domingo, 6 de novembro de 2016

Explicação: o Novo Nascimento (Jo 3.3-10)

/. O fato do novo nascimento. “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Jesus explica que Nicodemos não pode filiar- se ao grupo dEle assim como uma pessoa filia-se a uma organização qualquer. Ser discípulo de Jesus depende do tipo de vida que se leva. A causa de Cristo é a do Reino de Deus, onde não se pode entrar sem passar por uma transformação espiritual. O Reino de Deus era bem diferente daquilo que Nicodemos imaginava, c o modo de estabelecê-lo e de chamar pessoas a serem seus cidadãos também Jesus salientou a necessidade mais profunda e universal do homem: uma mudança radical e completa da totalidade da natureza e do caráter. A natureza total do homem foi torcida pelo pecado, em decorrência da queda, e esta perversão se reflete na sua conduta individual e nos seus vários relacionamentos. Antes de poder viver uma vida que agrade a Deus, sua natureza precisa passar por uma mudança tão radical que é nada menos do que um segundo  nascimento. O homem não pode efetuar semelhante mudança por si mesmo. A transformação deve vir de cima.
“Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” Nicodemos tem razão ao tirar a conclusão de que c necessário um milagre para alguém entrar no Reino de Deus, mas não entende como isso se faz. Pensava, decerto: “Sou um homem com muitos anos de vida, com hábitos de pensar e viver bem arraigados em mim, bem como muitas ligações sociais e costumes e ideias antigos que nossos antepassados nos legaram. O nascimento tal como tu falas é tão impossível quanto o nascimento físico dc um homem de idade, tão prepostero quanto seria a idéia de entrar segunda vez no ventre da mãe para nascer de novo. A natureza humana não pode ser mudada desta forma. Jeremias, afinal, declarou: ‘Pode acaso o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas?’ Se é esta a tua exigência para que se possa entrar no leu Reino, quem poderá ser considerado candidato aceitável?”
2. Os meios do novo nascimento. “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” Nascer da água significa passar por uma profunda experiência de purificação (cf. Ef 5.26). Nascer do Espírito significa passar por uma profunda experiência de receber a vida divina. A alma humana precisa ser lavada de toda impureza e vivificada pela vida celestial, antes de estar pronta para o Céu. Deus nos salvou: 1) pela “lavagem da regeneração c 2) da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5).
O ensino era novo e, ao mesmo tempo, antigo. “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso? Jesus respondeu, c disse-lhe: Tu cs mestre de Israel, e não sabes isto?” (v. 7,9,10). Jesus queria dizer: “Como você fica surpreso, como se eu pregasse alguma estranha doutrina? Certamente, como ensinador da Lei e dos Profetas, deve ter lido da promessa de Deus anunciada por Ezequiel: 'Então espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados... porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos’, (Ez 36.25-27). Você sabe muito bem que, embora Israel se tenha jactado de ser o povo de Deus, filhos de Abraão, os membros da nação são impuros e, portanto, indignos do Reino de Deus. O profeta declara que os israelitas, antes de poderem entrar no Reino de Deus, precisam ‘nascer da água’ e ‘nascer do Espírito’, precisam ser purificados e receber vida nova. O que é verdade no que diz respeito a Israel, é verdade para você, individualmente. Você deve nascer de novo”.
J. A razão do novo nascimento. Jesus não procurou explicar o como do novo nascimento; explicou o porquê: “O que c nascido da carne c carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” A carne e o Espírito pertencem a campos diferentes, c um não pode produzir o outro. A natureza humana pode gerar mais natureza humana, mas é somente o Espírito Santo que pode produzir uma natureza espiritual. A natureza humana nada poderá produzir além de natureza humana, e nenhuma criatura pode se erguer acima da natureza que lhe c própria. A vida espiritual não pode ser transmitida de pai para filho através da procriação natural; é transmitida da parte de Deus para os homens mediante o novo nascimento espiritual.
A natureza humana não pode se erguer acima daquilo que ela é. Cada criatura tem certa natureza conforme sua espécie, determinada por sua descendência. Esta natureza que o animal recebe dos pais determina, logo de início, as capacidades c a esfera da vida dele. A toupeira não pode levantar majestoso vôo na direção do sol como se fosse águia, c a ave que sai do ovo da águia não pode escavar debaixo da terra como faz a toupeira. Nenhum curso de treinamento poderá fazer com que a tartaruga corra tão velozmente quanto a corça, nem com que a corça tenha a força do leão. Nenhum animal poderá agir de forma superior a sua própria natureza.
O mesmo princípio aplica-se ao homem. O destino supremo do homem é viver com Deus para sempre; a natureza humana, no entanto, não possui cm si as condições necessárias para viver no Reino celestial; assim sendo, a vida celestial tem de ser trazida do Céu para transformar a vida humana na terra, preparando-a para o Reino de Deus.
4. () mistério do novo nascimento. Embora o como do novo nascimento esteja além do alcance do raciocínio humano, este mistério não precisa ser motivo de tropeço para Nicodemos: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim c todo aquele que é nascido do Espírito.” Noutras palavras, o movimento do vento é algo muito real para nós, mas c misterioso e além de nosso controle; assim também é a atuação do Espírito sobre a natureza humana. Primeiro, o novo nascimento é misterioso quanto à sua origem: “não sabes donde vem”; e, em segundo lugar, há mistério quanto à sua consumação: “não sabes... para onde vai”. Assim sendo, João escreve: “Amados, agora somos filhos de Deus, c ainda não é manifestado o que havemos de ser” (1 Jo 3.2). Mesmo assim, a atuação do Espírito é real: “Ouves a sua voz” (cf. At 2.3,4; 1 Co 12.7; G1 5.22,23).

Fonte:
Pearlman, Myer
João, o Evangelho do Filho de Deus.../

Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.

Contato Pessoal: o Pesquisador Distinto

(Jo 3.1,2)
“E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus."
1. Um líder religioso. Nicodemos era um fariseu, membro da fraternidade religiosa organizada sob juramento solene para observar escrupulosamente a lei e as tradições dos antigos. Era membro do “partido ortodoxo” entre os judeus. Era um “principal”, um membro do Sinédrio, da corte eclesiástica do mundo judaico. Foi esta corte que condenou Jesus à morte, e da qual Saulo de Tarso era, mui provavelmente, membro.
2. Um inquiridor secreto. “Este foi ter de noite com Jesus”. Fala-se da covardia de Nicodemos cm vir à noite. Devemos, no entanto, dar valor ao fato de ele ter procurado a Jesus, mesmo daquele modo. Mais tarde, foi ele quem tomou sobre si a defesa de Jesus perante o Sinédrio (Jo 7.50,51) e ajudou a enterrar o seu corpo (Jo 19.39). Em ambos os trechos, João volta a se referir ao fato de Nicodemos ter vindo a Jesus, da primeira vez, à noite. Mostra, assim, que Nicodemos estava ficando mais firme na fé, chegando a demonstrar mais devoção do que os próprios discípulos que fugiram, quando veio ajudar a sepultar o corpo de Cristo.
3. Um inquiridor representativo. “Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele”. O plural “sabemos” permite-nos imaginar que talvez vários líderes religiosos, impressionados com os ensinamentos de Jesus c querendo saber mais acerca dEle sem, no entanto, criar uma sensação pública nem tomar partido publicamente, tivessem nomeado Nicodemos para ser uma “comissão de inquérito” de um só membro, de modo sigiloso (cf. Jo 12.42).
4. Uma alma necessitada. As palavras iniciais de Nicodemos revelam várias emoções lutando no seu íntimo, e a declaração repentina de Jesus (v. 3), longe de ser uma mudança de assunto, foi uma resposta - não às palavras, mas sim ao coração de Nicodemos. Tais palavras revelam: 1) Fome espiritual: canseira com os cultos da sinagoga, sem vida espiritual, aos quais frequentava sem achar satisfação para a sua fome. Sente que a glória se afastou de Israel; que há falta de visão; que o povo perece e que, por menos que Nicodemos saiba sobre Jesus, seus ensinos lhe penetraram o coração, c ele acha que os milagres de Jesus com provam ser Ele Mestre vindo da parte de Deus. 2) Falta de profunda de convicção. Nicodemos sente sua necessidade, mas procura um mestre, mais do que um Salvador. A semelhança da mulher samaritana, quer a água da vida (Jo 4.15), mas precisa igualmente ficar sabendo que é um pecador e que necessita ser purificado e transformado (Jo 4.16- 18). 3) Certa complacência quanto à sua própria pessoa, como se dissesse a Jesus: "Creio que foste enviado para restaurar o reino a Israel, e vim oferecer conselhos quanto ao plano de ação e sugerir certas operações”. Provavelmente considerava que ser israelita e filho de Abraão eram qualificações suficientes para ser considerado membro do Reino de Deus.

Fonte:
Pearlman, Myer
João, o Evangelho do Filho de Deus.../
Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.


Jesus e Nicodemos

Texto: João 3.1-21
Esboço e Exposição
Um dos propósitos que guiaram o escritor do quarto evangelho foi o de registrar as impressões que o Senhor Jesus deixou nas pessoas com quem leve contato. Em nosso segundo estudo, vimos como Jesus impressionou seus discípulos com sua natureza e missão divinas; no terceiro estudo, examinamos o milagre que os convenceu do seu poder criador.
A conclusão do segundo capítulo, no entanto, refere-se a outro tipo de impressão que produziu um tipo de fé de Cristo não julgava satisfatório: “E, estando ele cm Jerusalém pela Páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia” (Jo 2.23,24). Por que o Senhor não encorajava a fé desse homens de Jerusalém? Viu que eles não o entendiam; reconheceu o mundanismo nos seus corações c propósitos, e não permitiu que entrassem na mesma intimidade que já estabelecera com os cinco galileus de coração singelo. Os judeus de Jerusalém estavam dispostos a ficar de acordo com qualquer pessoa que demonstrasse a probabilidade de trazer honra à sua nação, e sua crença nEle era o crédito que os homens dão a um estadista cuja política apoiam. Se nosso Senhor tivesse encorajado tais homens, mais tarde teriam se decepcionado com Ele; foi melhor, portanto, que os tivesse recebido de modo um pouco mais frio, dando-lhes uma pausa para meditação. Realmente, os próprios milagres de Jesus estavam sendo um embaraço por atraírem o tipo errado de pessoas - os homens superficiais e mundanos (cf. Jo 4.48; 6.14-27,66).

Na pessoa de Nicodemos temos um exemplo de fé imperfeita, pois o discipulado que produziu era secreto (cf. Jo 19.38). Mesmo assim, esta fé da parte de Nicodemos é uma resposta antiga à objeção que os judeus dos nossos dias levantam: “Se Jesus foi realmente o Messias, como é que nenhum dos nossos estudiosos c sábios Leve o bom senso suficiente para perceber este fato?” A resposta está no Evangelho de João, no relatório da entrevista de Cristo com Nicodemos e na declaração: “Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele, mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga” (Jo 12.42).

Fonte:
Pearlman, Myer
João, o Evangelho do Filho de Deus.../
Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.