quinta-feira, 8 de junho de 2017

Uma análise de Jó 1.6 e João 3.13

PR. ELIENAI CABRAL




Faz algum tempo que recebi a seguinte pergunta: “Qual a diferença entre a expressão bíblica do livro de Jó 1.6 - '...e num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor...” - e João 3.13, que diz que 'ninguém subiu ao céu', se em Romanos hão de comparecer ao Tribunal de Cristo?”.
Ora, quando Jó 1.6 diz que “os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor”, refere-se aos seres espirituais, ou seja, anjos, os quais são responsáveis diante de Deus e prestam-lhe contas. Uma vez que em Jó 2.1 está escrito que “Satanás veio entre eles apresentar-se diante de Deus”, subtende-se que mesmo os anjos rebeldes estão debaixo da soberania divina.
Nem toda vez que encontramos essa expressão "filhos de Deus" na Bíblia, especialmente no Antigo Testamento, ela está se referindo a anjos. Por isso, pelas regras mais simples da hermenêutica, devemos sempre recorrer ao contexto daquela expressão. Algumas vezes, a expressão refere-se aos filhos de Israel que representavam o povo de Deus na terra. Já em Gênesis 6, a expressão “filhos de Deus” refere-se a uma geração especial da linhagem de Sete, uma geração que temia e servia a Deus. O que favorece essa ideia é a doutrina bíblica acerca dos anjos que, no seu ensino geral, rejeita qualquer tipo de miscigenação de anjos com seres humanos. A Bíblia - aliás, o próprio Jesus - declara que os anjos não se casam nem se dão em casamento (Mt 22.30; Lc 20.36). Eles são criaturas puramente espirituais e, por isso, não foram dotadas de sexualidade. São seres assexuais, isto é, não geram outros seres. A Bíblia também diz que os crentes em Cristo são feitos “filhos de Deus” ao aceitarem o Evangelho e serem regeneradas pelo Espírito Santo (Jo 1.12; Rm 8.16;Gl 3.26; Fp 2.15). Ora, uma vez que a expressão “filhos de Deus” não se restringe apenas aos anjos e que o contexto histórico de Gênesis 6 fala de relações físicas, podemos entender que aqueles “filhos de Deus” são, na verdade, filhos dos homens, nascidos de mulher, que perderam a pureza primária e se degeneraram.

Quanto à relação entre os textos de Jó 1.6  e João 3.13: no primeiro texto, “os filhos de Deus” (anjos) comparecem diante de Deus e no segundo texto (Jo 3.13), Jesus declara que “ninguém subiu ao céu”. Em primeiro lugar, não há qualquer relação entre as expressões, porque Jesus estava falando ao povo, feito de carne e osso. Naturalmente, “carne e osso” jamais tiveram acesso às dimensões espirituais. Paulo declarou que “carne e osso” não herdam o Reino de Deus (1Co 15.50). Não há relação alguma entre os filhos de Deus de Jó 1.6 com os salvos em Cristo que comparecerão um dia no “Tribunal de Cristo” (2Co 5.10). Nesse Tribunal, somente os transformados do material para o espiritual estarão na presença de Cristo para receberem seus galardões pelas obras feitas através do corpo aqui na Terra. Outrossim, os filhos de Deus que comparecerem diante de Deus  no céu eram, sem dúvida, os anjos criados por Deus, os quais sempre tiveram acesso ao Trono de Deus. Entre esses filhos de Deus apareceu num dia Satanás, o anjo rebelde, o qual, inevitavelmente, está sob o poder soberano do Criador. Satanás, tanto quanto os demais anjos, são seres espirituais, por isso somente seres espirituais tem acesso ao céu.

Romanos 14.10 diz que “todos havemos de comparecer ante o Tribunal de Cristo”. O termo “todos” tem um caráter especial e particular porque se refere apenas aos salvos, arrebatados ou ressuscitados na Vinda de Cristo (1Co 15.51,52; 1Ts 4.13-18). Na Escatologia Bíblica, o Tribunal de Cristo e o Tribunal do “Grande Trono Branco” (Ap 20.11,12) são tribunais distintos no tempo e no espaço. O grande comparecimento dos salvos diante do Tribunal de Cristo acontecerá muito antes do último grande julgamento histórico, que é o Tribunal do Trono Branco, Trono do Juízo final, quando todas as criaturas que não passaram pelo Tribunal de Cristo hão de comparecer (Ap 20.12-14).


Outrossim, o texto de Romanos 14.10 tem no seu contexto a discussão sobre o comportamento social entre os cristãos, quando alguns tinham atitudes arrogantes, depreciativas e discriminatórias em relação aos outros irmãos da mesma fé. Paulo desfaz essa discussão e fortalece o fato de que todos, fracos e fortes, hão de comparecer ante o Tribunal de Cristo para que suas obras feitas através do corpo sejam julgadas. Nesse Tribunal, não há condenação, somente premiação pelas obras feitas.


quarta-feira, 7 de junho de 2017

O renovo, o azeite e a luz (segunda parte)

PR. ELIENAI CABRAL



Na ótica de Deus, a Igreja é um castiçal feito por Ele para produzir luz para o mundo, e que precisa ser provido com um novo óleo dourado, limpo e forte. O azeite velho e endurecido das experiências passadas precisa ser renovado.

É lamentável perceber no atual momento igrejas buscando luzes estranhas com combustíveis não produzidos pelo Espírito Santo. Muito do óleo velho que está aí nada tem a ver com o óleo sempre novo que vem da fonte inesgotável do Espírito Santo. É azeite endurecido e petrificado dos que vivem de experiências passadas e manipulações.

Zacarias 4.2-3,11-12 nos apresenta sete ingredientes especiais do modo de operação de Deus na restauração do seu povo. Esses ingredientes são: 1) castiçal de ouro (v2); 2) um vaso de azeite (v2); 3) sete lâmpadas (v2); 4) sete canudos (canais) para as sete lâmpadas (v2); 5) duas oliveiras (vv3,11); 6) o óleo dourado (v12); 7) e dois tubos de ouro (v12). Deus toma esses sete ingredientes ligados ao castiçal para ilustrar e ensinar procedimentos quanto à unção espiritual.

A visão era nítida na mente do profeta. Cada material tem seu significado tipológico, seu sentido espiritual. Em Apocalipse, João teve uma visão das sete igrejas da Ásia, em que cada uma era representada por um castiçal. Pelo Espírito Santo, Deus utiliza todos os meios possíveis para tornar a Igreja capaz de iluminar o mundo com a sua luz. Luz e poder são elementos produzidos pelo castiçal.

Assim como Zacarias viu “vasos de azeite” suprindo o castiçal, o Espírito provê e supre a Igreja com unção. Na visão, os líderes Josué e Zorobabel foram dinamizados e se tornaram vasos de azeite para a vida espiritual de Israel. Também hoje Deus tem tomado vasos especiais, por cujos ministérios a Igreja de Cristo tem sido suprida e provida de unção espiritual. Como esquecer de Gunnar Vingren, Daniel Berg, Nels Nelson, Clímaco Bueno Asa, Alcebíades Vasconcelos, Estevão Ângelo de Souza, Osmar Cabral, Bernardino da Silva, Paulo Macalão, John Peter Kolenda, Orlando Boyer e tantos outros que já passaram? Que dizer de outros vasos de azeite que Deus tem levantado em nossos dias, que estão vivos e temos o seu testemunho?

O azeite dourado que estava no cimo do castiçal não dependia de qualquer manipulação ou esforço humanos, avivamentos pré-fabricados, enlatados das neoteologias despidas de qualquer compromisso com os princípios bíblicos. É lamentável o surgimento de pessoas que querem mostrar falsa luz, produzida por falso azeite. São os produtores de “milagres” e “unções” manipuladas como se o Espírito dependesse deles.

As sete lâmpadas e os múltiplos tubos de recepção do azeite dourado indicam a plenitude e a multiplicidade das operações do Espírito. O suprimento contínuo do azeite das duas oliveiras não faltaria. A obra a ser feita não sofreria “solução de continuidade”.

A Igreja deve ser instrumento de multiplicidade e diversidade de operações do Espírito Santo (1Co 12.4-7). Assim como “duas oliveiras” supriam o castiçal com azeite pelo ministério de Zorobabel e Josué, Deus planta oliveiras no seio da igreja local, para, através de seus ministérios, suprirem a Igreja. Esse suprimento ministerial tem que ter seu respaldo na Palavra. Não podemos inventar ministérios em detrimento dos que já existem para a vida da Igreja.

Na visão do castiçal, o profeta viu que das duas oliveiras o azeite produzido era canalizado através de “dois tubos de ouro”, e ele era “dourado”. O azeite dourado indica sua procedência, que não é de fontes comuns. Não é produção humana. É azeite especial para quem se coloca como canal (“tubos de ouro”) para suprir a Igreja.

Precisamos da unção que limpe e lubrifique os canais entupidos pelas preocupações, pelo desmazelo diante das coisas espirituais. Queremos uma unção capaz de desbloquear esses canais entupidos, de propiciar energia suficiente para a vida cristã atuante, de nos tornar aptos para a realização de sinais e prodígios em nome do Senhor!


O renovo, o azeite e a luz (primeira parte)



PR. ELIENAI CABRAL


Em Zacarias, vemos o Senhor diagnosticando a necessidade espiritual de Israel. Deus faz um diagnóstico do estado de saúde espiritual do seu povo e procura prevenir as causas. A visão do capítulo 4 de Zacarias e a sua tipologia especial indicam esse diagnóstico do Senhor, Médico do seu povo, e o que Ele fará para a cura.

Em cerca de 519aC, o povo havia voltado do exílio babilônico e se defrontado com enormes dificuldades. Havia oposição dos povos vizinhos. Não havia recursos materiais para a restauração econômica. Os líderes do povo, tanto no campo político quanto no religioso, eram incompetentes para resolver os problemas que afloravam, de ordem moral, material e espiritual. Seus dois principais líderes, Zorobabel e Josué, estavam desmotivados e sem forças para agir. O desejo de reconstruir o Templo era enorme, mas não havia motivação. O nível espiritual do povo era baixíssimo. Não havia esperança no coração do povo. O pessimismo tomara os corações e mentes.

Foi em meio a esse estado caótico que Deus entrou em ação. A visão veio em meio a um turbilhão de problemas. Quando os recursos são poucos e pequenos, Deus entra em ação. Ele enviou seu anjo para falar com Zacarias, que se tornou o canal da sua voz aos líderes e todo o povo, pois o Deus Todo-Poderoso se apresenta na vida dos seus como Jeová-Jireh, Aquele que provê todas as coisas.

“E me disse: Que vês? E eu disse: Olho e eis um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no cimo, com suas sete lâmpadas; e cada lâmpada posta no cimo e sete canudos para as sete lâmpadas”, Zc 4.2. Entre os materiais da liturgia hebréia, o castiçal era uma peça única de ouro que fazia parte dos serviços sacerdotais. Ele tinha ao todo sete lâmpadas que serviam para iluminar o ambiente fechado e escuro do Lugar Santo e do Lugar Santíssimo, espaços que simbolizavam a vida espiritual de Israel, onde os sacerdotes ministravam. Por ser o símbolo de maior relevância da vida religiosa de Israel, Deus resolveu mostrar o estado espiritual do seu povo mediante um castiçal apagado, sem luz e esquecido.

Típico da ação divina, Deus usa os dois principais líderes do povo, Zorobabel e Josué, mesmo eles estando tão fragilizados. Eles são despertados em seus ânimos e renovados.

A figura é a de um castiçal sujo, esquecido e apagado, com seu pavio velho e endurecido sem a menor condição de produzir luz, mas o Senhor estava pronto para renovar esse pavio, limpar o castiçal e prover um novo azeite para que Israel voltasse a manifestar a luz de Deus perante o mundo.


A lição simples que aprendemos é que, às vezes, o pavio da nossa vida espiritual torna-se incapaz de canalizar luz. O pavio é um elemento material que fica entre o fogo e o azeite. A função do pavio é veicular o óleo para a centelha de fogo. Se o mesmo estiver seco e duro, não absorverá o óleo e poderá apenas queimar e chamuscar o castiçal. O que Deus queria mostrar a Zacarias era que Josué e Zorobabel podiam ser fracos e incapazes de reagir como um pavio de lamparina, mas Ele poderia renová-los e embebê-los com um novo óleo, inflamando-os para se tornarem uma grande luz.

Fonte- http://www.cpadnews.com.br