quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

(SUBSÍDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 10-4TR 2016) JOSAFÁ E A ADORAÇÃO A DEUS EM MEIO AO CAOS

Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.
— Isaías 55.6

Josafá foi o quarto rei de Judá depois de Asa, seu pai, o qual reinou por quarenta e um anos tendo iniciado seu reinado em 911 a.C. Foi um rei exemplar e, nos primeiros dez anos, Asa fez prosperar o reino expandindo seu domínio. Edificou cidades e as fortificou com muralhas, torres e portas pesadas (2 Cr 14.6,7), de tal modo que não era fácil a entrada de gente estranha ao reino. Depois de alguns anos de paz, Asa deixou de buscar a Deus e tomou decisões que trouxeram guerra e problemas políticos para o seu reino. Dois anos antes de sua morte, Asa ficou doente nos pés, vindo a falecer. Foi sucedido no trono por seu filho Josafá, em 873 a.C.
A história de Josafá ganha importância pelo cuidado inicial que ele teve em dar continuidade a algumas obras iniciadas por seu pai. Josafá foi um rei enérgico e muito hábil em seus dias. Sua aprendizagem inicial foi como corregente por três anos junto ao seu pai. Josafá procurou desenvolver uma relação de paz com Israel, uma vez que eram irmãos. Porém, essa aliança feita com reis de Israel lhe trouxe problemas no seu reino. Sua história nos traz lições preciosas que nos mostram uma liderança espiritual, sujeita a falhas como qualquer outra liderança, mas alicerçada em princípios de temor a Deus. As lições dessa liderança são úteis para a igreja de Cristo nos tempos atuais, quando lutamos contra potestades espirituais que procuram desestabilizar a igreja na sua relação com o Senhor. Por outro lado, aprendemos com Josafá, princípios com os quais podemos fazer a igreja crescer.

OS ANTECEDENTES DO REINO DE JOSAFÁ A Divisão do Reino de Israel
É sempre difícil entender por que Deus permitiu essa divisão do seu povo em dois reinos, o de Israel e o de Judá. Mas os livros dos reis e das crónicas do Antigo Testamento entraram no cânon das Escrituras, porque Deus não vê no sentido horizontal, mas no sentido vertical, de cima para baixo. Ele conhece todas as coisas e seu cetro de poder sobre o seu povo está em suas mãos. Quando lemos sobre os dois reinos, Israel e Judá, entendemos o paralelo histórico que existe entre os fatos registrados nos livros dos reis e nos livros das crónicas. Todos os fatos registrados nesses livros apresentam a história das divisões entre os povos do norte e do sul do povo de Israel, identificados como “o Reino do Norte, Israel” e o “Reino do Sul, Judá”. O Reino do Norte ficou com dez tribos, e o Reino do Sul com duas tribos. Essa divisão do povo de Israel aconteceu nos dias de Roboão (924 -908 a.C.), filho de Salomão que deixou de buscar a Deus e seguiu os passos de seu pai quando se envolveu com a idolatria pagã. Ele se casou com Naamá, mulher amonita, que fora uma das muitas mulheres de Salomão, e esta muito o influenciou em decisões importantes do reino. O reino enfraqueceu economicamente, e muito mais espiritualmente. Com o enfraquecimento econômico do reino, Roboão resolveu aumentar a carga tributária que já era pesada desde os tempos de Salomão sobre o povo. Por causa dessa carga tributária, Roboão não se dispôs a aliviar os impostos sobre o povo. Pelo contrário, endureceu ainda mais sem usar de bom senso e respeito pelo povo. As tribos que viviam no norte de Israel romperam com as tribos do sul (2 Cr 10.1-15), e assim aconteceu a separação do norte e do sul.

Os Dois Reinos e seus Reis, Jeroboão e Roboão
As dez tribos formaram outro reino, sobre o qual reinou Jeroboão, e o chamaram Israel; as duas tribos, Judá e Benjamim, com a capital Jerusalém, formaram o Reino de Judá, e Roboão foi o seu rei. Jeroboão, fazendo-se rei do Norte (Israel), foi um mau rei voltado para a idolatria. Ele desafiou a religiosidade do seu povo e construiu um santuário para um Bezerro de Ouro, abrindo espaço para dois centros de adoração entre as tribos do norte. Por outro lado, assumiu o reino de Judá o jovem Roboão, que foi um mau rei (2 Cr 12.14,15). Seu fracasso começou, sem dúvida, quando seguiu o mau exemplo de seu pai, Salomão, tendo uma vida polígama com muitas mulheres e concubinas. Asa era neto de Roboão e Maaca, e, quando feito rei, restaurou o culto a Deus e fez um excelente governo em Judá nos anos (905-865 a.C.). Seu filho Josafá, foi corregente com o pai, e depois da morte de Asa, reinou sobre o reino de Judá.

0 REINO DE JOSAFÁ Quem Era Josafá
Josafá foi o quarto rei de Judá (870- 848 a.C.) e adquiriu experiência no reino sendo corregente com seu pai, Asa, por aproximadamente três anos (1 Rs 22.41-50). Josafá, tendo o pai como referencial de governo e espiritualidade, exerceu um governo de grande prosperidade. Diz o texto que ele “andou nos primeiros caminhos de Davi, seu pai” (2 Cr 17.3). Sua mãe chamava-se Azuba e não parece que tenha exercido qualquer influência sobre ele. Enquanto o outro reino, o reino de Israel, permitiu que a idolatria dos dias de Acabe e Jezabel dominasse o reino, o rei de Judá, Josafá, ao contrário, desfez e mandou quebrar os altares construídos nos montes aos deuses pagãos. Ele entendeu de início que o seu reino prosperaria se voltasse a servir a Deus. Então ele enviou seus príncipes por todas as terras do reino de Judá para ensinarem ao povo acerca do Deus de Israel mediante a obediência e o respeito à Lei e aos mandamentos do Senhor. Para tirar o povo da crise econômica e espiritual, Josafá cria fortemente que só haveria uma reforma verdadeira e segura se o povo voltasse a reconhecer a soberania de Deus. Seus príncipes, sacerdotes e levitas se dedicaram a visitar todos os lugares do reino ensinando a Palavra de Deus.

Prosperidade de Josafá no Reino de Judá
No terceiro ano de seu reinado, Josafá estabeleceu um sistema para administrar a justiça em todos os lugares de Judá. Para tal empreendimento, visando estabelecer ordem no reino, ele nomeou juízes capazes para julgar as causas do povo em todo o reino. Eram pessoas de confiança do rei, as quais deveriam administrar a justiça sem temor, sem favores nem suborno.
Josafá levou o avivamento ao coração do povo por meio do ensino do “livro da Lei”. Principalmente, os levitas e sacerdotes de Jerusalém deveriam cumprir essa missão. De cidade em cidade, aos sábados, especialmente, eles reuniam o povo nas praças. Como não havia sinagogas nem templos fora de Jerusalém, esses comissionados do rei iam às praças e ensinavam ao povo acerca dos seus deveres para com Deus, com o próximo e com o reino, com a garantia da bênção de Deus. Essa ação promoveu um grande avivamento espiritual no coração do povo. Deus honrou a Josafá, e um grande exército — com aproximadamente 700 mil homens valentes — estava à disposição para defender a sua terra e o reino. Temos a tendência de diminuir nossa devoção ao Senhor quando gozamos de prosperidade, quando não falta dinheiro no bolso, quando temos saúde abundante, quando tudo está aparentemente em paz. Muitos líderes em seus sucessos se esquecem de buscar ao Senhor e passam a agir por conta própria, sem consultar nem depender de Deus. Josafá começou a agir com atitude independente e começou a errar.

AMEAÇAS ENFRENTADAS POR JOSAFÁ A Perigosa Aliança Feita com Acabe
Ainda nos dias de Acabe, rei de Israel — um rei que trouxe desgraça para o povo de Deus porque não temia ao Senhor —, o rei Josafá, desejando que houvesse paz entre os dois reinos, faz uma aliança com a casa de Acabe. Josafá e Acabe negociam o casamento de Jorão, filho de Josafá, com a filha de Acabe e Jezabel, chamada Atalia. Jezabel tinha uma forte influência sobre seu marido, Acabe, e, naturalmente, sobre seus filhos. Não foi diferente com Atalia, que preferia os deuses fenícios ao Deus de Israel. Nessa aliança, Acabe e Josafá entraram em guerra contra os tiros a fim de tomar a Ramote-Gileade. Acabe tramou um plano pernicioso para que Josafá fosse morto e ele levasse a fama da guerra. Nesse tempo, enquanto estão na guerra, Atalia, mulher de Jorão, toma posse do trono de Judá, levando Israel à apostasia por seis anos. Quando Josafá volta ao seu lugar no reino de Judá, entendeu o perigo do jugo desigual com os incrédulos.
Josafá deixou de buscar ao Senhor e passou a agir por si mesmo, confiado apenas na sua capacidade de governante. Por outros interesses, fez aliança com Acabe, que era um rei perverso e sem o menor temor de Deus no seu coração. Essa aliança não agradou ao Senhor porque punha o seu povo em perigo. Essa aliança foi selada com o casamento com a filha de Acabe, um parentesco que lhe traria derrota moral, física e espiritual.

Repreensão de Deus por meio do Profeta Jeú
Josafá, sem consultar a Deus, fez uma aliança com Acabe, rei de Israel. Foi uma aliança militar que produziu uma derrota para ambos os reinos. Deus levantou ao profeta Jeú, que condenou a aliança com Acabe, um rei inimigo de Deus e do povo de Israel. Mas Deus conhecia o coração de Josafá e sabia que havia temor, a despeito da atitude precipitada que havia tomado na aliança que fez com Acabe. Por isso, a ira de Deus foi desviada de Josafá, porque este havia resgatado o verdadeiro culto a Jeová. Josafá resgatou a ordem de justiça na terra de Judá, e um novo sentimento de segurança nas famílias, de justiça, de prosperidade material e espiritual passou a dominar o coração do povo. Depois da repreensão, Josafá humilha-se perante o Senhor e, além das reformas estruturais no governo das cidades de Judá, restabelece o lugar de Deus na vida do povo.

Josafá Enfrenta Ameaças contra o seu Reino
Em meio às mudanças positivas que Josafá realizou em seu reino, surge uma crise política externa provocada pelos moabitas, que declararam guerra contra Judá. A informação chegou a Jerusalém de que um forte exército estava marchando para a cidade santa. Foi uma terrível

notícia, e, então, Josafá convoca o povo para um jejum nacional com oração a Deus para o Senhor interferisse naquele ataque de Moabe.
Um pouco antes desse ataque dos moabitas contra Judá, conforme está descrito no capítulo 18, Acabe e Josafá firmam uma aliança contra os moabitas e amonitas. Eles partiram para a guerra contra esses povos, e a batalha foi trágica em Ramote-Gileade da Síria. Nessa batalha, Acabe foi ferido (2 Cr 18.33,34). Acabe tramou uma situação em que Josafá viesse a ser morto, mas os amonitas e moabitas viram que Josafá não era Acabe, por isso, não o mataram (1 Rs 22.1-38; 2 Cr 18.28-32). Sem dúvida, o Senhor o protegeu. Por essa razão, Josafá foi repreendido pelo profeta Jeú, principalmente pelo fato de ter-se aliado com Acabe (2 Cr 19.1,2).
Visto que estava seguro de que suas fronteiras eram bem protegidas e não corriam o risco de serem ultrapassadas, Josafá se descuidou. Os amonitas, os edomitas e os moabitas uniram forças para invadir Judá cruzando o Mar Morto em direção a En-Gedi com muitos soldados, cavalos e armas de guerra. Então, Josafá, consciente do erro que havia cometido na sua aliança com Acabe, entendeu que Jeová, o Senhor Todo-Poderoso, o Deus de seu povo, poderia salvá-lo, bem como ao povo de Judá, de serem destruídos pelo inimigo.

ATITUDES VITORIOSAS PARA ENFRENTAR AS AMEAÇAS
Josafá precisou agir rápido, com atitudes que fossem capazes de mudar o estado de espírito do povo, que estava assustado com a aproximação de um grande exército formado com aliados inimigos do reino de Judá. Essas atitudes requeriam a união de todo povo, e todas as famílias responderam positivamente ao apelo do rei.

Josafá Propõe ao Povo Invocar o Nome do Senhor
Josafá, mediante a ameaça dos moabitas, convocou o povo em jejum e oração juntamente com ele. Na sua oração, Josafá reconhece a soberania de Deus sobre todas as coisas e como sendo o único que poderia intervir naquela situação (2 Cr 20.6-12). Jejum e oração são dois ingredientes eficazes para solucionar o problema. Todo o povo de Judá sabia e, reunido numa demonstração de fé e confiança em Deus, aceitou o pedido do rei Josafá de clamar pelo Senhor em seu socorro. Era uma nação inteira buscando a Deus. Nossa nação brasileira está vivendo uma de suas maiores crises, que abrange a todos econômica e moralmente, porque a mentira, o engano e a incredulidade campeiam as mentes. É tempo de as igrejas se unirem para orar e jejuar pedindo a intervenção divina. A prática do jejum e da oração quase não mais existe, e os cristãos estão à mercê dessa tragédia moral e espiritual na nossa nação. Nenhum cristão verdadeiro duvida do poder da oração. Aquela atitude do rei Josafá significa um ato de humilhação nacional em total dependência de Deus. Era a admissão de culpa e a intenção de alcançar a misericórdia e o socorro divino para aquela situação inevitável. O povo atendeu ao apelo do rei Josafá, começando ali um grande avivamento espiritual na vida de todos. Não há crise que não possa ser vencida quando confiamos no Senhor. Davi, em um dos seus cânticos disse: “Uns confiam em carros, e outros, em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor, nosso Deus” (SI 20.7).
Nos grandes desafios da igreja atual, quando ameaçada por circunstâncias materiais, morais e espirituais, as soluções espirituais têm sido menosprezadas por soluções meramente humanas. E tempo de restaurar a invocação ao nome do Senhor! Jejum e oração são práticas raras nos tempos modernos, mas sempre estiveram na experiência dos grandes servos de Deus (2 Co 6.5). Jesus declarou que aquela casta de demônios que dominava um pobre homem só seria expelida “pela oração e pelo jejum” (Mt 17.21).

Deus Fez o Povo Ouvir a Voz Profética de Jaaziel
Mesmo em meio à crise, Deus sempre tem alguém que ouve a sua voz e se torna voz profética para o seu povo. Foi o que Deus fez em Judá. No meio do povo de Deus sempre haverá espaço para ouvir a palavra do Senhor por meio de seus profetas. O Senhor não falava só nos tempos históricos, mas ainda fala pelo “dom da profecia” na sua igreja, porque cremos na atualidade dos dons espirituais. Deus levantou Jaaziel, que profetizou para o povo e levantou o ânimo de todos. Na palavra profética, Deus disse que o seu povo não entraria em guerra, com estas palavras: “Nesta peleja, não tereis de pelejar; parai, estai em pé e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém; não temais, nem vos assusteis; amanhã, saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco” (2 Cr 20.17). Na peleja contra o inimigo de nossas almas precisamos confiar no Senhor. Temos dois modos de ouvirmos a voz profética em nossos dias. Aquele que profetiza mediante a inspiração da palavra pregada e ensinada, bem como mediante o dom do Espírito, quando o profeta ouve de Deus e transmite à igreja a mensagem divina (Ef 4.11; 1 Co 12.10). Precisamos de um avivamento capaz de reativar os dons espirituais na igreja.

0 Povo Foi Estimulado a Louvar e Adorar ao Senhor
O rei Josafá não teve dúvida da voz profética de Jaaziel (2 Cr 20.15). Desde o rei até ao mais simples súdito do reino, todos aceitaram a mensagem de Deus e começaram a adorar e a louvar ao Senhor (2 Cr 20.18,19). Os levitas, não só os que serviam nos sacrifícios, mas aqueles que tinham a missão da adoração e do louvor, começaram a louvar ao Senhor pela sua majestade santa, pela sua benignidade eterna. Houve grande júbilo e a certeza da vitória que o Senhor daria ao seu povo. O louvor, quando ministrado de forma a reconhecer a soberania divina, tem o poder de abrir portas na presença de Deus. Quando o povo começou a adorar a Deus, Josafá acalmou seu coração porque entendeu que o Senhor cumpriria a sua palavra e nenhuma família se perderia. Quando os exércitos inimigos se aproximaram de Jerusalém e ouviram o som dos louvores, diz a bíblia que começaram a cair em emboscadas e se destruírem uns aos outros, sem que ninguém do povo judeu precisasse fazer qualquer coisa. Os exércitos inimigos foram desbaratados porque Deus os confundiu (2 Cr 20.24).
Josafá e todo o povo de Israel descobriram que as nossas batalhas sem o Senhor na direção significam tragédia. Quando reconheceram a soberania de Deus para fazer o impossível, não tiveram mais dúvidas: só o Senhor é capaz de nos dar vitória para fazer valer sua palavra sobre nós. O povo de Judá e o seu rei aprenderam a colocar Deus no seu verdadeiro lugar como Senhor e Rei soberano, e o fizeram mediante o louvor e a adoração. Deus impediu que os inimigos entrassem em

Jerusalém confundindo-os e, por isso, o povo de Judá demonstrou gratidão a Deus pela vitória que o Senhor lhes concedeu.
CONCLUSÃO

A história de Josafá é uma história de proezas políticas, econômicas e espirituais porque tinha como referencial o seu pai Asa. Como homem, teve suas falhas, mas seu coração ainda estava com o temor a Deus. Soube pedir perdão ao Senhor e arrepender-se quando errava, e Deus se agrada de um coração contrito. Os fatos da história de Josafá se constituem modelo para quem quer superar crises. Ele buscou ao Senhor e reconheceu a soberania divina para solução de seus problemas, louvando e adorando ao Senhor.

A oração e o louvor a Deus constituem a arma secreta do crente na luta contra o Inimigo.



terça-feira, 22 de novembro de 2016

(SUBSÍDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 9 ) ELISEU: MILAGRES EM TEMPOS DE ESCASSEZ

[O Senhor] faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e veste.
Deuteronômio 10.18

A importância do profeta Eliseu começa pelo significado do seu nome na língua hebraica — “elisha”, que significa “Deus é salvação” — e no grego do Novo Testamento é “elissaios” (Lc 4.27). A vida de Eliseu indica que tinha uma família abastada, porque arava uma terra que tinha vários empregados. Era um homem rude, sem formação acadêmica alguma, que tinha calos nas mãos pelo serviço que exigia força e saúde para ser feito. Seu tempo de vida passou por, pelo menos, quatro reis de Israel — Jorão, Jeú, Jeoacaz e Jeoás nos capítulos 5 a 13 de 2 Reis — além de outros reis, inclusive estrangeiros, como o rei da Síria, Ben-Hadade, Hazael e até o rei de Judá, Josafá (2 Rs 3.11-19). Eliseu era um homem sem discriminação, que ia à casa de uma pobre viúva e até aos palácios dos reis. Quando foi desafiado a seguir o profeta Elias, Eliseu não titubeou na decisão de segui-lo. Desvencilhou-se de suas atividades rurais e passou a seguir a Elias, de quem se tornou o auxiliar imediato.
Acompanhando Elias até o seu arrebatamento por cima de sua cabeça, Eliseu não se descuidou e assistiu à maravilha de ver um carro de fogo que, mais rápido que a força do vento, passou entre os dois e os separou um do outro, levando Elias para o alto. Uma intervenção do sobrenatural sobre o natural que só Deus pode fazer. Os racionalistas rejeitam a literalidade da história, mas nós cremos no poder sobrenatural que o Senhor manifesta quando quer.
A partir de então, a história de Eliseu toma um rumo diferente. Ao tocar a capa de Elias nas águas do Jordão e elas se abrirem fazendo um caminho para que ele passasse para o outro lado, Eliseu não teve mais dúvida. Estava investido de autoridade espiritual, e a partir daquele momento iniciava seu ministério, que se tornou ousado e com operação de milagres (2 Rs 2.1,11-14). Ele vira o que Deus havia feito por meio de Elias e, agora, investido do mesmo poder e autoridade, os milagres começaram a acontecer. Eliseu se tornou o canal de milagres operados em várias ocasiões diferentes. A começar pela casa de uma viúva e dois filhos. Era a viúva de um profeta, a qual, sem condições de pagar uma dívida deixada pelo marido, corria o risco de ter que entregar os seus dois filhos para um tempo de serviço escravo poder pagar a dívida.
Essa narrativa bíblica descreve o modo de Deus agir por meio do seu servo Eliseu, multiplicando o azeite de um vasilhame de barro que havia na casa da viúva. A bondade de Deus foi demonstrada na vida daquela família que acreditou na orientação do profeta e foi agraciada com o milagre da multiplicação do azeite.

AS PRIMEIRAS PROEZAS DO MINISTÉRIO DE ELISEU
Desde a travessia do rio Jordão mediante a visão gloriosa e literal da elevação de Elias em carro de fogo (2 Rs 2.12-14), Eliseu estava consciente de que o ministério profético estava sobre os seus ombros. Os sinais que caracterizaram a vida do profeta Elias se manifestaram sobre a vida de Eliseu.

Eliseu se Depara com uma Crise de Águas Contaminadas em Jericó
A água é vital para uma cidade, e Jericó estava vivendo o drama da água contaminada em seus mananciais. Não é de estranhar que as águas de Jericó fossem ruins, pois essa cidade era uma cidade amaldiçoada; por isso, o seu solo era improdutivo (Js 6.26). Porém, o servo de Deus estava lá e mais cinquenta moços da escola de profetas que haviam assistido
ao arrebatamento de Elias, que náo acreditavam que Elias tivesse, de fato, subido ao céu num redemoinho, mas que poderia estar em algum monte. Por três dias o procuraram e não o encontraram. Ao voltar para Eliseu, reconheceram que ele agora era o seu novo líder, e deveriam respeitá-lo e obedecer-lhe. Em Jericó, ao voltar, depararam-se com o problema das águas contaminadas em seus veios. Não só os filhos dos profetas, mas os chefes de famílias da cidade de Jericó também reconheceram que Eliseu tinha algo mais que poderia resolver o problema da água e foram até ele. Eliseu não discutiu com eles, mas exerceu sua fé no sobrenatural usando meios naturais para demonstrar o poder de Deus (2 Rs 2.20). Ao pedir que trouxessem sal num prato, não dá direito a ninguém de querer imitar milagres passados e dogmatizá-los como modo de Deus operar hoje.
Grupos neopentecostais, que gostam de explorar essas coisas, procuram ensinar a prática de colocar sal em casas, terrenos e outras coisas, como se Deus se limitasse a operar sempre do mesmo modo. Refutamos essas práticas utilizadas por líderes cristãos que dependem de manipulações para fazer acontecer alguma coisa. O Deus de milagres sempre operará como quiser porque Ele não fica circunscrito a experiências passadas.
O saneamento das águas más aconteceu com o sal colocado nas águas, mas a cura daquelas águas não era por causa do sal, mas sim pelo poder de Deus. Em outra ocasião, quando Israel peregrinava no deserto sob a liderança de Moisés, o povo encontrou água, mas aquela água era amarga, e o povo começou a murmurar contra Moisés, dizendo que ele havia trazido o povo para morrer de sede e de fome no deserto (Êx 15.22-26). Moisés chamou aquela lagoa de “Mara”, que significa “amarga”. Deus orientou Moisés a tomar um pedaço de uma árvore do deserto e lançá-lo naquelas águas; assim elas seriam saradas e transformadas em água potável (Êx 15.23-27). Naquele lugar, o Senhor se manifestou a Israel como Yahweh Ropheka, ou de forma aportuguesada como Jeová-Raphah, que significa “O Senhor que cura”.

Uma Intervenção Divina numa Circunstância Difícil
Três reis que não serviam ao Senhor Deus de Israel — Jorão, rei de Israel (2 Rs 3.1), Josafá, rei de Judá (2 Rs 3.7) e o rei de Edom (2Rs 3.9) — se uniram para enfrentar os exércitos de Moabe, que eram muito fortes. Na realidade, os três reis, mesmo não sendo tementes a Deus, reconheciam que em Israel havia um homem de Deus que tinha a resposta que eles precisavam ouvir. Joráo era o filho mais novo de Acabe, um rei que fora inimigo do profeta Elias e não merecia qualquer cooperação da parte do homem de Deus, Eliseu. Josafá foi um rei profano, e o rei de Edom era pagão. Porém, Josafá sabia que Deus agia de modo especial por meio de um homem especial, o profeta Eliseu (2 Rs 3.11). Aqueles três reis haviam marchado para ir ao encontro dos exércitos de Moabe, sabendo que aqueles exércitos eram muito mais poderosos que eles.
Pergunta-se então: Por que Deus resolveu intervir naquela guerra? Em primeiro lugar, para preservar o seu nome perante as nações e para demonstrar àqueles reis que a causa maior e mais importante daquela intervenção era Eliseu. Eliseu era o homem que representava os interesses divinos naquelas terras. Por isso, Eliseu tinha a palavra que eles precisavam ouvir. Esses exércitos se encontraram no deserto de Edom depois de sete dias de calor, sequidão e falta de água. Eliseu, confiante na providência divina, deu ordem para que eles cavassem muitas covas, porque viria uma grande chuva e encheria aquelas covas e supriria a necessidade dos soldados (2 Rs 3.16,17). Aqueles reis não duvidaram da palavra de Eliseu, e puseram seus homens para cavar covas nas terras desérticas e vermelhas de Edom. Vieram as chuvas e encheram aquelas covas. A cor da água ficou avermelhada e, quando os moabitas se preparavam para marchar com aqueles reis, foram confundidos porque a chuva caiu apenas nas terras onde estavam os três e a força do sol com seu brilho virou um espelho avermelhado que fez com que os moabitas, vendo a cor de sangue naquele deserto, entendessem que podia ser o sangue dos exércitos mortos. Os moabitas levantaram-se para invadir as cidades de Israel, mas foram surpreendidos com a reação dos exércitos dos três reis e foram destruídos, porque Deus assim o permitiu. Não importa como acontece nas intervenções divinas. O que vale é saber que Deus é poderoso para mudar situações.
Na caminhada ministerial de Eliseu, muitas proezas e milagres aconteceram porque o Senhor era com Ele.

UMA FAMÍLIA PIEDOSA EM DIFICULDADES A Crise Económica de uma Família
Esta história vem logo após um incidente internacional que provocou uma guerra de três reis contra o rei de Moabe. Nesse incidente, Deus usou Eliseu para demonstrar a intervenção divina numa circunstância que nenhum homem comum poderia resolver. Entende-se que por amor à casa de Davi, Deus deu vitória aos três reis.
No capítulo 4, Eliseu se volta às famílias dos profetas quando se depara com a situação alarmante de uma viúva e seus dois filhos que estavam vivendo um estado caótico de gêneros de primeira necessidade e uma dívida impagável. A narrativa não identifica o nome dessa mulher, que era esposa de um profeta que havia falecido e deixado uma dívida. A situação daquela família era de completa penúria, pois além da perda do marido, estavam vivendo uma crise económica, em que faltavam alimentos básicos e não tinham nenhum recurso financeiro. A viúva corria o risco de perder seus dois filhos para os credores. Seus filhos poderiam ser vendidos como escravos para saldar a dívida. O texto indica que o marido dessa mulher poderia ter sido um servidor do profeta Eliseu. A situação era gravíssima, pois não havia nem dinheiro nem qualquer tipo de alimentos dentro de casa. Era pobreza total, e isso significava privação das necessidades básicas da vida. A Bíblia nos dá a garantia de que “Deus faz justiça ao órfão e à viúva” (Dt 10.18; SI 68.5; 146.9).
Vivemos em tempos de grandes dificuldades económicas, quando muitas famílias estão em total pobreza material. Famílias inteiras que vivem nas favelas das grandes cidades comem restos de comida encontrados nos lixões das cidades. Sem alimentação, nem educação, nem segurança, a pobreza gera desespero e violência, e os governos tentam fazer alguma coisa, mas muito pouco é feito para mudar esse estado caótico de pobreza. Nesse meio se encontram muitos cristãos fiéis a Deus que vivem de migalhas e muito pouco que as igrejas fazem por eles. Muitas igrejas ficaram ricas e usam os seus recursos para quaisquer projetos de construções e outras coisas mais, porém muito pouco é investido na obra social para amenizar a pobreza dos nossos próprios irmãos na fé.

A Situação daquela Viúva e seus Dois Filhos
Naquele tempo, o povo rural enfrentava muitas dificuldades para fazer as culturas locais produzirem; por isso, a pobreza era grande e a maioria dos colonos estava endividada. Uma vez que as colheitas não eram boas, os colonos rurais se viam obrigados a vender suas terras e outros bens materiais, e até a própria família, para saldar suas dívidas. Uma vez vendidos os filhos dessa viúva, as leis que regiam esses negócios exigiam seis anos de serviços para saírem da escravatura. A situação daquela viúva era triste, porque ela não tinha outra saída para a solução do problema senão pagar a dívida com o trabalho servil de escravo dos seus filhos. Naquela época, as mulheres eram privadas de direitos e, principalmente, as viúvas. A viúva poderia encontrar algum parente que se tornasse o seu remidor e se casasse com ela. No caso daquela viúva com dois filhos, não houve ninguém que a remisse. Pelo contrário, a dívida contraída por seu marido deveria ser paga com a entrega de seus dois filhos ao credor (Êx 21.1-11; Lv 25.29-31; Dt 15.1-11). Nesse contexto inevitável, essa pobre viúva precisaria de uma intervenção de Deus para mudar aquele estado de desespero. Ela lembrou-se do homem de Deus que a conhecia e sabia da situação que estava vivendo. O texto diz que ela clamou ao profeta e mostrou a sua situação. Ela sabia que Jeová é aquele que “faz justiça ao órfão e à viúva” (Dt 10.18).

0 ATO BENIGNO DE ELISEU QUE OPEROU UM MILAGRE Eliseu Cria em El-Shaddai, o Todo-Poderoso
Eliseu ouviu os reclamos daquela viúva e, naturalmente, como homem comum, ele se sente incapaz de resolver o problema. Porém, ele sabia muito mais que o seu Deus, o El-Shaddai, era aquEle que podia operar o milagre na casa daquela mulher. Ele sabia que o El-Shaddai havia se manifestado muitas vezes em variadas situações na história de homens e mulheres da Bíblia, e que só Ele poderia operar o milagre na vida daquela família.

0 Deus de Milagres Operou de Modo Especial na Casa daquela Viúva
Quando Eliseu pergunta àquela viúva “Que te hei de fazer?”, estava confrontando os limites de sua pessoa como homem, que estava pronto para ajudar, dentro dos limites desse seu espírito humanitário. Eliseu não agia com atitude presunçosa só por causa dos milagres que já haviam sido operados por seu intermédio. Ele tinha consciência de suas limitações, e não ostentava atitude de senhorio sobre as operações de Deus. Mas, confiante no poder de Deus e certo de que é Deus que “faz justiça ao órfão e à viúva”, lhe daria uma solução que resultasse na glória de Deus. Na segunda pergunta do profeta à viúva, “Que é que tens em casa?”, ele vislumbrou em sua mente a operação de Deus.
“Que é que tens em casa”? (2 Rs 4.2) é uma pergunta que, colocada no contexto das famílias na sociedade atual, se choca com a realidade da pobreza, da mendicância nas cidades, da busca de alimentos nos lixões das grandes metrópoles, dos maus serviços de saúde. A igreja de Cristo na terra não pode fugir ao seu papel social, e sim seguir o exemplo da igreja que saiu do Pentecostes (At 4.32-35). Em vez de querermos espiritualizar todas as suas ações, a igreja deveria investir em exercer justiça social. Não adotamos a teologia da libertação dos teólogos modernos, nem devemos cruzar os braços sem alguma ação em favor dos necessitados. Essa pergunta deveria ser feita pelos adeptos da teologia da prosperidade, que confundem o “ser com o ter” e ensinam que os pobres são pobres porque não conseguem a bênção da prosperidade. Existe uma teologia chamada “teologia da pobreza” que ensina e declara que pobreza material é garantia de espiritualidade, usando como texto para essa ideia equivocada uma interpretação da expressão “pobres de espírito” como pobreza material. Na história deste capítulo, Eliseu era o homem de Deus, que confiava em Jeová-Jireh e sabia que Deus podia mudar aquele estado de penúria daquela viúva e seus filhos. Por isso, perguntou-lhe: “Que é que tens em casa”? (2 Rs 4.2). A resposta da viúva foi clara e precisa: “Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite”.

Deus Começa o Milagre a partir do que Temos
“Tua serva não tem nada, senão uma botija de azeite. ” A lição maior que aprendemos com essa declaração da viúva é que, a partir do nada, ou do pouco que temos, Deus age e opera milagres. Na Bíblia temos histórias lindas dos milagres de Deus em prover a necessidades de seus servos. O que é que temos em mãos para começar a ver a operação de Deus? Moisés
tinha em mãos “uma vara”, e com essa vara Deus operou grandes maravilhas; Davi tinha uma funda, e com uma pedrinha matou o gigante Golias (1 Sm 17.23-25,40,49); Pedro e seus companheiros de pesca tinham uma rede e viram o milagre da pesca abundante depois de uma noite sem pegar nada (Lc 5.1-7); Dorcas tinha uma agulha de costura (At 9.36-40).
O que temos em mãos, ou em casa, para crer no Deus de milagres? Em 1954, na cidade de Chapecó, SC, meu pai, pastor Osmar Cabral, atendia a nova igreja na cidade e as dificuldades financeiras eram enormes. Certo dia, faltou de tudo em nossa casa. O comércio não vendia nada fiado para qualquer crente e meu pai saiu à procura de alguma coisa para trazer para casa numa outra cidade próxima. Minha mãe reuniu-se comigo e minha irmã, que tínhamos apenas 9 e 7 anos de idade, para orar a Deus que enviasse comida para a nossa casa. A noite, já muito tarde, alguém bateu à porta de nossa casa de madeira e perguntou pelo meu pai, que ainda não havia retornado. Essa pessoa se identificou e disse que Deus o enviara para trazer comida. Minha mãe o recebeu, e o homem trouxe para dentro de casa muito feijão, arroz, carne seca e outros alimentos. O Deus de milagres tocou no coração desse irmão que não nos conhecia, vindo de outra cidade, para encher a nossa casa de alimentos. E a partir de “uma botija de azeite” que Deus torna tudo abundante, porque Ele é o “Deus de toda provisão”.

A PROVISÃO NA MEDIDA CERTA
Eliseu trouxe tranquilidade e fé para aquela pobre viúva, tornando-a capaz de suprir as necessidades básicas de sua casa e com condição de pagar sua dívida com os credores. Ele a orientou como deveria fazer, porque o abastecimento da sua casa não seria momentâneo, mas serviria para ter em estoque muito azeite, que poderia ser vendido, e com o dinheiro ela sustentaria a sua casa e seus dois filhos continuariam com ela.

Provisão Abundante sem Desperdício
O que a viúva tinha em casa senão uma “botija de azeite”? Foi um bom começo o “ter uma botija de azeite”, mas se ela não tivesse nada, o Senhor operaria do mesmo modo.
O profeta orientou a viúva e seus filhos que pedissem emprestados muitos vasilhames próprios (vasos de barro), tanto quanto pudessem tomar emprestados. Sem que os vizinhos e amigos soubessem, seus filhos trouxeram muitos vasilhames para dentro de casa. Tudo quanto aquela viúva tinha em casa era “uma pequena botija de azeite”. Fecharam a porta da casa e obedeceram à orientação do profeta de “tomar a botija de azeite” e começar a derramar em cada vasilhame o restinho do azeite que havia na botija. Então o milagre começou a acontecer, porque o azeite não terminava e quanto mais eles enchiam os vasos, mas o azeite se multiplicava até o último vaso, quando o azeite parou de derramar. O azeite continuou a fluir enquanto havia vasos para recebê-los. Não houve desperdício. Tanto quanto havia em capacidade de receber azeite foi o que Deus fez fluir para resolver o problema da viúva e seus filhos.
A lição que aprendermos é que, do pouco que temos, podemos exercer nossa fé para obtermos a bênção de Deus em todos os aspectos de nossa vida material, emocional e espiritual. O apóstolo Paulo disse aos romanos que Deus dá da sua graça na medida da nossa fé, ou “conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12.3). Deus nos dá tanto quanto precisamos e dá abundantemente. Nunca Ele dá demais ou de menos, mas sempre na medida da nossa capacidade de gerirmos aquilo que Ele nos dá.

A Obediência à Orientação do Profeta Foi Fundamental para Perceber a Bênção
Aquela mulher podia discutir com o profeta o seu modo de resolver o problema, mas ela sabia que o homem de Deus tinha a resposta divina para a sua vida. Tudo o que ela precisava lazer era aceitar a orientação do profeta e colocar sua fé em ação. Para não haver interferência no milagre, a viúva e seus filhos deveriam “tomar vasos emprestados”, ou seja, vasilhames de cerâmica, tantos quantos pudessem conseguir, e trazê-los para dentro de casa. A viúva só tinha uma botija, um pequeno vasilhame; por isso, precisaria de muitos vasilhames. Ela sabia que deveria obedecer à orientação do seu líder espiritual como aquele que cumpre o papel de representar os interesses de Deus na terra. Para não haver a interrupção dos credores à sua porta, nem o de sentir-se orgulhosa pelo suprimento miraculoso, ela deveria fechar a porta atrás de si na sua casa. Ela fez tudo conforme a orientação do servo de Deus para que o milagre acontecesse. O princípio da autoridade espiritual é o mesmo para os nossos dias. Um pastor deve ser respeitado como homem de Deus, e esse respeito se conquista com o exemplo de vida piedosa.

0 Azeite Flui enquanto Houver Vasos Disponíveis
Houve um outro tempo na vida de Israel em que havia uma crise de fé e de espiritualidade nos dias do profeta Zacarias (519-520 a.C.). Esse profeta tem uma visão maravilhosa do modo como Deus supriria o seu povo nas suas necessidades. Entre outras coisas da visão, Zacarias viu um candelabro todo de ouro com as suas sete lâmpadas e um vaso por cima das lâmpadas que supria com azeite. Esse grande castiçal de ouro que representava o povo de Deus (Zc 4.2). Para um castiçal que estava sem azeite, não havia nenhum recurso humano que pudesse suprir esse castiçal, mas aquele vaso estava cheio de azeite para as lâmpadas.
Fazendo uma comparação com a história vivida pela viúva e seus dois filhos, o azeite que se multiplicava era a provisão de Deus para suprir as necessidades daquela família. Na Igreja, é preciso um novo azeite que traga avivamento e renovação espiritual.
O azeite torna-se uma tipologia da provisão de Deus na vida dos que dependem dEle para as suas necessidades. Os filhos da viúva conseguiram muitos vasos e os trouxeram para dentro de casa, mesmo sem saberem o que ia acontecer. Eles creram na operação divina para realizar o milagre. Matthew Henry comentou que “nós nunca estamos em dificuldades em Deus, em seu poder e generosidade, e nas riquezas da sua graça. Toda a nossa dificuldade está em nós mesmos. E a nossa fé que falha, não a sua promessa. Ele dá mais do que pedimos: houvesse mais vasos, haveria mais em Deus para enchê-los, o suficiente para todos, o suficiente para cada um”.
Muitas igrejas cristãs estão vivendo o drama da viúva com a despensa vazia. Vivem das experiências passadas porque não há mais vasos disponíveis para que o Senhor faça fluir o azeite. Os vasos podem representar aquelas pessoas que trazemos para “dentro da casa”, ou seja, que se convertem e as trazemos para o convívio da igreja.
A medida da fé é a medida das bênçãos.

sábado, 19 de novembro de 2016

(LIÇÃO 8 SUBSÍDIO TEOLÓGICO) RUTE: DEUS HONRA O TRABALHO PELA FAMÍLIA

Mulher virtuosa, quem a achará?
O seu valor muito excede o de rubis.
— Provérbios 31.10

O livro de Rute se torna especial dentro do período em que Israel não tinha rei e a liderança do povo estava a cargo de juízes, que orientavam o povo acerca da terra, da espiritualidade e da família israelita. Uma história que teve o seu ponto de partida ainda em terra estrangeira. Houve bons juízes, mas houve péssimos juízes que provocaram divisões, crueldade, apostasia, guerra civil e vexame nacional perante as outras nações. Na verdade, a história de Rute começou em terra estrangeira, na terra de Moabe, onde ela, uma moabita, se casa com um efratita de Belém, na Judeia. Por algo misterioso da parte de Deus, havia um desígnio especial para a vida de Rute, que ela mesma não conhecia e nem podia imaginar. O seu “deus”, antes, era um “deus moabita”; depois, ela conhece o Deus de Noemi e do seu marido, e se torna uma serva de Jeová, o Deus de Israel.
Rute ganha notabilidade por ter um caráter exemplar, uma generosidade e uma fé no futuro que a sua sogra Noemi não tinha. Segundo a história de Israel, ela notabilizou-se especialmente por ter sido mãe dos melhores reis de Israel. Rute era uma estrangeira moabita que entrou na vida de Israel por seu casamento com um judeu vindo de Belém para Moabe por causa da escassez daquela terra. Dois anos depois de casada com Malon, morreram o seu sogro Elimeleque, o seu marido e o marido de Orfa, casada com Quiliom. Os três homens daquela família morrem e deixam viúvas, Noemi, Rute e Orfa.
A partir de então, inicia-se uma das mais belas histórias bíblicas em que exalta o amor e a virtude de uma mulher moabita chamada Rute. É a história de um drama familiar de luto, subsistência e desesperança. É a história de uma crise generalizada de pobreza, doença, viuvez e morte. Nesse drama se destaca a tenacidade de Rute, que foi capaz de superar as dificuldades com atitudes de fé, inteligência, lealdade, persistência e esperança. E uma história que exemplifica o trabalho como o modo de suprir as necessidades primárias, mas, acima de tudo, confiando no Deus de toda provisão.

A CRISE ECONÓMICA NA TERRA DA JUDEIA A Escassez que Provocou Fome na “Casa do Pão”
“Casa do pão” é o significado do nome “Belém Efrata”, mas toda a região de Canaã estava afetada pela escassez de grãos, especialmente trigo e cevada. A escassez da terra, ressecada, sem chuva, não conseguia dar frutos e sementes, e o povo começou a passar necessidades. O texto de Rute 1.1 diz literalmente: “houve uma fome na terra”, isto é, toda a terra da Judeia estava escassa. Faltava-lhes não só os alimentos básicos de subsistência das famílias que viviam na região, mas a terra estava desolada. Toda essa situação resultava da má liderança dos últimos juízes de Israel, que abandonaram o Senhor e tornaram-se egoístas e idólatras. Esses fatos aconteceram entre 1268 a 1251 a.C., aproximadamente.
Belém, a “casa de pão”, estava vazia, sem o pão que representava o sustento físico e material do povo. A cidade deixou de ser um celeiro de grãos para ser um lugar de escassez e fome. Havia carestia e seca por toda a parte na terra de Canaã. Mediante a displicência dos líderes e do povo de Israel para com Deus, subentende-se que a fome era a disciplina de Deus ao seu povo por tê-lo abandonado e trocado por outras crenças pagãs (Lv 26.18-20; Dt 15,23,24). Naquele tempo, Israel afastou-se da comunhão com Deus e chegou a aderir aos ídolos pagãos. Nem todos agiam do mesmo modo, mas a disciplina era para todos.

A Crise de uma Família
Naturalmente, todas as famílias daquela terra foram afetadas e não foi diferente com a família de Elimeleque, sua esposa Noemi e seus filhos Malom e Quiliom. Elimeleque, certamente pai responsável pelo sustento da família, tomou uma decisão e a sua atitude foi a de mudar-se daquela região e procurar um lugar onde pudesse sustentar a família. A crise económica era um fato consumado e atingia a todos. Elimeleque agiu rápido e resolveu buscar solução para a subsistência da família em outro lugar. Em vez de ficarem parados, decidiram ir para a terra de Moabe, seguindo o caminho que lhes parecia mais racional, as terra planas daquele lugar estrangeiro.
Como qualquer outro homem de Israel, Elimeleque conhecia ao Senhor, mas não buscou sua orientação para a decisão que tomou. Preferiu agir por conta própria, sem qualquer orientação da vontade de Deus para a sua vida. De fato, achou que não precisava de Deus naquela decisão, e tal atitude é sempre uma ameaça a uma vida de fé. Ao chegarem aos campos de Moabe, Elimeleque entendeu que estaria livre para resolver seus problemas sem precisar recorrer a Deus, mas a experiência não foi fácil. Em vez de encontrar pão, encontrou enfermidades e privações. Depararam-se com a morte e não conseguiram escapar de outras crises. Enfermidade, morte e viuvez envolveram a vida dessa família, e só restaram Noemi, a mãe, e seus dois filhos, Malom e Quiliom. Essa crise produziu na alma de Noemi uma amargura enorme. Não demorou muito tempo, seu marido falece e ela nada pode fazer. Os dois filhos, Malom e Quiliom, se enamoraram de duas jovens moabitas e casaram com elas, brilhando uma nova esperança no coração de Noemi. De repente, os dois filhos são acometidos por enfermidades e ambos morrem. Não se sabe do espaço de tempo entre uma morte e outra, mas deixaram suas esposas na viuvez. Agora eram três viúvas que, no contexto da época, teriam enormes dificuldades de sobrevivência.
A lição que aprendermos nessa história é que, quando vivemos pelas aparências e não por fé, podemos sofrer consequências graves. Revoltamo-nos com Deus e o culpamos pelos nossos próprios pecados.

SUPERANDO AS CRISES EXISTENCIAIS O que São Crises Existenciais?

Para entender o que se passou com Noemi e Rute, é preciso entender o significado de experimentar uma crise existencial. Segundo especialistas, “crise existencial é um momento no qual um indivíduo questiona os próprios fundamentos de sua vida: se esta vida possui algum sentido, propósito ou valor”. Outra definição diz que “crise existencial é um estado emocional em que o ser humano vê a própria vida sem sentido ou significado”. Foi essa a experiência vivida por Noemi, que, tendo perdido o marido e seus dois filhos, em sua viuvez não via outra coisa senão a mão pesada de Deus contra ela. Rute foi mais forte, mas viveu um momento de amargura e dúvida a rondar sua cabeça sem ver alguma luz no final do túnel. Contudo, Rute foi capaz de não se deixar dominar por sentimentos negativos e ainda amenizou a amargura de sua sogra, ficando com ela e lhe dando toda a atenção e carinho.

A Crise Doentia de Noemi
Noemi chegou a um ponto de sua vida pessoal em que não via nenhuma saída racional para solucionar seu dilema. Ela estava vivendo a falta de perspectiva do que fazer para mudar aquela situação. Parecia ter chegado a um “beco sem saída” para sua vida física, emocional e até mesmo espiritual, porque havia perdido a esperança. Nossa visão da vida quando nos deparamos com crises se torna embaçada e limitada. Mas podemos superar essas crises com uma atitude de fé no Deus de toda provisão e declarar como o apóstolo Paulo, ao dizer aos romanos perseguidos em Roma: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31).

A Crise Momentânea de Rute
Vivendo o drama da solidão e da falta de recursos para subsistir, Rute teve uma crise mais leve que sua sogra Noemi. Ora, Noemi fora dominada por um sentimento de solidão. Rute chegou a ter momentos de esmorecimento ante o desafio de ter que arranjar alguma coisa para a subsistência delas duas. Noemi via a Deus como aquEle que a abandonou. Disse ela às duas noras viúvas: “[...] porquanto a mão do Senhor se descarregou contra mim” (Rt 1.13). Seus sentimentos tornaram-se amargos e não esperava mais nada, senão a morte. Porém, sua nora Rute foi capaz de superar as crises de sua casa e da sua sogra com uma visão de esperança, paciência e tenacidade para superar todas as dificuldades que viviam (Rt 1.16). Rute demonstrou possuir um caráter modelar, pois, sendo uma estrangeira e tendo uma formação pagã, ela foi sábia o suficiente para que a sua crise fosse passageira.

Noemi Decide Voltar à sua Terra

Noemi teve boas notícias da sua terra. Ouviu que o Senhor havia derramado de suas misericórdias para com o seu povo e que a terra recebeu chuvas, e o plantio de sementes de trigo e cevada frutificou, dando outra vez pão ao seu povo (Rt 1.6). Ora, Noemi, viúva, não estava só, porque suas noras moabitas, Orfa e Rute, também viuvas, ainda estavam com ela.
Noemi resolve voltar à sua terra na Judeia, pois a notícia de que a sua terra estava outra vez produzindo grãos em abundância encheu de esperança a Noemi. Até então, foram dez anos de luta e escassez na terra de Moabe. Tudo o que lhe restara era tomar o caminho de volta à sua terra na Judeia.
Noemi estava envelhecida; por isso, resolveu liberar suas noras Orfa e Rute para que voltassem às suas famílias de origem em Moabe (Rt 1.8). Orfa aceitou a liberação de sua sogra Noemi e voltou para sua família, mas Rute resolveu ficar com sua sogra (Rt 1.14-17). Noemi, não entendendo as razões do seu sofrimento até então, acreditava que Deus a estivesse castigando com todas as suas agruras vividas, mas não podia imaginar o plano presciente de Deus em todas aquelas circunstâncias. Aprendemos com o apóstolo Paulo que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28, ARA).
Roger C. Palms, um associado das cruzadas de Billy Graham, contou a experiência de “um homem que foi forçado a aposentar-se antes do tempo, devido a problemas cardíacos; porém, tinha absoluta consciência de que Deus sabia exatamente o que estava acontecendo e ainda tinha suas mãos divinas sobre ele. Entendeu que Deus o estava libertando de compromissos a fim de trabalhar com enfermos hospitalizados e com pessoas idosas. Foi o início de um ministério inteiramente novo, e ele se sente muito feliz”. Noemi não podia entender o que Deus estava reservando para a sua vida dali para a frente, porque Deus não nos abandona em circunstâncias adversas. Nem ela nem Rute podiam perscrutar o futuro reservado por Deus para suas vidas.

Rute Renuncia aos Deuses dos Moabitas e se Converte ao Deus de Israel
Foi uma reviravolta na vida de Rute. O seu amor por Noemi a fez conhecer o Deus verdadeiro, poderoso e invisível a quem Noemi servia. Ela não podia imaginar que seria mãe dos melhores reis de Israel, destacando-se Davi, na mesma linhagem que revelou Jesus, filho de Davi. Seu amor pela sogra e sua dedicação a ela tinham a ver com o conhecimento que tivera do caráter de Noemi, a despeito de todo o sofrimento que havia passado; ela fez parte da família. Quando Noemi a liberou para voltar ao seio de sua família, Rute declarou de coração aberto a ela: “o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16). Rute teve um gesto de amor exemplar para com Noemi. Sua convivência com Noemi a levou a conhecer o Deus de Noemi. Rute descobriu que o Deus de sua sogra era um Deus Vivo, que é Espírito e Verdade, e que supre as necessidades dos seus servos. Rute se apegou à sua sogra não só pelos laços familiares, mas também pela fé no Deus de Noemi.

FÉ E TRABALHO NUMA NOVA PERSPECTIVA DE VIDA
Noemi decidiu retornar à Palestina, a Belém, levando consigo Rute. As duas empreenderam uma viagem difícil para aquele tempo que distava do lugar onde habitavam uns 160 quilómetros. Tiveram que atravessar montanhas íngremes e de difícil acesso. Viajaram, não se sabe por quais meios de transporte, e suportaram as intempéries climáticas seguindo em frente. Mesmo com as dificuldades da viagem, Noemi e Rute não desanimaram até chegar a Belém Efrata (Rt 1.19).

A Bíblia diz que “o justo viverá da fé” (Rm 1.17; Hc 2.4) para que aprendamos a confiar inteiramente em Deus. Quando Noemi e Rute empreenderam a viagem para a Judeia, havia uma nova esperança em seus corações. Era uma esperança de restauração de vida e de fé. Rute se tornara uma mulher de fé e disposta a superar a crise de subsistência com confiança em Deus.

Noemi e Rute Chegam à Terra do Pão
Quando Noemi e Rute chegaram a Belém, era o começo da colheita da cevada e do trigo, e Noemi pôde constatar que o Senhor havia visitado o seu povo, dando-lhe pão em abundância. Entenderam as duas mulheres que não passariam mais fome, mas que, de algum modo especial, elas estariam provisionadas de trigo e cevada.
Entretanto, a chegada das duas mulheres viúvas alvoroçou a cidade de Belém, e os antigos conhecidos de Noemi queriam saber o que havia acontecido com sua família. Noemi ainda era uma mulher amarga com as duras experiências passadas em Moabe e preferia ser chamada “Mara”, cujo significado no hebraico é “amarga” (cf. Ex 15.23). Noemi sabia que a sua volta como mulher pobre, sem marido, era o fruto do pecado de tomar decisões precipitadas sem consultar a Deus. Além de ter permitido seus filhos se casarem com mulheres pagãs. Ela tinha consciência do seu pecado, mas nunca foi capaz de reconhecer isso e confessá-lo a Deus.
Noemi sabia apenas reclamar, considerando-se vítima daquela situação; por isso, achava-se ser uma pessoa de vida amarga que havia saído com recursos financeiros, mas volta completamente pobre. Sua queixa se resumia a declarar que o Todo-Poderoso, o “El-Elyon”, o “EI -Shaddai”, o Deus Onipotente, parecia tê-la abandonado. Entretanto, o Deus El-Elyon não é vingativo nem se compraz no sofrimento do seu povo. Acima de tudo e apesar de tudo, Ele estava no comando da vida de Noemi para um propósito maior do que ela jamais podia imaginar. Sua humilhação e tristeza foram transformadas em alegria e recuperação das perdas até então.


Rute Ajuda Noemi a Recuperar sua Autoestima
A grande bênção na vida de Noemi foi ter Rute consigo nessa trajetória da vida. Quando elas chegaram a Belém, toda a cidade se comoveu por elas por causa da sua pobreza. Noemi ainda estava cabisbaixa e com sinais de amargura, culpando a Deus pelo seu estado de pobreza (Rt 1.20), ainda que soubesse que estava colhendo o fruto de seus erros juntamente com seu marido quando foram para Moabe (Rt 1.21).
Porém, Deus permitiu que a estrangeira convertida ao Deus de Israel se tornasse a o canal da bênção de recuperação para Noemi. Rute deu uma demonstração de carinho e amor por Noemi que a fez entender que ainda havia esperança. Elas haviam chegado no “principio da sega das cevadas” (Rt 1.22), ou seja, quando a colheita de cevada estava começando.
Em Moabe a situação era precária; mas agora, em Belém, havia esperança de “não faltar nada” para ambas. Rute usou sua perspicácia para suprir a necessidade da casa sem precisar roubar ou matar. Ela apenas agiu com ética e respeito, e fez Noemi entender que Deus cuidaria delas e não faltaria nada. Sua atitude de ânimo contribuiu para que Noemi levantasse a cabeça e melhorasse sua autoestima.

Rute Trabalha com Afinco Apanhando Espigas
Não há dúvidas de que a providência divina daria às duas mulheres a oportunidade de restaurar a situação precária com que chegaram à cidade. Noemi e Rute não sabiam que faziam parte de um projeto divino, com o qual se cumpririam as promessas de Deus feitas a Abraão (Gn 12.1-3). Com a experiência dessas mulheres aprendemos que, se quisermos que Deus trabalhe em nossa vida e participe de todas as nuances imprevisíveis da nossa trajetória, precisamos cumprir os requisitos que viabilizam os seus propósitos.
Rute aprendeu que a relação com Deus envolve fé, e a fé sem obras é morta (Tg 2.20). Ela acreditava que Deus a amava porque o recebeu como Deus e Senhor de sua vida, então supriria suas necessidades. Sendo estrangeira, ela estava numa posição bastante vulnerável. Por isso, precisava agir com cautela quando resolveu ir para um campo de cevada que pertencia a um parente de Elimeleque. Ela tinha que agir reconhecendo-se pobre, e, por isso, podia ajuntar espigas que os segadores deixavam para trás na sua colheita. Era uma prática permitida e concedida aos pobres pela lei mosaica (Dt 24.19-21).
Nosso país vive um momento de crise económica, e a falta de trabalho, ou seja, emprego, é uma realidade vivida pelo povo. Mas as pessoas que querem trabalhar buscam, de algum modo, algum trabalho que lhes dê condições de sobrevivência.
Rute não cruzou os braços esperando que os alimentos lhe viessem às mãos. Ela, com fé e disposição para trabalhar, saía cedo de casa e passava o dia inteiro juntando espigas até juntar um tanto suficiente que pudesse levar para casa. Sua diligência no trabalho e sua perseverança em ajuntar espigas e grãos chamou a atenção de Boaz, o dono daquele campo. Boaz ficou admirado com simpatia e a disposição daquela jovem que não media esforços para conseguir grãos para ela e sua sogra Noemi. O trabalho dignifica o trabalhador, e Rute demonstrou sua lealdade e beneficência para com sua sogra.

Rute É Honrada pelo Trabalho no Campo de Boaz
Ainda que viúva, Rute era uma mulher livre e desimpedida. Ela podia casar-se outra vez. Numa manhã, quando foi ao campo para juntar espigas depois que os colheiteiros tivessem colhido o principal da colheita daquele campo, Rute, confiante e disposta para um dia de trabalho, não podia imaginar que encontraria o dono do campo, que se chamava Boaz. Ele ficou admirado por essa mulher e até certo ponto enamorou-se dela, mesmo não tendo dito qualquer palavra. Era um homem respeitável, e ela tinha atitude modesta, mas achou graça perante ele Rt 2.2,10,13).
Boaz era um homem bom e temente a Deus. Procurava ser justo com seus empregados (Rt 2.4). Ao perceber o esforço daquela mulher, Boaz perguntou aos seus trabalhadores quem era ela. Ao ter informações acerca de Rute, discretamente Boaz procurou ajudá-la, ordenando aos seus homens que fossem amáveis com e não a aborrecessem, porque se tratava de alguém especial.
Rute se dispôs a trabalhar pelo seu sustento e da sua sogra Noemi (Rt 2.7), e foi convidada por Boaz a que colhesse o seu trigo e cevada seguindo os homens e outras mulheres que trabalhavam para ele, mas
colhesse apenas do seu campo, não fosse a outro. Foi um convite a que descansasse na casa de descanso dos seus trabalhadores. Ela foi abençoada por ser uma mulher de iniciativa e persistência, porque acreditava na força do trabalho para conseguir o que buscava. Ela não teve medo de correr riscos (Rt 2.2), mas foi determinada e disposta para alcançar o sucesso desejado. Por isso, Boaz, ao descobrir essa estrangeira simpática e generosa, e tendo conhecimento da generosidade dela para com Noemi, ofereceu seu campo, sua proteção e se tornou o provedor de Noemi e Rute.
Nos desígnios divinos, não foi por acaso que Rute entrou no campo que pertencia a Boaz. Havia um direcionamento de Deus na sua vida porque ela aprendera a confiar no Deus de Israel e já conhecia a história de um passado de escassez, mas que tinha naquele momento de sua vida a volta da bênção da prosperidade a Israel.

RUTE ENCONTRA 0 REMIDOR DA FAMÍLIA Rute Descobre o seu Remidor
A descoberta do remidor da herança familiar de Noemi é uma demonstração da graça de Deus, especialmente, para Rute. Ela, como mulher estrangeira, pobre e viúva, não tinha condições de reivindicar qualquer tipo de direito a quem quer que fosse, porque sua posição era inferior na sociedade da época. Mas Rute, antes de tudo, alcançou graça para com Boaz, porque era homem justo e bom para com as pessoas em torno de si. Procurava ajudar a todos. Era um homem diferente. Na             tipologia bíblica, Boaz é apresentado como um tipo de Cristo na sua relação com a Igreja, um tipo de Rute. Ela era uma estrangeira, pobre e carente até encontrar Boaz, que se tornou o seu remidor, assim como Cristo é o nosso Redentor que, sendo rico, se fez pobre para nos fazer ricos e herdeiros das suas riquezas (2 Co 8.9).
Quando Rute se dispôs a apanhar restos das espigas deixadas pelos empregados de Boaz, descobre que Boaz era parente de Elimeleque e, por lei, ele podia redimir essa herança para que a mesma ficasse dentro da família e a viúva não ficasse desamparada. Rute gozou da confiança de Boaz e comeu até fartar-se de sua mesa, mas não se esqueceu de Noemi. Ao voltar para casa, trouxe consigo muito mais do que havia colhido, porque Boaz lhe concedeu algumas medidas a mais. Noemi ficou feliz, mas perguntou-lhe onde havia colhido tanto. Rute contou-Ihe tudo quanto havia acontecido e a benevolência de Boaz, senhor daquele campo. Ela havia se comportado com prudência e delicadeza sem que nada a desabonasse moralmente.

Boaz se Dispõe Remir a Rute, a Moabita

Havia alguns entraves para que Boaz pudesse remir aquela herança à sua origem porque a mesma estava nas mãos de outra pessoa. Seguindo os costumes do povo na tomada de decisões que requeriam consenso, Boaz foi para a porta da cidade, onde se reuniam os anciãos do povo na forma de um júri, os quais julgavam as causas do povo. O remidor por direito era outro homem, porque aquela parte da terra que pertencia a Elimeleque havia sido vendida e não pertencia a Boaz. No entanto, interessado em Rute, Boaz se dispôs a casar-se com ela para adquirir o direito de remissão daquela parte da herança. Visto que Rute era viúva do filho de Elimeleque, Boaz explicou aos anciãos da cidade e os convenceu desse direito, solicitando que o antigo dono vendesse aquela terra a Boaz. Mais que isso, Boaz redime à Rute a herança, pagando o preço daquela terra e o direito de resgate da viúva. Boaz se casa com Rute, e o antigo remidor entendeu que a redenção do campo e o direito de viúva do filho falecido de Noemi era conquistado por Boaz.

Rute Deseja Ser Remida por Boaz
No livro de Levítico, foi estabelecida por Moisés a lei do parente resgatador (Lv 25.23-34) e em Deuteronômio 25.5-10 foi estabelecida a lei sobre o casamento de levirato. Segundo a Escritura relata, o objetivo dessas leis era o de preservar o nome e proteger a propriedade familiar. Para não haver exploração das terras, especialmente pelos ricos, que poderiam se aproveitar dos pobres e das viúvas, essas leis foram estabelecidas. Eram leis que garantiam o nome da família do homem que morreu depois de sua morte. Por isso, a propriedade não seria vendida para pessoas que não fizessem parte da família. Lamentavelmente, Israel, algumas vezes esqueceu-se de Deus e de suas leis, desrespeitando essas leis e buscando apenas o interesse próprio. Muitos do povo não respeitavam mais qualquer direito adquirido (1 Rs 21; Is 5.8-10; Hc 2.9-12; 2 Cr 36.21).
Quando Noemi ouviu os fatos sobre o interesse de Boaz por Rute e que a tratou com tanta bondade, apelou, então, para uma tradição sobre costume do “parente remidor”. Seria um modo de Boaz remir a ambas da pobreza (Rt 3.1-18). Noemi instruiu Rute para que se preparasse com vestes e perfumes e, discretamente, sem que Boaz soubesse, fosse deitar-se aos pés dele sem que percebesse a sua presença. Cerca de meia-noite, Boaz estremeceu em sua cama quando viu que Rute estava deitada aos seus pés (Rt 3.8,9). Não se constitui nenhum ato delituoso nem sensual, porque ela estava protegida pelas leis que regiam o costume que envolvia o papel do remidor para com aquela mulher que estava viúva, e o seu marido era parente de Boaz. Pedir que ele estendesse uma aba de sua coberta sobre ela significava que ele a estaria protegendo.
Entretanto, ele teria que negociar com o outro homem que era o dono daquela parte da terra que pertencera a Elimeleque e seus filhos. Depois de buscar conselho com os anciãos da cidade, Boaz negociou com o homem, comprando aquela terra, pagando o preço justo conforme prescreviam as leis que regiam sobre o resgate de propriedades.
No capítulo 4 do livro, Boaz se casa com Rute, tornando-se o seu remidor e ainda mantendo sob proteção a Noemi. Legitimamente, Boaz e Rute se casaram sob as bênçãos de toda a comunidade de Belém. No devido tempo, Deus deu a Boaz e Rute um filho, a quem deram o nome Obede, e este gerou a Davi, o grande rei de Israel.
Rute, a moabita, entra na genealogia de Jesus. Ora, de uma mulher moabita, convertida ao Deus de Israel, veio a se tornar bisavó de Davi. Quando Jesus foi manifestado na terra, tornou-se conhecido como o “filho de Davi” (Mt 1.3-6), formando os elos da linhagem do Messias desejado por todos os judeus até o dia de hoje.

CONCLUSÃO
Essa mulher gentia obteve fé suficiente para servir de exemplo aos que aspiram a um emprego nesses tempos difíceis. Rute teve perdas enormes: o sogro, o cunhado e o marido. Além dessas perdas, sua sogra Noemi tornou-se uma mulher amargurada, mas ela soube superar essas perdas sem perder a esperança de que sua felicidade poderia se construída sobre valores maiores do que riqueza material. Rute náo se deixou seduzir pelo fascínio de ser mulher bonita e conquistar marido rico, mas firmou sua mente na busca de um trabalho honesto que lhe desse tranquilidade. Deus honrou seu trabalho, do qual sustentou a si mesma e a casa de sua sogra Noemi.


A história de Rute é uma historia que referenda o trabalho, a fé e a persistência como elementos de realização pessoal e vitória espiritual.