Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Clainto Ivan Pommerening.
As
grandes festas anuais do povo de Israel eram a Festa dos Pães
Ázimos, a Festa das Semanas, dos Tabernáculos (ou Cabanas) e a Festa da Páscoa.
A Páscoa era celebrada todos os anos na primavera em 14 de Nisã (originariamente
Abib). Nela, os israelitas relembram o modo milagroso pelo qual Deus operou a salvação do seu povo, livrando-os da opressão, do sofrimento, da angústia e
da escravidão promovida pelos egípcios. Era a lembrança da fidelidade de Deus à
sua promessa, do seu amor libertador e do seu cuidado
em favor do seu povo. Neste capítulo, estudaremos os aspectos chaves e simbólicos da páscoa judaica
e o novo significado que ela assumiu com a morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.
A
escravidão do povo de Deus no Egito começou depois da morte de José, filho de
Jacó, e da morte do Faraó que conhecia os motivos de o povo ter ido morar em
Gósen. O novo Faraó, com medo de que os israelitas tornassem-se uma grande
nação e tentassem subjugar os egípcios, obrigou-os a fazerem trabalhos
forçados. Não se sabe ao certo quando isso começou, mas, ao todo, os israelitas
permaneceram 430 anos morando no Egito até que finalmente tiveram permissão
para peregrinar para a Terra Prometida.
1. A INSTITUIÇÃO DA PÁSCOA
Diante
do clamor do povo escravizado, a reação de Deus foi libertar seu povo e
conduzi-lo a uma nova terra, dando independência política, identidade nacional e liberdade para servirem ao verdadeiro e único Deus.
Em seu grandioso poder, o
Senhor ouviu “o gemido dos filhos de Israel, aos quais os egípcios
escravizavam” (Êx 6.5) e lembrou-se da sua aliança com eles. O clamor do povo diante do sofrimento da
escravidão chegou até Deus, e Ele enviou livramento a Israel. O Senhor libertou
seu povo dos dois sentidos da escravidão: (1) a escravidão humana diante de
outro povo e (2) a escravidão espiritual, que faz o ser humano adorar falsos
deuses que dominam e cegam o entendimento das pessoas. O povo israelita
experimentou a dominação, escravidão e humilhação por um período aproximado de
430 anos (Êx 12.40). Ser escravo no Antigo Oriente era ser dependente política,
econômica e socialmente de outro povo. A religião que o povo escravo professava
era a religião dos seus senhores; portanto, não existia uma dignidade nacional
para o povo que era escravo. Em Cristo Jesus, somos igualmente livres da
escravidão de servirmos falsos deuses e de associarmo-nos a ídolos e espíritos
opressores das trevas (1 Co 10.20).
O nome hebraico para referir-se à Páscoa é Pesah, que pode significar pular, passar por cima, saltar
por cima ou também passar de largo, no sentido de poupar a vida, pois o anjo
destruidor passou de largo e poupou os primogênitos das casas onde fora
aplicado o sangue nas ombreiras e na verga das portas (Êx 12.7). Essa determinação
havia sido dada por Deus diante da teimosia de Faraó, para que o povo de Israel
não fosse atingido pela última praga lançada sobre o Egito, que era a praga da
morte dos primogênitos de homens e animais. Portanto, a mortandade não
sobreviria à casa dos israelitas onde um cordeiro fosse sacrificado e seu
sangue fosse aspergido nos locais indicados. Assim sendo, trata-se do
misericordioso cuidado de Deus em preservar os filhos de Israel quando um poder
destruidor “passou por cima” deles sem causar-lhes dano.
A
morte dos primogênitos e a Páscoa representam a vitória do Deus verdadeiro
sobre todas as divindades egípcias, algumas delas representadas nas pragas
anteriores, pois tinham semelhanças na sua feição com esses animais e agora
estavam religiosamente em desvantagem diante da soberania de Deus. Como os primogênitos de todos os animais morreram,
também morreram os primogênitos dos touros (o deus touro egípcio
chamava-se Ápis), que eram sagrados, e a morte dos primogênitos dos touros
também foi um duro golpe no deus Osíris (representado pelo sol), o principal
deus do panteão egípcio. O próprio Faraó era venerado como filho de Rá (outro
nome para o sol). Assim, a morte do primogênito do próprio Faraó
mostraria a impotência dos
deuses egípcios, bem como a impotência de Faraó.
Na
véspera da última praga sobre os egípcios, Deus mandou o povo preparar um
cordeiro para ser sacrificado em cada família (Êx 12.3-6). Quando o Senhor
passasse para ferir os primogênitos dos egípcios, o sangue sobre as portas seria
o sinal de que lá estaria algum
israelita e ninguém morreria naquela casa (Êx 12.13).
Essa orientação protegeu os primogênitos israelitas da morte. Foi dessa forma
que o sangue do cordeiro pascal tornou- se símbolo de proteção diante da morte.
Igualmente, o sangue de Jesus como o verdadeiro cordeiro
protege-nos da morte eterna, da maldição originada pelo pecado e da escravidão que
o pecado gera na vida humana (1 Jo 1.7).
Além
de os primogênitos dos israelitas não morrerem na noite deste sacrifício, a
Páscoa também significa o livramento da escravidão do Egito, pois, diante
da mortandade, o Faraó ordenou
que o povo saísse do Egito,
temendo maiores consequências. A Páscoa tornou-se o primeiro dia do ano
religioso dos hebreus e também o começo de sua vida nacional. Ela ocorreu dia
14 do mês de Abibe (chamado de Nisã na história posterior de Israel),
que pode corresponder aos nossos meses de março e abril.
A
salvação dos primogênitos de Israel através do sangue de um animal e a morte
dos primogênitos do Egito demonstra um paralelo do alcance da expiação de
Cristo, que “é ilimitada, mas é limitada àqueles que creem verdadeiramente”;
que “Ele é o salvador em potencial de todos os homens, mas efetivamente só dos
crentes”.19
Além
do cordeiro da Páscoa de um ano, os elementos centrais dessa festa também eram o pão sem fermento,
chamado de pão asmo — que
representava a saída rápida, pois não havia tempo de deixar a massa crescer — e
as ervas amargas que simbolizavam o tempo de amargura, sofrimento, opressão e
dor da escravidão durante os 430 anos. Essa refeição deveria ser feita
apressadamente, com as pessoas em pé, com vestimentas e sandálias nos pés,
prontas para saírem e com um bordão (cajado) na mão, simbolizando a pressa com
que saíram do Egito. Essa festa deveria ser celebrada continuamente para
relembrar que Deus os havia libertado do Egito.20
Mais
tarde, a festa passou a ser celebrada de maneira mais alegre e, na primeira noite do Seder (ordem ou liturgia), a família israelita festejava a
liberdade que Deus dera ao povo. Trata-se
de uma festa parecida com o
Natal, com a diferença de que o Seder tem
uma longa e antiga liturgia acompanhada por vários rituais
simbólicos importantes.21 No final, entoavam-se cânticos
de alegria. O cântico final
era alegre (Sl 136), uma alegria que expressava gratidão a
Deus pelos seus feitos. Assim, somos desafiados a celebrar a nossa salvação em
Cristo Jesus todos os dias com muita alegria, com cânticos de louvor e
gratidão, tal como os judeus celebravam durante a sua páscoa.
Jesus, na última Ceia com os discípulos, repartiu o pão e o vinho, o cálice da
nova aliança e, depois de ter realizado a Ceia, cantou um hino (Mt 26.30).
Com
a Páscoa, Deus dava início ao cumprimento da promessa da terra e da
constituição de uma nação feita a Abraão (Gn 12.3). Israel estava
sendo liberto do domínio
de um povo e estava
sendo levado em direção à sua
própria terra para construir sua identidade. A Páscoa era o símbolo de que,
agora, os israelitas não eram mais escravos condenados a viverem sem uma terra.
Dessa vez, eles estavam sendo convocados por Deus a seguirem seu próprio
caminho, serem uma verdadeira nação e servirem seu Deus e não mais
correrem riscos de adorarem os deuses egípcios.
De igual forma, a
salvação em Cristo Jesus conduziu o ser humano a uma nova identidade e conduz a
Igreja em direção a uma nova terra (a nova Jerusalém) onde veremos a plena
glória de Deus. O Novo Testamento afirma que, mediante a salvação de Jesus,
ganhamos uma nova identidade — a de sermos filhos de Deus (Gl 3.26; 1 Jo 3.2);
temos uma nova vida — pois não somos nós que vivemos, mas é Cristo que vive em
nós (Gl 2.20), e, igualmente, ganhamos a liberdade de servirmos ao verdadeiro
Deus e anunciarmos as suas virtudes ao mundo (1 Pe 2.9-10).
A
Páscoa representa a verdadeira libertação que uma nação pode experimentar: a
liberdade espiritual para servir ao Criador (Êx 12.1—13.16). O último juízo
sobre o Egito e a provisão do sacrifício pascal possibilitaram o livramento da
escravidão e a peregrinação do povo para a Terra Prometida. Os israelitas
passavam oito dias comendo pães sem fermento semelhantes ao matzá, isto
é, fatias achatadas e crocantes de pães asmos insossos. Tudo em memória da
grande fuga do Egito, tão rápida que não houve tempo para deixar o pão caseiro
crescer (Êx 12.39-40).
A
Páscoa judaica aponta e encontra seu propósito principal e seu fim (de
finalidade e término) na vida, na morte e na ressurreição de Cristo. Assim,
tanto a Páscoa quanto a Ceia do Senhor apontam para o mesmo simbolismo:
o sacrifício de Cristo. Ambos
apontam o antes e o depois do maior evento da história: a obra de Cristo.
2. O CORDEIRO DA PÁSCOA
O cordeiro oferecido como sacrifício era exigido em
quatro circunstâncias no judaísmo: na comemoração da Páscoa (Êx 12.5; Lv
23.12); na oferta pelo pecado (Lv 4.32); em algumas cerimônias de purificação
(Lv 12.6; 14.10; Nm 6.12) e nos sacrifícios matutinos e vespertinos. No
judaísmo, o cordeiro era amplamente usado como sacrifício para perdão de
pecados; essa, porém, não era a única finalidade. A Bíblia apresenta-nos ainda
outras passagens em que o cordeiro era usado para outros fins, como é o caso de
Abel (Gn 4.3-5), que tirou das primícias do seu rebanho e ofereceu ao Senhor
como expressão de gratidão; Abraão (Gn 22.13), que ofereceu o cordeiro como prova
da sua fidelidade e obediência a Deus; e das mulheres que, após o parto,
deveriam levar ao sacerdote um cordeiro de um ano para sua purificação (Lv
12.6). Na travessia dos israelitas no deserto em direção à Canaã, o cordeiro
passou a ser oferecido como símbolo de santificação e purificação do povo duas
vezes por dia (ao amanhecer e ao anoitecer). Esse sacrifício era feito na entrada do Tabernáculo, onde Deus encontrava-se com o povo (Êx 29.38-46). Era o meio de consagração do povo e do lugar onde eles estavam para que a presença de Deus fosse manifesta no meio
deles.
O
cordeiro Pascal não tinha muita relação com pecados em si. Sua relação era com
o livramento da escravidão, como visto acima. Mas é lógico que,
fundamentalmente, o anjo da morte passou de largo na casa dos israelitas porque um sacrifício havia sido
feito ali, e sacrifícios sempre apontavam para a expiação pelo pecado.
Portanto, subjetivamente, o cordeiro havia sido morto porque havia pecado
removido pela morte
do animal naquela
casa. Esse animal, além de ter apenas um ano, não poderia ter qualquer
defeito ou mancha e não poderia ter tido nenhum osso quebrado.
O
cordeiro da Páscoa deveria ser morto e comido à noite em família. Se uma
família fosse muito pequena, poderia juntar-se à outra e, assim, estabelecer
uma comunhão mais ampla. Portanto, essa Páscoa é a que serve de base para a
Páscoa cristã. Jesus é o Cordeiro que tira o pecado da humanidade, o nosso meio
de consagração a Deus e o meio pelo qual Deus manifestou-se a nós. Por isso,
Ele é o verdadeiro Cordeiro, o verdadeiro Salvador, e é nEle que está a
verdadeira remissão de pecados (Jo 1.29-30).
Jesus
deu um novo significado à Páscoa, demonstrando que agora o simbolismo recai
sobre Ele e, secundariamente, sobre a libertação dos israelitas do Egito.22 No lugar do
cordeiro morto, Ele está vivo e presente na celebração, simbolicamente
demonstrado pelo pão que representa seu corpo e pelo vinho que
representa seu sangue. Esses elementos tem sentido duplo: a morte de Cristo em
seu corpo (1 Co 11.24) partido (ferido) e seu sangue que verteu; mas também tem
o simbolismo de sua presença atualizada simbolicamente no pão e no vinho em
união espiritual com Ele.
Apesar
de sua tamanha grandeza, Deus esvaziou-se e, na pessoa do seu filho, assumiu a forma humana; como
cordeiro imaculado, foi até à morte e morte de cruz (Fp 2.5-8). O verdadeiro
cordeiro ofereceu-se como sacrifício definitivo e perfeito para expiação dos pecados da humanidade (Hb 9.12,26,28; 10.12). Na sua morte, a
lei do sacrifício de animais, sacrifício imperfeito, tornou-se obsoleta, pois o
verdadeiro cordeiro purificou e purifica a todos oferecendo perdão dos pecados
mediante o reconhecimento da natureza pecaminosa e das falhas humanas através
da confissão de pecados (Rm 10.9).
Comparativamente
a Cristo, havia algumas exigências que deveriam ser observadas quando se
oferecia um cordeiro: o cordeiro deveria ser completamente limpo, sem manchas e
sem defeitos; exigia-se um cordeiro imaculado, plenamente saudável (Lv 4.32; Nm
6.14); esse simbolismo aponta para Jesus, o verdadeiro e perfeito Cordeiro
pascal e o sacrifício completo. Após a morte de Jesus, a Igreja Primitiva
entendeu, a partir de uma das ordenanças dEle (1 Co 11.23), que a Ceia do
Senhor poderia substituir a Páscoa. Isso não significa que abolimos a
comemoração da Páscoa; significa apenas que a morte de Cristo é rememorada
também na Ceia do Senhor (1 Co 10.16-17).
O
principal sentido da Ceia do Senhor é alimentar e sustentar a comunhão com
Cristo, sendo Ele o anfitrião,23 salientando que a comunhão com o corpo de Cristo dá-se na relação comunitária com os irmãos
que compõe esse corpo. Além disso, a Ceia aponta para a tensão escatológica entre o “já agora” e o “ainda não”; portanto,
aponta para trás, para aquilo que Cristo fez; para o presente, naquilo que Ele
nos torna; e para frente, para aquilo que está por vir, o outro lado da vida
para respirar o ar do nosso lar eterno e ver a face daquEle que nos resgatou (1
Co 11.26). Dessa forma, na Ceia do Senhor, está poderosamente compactado o
evangelho e sua proclamação (“anunciais”) e oferece, “até que Ele venha”,
sustento na caminhada entre o “já agora” e o “ainda não”.24
A Páscoa cristã é o memorial de como Deus substituiu
os sacrifícios temporários pelo sacrifício definitivo. O cordeiro do Antigo
Testamento era sombra do verdadeiro cordeiro. Ao comemorarmos a Páscoa e a Ceia do
Senhor, devemos entender que Cristo é o fundamento e a essência da nossa
salvação da condenação da morte. Se não atentarmos para Cristo, nossa Páscoa
torna-se vazia do verdadeiro sentido. Somos chamados a celebrar com alegria e
gratidão porque o verdadeiro Cordeiro anulou nossa culpa de forma definitiva e
purificou-nos, tornando-nos dignos de achegarmo-nos à presença de Deus. Agora,
somos santificados, justificados e continuamente perdoados em Cristo (Rm
5.1-2).
Os
paralelos bíblicos entre a Páscoa judaica e a morte de Jesus são muitos; dentre
eles, destacamos: Cristo foi o Cordeiro pascal; sem a morte do animal
sacrificado, não haveria remissão de pecados; o tempo da morte de Jesus
coincidiu com a morte dos cordeiros da festa judaica; o sangue, como elemento
central, era oferecido no altar da mesma forma que Jesus ofereceu seu sangue no
altar celestial; as famílias judaicas comiam o cordeiro em volta da mesa na
noite da Páscoa; assim, também, participamos da comunhão da Ceia à mesa do
Senhor com os elementos que representam o corpo e o sangue do Cordeiro (1 Co
11.24-25) na comunhão dos santos. Mas há diferenças básicas também: o
sacrifício de Cristo foi eterno e perfeito, enquanto o pascoal judaico era
efêmero e temporal; e, gloriosamente, Cristo ressuscitou!
Além
dessas semelhanças acima expostas, vários outros eventos da Páscoa prefiguram o
Cordeiro de Deus, Jesus Cristo:25
A- Deus
manifestou sua graça ao tirar os israelitas do Egito por causa da aliança que fizera com Abraão. Assim também, nossa salvação é uma obra da graça
de Deus que nos vem através de Cristo (Ef 2.8-10).
B- O sangue aplicado
à verga da porta salvaria
da morte o filho primogênito das famílias, apontando para a morte
de Cristo, o primogênito de Deus, que nos salva da sua ira contra o pecado.
Assim, o substituto primogênito de Deus ocupou o nosso lugar (1 Co 5.7).
C - O cordeiro tinha que ser perfeito
apontando para a perfeição de Cristo (Jo 8.46; Hb 4.15).
D - Criava-se uma identidade com o cordeiro
ao comer de sua carne, pois ele salvou-os da morte física.
Assim, os salvos
são identificados com Cristo na comunhão à mesa da Ceia do Senhor (1 Co 11.24).
E-
A fé foi um elemento fundamental porque levou a obediência em sacrificar e comer o cordeiro (Hb 11.28); da mesma forma, a salvação
é obtida através da fé em obediência a Cristo (Rm 1.5; 16.26).
F-
Devia-se comer o cordeiro com os pães asmos, sem fermento. Na Bíblia, o
fermento muitas vezes simboliza o pecado e a corrupção; da mesma forma como
devemos manter-nos afastados dessas realidades. Semelhantemente, o povo de Deus
deve separar-se do mundo pecaminoso e dedicar-se exclusivamente a Deus.
O
grande valor e abrangência da morte de Cristo como Cordeiro de Deus foi
celebrado por Pedro nesta magnífica passagem:
“Sabendo
que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados
da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais, mas
com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado,
o qual, na verdade, em outro tempo, foi conhecido, ainda antes da fundação do
mundo, mas manifestado, nestes últimos tempos, por amor de vós; e por ele
credes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que a vossa
fé e esperança estivessem em Deus” (1 Pe 1.18-21).
Apontando
para o futuro, o apóstolo João profetizou quanto ao nosso estado eterno com
Cristo: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela
resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua
lâmpada” (Ap 21.23).
3. O SANGUE DO CORDEIRO
A
primeira vez que a Bíblia fala de sacrifícios é no livro de Gênesis após a
Queda de Adão e Eva (Gn 3.21; 4.1-7). O sacrifício era uma forma de lidar com
os problemas criados pelo pecado, que destrói a paz que deveria existir entre
Deus e a humanidade. Os sacrifícios eram oferecidos para fazer expiação, ou
seja, os pecados eram perdoados e, mediante esse perdão, sua relação com Deus
era restabelecida. Um dos símbolos principais do sacrifício é o sangue do
animal que é sacrificado. O sangue era o principal elemento da expiação, pois
representava a vida. Era a vida do animal, “derramada” na morte, que restabelecia a paz entre Deus e as pessoas (Lv
17.11).
O
sangue cerimonial no Antigo Testamento representava o oferecimento da vida
entregue como rendição e dedicação a Deus. Por isso, oferecer o sangue de um
animal é elemento central para o perdão de pecados. Quem pecasse deveria saber
que seu destino seria a morte, mas o animal ocuparia o seu lugar, e o sangue
desse animal aspergido seria o sinal
visível de que seu
pecado foi perdoado. Portanto, o substituto seria um inocente animal, cuja
figura aponta para Cristo como o sacrifício inocente pela humanidade. A cruz
oferece-nos um sinal do perdão dos pecados
quando olhamos para ela e lembramos de que, ali, o sangue de um
inocente foi vertido — o que nos serve de alento e libertação da culpa diante
dos pecados cometidos. Assim, somos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
e a sua vida ressurreta é a garantia de que somos salvos e que, um dia, também
experimentaremos a ressurreição.
O
cordeiro imolado e o seu sangue aspergido ocupavam o lugar do ofertante
pecador. A lógica era que a vida do animal substituía simbolicamente a vida do pecador. Essa substituição era simbolizada pela apresentação do sangue do animal no
altar como resgate pela vida do pecador. Outras vezes, era visto como o
pagamento de uma dívida ou a oferta pela culpa
(cf. Lv 7.2). Assim, o sangue era visto como uma forma de purificar tanto as
pessoas quanto os lugares e objetos, possibilitando que o Deus totalmente puro e santo se fizesse
presente entre o povo. No Novo
Testamento, Jesus Cristo derramou seu sangue para purificar a raça humana e
tornar nosso corpo um lugar santo e legítimo de receber a presença de seu
Espírito Santo (1 Co 3.16-18).
O
sangue de Cristo expiou nossa culpa. No hebraico, “expiação” significa,
literalmente, “cobrir”. Inclui a ideia de cobrir o pecado, como também o
pecador (Lv 4.20; 5.18). Dessa forma, o pecado é ocultado da vista de Deus, de
modo que o pecador já não provoca a ira de Deus.26 Sendo assim, como bem observa Pearlman,
a necessidade da expiação é consequência de dois fatos: a santidade de Deus e o
pecado do ser humano. A reação da santidade de Deus contra o pecado é conhecida
como sua ira, que pode ser evitada mediante a expiação.27 Ora, mas
foi exatamente isso que Jesus realizou na cruz! Os evangelhos ensinam que o
Jesus inocente assumiu para si a culpa de toda a humanidade e sofreu a punição
que caberia ao ser humano. Ele padeceu e morreu no lugar do pecador (sofrimento
vicário). Por meio dEle, Deus reconcilia-se com a humanidade, e a comunhão do
ser humano com Deus é restabelecida.28
A vida abundante de Deus (Jo 10.10) nos é comunicada
mediante o sangue de Cristo vertido na cruz. O sangue do verdadeiro Cordeiro,
Jesus, não nos livra apenas da morte eterna; Ele também nos dá acesso à
verdadeira vida. O sangue de Cristo restaurou a aliança com o Pai e, agora,
mediante esse sangue, já não somos pecadores distantes, quer gentios, ou
europeus, ou asiáticos, ou africanos, ou latino-americanos; já não somos
pobres, ou ricos, ou indígenas, ou brancos, ou negros; somos, antes de tudo,
chamados Filhos de Deus (1 Jo 3.1).
O
livro de Hebreus afirma que Jesus tornou-se o Sacerdote da sublime aliança,
pois Ele recebeu um ministério ainda mais excelente que o dos sacerdotes, assim
como também a aliança da qual Ele é o mediador; aliança muito superior à
antiga, pois é fundamentada em promessas excelsas (Hb 8.6- 8).
No
Novo Testamento, Jesus, ao celebrar a Páscoa na última ceia, afirmou que seu sangue era o símbolo
da nova aliança
(Lc 22.14-20). Assim,
Ele tornava-se o verdadeiro Cordeiro e, ao mesmo tempo, o verdadeiro Sacerdote. Ele foi o sacrifício
e o oficiante do sacrifício. Por essa razão, o livro de Hebreus afirma que Ele
é o mediador da nova aliança mediante o seu sangue, que redime a humanidade
efetiva e definitivamente (Hb 12.24). O sangue
da nova aliança deu acesso direto ao trono da graça (Hb 4.16) e também autoridade exclusiva a Jesus como
o único e verdadeiro mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5), fazendo da
Igreja um povo de verdadeiros sacerdotes (1 Pe 2.9), com autoridade e
legitimidade para partilhar da intimidade com o Deus de toda a criação e
anunciar as Boas- Novas dessa aliança.
A
Páscoa não celebra um rito judaico — isso ficou para trás como sombra que apontava
para Cristo (Cl 2.17) — mas anuncia,
sim, um dos maiores
eventos da história humana, que é a ressurreição de Cristo, a qual também atesta
para o fato de que todos nós seremos ressuscitados com Ele.
Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Clainto Ivan Pommerening.
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