da espoliação religiosa, da exploração de mentes e corações idólatras. Houve uma aliança perfeita entre a ganância do mundo capitalista expressa nos desejos do povo e na ganância por poder de líderes religiosos inescrupulosos que constroem grandes impérios de um reino idolátrico. Trata-se de uma sutil combinação malévola entre esses líderes e o povo idólatra num imenso e falso conto de fadas religioso, praticando-se, assim, um ateísmo prático onde se fala de Deus, mas Ele é totalmente desnecessário.
É lógico que o fenômeno de buscar refúgio188 em igrejas para obter favores de Deus (sejam eles financeiros ou de sanidade física) também reflete a falta de políticas públicas que deem conta dos milhares de pobres e desamparados que não têm acesso à medicina de forma digna e têm de submeter-se às promessas de curandeirismo evangélico. É óbvio que não somos contra a cura como um milagre legítimo através dos vários dons e ministérios conferidos por Cristo à sua igreja, mas também não podemos concordar com ilusões e curas midiáticas que apenas atraem mais povo para a igreja e, assim, extorquem-no de alguma forma.
Aqueles que professam a fé cristã não escapam ao feitiço da religião do mercado. [...] O sistema religioso, [muitas vezes o mesmo] que regula e controla o mercado exerce hoje uma influência muito significativa sobre o povo de Deus das diferentes igrejas e confissões cristãs. Isso equivale a dizer que, consciente ou inconscientemente, a espiritualidade dessa parte do povo de Deus vive em aliança com os ídolos do mercado.189
Cientes de que somos peregrinos na terra, aguardamos a pátria celestial, mantendo-nos fieis ao que a Palavra de Deus ensina para, então, ficarmos livres dessas formas de secularismo e ateísmo prático. A vida simples de Cristo, que nos serve de exemplo, tinha um único objetivo apenas: fazer a vontade do Pai (Jo 5.30). Ele fazia dessa vontade sua vida e, portanto, não tinha preocupações desnecessárias e nem as complicadas demandas que esvaziam a simplicidade cristã de desfrutar a vida de maneira despretensiosa e, ao mesmo tempo, de esperar a gloriosa morada celestial.


É preciso, entretanto, ter equilíbrio entre o que se espera no além e as demandas normais da vida. Não se pode viver apenas de forma etérea e esquecer as necessidades e obrigações que temos nesta vida — como outrora, em que até mesmo os estudos eram desmotivados —, mas também não podemos render-nos aos encantos do mundo como visto acima. Nesse sentido, Albano afirma que:
Outrora, para muitos pentecostais, a salvação era entendida como sinônimo de fuga do mundo. Assim, depreciava-se a criação e assumia-se uma postura de desconfiança frente à vida nesta terra. Essa espiritualidade podia ser resumida pela palavra não! Hoje, essa concepção vem mudando, tem havido uma espiritualidade marcada pelo sim à vida. Isso ocorre por obra do Espírito Santo, cuja atuação nas igrejas Assembleias de Deus, sobretudo, no âmbito da educação teológica tem favorecido a abertura à estética, artes e às questões públicas e políticas. Portanto, vivencia-se a salvação que conduz ao encontro do mundo, em liberdade, santidade e responsabilidade (cf. Jo 17.15-18; Rm 8).190
A postura de esperança faz-nos buscar uma vida simples como Jesus ensinou e viveu (Mt 6.19-21), confiando nos cuidados que Deus tem para com seus filhos. Somos também livres das fúteis tentações da Teologia da Prosperidade, que inverte (1 Co 15.19) a ordem certa de prioridades do Reino de Deus e faz-nos querer buscar as coisas que perecem (Mt 6.21), esquecendo-nos das que hão de vir (Ap 22.6).

A GLORIOSA ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO DOS SANTOS
Os salvos em Cristo têm uma esperança gloriosa de ressurreição para estarem para sempre com Ele (1 Ts 4.14; Is 26.19). Essa é uma das promessas futuras do crente possíveis por causa da ressurreição do próprio Jesus. Do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. Ele “transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3.21). Nosso corpo, hoje sujeito a enfermidades e fraquezas, será revestido de incorruptibilidade na ressurreição (1 Co 15.54) e nunca mais haverá fatos que levem à morte, pois a ressurreição será a vitória final sobre a morte (1 Co 15.55).
Aqueles que foram salvos pelo sacrifício de Cristo serão levados para o Reino de Deus, que será um eterno desfrutar de alegrias, delícias e bem-estar na presença de todos os salvos de todos os tempos, e o mais importante: estaremos para sempre com o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cuja presença encherá a terra com sua glória e majestade, conforme a visão de João: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.23).
A ressurreição será o início de um estado de eterna satisfação em Deus, que suplantará incomparavelmente qualquer aflição deste tempo presente (Rm 8.18). O sofrimento será completamente extirpado como afirmou João: “E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4). Diante da doce esperança do porvir, conta-se de um crente bem idoso que, na iminência de estar com o Senhor, foi perguntado se, durante a vida, ele não se sentiu tentado a deixar de servir a Deus. Ele respondeu: “Se eu quisesse, eu não poderia; se eu pudesse, eu não quereria.” Ele tinha seus olhos inteiramente voltados para Cristo.
O anseio pela vida eterna concretizada na ressurreição dos mortos esteve subjetivamente presente nos heróis da fé do Antigo Testamento, quando as escrituras afirmam que:
Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe, e crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Porque os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, desejam uma melhor, isto é, a celestial. Pelo que também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade. (Hb 11.13-16)
A ressurreição de Jesus e a futura ressurreição dos salvos fazem com que tiremos os olhos das circunstâncias muitas vezes difíceis e voltemos nossos olhos para o além. Isso não pode significar a fuga de enfrentamentos que aqui temos de passar, mas significa uma alegre esperança de que tudo passará,


encorajando-nos ainda mais para enfrentarmos as batalhas e tendo certeza da presença de Deus e seu fortalecimento (Rm 8.11). “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15.19).
A PLENA SALVAÇÃO NOS CÉUS
Para compreender a glorificação dos salvos ou sua plenitude nos céus, é preciso antes compreender que a salvação desfrutada aqui na terra, embora potencialmente completa, é também precária na tensão entre a salvação já operada, o “aqui agora”, e a salvação plena no futuro, o “ainda não” escatológico. Dessa forma, todos os demais aspectos da salvação já experimentados até agora alcançarão sua plenitude no “ainda não” escatológico. Então, a justificação poderá ser comprovada, pois hoje é aceita por fé; o amor de Deus será experimentado com todas as suas satisfações e gozos; a regeneração, aqui relativa, será completa; a santificação, aqui vivida limitadamente e sujeita ao pecado, será perfeita; a reconciliação com o Pai, agora sujeita aos percalços da desconfiança e da incerteza, será uma doce realidade; a adoção, aqui vivida às vezes com afastamentos do Pai, lá será desfrutada em sua paternidade infinita. Paulo e Judas afirmam também a completa inculpabilidade e irrepreensibilidade (Ef 1.4; Fp 1.9-11; 1 Co 1.8; Jd 24) na glorificação futura. Isso acontecerá porque não haverá mais tentações pelo fato de o pecado e o mal terem sido vencidos definitivamente.
O cristão experimentará a sua plenitude em termos de sua espiritualidade, moralidade, conhecimento (1 Co 13.12) e de seus sentimentos e emoções, num completo estado de satisfação individual e relacional. As intrigas, inimizades, ciúmes, invejas, toda sorte de infortúnios causados por terceiros em nós — ou que nós mesmos causamos e provocamos em nós mesmos e nos outros — e as angústias próprias da vida não estarão mais presentes, pois a perfeição do amor de Deus invadirá todas as consciências e atitudes, de tal forma que, todas as contingências, dificuldades e limitações humanas serão superadas, pois a transformação atingirá todas as dimensões humanas como escreveu Paulo em 1 Coríntios 15.52-55.
Paul Tillich (1886–1965) enumera três tipos de angústias que serão superadas totalmente na entrada no Reino eterno: do destino e da morte; da vacuidade ou insignificação, no aspecto da busca por um lugar de sentido na vida; e da culpa e condenação, que, mesmo nos salvos, pode gerar dúvidas e ansiedades.191 Todos esses processos são subjetivos e presentes em todo ser humano, sendo apaziguados, porém não totalmente superados, pela certeza da salvação e, dessa forma, substancialmente presentes e vivenciados; por isso, gememos esperando ser revestidos da habitação divina nos céus (ver 1 Co 5.2).
A salvação plena nos céus foi efetuada pela obra de Cristo na cruz e é garantida pelo Espírito Santo que nos foi dado (2 Co 5.5). Ele é a garantia dessa herança eterna e da redenção eterna nos céus (Ef 1.13-14). Lá experimentaremos a completa transformação e também a ausência de pecados cometidos por nós, bem como a completa ausência de enfermidades, moléstias, catástrofes, decepções ou qualquer tristeza humana (Ap 21.4). Ali tudo será alegria eterna, paz, fé, esperança e amor (1 Co 13.13).
Aqui nesta vida, vivemos na tensão entre as possibilidades precárias do Reino de Deus na terra e a alegre esperança da vida eterna nos céus, onde estaremos para sempre com o Senhor, desfrutando das delícias preparadas para nós (Mt 25.10), porque aquilo que de melhor ou pior existe nesta vida não é comparável ao melhor da glória reservada para nós (Rm 8.18). Isso é definido por Gottfried Brakemeier da seguinte forma:
A perfeição que vai substituir o provisório (1 Co 13.11), a vinda da nova Jerusalém (Ap 21), o banquete da alegria com o Jesus ressurreto (Mc 14.25), isso está por vir, exigindo sejam superados o pecado, o mal e a morte. Ainda assim, a novidade futura se antecipa. A evangelização aos pobres, a libertação dos cativos, a restauração da vista aos cegos (Mt 11.2), em suma, a renovação de pessoas e mundo visibiliza já agora a salvação que está por vir.192
Pelo fato de a vida ser precária e não plena, há um anseio no coração humano que deseja ardentemente estar na casa do Pai porque, nessa casa, acontece a cura das dores, há segurança e conforto e a alma encontra um lar onde pode repousar. Esse anseio está presente até mesmo no ateu que busca preencher esse lugar de forma inadequada, encontrando felicidades temporárias, como também no mais piedoso crente, pois todo ser humano almeja estar neste lugar, a casa do Pai para onde desejar voltar e desfrutar da sua presença. “O lar é onde você realmente está seguro; é onde pode receber o que deseja. Você precisa [do Espírito Santo] para se manter nele, de modo que não vá embora novamente. Quando, entretanto, voltar para casa e ficar em casa, encontrará o amor que trará descanso ao seu coração.193
Uma grande realidade e mistério que deve ser vivenciado com relação à peregrinação para a vida eterna é que, apesar de ansiarmos pela pátria celestial, ela é vivida onde Deus está. Assim, podemos viver como Jesus ensinou: “Estai em mim, e eu, em vós” (Jo 15.4). A oração da intimidade com o Pai é a possibilidade de antecipação de nossa volta a casa para estar com Ele. O lugar que a alma humana anseia profundamente estar, conforme afirma Nouwen:
[Essa presença de Jesus] é a presença ativa de Deus no centro do meu viver
— o movimento do Espírito de Deus dentro de nós — que nos dá vida, a vida eterna. “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Seja como for, o que será a vida depois da morte? Quando vivemos em comunhão com Deus, pertencemos à própria casa de Deus, onde não há mais nenhum antes ou depois. A morte deixa de ser a linha divisória. A morte perde seu poder sobre aqueles que pertencem a Deus, porque Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos. [Mt 22.33]. Logo que tenhamos provado a alegria e a paz que vem do fato de sermos abraçados pelo amor de Deus, saberemos que tudo está bem e estará bem.194
A satisfação que o filho pródigo encontrou ao voltar para casa, a saudade da segurança paterna, o abraço fraterno, a sensação de bem-estar e o carinho do pai servem de exemplo, não apenas para os que se desviam da igreja, mas também para os que permanecem nela e precisam descansar suas almas em Deus em meio a um mundo caótico, com suas incertezas, insatisfações e frustrações.
Continuamos à espera de que um dia encontraremos o homem que traga paz à nossa vida insatisfeita, o emprego em que possamos fazer uso e demonstrar o nosso potencial, o livro que explicará tudo, e o lugar onde nos sintamos realmente em casa. Essas falsas esperanças levam-nos a fazer exigências esgotantes e preparam-nos para a hostilidade amarga e perigosa, quando começamos a perceber que nada nem ninguém é capaz de satisfazer inteiramente as nossas expectativas absolutistas.195
Embora a oração seja o meio pelo qual antecipamos o estar na casa do Pai,

almejamos por estarmos definitivamente na casa dEle. A busca desejosa por esse lugar revela que nosso lugar não é aqui. A nostalgia do céu não permite que vis tentações tirem nosso foco do lugar de delícias, do país das maravilhas, do porto seguro, do outro lado da vida, do lugar onde as lutas cessarão. Em breve, voltaremos ao lar.
A esperança da plena salvação nos céus é que manteve e mantém a fé em Deus viva, dos que já partiram e da nossa, que ainda militamos, apesar das circunstâncias adversas e das circunstâncias mundanas e secularizadas, como citado anteriormente, que se tornam em ídolos que exigem nosso tempo e dedicação, e que nos servem de tentação para afastar-nos do propósito maior do tesouro no céu (Mt 6). “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3.20-21). Eu quero ir para casa. Venha comigo!
Pelo fato de a salvação que há em Cristo ser um evento passado, presente e futuro, e também completo, perfeito e integral, é que o autor bíblico chama-a de “tão grande salvação” (Hb 2.3); alguns de seus aspectos são imensuráveis e inexplicáveis e, por melhor que se tente fazê-lo (1 Tm 1.17), eles transcendem a compreensão humana e somente nos serão revelados em sua totalidade no Reino vindouro.

Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Claiton  Ivan Pommerening.

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