domingo, 11 de setembro de 2016

Subsídio Teológico -- A Evangelização das Pessoas com Deficiência

Introdução
Isaías descreve uma época em que “se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará” (Is 35.5,6, ARA). O profeta, ao realçar o amor inclusivo de Deus, mostra que nem mesmo as pessoas com deficiência mental terão dificuldades em atinar com o caminho divino: “E ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo; o imundo não passará por ele, pois será somente para o seu povo; quem quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o louco” (Is 35.8, ARA).
Ainda que a visão do profeta seja sobre o Milênio, a cura e o refrigério físico, mental e espiritual podem ser experimentados, hoje, por todo aquele que vem a Cristo. A profecia revela o interesse de Deus por todas as pessoas, inclusive pelas que trazem deficiências e limitações.
O amor de Deus é inclusivo. Ele não admite que ninguém fique de fora, mas “quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4). A evangelização que não inclui as pessoas com deficiência é incompleta e não expressa plenamente o amor de Deus.
Neste capítulo, fui buscar a assessoria de minha filha, a professora Karen Bandeira, que estudou com carinho a educação inclusiva, a fim de adaptá-la à evangelização das pessoas com deficiência.

I. Pessoas com Deficiências também Carecem da Salvação
A inclusão de pessoas com deficiência não deve ser vista apenas como política pública, mas como a maior expressão do amor de Deus. Porque o Pai Celeste, amando-nos como nos ama, enviou o seu Filho ao mundo, para que todos viéssemos experimentar a salvação em sua plenitude. Iniciaremos este tópico, buscando uma definição que descreva corretamente a pessoa com deficiência.
1. Definição. Pessoa com deficiência é a que se acha privada quer de seus sentidos, quer de seus movimentos, ou do pleno uso de suas faculdades mentais. Nessa definição acham-se os cegos, mudos, surdos, paraplégicos e tetraplégicos, os autistas e os que têm a síndrome de Down.
Deveríamos incluir, também, os que se encontram acometidos pela doença de Alzheimer. Aliás, com o envelhecimento da população, cresce o número de idosos que, mais cedo ou mais tarde, poderão apresentar algum tipo de deficiência. Por isso, estejamos atentos aos anciãos, entre os quais faremos preciosas colheitas para a Seara do Mestre.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, “deficiência é o termo usado para definir a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica”.
2. Nem inaptos nem desculpáveis. No que tange à salvação das pessoas com deficiências, ou limitações, há pelo menos dois posicionamentos errados. O primeiro é o que não as contempla como alvo do evangelho e aptas a servirem a Deus. Simplesmente não se ocupa delas e não as incluem nos projetos evangelísticos. O segundo é o que as vê como desculpáveis e já santificadas pelo sofrimento.
No passado, certos enfermos suscitavam compaixão e chegavam a ser chamados de “santinhos”. E, para reverenciá-los, algumas pessoas tocavam-nos como se deles pudessem receber alguma virtude.
Enganosamente, muitos veem como não condenáveis os indivíduos com deficiências, ou limitações, como se a entrada no céu lhes fosse franqueada em compensação das dificuldades enfrentadas na vida terrena.
Mas a Palavra de Deus é clara: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Com ou sem deficiências, todos nascemos pecadores e estamos “debaixo do pecado, como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.10-12). Infelizmente, achar que os indivíduos mental ou fisicamente limitados não carregam, em si, a natureza de Adão é mais cômodo, porque libera a igreja da tarefa de evangelizá-los e integrá-los espiritual e
socialmente ao corpo de Cristo.
Eis, portanto, um desafio que enfrentaremos com amor e prontidão. Sei que a tarefa não é fácil, pois a evangelização das pessoas com deficiência requer esforços concentrados e específicos. No entanto, temos de falar de Cristo aos que não ouvem, mostrar as belezas da vida cristã aos que não veem, apontar o caminho da salvação aos que não conseguem andar e discorrer sobre a razão da nossa fé aos que não logram pensar com clareza.
Esta é a nossa missão: tornar o evangelho acessível a todos, inclusive aos que trazem alguma deficiência. Ajamos, pois, como seus olhos, ouvidos, boca e pernas, pois assim agiu o Senhor Jesus em seu ministério terreno.
3. Carentes e ao alcance da graça. A verdade é que todos precisam ser alcançados pelas Boas-Novas: os que enxergam bem, os que veem pouco e os que nada veem; os que escutam e falam, os que não ouvem nem falam; os que aprendem rápido e os que precisam de mais tempo para aprender; os que caminham com as próprias pernas e os que usam cadeiras de rodas,próteses ou muletas; os autistas, aqueles com síndrome de Down, com dislexia, com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, com
paralisia cerebral, epilepsia... Todos devem ser conscientizados de sua situação perante Deus, por causa do pecado, e saber que podem ser “justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24).
Nesse sentido, cabe-nos uma reflexão. Se o governo, com suas políticas ineficazes e, às vezes, fundamentadas em ideologias contrárias ao cristianismo, busca integrar as pessoas com deficiência à sociedade, por que deixaríamos nós, a Igreja de Cristo, de cumprir nossa obrigação? Além do mais, o Senhor Jesus adverte-nos seriamente a respeito de nossa inércia evangelística: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt
5.20, ARA). O que isso significa? Antes de tudo, que devemos fazer um trabalho de comprovada excelência; um trabalho que venha a exceder, em muito, ao que o Estado diz realizar.
II. A Tarefa da Igreja
A tarefa de trazer os deficientes a Jesus cabe a mim e a você. Por meio de uma didática apropriada, podemos incluir os deficientes no Plano da Salvação, ensinando-lhes a Palavra de Deus. Somente assim, poderão eles vir a superar todos os seus limites espirituais, emocionais e sociais.
1. A singularidade e a preciosidade de cada indivíduo. A triste verdade é que as igrejas dão-se por satisfeitas em poder atender a maioria das pessoas, quando Jesus quer que todas sejam incluídas. Ele não veio para a maioria, mas para “toda a criatura”, para “todo aquele que nele crê” e para “todo aquele que invocar o nome do Senhor” (Mc 16.15; Jo 3.16; Rm 10.13). Mas “como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14). Ainda que em nossa comunidade haja apenas uma única pessoa que demande atenção especial, é bíblico que façamos o necessário para acolhê-la e discipulá-la.
Nas parábolas de Lucas 15, ao mostrar a preocupação do pastor por uma única ovelha desgarrada, o desvelo da mulher por uma única moeda perdida e a solicitude do pai por um filho distante, o Senhor destacou a unicidade e a preciosidade de cada indivíduo ao coração de Deus. A Igreja deve ter essa mesma visão e não se contentar enquanto lá fora houver uma alma perdida. E se essa alma for alguém com uma deficiência que demande investimento humano e financeiro, a Igreja não deverá encolher-se no
pensamento mesquinho de que só valeria a pena se fosse um grupo inteiro.
Alguém, ao discorrer sobre a graça divina, afirmou que, se todas as pessoas do mundo fossem justas, com exceção de apenas uma, Jesus Cristo ainda assim desceria do céu, para morrer por essa única pessoa. Porque Deus não nos ama apenas coletivamente. Ele nos ama também individual e particularmente. Portanto, ninguém ficará de fora de nossas atividades
evangelísticas, principalmente os que não podem ver, ouvir, falar, locomover-se ou atinar com a razão.
2. Tempo determinado e paciência. Um dos argumentos daqueles que são contrários à inclusão de pessoas com deficiência, principalmente nas escolas, é que a presença delas retardaria o aprendizado das outras. No entanto, a experiência tem mostrado que, quando se procura fazer a inclusão, todos aprendem, cada um dentro do seu tempo, e conforme a sua capacidade.
Mesmo numa classe de Escola Dominical, frequentada por alunos sem qualquer deficiência, nem todos conseguirão memorizar o nome das doze tribos de Israel, ou dizer com perfeição a sequência dos livros da Bíblia.
Alguns adultos nem conseguirão discorrer acerca dos atributos de Deus.
No entanto, todos poderão vir a crer, se bem evangelizados e discipulados,que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Infere-se, pois, que o evangelho exige e comporta a inclusão de todos, pois o Espírito Santo trabalha, em cada coração, as verdades que nos conduzem à salvação.
Na igreja, acolher e incluir pessoas com deficiência não significa criar um espaço separado para que, ali, elas aprendam a Bíblia. Assim como todas as ovelhas ficam dentro do aprisco para serem cuidadas pelo pastor, a pessoa com deficiência deverá ser ensinada junto aos demais crentes e, juntamente com eles, tomar parte no culto de adoração. A inclusão de pessoas com deficiência faz parte da comunhão perfeita entre os membros do corpo de Cristo.

III. Mudar para Receber
Para ser inclusiva, a igreja deve: a) possibilitar o acesso de pessoas com deficiência ao templo e facilitar o trânsito por suas dependências, como salas de Escola Dominical, banheiros e cantina; e b) apresentar a mensagem evangelística levando em conta as limitações da audiência e os diferentes estilos de aprendizagem. Cada igreja, conforme a sua realidade, deve adaptar-se a fim de cumprir o que diz a lei dos homens (Lei 13.146,de 6 de julho de 2015) e a do Reino (Mc 16.15-18).
Existem inúmeros recursos que auxiliam a inclusão. Abaixo, destacamos os principais:

1. Rampas, elevadores e barras. Estes recursos destinam-se àqueles que usam cadeira de rodas. A inclinação das rampas seguirá as normas estabelecidas por lei. As portas dos elevadores, e também as demais passagens do templo, serão largas o bastante para possibilitar o trânsito dos cadeirantes. Todos os acessos da igreja serão sinalizados com o Símbolo Internacional de Acesso. Nenhuma área de circulação será obstruída com móveis. Nos banheiros, o lavatório terá altura apropriada, e ao menos um box com mobília adequada (vaso sanitário próprio e barras laterais).

2. Sinalização em relevo. São os pisos e mapas táteis que alertam as pessoas com deficiência visual quanto à topografia do ambiente. Ao sentir, com as mãos ou com os pés, as informações em relevo, o indivíduo poderá circular com maior segurança e independência pelos recintos. Essa sinalização adverte, entre outras coisas, quanto à presença de degraus, rampas, elevadores, portas, janelas e telefones públicos.

3. A Bíblia em Braile. O braile é um sistema de leitura e de escrita para pessoas com deficiência visual. Foi inventado pelo francês Louis Braille em 1827.
No Brasil, a primeira Bíblia em Braile foi lançada em 30 de novembro de 2002 pela Sociedade Bíblica do Brasil. Essa Bíblia é composta por vários volumes e está disponível na Nova Tradução na Linguagem de Hoje.
Pessoas, bibliotecas e instituições de apoio podem se cadastrar nos programas sociais da SBB e receber os volumes gratuitamente.
4. A linguagem brasileira de sinais, ou Libras. É um sistema linguístico que comunica fatos, conceitos e sentimentos por meio de gestos, expressões faciais e linguagem corporal. Essa língua, que possui regras gramaticais próprias, é a usada pela maioria das pessoas com deficiência auditiva no Brasil, com pequenas variações regionais.
Na igreja, os cultos e aulas de Escola Dominical podem ser facilmente traduzidos à linguagem brasileira de sinais por um obreiro treinado. Ações evangelísticas em hospitais e centros de apoio às pessoas com deficiência auditiva também podem ser realizadas de forma mais proveitosa se os crentes enviados souberem transmitir as Boas-Novas em Libras.
O acesso ao aprendizado das Libras felizmente é facilitado pela internet.
É possível achar bons manuais, dicionários de Libras e vídeo-aulas gratuitos. A professora Siléia Chiquini, da Assembleia de Deus em Curitiba, vem desenvolvendo um grande trabalho junto aos surdos, por meio do Ministério Mãos Ungidas. Na internet, ela compartilha seu trabalho e experiência com os que desejam fazer a voz divina bem audível aos que não podem ouvir a voz humana.
5. O professor mediador. A fim de que o ensino bíblico seja inclusivo, as classes de Escola Dominical não devem agrupar, em uma sala à parte, as pessoas com deficiência, ou com transtornos que dificultem o aprendizado. Entretanto, os alunos com deficiência precisam, em sua maioria, de maior atenção e cuidados. Nesse processo, o professor mediador é o responsável por adaptar à realidade do aluno com deficiência o conteúdo que o professor regente transmite à classe e as atividades
realizadas pelos demais educandos.
O mediador deve considerar a limitação do aluno especial, o seu ritmo e estilo de aprendizagem. Esse profissional também é responsável por facilitar a interação social do aluno com deficiência, evitando que fique isolado dos demais. Se o nosso objetivo é incluir a todos, devemos estimular e treinar pedagogos, didatas e obreiros a que se dediquem a esse ministério. É uma tarefa que demanda não apenas conhecimentos bíblicos, mas igualmente instruções pedagógicas, didáticas e psicológicas específicas. Hoje, graças a Deus, contamos com profissionais competentes entre os membros de nossas igrejas, que muito poderão ajudar-nos no cumprimento dessa missão. Portanto, ninguém ficará de fora do Plano da Salvação.

IV. Exemplos Bíblicos de Inclusão
Por toda a Bíblia, encontramos personagens com algum tipo de deficiência. No entanto, é maravilhoso observar a obra divina na vida de cada um deles, restaurando-lhes a dignidade, salvando-os e até restabelecendo-lhes plenamente a sanidade física e mental. Vejamos alguns deles. Ao conhecer melhor suas histórias, concluiremos que é possível, sim, incluir a todos no Reino de Deus, pois o Pai Celeste não deseja que ninguém fique de fora.
1. A inclusão de Mefibosete. Neto de Saul, Mefibosete ficou coxo aos cinco anos quando sua ama, tentando salvar-lhe a vida, deixou-o cair (2 Sm 4.4). No capítulo 9, a reação de Mefibosete ao chamado de Davi revela o que ele pensava de si mesmo, talvez por sua condição física: “Quem é teu servo, para tu teres olhado para um cão morto tal como eu?” (v. 8). Ao ser
beneficente para com Mefibosete, Davi restaurou-lhe a autoestima.
Mefibosete não viveria mais como um indivíduo qualquer e sem importância. Todos os dias ele comeria pão à mesa de Davi, como se fora um príncipe.
Segundo a Lei de Moisés, o jovem Mefibosete não poderia exercer o sacerdócio, por causa de sua deficiência física. Todavia, Deus o honrou de tal forma, que veio a estar à mesa de Davi. O Pai Celeste não discrimina a nenhum de seus filhos. Ao aceitarem Jesus como Salvador, as pessoas com deficiência passam a ser filhos de Deus, “logo, herdeiros também,herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8.17).
2. Parábola das bodas. Em Mateus 22.1-14, Jesus conta a história de “um certo rei que celebrou as bodas de seu filho”. Ele enviou os seus servos a chamar os convidados que, pretextando afazeres diversos, ignoraram-lhe o convite. Novamente o rei enviou os servos a trazer os convidados, porém “eles, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, e outro para o seu negócio; e, os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram” (vv. 5,6). O rei, então, decidiu trazer às bodas todo
aquele que seus servos encontrassem pelo caminho, “e a festa nupcial ficou cheia de convidados” (v. 10).
O rei poderia ter ordenado aos servos que fossem “às saídas dos caminhos” e distribuíssem, a todos quantos encontrassem, o jantar preparado, os bois e cevados já mortos. Contudo, preferiu trazer “os pobres, e os aleijados, e os mancos, e os cegos” ao seu palácio (Lc 14.21). Graças à sua inclusão, a cerimônia ganhou vida, alegria e muita beleza.

3. Acenos e uma tábua de escrever. O sacerdote Zacarias, ao receber de Gabriel a notícia de que sua esposa daria à luz um filho, não creu. Por isso, ficou mudo até o dia em que se cumpriram as coisas anunciadas pelo anjo. Observe, em Lucas1.21-23, que a mudez de Zacarias não o impossibilitou de comunicar-se com as pessoas que estavam no Templo.
Por acenos, o sacerdote conseguiu fazer-se entender. Alguns versículos à frente, vemos mais um recurso usado por Zacarias: “E, pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu...” (v. 63).
O que se conclui da narrativa sagrada? Todos, apesar de suas limitações, podem receber a comunicação do evangelho e, assim, experimentar a vida eterna. Se naquele tempo já era possível aos mudos se comunicar, hoje,com os recursos didáticos e tecnológicos de que dispomos, podemos integrar mais facilmente as pessoas com deficiência.
4. Uma figueira no lugar certo. Em Lucas 19, lemos sobre o encontro de Zaqueu e Jesus. “E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um homem, chamado Zaqueu... E procurava ver quem era Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver, porque havia de passar por ali. E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima,viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque, hoje, me convém pousar
em tua casa” (vv. 1-5).
Zaqueu estava em desvantagem, pois era de baixa estatura. Se a figueira não estivesse exatamente naquele lugar, ele não teria conseguido ver Jesus,por mais que se esticasse, ou ficasse na ponta dos pés. Assim como Zaqueu, muitas pessoas com deficiência querem ver a Jesus, e certamente frequentariam nossas igrejas se soubessem que os templos foram devidamente preparados para recebê-las.
5. Quatro amigos esforçados. Lemos, em Marcos 2.1-12, sobre a boa vontade de quatro homens em conduzir um paralítico a Jesus. Esse quarteto não apenas era esforçado, mas tinha fé. Eles sabiam que Jesus era tudo o que o paralítico precisava (v. 5). Por isso, “descobriram o telhado onde estava e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico” (v. 4).
Esses homens nos ensinam que não basta ter um templo adaptado. É preciso ter fé e força de vontade o bastante para, literalmente, buscar as pessoas e levá-las ao local onde a salvação está.
V. Os Velhos Terão Sonhos
“O ornato dos jovens é a sua força; e a beleza dos velhos, as cãs” (Pv 20.29). Que versículo maravilhoso. A Palavra de Deus é tão inclusiva, que vê os cabelos brancos não como decadência, mas como beleza, honra e triunfo. O Pai Amado nos inclui desde o berço à sepultura, pois nos ama com um amor inexplicável e eterno. E, quando nossa vida, aqui, cessar, não seremos esquecidos, pois Ele nos receberá em suas mansões.
1. As Boas-Novas aos idosos. A mensagem da Salvação deve ser pregada aos idosos nos asilos, hospitais, praças públicas e, também, por meio do bom testemunho de seus filhos e netos que, em vez de olhá-los como peso morto, hão de vê-los como lembrança viva de um tempo que não precisa ir embora. No entanto, a fragilidade da vida e a iminência de seu término devem impulsionar-nos a evangelizar os idosos “a tempo e fora de tempo” (2 Tm 4.2), não os admoestando asperamente, mas “como
a pais” e “como a mães” com todo amor e devoção (1 Tm 5.1,2).
Não somente a alma dessas pessoas de cabelos brancos é preciosa a Deus, mas também o seu trabalho. Em sua velhice, elas podem fazer o Reino de Deus avançar, anunciando a esta geração e a todos os vindouros,
as maravilhas do Senhor, sua força e poder (Sl 71.17,18).
2. Alzheimer e demais doenças relacionadas à idade. Como falar de Cristo a pessoas que já não se lembram dos seus familiares e nem de si mesmas? Como fazê-las entender o Plano da Salvação e levá-las a Jesus, se lhes falta autonomia para alimentar-se, tomar remédios, ou banhar-se?
Diante de tal cenário, resta à igreja ter fé suficiente para obedecer à ordem de Jesus ao pé da letra: pregar “a toda criatura”. E, novamente, os conselhos de Paulo a Timóteo aplicam-se: “a tempo e fora de tempo”, com amor e paciência, não sendo ásperos, mas “como a pais” e “como a mães”. Ao expormos a mensagem de salvação às pessoas com Alzheimer, é preciso crer que “a fé vem pelo ouvir” (Rm 10.17). Com paciência, devemos esperar o que não vemos, e confiar na obra do Espírito Santo:
Porque, em esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos. E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. (Rm 8.24-28)
Mesmo em sua ausência da realidade, os idosos, ou pessoas com demência, devem ser honradas: “Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do velho, e terás temor do teu Deus. Eu sou o Senhor” (Lv 19.32).
No episódio narrado em Gênesis 9.20-27, Noé não estava doente, nem sofria de demência. Contudo, ao embebedar-se, tornou-se mentalmente vulnerável e inclinado a agir fora da razão. Por isso, “descobriu-se no meio de sua tenda” (v. 21). Quando Noé despertou do vinho e soube o que seu filho menor lhe fizera, o amaldiçoou. A atitude jocosa de Cam alerta-nos a sermos respeitosos para com os idosos, mesmo que eles ajam de forma contrária a um comportamento socialmente aceitável.
Conclusão
No ano de 2014, fiquei internado por um espaço de dois meses. Nesse período, minha esposa, Marta Doreto, teve oportunidade de evangelizar diversos anciãos no Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro. Alguns daqueles velhinhos já estavam em estado terminal; seus momentos de lucidez eram raríssimos. Sabendo disso, minha esposa orou, pedindo a Jesus que eles despertassem, ainda que por alguns poucos minutos, para que ela lhes pregasse o evangelho.
Foi assim que minha esposa conseguiu ganhar alguns daqueles anciãos para Jesus. Alguns se comunicavam apenas mexendo as pálpebras, respondendo afirmativamente às perguntas: “O senhor crê no que eu acabei de ler na Bíblia, que Jesus, o Filho de Deus, morreu e ressuscitou para salvá-lo de seus pecados? Quer recebê-lo como seu Salvador? Deseja que eu faça uma oração em voz alta, confessando Jesus como Salvador, enquanto o senhor a repete com o coração?”.
Um desses queridos velhinhos era um judeu de 103 anos e, segundo informaram à minha esposa, aquelas três leves piscadas às suas indagações foram os únicos sinais de comunicação dele em muito tempo. Um mês depois, ele foi para o céu com Jesus.

Não podemos ver os cabelos brancos como empecilhos à pregação da mensagem da cruz, mas como a derradeira oportunidade que um ancião ainda tem de receber Jesus como seu Salvador pessoal. Por isso, incluamos a todos em nossas ações evangelísticas, a fim de que todos, a tempo e a fora de tempo, recebam Jesus.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A falsa espiritualidade na adoração

1. Infelizmente, tornaram-se comum em muitos pseudos cultos de adoração as manifestações de falsa espiritualidade. Cristo asseverou que profetizar, expulsar demônios, operar curas e milagres, realizar sinais, prodígios e maravilhas não são garantias de espiritualidade e nem mesmo autenticam a santidade de alguém (Mt 7.22-23).
2. Jesus também ensinou que o exercício dos dons espirituais não assegura a salvação de ninguém. Ao contrário, os dons contaminados pela iniquidade impedem o acesso ao Reino dos céus (Mt 7.21). A iniquidade deve ser conceituada como considerar normal o que é pecado, acostumar-se com o pecado, tolerar a prática do pecado e ter a consciência cauterizada pelo pecado (1Tm 4.2).
3. Quanto aos dons espirituais, o apóstolo Paulo exorta a igreja em Corinto para que não os usem de forma egoísta, e sim com o propósito de edificar o corpo de Cristo (1Co 14.12). Desse modo os dons não são concedidos para a soberba ou vaidade de ordem pessoal, nem para demonstração de suposta superioridade espiritual.
4. Apesar das advertências bíblicas, frequentemente nos deparamos com falsas manifestações em nosso meio. Por vezes, os dons são usados de modo equivocado para autopromoção espiritual de quem os exercita. Outras vezes os dons são usados para encobertar pecados, amordaçar e impedir o desejo de justiça no seio da Igreja. Não raras vezes os dons são utilizados como barganha e fonte de lucro tal qual fizera Balaão (2 Pe 2.15).
5. Os dons espirituais quando usados sem temor e humildade afrontam a santidade de Deus. Imprimem falsa espiritualidade nos cultos e produz uma geração de crentes doentes, capengas, carnais e suscetíveis ao pecado. Paulo lembra que o exercício dos dons espirituais sem o exercício do amor não possui valor algum diante de Deus (1Co 13.1-3).
6. O apóstolo Paulo ensina, ainda, que na adoração cristã pública é indispensável a presença de salmos (louvores), doutrina (ensino e pregação bíblica), revelação, língua e interpretação (manifestação dos dons espirituais). No entanto, enfatiza: “Faça-se tudo para a edificação” (1Co 14.26).
7. Porém, em alguns lugares, os cultos de adoração ao Senhor estão sendo profanados. Profanação significa desrespeito, irreverência ou violação daquilo que é santo ou sagrado. Os louvores não servem para a edificação da Igreja. Diversos louvores são triunfalistas e sequer mencionam o nome de Cristo e servem apenas para autopromoção de quem canta e de euforia e até histerismo coletivo para quem escuta.
8. É notório também que as mensagens deixaram de ser bíblicas e viraram palestras de auto-ajuda. Tais mensagens abandonaram os temas mais caros do cristianismo, tais como, arrependimento, confissão de pecados, santidade, salvação, libertação, arrebatamento da Igreja e a volta de Jesus. Tais temas foram substituídos por ideologias da cultura pós-moderna, entre eles, prosperidade (amor ao dinheiro), hedonismo (prazer como bem supremo), narcisismo (amor por si próprio), relativismo (a verdade mutável), jactância (exaltação da vaidade) e tantos outros.
9. Assim, o culto e a adoração são profanados. Os ouvintes são iludidos e enganados por falsas mensagens que não promovem edificação. Assim, a falsa espiritualidade condena as pessoas a viverem presas ao pecado sem nunca experimentarem a libertação por meio da verdade.
Pense nisso!
 Douglas Roberto de Almeida Baptista
Fonte do arquivo: http://www.cpadnews.com.br/


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

"SUBSÍDIO TEOLÓGICO" A Evangelização dos Grupos Religiosos

I. Religião, Necessidade ou Invenção
Afinal, o que é a religião? Invenção divina? Ou necessidade humana? Se partirmos do pressuposto de que Deus, como o Criador de todas as coisas, nada precisa inventar, concluiremos que a verdadeira religião não é
invencionice divina, mas a expressão máxima do amor que levou o Pai Celeste a enviar o Filho a morrer em nosso lugar. O homem, porém, ao afastar-se de Deus, endeusou-se, e pôs-se a inventar as mais absurdas seitas e as mais esdrúxulas religiões.

1. Religião, religar ou reler. A palavra hebraica traduzida ao português como “religião” é avodháh que, entre outras coisas, significa trabalho e adoração. Se formos ao grego do Novo Testamento, constataremos que o termo Thréskeia, usado por Tiago, não traz a ideia de uma religião meramente formal, mas evoca a adoração que Deus requer de cada um de nós (Tg 1.26). A religião, portanto, não deve circunscrever-se à liturgia, mas ampliar-se no serviço que a criatura tem de prestar continuamente ao Criador. É por isso que, no inglês, a palavra “culto” é traduzida pelo vocábulo service.

Examinemos agora o mesmo termo em latim. O vocábulo religio é interpretado de duas formas que, embora distintas, são harmônicas.  Buscando o étimo exato do referido termo, o orador romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) explica que religio provém do verbo latino relegere, que ostenta este significado: reler. Mas que leitura deve o homem retomar?
Sem dúvida, daquilo que Deus nos inscreveu na alma, para que jamais o esquecêssemos. Não é uma explicação despropositada, pois ainda que mortal, a criatura traz no espírito a eternidade do Criador. Ouçamos o sábio de Israel: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3.11).
Sem a eternidade que nos vai na alma, a religião seria impossível. Mas, posto que lá se encontre, insta-nos a deixar o tempo para comungarmos com o Eterno. Eis por que Cícero, apesar de desconhecer os profetas hebreus, interpretou tão bem o significado da religião. Todas as vezes que lemos o que Deus nos escreveu no coração, somos tomados de um almejo muito grande por sua companhia.
Agostinho (354-430) dá outra interpretação à palavra religio No entender do grande doutor da Igreja Cristã, o termo não significa propriamente reler, mas religar. Essencialmente, porém, não há diferenças substanciais entre a sua acepção e a de Cícero, porque ambas remetem-nos ao encontro pessoal que a criatura almeja ter com o Criador. Conclui-se, pois, que a religião verdadeira é serviço, adoração, releitura da alma e um religar entre a criatura e o Criador. Mas tudo isso só é possível por intermédio de Jesus Cristo, o único medianeiro entre o homem e Deus, porquanto Ele é Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus.

2. Religião, necessidade universal. Ao chegar a Atenas, deparou-se Paulo com uma metrópole entregue aos ídolos e aprisionada à idolatria.  Naquela cidade, era mais fácil encontrar um deus do que um homem. Em todas as esquinas, havia um nicho; em cada praça, um santuário; em cada logradouro, um templo. O apóstolo observou também que, entre todos aqueles altares, havia um consagrado ao Deus Desconhecido.
Tendo como ponto de partida aquele insólito objeto de culto, Paulo utilizou-o, a fim de mostrar aos filósofos epicureus e estoicos as bases da verdadeira religião. Ele deixou-lhes bem claro que o sentimento religioso,
que é universal, deve ser centrado apenas no Deus Único e Verdadeiro.
Ouçamos o apóstolo: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: Ao Deus Desconhecido. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração. Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos. (At 17.22-31, ARA) Esse belíssimo discurso, que em nada fica a dever aos mais celebrados oradores gregos e latinos, faz um resumo do verdadeiro conhecimento divino e da finalidade da religião. O apóstolo, sem condenar diretamente a religião da Grécia, mostra indiretamente a supremacia da religião de Israel que, fundamentada na pessoa de Cristo, é tão única e verdadeira quanto Verdadeiro e Único é Deus.
Conclui-se, pois, que o anseio religioso é universal. Não há povo, nação ou raça que viva à parte de cultos e devoções. Tal anseio, porém, tem de ser carreado a Deus, e não aos ídolos e aos demônios, pois o Senhor não partilha sua glória com ninguém.


3. Religião, separação e invenção. Deus não apenas é o criador da verdadeira religião, mas a verdadeira religião em si. Toda a nossa adoração, serviço e culto devem ter, como alvo supremo, glorificar-lhe o nome.
Por isso, Ele ordena ao seu povo, Israel, no preâmbulo dos Dez Mandamentos:
Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. (Êx 20.2-5, ARA) Mas o homem, descumprindo as ordenanças divinas, inventou, a partir de si e para si, as mais estúpidas e abomináveis religiões, conforme Paulo escreve aos romanos:
A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. (Rm 1.18.27, ARA)
Nessa passagem, Paulo mostra como evoluiu a religião humana. Ao ignorar o Criador, os gentios puseram-se a adorar a criação. E, de forma abominável, rebaixaram-se a servir à madeira, à pedra e ao metal. Havia
deuses inclusive de ouro, como aquela imensa estátua erguida por Nabucodonosor. Como um abismo sempre chama outro abismo, eis que as gentes, principalmente as cananeias, lançaram-se aos atos mais hediondos.
Os adoradores de Baal-Peor despojavam-se na permissividade. Quanto aos devotos de Moloque, não se conformando em incensar o horrível ídolo com as práticas mais licenciosas, punham-se a queimar seus filhinhos, a fim de aplacar a ira daquele deus tão assassino quanto seus adoradores.

lI. Mitos sobre a Religião
Sendo o homem um ser religioso, vem ele cristalizando, ao longo de sua romaria espiritual, alguns mitos em torno da religião. Tais mitos, na verdade, não passam de subterfúgios, que o levam a esconder-se da face divina. Isso significa que, frente à nossa vocação religiosa, há tão somente duas alternativas: ou adoramos ao Deus Único e Verdadeiro ou não o adoramos. Se não o adoramos, a quem estamos cultuando? A nós mesmos ou a Satanás?

1. Mito um: todas as religiões são boas. Se há tão somente duas religiões, como podemos afirmar que todas as religiões são boas. Como já dissemos, ou servimos a Deus, ou prestamos cultos a nós mesmos e a Satanás. Mas partamos do princípio de que todas as religiões são boas.
Vejamos, por exemplo, o caso de Moloque. Em sua adoração, os amonitas queimavam suas criancinhas (Lv 18.21; Jr 32.35). E, no culto a Baal-Peor, divindade venerada por midianitas e moabitas, os desregramentos sexuais não tinham limites (Os 9.10). Em consequência desses cultos vergonhosos, o Senhor castigou severamente a Israel (Nm 25; Jr 32.35). Vê-se, pois, que nem todas as religiões são boas.
Levemos em conta, também, o islamismo que, para expandir-se, apregoa uma guerra tida como santa. Aos olhos dos radicais, todos os povos, acreditando ou não em suas narrativas e proposições, têm de se curvar a Maomé. Tal religião não pode ser boa, pois se impõe pelo terror e pelo medo. Sei que não devo generalizar, mas o Estado Islâmico é o resultado do livro que, em nenhum momento, declara que Deus é amor. Aqui, devemos incluir o cristianismo sem Cristo da igreja católica de Urbano II, que, na recaptura de Jerusalém, derramou muito sangue inocente.

2. Mito dois: todas as religiões levam a Deus. Com base nos casos mencionados nos tópicos anteriores, como podemos alegar que todas as religiões levam a Deus? No tempo de Paulo, a civilização greco-latina dava-se ao culto aos demônios (1 Co 10.20,21). Hoje, não é diferente.
Muitos são os que sacrificam animais e víveres aos ídolos. E, nos últimos dias, a humanidade adorará a Besta, o Falso Profeta e o Dragão (Ap 13.4). Tais religiões não conduzem o homem a Deus, mas ao Diabo. Não nos esqueçamos daqueles que, declaradamente, prestam culto a Satanás.

3. Mito três: nenhuma religião é verdadeira. Conforme já vimos, a Bíblia declara que existe, sim, uma religião verdadeira que é descrita, por Tiago, como pura e imaculada (Tg 1.27). Por conseguinte, não podemos nivelar, por baixo, a religião que nos foi concedida pelo Senhor por meio de seus santos profetas e apóstolos.
A religião verdadeira é a revelação que Deus fez de si mesmo através das Escrituras Sagradas, para que o adoremos como o Único e Verdadeiro Senhor, e ao seu Unigênito, Jesus Cristo, como o nosso Único e Suficiente Salvador. Em sua oração sacerdotal, o Senhor Jesus descreve a verdadeira religião (Jo 17).
Já não resta dúvida alguma. Há somente duas religiões: a divina e a não divina. Logo, é a nossa obrigação pregar a Cristo aos religiosos, mesmo que estes sejam rotulados, às vezes, de evangélicos.

4. Mito quatro: há muitas religiões. Do que acima dissemos, concluímos haver apenas duas religiões: a divina e a não divina. A primeira é descrita por Tiago como sendo pura e imaculada, pois, além de reconhecer a Deus como o Pai dos que recebem Jesus Cristo, traduz-se por obras meritórias e boas como evidências de uma fé verdadeira e santa (Tg 1.27).
Por conseguinte, o apóstolo denota existirem apenas duas religiões: a imaculada e pura e a impura e maculada. A primeira é a religião dos patriarcas, dos profetas e dos apóstolos, tendo como fundamento a encarnação, a morte vicária e a ressurreição do Filho de Deus. Quanto à segunda, é a religião que, tendo como alicerce a mentira que Satanás contou primeiro a si mesmo e, depois, a nossos pais, no Éden, vem desdobrando-se em seitas que, rapidamente, ganham foros de religião.
Diante de nossa responsabilidade espiritual, enfatizo, existem apenas duas alternativas: ou adoramos a Deus, que é a religião pura e imaculada; ou adoramos a nós mesmos e ao Diabo, que é a religião impura e maculada pela mentira, pelo pecado e por uma rebelião interminável contra o Deus Único e Verdadeiro.

lII. Como Evangelizar os Religiosos
Tendo como exemplo a ação evangelística de Jesus, vejamos como expor o Evangelho aos religiosos.
1. Não discuta religião. Ao receber Nicodemos, na calada da noite, o Senhor Jesus não perdeu tempo discutindo os erros e desacertos do judaísmo daquele tempo. De forma direta e incisiva, falou àquele príncipe judaico sobre o novo nascimento (Jo 3.3). Sua estratégia foi certeira. Mais tarde, Nicodemos apresenta-se voluntariamente como discípulo do Salvador (Jo 7.50; 19.39). Em vez de contender com os religiosos, exponhamos-lhes que Cristo é a única solução à humanidade caída e carente da glória de Deus.

2. Não deprecie religião alguma. Em seu encontro com a mulher samaritana, Jesus não depreciou a religião de Samaria, nem sublimou a de Israel, mas ofereceu-lhe prontamente a água da vida (Jo 4.10). A partir da conversão daquela religiosa, houve um grande avivamento na cidade, repercutindo pentecostalmente em Atos (At 8.5-14). Se depreciarmos a religião alheia, não teremos tempo para falar de Cristo, pois a evangelização exige ações rápidas e efetivas.
3. Mostre a verdadeira religião. Sem ofender a religiosidade de seus ouvintes, mostre, em Jesus Cristo, a verdadeira religião. Foi o que Paulo fez em Atenas. Tendo como ponto de partida o altar ao Deus Desconhecido, anunciou-lhes Cristo como o único caminho que salva o pobre e miserável pecador (At 17.26-34). Se agirmos assim, teremos êxito na evangelização dos católicos, espíritas, judeus, muçulmanos, ateus e desviados.
IV. Ateu, Sim, Graças a Deus Como evangelizar alguém que diz não acreditar em Deus? Antes de tudo, não percamos tempo em provar-lhe a existência do Criador, pois não há criatura moral que ignore a presença divina na criação. Por isso, adotaremos os seguintes passos na evangelização de um ateu.
1. Fale de Cristo, em primeiro lugar. O problema do ateu não é a descrença na existência de Deus, mas a sua crença em Jesus Cristo. Via de regra, quem se deixa enganar pelo ateísmo destaca Jesus como um líder religioso, mas o ignora como o fundamento da verdadeira religião. Por esse motivo, proclame Jesus, logo de início, como a única esperança que tem o homem neste mundo. Evite discussões acadêmicas, pois tais esterilidades jamais levarão o incrédulo aos pés de Cristo. Se bem evangelizado, o ateu saberá que está em perigo. Conscientize-o, então, de que a sua descrença quanto à existência de Deus não o livrará do Juízo Final. Seja direto e claro na exposição da mensagem da cruz.
2. Veja o ateu como alguém que precisa de Cristo. Na evangelização de um ateu, temos a tendência de olhá-lo como um pecador diferenciado, em razão de sua loquacidade. Na verdade, trata-se de um pecador como os demais. Seu aparente intelectualismo é um verniz tão fino, que não resiste ao primeiro golpe da espada do Espírito. Mesmo que não venha a converter-se, a marca do evangelho tornar-se-á indelével em sua alma. Não nos preocupemos em fazer-lhe a apologia da existência divina, porquanto o evangelho, em si, já demonstra cabalmente a realidade de um Deus bom, justo e amoroso; a verdade quanto ao pecado e à condenação do pecador; a eficácia da obra de Cristo; e o destino dos que rejeitam o Filho de Deus. Logo, seja amoroso, mas firme, na exposição da mensagem da cruz.
V. Católicos, Cristãos à Procura do Cristianismo Embora nominalmente cristãos, os católicos acham-se presos à idolatria, ao misticismo e, boa parte deles, a um perigoso sincretismo. Por isso, em sua evangelização, não ofenda Maria, nem os santos venerados por eles. Evite apontar a igreja evangélica como superior à católica. Antes, exponha-lhes Jesus como o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6; Hb 13.8). Na evangelização de um católico, observe os seguintes pontos.
1. Apresente Jesus como o único mediador entre Deus e os homens.
Se soubermos como expor-lhe Jesus como o único medianeiro entre o pecador e o Deus amoroso, porém justo, nem precisaremos falar sobre a inutilidade dos ídolos (1 Co 8.4). Mostre-lhe que o Filho é o único caminho que nos leva ao Pai. No entanto, se o seu interlocutor arguir-lhe a respeito da idolatria, não busque uma resposta socialmente correta; seja verdadeiro. No ato da evangelização, a verdade é o diferencial entre a salvação e a perdição de uma alma.
2. Não fale mal de Maria, mãe de Jesus. Por mais de quatrocentos anos, Maria foi vista pelos cristãos como a Bíblia no-la apresenta: serva de Deus e mãe de Jesus Cristo. Fugindo à divinização, ela se confessa
necessitada do Salvador, que trazia no ventre (Lc 1.46-56). Por ela, Jesus também morreu. Portanto, se lhe fôssemos escrever a biografia, usaríamos apenas nove palavras: Maria foi a cristã mais exemplar da História
Sagrada. A partir do quinto século, a imperatriz consorte do Império Romano do Oriente dá início ao culto mariolátrico, que viria comprometer a teologia de boa parte da cristandade. Élia Pulquéria muito se empenhou para que Maria fosse reconhecida como Theotokos Em grego, a expressão significa mãe de Deus. Por meio desse subterfúgio, guindava-se Maria a uma posição superior a do próprio Deus. Desde então, o culto de Maria toma conta da igreja católica e até do islamismo. Aliás, Maria é mais citada no Corão do que em o Novo Testamento. Por esse motivo, na evangelização de um católico, não ofenda a mãe de Jesus que, por sinal, foi salva como também o fomos. Antes mostre o Filho de Maria como o único mediador entre Deus e os homens. Para os católicos, Maria é mãe; para nós, uma irmã em Cristo que, no arrebatamento da Igreja, experimentará os poderes da ressurreição.
3. Não apresente a igreja evangélica como superior à católica.
Lembre-se, não estamos promovendo uma guerra religiosa, mas falando do amor de Cristo a um grupo que, embora se declare cristão, está longe do verdadeiro Cristo. Por isso mesmo, não mostre a igreja evangélica como se fora superior à católica. Mas não deixe de convidar os adeptos do romanismo a visitar a sua igreja.
VI. Espíritas, a Eternidade Presa no Tempo
Na evangelização dos espíritas e dos adeptos dos cultos afros, não os ofenda, dizendo que tais religiões são demoníacas e inspiradas por Satanás. Mas, com amor e sabedoria, convença-os, pela Bíblia, de que aos homens está ordenado morrerem uma única vez, e que o sacrifício de Jesus Cristo é suficiente para levar-nos ao Pai (Hb 9.27; 1 Pe 3.18). Considere, ainda, estes pontos:
1. Valorize a fé, mas não desqualifique as boas obras. O espiritismo notabiliza-se por entidades filantrópicas por todo o Brasil. Por isso, quando formos evangelizar um de seus adeptos, sejamos prudentes ao falar-lhe sobre a salvação pela fé. Mostre-lhe que as obras, em si, são insuficientes para salvar-nos. Acrescente, porém, que, pela fé em Jesus Cristo, fomos chamados às boas obras, pois estas evidenciam a confiança que depositamos em Deus. Evite discussões e contendas, pois estas nos afastam de nosso verdadeiro alvo: levar o evangelho de Cristo a todos, em todo tempo e lugar, por todos os meios.
2. Não ofenda as religiões espíritas e africanas. Todos sabemos que tanto o espiritismo quanto os cultos afros não provém de Deus. Seus adeptos, porém, não o sabem. Por isso, não devemos desmerecer-lhes as crenças, dizendo que eles servem aos demônios. Se formos habilidosos na exposição da Palavra Deus, eles não demorarão a concluir o óbvio.
3. Não tenha medo dos espíritas e dos adeptos dos cultos afros. Há crentes que, apesar de já haverem experimentado os poderes do mundo vindouro, ainda demonstram um pavor injustifi cado quanto às práticas
espíritas e aos cultos afros. Tal medo, porém, impede-nos de evangelizar os discípulos de Alan Kardec e os herdeiros da mitologia africana que, em nosso país, espalham-se de norte a sul. Por esse motivo, deixemos de lado esses temores, e, com amor e prudência, falemos de Cristo a todos, sem marginalizar este ou aquele grupo. Respeitosamente, mas de maneira clara, objetiva e bíblica, levemos a mensagem da cruz a esses grupos religiosos que, supondo adorarem a Deus, afastam-se cada vez mais do Amado Senhor.
VII. Muçulmanos, uma Seita que se Fez Religião
Aquele meteorito poderia ter caído na Pérsia, no Japão ou em Jacarepaguá, onde moro. Ironicamente, veio a chocar-se no chão extremoso e quente de Meca. O evento causou muita estranheza e temor.
Aturdidos, indagavam os filhos de Ismael: “O que é isso? Um mimo dos deuses? Mas de qual deles?”. Pois, na cidade, sobravam deuses e faltava gente. Ao todo, 360. Um para cada dia do ano lunar. Havia inclusive um altar a Al-Ilah, o Deus Desconhecido dos árabes. Como ninguém sabia de qual deus proviera a tal rocha, se deste, se daquele, os moradores de Meca houveram por bem venerar a todos. Em redor do sidéreo, ergueram um nicho para cada um de seus deuses. Imaginavam eles que, desse jeito, não haveria ciúme, nem desavença no panteão. Parece que o arranjo deu certo.
1. A displicência cristã ante o fenômeno muçulmano. Os cristãos de Meca nenhuma importância deram ao fenômeno. Afinal, não era a primeira vez que um meteorito despencava do céu. Se houvesse, porém, algum discernimento entre aqueles crentes, todo o sistema idolátrico de Meca teria vindo ao chão. Infelizmente, tinham eles outras prioridades. Se os leigos nada fizeram, onde estavam os teólogos? Enquanto os árabes definiam-se religiosamente, os doutores da igreja ainda se achavam indefinidos quanto à natureza de Cristo. Atentemos a um fato curioso e prosaico. Foi entre os dois concílios eclesiásticos, que tiveram por sede a capital do Império Bizantino, que o Islã foi semeado, florescendo rapidamente pelo Oriente Médio, até frutificar às portas de Bizâncio.
2. O descaso dos concílios. No Segundo Concílio de Constantinopla, reunido em 553, os teólogos mais destacados da Igreja condenaram a doutrina de Orígenes e os escritos de Nestório. Só não condenaram a própria inércia. Virgílio, apesar de sua proeminência, nenhuma atenção deu à evangelização daqueles gentios. Ele bem que poderia ter sugerido o envio de missionários à Península Arábica. E, dessa forma, evitar que o Islã achasse um berço tão promissor. Maomé ainda não era nascido; a religiosidade de Ismael, porém, já havia sido dada à luz. Passados 127 anos, os chefes da Igreja voltam a reunir-se em Constantinopla. A essas alturas, o islamismo já fronteirava a sé cristã do Oriente. Mais uma vez, nenhuma menção é feita ao novo e incontrolável fenômeno religioso. A impressão que se tem é que aqueles teólogos, apesar de sua proverbial erudição, viviam à margem da história. Solenemente congregados, limitaram-se a dogmatizar as duas naturezas de Cristo, e a condenar o monotelismo. Que a medida fosse urgente, não se discute. Discutível era a sua postura missionária, pois a verdadeira teologia sempre resulta na salvação de almas.
Agatão, a figura de proa desse concílio, nada fez para evangelizar os árabes. Antes, desperdiçou o seu pontificado em amenidades. Aparou as farpas do clero inglês, elevou o bispado da Irlanda, fortaleceu o papado, entre outras fatuidades. O Taumaturgo, como era conhecido, pouca importância deu à obra missionária.
3. A expansão do Islã. Se os teólogos cristãos ainda se debatiam quanto à dupla natureza de Cristo, os árabes já não tinham qualquer dúvida sobre os dogmas do Islã. Para eles, Maomé já era um profeta maior que Jesus.
Dessa forma, o meteorito, que poderia ter servido de contato para se  apregoar o evangelho às tribos ismaelitas, converteu-se numa pedra de tropeço para o cristianismo. De Meca, o astuto Maomé arrancou os nichos de todos os deuses, inclusive do Deus desconhecido. Jeitosamente, plasmou Al-Ilah à sua imagem e semelhança, dando-lhe a alcunha de Alá. Quanto ao meteorito, em vez de ir parar num museu de história natural, ei-lo na Kaabah, o maior centro da peregrinação islâmica. Em Atenas, deparara-se Paulo com uma situação semelhante. Havia, ali, um retiro para cada divindade do Olimpo e um altar consagrado ao Deus Desconhecido. A partir desse elo, o apóstolo acorrenta os gregos com o evangelho de Cristo. Nem os filósofos deixaram de ouvir a proclamação da Palavra de Deus. Paulo soube como fazer teologia entre os que se agarravam à mitologia.
4. A dormência da academia evangélica. O que muitos acadêmicos evangélicos fazem, hoje, não é a teologia salvadora. Reúnem-se para discutir temas periféricos, que nenhuma edificação trazem. O problema agrava-se quando se ajuntam, a fim de realçar suas posições doutrinárias. Nesses encontros, que mais parecem uma Babel e em nada lembram o Cenáculo, os evangelistas não têm vez, nem voz. Enquanto isso, as forças do mal vão a galope conquistando terrenos que antes pertenciam à Igreja de Cristo.
Conta-se que, enquanto os comunistas tomavam a Rússia, o clero ortodoxo discutia a indumentária de seus padres. Entretidos, não oraram pela nação, não expuseram o evangelho, nem se congregaram em vigília.
Veio, então, o comunismo, levando muitos padres, rabinos e pastores à morte. Diante do martírio, viram-se eles constrangidos a reconhecer a veleidade de seus concílios.
5. O triste exemplo de Bizâncio. Não podemos agir como Bizâncio.
Em suas digressões teológicas, veio a ignorar as almas que, diariamente, despencavam no inferno. Para o clero bizantino, a mensagem da cruz nenhum valor tinha. O resultado não poderia ter sido mais trágico. No ano de 1453, os turcos otomanos, empunhando a bandeira do Islã, entram em Constantinopla e subjugam a cidade que abrigara concelhos, mas que já não tinha conselho algum aos fiéis. Hoje, as paredes da Igreja de Santa Sofia expõem a vaidade de um clero que, diante do clamor do mundo, ainda se digladiava quanto à cristologia simples, porém eficaz do Novo Testamento. Sim, algo tão singelo que qualquer criança da Escola Dominical define com mestria e largueza. Quando não pregamos, as pedras clamam. E, às vezes, de forma violenta.
6. Cristo aos refugiados muçulmanos. Enquanto escrevo estas linhas (22 de março de 2016), recebo a notícia de que a Europa acaba de sofrer mais um ataque do Estado Islâmico. Segundo as últimas notícias, homens-bombas explodiram-se no aeroporto de Bruxelas, matando e ferindo indistintamente adultos e crianças.
Ao mesmo tempo, continuam a chegar, aos países europeus, refugiados da Síria, do Iraque, do Paquistão e da Líbia. São milhares de pessoas despojadas de sua nacionalidade, cultura, língua e lar. E, como a maioria delas é muçulmana, passam a ser vistas com suspeição onde, depois de muito esperar, talvez encontrem algum refúgio. No Brasil, principalmente em São Paulo, o número de refugiados muçulmanos não é pequeno. Por isso, temos de vê-los como um campo missionário que veio até nós. Se agirmos com amor e oportunidade, haveremos de ganhar muitos desses exilados para Cristo. E, mais tarde, voltarão eles aos seus países de origem como missionários. O momento não pode ser desperdiçado. Os muçulmanos necessitam tanto de Cristo como os religiosos de outros grupos e etnias.
VIII. Evangélicos sem o Evangelho de Cristo
É chegado o momento de evangelizarmos um grupo que, embora se identifique como evangélico, acha-se, por um lado, distanciado do evangelho; e, por outro, distante do verdadeiro evangelho. Refiro-me aos desviados, aos desigrejados e aos que frequentam a maioria das igrejas que, de evangélicas, têm apenas o rótulo.
1. Desviados, ovelhas que se desgarram de seu pastor. Boa parte dos evangélicos que, pejorativamente, chamamos de desviados, jamais foram integrados plenamente à igreja visível. No ato de sua conversão,           foram recebidos imediatamente pela Igreja Invisível. E, invisíveis, permaneceram entre nós à espera de uma inclusão que não veio. Por isso, deixaram o “nosso rebanho”, a fim de se agregarem a outros apriscos. Sim, já é hora de buscarmos a centésima ovelha que, a essas alturas, já deve ser a milionésima, pois, todos os dias, milhares de preciosas almas deixam nossos redis, e não o percebemos. Cristo as ganha; nós as perdemos.
2. Desigrejados, ovelhas que não querem um pastor. Cresce o número de evangélicos que, apesar de amarem a Cristo, vieram a desamar a igreja local. São pessoas que se decepcionaram com o lado visível do povo de Deus. Não é fácil contatá-las, nem trazê-las de volta ao redil. Todavia, não podemos deixá-las sem o calor de nossa comunhão, pois, com o tempo, esfriar-se-ão na fé.
Dediquemos atenção e tempo a essas ovelhas que, amando o Bom Pastor, ainda não aprenderam a amar-lhe o rebanho. Se as convidarmos a estar conosco, em breve hão de desfrutar de nossa afeição. Não será difícil
encontrá-las; seus nomes acham-se nos róis de nossas igrejas.
3. Evangélicos sem o evangelho, ovelhas sem pastor. As igrejas evangélicas midiáticas acabaram por gerar um tipo de crente vazio de Cristo, mas cheio de fórmulas mágicas. Doutrinado a contribuir em busca de um favor divino, apega-se ao terreno, como se a sua vida fora perpetuarse no tempo, sem nenhuma perspectiva da eternidade.
Desprovidos do evangelho, os tais evangélicos são tão idólatras quanto os católicos. Se estes têm os seus santos, aqueles santificam de tal forma os seus estimados e infalíveis líderes, que os colocam acima do próprio Deus. Sem esboçar a mínima reação, são submetidos a uma lavagem cerebral que, num primeiro momento, despoja-os de seus bens; num segundo, de sua vontade; e, num terceiro, da própria alma. Além dessa idolatria, essas ovelhinhas são sincréticas em sua boa fé. Em vez de atuarem como o sal da terra, contentam-se elas com o sal grosso vendido a preço de ouro. Recuando às práticas mais trevosas e medievais, os evangélicos nominais praticam uma fé alicerçada em fórmulas mágicas, relíquias e indulgências. Para eles, a fé não é apenas um ópio, mas uma droga que os mantém afastados da realidade divina e alienados quanto à verdadeira fé.
É hora de evangelizarmos os que, dizendo-se crentes, ainda não creem como devem crer; identificando-se como salvos, ainda não experimentaram a alegria da salvação em Cristo; presumindo-se nascidos de novo, sequer foram gerados pelo Espírito; e, achando-se pentecostais, perdem-se num perigoso e nefasto misticismo. A esses, pois, apregoemos que Jesus, e tão somente Jesus, salva, batiza com o Espírito Santo, cura as enfermidades e que, em breve, há de voltar para levar-nos a estar com Ele para sempre.

Conclusão
Aproveitemos, pois, as oportunidades. Anunciemos a Cristo a tempo e fora de tempo. Ao nosso redor, há muitos pontos de contato que podem ser aproveitados para falarmos do amor de Deus ao vizinho, ao colega de trabalho, ao companheiro de estudos e ao transeunte que, atribulado e sem direção, perambula por nossas ruas.
Se proclamarmos o evangelho conforme o Senhor nos ordena, em breve alcançaremos os confins da Terra com a mensagem de salvação. Cristo, a Rocha Eterna que desceu do céu para fazer-nos subir ao Pai.
Deixemos bem claro, principalmente aos que se dizem religiosos, que somente o Senhor Jesus, o autor e fundamento da verdadeira religião, é que pode salvar-nos da perdição eterna.