Extraído do livro: A obra da Salvação.
Autor da obra: Claiton Ivan
Pommerening.
A glorificação
dos salvos é o clímax e o ato final do processo de salvação. Além de ser o
evento mais sublime para os salvos, é também o lugar em que
a
doutrina da salvação e a escatologia encontrar-se-ão. Trata-se de um evento tão
glorioso que afetará a própria criação, que será renovada e redimensionada (Ap
21.5) para receber a Jerusalém Celestial, a futura habitação dos salvos
remidos. Isso acontecerá na segunda vinda de Cristo, e salvos experimentarão a
transformação completa da corruptibilidade humana e serão revestidos da glória
de Deus.
PEREGRINOS NA TERRA
O anseio verdadeiro de todo crente é
poder chegar ao seu destino final, que é o céu. Esse anseio é totalmente
possível através da plenitude da salvação que se dará nesse momento quando a
essência do ser humano atingirá seu clímax de potencialidades positivas e santas
e quando cessarão
as coisas próprias da
humanidade decaída. Todavia, enquanto espera esse dia glorioso, o crente é
conduzido a peregrinar (Sl 119.19; Hb 11.13) na terra da mesma forma como tantos heróis da fé já o fizeram, como escreve o autor aos Hebreus: “Todos estes [Abraão, Sara,
Isaque, Jacó, Moisés, etc.] morreram na fé, sem terem recebido as promessas,
mas, vendo-as de longe, e crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Porque os que isso dizem
claramente mostram que buscam uma pátria” (Hb 11.13.14).
O peregrinar é cheio de vida e alegrias
no Senhor, mas também é permeado por circunstâncias difíceis, as quais nos
desafiam a respostas, soluções, resignações, processos de cura, resiliência e
fé. É o olhar fito no além que dá as condições necessárias para suportar as
dificuldades, assim como fez Abraão, que, “pela fé, habitou na terra da
promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros
com ele da mesma promessa” (Hb 11.9). O crente Abraão é o modelo bíblico ideal
dessa realidade, pois fez da peregrinação o seu estilo de vida (Hb 11.9). Da
mesma forma, nós, cristãos, somos peregrinos aqui e precisamos adquirir esse
estilo de vida. Por esse motivo, não podemos ficar embaraçados com as coisas do
mundo, nem permitir que elas ocupem o lugar que pertence ao Senhor em nossos
corações (Mt 6.21). Isso não significa relaxamento quanto ao trabalho, estudos
e família, mas, sim, um direcionamento correto do coração, buscando, em
primeiro lugar, as coisas que são de cima (Cl 3.1).
A Bíblia refere-se ao fato de que os
crentes não são deste mundo (Jo 17.16) e anseiam por sua pátria celestial, como
disse Paulo: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Dessa forma, nossos valores não
podem conformar-se com este mundo, e nosso estilo de vida deve refletir o
exemplo de Jesus presente nos evangelhos, marcado pela prática da justiça, do
acolhimento aos que sofrem, de libertação dos oprimidos do Diabo e,
especialmente, em praticar em todos os atos o amor de Deus, que será uma das
poucas coisas da terra presentes no céu (1 Co 13.13). Assim, antecipa-se o
Reino de Deus na terra na tensão entre o que vivemos agora e o que há de vir
(Mt 6.33), pois sabemos que tudo aqui na terra é transitório e passageiro.
A certeza da transitoriedade de todas
as coisas é o que alimenta a fé cristã. Todas as igrejas que são vivas em sua
liturgia e aplicam o evangelho ao seu cotidiano, como no caso dos pentecostais, são as que mais intensamente aguardam o desenrolar
escatológico, exatamente como escreve Moltmann:
O
cristianismo é total e visceralmente escatologia, e não só como apêndice; ele é
perspectiva e tendência para frente, e, por isso mesmo, renovação, e
transformação do presente. O escatológico não é algo que se adiciona ao
cristianismo, mas é simplesmente o meio em que se move a fé cristã, aquilo que
dá o tom a tudo o que há nele.
O peregrino é aquele que está de
passagem por uma terra que não lhe pertence. Ele caminha em direção a um país
que seu coração almeja e, então, sacrifica-se para isso, não tendo lugar
permanente por onde caminha, não experimentando conforto e ainda carregando o mínimo
de bagagem para tornar o trajeto mais fácil. “Amados, peço-vos [exorto-vos],
como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências da
carne, que combatem contra a alma” (1 Pe 2.11).
Paulo exorta-nos a termos o mesmo
sentimento que houve em Cristo, o de esvaziar-se (Fp 2.5) para poder cumprir o
propósito de Deus, que é servir. Isso significa que devemos abandonar toda
prepotência, orgulho e apego a títulos, cargos e posições para servir às
pessoas necessitadas à nossa volta em obediência completa a Jesus (Jo 13.1ss;
Fp 2.7-8); o que passar disso assume a prepotência de querer ser igual a Deus
(Fp 2.6).
Aqui, somos constantemente levados à
ganância, ao consumismo, ao poder e às riquezas, as quais estão traindo a
esperança futura de muitos crentes na vinda de Cristo e também nas
bem-aventuranças eternas, fazendo com que queiram desfrutar (embora seja lícito
dentro de limites) inadvertida e completamente focados nas coisas da terra,
esquecendo-se das celestiais, que, de fato, tem valor eterno. Jesus disse para
buscarmos “primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas
[nos] serão acrescentadas” (ver Mt 6.33).
Essa mudança de foco por parte daqueles
que deveriam estar esperando e ansiando pelo Reino vindouro torna-se num
secularismo religioso,184 o qual afasta as esperanças do Reino, fazendo-os focar em ídolos
criados pelos homens. Nesse
sentido, os ídolos podem ser qualquer coisa que tome o lugar do Senhor como
prioridade última na vida. O ídolo sempre é opaco, ou seja, ele ofusca aquilo
que se quer buscar, passando a apontar para si mesmo. O ídolo serve como um
substituto muito fútil para Deus. A religiosidade e as denominações religiosas
podem, inclusive, tornar-se um ídolo quando passam a manipular o povo para
obter vantagens próprias e adquirir poder (não do Espírito Santo, mas de forças
humanas), ou, quando elas tornam-se um fim em si mesmas.185
Algumas religiões atuais que crescem
vertiginosamente — em especial as neopentecostais — secularizaram Deus a um
mero atendedor de desejos humanos e instrumentalizaram-no para fins de
interesses duvidosos, extirpando qualquer possibilidade de esperança futura,
pois a religião nem sempre está em busca de Deus e nem sempre cumpre seu
propósito de religare186 com
Deus. Isso faz com que um falso reino de Deus seja implantado aqui e agora. O
deus-ídolo que a religião criou para atender esses desejos humanos, alguns até
legítimos, porém obtusos, não coincide com o Deus bíblico187 e
escatológico.
Há, portanto, uma imensa crise
de esperança futura
do Reino de Deus,
fazendo muitos
acharem que esse Reino não é mais necessário. O neopentecostalismo já criou seus
anticristos, que proclamam que o reino já chegou materialmente. Trata-se de um
reino que está esplendidamente cheio de promessas de riqueza e que já está na
concretude da espoliação religiosa, da exploração de mentes e corações
idólatras. Houve uma aliança perfeita entre a ganância
do mundo capitalista expressa nos desejos
do povo e na ganância por
poder de líderes religiosos inescrupulosos que constroem grandes impérios de um
reino idolátrico. Trata-se de uma sutil combinação malévola entre esses líderes
e o povo idólatra num imenso e falso conto de fadas religioso, praticando-se, assim,
um ateísmo prático
onde se fala de
Deus, mas Ele é totalmente desnecessário.
É lógico que o fenômeno de buscar
refúgio188 em igrejas para
obter favores de Deus (sejam eles financeiros ou de sanidade física) também
reflete a falta de políticas públicas que deem conta dos milhares de pobres e
desamparados que não têm acesso à medicina de forma digna e têm de submeter-se às promessas de curandeirismo evangélico. É óbvio que não somos
contra a cura como um milagre legítimo através dos vários dons e ministérios
conferidos por Cristo à sua igreja, mas também não podemos concordar com
ilusões e curas midiáticas que apenas atraem mais povo para a igreja e, assim,
extorquem-no de alguma forma.
Aqueles
que professam a fé cristã não escapam ao feitiço da religião do mercado. [...]
O sistema religioso, [muitas vezes o mesmo] que regula e controla o mercado
exerce hoje uma influência muito significativa sobre o povo de Deus das
diferentes igrejas e confissões cristãs. Isso equivale a dizer que, consciente
ou inconscientemente, a espiritualidade dessa parte do povo de Deus vive em
aliança com os ídolos do mercado.189
Cientes de que somos peregrinos na
terra, aguardamos a pátria celestial, mantendo-nos fieis ao que a Palavra de
Deus ensina para, então, ficarmos livres dessas formas de secularismo e ateísmo prático.
A vida simples de Cristo, que
nos serve de exemplo, tinha um único objetivo apenas: fazer a vontade do Pai
(Jo 5.30). Ele fazia dessa vontade sua vida e, portanto, não tinha preocupações
desnecessárias e nem as complicadas demandas que esvaziam a simplicidade cristã
de desfrutar a vida de maneira despretensiosa e, ao mesmo tempo, de esperar a
gloriosa morada celestial.
É preciso, entretanto, ter equilíbrio
entre o que se espera no além e as demandas normais da vida. Não se pode viver
apenas de forma etérea e esquecer as necessidades e obrigações que temos nesta
vida — como outrora, em que até mesmo os estudos eram desmotivados —, mas
também não podemos render-nos aos encantos do mundo como visto acima. Nesse
sentido, Albano afirma que:
Outrora,
para muitos pentecostais, a salvação era entendida como sinônimo de fuga do
mundo. Assim, depreciava-se a criação e assumia-se uma postura de desconfiança
frente à vida nesta terra. Essa espiritualidade podia ser resumida pela palavra
não! Hoje, essa concepção vem mudando, tem havido uma espiritualidade marcada
pelo sim à vida. Isso ocorre por obra do Espírito Santo, cuja atuação nas
igrejas Assembleias de Deus, sobretudo, no âmbito da educação teológica tem
favorecido a abertura à estética, artes e às questões
públicas e políticas. Portanto, vivencia-se a salvação que conduz ao encontro do mundo, em
liberdade, santidade e responsabilidade (cf. Jo 17.15-18; Rm 8).190
A postura de esperança faz-nos buscar
uma vida simples como Jesus ensinou e viveu (Mt 6.19-21), confiando nos
cuidados que Deus tem para com seus filhos. Somos também livres das fúteis
tentações da Teologia da Prosperidade, que inverte (1 Co 15.19) a ordem certa
de prioridades do Reino de Deus e faz-nos querer
buscar as coisas
que perecem (Mt 6.21),
esquecendo-nos das que hão de vir (Ap 22.6).
A
GLORIOSA ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO DOS SANTOS
Os salvos em Cristo têm uma esperança
gloriosa de ressurreição para estarem para sempre com Ele (1 Ts 4.14; Is
26.19). Essa é uma das promessas futuras do crente possíveis por causa da
ressurreição do próprio Jesus. Do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. Ele “transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o
seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as
coisas” (Fp 3.21). Nosso corpo, hoje sujeito a enfermidades e fraquezas, será
revestido de incorruptibilidade na ressurreição (1 Co 15.54) e nunca mais
haverá fatos que levem à morte, pois a ressurreição será a vitória final sobre
a morte (1 Co 15.55).
Aqueles que foram salvos pelo
sacrifício de Cristo serão levados para o Reino de Deus, que será um eterno
desfrutar de alegrias, delícias e bem-estar na
presença de todos
os salvos de todos os tempos, e o mais importante:
estaremos para sempre com o nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo, cuja presença encherá a terra com sua
glória e majestade, conforme a visão de João:
“E a cidade não necessita
de sol nem de lua, para que nela
resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua
lâmpada” (Ap 21.23).
A ressurreição será o início de um
estado de eterna satisfação em Deus, que suplantará incomparavelmente qualquer aflição
deste tempo presente
(Rm 8.18). O sofrimento será completamente extirpado como afirmou João:
“E Deus limpará de seus olhos toda lágrima,
e não haverá mais morte, nem
pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap
21.4). Diante da doce esperança do porvir, conta-se de um crente bem idoso que,
na iminência de estar com o Senhor, foi perguntado se, durante a vida, ele não
se sentiu tentado a deixar de servir a Deus. Ele respondeu: “Se eu quisesse, eu
não poderia; se eu pudesse, eu não quereria.” Ele tinha seus olhos inteiramente
voltados para Cristo.
O anseio pela vida eterna concretizada
na ressurreição dos mortos esteve subjetivamente presente nos heróis da fé do
Antigo Testamento, quando as escrituras afirmam que:
Todos
estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe,
e crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Porque
os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria.
E se, na verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam
oportunidade de voltar. Mas, agora, desejam uma melhor, isto é, a celestial.
Pelo que também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já
lhes preparou uma cidade. (Hb 11.13-16)
A ressurreição de Jesus e a futura
ressurreição dos salvos fazem com que tiremos os olhos das circunstâncias
muitas vezes difíceis e voltemos nossos olhos para o além. Isso não pode
significar a fuga de enfrentamentos que aqui temos de passar, mas significa uma
alegre esperança de que tudo passará,
encorajando-nos
ainda mais para enfrentarmos as batalhas e tendo certeza da presença de Deus e
seu fortalecimento (Rm 8.11). “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os
mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15.19).
A PLENA SALVAÇÃO NOS CÉUS
Para compreender a glorificação dos
salvos ou sua plenitude nos céus, é preciso antes compreender que a salvação
desfrutada aqui na terra, embora potencialmente completa, é também precária na
tensão entre a salvação já operada, o “aqui agora”, e a salvação plena no
futuro, o “ainda não” escatológico. Dessa forma, todos os demais aspectos
da salvação já experimentados até agora alcançarão sua
plenitude no “ainda não” escatológico. Então, a justificação poderá ser
comprovada, pois hoje é aceita por fé; o amor de Deus será experimentado com
todas as suas satisfações e gozos; a regeneração, aqui relativa, será completa;
a santificação, aqui vivida limitadamente e sujeita ao pecado, será perfeita; a
reconciliação com o Pai, agora sujeita aos percalços da desconfiança e da
incerteza, será uma doce realidade; a adoção, aqui vivida às vezes com
afastamentos do Pai, lá será desfrutada em sua paternidade infinita.
Paulo e Judas afirmam também a
completa inculpabilidade e irrepreensibilidade (Ef 1.4; Fp 1.9-11; 1 Co 1.8; Jd
24) na glorificação futura. Isso acontecerá porque não haverá mais tentações
pelo fato de o pecado e o mal terem sido vencidos definitivamente.
O cristão experimentará a sua plenitude
em termos de sua espiritualidade, moralidade, conhecimento (1 Co 13.12) e de
seus sentimentos e emoções, num completo estado de satisfação individual e
relacional. As intrigas, inimizades, ciúmes, invejas, toda sorte de infortúnios
causados por terceiros em nós — ou que nós mesmos causamos e provocamos em nós
mesmos e nos outros — e as angústias próprias da vida não estarão mais
presentes, pois a perfeição do amor de Deus invadirá todas as consciências e
atitudes, de tal forma que, todas as contingências, dificuldades e limitações
humanas serão superadas, pois a transformação atingirá todas as dimensões
humanas como escreveu Paulo em 1 Coríntios 15.52-55.
Paul Tillich (1886–1965) enumera três
tipos de angústias que serão superadas totalmente na entrada no Reino eterno:
do destino e da morte; da vacuidade ou insignificação, no aspecto da busca por
um lugar de sentido na vida; e da culpa e condenação, que, mesmo nos salvos,
pode gerar dúvidas e ansiedades.191 Todos esses processos são subjetivos e presentes em todo
ser humano, sendo apaziguados, porém não totalmente superados, pela certeza da
salvação e, dessa forma, substancialmente presentes e vivenciados; por isso,
gememos esperando ser revestidos da habitação divina nos céus (ver 1 Co 5.2).
A salvação plena
nos céus foi efetuada pela obra de Cristo na cruz e é
garantida pelo Espírito Santo que nos foi dado (2 Co 5.5). Ele é a garantia
dessa herança eterna e da redenção eterna nos céus (Ef 1.13-14). Lá
experimentaremos a completa transformação e também a ausência de pecados
cometidos por nós, bem como a completa ausência de enfermidades, moléstias,
catástrofes, decepções ou qualquer tristeza humana (Ap 21.4). Ali tudo será
alegria eterna, paz, fé, esperança e amor (1 Co 13.13).
Aqui
nesta vida, vivemos
na tensão entre
as possibilidades precárias do Reino de Deus na terra e a alegre esperança da vida eterna
nos céus, onde estaremos para sempre
com o Senhor, desfrutando das delícias preparadas para nós (Mt 25.10), porque
aquilo que de melhor ou pior existe nesta vida não é comparável ao melhor da
glória reservada para nós (Rm 8.18). Isso é definido por Gottfried Brakemeier
da seguinte forma:
A
perfeição que vai substituir o provisório (1 Co 13.11), a vinda da nova
Jerusalém (Ap 21), o banquete da alegria com o Jesus ressurreto (Mc 14.25),
isso está por vir, exigindo sejam superados o pecado, o mal e a morte. Ainda
assim, a novidade futura se antecipa. A evangelização aos pobres, a libertação
dos cativos, a restauração da vista aos cegos (Mt 11.2), em suma, a renovação
de pessoas e mundo visibiliza já agora a salvação que está por vir.192
Pelo fato de a vida ser precária e não
plena, há um anseio no coração humano que deseja ardentemente estar na casa do
Pai porque, nessa casa, acontece a cura das dores, há segurança e conforto e a
alma encontra um lar onde pode repousar. Esse anseio está presente até mesmo no
ateu que busca preencher esse lugar de forma inadequada, encontrando felicidades
temporárias, como também no mais piedoso crente, pois todo ser humano almeja
estar neste lugar, a casa do Pai para onde desejar voltar e desfrutar da sua
presença. “O lar é onde você realmente está seguro; é onde pode receber o que
deseja. Você precisa [do Espírito Santo] para se manter nele, de modo que não
vá embora novamente. Quando, entretanto, voltar para casa e ficar em casa,
encontrará o amor que trará descanso ao seu coração.”193
Uma grande realidade e mistério que
deve ser vivenciado com relação à peregrinação para a vida eterna é que, apesar
de ansiarmos pela pátria celestial, ela é vivida onde Deus está. Assim, podemos
viver como Jesus ensinou: “Estai em mim, e eu, em vós” (Jo 15.4). A oração da
intimidade com o Pai é a possibilidade de antecipação de nossa volta a casa
para estar com Ele. O lugar que a alma humana anseia profundamente estar,
conforme afirma Nouwen:
[Essa presença de
Jesus] é a presença ativa de Deus no centro do meu viver
—
o movimento do Espírito de Deus dentro de nós — que nos dá vida, a vida eterna.
“E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a
Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Seja como for, o que será a vida depois da morte? Quando
vivemos em comunhão
com Deus, pertencemos à própria casa de Deus, onde não há mais nenhum
antes ou depois. A morte deixa de ser a linha divisória. A morte perde seu
poder sobre aqueles que pertencem a Deus, porque Deus é o Deus dos vivos e não
dos mortos. [Mt 22.33]. Logo que tenhamos provado a alegria e a paz que vem do
fato de sermos abraçados pelo amor de Deus, saberemos que tudo está bem e
estará bem.194
A satisfação que o filho pródigo
encontrou ao voltar para casa, a saudade da segurança paterna, o abraço
fraterno, a sensação de bem-estar e o carinho do pai servem de exemplo, não
apenas para os que se desviam da igreja, mas também para os que permanecem nela
e precisam descansar suas almas em Deus em meio a um mundo caótico,
com suas incertezas, insatisfações e
frustrações.
Continuamos
à espera de que um dia encontraremos o homem que traga paz à nossa vida insatisfeita, o emprego em que possamos
fazer uso e demonstrar o nosso potencial, o livro
que explicará tudo, e o lugar onde nos sintamos realmente em casa.
Essas falsas esperanças levam-nos a fazer exigências esgotantes e
preparam-nos para a hostilidade amarga e perigosa, quando começamos a perceber
que nada nem ninguém é capaz de satisfazer inteiramente as nossas expectativas
absolutistas.195
Embora a oração
seja o meio pelo qual antecipamos o estar na casa do Pai,
almejamos por estarmos definitivamente
na casa dEle. A busca desejosa por esse lugar revela que nosso lugar não é
aqui. A nostalgia do céu não permite que vis tentações tirem nosso foco do
lugar de delícias, do país das maravilhas, do porto seguro, do outro lado da
vida, do lugar onde as lutas cessarão. Em breve, voltaremos ao lar.
A esperança da plena salvação nos céus
é que manteve e mantém a fé em Deus viva, dos que já partiram e da nossa, que
ainda militamos, apesar das circunstâncias adversas e das circunstâncias
mundanas e secularizadas, como citado anteriormente, que se tornam em ídolos
que exigem nosso tempo e dedicação, e que nos servem de tentação para
afastar-nos do propósito maior do tesouro no céu (Mt 6). “Mas a nossa cidade
está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que
transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso,
segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3.20-21).
Eu quero ir para casa. Venha comigo!
Pelo fato de a salvação que há em
Cristo ser um evento passado, presente e futuro, e também completo, perfeito e
integral, é que o autor bíblico chama-a de “tão grande salvação” (Hb 2.3);
alguns de seus aspectos são imensuráveis e inexplicáveis e, por melhor que se
tente fazê-lo (1 Tm 1.17), eles transcendem a compreensão humana e somente nos
serão revelados em sua totalidade no Reino vindouro.
Extraído
do livro: A obra da Salvação.
Por:
Claiton Ivan Pommerening.
Todos
os direitos reservados. Copyright © 2017 para a língua portuguesa da Casa
Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário