quarta-feira, 18 de julho de 2018

SUBSIDIO LIÇÃO 04 - A FUNÇÃO SOCIAL DOS SACERDOTES


Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.

Autor: Claudionor de Andrade.

INTRODUÇÃO

Neste capítulo, mostraremos por que as ordenanças de Levítico fizeram de Israel o povo mais avançado na área médica, urbanística e jurídica de todo o Oriente Médio. Não exageraremos se considerarmos os hebreus, nesse mesmo período, mais adiantados do que os chineses, egípcios e babilônios. Quanto aos gregos e romanos, ainda lutavam por se firmarem como civilização.

Acredito que, sem as orientações levíticas, o Ocidente jamais teria alcançado o seu atual estágio de desenvolvimento. A razão é bastante simples. A Igreja Cristã, ao fazer uso da Bíblia Sagrada, jamais deixou de aplicar os princípios mosaicos ao seu dia a dia. Não quero dizer, com isso, que os teólogos patrísticos e medievais porfiaram em judaizar a sociedade na qual estavam inseridos. Mas, sabiamente, souberam como separar os mandamentos específicos a Israel daqueles que devem ser observados por todos os povos. E, dessa forma, lançaram os alicerces da Civilização Ocidental.

Acompanhemos, pois, o processo de santificação dos israelitas. Esse processo, aliás, não contemplava apenas a interioridade humana, mas também a sua exterioridade, porque esta deveria ser um reflexo perfeito daquela. Para que isso ocorresse, a Universidade Levítica fez-se indispensável.



I. A UNIVERSIDADE LEVÍTICA

Ao separar os levitas para servirem como sacerdotes e ministros do altar, Deus lançava, naquele instante, os alicerces de uma instituição que faria dos hebreus o povo mais civilizado do mundo. Vejamos em que consistia a epistemologia dessa entidade que, com muita justiça, poderia ser chamada de Universidade Levítica.

1. Teologia, a verdade sobre o único Deus. Os sacerdotes levitas, por serem os grandes mestres e catedráticos de Israel, partiam de um pressuposto que faz toda a diferença no campo filosófico, científico e literário: Deus existe. Mas, ao contrário dos deístas atuais, acreditavam eles que Deus não se limitou a criar os Céus e a Terra, mas continua a preservá-los e a intervir em todos os seus negócios, pois Ele é o Senhor de todas as coisas (Gn 1.1).

A teologia levítica não se embasava em meras teorias ou simples assentimentos intelectuais; firmava-se em algo profundo e experimental: o temor de Deus. Como diria mais tarde o sábio rei de Israel, “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7, ARA).

Tendo esse texto de ouro como a pedra de esquina de sua epistemologia, os levitas avançaram nos mais diversos campos das ciências e saberes humanos.

Façamos uma pausa, a fim de explicar o que é a epistemologia. Essa palavra é formada por dois vocábulos gregos: episteme, conhecimento, ciência; e logos, estudo, ou discurso racional. A epistemologia, portanto, é a reflexão em torno da natureza, estágios e abrangências do conhecimento produzido, adquirido e transmitido pelo homem.

2. Cosmologia, o Universo é de Deus. Os sacerdotes do Senhor não se perdiam em teorias loucas e bizarras acerca do aparecimento dos Céus e da Terra. Eles sabiam que, no princípio, Deus criara tudo quanto existe. Se tudo quanto existe é criação divina, depreende-se logo que somente o Criador é quem deve ser adorado; não a criatura. Tal proposição é fundamental para se estabelecer uma epistemologia segura, eficaz e que conduza o ser humano ao progresso.

Quando os levitas oficiavam a Deus, apresentando-lhe alguma oferenda ou dom, sabiam estar reconsagrando-lhe algo que já lhe pertencia. Por isso, tratavam a Terra não como a deusa intocável dos gregos, nem como a mãe caprichosa dos ecologistas atuais; tratavam-na como criação divina. Tinham eles ciência suficiente para entender que a Terra fora criada por causa do homem, e não o homem por causa da Terra. Que esta, pois, seja o santuário do Senhor, pois do Senhor é a Terra (Sl 24.1).

3. Antropologia, o homem é a imagem de Deus. Já imaginou se os levitas tivessem sido educados por Charles Darwin (1809-1882)? Como iriam eles tratar os filhos de Israel a partir de uma antropologia bizarra, fantasiosa e sem a mínima base científica? Mas, sabendo eles que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, jamais deixariam os hebreus embrenharem-se nas promiscuidades egípcias, cananeias e mesopotâmias. Todos eles porfiavam por serem reconhecidos como o povo escolhido do Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

Eis porque os sacerdotes do Senhor obrigavam-se a cuidar tanto da interioridade quanto da exterioridade dos hebreus. Eles estavam cientes de que Deus exigia de seu povo santidade, pureza e distinção. Todos deveriam ser santos, porque Santo é o Senhor. Diante de tal reivindicação, como devemos nós, hoje, proceder? Que o Espírito Santo nos ajude a ter uma vida irrepreensível perante Deus e diante dos homens.

Como seria bom se os médicos e os demais profissionais de saúde tivessem uma antropologia realmente bíblica. A partir dessa perspectiva, tratariam melhor seus pacientes, pois nestes veriam a imagem e a semelhança do Criador. E, assim, seriam banidos das universidades e dos hospitais experimentos cruéis e desumanos como aqueles realizados pelos alemães e japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

4. Direitos e deveres. Os sacerdotes do Senhor, orientados pelos Dez Mandamentos e pelas demais ordenanças do Pentateuco, foram além dos mestres e juristas da antiguidade. Se Hamurabi, por exemplo, que viveu por volta do século XIX a.C., teve uma influência meramente local, o código levita fez-se universal; eterno. E, hoje, em não poucos tribunais, encontramos uma cópia dos Dez Mandamentos.

Se compararmos a Lei de Moisés à de Dracon ou à de Solon, ambos legisladores gregos do século VII a.D., constataremos que estes jamais lograram alcançar a excelência da legislação que Deus, por meio de Moisés, entregara aos levitas. Por isso, devem os sacerdotes ser vistos como os juristas, advogados, promotores e juízes de Israel. Além disso, lançaram a base jurídica da civilização ocidental.

5. Contrastes entre a Universidade Levítica e a Faraônica. Antes de encerrarmos este tópico, faremos um pequeno contraste entre a academia egípcia, formada, em sua maior parte, por magos e astrólogos, e a hebreia, representada pelos levitas. A egípcia, apesar de suas notáveis conquistas científicas, centrava-se em ciências ocultas e duvidosas (Êx 7.11). Quanto à hebreia, tinha à sua disposição não os conhecimentos escondidos e entretecidos nas profundezas de Satanás, mas o saber verdadeiro que o próprio Deus revelara a Moisés e ainda mostraria aos profetas que viriam depois do grande legislador.
Por essa razão, quem hoje se interessa pelas ciências egípcias dos magos e astrólogos de Faraó? No entanto, a Bíblia Sagrada é lida todos os dias do Ocidente ao Oriente como a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.



II. O INÍCIO DOS HOSPITAIS MODERNOS

Parece que os médicos egípcios existiam apenas em função dos faraós. Quanto ao povo, que se arrumasse com as suas doenças, moléstias e enfermidades. No que tange aos levitas, observamos que estes, apesar de não serem médicos profissionais, dedicavam-se desvelada e sagradamente aos cuidados preventivos da saúde hebreia. E, assim, vieram a lançar as bases dos modernos hospitais.

1. O hospital, a Casa do Bom Samaritano. Na língua alemã, a palavra “hospital” tem um significado interessante e que, em sua essência, revela um pouco da filosofia pagã. O termo Krankenhaus significa, etimologicamente, casa do enfermo.

Se buscarmos a etimologia da palavra “hospital”, descobriremos não somente um novo significado linguístico, mas também uma renovada filosofia. O termo, proveniente do latim medieval, vem de hospes que, naquele período, significava “hospedeiro” ou “hospede”. A partir daí, nasceu o vocábulo “hospital”: local onde os viajantes eram bem recebidos e muito bem cuidados. Com o tempo, devido à influência da Igreja Cristã, o hospital começou a ser visto não mais como uma simples hospedaria, mas como um lugar para se acolher os enfermos.

Em seus primórdios, o hospital não era uma casa de enfermo ou de enfermidade, mas um lugar onde o hóspede, se enfermo, podia receber cuidados médicos. A parábola do Bom Samaritano é um quadro que ilustra muito bem a fundação dos hospitais como hoje os conhecemos. Nessa belíssima narrativa, observemos algo muito importante. Os desvelos ministrados pelo samaritano àquele pobre homem refletiam, de certa forma, as funções de um sacerdote levita. Se bem que tanto o sacerdote como o levita, nessa narrativa, embora até possuíssem alguma ciência médica, passaram de largo e ignoraram o seu paciente.

Segundo a história, o primeiro hospital moderno foi estabelecido, em 370 d.C., na cidade de Cesareia, como resultado de um benévolo édito imperial. Mais tarde, Basílio, o Grande (329-379), recomendou a criação de hospitais, tendo como referência um famoso e eficiente hospital de Roma. Não nos esqueçamos da Ordem dos Hospitalários que, apesar de sua forte vocação militar, não deixou de cuidar dos peregrinos que se dirigiam à Terra Santa.

Na história de Israel, as práticas clínicas dos levitas precederam a medicina. É o que podemos inferir do texto sagrado. A seguir, vejamos como os sacerdotes cuidavam da saúde dos hebreus, não propriamente curando-lhes as enfermidades, mas prevenindo-as. Esse cuidado torna-se mais visível em relação à lepra que, naquele tempo, além de ser uma doença incurável, era socialmente repulsiva.

2. Lepra, o símbolo do pecado. Libertos de uma terra idólatra e insalubre, os israelitas corriam o risco de transmitir à próxima geração enfermidades como a lepra, a doença mais repelente da antiguidade (Dt 7.15). Por isso, Deus encarregou os sacerdotes de inspecionar clinicamente o seu povo. Nos tempos bíblicos, a lepra causava repulsa devido ao seu aspecto e contágio (Lv 13.2). Se Deus não a curasse, médico algum poderia fazê-lo. Haja vista o caso do general sírio Naamã (2 Rs 5.1-14). O Senhor Jesus, durante o seu ministério terreno, curou a diversos leprosos e ordenou a seus discípulos a que os purificasse (Mt 10.8; 11.5).

3. A inspeção clínica. Em sua peregrinação à Terra Prometida, os israelitas não contavam com médicos e sanitaristas. Era um luxo restrito aos nobres egípcios (Gn 50.2). Portanto, sempre que alguém apresentava algum dos sintomas da lepra, deveria encaminhar-se ao sumo sacerdote para ser examinado (Lv 13.1-30). De acordo com o diagnóstico, o paciente era declarado limpo ou impuro. Se constatada a doença, o enfermo era imediatamente apartado da comunidade (Lv 13.46).



4. A limitação do sacerdote. Os sacerdotes, por conseguinte, encontravam-se habilitados a diagnosticar, mas não a curar os leprosos; era uma função mais preventiva que curativa. O próprio Senhor Jesus reconheceu a perícia do sacerdote na diagnose da enfermidade (Lc 5.14).

Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus, louvado como o Médico dos médicos, admitiu a utilidade dos médicos humanos. Embora limitados e, às vezes, até inúteis diante de algumas situações, eles aí estão para aliviar-nos a dor (Mt 9.12). Pelo que deduzimos desta saudação tipicamente paulina, Lucas era um médico mui amado entre os cristãos primitivos (Cl 4.14).



III. O INÍCIO DA URBANIZAÇÃO MODERNA

Às vezes, pergunto-me por que uma cidade como o Rio de Janeiro, que já foi alcunhada de maravilhosa, possui tantas mazelas urbanísticas. Ao lado de condomínios, que vivem no luxo, há comunidades que tentam sobreviver do lixo e no lixo. Dessa forma, vemos proliferar doenças que, há mais de um século, já haviam sido debeladas. No Israel do Antigo Testamento, tal situação era inadmissível.

1. O urbanismo e o sanitarismo do sacerdócio levítico. O urbanismo é a disciplina relacionada ao estudo, regulação, controle e planejamento da cidade. Nessa ciência, não se pode confundir urbanismo com ação urbanizadora. Se esta não promover a melhoria de vida da população não é urbanismo; é mera preocupação estética. A cidade, pois, antes de ser bonita, tem de ser saudável.

O urbanismo deve caminhar de mãos dadas com o sanitarismo. Modernamente, o sanitarismo, conhecido também como higienismo, é conhecido como a ciência que tem por objetivo promover a saúde pública. A menos que tenhamos uma população saudável, qualquer projeto urbanístico, por mais belo e aprazível, será inútil. Eis por que Deus recomendou aos sacerdotes que zelassem pela saúde de seu povo.

De acordo com as leis urbanas que encontramos no Levítico, a urbanização de Israel deveria começar de dentro para fora; do interior das casas ao centro da cidade. Se uma casa estava doente, todos os demais domicílios corriam perigo; a epidemia era eminente. Vejamos, pois, como agiam os sacerdotes na fiscalização urbana de Israel. Aliás, a sua função incluía, também, o sanitarismo.

2. A função urbanista e sanitarista dos sacerdotes. Apesar de ser a terra que mana leite e mel, Canaã, por causa dos povos que a habitavam, tornara-se tão doentia e insustentável quanto o Egito (Lv 14.34). Até suas casas e vestes estavam sujeitas a uma espécie de lepra, fatal aos israelitas.

Por isso, Deus instruiu os sacerdotes a atuarem também como sanitaristas e urbanistas.

3. A função sanitarista do sacerdote. O sanitarista é um especialista em saúde pública; sua função é mais preventiva do que curativa. Sua obrigação é manter a cidade livre de focos de doenças e infecções. Por isso, os sacerdotes, em Israel, inspecionavam casas e roupas (Lv 14.34-57).

4. A lepra na casa. A lepra numa casa é descrita como manchas esverdinhadas e avermelhadas que, via de regra, pareciam mais fundas que a parede (Lv 14.37). Sempre que isso ocorria, o proprietário deveria recorrer ao sacerdote que, após examiná-la, ordenava o seu despejo, para que a praga não se espalhasse, contaminando toda a propriedade (Lv 14.36).

Em seguida, a casa era interditada por sete dias (Lv 14.38). Caso a praga não cedesse, as pedras contaminadas eram retiradas e as paredes todas eram raspadas. Em último caso, o sacerdote tinha autoridade para ordenar a demolição do imóvel (Lv 14.45). Para que a lepra não contaminasse outras propriedades, todo o seu entulho era jogado fora do perímetro urbano.

5. A lepra nas vestes. As vestes e objetos domésticos também estavam sujeitos à lepra. No caso destes, tratavam-se de mofos e fungos igualmente nocivos à saúde (Lv 13.47-50). De imediato, a roupa deveria ser levada ao sacerdote (Lv 13.51). Caso a praga se mostrasse persistente, a roupa deveria ser queimada, a fim de evitar a propagação de doenças (Lv 13.52).

Deus advertiu solenemente os israelitas a guardarem-se da praga da lepra, pois a doença abria a porta a outras enfermidades e moléstias (Dt 24.8). Era um dos mais fortes símbolos do pecado (Is 1.6).
IV. A ESTRUTURA JURÍDICA DE ISRAEL

No Israel dos sacerdotes e levitas, o direito estava sempre ao alcance dos pobres, porque a Lei de Deus havia sido proclamada a toda a nação, e não apenas a uma minoria privilegiada. Ali, pobres e ricos, pequenos e grandes, nobres e plebeus; todos, enfim, estavam sujeitos aos mandamentos divinos. Não havia minoria privilegiada, nem maioria ignorada; eram todos iguais diante da Lei de Deus.

1. A função judicial dos sacerdotes. Judicialmente, o livro de Levítico apresenta várias disposições, a fim de proteger a família, a propriedade privada e, principalmente, a vida humana. Nesse sentido, o sacerdote atuava também no campo jurídico. No Israel do Antigo Testamento, não havia uma lei-maior para dirigir o país; uma espécie de constituição. Ali, toda a Palavra de Deus funcionava como a ordenança que não podia ser ignorada quer pelo rei, quer pelo plebeu. E, para zelar pelo fiel cumprimento dos estatutos divinos, os sacerdotes e demais levitas faziam-se presentes.

2. Proteção da família. Com o objetivo de manter a pureza e a legitimidade no relacionamento familiar, o Senhor, por intermédio de Moisés, proíbe aos israelitas: o sacrifício infantil (Lv 20.2); o incesto, (Lv 18.6-9); o abuso sexual doméstico (Lv 18.10); a exposição das filhas à prostituição (Lv 19.29); o homossexualismo e a bestialidade (Lv 18.22,23). Os israelitas, como adoradores do Único e Verdadeiro Deus, eram obrigados a honrar seus pais e a preservar-lhes a autoridade (Lv 19.3; 20.9).

3. Proteção da propriedade privada. A posse de uma propriedade, em Israel, era considerada algo sagrado; uma dádiva de Deus ao seu povo (Êx 3.7,8). Por esse motivo, os israelitas deveriam tratar suas casas e campos de maneira responsável e amorosa (Lv 19.9). As colheitas eram feitas de tal maneira, que os pobres jamais deixavam de ser contemplados (Lv 23.22).

Sendo, pois, a terra propriedade do Senhor, não poderia ser explorada de maneira irresponsável e contrária à natureza (Lv 25.3,4). Do texto sagrado, depreendemos que o sacerdote tinha por obrigação supervisionar o uso sustentável da terra.

A propriedade da terra não era considerada roubo, conforme diria o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865), mas uma herança pela qual valia a pena lutar (1 Rs 21.3). No Israel de Deus, os governantes não se digladiavam hoje pela esquerda, e, amanhã pela direita; punham-se todos no centro da vontade divina.

Ali, nas terras do Senhor, não havia lugar para o comunismo assassino e mentiroso, nem para o fascismo desumano e cruel, pois a Lei de Moisés supria todas as carências e lacunas sociais. E, quando do advento da injustiça, Jeová enviava os seus mensageiros que, corajosamente, clamavam contra a opressão, o roubo, o crime e a infidelidade doméstica.

4. Proteção da vida. Também estava sob o encargo do sacerdote a inspeção das casas (Dt 22.8) e da criação de animais (Êx 21.36). A mulher grávida recebia proteção especial (Êx 21.22). Enfim, a vida na sociedade judaica era e é sagrada; um dom do Criador (Nm 16.22). Por isso, Deus determina no Sexto Mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13). Mencionemos ainda as cidades de refúgio que, administradas pelos levitas, serviam para acolher o que, sem o querer, matava alguém (Nm 35.10-15).

Oremos, para que o nosso país seja realmente justo e misericordioso. Não nos faltam leis, nem legisladores, nem juízes. Ei-los pelos tribunais; ei-los saindo das faculdades e academias. Todavia, falta-nos o temor do Senhor, sem o qual não pode haver princípio algum de sabedoria. É chegado o momento de rogarmos ao Senhor que nos cure a terra. Achamo-nos tão enfermos, hoje, quanto o Israel dos tempos de Isaías (Is 1.1-9). Neste momento, conscientizemo-nos de nossa responsabilidade como sal da terra e luz do mundo.

 CONCLUSÃO

Conforme profetizou Malaquias, a aliança do Senhor com a tribo de Levi era firme e bem conhecida de todo o Israel. Nesse sentido, seus descendentes deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange à Lei de Moisés, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Infelizmente, os sacerdotes não souberam como guardar o concerto levítico.
Se o Senhor exigiu excelência e correção dos levitas, no Antigo Testamento, como devemos nós agir? Que o nosso culto seja marcado pelo amor e pela não conformação com este mundo.

Nós, obreiros de Cristo, temos de ser um padrão na sã doutrina, segundo recomenda o apóstolo: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência” (Tt 2.7, ARA). Ainda que não sejamos sacerdotes como os filhos de Levi, nossa responsabilidade, diante do povo de Deus, não é menor. Se o Senhor exigiu deles excelência, o que não exigirá de nós, seus despenseiros? Ou será que já não tememos ser reprovados no Tribunal de Cristo? Que o Senhor nos ajude.


sábado, 14 de julho de 2018

Lição 3 - Os Ministros do Culto Levítico


 Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
Autor: Claudionor de Andrade.



INTRODUÇÃO


Neste capítulo, faremos algumas considerações acerca do chamado extraordinário dos levitas ao ministério sacerdotal de Jeová. Logo de início, buscaremos responder à pergunta: “Por que a escolha recaiu sobre Levi, se esta tribo não era a mais excelente de Israel?”. Em seguida, contemplaremos outra questão igualmente importante: “Não teria sido mais consensual se Moisés houvesse selecionado os ministros do altar dentre os melhores homens de cada tribo?”.

Antes, porém, de nos ocuparmos dessas questões, trataremos de uma temática comum às comunidades divinas de ambos os Testamentos: o serviço a Deus. Afinal, todos fomos chamados a servir ao Criador, pois Ele nos fez e dEle somos.

Portanto, ainda que não sejamos chamados a trabalhar num ministério específico, não poderemos ficar inativos; na Vinha do Senhor, há um trabalho para cada um de nós. Às vezes, o nosso afazer nem lembra um ministério, devido à sua pequenez e aparente insignificância. Mas, se é feito para Deus, jamais deixará de ter a glória e o galardão de ministério.

Feitas essas considerações, voltaremos às perguntas que deram ocasião à abertura deste capítulo. Que Deus nos ajude.




I. DIACONOLOGIA, A TEOLOGIA DO SERVIÇO DIVINO


Em qualquer diálogo teológico, precisamos levar em conta este pressuposto básico: “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1, ARA). A partir daí, conscientizar-nos-emos de que, neste mundo, devemos atuar como servos humildes e fiéis a Deus, e não como soberanos e ditadores; tudo pertence ao Senhor, inclusive você e eu, querido leitor. Eis a essência do que chamamos de diaconologia.


1. Etimologia e definição. A palavra “diaconologia” provém de dois vocábulos gregos: diáconos: servo ou ministro; e logos: tratado ou discurso racional. Portanto, a diaconologia é a seção da teologia bíblica que se aplica ao estudo do serviço consagrado ao Reino de Deus.

Tal serviço não compreende apenas o esforço dos membros do ministério santo; reclama também o concurso de todos os que foram chamados à vida eterna.

2. A diaconologia no Antigo Testamento. No período do Antigo Testamento, a diaconologia divina repousava sobre o tripé: rei, sacerdote e profeta. Todavia, em momentos de emergência nacional, todo o povo erguia-se como um só homem (1 Sm 11.7). Nessas ocasiões, não se fazia distinção entre o clero e o laicato – todos, sem exceção, identificavam-se como povo de Deus. Mas, com a burocratização do serviço divino, a nação hebreia fragmentou-se de tal forma, que a união do povo com a classe dirigente tornou-se impossível.

A maior expressão da diaconologia vétero-testamentária deu-se na construção do Tabernáculo. Apesar das agruras do deserto, o povo atendeu prontamente ao apelo de Moisés, trazendo-lhe não apenas matérias-primas como ouro, prata, madeira e essências aromática, como também mão de obra especializada. Nesse serviço, os hebreus mostraram-se de tal forma liberais e generosos, que Moisés foi obrigado a proibi-los de trazer-lhe mais oferendas (Êx 36.6).

Nunca mais se repetiu, em Israel, tal exemplo de diaconia. Foi um exemplo único no Antigo Testamento.

3. A diaconologia no Novo Testamento. Nos Atos dos Apóstolos, as ações evangelísticas e missionárias não se limitavam ao colégio apostólico; ilimitavam-se nas intervenções de diáconos como Estêvão e Filipe e dos crentes anônimos que, aonde iam, espalhavam as Boas-Novas de Cristo.


O mais perfeito exemplo de diaconia do Novo Testamento é assim descrito por Lucas:


E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos. (At 2.42-47)

Tendo por base o relato lucano, concluímos que a diaconia da Igreja Primitiva estava longe de ser um ativismo social. Em primeiro lugar, era essencialmente teológica, uma vez que os crentes só vieram a doar seus bens depois de se haverem fundamentado na doutrina dos apóstolos. Em segundo lugar, era litúrgica e orante: acompanhavam-na a celebração da Santa Ceia e as preces cotidianas. E, finalmente, era marcada por uma profunda koinonia: todos, possuindo tudo em comum, depositavam o resultado de suas ofertas e despojamentos aos pés dos apóstolos. Acrescentemos, ainda, que a diaconia de Atos dos Apóstolos era fortemente soteriológica; redundava na salvação de almas.
Ao contrário da diaconologia de muitos ramos da cristandade atual, quer do catolicismo romano, quer do protestantismo nominal, que resultaram em ações pastorais contrárias às Sagradas Escrituras, a diaconia da Igreja Primitiva teve como fruto imediato a expansão do Reino de Deus.

Feitas essas considerações, voltemo-nos agora ao ministério levítico que, em si, representava formal e essencialmente a diaconologia do Antigo Testamento.



II. O CHAMADO DE LEVI EM ABRAÃO


O autor da Epístola aos Hebreus, inspirado pelo Espírito Santo, teve um discernimento excepcional quanto à chamada de Levi ao ministério sagrado. Conforme veremos, o terceiro filho de Jacó fora chamado a servir como sacerdote antes mesmo de nascer.

1. A presença de Levi na celebração de Melquisedeque. Segundo vimos no capítulo anterior, o encontro de Abraão com Melquisedeque, rei de Salém, constituiu-se na maior celebração divina do Antigo Testamento (Gn 14.18-20).

Nessa ocasião, de acordo com o autor sagrado, Levi, bisneto de Abraão, ali esteve presente nos lombos de seu avoengo: “Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo tirado dos melhores despojos. E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste” (Hb 7.4,9,10).

Na presciência de Deus, Levi já havia sido escolhido mesmo antes de nascer. Sua diaconologia, como sacerdote transitório dos bens que serviriam de sombra aos eternos, consistiria em servir ao sacerdócio eterno de Melquisedeque, que, naquele momento, representava o Senhor Jesus Cristo.

2. A importância de Levi no Concerto Sagrado. Se lermos o capítulo 14 de Gênesis, à luz de Hebreus 7, concluiremos que, no âmbito da diaconologia do Antigo Testamento, o patriarca Levi foi mais importante do que Isaque, Jacó, Judá e o próprio José. Tais varões, apesar de sua importância na formação e preservação do povo escolhido, jamais tiveram acesso ao sacerdócio litúrgico.
Mas, ao acompanharmos a biografia de Levi, ficamos sem entender por que o patriarca, que nem primogênito era de Jacó, alcançaria tanta preeminência no decorrer da História Sagrada.


III. O CARÁTER FORTE E CONSERVADOR DE LEVI

Só viremos a entender a pessoa de Levi, se nos detivermos em sua biografia que, a rigor, nem biografia pode ser considerada. No entanto, o que a narrativa sagrada revela acerca de sua juventude e velhice é suficiente para formarmos uma imagem de seu caráter.

1. O nascimento de Levi. Levi, ao contrário de José, não era filho de Raquel, a esposa sempre querida e predileta de Jacó. Quando de seu nascimento, Lia, sua mãe, ainda ressentida por ter sido preterida em relação à irmã, desabriu toda a sua mágoa: “Agora, desta vez, se unirá mais a mim meu marido, porque lhe dei à luz três filhos” (Gn 29.34). Por isso, deu-lhe um nome que reunia esperança e redenção: Levi, que, em hebraico, significa ligado, unido ou vinculado.
Pelos usos e costumes da época, o menino já estava destinado, desde o ventre, a uma vida comum, medíocre e sem ascendência no clã. Afinal, além de não ser o primogênito, era o terceiro filho de uma mulher que, no coração do marido, estava longe do primeiro lugar.

2. O episódio de Diná. O caráter forte, conservador e moralista de Levi aflorou quando do estupro de Diná. Após tramar, juntamente com Simeão, a ruína da família de Siquém, o jovem que abusara de sua irmã, justificou o seu ato com uma alegação que, ainda hoje, reflete os costumes de alguns clãs: “Abusaria ele de nossa irmã, como se fosse prostituta?” (Gn 34.31).

O autor sagrado não deixa claro se tais palavras foram proferidas por Levi. Mas, tendo em conta a história de seus descendentes, entendo que tal discurso é mais apropriado a Levi do que a Simeão. Em termos morais, aliás, Simeão era nada recomendável. Talvez, por isso mesmo, José o manteria preso no Egito, ao receber a primeira visita de seus irmãos (Gn 42.24).

3. O episódio de José. Da história de José, inferimos que Levi estivera tão envolvido na venda do jovem sonhador quanto os outros irmãos. O que ele fez para livrar o caçula? Embora fosse o terceiro filho em responsabilidade moral, agiu, naquele momento, como Caim: “Acaso sou eu o guardador de meu irmão?”.
Portanto, se fôssemos analisar a vida de Levi, até aqui, jamais poderíamos referendar-lhe o nome como o chefe da tribo sacerdotal de Israel. Mas Deus, que nos sonda as intenções mais profundas, age doutra forma; usa as coisas que não são, para confundir as que são.

4. A bênção de Levi. Estando já próximo da morte, Jacó reúne seus filhos para abençoá-los e profetizar-lhes o futuro na História Sagrada. Das palavras do velho patriarca ao terceiro filho, logo concluímos que, para Levi, não haveria futuro ou promissão:

Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel. (Gn 49.5-7)
Naquele momento, o moribundo Jacó jamais poderia vir a imaginar que o seu terceiro filho erguer-se-ia, séculos depois, como o sacerdote de toda a sua família. Levi, devido ao seu furor, foi disciplinado. Em Israel, espalhou-se; nenhuma herdade jamais. Todavia, a maldição seria revertida em bênçãos. A sua única herança, agora, era o Deus de Abraão.



IV. LEVI, UMA FAMÍLIA DE NOBRES


Seja-me permitido dizer que Levi, apesar de seu furor juvenil, amadureceu e soube como educar seus filhos. Acredito que, dentre todas as tribos hebreias, a mais piedosa e espiritual era a dos levitas, pois destes o Senhor chamaria o Legislador, o Sumo Sacerdote de Israel. Não nos esqueçamos dos cantores e músicos saídos desse abençoadíssimo clã.

1. Moisés, o legislador dos hebreus. Se estivéssemos à beira da cama do moribundo Jacó, a ouvir-lhe as profecias quanto ao futuro de seus filhos, jamais poderíamos supor que, de Levi, tão censurado quanto Simeão, sairia um Moisés, um Arão, uma Miriã e, mais tarde, um Barnabé, fazedor de missionários. Talvez, ali, ao pé daquele leito terminal, imaginássemos que Moisés viria de Judá, a tribo do cetro; Arão proviria de José, o ramo frutífero; e Miriã seria gerada por Naftali, a tribo das palavras formosas. E quanto a Barnabé? Talvez de Zebulon, uma gente dada ao mar e às viagens ao desconhecido.
Mas, surpreendendo a todas as expectativas, Deus suscitou o maior profeta do Antigo Testamento da tribo de Levi, conforme lemos no Êxodo:
Foi-se um homem da casa de Levi e casou com uma descendente de Levi. E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que era formoso, escondeu-o por três meses. Não podendo, porém, escondê-lo por mais tempo, tomou um cesto de junco, calafetou-o com betume e piche e, pondo nele o menino, largou-o no carriçal à beira do rio. (Êx 2.1-3)
Da frágil arcazinha, levada pelas águas do Nilo, o Senhor chama o libertador de seu povo. Essa família levita, por sua coragem e bravura, entra na História Sagrada como heróis da fé (Hb 11.23).


2. Arão, o sumo sacerdote de Israel. Da família de Anrão e Joquebede, o Senhor vocacionaria ainda o sumo sacerdote de Israel (Êx 6.20). Três anos mais velho que Moisés, ajudou-o a organizar Israel como nação santa, sacerdotal e profética. Mais adiante, veremos como se deu a sua vocação ao ministério sacerdotal. Volto a repetir que nem mesmo Levi, em sua mais profunda comunhão com o Senhor, fora capaz de imaginar que, de seus lombos, o Senhor levantaria os mais ilustres personagens do Antigo Testamento.

3. Miriã, a profetisa de Israel. Miriã, irmã de Moisés e Arão, reunia três virtudes à execução de um trabalho extraordinário: profecia, poesia e vocação celibatária (Êx 15.20,21). Ao contrário de seus irmãos, ela não constituiu família, pois a sua família eram Arão e Moisés, mais novos do que ela. E, pelo que inferimos da narrativa sagrada, ela esteve ao lado de ambos até que Deus a tomou para si.
Apesar do lamentável episódio de Números 12, Miriã entrou para a História Sagrada como um exemplo de coragem, audácia e sabedoria. Deus usou-a para salvar o infante Moisés das garras de Faraó. Em seus lábios, havia um cântico de vitória; era uma mulher de Jeová. O que mais diremos dos descendentes de Levi? Hoje, não são poucos os judeus que trazem, no nome, tão ilustre ascendência. E, no período do Milênio, conforme vimos no capítulo anterior, voltarão eles a exercer novamente o seu ofício. Dessa feita, porém, em caráter memorial, recordando a morte e ressurreição de Jesus Cristo.




V. LEVITAS, OS PRIMOGÊNITOS DE DEUS


De acordo com o princípio pascal, todos os primogênitos israelitas teriam de ser apresentados a Deus como as primícias da nação (Êx 13.2). Ao Senhor, entretanto, aprouve substituí-los pela tribo de Levi. Vejamos por que Deus assim agiu.

1. A formação espiritual da tribo de Levi. Se lermos com atenção o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, constataremos que, após os 400 anos de cativeiro no Egito, a única família mencionada, como exemplo de fé e coragem, foi a de Anrão e Joquebede, da tribo de Levi (Hb 11.23). Isso leva-nos a inferir que os levitas, instruídos por seu patriarca, conservaram-se fiéis aos princípios da fé abraâmica. Nem mesmo a tribo de Judá, que receberia o cetro e o trono de Israel, alcançara tamanha excelência espiritual. Tendo em vista a urgência do estabelecimento de seu Reino, por meio de Israel, o Senhor houve por bem santificar a tribo de Levi, colocando-a em lugar dos primogênitos de todas as tribos: “Eis que tenho eu tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo primogênito que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus” (Nm 3.12). A partir desse momento, Levi, embora fosse o terceiro filho de Jacó com Lia, a mulher menosprezada, passou a figurar como o primogênito espiritual do Senhor Deus. Quanto a Judá, o quarto filho do patriarca com a mesma esposa, seria galardoado com a primazia messiânica. A desprezada Lia, sem o saber, seria honrada eternamente em dois de seus filhos.

2. O comprometimento da tribo de Levi com a obra de Deus. Tenho para mim que o episódio do bezerro de ouro foi mais do que decisivo para o Senhor chancelar, de vez, a escolha de Levi para exercer o sacerdócio. Enquanto os hebreus todos embeveciam-se com a imagem concupiscente e lasciva, os levitas permaneciam fiéis ao Deus Único e Verdadeiro. E, conclamados a lutar pela santidade do Senhor, não se ausentaram; fizeram-se presentes, conforme o relato sagrado:
Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois Arão o deixara à solta para vergonha no meio dos seus inimigos, pôs-se em pé à entrada do arraial e disse: Quem é do Senhor venha até mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi, aos quais disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um cinja a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho. E fizeram os filhos de Levi segundo a palavra de Moisés; e caíram do povo, naquele dia, uns três mil homens. (Êx 32.25-28, ARA)
Desse episódio, aprendemos que o compromisso com a santidade divina é imprescindível ao ministério sagrado. Tanto ontem quanto hoje, o Senhor continua a requerer homens fiéis e comprometidos com a sua obra, a fim de levarem o Reino dos Céus até aos confins da Terra.

3. A logística ministerial. Além do compromisso espiritual de Levi, levou Deus em conta, também, a logística do ofício sagrado. Já imaginou formar um ministério a partir dos primogênitos de cada tribo? O futuro rei de Israel, para evitar ciúmes e queixas, teria de fazer rodízios contínuos, a fim de agradar razoavelmente a todos. Mas, na prática, ninguém ficaria satisfeito. E, com o tempo, a função, que deveria ser ungida e santa, transformar-se-ia num cadinho de vaidades e orgulhos incandescentes. Ao escolher Levi, como a tribo sacerdotal, o Senhor não precisou formar uma equipe específica, porque esta já estava devidamente formada. Por acaso não agiu o Senhor Jesus de igual modo ao estabelecer o colégio apostólico? O núcleo de seu grupo foi constituído a partir dos irmãos pescadores da Galileia. Seu ministério, a partir daí, fluiu até a fundação da Igreja, no Pentecostes.




VI. DIREITOS E DEVERES DOS LEVITAS


Os descendentes de Levi, principalmente os da casa de Arão, deveriam observar estes direitos e deveres: viver do altar, santificar-se ao Senhor e ser uma referência moral, ética e espiritual.

1. Viver do altar. Já que os sacerdotes dedicavam-se ao ministério do altar, do altar deveriam viver (Lv 7.35). Portanto, não tinham eles direito a qualquer herança territorial entre os seus irmãos, porque a sua herança e porção eram o Senhor (Nm 18.20). Moisés, então, divinamente instruído, destinou-lhes cidades estratégicas por todo o Israel (Nm 35.8). Algumas delas serviam também como refúgio ao homicida involuntário (Nm 35.6).

2. Santificar-se ao Senhor. Em virtude de seu ofício, os sacerdotes deveriam erguer-se, em Israel, como referência de santidade e pureza. O sumo sacerdote, por exemplo, tinha de ostentar uma faixa de ouro, em sua mitra, na qual estava escrito: “Santidade ao SENHOR” (Êx 28.36). Caso o sacerdote profanasse o seu ofício, seria punido com todo o rigor (Lv 10.1-3).

3. Tornar-se uma referência espiritual e moral. Os sacerdotes, por serem responsáveis pela aplicação da Lei de Deus, tinham a obrigação de constituir-se num modelo espiritual, moral e ético a Israel (Ml 2.1-10). Os filhos de Eli, em consequência de seu proceder, tornaram-se uma péssima referência aos israelitas. E, por causa disso, Deus os matou (1 Sm 2.25). Andemos, pois, em santidade e pureza diante do Senhor. Ele continua a reivindicar santidade de todo o seu povo, principalmente de nós, obreiros.



VII. A ESCOLHA DE ARÃO COMO SUMO SACERDOTE


O sumo sacerdote de Israel teria de ser, obrigatoriamente, descendente de Arão, aspergido com sangue, vitalício e servo de Deus.

1. Descendente de Arão. O sumo sacerdote era o principal representante do culto divino no Antigo Testamento (Êx 28.1). Por essa razão, o Senhor exigia que ele proviesse de uma tribo específica, a de Levi, e de uma família ainda mais específica, a casa de Arão (Êx 6.16-23). Assim, duplamente separado, teria condições de apresentar-se como a maior autoridade espiritual da nação; era o símbolo da plenitude espiritual requerida pelo Deus de Israel (Sl 133.1).
Constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, o sumo sacerdote oferecia dons e sacrifícios pelos pecados do povo (Hb 5.1). Portanto, ele fazia a intermediação entre Israel e o santíssimo Deus. Era sua responsabilidade, ainda, instruir o povo na Lei divina (Lv 10.10,11).

2. Ungido para o ofício. O Senhor determinou que o sumo-sacerdote fosse ungido, a fim de dignificá-lo como ministro extraordinário do culto divino (Êx 28.41; 29.1-7). Assim teria condições de tornar a nação israelita propícia diante do Santíssimo Deus (Hb 5.1).

3. Aspergido com sangue. Ao consagrar Arão e seus filhos ao ofício sagrado, Moisés tomou do sangue do carneiro da consagração e lho pôs sobre o polegar da mão direita, o dedão do pé direito, e a ponta da orelha direita (Lv 8.22-24). O sangue fala de redenção e de purificação. O seu significado para, hoje, é claro: que ninguém ministre no altar do Senhor, se ainda não foi remido pelo sangue de Cristo.
O sangue na mão direita fala de destreza para a execução dos deveres sacerdotais, além de atos santos e justos. Sobre o pé direito, demanda que o ministro ande na vereda da justiça e só trilhe caminhos retos. E, sobre a orelha direita, que seja capaz de ouvir o Espírito Santo e atender, prontamente, às ordens do Senhor.

4. Vitaliciedade no cargo. A vitaliciedade do sumo sacerdócio está patente na história da família de Arão. Antes de este morrer, Moisés o desvestiu das roupas litúrgicas, para vesti-las em Eleazar, seu filho (Nm 20.23-29). Mais tarde, o mesmo Eleazar faria o mesmo em relação ao seu filho, Finéias (Js 24.33; Jz 20.28). Todavia, no tempo do Novo Testamento, a vitaliciedade já não era observada (Jo 11.49-51). Ao que tudo indica, havia um rodízio entre os principais membros da família de Arão (Lc 3.2).

5. Servo de Deus. Apesar da importância do cargo, o sumo sacerdote não era considerado infalível, nem estava acima da Lei de Deus (At 23.1). Sua obrigação era servir o altar e conservar-se puro, a fim de que o nome do Senhor fosse exaltado tanto entre os israelitas quanto entre os gentios (Êx 28.43). O capítulo três de Zacarias detém-se na dignidade do sumo sacerdote constituído sobre Israel.



VIII. A EXCLUSIVIDADE DO SUMO SACERDÓCIO HEBREU


Na História Sagrada do Antigo Testamento, os bons reis, como Davi, Salomão, Ezequias e Josias, muito auxiliaram o sumo sacerdote a cumprir seus deveres. Eles sabiam que, se a Casa de Arão fracassasse, todo o Israel fracassaria com ela. Vejamos, pois, a participação de cada um desses monarcas no ofício araônico.

1. Davi, o rei sacerdote. Devido ao caráter de seu chamamento, Davi pode ser considerado o primeiro rei-sacerdote de Israel. Nalgumas ocasiões, ele fazia questão de vestir-se sacerdotalmente, a fim de emprestar maior solenidade às celebrações de Jeová (2 Sm 6.14). Como se não bastasse tamanho zelo, o filho de Jessé estabeleceu turnos de cantores e músicos na Casa de Deus (1 Cr 15.16).
Embora admirasse o ofício sacerdotal, Davi jamais transpôs seus limites como rei, a fim de apropriar-se das honras devidas somente aos filhos de Levi e, mui reservadamente, aos descendentes de Arão. E, como profeta e excelente teólogo que era, ele sabia que, acima do ofício araônico, achava-se o sacerdócio messiânico de Melquisedeque (Sl 110.4). Ele também sabia que semelhante ofício seria exercido por um de seus descendentes, Jesus Cristo, Senhor nosso.

2. Salomão, o rei do Templo Sagrado. O ministério levítico alcançou o seu auge com a inauguração do Santo Templo, por Salomão, filho de Davi (1 Rs 8). Não somente pela suntuosidade do edifício, mas notadamente pela manifestação da glória divina, o Santuário de Jerusalém legou aos filhos de Levi uma honra que, doutro modo, jamais viriam a desfrutar.
De acordo com a profecia, eles só voltarão a participar de semelhante honraria quando da inauguração do Templo do Milênio. Para maiores informações, leia os últimos nove capítulos de Ezequiel.

3. Ezequias e Josias. Estes foram os dois últimos bons reis de Judá. Cada um, a seu tempo, empreendeu grandes reformas estruturais e espirituais no Santo Templo, objetivando o sustento do ministério levítico. Mas, com o desaparecimento de ambos os monarcas, o sacerdócio sagrado pôs-se a degenerar a tal ponto, que levou Jeremias a protestar duramente contra a Casa de Levi (Jr 5.31).

Os levitas, por não guardarem o seu ministério, também foram censurados por Malaquias. O importante, em toda essa história, é que o patriarca da família, apesar de seus arroubos juvenis, foi recolhido em paz ao seu povo. E, na Jerusalém Celeste, terá o seu nome honradamente destacado (Ap 21.12).

CONCLUSÃO

O sacerdócio levítico era glorioso; seus membros eram considerados príncipes de Deus (Zc 3.8). Todavia, o Senhor Jesus Cristo é superior ao sacerdócio levítico, pois é eterno (Sl 110.4). Quanto a nós, somos uma nação santa, profética e sacerdotal – recebemos a incumbência de proclamar o Evangelho e interceder pelos que perecem (1 Pe 2.9). Portanto, sirvamos ao Senhor com todo o nosso ser, para que, por meio de nossa vida, venha o Reino do Céus à Terra.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

SUBSIDIO LIÇÃO 02- A BELEZA E A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO

 Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
Autor: Claudionor de Andrade.


INTRODUÇÃO

                            Em virtude de sua natureza didática e tipológica, o culto levítico tinha de ser majestoso e belo; um reflexo da glória do Deus de Israel. Sua liturgia, por isso mesmo, era para ser vista, ouvida e tocada. Nalguns ritos e cerimônias, até o olfato e o paladar do adorador eram contemplados.

                            Apesar de tantos recursos pedagógicos, somente alguns vieram a descobrir a essência dos procedimentos levíticos: a plena comunhão entre Deus e o seu povo. Esses raríssimos homens e mulheres tornaram-se conhecidos, na literatura profética, como o remanescente fiel.

                            Neste capítulo, veremos que o culto ao Deus de Abraão não era uma demanda a ser apresentada apenas para Israel; é uma reivindicação de Jeová a todos os habitantes da Terra. Nesse processo, a nação hebreia participaria (como de fato parcial e hesitantemente participou) como intermediária entre os gentios e o Deus Único e Verdadeiro.

                            Veremos ainda por que o culto é necessário. Neste ponto, somos obrigados a responder a velha pergunta: Por que o homem, mesmo que se confesse ateu, é um ser religioso? E, para concluir, viremos a constatar que o culto levítico, apesar do fracasso temporal de Israel, cumpriu seus propósitos eternos.



I.       O CULTO A DEUS NO CORAÇÃO HUMANO

                            Neste tópico, veremos que o culto divino, para ser perfeito, tem de ser precedido pelo cultivo do coração humano. No âmbito teológico, cultuar e cultivar são sinônimos; harmonizam-se belamente.



                            1. Definição do culto divino. A palavra “culto” advém do vocábulo latino cultus que, originário do verbo colere, descreve o esmero que o lavrador, na antiga Roma, dispensava a terra, a fim de torná-la arável. Inspirados por essa belíssima etimologia, os romanos não demoraram a associar o cultivo do solo às lides religiosas.

                            Teologicamente considerado, o culto pode ser definido como as honras, deferências e louvores que o homem, já cultivado pela Palavra de Deus, tributa ao Deus da Palavra. No ato cultual, o homem externa o seu reconhecimento a Deus como o Criador, Senhor e Mantenedor de todas as coisas. Para ser verdadeiro, o culto há de ter como fundamento a doutrina dos profetas e apóstolos, conforme a encontramos na Bíblia Sagrada.

                            Rigorosamente, os louvores carreados a um ídolo não podem ser considerados culto, pois somente Deus é digno de toda adoração: Ele tudo criou e a tudo mantém. Quanto aos ídolos, que tributos merecem? Logo, o culto a um ídolo não é culto, mas idolatria; algo esdrúxulo, bizarro, grotesco.

                            Se a criatura tem de venerar o que a criou, conclui-se que o ídolo, por ser criação do homem, deveria adorar a esse mesmo homem. Silogisticamente, o homem está para o ídolo, assim como Deus está para o homem. A diferença é que somente Deus pode criar a partir do nada. O homem limita-se a recriar coisas de matérias e refugos já existentes. É por isso que o ídolo, embora exista, não passa de um objeto vil e desprezível.



                            2. Jesus e o cultivo do coração humano. O nosso relacionamento com Deus requer cuidados e zelos agriculturáveis. Exige atenção, sabedoria, paciência. Foi por isso que o Senhor Jesus assemelhou a pregação do Evangelho ao semear (Mt 13.3-18). Nessa faina, o Semeador ansiará por obreiros e diaristas, para que uma parte da sementeira, ao menos, venha a germinar (1 Co.3.6).

                            Mas quem, de fato, está a sulcar o coração humano? O Senhor Jesus responde a essa pergunta com surpreendente beleza: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor” (Jo 15.1, ARA). Se nos voltarmos a Isaías, deparar-nos-emos com o próprio Deus a sulcar o coração de Israel, a fim de fertilizá-lo, para que a boa semente germine: a Palavra da Fé. A descrição do profeta é de uma sublimidade que transcende a poesia:



                            Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha. O meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo. Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? (Is 5.1-4, ARA)



                            O cultivo do coração de Israel, levado a efeito pelo próprio Deus, não foi suficiente para reconduzi-lo, naqueles dias já distantes e rebeldes, ao culto verdadeiro. A alma israelita em nada diferia daquele terreno pedregoso e cheio de cardos descrito pelo Senhor na Parábola do Semeador.

                             Sim, o culto divino tem muito a ver com o cultivo da terra. Para se cultuar a Deus tem de se cultivar, antes, o coração do homem.

                            Dessa explanação, concluímos que o culto ao Deus Único e Verdadeiro não vinga como as ervas daninhas, nem como o joio que, nem bem é lançado ao solo, alastra-se e já sufoca o bom plantio. O culto divino exige uma lavragem zelosa, paciente e constante da alma; um trabalho que, iniciado com o semeador, prossegue com o que rega e com o que, vigilante e atento, impede o inimigo de lançar a cizânia durante as vigílias solitárias e já tomadas pelas trevas (1 Co 3.6).

                            3. O coração humano e o conhecimento de Deus. A melhor forma de se cultivar o coração humano encontra-se no livro de Oseias: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Os 6.3).

                            Quanto mais conhecemos a Deus, mais aprofundamos a nossa comunhão com Ele. O coração de Moisés estava de tal forma cultivado pela presença divina que, segundo o derradeiro registro do Deuteronômio, ele já não orava ao Senhor, mas, com o Senhor, falava cara a cara (Dt 34.10-12). O conhecimento que o profeta tinha de Deus transcendia o mero assentimento teológico; era algo experimental, profundo e cotidiano.

                            4. Os cultivadores do coração humano. Foi para cultivar o verdadeiro culto, no coração hebreu, que o Senhor providenciou profetas, sacerdotes e reis. Cada um desses pedagogos tinha a obrigação de educar o povo na Palavra de Deus e mantê-lo ante o Deus da Palavra. Era uma educação tão perfeita, que levava o israelita a crescer tanto diante de Deus como perante os homens. Samuel, apesar do ambiente em que fora criado, alcançou esse ideal (1 Sm 2.21,26).

                            Vinha o profeta, e ensinava a nação a guardar os mandamentos divinos. Em seguida, chegava o sacerdote que, intercedendo pelo povo, tornava-o propício diante do Senhor. Quanto ao rei, possuindo este um mandato cristológico, tinha por obrigação sustentar o ofício profético e manter o ministério sacerdotal. Doutra forma, os ministros divinos não teriam condições de desempenhar a sua função. Na Igreja de Cristo, temos obreiros igualmente valiosos, cuja função também é educar-nos na Palavra de Deus (Ef 4.11-16).

                            No ato de congregar, cultivamo-nos mutuamente por intermédio do louvor, da oração, da celebração da Santa Ceia e, principalmente, da exposição da Palavra de Deus. Sem as Sagradas Escrituras, a liturgia é inútil.



II.      O CULTO LEVÍTICO

                            O culto levítico é o resultado de um processo litúrgico que, iniciado por Adão, culminou no chamado dos descendentes de Levi, cujo ministério precípuo consistia em zelar pela adoração ao Deus Único e Verdadeiro. Neste tópico, veremos os antecedentes do culto hebreu.

                   1. O culto adâmico. Se Adão não tivesse dado ocasião ao pecado, suas oferendas a Deus, no Éden, teriam consistido apenas em sacrifícios pacíficos e de louvores. Ao invés de ofertas cruentas, limitar-se-ia ele a apresentar ao Senhor as primícias de seu trabalho no paraíso: a exuberância do reino vegetal.

                            Ao desobedecer ao Criador, o pai da raça humana percebeu que, além das ofertas de paz, teria de apresentar ao Senhor, também, sacrifícios por suas transgressões. Doutra forma, como poderia ele fazer-se propício diante do Santíssimo Deus? Aliás, na morte do animal, ou animais, cujas peles serviram-lhe de vestes, Adão e Eva vieram a entender o mecanismo da expiação (Gn 3.21).

                            Adão, apesar de sua culpa universal, jamais deixou de ser tratado por Deus como filho amado (Rm 5.12; Lc 3.38). Sem o seu exemplo de arrependimento e de adoração, os cultos que se seguiram, na História Sagrada, não teriam sido possíveis.

                            2. O culto noético. O culto com que Noé servia ao Senhor tinha, como genealogia, uma sequência de homens santos, piedosos e ousados em sua adoração. O primeiro dessa lista foi Abel, cujo sangue clamou da Terra aos Céus (Gn 4.10). Assim como a morte de Estêvão deflagrou o crescimento da Igreja (At 11.19.20), de igual modo acontecera com o martírio de Abel; o seu exemplo foi imitado por homens como Enos, filho de Sete, cuja vida levou a linhagem piedosa de Adão a um reavivamento (Gn 4.26).

                            O culto de Noé era tão excelente que só poderia ser equiparado ao de Jó e ao de Daniel (Ez 14.14). Aliás, esses foram os três varões mais piedosos de toda a História Sagrada. A adoração noética sobressaía-se pela graça divina e constituía-se num poderoso libelo contra uma geração perversa, corrompida, irrecuperável e blasfema (Gn 6.8,9; Hb 11.7).

                            Sobrevivendo ao Dilúvio e à apostasia de Cam, o culto noético teve, como herdeiros imediatos, a Sem, a Jó e, finalmente, a Abraão, nosso pai na fé (Gn 9.26; Jó 1.1). Cronologicamente, o patriarca Jó precedeu ao patriarca hebreu, pois, em suas lamúrias, cita Adão, mas não menciona Abraão (Jó 31.33).

                            3. O culto abraâmico. O culto de Abraão teve início quando ele ainda era um gentio como eu e você, querido leitor (At 7.2). Os próprios israelitas, aliás, reconhecem que o seu grande patriarca não passava de um pagão entre outros pagãos (Dt 26.5). Mas, reconvocado em Harã, obedeceu prontamente ao Senhor (Gn 12.1-4). Já firme na fé, pôs-se a peregrinar por uma terra que, embora sua, tratava-o como estrangeiro (Hb 11.9). Mas, para o crente Abraão, o que mais lhe importava era a sua confiança em Deus. Ele sabia que, além de sua herança terrestre, aguardava-o uma cidade, nos Céus, cujo artífice era o Senhor Todo-Poderoso.

                            O auge do culto abraâmico deu-se quando o patriarca encontrou-se com Melquisedeque, depois de uma renhida batalha contra uns régulos orientais. Ali, na já querida Salém, ele foi reconhecido pelo rei-sacerdote como servo de Deus e legítimo representante do verdadeiro culto (Gn 14.19,20).

                            Celebra-se, ali, a proto-ceia do Senhor Jesus, unindo, numa única liturgia, os representantes de ambos os testamentos (Gn 14.18). Nessa celebração, encontrava-se já presente, nos lombos de Abraão, o responsável pelo culto oficial de Israel, conforme a interpretação do autor da Epístola aos hebreus: “E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste” (Hb 7.9,10, ARA).

                            Para mim, o capítulo 14 de Gênesis é o texto de ouro da religião divina. Nessa narrativa, Melquisedeque ergue-se como sacerdote do Deus Altíssimo. E, nessa condição, traz o pão e o vinho consagrados ao crente Abraão, que, pela fé, celebra a redenção do corpo e do sangue de Jesus Cristo. Ao fazê-lo, mostra a eternidade do sacrifício vicário do Filho de Deus. Naquele ato, Levi, em Abraão, curva-se ao Novo Testamento.

                            Com base nesse texto sagrado, declaramos que existe apenas uma religião abraâmica: a religião do Deus Único e Verdadeiro. Esta, por seu turno, manifestou-se plenamente na vinda de Jesus Cristo, conforme explica muito bem o autor da Epístola aos Hebreus, na introdução de sua carta. Portanto, considerar o Islã uma religião abraâmica é desconhecer o espírito do Antigo Testamento. Rigorosamente falando, nem o próprio Judaísmo, como hoje o conhecemos, é uma religião abraâmica. Foi o que o próprio Cristo deixou patente aos seus contemporâneos (Jo 8.40).

                            4. O culto levítico. Herdeiro direto da devoção abraâmica, o culto levítico pode ser definido como a instituição oficial da verdadeira religião confiada a Israel pelo próprio Deus. Seu objetivo não é apenas litúrgico, mas essencialmente teológico, conforme exorta o profeta Oseias aos seus contemporâneos (Os 6.3). Apesar de sua imponência e exterioridade, a adoração levítica é voltada ao interior de cada adorador de Jeová, que sempre buscou estar presente entre o seu povo.

                            Segundo a narrativa sagrada, o culto levítico foi instituído pela celebração da Páscoa, na noite que precedeu a saída dos filhos de Israel do Egito. E, tendo como fundamento esse fato, conduziu litúrgica, didática e teologicamente os israelitas a se apresentarem ao mundo como um povo escolhido, profético, sacerdotal e real. Um povo, aliás, que deve a sua redenção unicamente a Jeová.

III.     AS FINALIDADES DO CULTO LEVÍTICO

                            O culto divino, no Antigo Testamento, tinha quatro finalidades básicas: adorar ao Único e Verdadeiro Deus, reafirmar as alianças divinas, professar o credo mosaico e aguardar o Messias. Era uma celebração teológica e messiânica.

                            1. Adorar ao Único e Verdadeiro Deus. Ao reunir-se para adorar a Deus, a comunidade de Israel demonstrava duas coisas: a aceitação do Único e Verdadeiro Deus e a rejeição dos deuses pagãos (Sl 86.10; 97.9). Enfim, o culto levítico afastava os israelitas da idolatria e aprofundava a sua comunhão com o Senhor (Sl 96.5). Esse era o teor dos cânticos congregacionais do Santo Templo.

                            2. Reafirmar as alianças antigas. Se os filhos de Israel, por exemplo, entoassem o Salmo 136, professariam ser herdeiros das alianças que o Senhor firmara com Abraão, Isaque, Jacó e Davi. E, assim, cultuando ao Senhor, lembravam-se de que Deus comanda a História. Em boa parte de seus cânticos, os filhos de Israel relembram a presença de Deus em sua vida familiar e comunal (Sl 47.9). Veja o Salmo 105.

                            3. Professar o credo divino. Em seus cultos, os israelitas, guiados pelo ministério levítico, professavam o seu credo: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4, ARA). Nesta sentença, resume-se toda a teologia do Antigo Testamento. É necessário que voltemos a recitar e a cantar o nosso credo.

                            4. Aguardar o Messias. No livro de Salmos, há uma elevada cristologia, que descreve a paixão, a morte, a ressurreição e a glorificação do Senhor Jesus Cristo como Rei dos reis (Sl 22.1-19; 16.10; 110.1-4; 2.1-8). Um israelita crente e predisposto a servir a Deus jamais seria surpreendido com a chegada do Messias, pois o culto levítico era essencial e tipologicamente cristológico.


IV.     OS ELEMENTOS DO CULTO LEVÍTICO

                            Em seu auge, o culto divino do Antigo Testamento era composto por estes elementos: sacrifícios, cânticos, exposição da Palavra, oração, leitura da Palavra e bênção. Isso não significa, porém, que todo esse conteúdo estivesse presente em todas as celebrações.

                            1. Sacrifícios. O culto inaugural do Santo Templo, que teve início com a chegada da Arca Sagrada, foi marcado por uma grande quantidade de sacrifícios de animais (1 Rs 8.5). De forma sem igual, o rei Salomão e todo o Israel demonstraram suas ações de graças ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

                             2. Cânticos. Em seguida, os cantores e músicos puseram-se a louvar ao Senhor, entoando provavelmente os cânticos que Davi e outros salmistas haviam composto (2 Cr 5,12,13). Nesse período, a arte musical de Israel era a mais desenvolvida de toda região oriental.

                            3. Exposição da Palavra. Logo após, Salomão dirigiu-se ao povo, fazendo uma síntese da História Sagrada até aquele instante. Ele mostra a clara intervenção de Deus em cada etapa da existência de Israel (2 Cr 6.1-13).

                            4. Oração. O rei dirige-se, agora, a Deus em oração, agradecendo-o por aquele momento, e intercede não só por Israel, mas pelos gentios que, ouvindo acerca da intervenção divina na vida de seu povo, para ali acorreriam (2 Cr 14.31).


                            5. Leitura da Palavra. Após o cativeiro babilônico, já no tempo de Esdras e Neemias, a Palavra de Deus começou a ser lida publicamente como parte da liturgia do culto (Ne 8.1-8). Nesse período, os sacerdotes puseram-se também a explicar a Lei ao povo de Deus. Antes disso, a leitura das Escrituras limitava-se aos montes Gerizim e Ebal (Dt 29.11).

                            6. Bênção. O culto levítico era encerrado com a bênção araônica (Nm 22.6). Ao serem assim abençoados, os filhos de Israel conscientizavam-se de que eram propriedade particular do Senhor.


V.      CULTO LEVÍTICO NA GRANDE TRIBULAÇÃO

                            Nos meios evangélicos conservadores, aguarda-se com muita expectativa a restauração escatológica do culto levítico. Que ela virá, não temos dúvidas, mas em tempos angustiantes.

                            1. A interrupção do culto judaico. O culto levítico foi suspenso em duas ocasiões diferentes. A primeira deu-se em 586 a.C. Nessa data, os exércitos de Nabucodonosor, após sitiarem longamente Jerusalém, destruíram a capital do Reino de Judá e deitaram por terra o Templo de Salomão. Como se não bastasse tamanha dor, os babilônios exilaram o escol da sociedade judaica. Essa interrupção cultual, apesar de humilhante, não durou mais que sete décadas (Jr 25.11,12). A segunda ocorreu no ano 70 de nossa era, quando os exércitos do general romano Tito destruíram por completo a Cidade Santa e o Templo Sagrado. Desde então, os judeus aguardam ansiosamente a restauração de seu reino, de sua capital e do culto levítico, que só pode ser realizado no interior da Casa de Deus em Jerusalém. O Judaísmo sobrevive, hoje, apenas didática e magisterialmente nas sinagogas espalhadas pelo mundo.

                            2. A restauração do Santo Templo. A restauração da nacionalidade israelita já é história contada, romanceada e cotidiana. Desde 14 de maio de 1948, o Estado de Israel vem pontificando entre os demais países como nação forte, desenvolvida e rica; um exemplo para os demais povos. Quanto à Jerusalém, o que podemos dizer? Ela é a capital de Israel desde junho de 1967, por ocasião da Guerra dos Seis dias. Quer a ONU reconheça, quer deixe de reconhecer o atual status da Cidade Santa em relação a Israel, isso em nada mudará a realidade profética e histórica dos filhos de Abraão.

                            No que tange, porém, ao Templo de Deus, a situação torna-se bem mais complicada. Como reerguer o Santuário Divino se, ali, onde outrora fora erguido, encontra-se hoje uma mesquita muçulmana? Não é fácil responder a essa pergunta. Não obstante, a profecia bíblica não deixa dúvidas: o Santo Templo em breve será reerguido. Veja como Daniel trata o assunto: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele” (Dn 9.27, ARA).

                            A profecia é clara. Na Septuagésima Semana, o Templo, com todas as suas liturgias e oferendas, estará funcionando plenamente em Jerusalém. Mas, na metade dessa mesma semana, o Anticristo romperá a aliança com Israel para instaurar um reino diabólico que, a partir de Jerusalém, dominará todo o sistema religioso mundial. É por isso que a Cidade Santa, nesse período, será conhecida espiritualmente como Egito e Sodoma (Ap 11.8). O apóstolo Paulo diz o mesmo em sua Segunda Epístola aos Tessalonicenses (2.1-12). Devemos olhar a restauração do culto levítico, no período da Septuagésima Semana, não como ação divina, mas como ato oportunista de Satanás. Apesar de o Templo ser chamado Casa de Deus, não será reerguido pelo Deus da Casa, pois nesse santuário, mais ecumênico e político que propriamente religioso, o Diabo, por intermédio do Falso Profeta, respaldará todas as ações da Besta que emergirá do mar, conforme lemos no capítulo 13 de Apocalipse.

                            Das profecias mencionadas, inferimos que o restabelecimento do culto levítico, nessa ocasião, não levantará a ira dos muçulmanos nem da cristandade apóstata. Pelo menos até o início da segunda metade da Septuagésima Semana. No entanto, após os judeus romperem com o homem do pecado, o mundo todo, orquestrado pelo Anticristo, levantar-se-á contra Israel. Garante a profecia que, nesse momento, o arcanjo Miguel, príncipe dos exércitos do Senhor, comandará a defesa dos filhos de Abraão (Dn 12.1). Será um período tão difícil aos judeus, que o profeta Jeremias refere-se a ele como o tempo da angústia de Jacó (Jr 30.7).

                            A restauração do culto levítico, no período da Grande Tribulação, levará em conta apenas a Lei de Moisés, em si, e não o seu cumprimento em Jesus Cristo. Portanto, não terá qualquer efeito messiânico nem soteriológico; seu objetivo, conforme já dissemos, será mais ecumênico e político do que religioso. Como se vê, até o próprio Diabo acha-se interessado no restabelecimento do culto divino, desde que o centro desse culto seja ele, e não o Deus que merece toda a glória, louvor e ações de graças.


VI.     O CULTO LEVÍTICO NO MILÊNIO

                            Neste tópico, buscaremos responder a esta pergunta: qual a diferença entre o Templo da Grande Tribulação e o do Milênio? Se, de acordo com a Epístola de Hebreus, os sacrifícios e dons da Antiga Aliança não passavam de sombras das coisas futuras, por que retroceder a esses recursos que, hoje, são vistos como meramente didáticos? É o que tentaremos responder nas linhas a seguir.

                            1. O restabelecimento do Milênio. Terminada a Grande Tribulação, haverá um período de 45 dias até que o Senhor Jesus, juntamente com os seus santos, desça a Terra, para estabelecer o Milênio. Pelo menos é o que eu entendo desta profecia final de Daniel: “Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias. Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias” (Dn 12.11,12, ARA). Leia novamente Daniel 9.27.

                            Vê-se, pois, que o culto levítico, na Septuagésima Semana, será interrompido após três anos e meio. E, a partir daí, até o término dessa mesma semana profética, haverá outros três anos e meio, mais um misterioso acrescimento de 45 dias. Por que esse mês e meio? Até agora, não descobri. Vejo, nessa passagem, uma das profecias mais difíceis da Bíblia Sagrada. O certo é que o remanescente fiel do Senhor, provindos das 12 tribos, terá de amargar mais 45 dias de espera, perseverança e fé na intervenção divina. No final desse tempo, o Reino Milenial será uma realidade, e não uma utopia escatológica, como imaginam muitos teólogos incrédulos.

                            2. O culto levítico no Milênio. Ezequiel dedica os derradeiros capítulos de seu livro a descrever o Reino de Israel no final dos tempos. No capítulo 40, por exemplo, o profeta descreve o Templo de Deus como estando situado num monte alto e bem destacado no cenário das terras sagradas. Que monte seria este? O Sião? Ou o das Oliveiras? Não nos é possível responder com precisão a essa pergunta. Mesmo porque a escatologia bíblica é uma ciência que se revela aos poucos; quanto mais a percorremos, mais nos acercamos de suas verdades (Dn 12.4).

                            O Templo do Milênio, ao contrário do da Grande Tribulação, será a expressão do amor de Deus por Israel. E, desse magnífico santuário, sairão as leis e mandamentos do Senhor para reger todas as nações da Terra, durante o reinado de mil anos de Nosso Senhor.

                            3. Os sacrifícios e oferendas levíticas no Milênio. À luz das epístolas aos gálatas e aos hebreus, como entender esta passagem de Ezequiel: “Durante sete dias, prepararás cada dia um bode para oferta pelo pecado; também prepararão um novilho e, do rebanho, um carneiro sem defeito”? (Ez 43.25, ARA). Não parece isso uma contradição com essa afirmação de Hebreus: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo”? (Hb 1.1,2, ARA) Para entendermos os nove últimos capítulos de Ezequiel, à luz de nossa escatologia, precisamos ver o restabelecimento do culto levítico, no Milênio, não mais como sombra dos bens futuros, como ocorria no Antigo Testamento, mas como um memorial do que aconteceu em o Novo Testamento. Ou seja: todas as vezes que os levitas, no Milênio, sacrificarem ao Senhor, não mais o farão perspectivamente, aguardando a chegada do Messias, mas retrospectivamente, olhando para o Calvário, onde Cristo foi oferecido, de uma vez por todas, por toda a humanidade. Da mesma forma não fazemos, hoje, quando celebramos a Ceia do Senhor? Esta, apesar de não ser um sacrifício, remete-nos de imediato ao Sacrificado — Jesus, Senhor Nosso.



CONCLUSÃO

                            O livro de Levítico, embora já cumprido nas Escrituras do Novo Testamento, ainda tem muitas lições a ensinar-nos. Se o lermos à luz, por exemplo, da Epístola aos Hebreus, entenderemos a didática que o Senhor usou para conduzir os filhos de Israel ao Calvário. Infelizmente, estes não foram capazes de entender a essência das oferendas e sacrifícios do Tabernáculo e do Santo Templo. O que era temporário viam eles como algo permanente.

                            Nós, que já recebemos Jesus Cristo como Salvador, regozijamo-nos, porque, agora, não mais necessitamos de sacerdotes humanos para achegarmo-nos a Deus. Hoje, por intermédio do sangue de Cristo, temos livre acesso ao trono da graça. Amém.