terça-feira, 18 de julho de 2017

Subsídio Lição 04 Jovens 3º Trim 2017 - OTIMIZANDO O RITMO DA VIDA

 “Ao recordar sua vida, você descobrirá que os momentos quando realmente viveu são os momentos em que agiu motivado pelo amor. ” — Henry Drummond

Nos dois capítulos anteriores, os temas abordados foram, respectivamente, a preguiça — usar o tempo no minimum (do latim, que significa mínimo, “o menor de todos”) — e o ativismo — usar o tempo no maximus (do latim, que significa máximo, “o maior de todos”). Neste capítulo, entretanto, observar-se-á o equilíbrio entre as duas condutas — o optimus (do latim, que significa ótimo, “o melhor de todos”), superlativo absoluto sintético de bom, muito bom, magnífico, excelente.
Esse desfrutar das riquezas do tempo com sabedoria {optimus) é algo realmente importante, e fará, no fim, toda a diferença, trazendo honra e alegria àqueles que se adequarem, que otimizarem o ritmo da vida segundo a vontade de Deus, aprendendo a navegar nas águas caudalosas da existência humana. No mundialmente famoso livro infantil O Pequeno Príncipe, que tem como protagonista um menino que viaja por vários planetas e, por fim, chega à Terra, aparece um homem que é acendedor de lampião. Este lamenta que não consiga descansar, pois seu planeta gira muito rapidamente, a tal ponto que o dia ali dura apenas só um minuto. Assim, no lapso de sessenta segundos, o homem tem que acender o lampião (à noite) e, um minuto depois, apagá-lo (durante o dia), o que lhe consome as forças. Ele faz isso somente por causa do regulamento do planeta. Observe-se parte do diálogo com o pequeno príncipe:

— Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...
— E depois disso, mudou o regulamento?
— O regulamento não mudou — disse o acendedor. — Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!
— E então? — disse o principezinho.
— Agora, que ele dá uma volta por minuto, não tenho mais um segundo de repouso. Acendo e apago uma vez por minuto!
O principezinho considerou-o, e [...] quis ajudar o amigo.
— Sabes? Eu sei de um modo de descansar quando quiseres...
— Eu sempre quero — disse o acendedor.
— Pois a gente pode ser, ao mesmo tempo, fiel e preguiçoso.
E o principezinho prosseguiu:
— Teu planeta é tão pequeno, que podes, com três passos, dar-lhe a volta. Basta andares lentamente, bem lentamente, de modo a ficares sempre ao sol. Quando quiseres descansar, caminharás... e o dia durará quanto queiras.
— Isso não adianta muito — disse o acendedor. — O que eu gosto mais na vida é de dormir.
— Então não há remédio — disse o principezinho.
— Não há remédio — disse o acendedor. — Bom dia.
E apagou seu lampião.
Esse aí, disse para si o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, esse aí seria desprezado por todos.1
Deus tem sempre uma saída, uma estratégia, para resolver os problemas das pessoas que estão sempre ocupadas. Essa singela história do “acendedor de lampião” demonstra o grande problema daqueles que oscilam entre os dois extremos do uso inadequado do tempo: a preguiça (querer dormir sempre) e o ativismo (trabalhar sem descansar), mas explica-se que era possível otimizar o ritmo da vida, desde que se caminhasse no compasso correto para assim poder descansar e, ao mesmo tempo, não deixar de lado as obrigações (o “regulamento”). Note-se que o acendedor informou que o planeta, com o tempo, passou

a girar mais rápido, não tendo sido alterada sua rotina de atividades, o que transtornou sua vida terrivelmente.
No cotidiano, igualmente, as pessoas estão cumprindo tarefas sem entender a razão de assim o fazerem e, com isso, tornam-se pessoas cansadas e sem alegria. A última reflexão do pequeno príncipe, na história contada, aponta para a seguinte verdade: Os que não quiserem se adequar à realidade da vida serão, no final, “desprezados por todos”. E se a pessoa não quiser fazer nada para mudar o quadro, “não haverá remédio” para curar tal ferida. Isso se parece muito com as descrições feitas por Salomão quanto àqueles que se dão à preguiça — a “pobreza chegará de repente, como um ladrão, e a sua necessidade cairá sobre você de surpresa, como um bandido armado” (Pv 6.11, NBY) — e ao ativismo — "... quem se apressa erra no caminho” (Pv 19.2, NBV).

I. Uma Vida que Vale a Pena
A verdadeira riqueza
Todo o mundo quer ser rico, mas a verdadeira riqueza não será achada enquanto a pessoa estiver longe de Deus, a Suprema Riqueza. Conhecendo Deus, a pessoa deixará de buscar desenfreadamente os bens materiais e começará a valorizar as coisas simples (que são as mais importantes), dando atenção aos pequenos detalhes, investindo em iniciativas humanistas, cultivando nobres propósitos no coração e, sobretudo, desejando ser um instrumento do Senhor na terra. Isso fará da pessoa um milionário, em todos os aspectos, como disse C. S. Lewis: “Se você aspirar ao céu, ganhará a terra ‘de lambuja’; se aspirar à terra, perderá ambos”.2 É com essa decisão vital de anelar as coisas mais importantes — as que agradam ao Senhor, o céu — que cada um terá o melhor de Deus nesta vida e na eternidade.
O triste, porém, é que não é fácil encontrar uma pessoa rica de verdade, não obstante existam muitos endinheirados. As pessoas mais ricas do mundo são aquelas que estão bem perto de Jesus todos os dias, que constroem um casamento sólido, amam a família e trabalham em algo que faça sentido para elas e para Deus.

Phil Callaway afirma, com razão, que “rico é o homem cuja mulher corre para seus braços, mesmo tendo as mãos vazias”.3 De fato, a real noção de ser rico passa impreterivelmente pela posse de coisas que não podem ser consumidas pela traça, ferrugem, nem podem ser roubadas, como o amor de alguém que está ao seu lado.
A atriz inglesa Judy Garland (1922-1969) foi, certa vez, chamada de lenda por um repórter, ao que ela retrucou: “Se sou uma lenda, como você diz, por que estou sozinha? Vou lhe dizer uma coisa: tudo bem ser uma lenda, desde que tenha por perto alguém que te ame”.4 Somente se vive uma vida que vale a pena se houver a descoberta do real significado da existência: Deus — a verdadeira riqueza.

Definindo princípios
Como visto, o primeiro passo é ter um encontro real com Jesus e a pessoa tornar-se rica. A partir daí, todos os princípios que definirão o uso otimizado do tempo serão estabelecidos, pois o indivíduo verá a vida não mais sob o prisma do egoísmo. Ele entenderá a necessidade de amar o próximo e sonhará em ter uma família feliz. Afinal, homens ricos têm famílias felizes, porém os homens que “curtem a vida adoidado” (lembrando um filme norte-americano lançado em 1986) conseguem, no máximo, ter amantes. No fim, amargarão a solidão, não poderão ter álbuns de família, nem colocarão os netos no colo, pois desprezaram, ao longo da existência, a fidelidade familiar. E a lei da semeadura.
Nesse sentido, há um ditado africano que diz: “Se alguém quer ir rápido, vá sozinho; se quiser ir longe, vá com alguém”. Os que gastam o tempo no maximus de sua disponibilidade, freneticamente, apenas com interesses egoístas, poderão até alcançar lugares altos rapidamente, mas decerto seguirão sozinhos e dificilmente serão felizes.
Morrie Schwartz afirmou:
— Estou morrendo, certo?
— Certo.
— Por que acha que é tão importante para mim escutar os problemas

dos outros? Já não estou carregado de dor e sofrimentos? É claro que estou. Mas doar-me a outros é o que me faz sentir vivo. Não é a minha casa nem o meu carro. Não é o que o espelho me mostra. Quando doo o meu tempo a alguém, quando consigo fazer alguém que está triste sorrir, sinto-me quase tão sadio como fui antes.
— Faça aquilo que vem do coração. Fazendo, não ficará insatisfeito, não sentirá inveja, não estará aspirando a bens que pertencem a outros. Pelo contrário, ficará assombrado com o que receberá de volta.
Otimizar o ritmo da vida inclui, necessariamente, a dependência de Deus e dos semelhantes. Jesus, na noite em que foi traído, caminhou para o Getsêmani porque dependia de Deus, mas foi com três discípulos, porque precisava de apoio e oração dos seus amigos (Jo 17.21; 1 Jo 3.16).

A importância do próximo
Deus dá inúmeros dons aos homens, porém nenhum desses dons pode ser usado para proveito próprio, mas sempre em função dos outros. E isso deve ser feito de todo coração, pois aqueles que vivem exclusivamente para si, (como o mar morto, que nada cede a ninguém), estão fadados ao insucesso pessoal, ainda que possuam muitas riquezas. Quando se segue com propósito na vida, entende-se como imprimir o ritmo correto na jornada.
Para se ter ideia da importância do próximo, foi realizada uma pesquisa cuja conclusão demonstrou que a mera expectativa de “desconexão social” traz enormes malefícios para o corpo e mente, ocasionando desde lapsos de memória, perda de audição, até o descontrole emocional e a diminuição da capacidade de raciocinar, ou seja, sem existir vida social com propósito dificilmente a pessoa conseguirá levar a vida no ritmo de Deus.6
Conta-se que um antropólogo, que realizava estudos numa tribo africana, propôs uma competição: a criança que chegasse primeiro a uma árvore ganharia todos os doces que estavam ali em um cesto. Quando foi dada a largada, as crianças deram as mãos e saíram correndo à árvore mencionada, e lá repartiram o prêmio.
O antropólogo perguntou por que elas fizeram aquilo, ao que responderam: “Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”.
Que belo exemplo! O melhor de Deus está em viver uma vida em que se busque, sobretudo, o sorriso das outras pessoas.

II. Cuidando de si Mesmo
Corpo, templo do Espírito
Otimizar o ritmo da vida implica, também, investir tempo para cuidar de si mesmo, como recomenda Paulo (1 Tm 4.16). Infelizmente, porém, muitas pessoas estão aceleradas demais, procurando alcançar com urgência um “lugar ao sol” e, assim, perdem as coisas mais importantes, inclusive a saúde. Outras, inertes, sedentárias, preguiçosas, igualmente não fazem a vontade de Deus.
É necessário que o corpo receba uma alimentação saudável e seja exercitado com frequência, moderadamente, por todas as pessoas. Paulo, ao mencionar o exercício corporal, diz que, em relação à piedade, ele tem pouco proveito (1 Tm 4.8), mas, com isso, ele não estava desprezando a atividade física, que é indispensável para manter a saúde e a boa forma do templo do Espírito Santo (1 Co 6.19).
Todavia, para encontrar oportunidade de cuidar bem do corpo, talvez seja preciso fazer como Jacó: andar “no passo do gado [...] e dos meninos” (Gn 33.14). Ou seja, reduzir a velocidade de algumas tarefas e abolir outras. Essa atitude de prudência e moderação (Tt 2.2,6) é uma recomendação importante para que se possa ir mais longe com saúde, pois para a tarefa de evangelizar o mundo o Mestre precisa, notadamente, de obreiros fortes, e não de doentes por falta de cuidados com o corpo.

Mente, sede dos pensamentos e emoções
Há uma guerra em curso na mente de todas as pessoas. Nesse campo de batalha, há conflitos de natureza emocional e espiritual. Diante disso, a Bíblia recomenda que o cristão utilize o capacete da salvação, de maneira que a mente esteja bem protegida (Ef 6.17). Jesus é um extraordinário exemplo para todos, pois ele cuidou como ninguém de sua saúde emocional, amando indistintamente e perdoando a todos, independentemente dos danos morais suportados. Augusto Cury aborda esse aspecto:
O mestre de Nazaré não dormia com seus inimigos, pois nenhum homem era seu inimigo. Os fariseus podiam odiá-lo e ameaçá-lo, mas todo o ódio de um homem não o qualificava para ser seu inimigo. Qual a razão? A razão era que ninguém conseguia transpor sua capacidade de proteger a sua emoção. Não permitia que a agressão dos outros tocasse sua alma.
Este é exatamente o ponto importante. Deixar a mente envolvida com pensamentos saudáveis, edificantes, blindada pelo amor e ternura, apresenta-se indispensável para uma boa saúde emocional, espiritual e física, evitando inclusive doenças psicossomáticas.

Família, fonte de alegria
O maior tesouro que um homem possui é sua família, composta por um homem, uma mulher e filho(s), pois sem ela não há futuro. Por isso, Adei Stephen aduz que “a administração do tempo deve ser dirigida pelo que é mais importante para nós — o nosso relacionamento com Deus, nosso cônjuge e nossa família”.8 Inequivocamente, a maior fonte de alegria para uma pessoa é sua família. O professor Morrie Schwartz, imobilizado em sua cama, assim pontificou sobre família:
[...] é muito importante amar alguém e ser amado. É fácil compreender isso, principalmente numa fase como esta em que estou com uma deficiência de saúde. É ótimo ter amigos, mas os amigos não estarão aqui numa noite em que tusso muito e não durmo e preciso de alguém para ficar ao meu lado, me dar força e me prestar ajuda.
A perspectiva de ter um futuro de amor e ternura, como foi o de Morrie, depende de que o homem invista parte significativa do seu tempo (sugere-se pelo menos um dia por semana) com aqueles que Deus colocou para dividir, em família, o dom da vida. Pode-se escolher as sementes que serão semeadas no solo do presente, mas a colheita futura não se pode escolher. Será da mesma natureza (e maior quantidade) daquela que foi semeada.

III. 0 Ponto Optimus
Fazendo o mais fácil
Deus sempre tem um tipo ideal de tarefa para seus filhos: a mais fácil. Aos homens ficou a incumbência de realizar apenas as coisas fáceis. A parte difícil fica na responsabilidade do Senhor.
Jesus ensinou aos discípulos esse princípio básico do Reino: nos projetos de Deus, a participação humana será mínima, mas mesmo assim o homem deverá dar o máximo de si, atuando com todas as forças, fazer o que estiver ao seu alcance, pois sem esforço nada de bom acontecerá. Dessa forma, independentemente das condições pessoais, deve-se agir com coragem, movidos por amor e fé, para atender ao próximo. Afinal, onde existe amor, existe milagre.
Foi isso, por exemplo, que aconteceu nas multiplicações dos pães e peixes. Os discípulos estavam cansados, mas o Senhor mandou que eles dessem de comer à multidão. Os seguidores de Cristo não deveriam perder a chance de servir os outros sacrificialmente, pois isso geraria abundância tal que os alcançaria também.
Naqueles desertos em que Jesus estava, Deus preparou um banquete (SI 78.19). A multidão e os discípulos foram impactados pela multiplicação dos pães e peixes, que alimentaram a todos e ainda sobraram vários cestos cheios. Os discípulos agiram no optimus e tudo aconteceu maravilhosamente.
Ocorre que, em muitos casos, os homens querem fazer a parte de Deus (multiplicar pães e peixes) — o difícil —, e entram em grande aflição, pois terão que usar o ponto maximus de sua disponibilidade e não alcançarão os resultados desejados; ademais, estarão sob intenso estresse, longe do ponto optimus, longe da felicidade.
Fazendo no melhor prazo
Há uma interessante história infantil que mostra como é bom fazer as coisas-íio melhor tempo, e que não são os mais velozes (que agem no maximus) que sempre chegam primeiro. Ei-la:
Certo dia, um Coelho zombou das pernas curtas e do passo lento da Tartaruga, que respondeu, sorrindo: “Embora você seja rápido como o vento, vencerei você numa corrida”.
O Coelho, acreditando ser simplesmente impossível a declaração da Tartaruga, aceitou o desafio; concordaram que a Raposa deveria escolher o roteiro e determinar onde seria a chegada.
No dia da corrida, os dois começaram juntos.
A Tartaruga nem por um momento parou; antes, prosseguiu num passo lento, mas constante até o final da pista.
O Coelho deitou-se à beira do caminho e adormeceu depressa. Tendo finalmente acordado, moveu-se tão depressa quanto pôde, e viu a Tartaruga que, tendo atravessado a linha de chegada, estava confortavelmente cochilando depois de sua fatigante corrida.
O lento, mas constante, é o que vence a corrida.
Fazer as coisas no melhor prazo, não significa realizá-las de maneira rápida. Observe-se que o coelho da fábula, ao parar à margem da estrada, logo dormiu. Nisso há a ideia de que ele agia no maximus e, por tal razão, adormeceu rapidamente. Já a constante tartaruga, seguia esforçadamente no seu ritmo da vida e, no fim, como recompensa, também repousou, não como o coelho (o descanso dos estressados), mas pôde dormir o sono “dos justos”, por ter feito as coisas no melhor prazo. A tartaruga não bateu o recorde de velocidade, mas mostrou que era possível ser feliz fazendo as coisas apropriadamente, seguindo no ritmo que Deus lhe concedeu. Interessante; uma tartaruga pode viver mais de cem anos, porém um coelho não vive sequer dez.
Fazer as coisas no melhor prazo é uma decisão inteligente. No Egito, por exemplo, houve uma terrível chuva de grandes pedras, tendo as plantações de linho e cevada sido danificadas, pois já estavam, respectivamente, na espiga e na haste, mas as lavouras de trigo e centeio não foram feridas, pois as sementes ainda estavam sob o solo (Êx 9.31,32). Observe-se que os plantadores de linho e cevada não realizaram a semeadura no melhor tempo, não obstante fosse o mais oportuno do ponto de vista agrícola. Resultado: tudo se perdeu. Diferentemente do que aconteceu com os que semearam trigo e centeio. Tudo indica que estavam atrasados, porém, de fato, realizaram a obra no optimus, pois, no fim das contas, tudo se salvou.

Aceitando os resultados
Sucesso é uma palavra bem incerta e de vantagem duvidosa. Ser insultado, por exemplo, não deve ser interpretado como um objetivo que se quer, mas pode ser o querer do Senhor, pois aos olhos de Deus as coisas são diferentes; afinal, o que é “um sucesso” diante dos homens não o é, na maioria das vezes, diante de Deus (Lc 16.15).
Observe-se a vida do Filho de Deus. Uma das características que mais charqou a atenção foi sua capacidade de viver acima das circunstâncias desagradáveis. Sob a perspectiva humana, sua vida não foi um sucesso, mas Ele sempre vivia como uma águia que planava sobre as nuvens da tempestade. Ele soube enfrentar o caos como ninguém, navegando bem em qualquer cenário. Ao ser aclamado como Messias... ou ao ser fortemente insultado pelos pecadores. No mais profundo poço de angústia, o Senhor abriu sua boca para exalar perdão, gratidão... Para fazer poesia. Isso é otimizar a vida no ritmo de Deus.
Pedro explicou o que acontecia com Jesus, da seguinte forma: “Quando era insultado, Ele não revidava com insultos; quando era maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se a Deus, que julga retamente (1 Pe 2.23, VFL). E, em verdade, o Pai julgou-o retamente, dando-lhe um nome que é sobre todo nome, para que todos o adorem como Senhor e Deus (Fp 2.8-11). Ele sabia aceitar os resultados da obra do Pai.
Deus nunca permitiria que aquele que o serviu com tanto amor ficasse prostrado no chão da vergonha. Jesus recebeu honras de Rei, por seu Pai, no Lar Eterno. Está escrito: “Abram bem os portões [...] e entrará o Rei da glória. Quem é esse Rei da glória? É Deus, o Senhor, forte e poderoso, o Senhor, poderoso na batalha (SI 24.7,8, NTLH).

Você está sendo insultado injustamente? O que aconteceu com Jesus, acontecerá com você.
Disse Jesus: “Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo'de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês [...]” (Mt 5.11,12, NTLH). Deus sempre tem a última palavra.
Les Parrott pontua isso de maneira magistral:
[...] à medida que adquire sabedoria [...] você aprende a tolerar as incertezas da vida bem como seus altos e baixos. Você tem uma noção de como as coisas funcionam ao longo do tempo e de como Deus pode ajudá-lo a compreendê-las. Pessoas sábias geralmente partilham um otimismo que as mantém seguindo em frente, e elas experimentam uma calma quando enfrentam decisões difíceis. Em outras palavras, elas veem a situação como um todo."
Entretanto, mesmo que tudo tenha dado errado... Se, no fim da vida, a pessoa analise que, de modo objetivo, nada de bom aparentemente aconteceu, ainda terá sido gratificante o enriquecimento pessoal de haver desfrutado da companhia de Deus, e por ter sobrevivido pela fé em meio a tantas aventuras desafiantes, pelas perigosas e empolgantes estradas deste mundo.

Fonte: Livro

TEMPO PARA TODAS AS COISAS
Aproveitando as Oportunidades que Deus nos dá

REYNALDO ODILO


Ia Edição CPAD Rio de Janeiro 2017

“ SUBSIDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 04 Adulto 3º Trim 2017” O Senhor e Salvador Jesus Cristo


          O tema sobre a verdadeira identidade de Jesus de Nazaré é algo palpitante e ao mesmo tempo oportuno. São milhões de seres humanos que ainda não conhecem o verdadeiro Jesus dos evangelhos. Muitas pesquisas criteriosas foram realizadas sobre a vida e a obra de Jesus ao longo dos séculos; no entanto, Ele continua sendo a personagem mais controvertida e mais importante da História. Jesus é tema de filmes, músicas, livros, poesias, pinturas e teatros como ninguém. Sua história está traduzida em 2.935 línguas. Ele revelou seu poder sobre o reino das trevas, sobre Satanás e sobre o inferno (Mc 5.7-13);
sobre as enfermidades e sobre a morte (Mt 10.8); sobre o pecado e sobre a natureza (Jo 8.46; Mt 8.26, 27). Seus discípulos chegaram a perguntar: “Que homem é este?” (Mt 8.27). O próprio Jesus perguntou certa vez: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” (Mt 16.13). A resposta certa depende da revelação divina “porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está no céu” (Mt 16.17); “E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo Santo” (1 Co 12.3).
Desde os primeiros séculos do cristianismo, houve tentativa de resposta para essa pergunta, mas, sem a revelação divina, ninguém é capaz de acertar. Os grandes heresiarcas do passado fracassaram como os gnósticos: Simão de Samaria, Saturnino, Basisides, Cerinto, Marcião e Valentino, entre outros; os monarquianistas: dinâmicos como Teódoto de Bizâncio, “o Curtido”, e Paulo de Samosata; modalistas, Noeto, Práxeas e Sabélio; Ário, Apolinário, os monofisitas Eutique e Jacó Baradeus.
Os discípulos deles ainda estão por aí. O Espírito Santo já havia falado de antemão por meio do ministério do apóstolo Paulo a respeito dos pregadores de um Jesus estranho aos evangelhos (2 Co 11.4).


O JESUS DAS ESCRITURAS

          A sua divindade A Bíblia afirma textualmente e com todas as letras que Jesus é o verdadeiro Deus, o mesmo Deus Javé de Israel:
O Filho é chamado “Deus Forte” (Is 9.6); Javé, “Justiça Nossa” ou “O SENHOR, Justiça Nossa” (Jr 23.6); “e o Verbo era Deus” (Jo 1.1); “Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!” (Jo 20.28); “e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém” (Rm 9.5); “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” (Fp 2.6); “enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus Cristo” (Cl 2.2); “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9); “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13); “Mas, do Filho diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro de teu reino” (Hb 1.8); “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.1); “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5.20); “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que transpassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-poderoso” (Ap 1.7, 8).
As Escrituras mostram diversas vezes o Senhor Jesus ao lado  do Pai, revelando assim a sua divindade:
“Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Rm 1.7); “todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1 Co 8.6); “Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão” (1 Tm 6.13); “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino” (2 Tm 4.1).
O Senhor Jesus possui os mesmos nomes e títulos divinos, como Javé dos Exércitos e Criador. Jesus é o mesmo Deus Javé dos Exércitos. “Quem é esse Rei da Glória? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória” (Sl 24.10). Este salmo transcende um marco nacional. É um salmo profético que fala sobre o retorno de Cristo à sua glória, na sua ascensão. É o cântico dos anjos e a festa de recepção do Filho de Deus, pois Ele voltou vitorioso ao céu. O Novo Testamento chama Jesus de “o Senhor da Glória” (1 Co 2.8). As “portas” e “entradas eternas” (Sl 24.7) se referem às portas do céu que se abriram para receber o Rei dos reis, e isso se cumpriu em Atos 1.9-11. Isaías 6.3 diz que a terra está cheia da glória de Javé dos Exércitos; entretanto, o Novo Testamento diz que esse Javé é Jesus. Compare Isaías 6.3, 10 com João 12.40,41. O v. 40 é uma citação de Isaías 6.10, e o v. 41, de Isaías 6.3. Assim, a Bíblia ensina que Jesus é o Deus-Javé dos Exércitos.

          Jesus é o mesmo Javé. Jesus é chamado de Javé Justiça Nossa(Jr 23.5, 6). Os profetas Isaías e Malaquias profetizaram que João Batista seria aquele que viria ante a face de Javé (Is 40.3; Ml 3.1).
Estas palavras foram citadas por Zacarias por ocasião do nascimento de João: “E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos” (Lc 1.76). Veja que o nome “Senhor” está no lugar de Javé, entretanto João Batista foi o precursor de Jesus (Lc
3.28). O profeta Ezequiel chama o Messias de Javé, Deus de Israel: “E disse-me o SENHOR: Esta porta estará fechada, não se abrirá; ninguém entrará por ela, porque o SENHOR Deus de Israel entrou por ela: por isso estará fechada” (Ez 44.2). Esta profecia começou a se cumprir quando Jesus entrou em Jerusalém.
Montado num jumento, Ele caminhou no sentido do monte das Oliveiras ao centro da cidade, e passou pela Porta Oriental (Ne 3.29), atualmente a Porta Dourada, a única que dá acesso direto ao pátio do templo (Mc 11.11). Esta porta, que fica no lado oriental de Jerusalém, foi lacrada no ano de 1542 por ordem do sultão Suleiman II, o Magnífico, e permanece fechada até hoje.
Quem é este Javé Deus de Israel que entrou por esta porta? É Jesus, o profeta de Nazaré.
          A Bíblia revela também a divindade de Jesus e a sua igualdade com o Pai nos seus atributos incomunicáveis. Jesus é eterno; Ele existe desde a eternidade “e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2); “Pai da Eternidade”(Is 9.6); “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hb 13.8). Ele mesmo declarou ser onipotente: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18); “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-poderoso” (Ap 1.8). A Bíblia mostra que Jesus está “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1.21). Jesus mesmo afirmou ser onipresente:
“Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20) e mais: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém”
(Mt 28.20). Ele é onisciente, pois sabe todas as coisas: “Agora, conhecemos que sabes tudo e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso, cremos que saíste de Deus” (Jo 16.30);
“Senhor, tu sabes tudo” (Jo 21.17); em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.2, 3). Jesus é o Criador do céu e da terra: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3); “porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16).
Além disso, Jesus transcende a criação; isso significa que ele é um ser à parte da criação, não participa dela: “E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1.17).

          A sua humanidade “Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Tm 2.5). Jesus Cristo é o eterno e verdadeiro Deus e ao mesmo tempo o verdadeiro homem. Tornou-se homem para suprir a necessidade humana. O termo Emanuel é traduzido pelo próprio escritor sagrado por “DEUS CONOSCO” (Mt 1.23). Isso mostra que Deus assumiu a forma humana e como homem viveu entre nós: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14); “E todo o espírito que confessa que Jesus não veio em carne não é de Deus...” (1 Jo 4.3). O ensino da humanidade de Cristo, no entanto, não neutraliza a sua divindade, pois Ele possui duas naturezas – a humana e a divina –, o que está claramente expresso no seu nome Emanuel.
          Jesus foi revestido do corpo humano porque o pecado entrou no mundo por um homem e pela justiça de Deus tinha de ser vencido por um homem (Rm 5.12,18,19). Jesus se fez carne, fez se homem sujeito ao pecado, embora nunca houvesse pecado (Hb 4.15), e venceu o pecado como homem (Rm 8.3). A Bíblia mostra que todo o gênero humano está condenado; que o homem está perdido e debaixo da maldição do pecado (Sl 14.2, 3; Rm 3.23).
Todos são devedores, e por isso ninguém pode pagar a dívida do outro. A Bíblia diz que somente Deus pode salvar (Is 43.11).
Então, esse mesmo Deus tornou-se homem, trazendo-nos o perdão de nossos pecados e cumprindo ele mesmo a lei que promulgara (At 4.12; 1 Tm 3.16; Cl 2.14). Quando Jesus estava na terra, não se apegou às prerrogativas da divindade para vencer o diabo, mas aniquilou a Si mesmo, fazendo-se semelhante aos
homens (Fp 2.5-8).
Os evangelhos revelam atributos característicos do ser humano em Jesus, como por exemplo:

• Ele nasceu de uma mulher, embora gerado pela ação sobrenatural do Espírito Santo. Seu nascimento, contudo, ou seja, o parto pelo qual ele veio ao mundo, foi normal e comum como o de qualquer ser humano (Lc 2.6-7);
• Ele cresceu em estatura e em sabedoria (Lc 2.52); • Ele sentiu sono, fome, sede e cansaço (Mt 8.24; Jo 19.28; 4.6);
• Ele sofreu, chorou e sentiu angústia (Hb 13.12; Lc 19.41; Mt 26.37);
• Ele teve mãe humana, além de irmãos e irmãs (Mt 12.47; 13.55,56).
• Ele morreu, embora ressuscitasse ao terceiro dia, passando pelo ardor da morte (1 Co 15.3-4);
• Ele deu provas materiais de ter um corpo humano (1 Jo 1.1; Lc 24.39-41);
• Ele foi feito semelhante aos homens, mas sem pecado (Hb 2.17; 4.15).
          Assim como é pecado negar a humanidade de Cristo (1 Jo 4.2, 3; 2 Jo 7), da mesma forma é pecado negar a sua divindade (Rm 10.9), pois Jesus é tanto humano como divino (Rm 1.3, 4; 9.5). Como homem, sentia as dores do ser humano (Hb 5.18); e, como Deus, hoje supre a necessidade da humanidade (Hb 2.17, 18).


O Filho de Deus

          O conceito de Pai-Filho, na divindade, não deve ser confundido com o processo de reprodução humana nem com o relacionamento pai-filho numa família natural. Os muçulmanos consideram ofensa chamar Jesus de “Filho de Deus”, pois analisam essa relação no plano humano. Eles creem que pregamos que Deus teve relações sexuais com Maria, pois assim interpretam o nosso conceito de “Filho de Deus”. Diz a religião islâmica: “Originador dos céus e da terra! Como poderia ter prole, quando nunca teve esposa, e foi Ele que criou tudo o que existe, e é Onisciente?” (Alcorão, 6.101). Nenhum cristão no mundo pensa
dessa forma; essa caricatura é invenção deles. Jesus é chamado de Filho de Deus no Novo Testamento porque Ele é Deus e veio de Deus. Jesus mesmo disse: “Eu saí e vim de Deus” (Jo 8.42); “Saí do Pai e vim ao mundo; outra vez, deixo o mundo e vou para oPai” (Jo 16.28).


Concepção e nascimento virginal

          O Senhor Jesus foi concebido por obra e graça do Espírito Santo no ventre da virgem Maria: “[...] lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20); “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). A palavra profética anunciava isso desde o profeta Isaías: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14).
          O substantivo hebraico para “ virgem” usado nesta passagem é ‘almâ. Isto tem dado espaço para intermináveis controvérsias, principalmente por eruditos judeus e por teólogos “cristãos” modernistas, na tentativa de neutralizar a doutrina do nascimento virginal de Jesus. Alguns afirmam que a palavra mais apropriada para “ virgem” seria betûlâ, querendo com isso dissociar Mateus 1.23 de Isaías 7.14.
A palavra betûlâ aparece 51 vezes no Antigo Testamento hebraico e é traduzida 44 vezes por parthenos na Septuaginta.
Ela pode se aplicar a uma mulher casada (Jl 1.8), o que não ocorre com o substantivo ‘almâ, que só se aplica à mulher solteira. W. E. Vine, com base em Joel 1.8, diz que betûlâ nos textos aramaicos tardios era aplicada a uma mulher casada. Isso, portanto, traria muita confusão: “parece que a eleição da palavra ‘almâ foi deliberada. Parece que é a única palavra hebraica disponível que indicaria com clareza que aquela a que ele designa não estava casada” (VINE, vol. 4, 1989, p. 248).
          O substantivo ‘almâ aparece nove vezes no Antigo Testamento hebraico (Gn 24.43; Êx 2.8; 1 Cr 15.20; Sl 46 (título, pois a palavra hebraica ‘alamôth é plural de ‘almâ); 68.25; Pv 30.19; Ct 1.3; 6.8; Is 7.14). Em dois lugares, a Septuaginta traduziu esse termo pelo vocábulo grego parthenos, que significa “ virgem” (Gn 24.43; Is 7.14). A mesma Rebeca que é chamada “ virgem [betûlâ, em hebraico] a quem varão não havia conhecido”, no v. 16 desse mesmo capítulo ela é chamada de ‘almâ. A Septuaginta foi traduzida por 72 judeus em Alexandria antes do nascimento de Jesus.
          Com o surgimento do cristianismo, os cristãos pregavam que a concepção e o nascimento virginal de Jesus eram o cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento. Assim começaram as disputas com os judeus: “Contra a Igreja os judeus sustentavam que Isaías 7.14 não fala de uma ‘virgem’ (parthenos), mas de uma ‘mulher jovem’ (neanis). Os cristãos respondiam acertadamente que a tradução parthenos provém de tradutores judeus” (BENTZEN, 1968, p. 92).
          Talvez seja essa uma das razões pelas quais as autoridades judaicas resolveram revisar a Septuaginta. As versões gregas do Antigo Testamento, que vieram após o cristianismo, substituíram parthenos por neanis, “jovem”. Áquila era judeu e discípulo do rabino Akiva (morto em 132 d.C.). A outra versão é a de Teodócio, ou Teodocião, apóstata do cristianismo, que voltou ao judaísmo (final do segundo século d.C.); e finalmente a de Símaco, que era ebionita (seita judaica que negava a divindade de Cristo),
preparada em 170 d.C. (FISCHER, 2013, pp. 105, 106). Até hoje os israelenses, em Israel, usam ‘almâ para designar “senhorita”.         Gerard Van Groningen, em sua obra Revelação messiânica no Velho Testamento, apresenta a seguinte conclusão: “Um exame dos materiais disponíveis a estudiosos e peritos, como
indicado acima, leva-nos à segura conclusão de que, com base no uso do termo tanto em hebraico quanto em ugarítico, o termo ‘almâ deve ser traduzido por ‘virgem’. A Septuaginta dá pleno apoio a isto, e o testemunho do Novo Testamento (Mt 1.23) dá a palavra final. Isaías disse e pretendeu dizer virgem” (GRONINGEN, 1995, p. 484).


O JESUS DOS CREDOS

          Os gnósticos e demais heresias e heresiarcas O monarquianismo foi um movimento que surgiu depois da metade do segundo século em torno do monoteísmo cristão. Os monarquianistas se dividiam em dois grupos: os dinâmicos, que ensinavam ser Cristo Filho de Deus, mas por adoção; e os modalistas, que ensinavam ser Cristo apenas uma forma temporária da manifestação do único Deus. Tertuliano chamou de monarquianistas, do grego monarchia, “governo exercido por um único soberano”. Eram os opositores da doutrina do Logos os alogoi, aqueles que rejeitavam o Evangelho de João.
          Teódoto de Bizâncio, “o curtidor”, discípulo dos alogoi, aceitava o evangelho de João com certa ressalva, e foi o primeiro monarquianista dinâmico de importância. Chegou a Roma em 190, mas foi excomungado em 198. Ele ensinava ser Jesus um homem e nada mais, que nasceu de uma virgem e teve uma vida santa, pois o Espírito Santo sobre ele desceu por ocasião do seu batismo no rio Jordão. Alguns dos discípulos de Teódoto rejeitavam qualquer direito divino em Jesus, mas outros afirmavam que Jesus teria se tornado divino, em certo sentido, por ocasião da sua ressurreição.
          O mais famoso monarquianista dinâmico foi Paulo de Samosata, bispo de Antioquia entre 260 e 272. Ele dizia que o Logos e o Espírito Santo eram qualidade divinas, e não Pessoas; e mais: “opoder do Logos habitara em Jesus como num vaso, como nós habitamos nossas casas. A unidade que Jesus tinha com Deus era da vontade e do amor; não de natureza” (TILLICH, 2004, p. 82).
Paulo de Samosata foi considerado herege por negar a natureza divina de Cristo e terminou excomugado em 269, depois de suas ideias serem examinadas por três sínodos.
          Os monarquianistas modalistas não negavam a divindade do Filho nem a do Espírito Santo, mas, sim, a distinção destas Pessoas, o que é diametralmente oposto aos ensinos do Novo Testamento, que ensina a unidade composta de Deus em três Pessoas distintas. Os modalistas pregavam a unidade absoluta de Deus, coisa que nem mesmo o Antigo Testamento ensina, e para apoiar tal ensino mutilaram os textos neotestamentários. Seus principais representantes foram Noeto, Práxeas e Sabélio (ver capítulo anterior). Hipólito de Roma (170-236) rebateu essas crenças em sua obra Refutação de todas as heresias.





O Concílio de Niceia

          Os credos anteriores ao século 4 tiveram caráter local e estavam relacionados ao batismo na preparação catequética, cuja autoridade procedia da igreja local de onde o documento se originava; são os chamados credos sinodais. O embrião do Credo dos Apóstolos vem do final do século II; contudo, não se tornou universal antes do Concílio de Niceia.
          O Credo Niceno é a primeira fórmula publicada por um concílio ecumênico e a primeira a possuir status de valor universal em sentido legal. O documento é resultado da chamada controvérsia ariana que começou no ano 318 em Alexandria, no Egito. O confronto girava em torno da consubstancialidade do Filho com o Pai. Ário (256-336), um presbítero do distrito de Baucale, em Alexandria, Egito, desencadeou a maior controvérsia do cristianismo a ponto de até a política dos imperadores ter sido envolvida na questão.
          A ideia dominante de Ário era norteada pelo princípio monoteísta esboçado pelo monarquianismo dinâmico. Existe um só Deus não-gerado, dizia, um único Ser não-originado, sem nenhum começo de existência. O Filho tivera começo e teria sido criado do nada antes de o Pai haver criado o mundo. Assim, Ário se negava a reconhecer a deidade do Filho e a sua consubstancialidade com o Pai, reduzindo-o à condição de mera criatura. A palavra de ordem e o refrão cantado por ele e seus partidários era: “Houve tempo em que o Filho não existia”. É o mesmo ensino das atuais testemunhas de Jeová.
          Ário foi cortado da comunhão da Igreja por Alexandre, bispo de Alexandria, e isso provocou o protesto de seus partidários. Ário se apegava a algumas passagens bíblicas que julgava favorecer sua interpretação, como (Pv 8.22 – LXX; Jo 14.28; 17.3; At 2.36; Cl 1.15; Hb 3.2). Ele pouco se ocupou do Espírito Santo, mas dizia que era também criatura. Em Contra os arianos, Atanásio refutou os argumentos arianistas depois do Concílio de Niceia, comentando cada passagem bíblica citada aqui.
          Da lavra de Ário é a obra Thalia, “Banquete”, exposição de sua doutrina escrita em versos e talvez em prosa, da qual alguns fragmentos foram preservados nas obras de Atanásio. Ário escreveu ainda uma carta destinada a Eusébio de Nicomédia, na qual afirma: “Somos perseguidos porque dizemos que o Filho tem um começo, enquanto Deus é sem começo”; e outra a Alexandre, bispo de Alexandria. Posteriormente ele enviou uma confissão de fé ao Imperador Constantino. Entre seus partidários, citamos Eusébio de Nicomédia, e principalmente Astério, o Sofista, que esteve ao lado de Ário desde o início da controvérsia e escreveu a obra Syntagmation, uma exposição resumida da doutrina ariana, da qual alguns fragmentos foram preservados por Atanásio em Contra os arianos I.5, 3; 11, 1.
          A fonte da teologia de Ário não é muito clara. Ele não reivindicou originalidade para suas ideias. Mas sabe-se que Luciano, falecido em 312 numa perseguição imperial, fundou uma escola catequética em Antioquia e foi discípulo de Paulo de Samosata.
Eusébio de Nicomédia é descrito como discípulo de Luciano.
Segundo J. N. D. Kelly, Ário e Eusébio de Nicomédia eram “lucianistas” (KELLY, 2009, p. 174). Luciano era monarquianista dinâmico e esteve fora da comunhão da Igreja por três bispos sucessivos porque adotava a teologia de Paulo de Samosata. Os principais líderes do arianismo foram todos discípulos de Luciano.
Assim, o pensamento teológico de Ário provavelmente teria vindo de Paulo de Samosata por meio de Luciano.
          Essa controvérsia chamou a atenção do povo e também ganhou conotação política, considerada hoje a maior controvérsia da história da Igreja Cristã. O imperador Constantino considerava que uma igreja dividida era uma ameaça, pois esperava ser o cristianismo “o cimento do império”. Ele enviou mensageiros liderados por Ósio, bispo de Córdoba e seu conselheiro espiritual, com o propósito de uma conciliação, mas não houve resultado.
Ósio explicou ao imperador a profundidade do problema, e assim Constantino convocou um concílio na cidade de Niceia, na Bitínia, região que é citada no Novo Testamento (At 16.7; 1 Pe 1.1), na Ásia Menor, hoje Isnik, Turquia. A reunião começou em 19 de junho de 325, com a participação de 318 bispos provenientes do Oriente e do Ocidente.
          Entre os participantes do Concílio, estava presente um pequeno grupo de arianistas convictos, liderados por Eusébio de Nicomédia, pois Ário não era bispo e não tinha direito de participar das deliberações. De outro lado, estava presente um pequeno grupo, liderado por Alexandre, bispo de Alexandria, acompanhado do diácono Atanásio, vindo a tornar-se, posteriormente, notável pela vigorosa defesa da ortodoxia cristã.
O concílio contava ainda com uns três bispos patripassianistas e, fora essas minorias, a maior parte era formada por bispos procedentes do Ocidente, de fala latina, sem interesse no que eles chamavam de especulações teológicas, pois se davam por satisfeitos com a formulação trinitária de Tertuliano.
          As fontes primárias são de testemunhas oculares: alguns fragmentos de Eustáquio de Antioquia, alguns capítulos das obras de Atanásio e a famosa carta de Eusébio de Cesareia (KELLY, 2012, p. 255). Eusébio de Nicomédia expôs na assembleia a doutrina ariana, pois tinha convicção absoluta de que, após sua apresentação, todo o concílio o apoiaria, aceitando como correto o pensamento de Ário; porém, grande foi a sua decepção quando o plenário se manifestou com indignação ao ouvir a ideia arianista de considerar o Filho de Deus como criatura. Alguns chegaram a arrebatar e rasgar o seu discurso em pedaços em meio a gritos de “Blasfêmia! Mentira! Heresia!”. Eusébio de Cesareia, autor da proposta de formular um credo, sugeriu o Credo de Cesareia,
alegando ter recebido o texto de seus predecessores. Era um credo local usado para o discipulado dos candidatos ao batismo.
          A esse credo, com a aprovação do imperador e talvez por sua sugestão, acrescentaram-se as palavras ousía e homooúsios, “substância” e “consubstancial”, aplicadas a Cristo. Assim o Credo de Cesareia foi modificado, tornando-se o conhecido Credo de Niceno, depois de ampliado em 381 no I Concílio de Constantinopla.


Credo de Cesareia

          Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; Em um só Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus, Deus de Deus, Luz de Luz, Vida de Vida, Filho Unigênito, Primogênito de toda a criação, por quem foram feitas todas as coisas; o qual foi feito carne para nossa salvação e viveu entre os homens, e sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, e subiu ao Pai e novamente virá em glória para julgar os vivos e os mortos.
Cremos também em um só Espírito Santo.


Credo de Niceia

          Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.
          E em um só Senhor Jesus Cristo [Filho de Deus, o Unigênito do Pai, que é da substância do Pai], Deus de Deus, Luz de Luz [verdadeiro Deus de verdadeiro Deus], gerado, não feito [consubstancial com o Pai], por meio de quem todas as coisas vieram a existir, as coisas que estão no céu e as coisas que
estão na terra, que por nós homens e por nossa salvação [desceu e foi feito carne, e se fez homem], sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, e virá para julgar os vivos e os mortos.
          E [cremos] também no Espírito Santo.
Mas aqueles que dizem: “Houve um tempo quando ele não era”; e “Ele não era antes de ter nascido”; e “Ele foi feito do que não existe”, ou “Ele é de outra substância” ou “essência”, ou “O Filho de Deus é criado”, ou “mutável”, ou “alternável” – eles são condenados pela Igreja cristã e apostólica”.

As expressões em itálico entre colchetes [ ] foram acrescidas ao Credo.
O credo aprovado em Niceia era decisivamente antiarianista. Só havia duas opções, assinar o documento ou ir para o exílio.
Somente dois bispos não assinaram: Segundo de Ptolemaida e Teonas de Marmarica. Até Eusébio da Nicomédia, arianista, assinou o credo elaborado nesse concílio, alegando ter subscrito o texto com o termo homoioúsios “de substância semelhante”, e não homooúsios,9 “da mesma substância”.
          O propósito fundamental dos autores do texto do Credo Niceno foi rechaçar definitivamente a heresia arianista. Isso é evidente no uso do termo “da substância do Pai”, em grego, ousías tou patrós, ou seja, da mesma essência, do mesmo tipo do Pai, que é uma clara resposta ao pensamento central de Ário; e também no emprego da frase: “consubstancial com o Pai”, em grego, homooúsion tō patrí, que significa da mesma substância com o Pai, qualificando a unidade de essência do Pai e do Filho. Outra evidência inconfundível é o anátema da última cláusula. A inserção desses termos no Credo somada à inclusão do anátema foram um golpe mortal contra os arianistas, mas as controvérsias não terminaram aí.


O período pós-Niceia

          O documento aprovado em Niceia tornou-se ponto de partida ao invés de ponto de chegada. A controvérsia prosseguiu por três razões principais: a inclusão do termo homooúsios no texto, a indefinição sobre a identidade do Espírito Santo (assunto do capítulo seguinte) e a volta do arianismo.
Em Niceia ficou dito que o Filho é homooúsios, do grego, significando “da mesma essência, substância”, consubstancial com o Pai. Os opositores da fé nicena faziam duras críticas: uns acusavam o Credo de sabelianismo; outros, alegavam que o termo não é bíblico, pois não aparece nas Escrituras. Eusébio de
Cesareia não esconde a sua decepção pela inclusão de homooúsios no documento na sua longa carta enviada aos seus subordinados da região de Cesareia que se aproveitaram do vasto significado do termo, querendo convencê-los de que não se tratava da consubstancialidade.
          Muitos movimentos controvertidos surgiram nos 60 anos que se seguiram ao Concílio de Niceia, como os anomoeanos, os homoeanos e os homoiousianos, entre outros. Os anomianos, do grego anómoios, “diferente”, eram os arianos radicais, pois diziam que “o Filho é diferente do Pai em todos os aspectos”. Os homoeanos, do grego hómoios, “similar”, diziam que o relacionamento entre o Pai e o Filho era de similaridade. Seus expoentes eram arianos convictos.
          Outro grupo expressivo eram os homoiousianos, do grego homoioúsios, “de substância semelhante”, pois diziam que o Filho era de substância semelhante ao Pai. Eram um meio-termo entre Ário e a Declaração de Niceia. Em 358, liderado por Basílio de Ancira, um sínodo reunido nessa cidade aprovou a primeira fórmula homoiousiana. O texto afirma que o Filho está muito próximo do Pai, e não entre as criaturas, mas não é da mesma substância, mas sim são duas substâncias, ousíai. Em Niceia ficou dito que o Filho é homooúsios, “da mesma essência, substância”, consubstancial com o Pai. A letra “i” no termo homoioúsios fazia a grande diferença. Em homooúsios, o Filho é consubstancial com o Pai; no entanto, em homoioúsios o Filho é de substância semelhante ao Pai.

I Concílio de Constantinopla

          O imperador Teodósio I tomou posse em 379 e no ano seguinte estabeleceu só a confissão nicena. Em novembro do ano 380, o imperador substituiu o patriarca ariano de Constantinopla, Demófilo, por Gregório de Nazianzo. Mas nenhum imperador ou bispo poderia sozinho, por autoridade própria, estabelecer normas de fé que tivessem validade para toda a Igreja. Era necessário um concílio universal, ou seja, ecumênico. A defesa da fé nicena apresentada por Atanásio e pelos pais capadócios foi estudada no capítulo anterior. O pensamento desses teólogos foi considerado no Concílio de Constantinopla, realizado a pedido do imperador Teodósio I com a participação de 150 bispos, entre eles Gregório de Nazianzo, Gregório de Nissa e Cirilo de
Jerusalém. Esse é considerado pelo Concílio de Calcedônia, 451, o segundo grande concílio ecumênico da Igreja.


Credo de Niceia

          Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, o Unigênito do Pai, que é da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por meio de quem todas as coisas vieram a existir, as coisas que estão no céu e as coisas que estão na terra, que por nós homens e por nossa salvação desceu e foi feito carne, e se fez homem, sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, e virá para julgar os vivos e os mortos.
E [cremos] também no Espírito Santo.
          Mas aqueles que dizem: “Houve um tempo quando ele não era”; e “Ele não era antes de ter nascido”; e “Ele foi feito do que não existe”, ou “Ele é de outra substância” ou “essência”, ou “O Filho de Deus é criado”, ou “mutável”, ou “alternável” – eles são condenados pela Igreja cristã e apostólica”.

Credo Niceno-Constantinopolitano

          Cremos em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos, luz de luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, da mesma substância do Pai, por meio do qual todas as coisas vieram a ser; o qual, por nós, os homens e pela nossa salvação desceu dos céus e se encarnou do Espírito Santo e da Virgem Maria e se fez homem e foi por nós crucificado sob Pôncio Pilatos e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu aos céus e está sentado à direita do Pai e virá de novo, com glória a julgar vivos e mortos; e o seu reino não terá fim.
          E no Espírito Santo, o Senhor e Doador da vida, que procede do Pai e do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, que falou por meio dos profetas.
          E em uma só Igreja santa, cristã e apostólica.
Confessamos um só batismo para perdão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro. Amém.
          Esse documento é o reconhecimento da fórmula teológica aprovada em Niceia em 325, com algumas modificações, acréscimos e cortes. A comissão revisora retirou o termo homooúsios, que trouxe mais problema do que solução, sem, contudo, eliminar a consubstancialidade do Filho com o Pai.
Procurou seguir uma linguagem próxima da Bíblia. Introduziu no texto parte do Credo dos Apóstolos. Definiu a identidade e a obra do Espírito Santo com Deus igual ao Pai e ao Filho, além de  informações eclesiológicas e dos anátemas do Credo Niceno, que foram cortados do texto. Os debates teológicos que sacudiam a Igreja precisavam de um fim. De fato, o Concílio pôs fim a quase meio século de domínio político e teológico ariano no Ocidente. A causa ariana estava agora irremediavelmente perdida.
          O Credo Niceno-Constantinopolitano é um dos mais importantes da igreja cristã. De todos os credos ecumênicos, esse é apresentado como universalmente aceito. O Credo dos Apóstolos é puramente ocidental; no entanto, o Constantinopolitano foi admitido como obrigatório no Oriente e
no Ocidente a partir de 451 até a atualidade.

O Concílio de Calcedônia

          Um monge de Constantinopla chamado Êutico ou Eutique expôs a doutrina monofisita e foi condenado numa reunião do Sínodo Permanente de Constantinopla em 448. “Em termos históricos, ele é considerado fundador de uma forma extremada e praticamente docética de monofisismo, ensinando que a humanidade do Senhor havia sido totalmente absorvida por sua divindade” (KELLY, 2009, p. 250). O termo “monofisismo” vem de  duas palavras gregas: monos, “único”, e physis, “natureza”. É a doutrina que defende uma única natureza de Cristo, só a divina ou a divina e a humana amalgamada. Esse era o pensamento radical ensinado pela escola alexandrina. Mas Roma e Antioquia discordavam dessa ideia.
          A questão no momento girava em torno das duas naturezas de Cristo. Hilário de Poitiers (316-367) escreveu: “Em virtude das duas naturezas unidas em Um, é um sujeito que tem duas naturezas, de tal sorte que de nada carece em nenhuma das duas. Ao nascer como Homem, não deixa de ser Deus e, porque
continua a existir como Deus, não deixa de ser Homem” (Tratado sobre a Santíssima Trindade, 9.3). Mais adiante, ele declara: “No Senhor Jesus Cristo, deve considerar uma Pessoa que tem duas naturezas” (Tratado sobre a Santíssima Trindade, 9.14). Esse pensamento Tertuliano havia precocemente ensinado com mais de 200 anos de antecedência, no ano 213 para ser mais preciso: “Nós vemos claramente o duplo estado, que não nos confunde, mas é unido em uma
Pessoa, Jesus, Deus e homem” (Contra Práxeas, XXVII). Assim, é correto afirmar que a ideia contida no Tomo de Leão, o Bispo de Roma, Leão I, nada tinha de original e foi decisiva para a realização do Concílio de Calcedônia, hoje um bairro de Istambul, Turquia, chamado Kadikoy.


Videmus duplicem statum, non confusum se coniunctum in una persona, Deum et hominem Iesum (Adversus Praxean, XXVII).


          As reuniões da Calcedônia se iniciaram em 8 de outubro de 451, com mais de 500 representantes, e Roma foi representada por legados. A maioria era contra a elaboração de um novo credo e se dava por satisfeita em reafirmar a fé nicena. Mas os comissários imperiais sabiam que, para que o concílio tivesse resultados, era necessário elaborar uma fórmula assinada por todos. Ficou definido o seguinte: o Credo Niceno é solenemente aceito como padrão de ortodoxia, ao seu lado o Credo Niceno-Constantinopolitano, o reconhecimento de duas cartas de Cirilo e o Tomo de Leão e por fim a confissão formal, conhecido como o Credo de Calcedônia. Assim ficou definida de uma vez para sempre a doutrina das duas naturezas de Cristo, plenamente humana e perfeitamente divina, e ambas as naturezas permanecem intactas.

Credo de Calcedônia

          Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar que nosso Senhor Jesus Cristo é o mesmo e único Filho, perfeito quanto à divindade e perfeito quanto à humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo consubstancial ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em todas as coisas semelhante a nós, exceto no pecado, gerado, segundo a divindade, antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria, a portadora de Deus [Theotókos]. Um só e mesmo Cristo, Filho,
Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e indivisíveis. A distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só Pessoa e subsistência; não dividido ou separado em duas Pessoas, mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor, conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo ensinou-nos e o credo dos pais transmitiu-nos.
          O pensamento de Roma saiu vencedor, e o Oriente ficou desapontado com a decisão. Os delegados de Alexandria não assinaram a declaração final. A reação oriental contra a Calcedônia contribuiu para a divisão entre Oriente e Ocidente.
Jacó Baradeus e seus seguidores rejeitaram a decisão desse Concílio. A igreja nacional da Síria é conhecida como jacobita.
Ainda hoje o monofisismo é mantido nas igrejas cóptica, armênia, abissínia e jacobitas. composto por homós, “igual, comum, idêntico, o mesmo”, e ousía, “ser, realidade, essência, substância”. Homooúsios aparece com frequência nos escritos de Atanásio e dos pais capadócios para se referir à mesma essência ou substância da deidade das três Pessoas da Trindade.


Fonte : livro A razão de nossa fé: assim cremos, assim vivemos / Esequias Soares.
Casa Publicadora das Assembleias de Deus.