sábado, 18 de março de 2017

Jesus, o Juiz que Há de Vir

Texto: João 5.19-47

Introdução
No capítulo cinco, temos um sinal (v. M4) c um sermão (v. 19-47) que se explicam c ilustram mutuamente. O milagre registrado na primeira parte do capítulo mostra dois aspectos de Cristo: primeiro, como Doador da Vida. O homem que fora paralítico ouve a voz do Filho de Deus c recebe a vida (v. 25). Segundo, como Juiz. O homem curado fica diante do Juiz, e recebe a absolvição: “Eis que já estás são; não peques mais, para que não tc suceda alguma coisa pior”.
Quando os judeus objetavam que Jesus tinha violado o sábado ao curar o paralítico, ele pregou um sermão explicando o significado do milagre c asseverando a sua autoridade para operá-lo.
I - As Bases da Autoridade de Cristo
(Jo 5.15-20)
Quando o homem que fora paralítico soube quem o curara, contou o fato às autoridades dos judeus, que, por sua vez, queriam prender Jesus sob a acusação de ter violado o sábado. Na sua defesa, Jesus levanta os seguintes argumentos:
/. Sua unidade com o Pai. “E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha ate agora, c eu trabalho também”. Noutras palavras: Deus trabalha no sábado, sustentando o Universo, comunicando vida, abençoando os homens, respondendo às orações. Perguntou um zombador, em conversa com um rabino judeu: “Por que Deus não guarda o sábado?” Respondeu o rabino: “Não é permitido que um homem se locomova dentro do seu próprio lar? O lar de Deus é o universo inteiro, de alto a baixo. Deus não precisa do sábado; é uma bênção que ele concede às suas criaturas, para a felicidade delas”. E esta superioridade sobre o sábado que Jesus também considerou privilégio seu. Sua atividade é tão necessária para o mundo como a de Deus Pai; realmente, ao efetuar a cura no sábado, estava meramente agindo cm nome do Pai.
Os judeus entenderam, corretamente, que Jesus estava declarando sua própria divindade mediante tal resposta. Se estivesse simplesmente argumentando que, já que Deus trabalha no sábado, ele também, como judeu piedoso, podia trabalhar no sábado, sua defesa teria sido absurda. A declaração da sua própria deidade, no entanto, deu conteúdo real à sua defesa.
Jesus declarou, portanto, que a cura do paralítico era uma obra do Pai, c que os judeus, ao acusá-lo da quebra do sábado, estavam realmente fazendo a acusação contra o Pai.
2. Sua comunhão com o Pai. “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho faz igualmente”. Cristo vivia em tão perfeita harmonia com o Pai que lhe era impossível operar qualquer milagre por sua própria iniciativa, ou do seu próprio desejo. Ele estava tão acostumado a submeter-se ao propósito divino que eslava fora de cogitação a ideia de Ele entender mal a vontade de Deus ou se opor a ela. O Filho nada pode fazer de si mesmo, não por lhe faltar poder, e sim porque lhe falta o desejo de agir independentemente de Deus. A sua expressão é semelhante ã de um homem consciencioso  que, quando alguém insiste com ele para que faça algo errado, responde: “Não posso fazê-lo”. Poderia, se desejasse, mas seu caráter reto e justo lhe proíbe tal coisa.
A atitude filial de Cristo é correspondida pelo amor do Pai: “Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz”. O Filho tem sido um espectador contínuo das obras do Pai nos corações e vidas dos homens. Estava tão pro- fundamente enfronhado nos conselhos do Pai que sabia instintivamente qual era a vontade do Pai cm todos os casos. Assim, uma só olhada na direção do homem paralítico bastava para convencê-lo de que era da vontade do Pai a realização da cura, apesar de ser no dia de sábado.
II - () Alcance da Autoridade de Cristo
(Jo 5.21-30)
“F ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis”. A nova vida comunicada ao paralítico era um sinal que indicava o poder de Jesus para comunicar a vida eterna a quem ele quisesse. A vida física assim transmitida apontava para sua capacidade de transmitir a vida espiritual também.
As “obras maiores” de Cristo se manifestam em duas esferas:
/. Na vivificação dos mortos. Dois tipos de ressurreição se mencionam nestes versículos - a espiritual e a física. O pecado causa a morte espiritual, bem como a morte física; Cristo, Salvador dos pecadores, dá a vida eterna à alma (v. 24) c a imortalidade na ressurreição (v. 25). Os versículos 21 a 25  aplicam-se à ressurreição física e à espiritual. O

Filho de Deus exerce estas prerrogativas porque “assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo”.
2. No exercício do julgamento. “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo”. Isto inclui o julgamento que os homens pronunciam contra si mesmos quando rejeitam a Cristo, bem como o juízo que será realizado no dia final. O propósito desta atribuição é “para que todos honrem o Filho, como honram o Pai”. Quando consideramos as declarações de Cristo acerca de si mesmo, não podemos fugir do mistério da Trindade. Dizer que o Filho deve ser honrado como o Pai, é dizer que o Filho c o Pai são um, com os mesmos poderes e honras, muito embora Jesus, nos dias em que viveu na terra, estivesse sujeito ao Pai de acordo com o plano divino.
Há aqueles que pensam da seguinte forma: sou um homem, com as fraquezas humanas, passando por uma vida cheia de dificuldades. Deus, lá no Céu, é perfeito e livre de qualquer tentação. Como poderia Ele simpatizar com meu ponto de vista? A resposta de Cristo c: “E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem”. Noutras palavras: no dia do juízo os homens comparecerão diante de quem já viveu na natureza deles, experimentou as tristezas deles, enfrentou as tentações deles, e que sabe por experiência o que é a vida humana.
“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma”, por causa do perfeito vínculo de comunhão entre Jesus e o Pai. Desejando que haja a mesma comunhão entre ele mesmo e os seus discípulos, Jesus disse: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5).
Talvez alguns dos ouvintes se queixassem, dizendo que Cristo era muito severo ou dogmático ao julgar as pessoas, assim como há aqueles que levantam a objeção de serem as palavras de Jesus em Mateus 23 muito duras para aquEle que veio salvar, e não condenar. A resposta de Cristo foi c continua sendo: “Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou”. Cristo se refere às suas declarações de aprovação e de condenação, definindo o que é certo e o que é errado. Tinha, por exemplo, autoridade para dizer: “Estão perdoados os teus pecados”; “A tua fé te salvou”; “Melhor seria para tal homem não ter nascido”; “Vinde a mim”; “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”. Estes e outros julgamentos pronunciados, no que diz respeito aos fariseus, aos hipócritas, a Pilatos e Herodes, a Jerusalém, ao mundo, aos demônios, são expressões da vontade do Pai, e não de ressentimento pessoal. São a verdadeira e infalível expressão da vontade divina.
III - Ensinamentos Práticos
1. A divindade de Cristo. No trecho aqui estudado, temos um exemplo das tremendas asseverações feitas por Cristo com respeito a si mesmo, declarações que somente Deus pode fazer com razão. No entanto, as afirmações foram tão singelas c naturais como, por exemplo, quando Paulo dizia: “Eu sou judeu”. Para chegar-se à conclusão de que Cristo é divino, basta reconhecer duas coisas: primeiro, que Jesus não era um homem mau. Segundo, que Jesus não era louco. Se alegasse sua própria divindade, enquanto soubesse não ser Deus, não poderia ser um homem bom; se falsamente imaginasse ser Deus, sem que isso correspondesse à realidade, não poderia ser um homem mentalmente são. Posto que nenhuma pessoa séria pode duvidar da perfeição do caráter de Jesus, nem da superioridade da sua sanidade, não nos resta outra conclusão senão a de que ele era o que declarava ser - o Filho de Deus, no sentido especial e reservado da palavra.

2. O aluai juízo de Cristo. No plano da salvação, há íntima relação entre o presente c o futuro. A plenitude da vida eterna c a possessão que receberemos no futuro, embora comece aqui c agora. Aquele que crê em Cristo “tem a vida eterna”. A condenação final ainda aguarda os pecadores não arrependidos, mas começa aqui e agora. No entanto, agora, a ira de Deus permanece sobre o descrente (Jo 3.36).
Esta verdade foi ilustrada na vida terrestre de nosso Senhor. Toda pessoa que apareceu na sua presença foi julgada - ou recebeu aprovação, ou foi condenada. Lemos que os fariseus, cheios de suspeita, queriam submeter Jesus ao escrutínio; mas, na realidade, eles é que foram submetidos ao julgamento. Lemos que Jesus foi levado perante Herodes, mas, na realidade, tratava-se de Herodes comparecendo perante Jesus! (Lc 23.8-11). Jesus foi levado a Pilatos, mas, na realidade, Pilatos é que foi julgado por Jesus. Lemos sobre o processo de Jesus perante o Sinédrio, mas, realmente, julgava-se a autoridade moral do Sinédrio. Em todos os casos, foram invertidos os papéis, porque c Ele agora o Exaltado, e eles, os condenados.
Na presença de Jesus, portanto, os homens são julgados de acordo com a sua atitude para com Ele. L Ele ainda é a pedra de toque das nossas vidas. Certo visitante altivo e crítico estava examinando uma coletânea de obras-primas de pintura numa galeria de arte. “Não vejo nada de especial nesses quadros”, disse, com ar de desprezo. O curador respondeu, tranquilamente: “Senhor, aqui não está cm causa a qualidade dos quadros, e sim a dos observadores”. Os críticos procuram submeter o caráter divino ao microscópio, mas são realmente eles o objeto de escrutínio. Uma boa pergunta a dirigir a um cético seria: “O que você pensa de Cristo?” Mas a pergunta mais importante é: “O que Cristo pensa de você?”


3. “Vindo, depois disso, o juízo” (Hb 9.27). Lemos em João 3.17: “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele". Em João 5.22, lemos: “E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo”. Não há nenhuma contradição aqui. É da vontade de Deus que todos sejam salvos, e Jesus provou a morte em prol de todos os homens. Quando, porém, os homens rejeitam a cura do pecado, têm de sofrer a sua penalidade; quando zombam da oferta da misericórdia divina, não há escape da condenação divina.
Pessoas há, hoje, que duvidam do juízo vindouro tanto quanto os homens da época de Noé, mas nem por isso deixou de vir o dilúvio, nem deixará de vir o dia do juízo final.
4. “Da morte para a vida” (v. 24). Assim como um cadáver pode ser cercado por flores e enlutados, sem com eles ter o mínimo contato, assim também uma alma morta pode ter coisas espirituais ao seu alcance, sem, porém, tomar a mínima consciência da sua presença. “Mas a que vive cm deleites, vivendo está morta” (lTm 5.6). “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas c pecados” (Ef 2.1). Assim como um mineral está morto no que diz respeito ao reino vegetal, também o homem não convertido está morto com respeito ao Reino de Deus.
Cristo veio possibilitar a transição do homem da morte para a vida: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3.36). E esta verdade que faz a distinção entre o Cristianismo c todas as demais religiões. E o homem mental c moral mais a pessoa de Cristo; é a nova vida transmitida ao homem espiritual, uma qualidade bem diferente do que qualquer outra coisa existente no mundo (cf. Jo 14.20-23; 15.5; 1 Co 6.15; 2 Co 13.5; G1 2.20). Cristo é a fonte da nossa vida. Nenhum homem espiritual alega, em hipótese alguma, que a sua espiritualidade é dele mesmo. “E vivo não mais cu, mas Cristo vive em mim” (G1 2.20). Quando alguém verdadeira c sinceramente se volta do pecado para Cristo, passa da morte para a vida.
5. A certeza da vida eterna. Na data desta tradução, noticia-se a morte de um russo que viveu 168 anos. É um período muito grande de tempo, cm que houve profundas modificações em todas as nações da terra, mas não passa de alguns poucos segundos em comparação à vida eterna, que é o presente recebido por todos os que tem fé cm Cristo. Muitos rejeitam a vida eterna, não por não crerem que ela seja boa, mas porque a acham boa demais para ser verdadeira. Outros gostariam que fosse verdadeira, mas não têm base sólida para fundamentar as suas esperanças. Roberto E. Ingersoll, destacado inimigo da Bíblia c do Cristianismo, na ocasião do enterro do seu irmão, fez um discurso declarando não existir nada que apoie o conceito da vida além-túmulo. Depois, disse: “Aquele que aqui jaz confundiu a aproximação da morte com a volta da saúde, e sussurrou, com seu derradeiro alento: ‘Já sarei’. Oxalá possamos crer, a despeito das dúvidas e dogmas, das lágrimas e temores, que sejam verdadeiras estas preciosas palavras, no que diz respeito a todos os incontáveis mortos”. Este desejo de ter alguma esperança, da parte de quem rejeitou as Escrituras, é a sólida segurança de quem conhece a Cristo: “Porque eu vivo, e vós vivereis” (Jo 14.19).
6. O coração sem nuvens. “O meu juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, c sim a daquele que me enviou”. Com estas palavras, Jesus revelou a inexistência de motivos errados cm seus julgamentos. Tudo quanto dizia c fazia era isento da influencia do egoísmo que distorce todas as coisas.
Assim como a poluição do ar vai obscurecendo a nossa vista ao derredor, também o egoísmo, o medo e a ambição formam uma nuvem que obscurece o raciocínio e perverte o juízo. Não havendo qualquer defeito ou lesão específica, sempre terão sanidade mental as pessoas que têm pureza de coração.
Feliz o homem que nega-sc a si mesmo c que pode dizer: “Não busco a minha própria vontade, mas a vontade do Pai que me enviou”. Tal consagração desanuviará nosso discernimento c julgamento e alimentará o espírito (Jo 4.34), iluminando o entendimento (Jo 7.17) e dando descanso ao coração (Ml 1 1.29).


Fonte livro e autor.
João
 Pearlman, Myer
João, o Hvangelho do Filho de Deus.../

 Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.
Almir Batista

0 Paralítico do Tanque de Betesda

Texto: João 5.1-14

Introdução
Como já notamos num estudo anterior, João chama os milagres de Cristo de “sinais” porque são indicadores da divindade do Senhor. Sete deles (antes da crucificação) são selecionados pelo evangelista: a transformação da água em vinho; a cura do filho de um oficial do rei; a cura do paralítico; a multiplicação dos pães para alimentar a multidão; Jesus andando sobre o mar; a cura do cego; e a ressurreição de Lázaro.
Este nosso estudo trata do terceiro destes milagres, que nos oferece as seguintes lições acerca de Cristo: Ele é o doador da vida, e, como o paralítico oüviu a voz de Cristo e foi restaurado, assim, no fim dos tempos, os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e viverão (Jo 5.25).
I - O Sinal (Jo 5.1-9)
I. A cena que entristece o coração. “Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia uma multidão de enfermos; cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento das águas. Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água, c o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse''. Trata-se de uma fonte intermitente, que possuía - ou cria-se que possuía - poderes de cura, ao redor da qual alguma pessoa benevolente edificara cinco pórticos para servirem de abrigo à multidão de enfermos que aguardava o movimento da água.
A multidão ao redor do tanque faz lembrar que o mundo está cheio de pessoas que sofrem das mais variadas enfermidades, sendo, porém, todas elas doentes; simboliza o mundo que se aglomera, com uma ansiedade que c quase desespero, ao redor de qualquer coisa que prometa solução, por mais vaga que seja, no sentido de ajudar e de curar.
2. A pergunta que desperta a esperança. Num dia de festa religiosa, Jesus se encaminhou para este “hospital natural”. Assim como o olhar experiente do cirurgião rapidamente seleciona o pior caso na sala de espera da sua clínica, Jesus logo fixou seus olhos em “um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo”. Era um aleijado, provavelmente um paralítico. Passara todo esse tempo esperando, ouvindo a conversa monótona dos outros enfermos, descrevendo detalhes dos seus sofrimentos que ninguém mais queria ouvir.
Jesus, chegando a este homem, aborda-o com a pergunta emocionante: “Queres ficar são?” A pergunta parece estranha porque, após trinta c oito anos de sofrimento e espera, nada mais natural do que pensar que era a única coisa que o homem desejava. A pergunta, no entanto, tinha várias razões para ser feita:
2. /. Para despertar a esperança. O coitado esperara tanto tempo e sofrerá tantas decepções, que a esperança mirrara dentro dele, assim como era mirrado o seu corpo. Era necessário, portanto, que Jesus despertasse nele novas esperanças, ajudando-o a ter a fé necessária para receber a cura.
2.2. Para despertar a Fé. Cristo não era como certos milagreiros que operam suas maravilhas mediante um preço, sem levar em conta a atitude ou condição moral da pessoa. Quando possível, Jesus exigia que a pessoa a ser curada tivesse fé. O propósito principal de Jesus em curar o corpo era transformar a alma, porque mesmo quando vivia na terra era o Salvador e, como tal, requeria a fé como elo espiritual que vinculasse o paciente à sua Pessoa. Note como a cura neste caso foi acompanhada por uma advertência ao homem, que deixasse de levar a vida de pecado que fora a causa de sua aflição (v. 14).
2.4. Para testar a sinceridade do desejo. Quando Jesus perguntou ao paralítico se queria ser curado, a pergunta era sincera c real porque existem enfermos que não desejam ser curados. Os médicos se oferecem para curar gratuitamente as feridas do mendigo, como ato de caridade, c são rejeitadas as suas ofertas; mesmo o enfermo que não usa sua enfermidade como fonte de renda, mediante a mendicância, tende a tirar vantagem da simpatia e indulgência dos amigos, a ponto de o caráter ficar tão fraco, que ele começa esquivar-se do trabalho. Há, portanto, muitos que, por uma ou outra razão, preferem ter saúde fraca.
A pergunta de Cristo significava: “Você está disposto a ser restaurado a uma condição que o capacitará a assumir as tarefas e responsabilidades da vida?”
3.Enquanto o homem responde, relembrando os anos de sofrimento e o lato de não ter escolhido aquela situação, as palavras de Jesus soam nos seus ouvidos: “Levanta-te, toma a tua cama, c anda”. A primeira vista, pode-se imaginar ser uma zombaria mandar um paralítico levantar-se e andar; devemos, no entanto, levar cm conta que quem falou estas palavras tinha poder para curar o homem, c que o homem tinha fé em quem falou com ele. O homem creu, e manifestou a sua fé mediante um alo de obediência a um mandamento que parecia impossível cumprir. Se Deus nos mandasse passar através de um muro de pedra, nossa obediência fiel nos levaria a traspassá-lo como se fosse uma folha de papel de seda, sempre na condição de termos a certeza de que a ordem partiu de Deus! A fé é crer c obedecer em tudo o que diz respeito àquilo que sabemos ser a Palavra de Deus. O paralítico obedeceu c “logo aquele homem ficou são; e tomou a sua cama, e partiu”. A fé é o elo entre a incapacidade humana e a onipotência divina.
II - A Sequela (Jo 5.10,11)
/. A condenação. Os milagres de Jesus eram sinais, mas nem sempre estes sinais foram entendidos. Ele alimentou as multidões e sentia-se decepcionado porque poucos perceberam ser Ele o Pão enviado do céu para nutrir as almas humanas (Jo 6). Curou o cego, demonstrando assim ser a Luz do Mundo, mas os fariseus hostis queriam apagar aquela Luz (Jo 9). Ressuscitou Lázaro dentre os mortos, mostrando ser a Ressurreição c a Vida, e este milagre provocou no Sinédrio o desejo dc matar o Autor da Vida. Na ocasião aqui estudada, Jesus operou um milagre que demonstrou ser Ele o que opera a vontade divina em restaurar a vida c a saúde, e os judeus queriam matá-lo por operar uma cura no sábado! (v. 16).
"E aquele dia era sábado. Então os judeus disseram àquele que tinha curado: É sábado, não te é lícito levar a cama”. Estes judeus tinham apoio nas Escrituras, nas palavras de Jeremias: “Guardai as vossas almas, e não tragais cargas no dia de sábado” (Jr 17.21). Naturalmente, a proibição dizia respeito a cargas que faziam parte de empreendimentos comerciais, mas os judeus, no seu exagerado literalismo, levaram o mandamento ao extremo.
2. A vindicação. O homem lançou a responsabilidade sobre Jesus, e respondeu: “Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma a tua cama, c anda.” Noutras palavras: “Foi aquele que me deu as minhas forças o mesmo que me mandou como empregá-las.” Que lógica magnífica! Na sua simplicidade, o homem acabou enunciando uma regra do discipulado cristão: aquEle que nos sarou e salvou tem o direito de dirigir a nossa vida. Se Cristo é a fonte da nossa vida, é também a fonte da nossa lei.


Fonte livro e autor.
João
 Pearlman, Myer
João, o Hvangelho do Filho de Deus.../
 Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.

Almir Batista

Jesus e Maria, Sua Mãe

Textos: Lucas 1.26-33; 2.41-51; João 2.1-4; Marcos 3.31-35; João 19.25-27
Introdução
O objetivo deste capítulo é estabelecer o caráter e posição de Maria quanto ao seu relacionamento com aquEle que era, ao mesmo tempo, filho e Senhor.
I. Predito o Nascimento de Jesus (Lc 1.26-33)
1. A profecia. “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Esta gloriosa promessa brilhou nas trevas em que o pecado lançara nossos primeiros pais. Predisse o conflito entre a raça humana e o poder do mal que lhe causou a queda, e a vitória mediante alguém nascido de mulher. A esperança da salvação era um menino que viria da parte de Deus. Talvez pensasse Eva ser Caim o descendente prometido (Gn 4.1); mas, com grande decepção, descobriu que aquele que imaginara ser o vencedor da serpente demonstrou ter o espírito do próprio maligno. Nascendo-lhe Sete, porém, reno- varam-se-lhe as esperanças; exclamou: “Deus me deu outra semente” (Gn 4.25).
Passaram-se séculos, e, através da boca de Isaías, foi reafirmada a promessa: um filho da casa de Davi, nascido de uma virgem, instauraria o Reino de Deus (Is 7.14;
9.6,7). Doravante, a esperança de libertação vinculava- se ao nascimento de um descendente de Davi; à mulher judia, não poderia haver mais alta esperança que a de ser a mãe do Messias.
2. O cumprimento. Imagine, agora, os sentimentos de Maria, ao ouvir do anjo que tão grande honra lhe caberia: “Salve, agraciada; o Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres”! Embora nada possa diminuir a honra devida ao Filho, e que a Ele exclusivamente adoraram os magos quando o acharam com Maria na noite do seu nascimento (Mt 2.11), foi ela grandemente honrada por Deus, sendo escolhida para ser a mãe humana de Jesus; sem dúvida, tinha um caráter exemplar de pureza, humildade e ternura, exemplo da glória e nobreza de ser mãe, digno de ser seguido por todas as outras.
Podemos imaginar as emoções de enlevo e medo misturadas em Maria, ante à extraordinária informação. Enlevo, pela honra de ter sido escolhida, entre milhões de mães judias, para dar à luz o Salvador do mundo; medo, por causa dos mal-entendidos e acusações falsas que pesariam sobre ela, se a gravidez fosse noticiada antes do casamento com José. Curvou-se, no entanto, à vontade do Senhor: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Maria crê e submete-se à mensagem, disposta a aceitar e enfrentar todas as conseqüências. É esta a verdadeira fé!
A Visita ao Templo (Lc 2.41-51)
A primeira visita ao Templo é história bem conhecida. Ao voltar da festa da Páscoa, Maria e José sentiram falta de Jesus. Após busca ansiosa, acharam-no a debater com os rabinos, no Templo. Nesse período, o Templo exercia grande fascínio sobre Jesus, porque a este fora dada, pelo Espírito, a clara visão de sua natureza divina e missão celestial.
1. O espanto de Maria. “E quando o viram, maravilharam-se; e disse-lhe sua mãe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu, ansiosos te procurávamos” (v. 48,50). Espanto natural, pois chegara ao humilde lar de Maria um tesouro grande demais o qual ao próprio céu era difícil conter. Não estranhemos, portanto, seu desconhecimento quanto ao valor do filho e ao motivo da ausência, e que lhe desse suave repreensão. É verdade que já recebera revelação quanto à natureza divina de Jesus (Lc 1.32,33), mas, sendo mãe exemplar, era perfeitamente natural que os cuidados matemos predominassem sobre quaisquer considerações. Não importa quão grande e famoso alguém seja, sua mãe sempre o considerará seu “menino”. Napoleão era um poderoso ditador, diante de quem nações inteiras tremiam; mas, para a sua mãe, era o mesmo menino levado que ela antes disciplinava com vara!
2. O assombro de Jesus. “E ele lhes respondeu: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” Há surpresa nas palavras de Jesus, como se dissesse: “A senhora foi informada, mesmo antes do meu nascimento, sobre minha natureza e o que vim fazer neste mundo. Um pouco de reflexão, e saberia que um bom lugar para me procurar seria na casa do meu Pai, já que meu desejo é fazer a vontade dEle”.
“E desceu com eles, e foi para Nazaré; e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas”.
Nestas palavras, Lucas deixa-nos entender que a declaração de Jesus do verso 49 não se constituía em repúdio aos deveres de filho humano. Apesar de Filho de Deus, jamais procurou ver-se livre das responsabilidades, obrigações e fardos desta vida. Às revelações, não as tratou a mãe como assunto de conversa, mas guardou-as como preciosos segredos. E, quando veio a entender totalmente seu significado? Ver Atos 1.14.
Nas palavras de Jesus vislumbramos a futura mudança naquele relacionamento. O filho de Maria revelar-se-ia Filho do homem, quando teria de deixar em segundo plano os relacionamentos, a fim de criar uma família espiritual. Tal conceito surge nos dois incidentes seguintes.
III. As Bodas de Caná (Jo 2.1-4)
Ver o respectivo comentário. “E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho”. A falta de vinho redundaria em desonra para a família hospedeira. Maria leva o assunto a Jesus, com singeleza. “Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora”. Jesus estava ingressando no ministério público; seu papel de filho de Maria passava a segundo plano. Maria, humildemente, aceitou o inevitável, sabendo que não mais lhe caberia ditar normas na vida do filho. E disse aos servos: “Fazei tudo quanto ele vos disser”. A fé e a obediência seriam doravante a única maneira de se chegar ao coração de Jesus.
IV. Os Temores de Maria (Mc 3.31-35)
A popularidade de Jesus multiplicara-se rapidamente, mas, de outro lado, fora despertada a hostilidade dos escribas, cuja frieza espiritual Ele desmascarava sem hesitação. Não obstante, seu ministério crescia. Tanto o assediavam as multidões que não lhe sobrava tempo para alimentar-se. Os amigos preocupavam-se, pensando que o zelo excessivo lhe perturbara a mente (Mc 3.21).
À Maria, assaltou-lhe a preocupação, quando as autoridades denunciaram o ministério de Jesus como sendo de Satanás (v.22). Procurou, então, fazer com que Ele se retirasse - pelo menos por um pouco - da vida pública: “Chegaram então seus irmãos e sua mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar”. Maria talvez o imaginasse em perigo entre as multidões, as‘quais os fariseus facilmente poderiam incitar contra Ele. Ela permitiu a seus filhos mais jovens, irmãos de Jesus, persu- adirem-na a intervir na situação.
Ressuscitado o instinto materno, Maria voltou a demonstrar o mesmo espírito que, já por duas vezes, Jesus repreendera ternamente (Lc 2.49; Jo 2.4). Maria e os irmãos de Jesus foram por demais presunçosos em fazer aquela interrupção, apelando ao relacionamento puramente natural, por estreito que fosse. Queriam sobrepor interesses naturais àquEle ocupado em distribuir o Pão da Vida aos espiritualménte famintos. Jesus, então, esclarece que os vínculos familiares são inferiores aos do Reino de Deus: “E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe”. Verdadeiro parente de Jesus é aquele que é espiritualmente semelhante a Ele. Como Filho do homem, Jesus tinha parentes na carne; como Filho de Deus, porém, não reconhece parente algum, a não ser os filhos de Deus. Indicam tais palavras não serem os laços naturais a maior glória de Maria, mais o seu relacionamento espiritual com Ele. Sua presença no cenáculo (At 1.14) sugere necessidades espirituais idênticas às dos demais seguidores de Cristo.
V. Maria Junto à Cruz (Jo 19.25-27)
Ver o respectivo comentário: “E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria de Cleofas, e Maria Madalena. Ora Jesus vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho”. Vendo a mãe aflita, desamparada e confusa, e sentindo-lhe a angústia por contemplá-lo assim, quis o Filho de Deus que João, o discípulo amado, a retirasse da triste cena, e lhe oferecesse um lar onde Jesus era amado.
VI. Ensinamentos Práticos
1. A mensagem de Maria às mães. A mãe do maior de todos os filhos transmite grandes lições às mães modernas:
• Mães que desejam filhos de nobre caráter devem, elas mesmas, possuir um caráter assim. John Quincy Adams, presidente dos Estados Unidos, declarou: “Tudo quanto vim a ser, minha mãe conseguiú fazer de mim”. Napoleão disse sobre seu país algo que se aplica a todas as nações: “A maior necessidade da França é de haver boas mães”. Caterina Booth, filha do fundador do Exército da Salvação, resolveu que nunca teria um filho que menosprezasse a religião, e não teve mesmo. A primeira e principal oportunidade para moldar o caráter de uma pessoa, tem-na a mãe. E de suma importância que esteja espiritualmente qualificada para tal tarefa!
• Não se estrague a criança pelo abuso de comentários orgulhosos sobre suas capacidades e virtudes. Coisas maravilhosas haviam sido ditas sobre Jesus, e pareceria natural que ela as compartilhasse com as amigas e vizinhas. No entanto, “guardava todas estas palavras, meditando-as no coração”. Esta lição aplica-se a muitas mães. Falam tanto sobre as virtudes dos filhos, que os ouvintes se cansam e os próprios filhos estragam-se por convencimento. Como resultado, só os choques dolorosos da vida podem retirar-lhes o orgulho infundido pela irresponsabilidade da mãe. Seja ensinado às crianças de grande talento a modéstia e o hábito de prestar contas a Deus, fonte única de toda boa dádiva.
• Manifestem as mães de filhos talentosos simpática compreensão aos ideais que eles alimentam. Mostram-nos os trechos examinados três incidentes em que Maria parece ter esquecido a divina missão de Jesus que lhe fora revelada. Sabia do terrível destino que o aguardava (Lc 2.34,35), mas talvez o seu intenso amor maternal quisesse desviá-lo do caminho do sofrimento e indicar-lhe um caminho mais fácil. Sem faltar com respeito à mãe, Jesus firmemente a fez lembrar a prioridade das reivindicações divinas sobre sua vida. A tríplice repreensão de Jesus recomenda as mães simpatia aos ideais dos filhos, mesmo quando não os entendem muito bem. Não sejam as crianças presas com os laços da sua própria voluntariedade.
2. A mensagem de Cristo às crianças. Jesus, mesmo em agonia excruciante ao morrer pelos pecados do mundo, não esqueceu de cumprir o dever simples e prático de cuidar da mãe. Lembra-noJ isto que nenhum dever, por importante que seja, justifica a falta de cuidado pelas pessoas que dependem de nós.
3. A família divina é composta de pessoas piedosas. “Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe”. Não nos ensina isto fazer a vontade de Deus independentemente de Jesus, porquanto este revelou: “Sem mim nada podeis fazer . Somente pela união espiritual com Cristo podemos demonstrar sua bondade. O que Ele está nos ensinando é que, se realmente somos seus parentes espirituais, faremos a vontade de Deus, não para nos tornarmos cristãos, mas porque somos cristãos. Tem sido levantada a objeção de que aqueles que pregam a salvação pela fé muitas vezes negligenciam a ênfase à retidão prática. Tal possibilidade foi reconhecida por Tiago: “A fé sem obras é morta”. A doutrina correta, as experiências extáticas e as formas externas são todas necessárias; no entanto, são apenas o andaime para a edificação do caráter conforme a vontade de Deus. É mediante o cumprimento da vontade divina, seja em grandes ou pequenos feitos, que os crentes demonstram pertencer à família divina.
Fonte:
Pearlman, Myer
Lucas, ó Evangelho do Homem Perfeito.../ Myer Pearlman l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995

Almir Batista