sábado, 8 de julho de 2017

Martinho Lutero - Heróis da Fé

O grande reformador

(1483-1546)
No cárcere, sentenciado pelo Papa a ser queimado vivo, João Huss disse: "Podem matar o ganso (na sua língua, 'huss' é ganso), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar".
Enquanto caía a neve, e o vento frio uivava como fera em redor da casa, nasceu esse "cisne", em Eisleben, Alemanha. No dia seguinte, o recém-nascido era batizado na Igreja de São Pedro e São Paulo. Sendo o dia de São Martinho, recebeu o nome de Martinho Lutero.
Cento e dois anos depois de João Huss expirar na fogueira, o "cisne" afixou, na porta da Igreja em Wittenberg, as suas noventa e cinco teses contra as indulgências, ato que gerou a Grande Reforma. João Huss enganara-se em apenas dois anos, na sua predição.
Para dar o valor devido à obra de Martinho Lutero, é necessário notar algo das trevas e confusão dos tempos em que nasceu.
Calcula-se que, pelo menos, um milhão de albigenses foram mortos na França, a fim de cumprir a ordem do Papa, para que esses "hereges" fossem cruelmente exterminados. Wyclif, "a Estrela da Alva da Reforma", traduzira a Bíblia para a língua inglesa. João Huss, discípulo de Wyclif, morrera na fogueira, na Boêmia, suplicando ao Senhor que perdoasse aos seus perseguidores. Jerônimo de Praga, companheiro de Huss e também erudito, sofrera o mesmo suplício, cantando hinos, nas chamas, até o último suspiro. João Wessália, notável pregador de Erfurt, fora preso por ensinar que a salvação é pela graça; seu frágil corpo fora metido entre ferros, onde morreu quatro anos antes do nascimento de Lutero. Na Itália, quinze anos depois de Lutero nascer, Savonarola, homem dedicado a Deus e fiel pregador da Palavra, corpo reduzido a cinzas, por ordem da Igreja Romana. foi enforcado e seu Em tempos assim, nasceu Martinho Lutero. Como muitos dos mais célebres entre os homens, era de família pobre. Dizia ele: "Sou filho de camponeses; meu pai, meu avô e meu bisavô eram verdadeiros camponeses". A isso acrescentava: "Há tanta razão para vangloriarmo-nos de nossa ascendência, quanto há para o Diabo se orgulhar da sua linhagem angélica".
Os pais de Martinho, para vestir, alimentar e educar seus sete filhos, esforçavam-se incansavelmente. O pai trabalhava nas minas de cobre; a mãe, além do serviço doméstico, trazia lenha às costas, da floresta.
Os pais, não somente se interessavam pelo desenvolvimento físico e intelectual dos filhos, mas também do espiritual. O pai, quando Martinho chegou à idade de compreender, ensinou-o a ajoelhar-se ao lado da sua cama, à noite, e rogava a Deus que fizesse o menino lembrar-se do nome de seu Criador (Eclesiastes 12.1)..
A sua mãe era sincera e devota; ensinou seus filhos a considerarem todos os monges como homens santos, e a sentirem todas as transgressões dos regulamentos da igreja como transgressões das leis de Deus. Martinho aprendeu os Dez Mandamentos, o "Pai Nosso", a respeitar a Santa Sé na distante e sagrada Roma, e a olhar, tremendo, para qualquer osso ou fragmento de roupa que tivesse pertencido a algum santo. A base da sua amigo de crianças (Mateus 19.13-15). Quando já era adulto, Lutero escreveu: "Estremecia e tornava-me pálido ao ouvir alguém mencionar o nome de Cristo, porque fui ensinado a considerá-lo como um juiz encolerizado. Fomos ensinados que devíamos, nós mesmos, fazer propiciação por nossos pecados; que não podemos fazer compensação suficiente por nossa culpa, que é necessário recorrer aos santos nos céus, e clamar a Maria para desviar de nós a ira de Cristo."
O pai de Martinho, satisfeitíssimo pelos trabalhos escolares do filho, na vila onde morava, mandou-o, aos treze anos, para a escola franciscana na cidade de Magdeburgo.
O moço apresentava-se freqüentemente no confessionário, onde o padre lhe impunha penitências e o obrigava a praticar boas obras, para obter a absolvição. Esforçava-se incessantemente para adquirir o favor de Deus, pela piedade, desejo esse que o levou mais tarde à vida de convento.
Para conseguir a sua subsistência em Magdeburgo, Martinho era obrigado a esmolar pelas ruas, cantando canções de porta em porta. Seus pais, achando que em Eisenach passaria melhor, mandaram-no para estudar nessa cidade, onde moravam parentes de sua mãe. Porém esses parentes não o auxiliaram, e o moço continuou a mendigar o pão.
Quando estava a ponto de abandonar os estudos, para trabalhar com as mãos, certa senhora de recursos, D. Ursula Cota, atraída por suas orações na igreja e comovida pela humilde maneira de receber quaisquer restos de comida, na porta, acolheu-o entre a família. Pela primeira vez Lutero sentira fartura. Mais tarde, ele referia-se à cidade de Eisenach como a "cidade bem amada". Quando Lutero se tornou famoso, um dos filhos da família Cota cursava em Wittenberg, onde Lutero o recebeu na sua casa.
Domiciliado na casa da sua extremosa mãe adotiva, D. Ursula, Martinho desenvolveu-se rapidamente, recebendo uma sólida educação.
Seu mestre, João Trebunius, era homem culto e de métodos esmerados.
Não maltratava os alunos como os demais mestres. Conta-se que, ao encontrar os moços da sua escola, cumprimentava-os tirando o chapéu, porque "ninguém sabia quais seriam dentre eles os doutores, regentes, chanceleres e reis..." O ambiente da escola e no lar era-lhe favorável para produzir um caráter forte e inquebrantável, tão necessário para enfrentar os mais temíveis inimigos de Deus.
sua idade. Acerca deste fato, D. Ursula, na hora da morte, disse que Deus tinha abençoado o seu lar grandemente desde o dia em que Lutero entrara em sua casa.
Logo depois, os pais de Martinho alcançaram certa abastança. O pai alugou um forno para fundição de cobre e depois passou a possuir mais dois. Foi eleito vereador na sua cidade e começou a fazer planos para educar seus filhos. Mas Martinho nunca se envergonhou dos dias da sua provação e miséria; antes reconhecia que fora a mão de Deus dirigindo-o e qualificando-o para a sua grande obra.
- Como poderia alguém, depois de homem feito, encarar fiel e destacadamente as vicissitudes da vida, se não aprendesse por experiência enquanto era jovem?
Aos dezoito anos, Martinho ansiava estudar numa universidade.
Seu pai, reconhecendo a idoneidade do filho, enviou a Efurt o centro intelectual do país, onde cursavam mais de mil estudantes . O moço estudou com tanto afinco que, no fim do terceiro semestre, obteve o grau de bacharel em filosofia. Com a idade de vinte e um anos, alcançou o segundo grau acadêmico e o de doutor em filosofia. Os estudantes, professores e autoridades prestaram-lhe significativa homenagem.
Havia dentro dos muros de Erfurt, cem prédios que pertenciam à igreja, inclusive oito conventos. Havia, também uma importante biblioteca, que pertencia à universidade, e aí Lutero passava todo o tempo de que podia dispor. Sempre suplicava fervorosamente a Deus que o abençoasse nos estudos. Dizia ele: "Orar bem é a melhor parte dos estudos." Acerca dele escreveu certo colega: "Cada manhã ele precede seus estudos com uma visita à igreja e uma prece a Deus".Seu pai, desejoso de que seu filho se formasse em direito e se tornasse célebre, comprou-lhe a caríssima obra: "Corpus Juris".
Mas a alma de Lutero suspirava por Deus, acima de todas as coisas.
Vários acontecimentos influenciaram-no a entrar para a vida monástica, passo que entristeceu profundamente seu pai e horrorizou seus companheiros de universidade.
Primeiro, achou na biblioteca o maravilhoso Livro dos livros, a Bíblia completa, em latim. Até aquela ocasião, supunha que as pequenas porções escolhidas pela igreja para serem lidas aos domingos, constituíssem o todo da Palavra de Deus. Depois de uma longa leitura, exclamou: "Oh! se a Providência me desse um livro como este, só para mim!" Continuando a ler as Escrituras, o seu coração começou a perceber a luz, e a sua alma a sentir ainda mais sede de Deus.
A essa altura, quando se bacharelou, os estudos custaram-lhe uma doença que o levou às portas da morte. Assim, a fome pela Palavra de Deus ficou ainda mais enraizada no coração de Lutero. Algum tempo depois da sua doença, em viagem para visitar a família, sofreu um golpe de espada, e duas vezes quase morreu antes de um cirurgião conseguir pensar-lhe a ferida. Para Lutero, a salvação da sua alma ultrapassava qualquer outro anelo.
Certo dia, um de seus íntimos amigos na Universidade foi assassinado. "Ah!" exclamou Lutero, horrorizado, "o que seria de mim se eu tivesse sido chamado desta para a outra vida tão inopinadamente!"
Mas, de todos esses acontecimentos, espírito, foi o que experimentou durante uma tempestade, quando voltava de visitar seus pais. Não havia abrigo próximo. Os céus estavam em brasa, os raios rasgavam as nuvens a cada instante. De repente um raio caiu ao seu lado. Lutero, tomado de grande susto, e sentindo-se perto do Inferno, prostrou-se gritando: "Sant'Ana, salva-me e tornar-me-ei monge!"
Lutero chamava a esse incidente "A minha estrada, caminho de Damasco" e não tardou em cumprir a sua promessa feita a Sant'Ana.
Convidou então os seus colegas para cearem com ele. Depois da refeição, enquanto eles se divertiam com palestras e música, repentinamente anunciou-lhes que dali em diante poderiam considerá-lo como morto, pois ia entrar para o convento. Debalde os seus companheiros procuraram dissuadi-lo do seu plano. Na escuridão da mesma noite, o moço, antes de completar vinte e dois anos, dirigiu-se ao convento dos agostinianos e bateu.
A porta abriu-se e Lutero entrou. O professor admirado e festejado, a glória da universidade, aquele que passara os dias e as noites curvado sobre os livros, tornara-se irmão agostiniano!
O mosteiro dos agostinianos era o melhor dos claustros de Erfurt.
Seus monges eram os pregadores da cidade, estimados por suas obras entre os pobres e oprimidos. Nunca houve um monge naquele convento mais submisso, mais devoto, mais piedoso, do que Martinho Lutero.
Submetia-se aos serviços mais humildes, como o de porteiro, coveiro, varredor da igreja e das celas dos monges. Não recusava mendigar o pão cotidiano para o convento, nas ruas de Erfurt.
Durante o ano de noviciado, antes de Lutero ser feito monge, os seus amigos fizeram tudo para dissuadi-lo de confirmar esse passo. Os companheiros, que convidara para cearem com ele, quando anunciou a sua intenção de ser monge, ficaram no portão do convento dois dias, esperando que ele voltasse. Seu pai, vendo que seus rogos eram inúteis e que todos os seus anelantes planos acerca do filho iam fracassar, quase enlouqueceu.
Assim se justificou Lutero: "Fiz a promessa a Sant'Ana, para salvar a minha alma. Entrei para o convento e aceitei esse estado espiritual somente para servir a Deus e ser-lhe agradável durante a eternidade."
Quão grande, porém, era a sua ilusão. Depois de procurar crucificar a carne pelos jejuns prolongados, pelas privações mais severas, e com vigílias sem conta, achou que, embora encarcerado na sua cela, tinha ainda de lutar contra os maus pensamentos. A sua santidade ou morro por toda a eternidade; leva-me ao rio de água pura e não a estes mananciais de águas poluídas; traze-me as águas da vida que saem do trono de Deus!"Certo dia Lutero achou, na biblioteca do convento, uma velha Bíblia latina, presa à mesa por uma cadeia. Achara, enfim, um tesouro infinitamente maior que todos os tesouros literários do convento.
Ficou tão embevecido que, durante semanas inteiras, deixou de repetir as orações diurnas da ordem. Então, despertado pelas vozes da sua consciência, arrependeu-se da sua negligência: era tanto o remorso, que não podia dormir. Apressou-se a reparar o seu erro: fê-lo com tanto anseio que não se lembrava de alimentar-se.
Então, enfraquecidíssimo por tantos jejuns e vigílias, sentiu-se oprimido pelas apreensões até perder os sentidos e cair por terra. Aí os outros monges o acharam, admirados novamente de sua excepcional piedade! Lutero somente voltou a si depois de um grupo de coristas o haver rodeado, cantando. A suave harmonia penetrou-lhe o coração e despertou o seu espírito. Porém ainda assim lhe faltava a paz perpétua para a alma; ainda não havia ouvido cantar o coro celestial: "Glória a Deus nas maiores alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!"
Nessa altura, o vigário geral da ordem agostiniana, Staupitz, visitou o convento. Era homem de grande discernimento, e devoção enraizada; compreendeu logo o problema do jovem monge; ofereceu-lhe uma Bíblia na qual Lutero leu que "o justo viverá da fé". Por quanto tempo tinha ele anelado: "Oh! se Deus me desse um livro destes só para mim!" – e agora o possuía!
Na leitura da Bíblia achou grande consolação, mas a obra não podia completar-se em um dia. Ficou mais determinado do que nunca a alcançar paz para a sua alma, na vida monástica, jejuando e passando noites a fio sem dormir. Gravemente enfermo, exclamou: "Os meus pecados! Os meus pecados!" Apesar da sua vida ter sido livre de manchas, como ele afirmava e outros testificavam, sentia sua culpa perante Deus, até que um velho monge lhe lembrou uma palavra do Credo: "Creio na remissão dos pecados". Viu então que Deus não somente perdoara os pecados de Daniel e de Simão Pedro, mas também os seus.
Pouco tempo depois destes acontecimentos, Lutero foi ordenado padre. A primeira missa que celebrou foi um grande evento. O pai, irreconciliável, desde o dia em que o filho abandonara os estudos de advocacia até aquela ocasião, assistiu à primeira Mansfield, com uma boa oferta para o convento, acompanhado por vinte cinco amigos.
Depois de completar vinte e cinco anos de idade, Lutero foi nomeado para a cadeira de filosofia em Wittenberg, para onde se mudou para viver no convento da sua ordem. Porém a sua alma anelava pela Palavra de Deus, e pelo conhecimento de Cristo. No meio das ocupações do professorado  dedicou-se ao estudo das Escrituras e no primeiro ano conquistou o grau de bacharelado da  bíblia. Sua alma ardia com o fogo dos céus; de todas as partes acorriam multidões para ouvir os seus discursos, os quais fluíam abundante e vivamente do seu coração, sobre as maravilhosas verdades reveladas nas Escrituras. Um dos mais afamados professores de Leipzig, conhecido como a "Luz do Mundo", disse: "Este frade há de envergonhar todos os doutores; há de propalar uma doutrina nova e reformar toda a igreja, porque ele se baseia na Palavra de Cristo, Palavra à qual ninguém no mundo pode resistir, e que ninguém pode refutar, mesmo atacando-a com todas as armas da filosofia.
Um dos pontos iluminantes da biografia de Lutero é a sua visita a Roma. Surgiu uma disputa renhida entre sete conventos dos agostinianos e decidiram deixar os pontos de dissidência para o Papa resolver. Lutero, sendo o homem mais hábil, mais eloqüente e altamente apreciado e respeitado por todos que o conheciam, foi escolhido para representar o seu convento em Roma.
Lutero ainda continuava a dedicar-se fiel e inteiramente à Igreja Romana.
Quando, por fim, chegaram ao ponto da estrada onde se avistava a famosa cidade, Lutero caiu em terra e exclamou: "Saúdo-te, santa cidade!"
Os dois monges passaram um mês em Roma, visitando os vários santuários e os lugares de peregrinação. Lutero celebrou missa dez vezes. Lastimou, ao mesmo tempo, que seus pais ainda não tivessem morrido a fim de poder resgatá-los do Purgatório! Um dia, subindo a Santa Escada de joelhos, desejando a indulgência que o chefe da igreja prometia por esse ato, ressoaram nos seus ouvidos como voz de trovão, as palavras de Deus: "O justo viverá da fé". Lutero ergueu-se e saiu envergonhado.
Depois da corrupção generalizada que viu em Roma, a sua alma aderiu à Bíblia mais que nunca. Ao chegar novamente ao seu convento, o vigário geral insistiu em que desse os passos necessários para obter o título de doutor, com o qual teria o reconhecendo a grande, responsabilidade perante Deus e não querendo ceder, disse: "Não é de pouca importância que o homem fale em lugar de Deus... Ah! Sr. Dr., fazendo isto, me tirais a vida; não resistirei mais que três meses." O vigário geral respondeu-lhe: "Seja assim, em nome de Deus, pois o Senhor Deus também necessita nos céus de homens dedicados e hábeis".
O coração de Lutero, elevado à dignidade de doutor em teologia, abrasava-se ainda mais do desejo de conhecer as Sagradas Escrituras e foi nomeado pregador da cidade de Wittenberg. Os livros que estudou e as margens cheias de anotações que escreveu em letras miúdas, servem aos eruditos atuais como exemplo de como cuidadosa e minuciosamente estudava tudo em ordem.
Acerca da grande transformação da sua vida, nesse tempo, ele mesmo escreve: "Desejando ardentemente compreender as palavras de Paulo, comecei o estudo da Epístola aos Romanos. Porém, logo no primeiro capitulo consta que a justiça de Deus se revela no Evangelho (vv. a justiça de Deus, porque, conforme fui ensinado, eu a considerava como um atributo do Deus santo que o leva a castigar os pecadores. Apesar de viver irrepreensivelmente, como monge,
a consciência perturbada me mostrava que era pecador perante Deus.
Assim odiava a um Deus justo, que castiga os pecadores... Senti-me ferido de consciência, revoltado intimamente, contudo voltava sempre para o depois de meditar sobre esse ponto durante muitos dias e noites, Deus, na sua graça, me mostrou a palavra: 'O justo viverá da fé.' Vi então que a justiça de Deus, nesta passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus pela fé, como dádiva."
A alma de Lutero dessa forma saiu da escravidão; ele mesmo escreveu assim: "Então me achei recém-nascido e no Paraíso. Todas as Escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a 'justiça de Deus'. Antes, estas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como a porta do Paraíso.
Depois dessa experiência, pregava diariamente em certas ocasiões pregava até três vezes ao dia, conforme ele mesmo conta: O que o pasto é para o rebanho, a casa para o homem, o ninho para o passarinho, a penha para a cabra rnontês, o arroio para o peixe, a Bíblia é para as almas fiéis. " A luz do Evangelho, por fim, tomara o lugar das trevas e a alma de Lutero abrasava por conduzir os seus ouvintes ao Cordeiro de Deus, que tira todo o pecado mera profissão, ou sistema de doutrinas, mas como vida em Deus. A oração não era mais um exercício sem sentido, mas o contato do coração com Deus que cuida de nós com um amor indizível nos seus sermões  Deus revelou o seu próprio coração a milhares de ouvintes, por meio coração de Lutero.
Convidado a pregar durante uma convenção dos agostinianos, não deu uma mensagem doutrinai de sabedoria humana, como se esperava, mas fez um discurso ardente contra a língua maldizente dos monges. Os agostinianos, levados pela mensagem, elegeram-no diretor sobre onze conventos!
Lutero não somente pregava a virtude, mas praticava-a, amando verdadeiramente o próximo. Nesse tempo, a peste vinda do Oriente, visitou Wittenberg. Calcula-se que a quarta parte do povo da Europa, inclusive a metade da população alemã, foi ceifada pela morte. Quando professores e estudantes fugiram da cidade, instaram que Lutero fugisse também, porém ele respondeu: - "Para onde hei de fugir? O meu lugar é aqui: o dever não me permite ausentar-me do meu posto até que Aquele que me mandou para aqui me chame. Não que eu deixe de temer a morte, mas espero que o Senhor me dê ânimo". Assim ele ministrava à alma e ao corpo do próximo durante um tempo de aflição e de angústia.
A fama do jovem monge espalhou-se ate longe. Entretanto, sem o reconhecer, enquanto trabalhava incansavelmente para a igreja, já havia deixado o rumo liberal que ela seguia em doutrina e prática.
Em outubro de 1517, Lutero afixou à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o teor das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e não a penitência. Lutero afixou as teses ou proposições para um debate público, na porta da igreja, como era costume nesse tempo. Mas as teses, escritas em latim, foram logo traduzidas em alemão, holandês e espanhol. Antes de decorrido um mês, para surpresa de Lutero, já estavam na Itália, fazendo estremecer os alicerces do velho edifício de Roma. Foi desse ato de afixar as 95 teses da Igreja de Wittenberg, que nasceu a Reforma, isto é, que tomou forma o grande movimento de almas que em todo o mundo ansiavam voltar para a fonte pura , mas antes, pensou fazer a defesa do Papa contra os vendedores de indulgências.
enúncia de heresia. Contudo, o eleitor Frederico não consentiu que fosse levado para fora do país; assim Lutero foi intimado a apresentar-se em Augsburgo. "Eles te queimarão vivo", insistiram seus amigos. Lutero, porém, respondeu resolutamente: "Se Deus sustenta a causa, ela será sustentada".
A ordem do núncio do Papa em Augsburgo foi: "Retrate-se ou não voltará daqui". Contudo Lutero conseguiu fugir, passando por uma pequena cancela no muro da cidade, na escuridão da noite. Ao chegar de novo em Wittenberg, um ano depois de afixar as teses, era o homem mais popular em toda a Alemanha. Não havia jornais nesse tempo, mas fluíam da pena de Lutero respostas a todos os seus críticos para serem publicadas em folhetos. O que escreveu dessa forma, hoje seriam cem volumes.
O célebre Erasmo, da Holanda, assim escreveu a Lutero: "Seus livros estão despertando todo o país... Os mais eminentes da Inglaterra gostam de seus escritos..."
Quando a bula de excomunhão, enviada pelo Papa, chegou em Wittenberg, Lutero respondeu com um tratado dirigido ao Papa Leão X, foi queimada fora do muro da cidade de Wittenberg, perante grande ajuntamento do povo. Assim escreveu Lutero ao vigário geral: "No momento de queimar a bula, estava tremendo e orando, mas agora estou satisfeito de ter praticado este ato enérgico". Lutero não esperou até que o Papa o excomungasse, mas deu logo o pulo da Igreja Romana para a Igreja do Deus vivo.
Porém, o imperador Carlos V, que ia convocar sua primeira Dieta na cidade de Worms, queria que Lutero comparecesse para responder, pessoalmente, aos seus acusadores. Os amigos de Lutero insistiam em que recusasse ir. -Não fora João Huss entregue a Roma para ser queimado, apesar da garantia de vida da parte do imperador?! Mas em resposta a todos que se esforçavam por dissuadi-lo de comparecer perante seus terríveis inimigos, Lutero, fiel à chamada de Deus, respondeu: "Ainda que haja em Worms, tantos demônios quantas sejam as confiando em Deus, eu aí entrarei". Depois de dar ordem a cerca do trabalho, no caso de ele não voltar, partiu.
Na sua viagem para Worms, o povo afluía em massa para ver o  grande homem que teve coragem de desafiar a autoridade do Papa. Em Mora, pregou ao ar livre, porque as igrejas não mais comportavam as multidões que queriam ouvir seus sermões. Ao avistar as torres das igrejas de Worms, levantou-se na carroça em que viajava e cantou o seu hino, o mais famoso da Reforma: "Ein Feste Berg", isto é: ''Castelo forte é nosso Deus". Ao entrar, por fim, na cidade, estava acompanhado de uma multidão de povo muito maior do que a que fora ao encontro de Carlos V. No dia seguinte foi levado perante o imperador, ao lado do qual se achavam o delegado do Papa, seis eleitores do império, vinte e cinco duques, oito margraves, trinta cardeais e bispos, sete embaixadores, os deputados de dez cidades e grande número de príncipes, condes e barões.
É fácil imaginar que o reformador era um homem de grande coragem e de físico forte para enfrentar tantas feras que ansiavam despedaçar-lhe o corpo. A verdade é que passara uma grande parte da vida afastado dos homens e, mais ainda, achava-se fraco da viagem, na qual foi necessário que um médico o atendesse. Entretanto mostrou-se corajoso, não na sua própria força, mas no poder de Deus.
Sabendo que tinha de comparecer perante uma das mais imponentes assembleias de autoridades religiosas e civis de todos os em terra, lutou com Deus, chorando e suplicando. Um dos seus amigos ouviu-o orar assim: "Oh! Deus todo-poderoso! a carne é fraca, o Diabo é forte! Ah! Deus, meu Deus, que perto de mim estejas contra a razão e a sabedoria do mundo! Fá-lo, pois somente tu o podes fazer. Não é a minha causa, mas sim a tua. - Que tenho eu com os grandes da terra? É a tua causa, Senhor, a tua justa e eterna causa. Salva-me, oh! Deus fiel! Somente em ti confio, oh! Deus! meu Deus... vem, estou pronto a dar, como um cordeiro, a minha vida. O mundo não conseguirá prender a minha consciência, ainda que esteja cheio de demônios, e, se o meu corpo tem de ser destruído, a minha alma te pertence, e estará contigo eternamente..."
Conta-se que, no dia seguinte, na ocasião de Lutero transpor a porta para comparecer perante a Dieta, o veterano general Freudsburgo, colocou a mão no ombro do Reformador e disse-lhe: "Pequeno monge, vais a um encontro diferente, que eu ou qualquer experimentamos, mesmo nas nossas conquistas mais ensanguentadas Contudo, se a causa é justa, e sabes que o é, avança no nome de Deus, e não temas nada! Deus não te abandonará" - O grande general não sabia que Martinho Lutero vencera a batalha em oração e que entrava somente para declarar-lhes que a havia vencido de maiores inimigos.
Quando o núncio do papa exigiu de Lutero, perante a augusta assembléia, que se retratasse, ele respondeu: "Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras ou por argumentos - desde que não creio somente nos papas e nos concílios, por ser evidente que já muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros - a minha consciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus. Não posso retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, pois não é justo nem seguro agir contra a consciência. Deus me ajude! Amém."
De volta ao seu aposento, Lutero levantou as mãos ao Céu e exclamou com o rosto todo iluminado: "Está cumprido! Está cumprido! Se eu tivesse mil cabeças, preferiria que todas fossem decepadas antes de me retratar".
A cidade de Worms, ao receber as notícias da ousada resposta de Lutero ao núncio do papa, alvoroçou-se. As palavras do reformador foram publicadas e espalhadas entre o povo que afluiu para honrá-lo.
Apesar de os papistas não conseguirem influenciar o imperador a violar o salvo-conduto, para que pudessem queimar numa fogueira o edito de excomunhão entraria imediatamente em vigor; Lutero por causa da excomunhão, era criminoso e, ao findar o prazo do seu salvo-conduto, devia ser entregue ao imperador; todos os seus livros deviam ser apreendidos e queimados; o ato de ajudá-lo em qualquer maneira era crime capital.
Mas para Deus é fácil cuidar dos seus filhos. Lutero, regressando a Wittenberg, foi repentinamente rodeado num bosque por um bando de cavaleiros mascarados que, depois de despedirem as pessoas que o acompanhavam, conduziram-no, alta noite, ao castelo de Wartburgo, perto de Eisenach. Isto foi um estratagema do príncipe de Saxônia para salvar Lutero dos inimigos que planejavam assassiná-lo antes de chegar a casa.
No castelo, Lutero passou muitos meses disfarçado; tomou o nome de cavaleiro Jorge e o mundo o considerava oravam dia e noite pelo reformador. As alavras do pintor  Allberto Durer exprimem o sentimento do povo: - "Oh! Deus! se Lutero fosse morto, quem agora nos exporia o Evangelho?"
Contudo, no seu retiro, livre dos inimigos, foi-lhe concedida a liberdade de escrever, e o mundo logo soube, pela grande quantidade de literatura, que essa obra saía da sua pena e que, de fato, Lutero vivia. O reformador conhecia bem o hebraico e o grego e em três meses tinha vertido todo o Novo Testamento para o alemão - em poucos meses mais a obra estava impressa e nas mãos do povo. Cem mil exemplares foram vendidos, em quarenta anos, além das cinqüenta e duas edições impressas em outras cidades. Era circulação imensa para aquele tempo, mas Lutero não aceitou um centavo de direitos.
A maior obra de toda a sua vida, sem dúvida, fora a de dar ao povo alemão a Bíblia na sua própria língua - depois de voltar a Wittenberg.
Já havia outras traduções, mas escritas em uma forma de alemão latinizado que o povo não compreendia. A língua alemã desse tempo era um agregado de dialetos, mas Lutero, ao traduzir a Bíblia, deu ao povo a língua que serviu depois a homens como Goethe e Schiler para escreverem as suas obras. O seu êxito em traduzir as Sagradas Escrituras para o uso dos mais humildes, verifica-se no fato de que, depois de quatro séculos, a sua tradução permanece como a principal.
Outra coisa que contribuiu para o êxito da tradução de Lutero, é originais. Contudo, o valor da sua obra não se baseia tão-somente sobre seus indiscutíveis dotes literários. O que lhe deu realidade é que ele conhecia a Bíblia, como ninguém podia conhecê-la, sem primeiro sentir a angústia eterna e achar nas Escrituras a verdadeira e profunda consolação.
Lutero conhecia intimamente e amava sinceramente o autor do Livro. O resultado foi que o seu coração abrasou-se com o fogo e poder do Espírito Santo. Foi esse o segredo de ele traduzir tudo para o alemão em tão pouco tempo.
Como todo mundo sabe, a fortaleza de Lutero e da Reforma foi a Bíblia. Escreveu de Wartburgo para o seu povo em Wittenberg: "Jamais em todo o mundo se escreveu um livro mais fácil de compreender do que a Bíblia. Comparada aos outros livros, é como o sol em contraste com todas as demais luzes. Não vos deixeis levar a abandoná-la sob qualquer pretexto da parte deles. Se vos afastardes dela por um momento , tudo estará perdido , podem levar-vos para onde quer que desejem se permanecerdes com as escrituras sereis vitoriosos.”
Depois de abandonar o hábito de monge, Lutero resolveu deixar por completo a vida monástica, casando-se com Catarina von Bora, freira que também saíra do claustro, por ver que tal vida é contra a vontade de Deus. O vulto de Lutero sentado ao lume, com a esposa e seis filhos que amava ternamente, inspira os homens mais que o grande herói ao apresentar-se perante o legado em Augsburgo.
Nos cultos domésticos, a família rodeava um harmônio, com o qual louvavam a Deus juntos; o reformador lia o Livro que traduzira para o povo e depois louvavam a Deus e oravam até sentirem a presença divina entre eles.
Havia entre Lutero e sua esposa profundo amor de um para com o outro. São de Lutero estas palavras: "Sou rico, Deus me deu a minha freira e três filhos; não me importo das dívidas: Catarina paga tudo." Catarina von Bora era estimada por todos. Alguns, de fato, censuravam-na porque era demasiado econômica; mas que teria acontecido a Martinho Lutero e à família se ela tivesse feito como ele? Dizia-se que ele, aproveitando-se da doença dela , cedeu seu prato de comida a certo estudante que estava com fome. Não aceitava  kreuzer dos seus alunos e recusava vender seus escritos, deixando todo o lucro para os tipógrafos.
Nas suas meditações sobre as Escrituras, muitas vezes se esquecia no quarto comendo somente pão e sal. Quando a esposa chamou um serralheiro e quebraram a fechadura, acharam-no escrevendo, mergulhado em pensamentos e esquecido de tudo em redor.
É difícil concebermos a magnitude das coisas que devemos atualmente a Martinho Lutero. O grande passo que deu para que o povo ficasse livre para servir a Deus, como Ele mesmo ensina, está além da nossa compreensão. Era grande músico e escreveu alguns dos hinos mais espirituais cantados atualmente. Compilou o primeiro hinário e inaugurou o costume de todos os assistentes aos cultos cantarem juntos.
Insistiu em que não somente os do sexo masculino, mas também os do feminino fossem instruídos, tornando-se, assim, o pai das escolas públicas.
Antes dele, o sermão nos cultos era de pouca importância. Mas Lutero fez do sermão a parte principal do culto. Ele mesmo serviu de exemplo para acentuar esse costume: era pregador como sendo nada; a mensagem saía- lhe do intimo do coração: O povo sentia a presença de Deus. Em Zwiekau pregou a um auditório de 25 mil pessoas na praça pública. Calcula-se que escreveu 180 volumes na língua materna e quase um número igual no latim. Apesar de sofrer de várias doenças, sempre se esforçava dizendo: "Se eu morrer na cama será uma vergonha para o papa."
Os homens geralmente querem atribuir o grande êxito de Lutero à sua extraordinária inteligência e aos seus destacados dons. O fato é que Lutero também tinha o costume de orar horas a fio. Dizia que se não passasse duas horas de manhã orando, recearia que Satanás ganhasse a vitória sobre ele durante o dia. Certo biógrafo seu escreveu: "O tempo que ele passa em oração, produz o tempo para tudo que faz. O tempo que passa com a Palavra vivificante enche o coração até transbordar em sermões, correspondência e ensinamentos".
A sua esposa disse que as orações de Lutero "eram", às vezes, como os pedidos insistentes do seu filhinho Hanschen, confiando na bondade de seu pai; outras vezes, eram como a luta de um gigante na angústia do combate".
Encontra-se o seguinte na História da Igreja Cristã, por Souer, Vol. 3, pág. 406: "Martinho Lutero profetizava, evangelizava, falava línguas e interpretava; revestido de todos os dons do Espírito". Nos seus sessenta e dois anos pregou seu último sermão sobre o texto: "Ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos". No mesmo dia escreveu para a sua querida Catarina: "Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá. Amém". Isso foi na última carta que escreveu. Vivia sempre esperando que o papa conseguisse executar a repetida ameaça de queimá-lo vivo. Contudo não era essa a vontade de Deus: Cristo o chamou enquanto sofria dum ataque do coração, em Eisleben, cidade onde nascera. São estas as últimas palavras de Lutero: "Vou render o espírito". Então louvou a Deus em alta voz: "Oh! meu Pai celeste! meu Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, em quem creio e a quem preguei e confessei, amei e louvei! Oh! meu querido Senhor Jesus Cristo, encomendo-te a minha pobre alma. Oh! meu Pai celeste! Em breve tenho de deixar este corpo, mas sei que ficarei eternamente contigo e que ninguém me pode arrebatar das tuas mãos". Então, depois de recitar João 3.16 três vezes, repetiu as palavras: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois tu me resgataste, Deus fiel". adormeceu. Assim fechou os olhos e Um imenso cortejo de crentes que o amavam ardentemente, com cinqüenta cavaleiros à frente, saiu de Eisleben para Wittenberg; passando pela porta da cidade onde o reformador queimara a bula de excomunhão, entrou pelas portas da igreja onde, há vinte e nove anos, afixara suas 95 teses. No culto fúnebre, Bugenhangen, o pastor, e Melancton, inseparável companheiro de Lutero, discursaram. Depois abriram a sepultura, preparada ao lado do púlpito, e ali depositaram o corpo.
Quatorze anos depois, o corpo de Melancton achou descanso do outro lado do púlpito. Em redor dos dois, jazem os restos mortais de mais de noventa mestres da universidade.

As portas da Igreja do Castelo, destruídas pelo fogo no bombardeio de Wittenberg em 1760, foram substituídas por portas de bronze em 1812, nas quais estão gravadas as 95 teses. Contudo, este homem que perseverou em oração, deixou gravadas, não no metal que perece, mas em centenas de milhões de almas imortais, a Palavra de Deus que dará fruto para toda a eternidade.

Almir Batista 
Extraído do livro Heróis da fé.

Jerônimo Savonarola- Heróis da Fé

Precursor da Grande Reforma
(1452-1498)

         O povo de toda a Itália afluía, em número sempre crescente, a Florença. A famosa Duomo não mais comportava as enormes multidões.  O pregador, Jerônimo Savonarola, abrasado com o fogo do Espírito Santo e sentindo a iminência do julgamento de Deus, trovejava contra o vício, o crime e a corrupção desenfreada na própria igreja. O povo abandonou a leitura das publicações torpes e mundanas, para ler os sermões do ardente pregador: deixou os cânticos das ruas, para cantar os hinos de Deus.  Em Florença, as crianças fizeram procissões, coletando as máscaras carnavalescas, os livros obscenos e todos os objetos supérfluos que serviam à vaidade. Com isso formaram em praça pública uma pirâmide de vinte metros de altura e atearam-lhe fogo. Enquanto o monte ardia, o povo cantava hinos e os sinos da cidade dobravam em sinal de vitória.
         Se o ambiente político fosse o mesmo Alemanha, o intrépido e devoto Jerônimo  Savnarola teria sido instrumento usado para iniciar a Grande Reforma, em vez de Martinho Lutero. Apesar de tudo, Savonarola tornou-se um dos ousados e fiéis arautos para conduzir o povo à fonte pura e às verdades apostólicas registradas nas Sagradas Escrituras.
         Jerônimo era o terceiro dos sete filhos da família.  Nasceu de pais cultos e mundanos, mas de grande influência. Seu avô paterno era um famoso médico na corte do duque de Ferrara e os pais de Jerônimo planejavam que o filho ocupasse o lugar do avô. No colégio, era aluno esmerado. Mas os estudos da filosofia de Platão e de Aristóteles, deixaram-lhe a alma sequiosa. Foram, sem dúvida, os escritos de Tomaz de Aquino que mais o influenciaram (a não ser as próprias Escrituras) a entregar inteiramente o coração e a vida a Deus. Quando ainda menino, tinha o costume de orar e, ao crescer, o seu ardor em orar e jejuar aumentou. Passava horas seguidas em oração. A decadência da igreja, cheia de toda a qualidade de vício e pecado, o luxo e a ostentação dos ricos em contraste com a profunda pobreza dos pobres, magoavam-lhe o coração. Passava muito tempo sozinho, nos campos e à beira do rio Pó, em sentimentos que lhe ardiam no peito. Quando ainda jovem, Deus começou a falar-lhe em visões. A oração era a sua grande consolação; os degraus do altar, onde se prostrava horas a fio, ficavam repetidamente molhados de suas lágrimas.
         Houve um tempo em que Jerônimo começou a namorar certa moça florentina. Mas quando ela mostrou ser desprezo alguém da sua orgulhosa família Strozzi, unir-se a alguém da família de Savonarola, Jerônimo abandonou para sempre a idéia de casar-se. Voltou a orar com crescente ardor. Enojado do mundo, desapontado acerca dos seus próprios anelos, sem achar uma pessoa compassiva a quem pudesse pedir conselhos, e cansado de presenciar injustiças e perversidades que o cercavam, coisas que não podia remediar, resolveu abraçar a vida monástica.
        Ao apresentar-se no convento, não pediu monge, mas rogou que o aceitassem para fazer os serviços mais vis  da cozinha, da horta e do mosteiro. Na vida do claustro, Savonarola passava ainda mais tempo em oração, jejum e contemplação perante Deus.
Sobrepujava todos os outros monges em humildade, sinceridade e obediência, sendo apontado para lecionar filosofia, posição que ocupou até sair do convento.
         Depois de passar sete anos no mosteiro de Bolongna, frei (irmão) Jerônimo foi para o convento de São Marcos, em Florença. Grande foi o seu desapontamento ao ver que o povo florentino era tão depravado como o dos demais lugares. (Até então ainda não reconhecia que somente a fé em Deus salva o pecador.)
         Ao completar um ano no convento de São Marcos, foi apontado instrutor dos noviciados e, por fim, designado pregador do mosteiro.
Apesar de ter ao seu dispor uma excelente biblioteca, Savonarola utilizava-se mais e mais da Bíblia como seu livro de instrução.
         Sentia cada vez mais o terror e a vingança do Dia do Senhor que se aproxima e, às vezes, entregava-se a trovejar do púlpito contra a impiedade do povo. Eram tão poucos os que assistiam às suas pregações, que Savonarola resolveu dedicar-se inteiramente à instrução dos noviciados. Contudo, como Moisés, não podia escapar à chamada de Deus!
         Certo dia, ao dirigir-se a uma feira, viu, repentinamente, em visão, os céus abertos e passando perante seus olhos todas as calamidades que sobrevirão à igreja. Então lhe pareceu ouvir uma voz do Céu ordenando-lhe anunciar estas coisas ao povo.
         Convicto de que a visão era do Senhor, começou novamente a pregar com voz de trovão. Sob a nova unção do Espírito Santo a sua condenação ao pecado era feita com tanto ímpeto, que muitos dos ouvintes depois andavam atordoados sem falar, nas ruas. Era coisa comum, durante seus sermões, homens e mulheres de todas as idades e de todas as classes romperem em veemente choro.
         O ardor de Savonarola na oração aumentava dia após dia e sua fé crescia na mesma proporção. Freqüentemente, ao orar, caía em êxtase.
Certa vez, enquanto sentado no púlpito, sobreveio-lhe uma visão, durante a qual ficou imóvel por cinco horas, quando o seu rosto brilhava, e os ouvintes na igreja o contemplavam.
         Em toda a parte onde Savonarola pregava seus sermões contra o pecado produziam profundo terror. Os homens mais cultos começaram então a assistir às pregações em Florença; foi necessário realizar as reuniões na Duomo, famosa catedral, onde continuou a pregar durante oito anos. O povo se levantava à meia-noite e esperava na rua até a hora de abrir a catedral.
         O corrupto regente de Florença, Lorenzo Medici, experimentou todas as formas: a bajulação, as peitas, as ameaças, e os rogos, para induzir Savonarola a desistir de pregar contra o pecado, e especialmente contra a perversidade do regente. Por fim, vendo que tudo era debalde, contratou o famoso pregador, Frei Mariano, para pregar contra Savonarola. Frei Mariano pregou um sermão, mas o povo não prestou atenção à sua eloqüência e astúcia, e ele não ousou mais pregar.
         Nessa altura, Savonarola profetizou que Lorenzo, o Papa e o rei de Nápoles morreriam dentro de um ano, e assim sucedeu.
         Depois da morte de Lorenzo, Carlos VIII, da França, invadiu a Itália e a influência de Savonarola aumentou ainda mais. O povo abandonou a literatura torpe e mundana para ler os sermões do famoso pregador. Os ricos socorriam os pobres em vez de oprimi-los. Foi neste tempo que o povo fez a grande fogueira, na "piazza" de Florença e queimou grande quantidade de artigos usados para alimentar vícios e vaidade. Não cabia mais, na grande Duomo, o seu imenso auditório.
         Contudo, o sucesso de Savonarola foi muito curto. O pregador foi ameaçado, excomungado e, por fim, no ano de 1498, por ordem do Papa, foi queimado em praça pública. Com as palavras: "O Senhor sofreu tanto por mim!", terminou a vida terrestre de um dos maiores e mais dedicados mártires de todos os tempos.
         Apesar de ele continuar até a morte a sustentar muitos dos erros da Igreja Romana, ensinava que todos os que são realmente crentes estão na verdadeira Igreja. Alimentava continuamente a alma com a Palavra de Deus. As margens das páginas da sua Bíblia estão cheias de notas escritas enquanto meditava nas Escrituras. Conhecia uma grande parte da Bíblia de cor e podia abrir o livro instantaneamente e achar qualquer texto.
Passava noites inteiras em oração e foram-lhe dadas revelações quando em êxtase, ou por visões. Seus livros sobre "A Humildade", "A Oração", "O Amor", etc., continuam a exercer grande influência sobre os homens.

Destruíram o corpo desse precursor mais não puderam apagar as verdades que Deus por seu intermédio, gravou no coração do povo.

Almir Batista 
Extraído do livro Heróis da fé.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

“ SUBSIDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 02 Adulto ” 3º Trim 2017-- DEUS E A CRIAÇÃO

O enfoque do presente capítulo é a unicidade do Deus Pai Todo-poderoso e Criador do universo. A declaração de fé dos ateus é “Deus não existe”, o oposto da confissão cristã. A Bíblia não é uma apologia à existência de Deus; não há nela a preocupação em comprovar que Deus existe. A existência de Deus é um fato consumado, uma verdade primária que não necessita ser provada, pois Ele transcende à existência. O conhecimento humano sobre a existência do Criador está na própria intuição e razão no interior das pessoas (Rm 1.20, 21; 2.14, 15). A Bíblia é a única fonte confiável e confirma a experiência humana.

A PRIMEIRA DECLARAÇÃO DOS CREDOS
            Os principais credos ecumênicos apresentam características especiais existentes em Deus. O Credo dos Apóstolos declara:
“Creio em Deus Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra”; da mesma forma o Credo Niceno afirma: “Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis”; e o Credo Niceno-Constantinopolitano reafirma a fórmula nicena:
“Cremos em um só Deus, o Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis”. Alguns dos antigos credos locais dos primeiros cinco séculos da história da Igreja serviram como a base dessas formulações ecumênicas.
Todas essas declarações a respeito de Deus afirmam que Ele é um, exceto o Credo dos Apóstolos, que é Pai Onipotente ou Todo-Poderoso e Criador de todas as coisas. Trata-se da revelação bíblica posta de maneira sistemática. Há nas Escrituras provas abundantes que fundamentam essas declarações dos credos.
Muitos outros credos regionais dos cinco primeiros séculos dizem a mesma coisa, empregando, às vezes, fraseologia similar. São informações importantes, pois falam que o nosso Deus é único, que é Pai, que é o Todo-poderoso e Criador de tudo o que há no Universo. Tais declarações nada mais são do que interpretações precisas das Escrituras que serviram para proteger a fé cristã do politeísmo e da idolatria dos gentios e os cristãos das heresias.
Isso se reveste de uma importância especial na época, quando os gnósticos ganhavam espaço no seio da Igreja.
            O gnosticismo atingiu o apogeu entre 130 e 170 d.C., mas o movimento já existia antes. O termo “gnosticismo” vem do grego gnōsis, que significa “conhecimento”. Trata-se, grosso modo, de um enxerto das filosofias pagãs nas doutrinas vitais do cristianismo. Sua marca registrada era o sincretismo. Suas ideias sobre a identidade de Jesus eram estranhas ao Novo Testamento e as ideais sobre Deus eram ainda mais exóticas. A escola
gnóstica de Valentino (aproximadamente 130-170 d.C.) ensinava a existência de inúmeros seres eternos que viviam em perfeita harmonia, sendo o Pai do Universo um deles. Nesse modelo gnóstico, um dos seres eternos, Sofia, “sabedoria” em grego, teria destruído essa harmonia ao criar mundos para si, na tentativa de imitar o pai do Universo, e o resultado foi sua expulsão do reino divino. Essa tentativa resultou no demiurgo, do grego demiurgos, “artesão”, um deus criador inferior que aparece no diálogo de Platão intitulado Timeu. Para os gnósticos, o demiurgo criou o mundo físico. Outra linha de pensamento gnóstica era de Marcião, falecido em 165 d.C. Ele ensinava que o Deus do Antigo Testamento era inferior e até mesmo defeituoso; e dizia ainda que não era esse o mesmo Deus do Novo Testamento. Na sua mensagem, pregava que Jesus revelou um Deus até então
desconhecido, por isso todos os cristãos deviam rejeitar tanto o Antigo Testamento quanto o seu Deus. Assim, a declaração “Creio em Deus Pai Todo-poderoso Criador do céu e da terra” é um ato de adoração a Deus a quem damos crédito. A ideia aqui diz respeito “àquele que governa tudo, que controla tudo”, para enfatizar o poder e a soberania de Deus em governar todo o universo. Isso neutralizava o pensamento marcionita que ensinava
ser o universo criado e governado por demiurgos, e não pelo grande Deus Javé de Israel, revelado no Antigo Testamento. Paul Tillich, teólogo luterano e filósofo, diz o seguinte sobre as palavras iniciais do Credo dos Apóstolos, o que, sem dúvida, vale também para os outros: “Deveríamos pronunciar essas palavras com grande reverência, porque, por meio dessa confissão, o cristianismo se separou da interpretação dualista da realidade presente no paganismo... O primeiro artigo do Credo é a grande muralha que o cristianismo ergueu contra o paganismo. Sem essa separação a cristologia seria mais do que um dos poderes cósmicos entre outros, embora, talvez, o maior deles” (TILLICH, 2004, p. 41).
O DEUS DAS ESCRITURAS
O Deus da Bíblia é o mesmo Deus dos credos. A diferença está apenas na forma de apresentação, não na essência divina. A Bíblia é a Palavra de Deus para todos os seres humanos; o credo é a resposta do homem a Deus. Assim, os credos em sua forma embrionária estão presentes na Bíblia: “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é único SENHOR” (Dt 6.4). Deus é um em essência ou natureza, subsistindo por Si mesmo; só o SENHOR é Deus: “Eu
sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim não há deus...” (Is 45.5). Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou o monoteísmo como parte do primeiro de todos os mandamentos: “... Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Mc 12.29); “... com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele” (Mc 12.32); “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro...” (Jo 17.3).
            O apóstolo Paulo declara: “Todavia para nós há um só Deus” (1 Co 8.6); “Ora o medianeiro não é de um só, mas Deus é um” (Gl 3.20); “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos” (Ef 4.6). “Porque há um só Deus” (1 Tm 2.5).
Foi o Senhor Jesus quem revelou Deus aos seres humanos por meio da Bíblia: Mt 11.27; Jo 1.18).
            O Deus que Jesus revelou é o Deus de Israel e isso ele deixou claro ao pronunciar o primeiro e grande mandamento: “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” (Mc 12.29, 30). Essa é uma das várias declarações do Novo Testamento que ensina ser o cristianismo monoteísta. A declaração aqui é reveladora porque não deixa dúvida de que o Deus dos cristãos é o mesmo Deus de Israel, pois Jesus citou as palavras diretamente do Antigo Testamento (Dt 6.4-6).
A PATERNIDADE E A ONIPOTÊNCIA DE DEUS
            Assim como os antigos credos sintetizam o ensino bíblico sobre a unidade de Deus e o monoteísmo, da mesma forma eles o fazem sobre a paternidade de Deus. Há abundantes declarações na Escrituras sobre a paternidade de Deus.
            A figura do pai numa família é conhecida e compreensível em todas as civilizações desde a Antiguidade. Aplicada a Deus, tornase um recurso extraordinário. Em primeiro lugar, porque mostra a doutrina de Deus não é abstrata (Dt 1.31; Ml 1.6). E não somente isso, pois são os pais que geram os filhos e são responsáveis por seu bem-estar, sustento, alimentação, vestimentas, saúde, educação e segurança. Essa manifestação de afeto e carinho
acontece de maneira natural e ao mesmo tempo misteriosa. É a melhor e a mais perfeita maneira de ilustrar e explicar o grande amor de Deus pelo ser humano.
            A quem se refere à expressão “Deus Pai Todo-poderoso” ou fraseologia similar nos antigos credos? Os antigos intérpretes e exegetas tomaram essas palavras desde muito cedo em relação especial à santíssima Trindade: “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Pe 1.3); “porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo 6.27). Mas Deus como Pai na Bíblia tem significado mais abrangente. O título “Pai” no Antigo Testamento se refere aos
filhos de Israel, denota relação mediante aliança, concerto (Jr 31.9; Ml 2.10), de maneira coletiva, a Israel no todo (Êx 4.22; Os 11.1), às pessoas como seus filhos (Is 1.2; 30.1; 45.11; Jr 3.22) e ao Ungido Rei, o Messias (2 Sm 7.14; Sl 2.7; 89.27). No Novo Testamento, é frequente a frase “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15.6; 2 Co 1.3; 11.31; Ef 1.3) e fraseologia similar (Cl 1.3), e também “nosso Deus e Pai” ou “Pai nosso” (1 Co 8.6; 1 Ts 3.11, 13; 2 Ts 2.16), principalmente nas introduções das epístolas paulinas (1 Co 1.3; Gl 1.4; Ef 1.2; Fp 1.2; Cl 1.2).
            Jesus nos tornou filhos de Deus por adoção, razão pela qual temos a liberdade e o direito de chamá-lo de Pai (Mt 6.13; Jo 1.12). A palavra aramaica abba, “aba”, ou, literalmente, “papai”, demonstra uma relação de intimidade dos crentes em Jesus com Deus (Rm 8.15; Gl 4.6). A ideia de que Deus é o Pai de todos os seres humanos é biblicamente válida por causa da criação (At 17.28, 29; Ef 4.6), mas isso não implica relação pessoal ou
espiritual. No evangelho de João, o termo grego patēr, “pai”, aparece 136 vezes, e 120 delas se referem a Deus. Nos evangelhos sinópticos, essa referência a Deus é bem menor, mas permanece a mesma ideia.
            O título de “Pai” se diferencia dos demais títulos e funções de Deus porque nunca se aplica a Jesus nem ao Espírito Santo. Há uma vasta lista de atributos, títulos, funções e obras de Deus Pai presentes no Filho e no Espírito Santo, mas o título de Pai é exclusivo ao Deus Pai. Alguém pode argumentar sobre a profecia messiânica que emprega as palavras “Pai da Eternidade” (Is 9.6).
O bispo Sabélio costumava citar palavra profética para fundamentar a crença unicista de que Pai é Filho e Filho é Pai. Mas o que a Bíblia ensina aqui é que o Messias, como rei, “o principado está sobre os seus ombros”, é pai do seu povo (Is 22.21), e não o Deus-Pai. O Filho é Deus igual ao Pai (Jo 5.17, 18; 10.30), mas não é o Pai, senão “o Filho do Pai” (2 Jo 3).
            Ser todo-poderoso é o mesmo que ser onipotente (Sl 91.1). Esse atributo é exclusividade divina, no Deus trino e uno. Os credos começam reconhecendo esse atributo no Deus Pai: “Creio em Deus Pai Todo-poderoso”. A expressão “Todo-poderoso” é um dos nomes de Deus no Antigo Testamento (Gn 17.1; Êx 6.3), e a ideia nos antigos credos é de poder fazer todas as coisas, tudo o que deseja (Is 46.10). A onipotência ad extra está limitada somente pela natureza ou essência do próprio Deus e por nada externo a ele; por exemplo, “Deus não pode mentir” (Tt 1.2). Isso não deve ser interpretado como limite de seu poder; antes, trata-se da sua essência, pois ele mesmo é a Verdade. Os cristãos reconhecem que Deus pode todas as coisas: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37).
BÍBLIA X CIÊNCIA
            Não é verdade que a ciência contradiz a Bíblia e vice-versa. É necessário saber o que realmente é ciência e se os pressupostos científicos são realmente científicos. Se o resultado dessa investigação for positivo, resta ainda saber se o pensamento teológico é realmente bíblico ou se não está fundamentado numa falsa interpretação das Escrituras. Um exemplo clássico disso são as descobertas científicas de Galileu Galilei, que contrariavam a interpretação da Igreja Católica, e não a Bíblia, pois o papa achava que apenas o Sol e a Lua se moviam, e não a terra, com base na
interpretação dada à passagem do dia longo de Josué (Js 10.12- 14).
            Os cientistas já investigaram diversas áreas do saber humano: astronomia e cosmologia, biologia e genética, paleontologia e geologia, métodos de datação geofísica e hidrodinâmica. Por que um número considerável deles rejeita completamente o evolucionismo? Muitas coisas no currículo escolar na área de ciências naturais precisam ser revistas, segundo um número considerável de cientistas.
            Toda a criação louva a Deus – seres espirituais, racionais e irracionais e toda a natureza (Sl 148.2-12). Os ateus não adoram nem louvam a Deus; acham que não precisam dele e não participam da adoração a Deus. A existência de Deus é um fato;
trata-se de uma verdade primária que não precisa ser provada. Seria insulto à inteligência humana dizer a alguém que um relógio simplesmente apareceu do nada, como resultado do acaso. O Salmo 19 mostra que o Universo, por si só, comprova a existência de Deus (Sl 19.1-6). As coisas visíveis de Deus são claramente vistas como recursos que Deus deixou para que o ser humano reconheça a existência do Criador: “para que eles fiquem
inescusáveis” (Rm 1.20). Será que eles pensam que, negando a existência do Criador, escaparão da condenação eterna? Se for isso, estão enganados. A única salvação é o Senhor Jesus Cristo (Jo 14.6; At 16.31).


Fonte : livro A razão de nossa fé: assim cremos, assim vivemos / Esequias Soares.
Casa Publicadora das Assembleias de Deus.