sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Terça - Mt 1.1-17 –L.B.A–O nascimento de Jesus e a linhagem de Davi.

Este comentário foi extraído do livro, comentário do novo testamento aplicação pessoal. “Pode ser adquirido no site da CPAD”.


1.1 Registro dos ancestrais de Jesus, o Messias. Os dezessete primeiros versículos do Evangelho de Mateus apresentam os ancestrais de Jesus. Como a linhagem de uma família servia para provar que ela pertencia ao povo escolhido de Deus, Mateus começou mostrando que Jesus era descendente (ou “ filho” ) de Davi, que era descendente de Abraão (versão NTLH), cumprindo assim as profecias do Antigo Testamento sobre a linhagem do Messias (a expressão “pai de” também pode significar “ancestral de”). Mateus traçou a genealogia de Jesus até Abraão, através de José. Essa genealogia comprova a linhagem legal (ou real) de Jesus através de José, que era descendente do rei Davi (veja também 2 Sm 7.16; Is 9.6,7; Ap 22.16).
        1.2 Abraão gerou a (“era o pai de” ) Isaque. A frase “era o pai de” também pode significar “era o ancestral de”. Dessa forma, não havia necessidade de haver um relacionamento direto entre o pai e o filho entre todos aqueles que estavam relacionados numa genealogia. Na antiguidade, as genealogias eram muitas vezes arranjadas de forma a ajudar a memorização.
Assim, Mateus registrou sua genealogia através de três conjuntos de quatorze gerações (veja 1.17). Abraão foi chamado por Deus, recebeu as promessas da aliança, e creu que Deus iria manter as suas promessas (Gn 15.6). Sua história é contada em Gênesis 11-25. Abraão gerou a Isaque. Abraão e Sara queriam saber se Deus lhes enviaria o filho prometido; mas Deus sempre cumpre as suas promessas. Veja Gênesis 21-22.
        Isaque gerou a Jacó. Muitas vezes esses três homens - Abraáo, Isaque e Jacó – são mencionados juntos como “patriarcas”, pais da nação e depositários da aliança (ou concerto) de Deus (veja Gn 50.24; Ex 3.16; 33.1; Nm 32.11; Lc 13.28; At 3.13; 7.32).
        Jacó gerou a Judá e a seus irmãos. Jacó teve doze filhos através de suas esposas Raquel e Lia, que se tornaram as doze tribos de Israel (veja Gênesis 49.1-28). Mateus, desejando traçar a linhagem real de Jesus, fez uma especial anotação sobre Judá, porque a linhagem real iria continuar através dele (Gn 49.10).
        1.3 Judá gerou de Tamar a Perez e a Zerá. Nesse verso aparece uma interessante observação. Geralmente, se espera que uma genealogia evite mencionar ancestrais menos respeitáveis, mas, os filhos de Judá nasceram de Tamar, que havia se prostituído com o sogro.
A história de Judá e Tamar é contada em Gênesis 38. Embora Judá fosse o pai de Perez e Zerá, não estava casado com Tamar.
Perez e Zerá eram gêmeos (veja também 1 Crônicas 2.4). A linha que traça Perez até ao rei Davi também está registrada em Rute 4.12,18-22.
        Esrom... Rão [ou Arão]. Pouco se sabe sobre Ezrom e Rão. Ezrom é mencionadoem Gênesis 46.12 e 1 Crônicas 2.5. Rão [ou Arão] é mencionado em 1 Crônicas 2.9.
        1.4 Aminadabe e Naassom são mencionados em Êxodo 6.23. A filha de Aminadabe, e irmã de Naassom, Eliseba casou-se com Arão que se tornou sumo sacerdote de Israel. Veja também Números 1.7; 2.3; 7.12-17. Salmom é mencionado novamente apenas na genealogia de Rute 4,18-21. Esses homens também estão relacionados em 1 Crônicas 2.10,11.
        1.5 Salmom gerou de Raabe a Boaz, e Boaz gerou de Rute a Obede, e Obede gerou a Jessé. Raabe é a mulher da cidade de Jerico que escondeu os espias de Israel: e depois foi salva por eles quando os israelitas destruíram Jericó. Raabe era uma prostituta (Js 2.1) que veio a crer no Deus de Israel: Ela foi incluída na Galeria dos Heróis da Fé de Hebreus 11, entretanto existe um problema cronológico ao fazer de Raabe a verdadeira mãe de Boaz.
Assim como na frase “pai de”, as mulheres que são relacionadas como mães numa genealogia podem ser ancestrais, ao invés de mães verdadeiras.
O livro de Rute conta a história de Boaz e de uma jovem chamada Rute, que tinha vindo de uma nação vizinha. Boaz casou-se com Rute e eles se tornaram os pais de Obede (Rt 4.13-17). Mais tarde Obede se tornou o pai de Jessé (Rt 4.21,22). Veja também 1 Crônicas 2.12.
        1.6 Jessé teve vários filhos, sendo que um deles foi ungido pelo profeta Samuel para ser o próximo rei de Israel, depois do rei Saul (veja 1 Sm 16.5-13). A história do rei Davi é contada em 1 e 2 Samuel, com a transferência do trono para seu filho Salomão, registrada em 1 Reis 1.
        Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias. Essa história, registrada em 2 Samuel 11, descreve como Salomão nasceu de Davi e Bate-Seba, e como Davi mandou matar Urias. Deus ficou muito irado com as más açóes de Davi e o primeiro filho que nasceu de Davi e Bate-Seba morreu (2 Sm 11.27-12.23). O segundo filho a nascer foi Salomão, que mais tarde foi rei de Israel, cujo reinado foi chamado de idade de ouro dessa nação. A sabedoria que recebeu de Deus tornou-se mundialmente conhecida e ele escreveu muitos provérbios, que estão registrados no livro de Provérbios, assim como em Eclesiastes e Cantares. Sua história é contada em 1 Reis 1-11 e 2 Crônicas 1-10.
        1.7 O cruel filho de Salomão, Roboão, dividiu o reino por causa de uma decisão orgulhosa e imprudente (veja 1 Reis 12.1-24) e assim surgiram dois novos reinos: o reino do sul, chamado Judá, governado por Roboão, e o reino do norte, chamado Israel, governado
por Jeroboão. O filho de Roboão, Abias (também chamado Abião) também foi um rei cruel (1 Rs 15.3,4). Asa foi um rei temente ao Senhor (1 Rs 15.11).
        1.8 O bom rei Asa foi o pai de outro rei, Josafá (1 Rs 22.43). Entretanto, o filho de Josafá, Joráo (também chamado Jeoráo), era cruel (2 Rs 8.18). O filho de Jeoráo, Uzias (também chamado Azarias) deu um exemplo de como essa frase nem sempre quer dizer  verdadeiramente “filho de”. De Acordo com a genealogia mostrada em 1 Crônicas 3.10- 14, Mateus omitiu três nomes entre Jorão e Uzias: esses três reis eram Acazias, Joás e Amazias. Mateus provavelmente não incluiu esses nomes a fim de manter seu padrão de
três conjuntos de quatorze gerações nessa genealogia.
        1.9 Jotáo andou firmemente na presença de Deus (2 Cr 27.6), mas a sua boa influência não se estendeu ao seu filho, pois Acaz era um homem cruel a ponto de sacrificar seu próprio filho no fogo (2 Rs 16.3,4). Depois do reinado excessivamente cruel de Acaz, veio o próspero reinado do bom rei Ezequias (2 Rs 18.5).
        1.10 Manassés. Ezequias obedecia a Deus, mas seu filho Manassés foi o rei mais cruel que reinou no reino do sul (2 Cr 33.9). Entretanto, ao chegar ao fim da vida, ele se arrependeu dos seus horríveis pecados (2 Cr 33.13). Infelizmente, seu filho Amom herdou   muito do caráter do pai. Ele cometia pecados e adorava e oferecia sacrifícios aos ídolos (2 Cr 33.22,23). Mais uma vez Deus teve misericórdia da nação e o filho de Amom, Josias, tentou desfazer todas as más ações do pai (2 Rs 23.25).
1.11 Josias gerou a Jeconias (ou Joaquim) e a seus irmãos na deportação para a Babilônia. Mateus omitiu outro nome da linhagem. Josias era, na verdade, o pai de Jeoaquim que foi deportado para a Babilônia quando se rebelou novamente contra Nabucodonosor. Depois da partida de Jeoaquim, seu filho Jeconias (também chamado Joaquim) reinou em Jerusalém.
Seu reino durou apenas três meses, antes de Nabucodonozor sitiar a cidade, provocando sua rendição. A frase “ea seus irmãos” refere-se ao irmão de Jeconias (ou Joaquim), Zedequias, a quem Nabucodonosor colocou no trono de Jerusalém como um rei “fantoche”. Mas Zedequias cometeu o grande erro de também se rebelar, e isso provocou a ira final do rei da Babilônia que conquistou Judá de forma completa, destruindo Jerusalém, inclusive seu maravilhoso Templo. Toda a nação de Judá foi levada para o exílio na Babilônia (2 Rs 24.16-25.21). Isso aconteceu em 586 a.C.
         1.12 Depois da deportação para a Babilônia, Jeconias (ou Joaquim) gerou a Salatiel. Nesse agrupamento final, Jeconias (ou Joaquim) é relacionado como pai de Salatiel, de acordo com 1 Crônicas 3.17. Ao dizer que Jeconias (ou Joaquim) gerou a Salatiel, Mateus se afastou da genealogia de 1 Crônicas 3.19 que relaciona Pedaías como pai de Zorobabel. Entretanto, Mateus concorda com várias outras Escrituras que relacionam Salatiel como pai de Zorobabel (Ed 3.2; 5.2; Ne 12.1; Ag 1.1; 2.2; 23). Zorobabel figurou de forma proeminente na história de Israel depois do exílio. Quando o povo de Judá teve finalmente permissão de retornar à sua nação, Zorobabel tornou-se seu governador (Ag 1.1) e começou a obra do Templo de Deus (Ed 5.2). Deus abençoou imensamente o seu servo Zorobabel, reafirmando e garantindo sua promessa de um Messias através da linhagem de Davi (Ag 2.23).
        1.13-15 Abiúde... Eliaquim... Azor...Sadoque... Aquim... Eliúde... Eleazar...Matã... Jacó. Nada se sabe nas Escrituras sobre qualquer um desses homens. Na linhagem do Messias foram incluídas pessoas comuns, que nunca haviam sido relacionadas em quaisquer genealogias e nunca tiveram sua história contada através das gerações.
        1.16 A linhagem real continuou através de José que, embora não fosse o pai de Jesus, era o marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo. Mateus havia terminado seu objetivo de relacionar essa genealogia para mostrar, sem qualquer dúvida, que Jesus era descendente de Davi e que, dessa forma, estava cumprindo as promessas de Deus.
        1.17 Todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e, desde Davi até a deportação para a Babilônia, catorze gerações; e, desde a deportação para a Babilônia até Cristo, catorze gerações.
O Evangelho divide a história de Israel em três conjuntos de quatorze gerações, mas provavelmente houve mais gerações do que aquelas relacionadas aqui. Muitas vezes as genealogias condensam a história, e com isso nem todas as gerações dos ancestrais foram   especificamente relacionadas.
Parece que também existe um problema ao compararmos a genealogia de Mateus com a de Lucas (registrada em Lucas 3.23-37). As diferenças em Mateus podem ser explicadas pela omissão de alguns nomes a fim de obter a simetria de três conjuntos de quatorze gerações. Também é muito provável que Lucas estivesse traçando os ancestrais humanos de Jesus através de José, enquanto Mateus estava preocupado com os nomes legais e reais para enfatizar a sucessão ao trono de Davi e a chegada de Jesus como o prometido Rei. Mateus insistia na história israelita enquanto a genealogia mais longa de Lucas traça seus ancestrais através de Natã, filho de Davi, e não através de Salomão, como fez Mateus. Mateus também incluiu os nomes de quatro mulheres, ao contrário de Lucas.
  

Segunda - Jo 1.9-12 –L.B.A–Jesus Cristo é a luz de todos os que creem.

Este comentário foi extraído do livro, comentário do novo testamento aplicação pessoal. “Pode ser adquirido no site da CPAD”.


1.9  Aqui  a palavra todos  poderia,  de forma abrangente,  incluir  tanto  os  judeus   como os gentios, ou poderia se referir a todos os indivíduos. Todas as pessoas recebem vida de Deus, portanto elas têm alguma luz. A criação revela o poder e  a divindade  de  Deus  (1.3; At  14.17;  Rm  1.19,20;  2.14-16),  e  a nossa consciência também testifica sobre a sua existência. A descrição do autor do Evangelho captura a transição entre  o  ministério de João Batista como precursor  e  o  ministério de Jesus, como a verdadeira luz.
Jesus, ao contrário de quaisquer outras “luminárias” representa a verdadeira e  exclusiva  revelação de Deus ao homem. Por causa disso, podemos crer e confiar nele.


1.10 João menciona uma das maiores tragédias: o mundo, isto  é  a  humanidade, não   conheceu   o   seu   próprio  Criador. As pessoas estavam cegas e não podiam ver a sua luz. Embora Cristo tenha criado o mundo, as pessoas que Ele criou não o reconheceram. A Ele foi negado o reconhecimento geral que merecia receber por ser o Criador.

1.11 Em grego, essa expressão quer dizer, “Veio para o que era seu”, isto é,  Ele  veio para aquilo que lhe pertencia. Essa expressão também  pode  ser  usada  para descrever   a ar.  Essa frase  dá ênfase  à rejeição de Cristo. Jesus não era bem-vindo no mundo, nem mesmo na sua casa. A expressão “veio para o que era seu” se refere a Israel, a nação escolhida por  Deus,  que  era particularmente a nação de Cristo.
Ele não foi recebido por aqueles que deveriam ser os mais  ansiosos para recebê-lo. Como nação eles rejeitaram o seu Messias. Essa rejeição foi  mais  detalhada ao  final  do  ministério  de  Jesus (12.37-41).
Isaías havia predito essa descrença (Is 53.1-3). Apesar da rejeição descrita aqui, João evita pronunciar uma sentença sobre o mundo e dirige  nossa  atenção  àqueles   que  realmente recebem a Cristo com sincera fé.

1.12-13- Embora a rejeição a Cristo parecesse universal, na verdade muitos indivíduos responderam pessoalmente, crendo nele e aceitando-o como o  Filho de Deus,  o Salvador.
A eles, Ele deu o poder de serem feitos filhos de Deus. No grego, a palavra aqui traduzida como poder,   significa   “autoridade   ou  permissão”.
Nesse contexto, ela fala da concessão divina do direito ou privilégio de um novo nascimento.
Ninguém pode conseguir isso através do seu próprio poder, mérito ou capacidade. Somente Deus   pode   concedê-la.    Ninguém   pertence à família de Deus por ser judeu através do nascimento físico (ou mesmo por ter nascido numa família cristã). O novo nascimento não pode ser alcançado através de um ato de paixão humana, e de forma alguma tem a ver com qualquer  vontade  humana.  Ele  é uma dádiva de Deus.
Muitos creram superficialmente em Deus quando viram os seus milagres, mas  não creram em Jesus como o Filho de Deus. Eles “creram” nele enquanto Ele correspondia às suas expectativas do que o Messias deveria ser, mas o abandonaram quando Ele desafiou as suas noções preconcebidas. Devemos crer em Jesus como Ele é, e não limitá-lo conforme nossas ideias e falsos juízos. Devemos considerar Jesus  exatamente como  a Bíblia o apresenta.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

(SUBSÍDIO) LIÇÂO 02- A SALVAÇÃO NA PÁSCOA JUDAICA

Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Clainto Ivan Pommerening.

As grandes festas anuais do povo de Israel eram a Festa dos Pães Ázimos, a Festa das Semanas, dos Tabernáculos (ou Cabanas) e a Festa da Páscoa. A Páscoa era celebrada todos os anos na primavera em 14 de Nisã (originariamente Abib). Nela, os israelitas relembram o modo milagroso pelo qual Deus operou a salvação do seu povo, livrando-os da opressão, do sofrimento, da angústia e da escravidão promovida pelos egípcios. Era a lembrança da fidelidade de Deus à sua promessa, do seu amor libertador e do seu cuidado em favor do seu povo. Neste capítulo, estudaremos os aspectos chaves e simbólicos da páscoa judaica e o novo significado que ela assumiu com a morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.
A escravidão do povo de Deus no Egito começou depois da morte de José, filho de Jacó, e da morte do Faraó que conhecia os motivos de o povo ter ido morar em Gósen. O novo Faraó, com medo de que os israelitas tornassem-se uma grande nação e tentassem subjugar os egípcios, obrigou-os a fazerem trabalhos forçados. Não se sabe ao certo quando isso começou, mas, ao todo, os israelitas permaneceram 430 anos morando no Egito até que finalmente tiveram permissão para peregrinar para a Terra Prometida.
1. A INSTITUIÇÃO DA PÁSCOA
Diante do clamor do povo escravizado, a reação de Deus foi libertar seu povo e conduzi-lo a uma nova terra, dando independência política, identidade nacional e liberdade para servirem ao verdadeiro e único Deus. Em seu grandioso poder, o Senhor ouviu “o gemido dos filhos de Israel, aos quais os egípcios escravizavam” (Êx 6.5) e lembrou-se da sua aliança com eles. O clamor do povo diante do sofrimento da escravidão chegou até Deus, e Ele enviou livramento a Israel. O Senhor libertou seu povo dos dois sentidos da escravidão: (1) a escravidão humana diante de outro povo e (2) a escravidão espiritual, que faz o ser humano adorar falsos deuses que dominam e cegam o entendimento das pessoas. O povo israelita experimentou a dominação, escravidão e humilhação por um período aproximado de 430 anos (Êx 12.40). Ser escravo no Antigo Oriente era ser dependente política, econômica e socialmente de outro povo. A religião que o povo escravo professava era a religião dos seus senhores; portanto, não existia uma dignidade nacional para o povo que era escravo. Em Cristo Jesus, somos igualmente livres da escravidão de servirmos falsos deuses e de associarmo-nos a ídolos e espíritos opressores das trevas (1 Co 10.20).
O nome hebraico para referir-se à Páscoa é Pesah, que pode significar pular, passar por cima, saltar por cima ou também passar de largo, no sentido de poupar a vida, pois o anjo destruidor passou de largo e poupou os primogênitos das casas onde fora aplicado o sangue nas ombreiras e na verga das portas (Êx 12.7). Essa determinação havia sido dada por Deus diante da teimosia de Faraó, para que o povo de Israel não fosse atingido pela última praga lançada sobre o Egito, que era a praga da morte dos primogênitos de homens e animais. Portanto, a mortandade não sobreviria à casa dos israelitas onde um cordeiro fosse sacrificado e seu sangue fosse aspergido nos locais indicados. Assim sendo, trata-se do misericordioso cuidado de Deus em preservar os filhos de Israel quando um poder destruidor “passou por cima” deles sem causar-lhes dano.
A morte dos primogênitos e a Páscoa representam a vitória do Deus verdadeiro sobre todas as divindades egípcias, algumas delas representadas nas pragas anteriores, pois tinham semelhanças na sua feição com esses animais e agora estavam religiosamente em desvantagem diante da soberania de Deus. Como os primogênitos de todos os animais morreram, também morreram os primogênitos dos touros (o deus touro egípcio chamava-se Ápis), que eram sagrados, e a morte dos primogênitos dos touros também foi um duro golpe no deus Osíris (representado pelo sol), o principal deus do panteão egípcio. O próprio Faraó era venerado como filho de Rá (outro nome para o sol). Assim, a morte do primogênito do próprio Faraó mostraria a impotência dos deuses egípcios, bem como a impotência de Faraó.
Na véspera da última praga sobre os egípcios, Deus mandou o povo preparar um cordeiro para ser sacrificado em cada família (Êx 12.3-6). Quando o Senhor passasse para ferir os primogênitos dos egípcios, o sangue sobre as portas seria o sinal de que estaria algum israelita e ninguém morreria naquela casa (Êx 12.13). Essa orientação protegeu os primogênitos israelitas da morte. Foi dessa forma que o sangue do cordeiro pascal tornou- se símbolo de proteção diante da morte. Igualmente, o sangue de Jesus como o verdadeiro cordeiro protege-nos da morte eterna, da maldição originada pelo pecado e da escravidão que o pecado gera na vida humana (1 Jo 1.7).
Além de os primogênitos dos israelitas não morrerem na noite deste sacrifício, a Páscoa também significa o livramento da escravidão do Egito, pois, diante da mortandade, o Faraó ordenou que o povo saísse do Egito, temendo maiores consequências. A Páscoa tornou-se o primeiro dia do ano religioso dos hebreus e também o começo de sua vida nacional. Ela ocorreu dia 14 do mês de Abibe (chamado de Nisã na história posterior de Israel), que pode corresponder aos nossos meses de março e abril.
A salvação dos primogênitos de Israel através do sangue de um animal e a morte dos primogênitos do Egito demonstra um paralelo do alcance da expiação de Cristo, que “é ilimitada, mas é limitada àqueles que creem verdadeiramente”; que “Ele é o salvador em potencial de todos os homens, mas efetivamente só dos crentes”.19
Além do cordeiro da Páscoa de um ano, os elementos centrais dessa festa também eram o pão sem fermento, chamado de pão asmo que representava a saída rápida, pois não havia tempo de deixar a massa crescer — e as ervas amargas que simbolizavam o tempo de amargura, sofrimento, opressão e dor da escravidão durante os 430 anos. Essa refeição deveria ser feita apressadamente, com as pessoas em pé, com vestimentas e sandálias nos pés, prontas para saírem e com um bordão (cajado) na mão, simbolizando a pressa com que saíram do Egito. Essa festa deveria ser celebrada continuamente para relembrar que Deus os havia libertado do Egito.20
Mais tarde, a festa passou a ser celebrada de maneira mais alegre e, na primeira noite do Seder (ordem ou liturgia), a família israelita festejava a liberdade que Deus dera ao povo. Trata-se de uma festa parecida com o Natal, com a diferença de que o Seder tem uma longa e antiga liturgia acompanhada por vários rituais simbólicos importantes.21 No final, entoavam-se cânticos de alegria. O cântico final era alegre (Sl 136), uma alegria que expressava gratidão a Deus pelos seus feitos. Assim, somos desafiados a celebrar a nossa salvação em Cristo Jesus todos os dias com muita alegria, com cânticos de louvor e gratidão, tal como os judeus celebravam durante a sua páscoa. Jesus, na última Ceia com os discípulos, repartiu o pão e o vinho, o cálice da nova aliança e, depois de ter realizado a Ceia, cantou um hino (Mt 26.30).
Com a Páscoa, Deus dava início ao cumprimento da promessa da terra e da constituição de uma nação feita a Abraão (Gn 12.3). Israel estava sendo liberto do domínio de um povo e estava sendo levado em direção à sua própria terra para construir sua identidade. A Páscoa era o símbolo de que, agora, os israelitas não eram mais escravos condenados a viverem sem uma terra. Dessa vez, eles estavam sendo convocados por Deus a seguirem seu próprio caminho, serem uma verdadeira nação e servirem seu Deus e não mais correrem riscos de adorarem os deuses egípcios. De igual forma, a salvação em Cristo Jesus conduziu o ser humano a uma nova identidade e conduz a Igreja em direção a uma nova terra (a nova Jerusalém) onde veremos a plena glória de Deus. O Novo Testamento afirma que, mediante a salvação de Jesus, ganhamos uma nova identidade — a de sermos filhos de Deus (Gl 3.26; 1 Jo 3.2); temos uma nova vida — pois não somos nós que vivemos, mas é Cristo que vive em nós (Gl 2.20), e, igualmente, ganhamos a liberdade de servirmos ao verdadeiro Deus e anunciarmos as suas virtudes ao mundo (1 Pe 2.9-10).
A Páscoa representa a verdadeira libertação que uma nação pode experimentar: a liberdade espiritual para servir ao Criador (Êx 12.1—13.16). O último juízo sobre o Egito e a provisão do sacrifício pascal possibilitaram o livramento da escravidão e a peregrinação do povo para a Terra Prometida. Os israelitas passavam oito dias comendo pães sem fermento semelhantes ao matzá, isto é, fatias achatadas e crocantes de pães asmos insossos. Tudo em memória da grande fuga do Egito, tão rápida que não houve tempo para deixar o pão caseiro crescer (Êx 12.39-40).
A Páscoa judaica aponta e encontra seu propósito principal e seu fim (de finalidade e término) na vida, na morte e na ressurreição de Cristo. Assim, tanto a Páscoa quanto a Ceia do Senhor apontam para o mesmo simbolismo:
o sacrifício de Cristo. Ambos apontam o antes e o depois do maior evento da história: a obra de Cristo.
2. O CORDEIRO DA PÁSCOA
O cordeiro oferecido como sacrifício era exigido em quatro circunstâncias no judaísmo: na comemoração da Páscoa (Êx 12.5; Lv 23.12); na oferta pelo pecado (Lv 4.32); em algumas cerimônias de purificação (Lv 12.6; 14.10; Nm 6.12) e nos sacrifícios matutinos e vespertinos. No judaísmo, o cordeiro era amplamente usado como sacrifício para perdão de pecados; essa, porém, não era a única finalidade. A Bíblia apresenta-nos ainda outras passagens em que o cordeiro era usado para outros fins, como é o caso de Abel (Gn 4.3-5), que tirou das primícias do seu rebanho e ofereceu ao Senhor como expressão de gratidão; Abraão (Gn 22.13), que ofereceu o cordeiro como prova da sua fidelidade e obediência a Deus; e das mulheres que, após o parto, deveriam levar ao sacerdote um cordeiro de um ano para sua purificação (Lv 12.6). Na travessia dos israelitas no deserto em direção à Canaã, o cordeiro passou a ser oferecido como símbolo de santificação e purificação do povo duas vezes por dia (ao amanhecer e ao anoitecer). Esse sacrifício era feito na entrada do Tabernáculo, onde Deus encontrava-se com o povo (Êx 29.38-46). Era o meio de consagração do povo e do lugar onde eles estavam para que a presença de Deus fosse manifesta no meio deles.
O cordeiro Pascal não tinha muita relação com pecados em si. Sua relação era com o livramento da escravidão, como visto acima. Mas é lógico que, fundamentalmente, o anjo da morte passou de largo na casa dos israelitas porque um sacrifício havia sido feito ali, e sacrifícios sempre apontavam para a expiação pelo pecado. Portanto, subjetivamente, o cordeiro havia sido morto porque havia pecado removido pela morte do animal naquela casa. Esse animal, além de ter apenas um ano, não poderia ter qualquer defeito ou mancha e não poderia ter tido nenhum osso quebrado.
O cordeiro da Páscoa deveria ser morto e comido à noite em família. Se uma família fosse muito pequena, poderia juntar-se à outra e, assim, estabelecer uma comunhão mais ampla. Portanto, essa Páscoa é a que serve de base para a Páscoa cristã. Jesus é o Cordeiro que tira o pecado da humanidade, o nosso meio de consagração a Deus e o meio pelo qual Deus manifestou-se a nós. Por isso, Ele é o verdadeiro Cordeiro, o verdadeiro Salvador, e é nEle que está a verdadeira remissão de pecados (Jo 1.29-30).
Jesus deu um novo significado à Páscoa, demonstrando que agora o simbolismo recai sobre Ele e, secundariamente, sobre a libertação dos israelitas do Egito.22 No lugar do cordeiro morto, Ele está vivo e presente na celebração, simbolicamente demonstrado pelo pão que representa seu corpo e pelo vinho que representa seu sangue. Esses elementos tem sentido duplo: a morte de Cristo em seu corpo (1 Co 11.24) partido (ferido) e seu sangue que verteu; mas também tem o simbolismo de sua presença atualizada simbolicamente no pão e no vinho em união espiritual com Ele.
Apesar de sua tamanha grandeza, Deus esvaziou-se e, na pessoa do seu filho, assumiu a forma humana; como cordeiro imaculado, foi até à morte e morte de cruz (Fp 2.5-8). O verdadeiro cordeiro ofereceu-se como sacrifício definitivo e perfeito para expiação dos pecados da humanidade (Hb 9.12,26,28; 10.12). Na sua morte, a lei do sacrifício de animais, sacrifício imperfeito, tornou-se obsoleta, pois o verdadeiro cordeiro purificou e purifica a todos oferecendo perdão dos pecados mediante o reconhecimento da natureza pecaminosa e das falhas humanas através da confissão de pecados (Rm 10.9).
Comparativamente a Cristo, havia algumas exigências que deveriam ser observadas quando se oferecia um cordeiro: o cordeiro deveria ser completamente limpo, sem manchas e sem defeitos; exigia-se um cordeiro imaculado, plenamente saudável (Lv 4.32; Nm 6.14); esse simbolismo aponta para Jesus, o verdadeiro e perfeito Cordeiro pascal e o sacrifício completo. Após a morte de Jesus, a Igreja Primitiva entendeu, a partir de uma das ordenanças dEle (1 Co 11.23), que a Ceia do Senhor poderia substituir a Páscoa. Isso não significa que abolimos a comemoração da Páscoa; significa apenas que a morte de Cristo é rememorada também na Ceia do Senhor (1 Co 10.16-17).
O principal sentido da Ceia do Senhor é alimentar e sustentar a comunhão com Cristo, sendo Ele o anfitrião,23 salientando que a comunhão com o corpo de Cristo dá-se na relação comunitária com os irmãos que compõe esse corpo. Além disso, a Ceia aponta para a tensão escatológica entre o “já agora” e o “ainda não”; portanto, aponta para trás, para aquilo que Cristo fez; para o presente, naquilo que Ele nos torna; e para frente, para aquilo que está por vir, o outro lado da vida para respirar o ar do nosso lar eterno e ver a face daquEle que nos resgatou (1 Co 11.26). Dessa forma, na Ceia do Senhor, está poderosamente compactado o evangelho e sua proclamação (“anunciais”) e oferece, “até que Ele venha”, sustento na caminhada entre o “já agora” e o “ainda não”.24
A Páscoa cristã é o memorial de como Deus substituiu os sacrifícios temporários pelo sacrifício definitivo. O cordeiro do Antigo Testamento era sombra do verdadeiro cordeiro. Ao comemorarmos a Páscoa e a Ceia do Senhor, devemos entender que Cristo é o fundamento e a essência da nossa salvação da condenação da morte. Se não atentarmos para Cristo, nossa Páscoa torna-se vazia do verdadeiro sentido. Somos chamados a celebrar com alegria e gratidão porque o verdadeiro Cordeiro anulou nossa culpa de forma definitiva e purificou-nos, tornando-nos dignos de achegarmo-nos à presença de Deus. Agora, somos santificados, justificados e continuamente perdoados em Cristo (Rm 5.1-2).
Os paralelos bíblicos entre a Páscoa judaica e a morte de Jesus são muitos; dentre eles, destacamos: Cristo foi o Cordeiro pascal; sem a morte do animal sacrificado, não haveria remissão de pecados; o tempo da morte de Jesus coincidiu com a morte dos cordeiros da festa judaica; o sangue, como elemento central, era oferecido no altar da mesma forma que Jesus ofereceu seu sangue no altar celestial; as famílias judaicas comiam o cordeiro em volta da mesa na noite da Páscoa; assim, também, participamos da comunhão da Ceia à mesa do Senhor com os elementos que representam o corpo e o sangue do Cordeiro (1 Co 11.24-25) na comunhão dos santos. Mas há diferenças básicas também: o sacrifício de Cristo foi eterno e perfeito, enquanto o pascoal judaico era efêmero e temporal; e, gloriosamente, Cristo ressuscitou!
Além dessas semelhanças acima expostas, vários outros eventos da Páscoa prefiguram o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo:25
A- Deus manifestou sua graça ao tirar os israelitas do Egito por causa da aliança que fizera com Abraão. Assim também, nossa salvação é uma obra da graça de Deus que nos vem através de Cristo (Ef 2.8-10).
B- O sangue aplicado à verga da porta salvaria da morte o filho primogênito das famílias, apontando para a morte de Cristo, o primogênito de Deus, que nos salva da sua ira contra o pecado. Assim, o substituto primogênito de Deus ocupou o nosso lugar (1 Co 5.7).
C - O cordeiro tinha que ser perfeito apontando para a perfeição de Cristo (Jo 8.46; Hb 4.15).
D - Criava-se uma identidade com o cordeiro ao comer de sua carne, pois ele salvou-os da morte física. Assim, os salvos são identificados com Cristo na comunhão à mesa da Ceia do Senhor (1 Co 11.24).
E- A foi um elemento fundamental porque levou a obediência em sacrificar e comer o cordeiro (Hb 11.28); da mesma forma, a salvação é obtida através da fé em obediência a Cristo (Rm 1.5; 16.26).
F- Devia-se comer o cordeiro com os pães asmos, sem fermento. Na Bíblia, o fermento muitas vezes simboliza o pecado e a corrupção; da mesma forma como devemos manter-nos afastados dessas realidades. Semelhantemente, o povo de Deus deve separar-se do mundo pecaminoso e dedicar-se exclusivamente a Deus.
O grande valor e abrangência da morte de Cristo como Cordeiro de Deus foi celebrado por Pedro nesta magnífica passagem:
“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado, nestes últimos tempos, por amor de vós; e por ele credes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” (1 Pe 1.18-21).
Apontando para o futuro, o apóstolo João profetizou quanto ao nosso estado eterno com Cristo: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.23).
3. O SANGUE DO CORDEIRO
A primeira vez que a Bíblia fala de sacrifícios é no livro de Gênesis após a Queda de Adão e Eva (Gn 3.21; 4.1-7). O sacrifício era uma forma de lidar com os problemas criados pelo pecado, que destrói a paz que deveria existir entre Deus e a humanidade. Os sacrifícios eram oferecidos para fazer expiação, ou seja, os pecados eram perdoados e, mediante esse perdão, sua relação com Deus era restabelecida. Um dos símbolos principais do sacrifício é o sangue do animal que é sacrificado. O sangue era o principal elemento da expiação, pois representava a vida. Era a vida do animal, “derramada” na morte, que restabelecia a paz entre Deus e as pessoas (Lv 17.11).
O sangue cerimonial no Antigo Testamento representava o oferecimento da vida entregue como rendição e dedicação a Deus. Por isso, oferecer o sangue de um animal é elemento central para o perdão de pecados. Quem pecasse deveria saber que seu destino seria a morte, mas o animal ocuparia o seu lugar, e o sangue desse animal aspergido seria o sinal visível de que seu pecado foi perdoado. Portanto, o substituto seria um inocente animal, cuja figura aponta para Cristo como o sacrifício inocente pela humanidade. A cruz oferece-nos um sinal do perdão dos pecados quando olhamos para ela e lembramos de que, ali, o sangue de um inocente foi vertido — o que nos serve de alento e libertação da culpa diante dos pecados cometidos. Assim, somos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, e a sua vida ressurreta é a garantia de que somos salvos e que, um dia, também experimentaremos a ressurreição.
O cordeiro imolado e o seu sangue aspergido ocupavam o lugar do ofertante pecador. A lógica era que a vida do animal substituía simbolicamente a vida do pecador. Essa substituição era simbolizada pela apresentação do sangue do animal no altar como resgate pela vida do pecador. Outras vezes, era visto como o pagamento de uma dívida ou a oferta pela culpa (cf. Lv 7.2). Assim, o sangue era visto como uma forma de purificar tanto as pessoas quanto os lugares e objetos, possibilitando que o Deus totalmente puro e santo se fizesse presente entre o povo. No Novo Testamento, Jesus Cristo derramou seu sangue para purificar a raça humana e tornar nosso corpo um lugar santo e legítimo de receber a presença de seu Espírito Santo (1 Co 3.16-18).
O sangue de Cristo expiou nossa culpa. No hebraico, “expiação” significa, literalmente, “cobrir”. Inclui a ideia de cobrir o pecado, como também o pecador (Lv 4.20; 5.18). Dessa forma, o pecado é ocultado da vista de Deus, de modo que o pecador já não provoca a ira de Deus.26 Sendo assim, como bem observa Pearlman, a necessidade da expiação é consequência de dois fatos: a santidade de Deus e o pecado do ser humano. A reação da santidade de Deus contra o pecado é conhecida como sua ira, que pode ser evitada mediante a expiação.27 Ora, mas foi exatamente isso que Jesus realizou na cruz! Os evangelhos ensinam que o Jesus inocente assumiu para si a culpa de toda a humanidade e sofreu a punição que caberia ao ser humano. Ele padeceu e morreu no lugar do pecador (sofrimento vicário). Por meio dEle, Deus reconcilia-se com a humanidade, e a comunhão do ser humano com Deus é restabelecida.28
A vida abundante de Deus (Jo 10.10) nos é comunicada mediante o sangue de Cristo vertido na cruz. O sangue do verdadeiro Cordeiro, Jesus, não nos livra apenas da morte eterna; Ele também nos dá acesso à verdadeira vida. O sangue de Cristo restaurou a aliança com o Pai e, agora, mediante esse sangue, já não somos pecadores distantes, quer gentios, ou europeus, ou asiáticos, ou africanos, ou latino-americanos; já não somos pobres, ou ricos, ou indígenas, ou brancos, ou negros; somos, antes de tudo, chamados Filhos de Deus (1 Jo 3.1).
O livro de Hebreus afirma que Jesus tornou-se o Sacerdote da sublime aliança, pois Ele recebeu um ministério ainda mais excelente que o dos sacerdotes, assim como também a aliança da qual Ele é o mediador; aliança muito superior à antiga, pois é fundamentada em promessas excelsas (Hb 8.6- 8).
No Novo Testamento, Jesus, ao celebrar a Páscoa na última ceia, afirmou que seu sangue era o símbolo da nova aliança (Lc 22.14-20). Assim, Ele tornava-se o verdadeiro Cordeiro e, ao mesmo tempo, o verdadeiro Sacerdote. Ele foi o sacrifício e o oficiante do sacrifício. Por essa razão, o livro de Hebreus afirma que Ele é o mediador da nova aliança mediante o seu sangue, que redime a humanidade efetiva e definitivamente (Hb 12.24). O sangue da nova aliança deu acesso direto ao trono da graça (Hb 4.16) e também autoridade exclusiva a Jesus como o único e verdadeiro mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5), fazendo da Igreja um povo de verdadeiros sacerdotes (1 Pe 2.9), com autoridade e legitimidade para partilhar da intimidade com o Deus de toda a criação e anunciar as Boas- Novas dessa aliança.
A Páscoa não celebra um rito judaico — isso ficou para trás como sombra que apontava para Cristo (Cl 2.17) mas anuncia, sim, um dos maiores eventos da história humana, que é a ressurreição de Cristo, a qual também atesta para o fato de que todos nós seremos ressuscitados com Ele.


Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Clainto Ivan Pommerening.
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