domingo, 25 de março de 2018

Ética para todos

Mesmo em tempos modernos a ética cristã é um tema que não está consolidado pelas Igrejas. Os conceitos éticos estão sempre em discussão, por conseguinte, esta abordagem possui um alto grau de importância por sermos contemporâneos de uma época na qual os conceitos da pós-modernidade se empenham em relativizar a ética e a moral pregada e defendida pela Igreja. Os valores estão sendo questionados por aqueles que se mostraram simpáticos às ideologias secularistas que se opõem a cultura judaico-cristã, portanto, torna-se imprescindível identificar, resgatar e ratificar os princípios elementares da ética cristã que servem de base para o viver e a conduta diária do cristão. E para fundamentar a importância da ética cristã no cotidiano do povo de Deus, as Lições Bíblicas deste trimestre abordarão alguns pontos sobre o assunto. O convidado para discorrer sobre os temas é pastor Douglas Roberto de Almeida Baptista, líder da Assembleia de Deus de Missão do Distrito Federal e do Conselho de Educação e Cultura da CGADB. Relator da Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil, Graduado em Teologia, Pedagogia, Filosofia e Educação Religiosa, pós-graduado em Docência do Ensino Superior, Especialista em Bibliologia, lato sensu em métodos de ensino da filosofia e sociologia, mestre em Ciências das Religiões, mestre e doutor em Teologia, doutorando em educação. Pastor Douglas é articulista da CPAD, mas é a primeira vez que comenta uma Lição Bíblica.

      Quais são os princípios elementares da ética cristã que precisam ser ratificados?
      O princípio fundamental da ética cristã está alicerçado na fonte da revelação da vontade de Deus para com o homem, isto é, os valores cristãos são extraídos das Escrituras Sagradas, e, portanto são imutáveis e divinos. Deste princípio depende os demais elementos, assim, é preciso ratificar, por exemplo, que os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mutações de cultura para cultura, o que significa dizer que os valores cristãos são permanentes, pois a fonte de autoridade é permanente, uma vez que foi o próprio Cristo quem disse: “o céu e aterra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”(Mt 24.35).

     Em nossa época, muito se tem falado em relativismo cultural, este conceito tem sido a principal resistência em relação aos valores da ética cristã?
De fato, o relativismo tem sido uma funesta ideologia que vem desencadeando a inversão e alteração dos valores cristãos. A teoria filosófica do relativismo cultural ensina que não existe norma moral ou ética válida para todas as culturas. A ética relativista, também é conhecida como “ética situacional”. Apregoam que os valores éticos e morais dependem da cultura, e desse modo o que é certo para um pode não ser certo para o outro. Porém, apesar de ser verdade que a cultura se modifica, as Escrituras advertem os cristãos a viverem em santidade em todas as épocas e culturas de acordo com o modelo bíblico (1Pe 1.15, 23-25). 

       Atrelado ao relativismo cultural discute-se também a questão de gênero, quais são as principais consequências desta ideologia?
A ideologia de gênero ensina que os papéis dos homens e das mulheres foram socialmente construídos e que tais padrões devem ser desconstruídos. Também é conhecida como “ausência de sexo”. Esse conceito ignora a composição anatômica do corpo humano e alega que o ser humano nasce sexualmente neutro. Desse modo, a orientação sexual passa a ser moldada ao longo da vida, por exemplo, a criança passa a decidir depois de crescida se quer ser menino ou menina. Homens e mulheres podem manter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo ,tudo é relativizado e permitido. Estes e outros males resultam na depravação humana. Ações hoje condenadas como a pedofilia, por exemplo, passarão a ser toleradas como resultado da aceitação da ideologia de gênero.

        Em nossos dias muitos segmentos da sociedade se mostram favoráveis ou simpatizantes com a prática do aborto, como esta questão ética tem sido abordada pela Igreja?
A valorização da dignidade humana, o direito à vida e o cuidado à pessoa vulnerável são princípios e doutrinas imutáveis do cristianismo. Infelizmente, em novembro de 2016, a 1ª Turma do STF considerou que aborto até os três meses não é crime, abrindo um precedente para a descriminalização. Em contra partida, apoiada nas Escrituras, a Igreja defende a vida humana desde a sua concepção. Ensina que a vida humana é sagrada e não pode ser violada pelo homem (1Sm 2.6). E, ainda levanta a bandeira que o aborto contraria os princípios bíblicos e deve ser combatido (2Tm 3.8).

        Quais são os demais temas éticos que estão presentes no debate atual e qual tem sido o posicionamento da Igreja diante destes debates?
Os temas éticos em debate são diversos e variados, mas destaco além daqueles aqui já tratados, as questões que envolvem a eutanásia e o suicídio. Tanto a eutanásia (antecipação ou aceleração da morte) como a prática de tirar a própria vida estão crescendo assustadoramente em todo o mundo. Quase um milhão de pessoas tiram a própria vida todos os anos. Mercê destes fatos a Igreja se posiciona, por meio do trabalho de conscientização e evangelização, que não se pode banalizar e nem tampouco interromper o ciclo e a missão da vida outorgada por Deus. Portanto, a postura da Igreja tem sido no sentido de ajudaras pessoas a não sucumbi em diante destes males.

        Em relação aos valores éticos, tão em falta na sociedade brasileira, como os princípios bíblicos podem beneficiar a população brasileira?
Quanto a esta questão, o teólogo Agostinho de Hipona (354 – 430 d.C) advertia que a eventual virtude demonstrada por alguém era algo temporário, falso e aparente. Então, somente a genuína regeneração faria o homem verdadeiramente virtuoso. Com o advento da Reforma, os protestantes restauraram a ética de Agostinho, isto é, para a transformação da sociedade é necessário abandonar o pecado, o erro e a corrupção, moldar o caráter e viver com integridade fundamentada na essência do     cristianismo 
“ amar a Deus e ao próximo”. Se estes princípios bíblicos forem observados, certamente nossa sociedade poderá experimentar um tempo de paz, harmonia e tranquilidade.

       Que providências devem ser adotadas pelos pastores a fim de resguardar a integridade do povo de Deus?
Restabelecer de imediato a primazia da Palavra de Deus nos púlpitos da Igreja. Na medida em que a autoridade bíblica é abandonada, suas verdades se corrompem na consciência cristã e suas doutrinas perdem a importância. Por isso, para resguardar a integridade dos cristãos é urgente proclamar as Escrituras como fonte de autoridade e revelação única para a conduta cristã. Portanto, os sermões precisam ser exposições claras e objetivas das verdades bíblicas a fim de conscientizar os crentes para ser a luz do mundo (Mt 5.14) e não o de promover falsa espiritualidade por meio de cultos triunfalistas que não moldam o caráter de ninguém. 

       Quais as características de um homem comprometido com a Palavra de Deus?
Segundo as Escrituras, a principal característica do servo é o temor a Deus (Pv 9.10). O temor traz entendimento e conduzo cristão pelo caminho da obediência e assim o protege dos maus caminhos (Jó 28.28;Pv 16.6). Desta forma aquele que teme ao Senhor não ousa relativizar as Escrituras. Sua postura é de defesa e observância das verdades bíblicas, seu caráter é irrepreensível tanto nos aspectos da ética como os de ordem moral. Não se corrompe, é limpo de mãos, puro de coração, não se entrega a vaidade e não é dissimulado (Sl 24.4). É identificado como “obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”(2Tm 2.15).

Retirado: Revista Ensinador Cristão, Ano 19 - nº 74 – abr/mai/jun de 2018.

Lição 13: ÉTICA CRISTÃ E REDES SOCIAIS

RETIRADO DA LBM DIGITAL  CPAD.
Uma constatação
O fenômeno da rede social é evidente. Muitos movimentos políticos, sociais e religiosos têm sua origem nas redes sociais. De fato, as redes sociais quebraram a hegemonia da mídia. Hoje não há mais a possibilidade de uma pessoa ter apenas uma versão dos fatos de acordo com a linha editorial de determinado grupo de comunicação. Isso quebrou. A consequência desses fenômenos é a preocupação de muitos especialistas no assunto, como o sociólogo Manuel Castells, em sua obra “Sociedade em Rede”, em que ele propõe “acultura da virtualidade real”, onde não há a separação entre a realidade e os signos virtuais. Nesse contexto, o sociólogo prevê que as relações humanas se darão cada vez mais nesses ambientes multimídias em que ainda não é possível antever os impactos que elas trarão na sociedade.
O perigo da relação descartável
Embora não seja possível verifi car o impacto real do crescimento do uso das redes sociais, empiricamente sentimos alguns impactos em nossas experiências pastorais. Em nossas igrejas são comuns queixas de esposas que reclama dos esposos que passam horas no ambiente virtual; dos esposos que reclama o mesmo de suas esposas; dos fi lhos adolescentes que não saem do mundo virtual. Algumas consequências: desentendimentos, mágoas, perda do convívio familiar. Ora, o nosso Deus nos fez pessoas de “carne e osso” que se
comunicam, nos fez seres sociais (Gn 2.18). A identidade do seguidor de Jesus passa obrigatoriamente na relação próxima e de bem estar com a outra pessoa (Jo 13.35). Nossas relações não podem ser descartáveis nem depender de um bloqueio ou não para sermos aceitos (Rm 2.11).
A rede social a serviço do Reino de Deus
A Palavra de Deus diz que nós temos a mente de Cristo (1 Co 2.16). Tudo o que fazemos é para a glória de Deus (1 Co 10.31). Então, tudo o que postamos, comentamos, curtimos e compartilhamos precisa ter como pano de fundo as virtudes do Reino de Deus. Há um livro cujo título é “Em seus Passos o que faria Jesus?”. É a pergunta sincera que nos devemos fazer em tudo que agirmos. Procure meditar em Mateus cinco, seis e sete. Esses capítulos são denominados de “Sermão do Monte”. Aqui, está toda a ética do Reino de Deus. Quando aprendermos a viver essa ética, então, tudo o que fizermos nas redes sociais estará a serviço do Reino de Deus.


Lição 12: ÉTICA CRISTÃ E POLÍTICA

RETIRADO DA LBM DIGITAL  CPAD.
Por que a política é vista por muitos com total desconfiança? Por que há tantos desentendimentos políticos em nossos dias? Por que muitos acham ser um erro o “crente” entrar na vida política militante? Essas são algumas das perguntas que, certamente, boa parte de seus alunos fazem. Longe de tentar respondê-las neste espaço, devido ao limite natural do espaço, podemos pontuar algumas realidade.
1. Sem política há barbárie
Se olharmos para a história, no lugar da política democrática, as coisas eram resolvidas por meio do “corte de cabeças”. Isso mesmo! No lugar de disputar as questões políticas no diálogo e debates, o grupo vencedor, ao tomar o poder, como demonstração de exercê-lo, eliminava seus adversários com espetáculos públicos macabros. Esses espetáculos perpassam a história até aos dias atuais, pois eles estão presentes nos acontecimentos recentes: duas guerras mundiais; a revolução de Cuba, onde os revolucionários eliminaram seus adversários; a ascensão de Pinochet, no Chile, onde sua política eliminou seus oponentes políticos; guerras civis na África; na Ásia. Nesse sentido, quando não se tem a prática política, sobra desordem, convulsões sociais e barbáries.
2. A política é a arte do equilíbrio de forças
No lugar de “cabeças rolarem”, ou de uma pessoa autodeclarar-se “o Estado sou eu”, temos agora três poderes independentes entre si. No lugar das espadas, dos canhões e das armas modernas, o debate. Uma democracia imperfeita, sim. Que não ocorre em sua plenitude, certamente. Mas uma democracia. O que marca a democracia moderna é o império das Leis, é a legitimação do Estado democrático de direito. O poder hoje não se encontra nas mãos de uma única pessoa, ou de um grupo único, mas na representação social por intermédio de instituições democráticas – o poder Executivo, Legislativo e Judiciário. O processo da Lava-jato em nosso país tem demonstrado isso com clareza.
3. A política partidária limita algumas virtudes
Certo filósofo disse que um intelectual jamais pode entrar para a política partidária, pois a natureza desta é a luta pelo poder. As virtudes que o intelectual sério cultiva – “honestidade”, “sinceridade” e “busca pela verdade” – terão de ser negociadas. Se um intelectual tem essa envergadura de consciência, imagine o que Deus espera das pessoas que Ele as “vocaciona para o ministério da Palavra” (Is 56.9-12 cf. 1 Tm 3.1-7)?!