Texto: João 5.19-47
Introdução
No capítulo cinco, temos um sinal (v. M4) c um
sermão (v. 19-47) que se explicam c ilustram mutuamente. O milagre registrado
na primeira parte do capítulo mostra dois aspectos de Cristo: primeiro, como
Doador da Vida. O homem que fora paralítico ouve a voz do Filho de Deus c
recebe a vida (v. 25). Segundo, como Juiz. O homem curado fica diante do Juiz,
e recebe a absolvição: “Eis que já estás são; não peques mais, para que não tc
suceda alguma coisa pior”.
Quando os judeus objetavam que Jesus tinha
violado o sábado ao curar o paralítico, ele pregou um sermão explicando o
significado do milagre c asseverando a sua autoridade para operá-lo.
I - As Bases da Autoridade de Cristo
(Jo 5.15-20)
Quando o homem que fora paralítico soube quem o
curara, contou o fato às autoridades dos judeus, que, por sua vez, queriam prender
Jesus sob a acusação de ter violado o sábado. Na sua defesa, Jesus levanta os
seguintes argumentos:
/. Sua unidade com o Pai. “E Jesus lhes
respondeu: Meu Pai trabalha ate agora, c eu trabalho também”. Noutras palavras:
Deus trabalha no sábado, sustentando o Universo, comunicando vida, abençoando
os homens, respondendo às orações. Perguntou um zombador, em conversa com um
rabino judeu: “Por que Deus não guarda o sábado?” Respondeu o rabino: “Não é permitido
que um homem se locomova dentro do seu próprio lar? O lar de Deus é o universo
inteiro, de alto a baixo. Deus não precisa do sábado; é uma bênção que ele
concede às suas criaturas, para a felicidade delas”. E esta superioridade sobre
o sábado que Jesus também considerou privilégio seu. Sua atividade é tão
necessária para o mundo como a de Deus Pai; realmente, ao efetuar a cura no
sábado, estava meramente agindo cm nome do Pai.
Os judeus entenderam, corretamente, que Jesus
estava declarando sua própria divindade mediante tal resposta. Se estivesse
simplesmente argumentando que, já que Deus trabalha no sábado, ele também, como
judeu piedoso, podia trabalhar no sábado, sua defesa teria sido absurda. A
declaração da sua própria deidade, no entanto, deu conteúdo real à sua defesa.
Jesus declarou, portanto, que a cura do
paralítico era uma obra do Pai, c que os judeus, ao acusá-lo da quebra do
sábado, estavam realmente fazendo a acusação contra o Pai.
2. Sua comunhão com o Pai. “Na verdade, na
verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não
vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho faz igualmente”. Cristo
vivia em tão perfeita harmonia com o Pai que lhe era impossível operar qualquer
milagre por sua própria iniciativa, ou do seu próprio desejo. Ele estava tão acostumado a submeter-se ao propósito divino que
eslava fora de cogitação a ideia de Ele entender mal a vontade de Deus ou se
opor a ela. O Filho nada pode fazer de si mesmo, não por lhe faltar poder, e
sim porque lhe falta o desejo de agir independentemente de Deus. A sua
expressão é semelhante ã de um homem consciencioso que, quando alguém insiste com ele para que
faça algo errado, responde: “Não posso fazê-lo”. Poderia, se desejasse, mas seu
caráter reto e justo lhe proíbe tal coisa.
A atitude filial de Cristo é correspondida pelo
amor do Pai: “Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz”. O Filho
tem sido um espectador contínuo das obras do Pai nos corações e vidas dos
homens. Estava tão pro- fundamente enfronhado nos conselhos do Pai que sabia
instintivamente qual era a vontade do Pai cm todos os casos. Assim, uma só
olhada na direção do homem paralítico bastava para convencê-lo de que era da
vontade do Pai a realização da cura, apesar de ser no dia de sábado.
II - () Alcance da Autoridade de Cristo
(Jo 5.21-30)
“F ele lhe mostrará maiores obras do que estas,
para que vos maravilheis”. A nova vida comunicada ao paralítico era um sinal
que indicava o poder de Jesus para comunicar a vida eterna a quem ele quisesse.
A vida física assim transmitida apontava para sua capacidade de transmitir a
vida espiritual também.
As “obras maiores” de Cristo se manifestam em
duas esferas:
/. Na vivificação dos mortos. Dois tipos
de ressurreição se mencionam nestes versículos - a espiritual e a física. O
pecado causa a morte espiritual, bem como a morte física; Cristo, Salvador dos
pecadores, dá a vida eterna à alma (v. 24) c a imortalidade na ressurreição (v.
25). Os versículos 21 a 25 aplicam-se à ressurreição
física e à espiritual. O
Filho de Deus exerce estas prerrogativas porque
“assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si
mesmo”.
2. No exercício do julgamento. “E também o
Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo”. Isto inclui o julgamento
que os homens pronunciam contra si mesmos quando rejeitam a Cristo, bem como o
juízo que será realizado no dia final. O propósito desta atribuição é “para que
todos honrem o Filho, como honram o Pai”. Quando consideramos as declarações de
Cristo acerca de si mesmo, não podemos fugir do mistério da Trindade. Dizer que
o Filho deve ser honrado como o Pai, é dizer que o Filho c o Pai são um, com os
mesmos poderes e honras, muito embora Jesus, nos dias em que viveu na terra,
estivesse sujeito ao Pai de acordo com o plano divino.
Há aqueles que pensam da seguinte forma: sou um
homem, com as fraquezas humanas, passando por uma vida cheia de dificuldades.
Deus, lá no Céu, é perfeito e livre de qualquer tentação. Como poderia Ele
simpatizar com meu ponto de vista? A resposta de Cristo c: “E deu-lhe o poder
de exercer o juízo, porque é o Filho do homem”. Noutras palavras: no dia do
juízo os homens comparecerão diante de quem já viveu na natureza deles,
experimentou as tristezas deles, enfrentou as tentações deles, e que sabe por
experiência o que é a vida humana.
“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma”,
por causa do perfeito vínculo de comunhão entre Jesus e o Pai. Desejando que
haja a mesma comunhão entre ele mesmo e os seus discípulos, Jesus disse: “Sem
mim nada podeis fazer” (Jo 15.5).
Talvez alguns dos ouvintes se queixassem, dizendo
que Cristo era muito severo ou dogmático ao julgar as pessoas, assim como há
aqueles que levantam a objeção de serem as palavras de Jesus em Mateus 23 muito
duras para aquEle que veio salvar, e não condenar. A resposta de Cristo foi c
continua sendo: “Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não
busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou”. Cristo se refere às
suas declarações de aprovação e de condenação, definindo o que é certo e o que
é errado. Tinha, por exemplo, autoridade para dizer: “Estão perdoados os teus
pecados”; “A tua fé te salvou”; “Melhor seria para tal homem não ter nascido”;
“Vinde a mim”; “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”. Estes e
outros julgamentos pronunciados, no que diz respeito aos fariseus, aos
hipócritas, a Pilatos e Herodes, a Jerusalém, ao mundo, aos demônios, são
expressões da vontade do Pai, e não de ressentimento pessoal. São a verdadeira
e infalível expressão da vontade divina.
III - Ensinamentos Práticos
1. A divindade de Cristo. No trecho aqui
estudado, temos um exemplo das tremendas asseverações feitas por Cristo com respeito
a si mesmo, declarações que somente Deus pode fazer com razão. No entanto, as
afirmações foram tão singelas c naturais como, por exemplo, quando Paulo dizia:
“Eu sou judeu”. Para chegar-se à conclusão de que Cristo é divino, basta
reconhecer duas coisas: primeiro, que Jesus não era um homem mau. Segundo, que
Jesus não era louco. Se alegasse sua própria divindade, enquanto soubesse não
ser Deus, não poderia ser um homem bom; se falsamente
imaginasse ser Deus, sem que isso correspondesse à realidade, não poderia ser
um homem mentalmente são. Posto que
nenhuma pessoa séria pode duvidar da perfeição do caráter de Jesus, nem da superioridade
da sua sanidade, não nos resta outra conclusão senão a de que ele era o que
declarava ser - o Filho de Deus, no sentido
especial e reservado da palavra.
2. O aluai juízo de Cristo. No plano da
salvação, há íntima relação entre o presente c o futuro. A plenitude da vida
eterna c a possessão que receberemos no futuro, embora comece aqui c agora.
Aquele que crê em Cristo “tem a vida eterna”. A condenação final ainda aguarda
os pecadores não arrependidos, mas começa aqui e agora. No entanto, agora, a
ira de Deus permanece sobre o descrente (Jo 3.36).
Esta verdade foi ilustrada na vida terrestre de
nosso Senhor. Toda pessoa que apareceu na sua presença foi julgada - ou recebeu
aprovação, ou foi condenada. Lemos que os fariseus, cheios de suspeita, queriam
submeter Jesus ao escrutínio; mas, na realidade, eles é que foram submetidos ao
julgamento. Lemos que Jesus foi levado perante Herodes, mas, na realidade,
tratava-se de Herodes comparecendo perante Jesus! (Lc 23.8-11). Jesus foi
levado a Pilatos, mas, na realidade, Pilatos é que foi julgado por Jesus. Lemos
sobre o processo de Jesus perante o Sinédrio, mas, realmente, julgava-se a
autoridade moral do Sinédrio. Em todos os casos, foram invertidos os papéis,
porque c Ele agora o Exaltado, e eles, os condenados.
Na presença de Jesus, portanto, os homens são julgados de
acordo com a sua atitude para com Ele. L Ele ainda é a pedra de toque das
nossas vidas. Certo visitante altivo e crítico estava examinando uma coletânea
de obras-primas de pintura numa galeria de arte. “Não vejo nada de especial
nesses quadros”, disse, com ar de desprezo. O curador respondeu,
tranquilamente: “Senhor, aqui não está cm causa a qualidade dos quadros, e sim
a dos observadores”. Os críticos procuram submeter o caráter divino ao
microscópio, mas são realmente eles o objeto de escrutínio. Uma boa pergunta a
dirigir a um cético seria: “O que você pensa de Cristo?” Mas a pergunta mais
importante é: “O que Cristo pensa de você?”
3. “Vindo, depois disso, o juízo” (Hb 9.27). Lemos em João
3.17: “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o
mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele". Em João 5.22, lemos: “E
também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo”. Não há nenhuma
contradição aqui. É da vontade de Deus que todos sejam salvos, e Jesus provou a
morte em prol de todos os homens. Quando, porém, os homens rejeitam a cura do
pecado, têm de sofrer a sua penalidade; quando zombam da oferta da misericórdia
divina, não há escape da condenação divina.
Pessoas há, hoje, que duvidam do juízo vindouro
tanto quanto os homens da época de Noé, mas nem por isso deixou de vir o dilúvio,
nem deixará de vir o dia do juízo final.
4. “Da morte para a vida” (v. 24). Assim como um
cadáver pode ser cercado por flores e enlutados, sem com eles ter o mínimo
contato, assim também uma alma morta pode ter coisas espirituais ao seu
alcance, sem, porém, tomar a mínima consciência da sua presença. “Mas a que
vive cm deleites, vivendo está morta” (lTm 5.6). “E vos vivificou, estando vós
mortos em ofensas c pecados” (Ef 2.1). Assim como um mineral está morto no que
diz respeito ao reino vegetal, também o homem não convertido está morto com
respeito ao Reino de Deus.
Cristo veio possibilitar a transição do homem da
morte para a vida: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3.36). E
esta verdade que faz a distinção entre o Cristianismo c todas as demais
religiões. E o homem mental c moral mais a pessoa de Cristo; é a nova
vida transmitida ao homem espiritual, uma qualidade bem diferente do que
qualquer outra coisa existente no mundo (cf. Jo 14.20-23; 15.5; 1 Co 6.15; 2 Co
13.5; G1 2.20). Cristo é a fonte da nossa vida. Nenhum homem espiritual alega,
em hipótese alguma, que a sua
espiritualidade é dele mesmo. “E vivo não mais cu, mas Cristo vive em mim”
(G1 2.20). Quando alguém verdadeira c sinceramente se volta do pecado para
Cristo, passa da morte para a vida.
5. A certeza da vida eterna. Na data desta
tradução, noticia-se a morte de um russo que viveu 168 anos. É um período muito
grande de tempo, cm que houve profundas modificações em todas as nações da
terra, mas não passa de alguns poucos segundos em comparação à vida eterna, que
é o presente recebido por todos os que tem fé cm Cristo. Muitos rejeitam a vida
eterna, não por não crerem que ela seja boa, mas porque a acham boa demais para
ser verdadeira. Outros gostariam que fosse verdadeira, mas não têm base sólida
para fundamentar as suas esperanças. Roberto E. Ingersoll, destacado inimigo da
Bíblia c do Cristianismo, na ocasião do enterro do seu irmão, fez um discurso
declarando não existir nada que apoie o conceito da vida além-túmulo. Depois, disse:
“Aquele que aqui jaz confundiu a aproximação da morte com a volta da saúde, e
sussurrou, com seu derradeiro alento: ‘Já sarei’. Oxalá possamos crer, a
despeito das dúvidas e dogmas, das lágrimas e temores, que sejam verdadeiras
estas preciosas palavras, no que diz respeito a todos os incontáveis mortos”.
Este desejo de ter alguma esperança, da parte de quem rejeitou as Escrituras, é
a sólida segurança de quem conhece a Cristo: “Porque eu vivo, e vós vivereis”
(Jo 14.19).
6. O coração sem nuvens. “O meu juízo é
justo porque não procuro a minha própria vontade, c sim a daquele que me
enviou”. Com estas palavras, Jesus revelou a inexistência de motivos errados cm
seus julgamentos. Tudo quanto dizia c fazia era isento da influencia do egoísmo
que distorce todas as coisas.
Assim como a poluição do ar vai obscurecendo a nossa vista
ao derredor, também o egoísmo, o medo e a ambição formam uma nuvem que obscurece o raciocínio e
perverte o juízo. Não
havendo qualquer defeito ou lesão específica, sempre terão sanidade mental as
pessoas que têm pureza de coração.
Feliz o homem que nega-sc a si mesmo c que pode dizer: “Não
busco a minha própria vontade, mas a vontade do Pai que me enviou”. Tal
consagração desanuviará nosso discernimento c julgamento e alimentará o espírito
(Jo 4.34), iluminando o entendimento (Jo 7.17) e dando descanso ao coração (Ml
1 1.29).
Fonte livro e autor.
João
Pearlman, Myer
João, o Hvangelho do Filho de
Deus.../
Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.
Almir
Batista
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