Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
INTRODUÇÃO
Em virtude de sua
natureza didática e tipológica, o culto levítico tinha de ser majestoso e belo;
um reflexo da glória do Deus de Israel. Sua liturgia, por isso mesmo, era para
ser vista, ouvida e tocada. Nalguns ritos e cerimônias, até o olfato e o
paladar do adorador eram contemplados.
Apesar de tantos
recursos pedagógicos, somente alguns vieram a descobrir a essência dos
procedimentos levíticos: a plena comunhão entre Deus e o seu povo. Esses
raríssimos homens e mulheres tornaram-se conhecidos, na literatura profética,
como o remanescente fiel.
Neste capítulo,
veremos que o culto ao Deus de Abraão não era uma demanda a ser apresentada
apenas para Israel; é uma reivindicação de Jeová a todos os habitantes da
Terra. Nesse processo, a nação hebreia participaria (como de fato parcial e
hesitantemente participou) como intermediária entre os gentios e o Deus Único e
Verdadeiro.
Veremos ainda por
que o culto é necessário. Neste ponto, somos obrigados a responder a velha
pergunta: Por que o homem, mesmo que se confesse ateu, é um ser religioso? E,
para concluir, viremos a constatar que o culto levítico, apesar do fracasso
temporal de Israel, cumpriu seus propósitos eternos.
I. O CULTO A DEUS NO CORAÇÃO HUMANO
Neste tópico,
veremos que o culto divino, para ser perfeito, tem de ser precedido pelo cultivo
do coração humano. No âmbito teológico, cultuar e cultivar são sinônimos;
harmonizam-se belamente.
1. Definição do
culto divino. A palavra “culto” advém do vocábulo latino cultus que, originário
do verbo colere, descreve o esmero que o lavrador, na antiga Roma, dispensava a
terra, a fim de torná-la arável. Inspirados por essa belíssima etimologia, os
romanos não demoraram a associar o cultivo do solo às lides religiosas.
Teologicamente
considerado, o culto pode ser definido como as honras, deferências e louvores
que o homem, já cultivado pela Palavra de Deus, tributa ao Deus da Palavra. No
ato cultual, o homem externa o seu reconhecimento a Deus como o Criador, Senhor
e Mantenedor de todas as coisas. Para ser verdadeiro, o culto há de ter como
fundamento a doutrina dos profetas e apóstolos, conforme a encontramos na
Bíblia Sagrada.
Rigorosamente, os
louvores carreados a um ídolo não podem ser considerados culto, pois somente
Deus é digno de toda adoração: Ele tudo criou e a tudo mantém. Quanto aos
ídolos, que tributos merecem? Logo, o culto a um ídolo não é culto, mas
idolatria; algo esdrúxulo, bizarro, grotesco.
Se a criatura tem de
venerar o que a criou, conclui-se que o ídolo, por ser criação do homem,
deveria adorar a esse mesmo homem. Silogisticamente, o homem está para o ídolo,
assim como Deus está para o homem. A diferença é que somente Deus pode criar a
partir do nada. O homem limita-se a recriar coisas de matérias e refugos já
existentes. É por isso que o ídolo, embora exista, não passa de um objeto vil e
desprezível.
2. Jesus e o cultivo
do coração humano. O nosso relacionamento com Deus requer cuidados e zelos
agriculturáveis. Exige atenção, sabedoria, paciência. Foi por isso que o Senhor
Jesus assemelhou a pregação do Evangelho ao semear (Mt 13.3-18). Nessa faina, o
Semeador ansiará por obreiros e diaristas, para que uma parte da sementeira, ao
menos, venha a germinar (1 Co.3.6).
Mas quem, de fato,
está a sulcar o coração humano? O Senhor Jesus responde a essa pergunta com
surpreendente beleza: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor”
(Jo 15.1, ARA). Se nos voltarmos a Isaías, deparar-nos-emos com o próprio Deus
a sulcar o coração de Israel, a fim de fertilizá-lo, para que a boa semente
germine: a Palavra da Fé. A descrição do profeta é de uma sublimidade que
transcende a poesia:
Agora, cantarei ao
meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha. O meu amado teve uma
vinha num outeiro fertilíssimo. Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de
vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um lagar. Ele
esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. Agora, pois, ó moradores de
Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que
mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como,
esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? (Is 5.1-4, ARA)
O cultivo do coração
de Israel, levado a efeito pelo próprio Deus, não foi suficiente para
reconduzi-lo, naqueles dias já distantes e rebeldes, ao culto verdadeiro. A
alma israelita em nada diferia daquele terreno pedregoso e cheio de cardos
descrito pelo Senhor na Parábola do Semeador.
Sim, o culto divino tem muito a ver com o
cultivo da terra. Para se cultuar a Deus tem de se cultivar, antes, o coração
do homem.
Dessa explanação,
concluímos que o culto ao Deus Único e Verdadeiro não vinga como as ervas
daninhas, nem como o joio que, nem bem é lançado ao solo, alastra-se e já
sufoca o bom plantio. O culto divino exige uma lavragem zelosa, paciente e
constante da alma; um trabalho que, iniciado com o semeador, prossegue com o
que rega e com o que, vigilante e atento, impede o inimigo de lançar a cizânia
durante as vigílias solitárias e já tomadas pelas trevas (1 Co 3.6).
3. O coração humano
e o conhecimento de Deus. A melhor forma de se cultivar o coração humano
encontra-se no livro de Oseias: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao
SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva,
como chuva serôdia que rega a terra” (Os 6.3).
Quanto mais
conhecemos a Deus, mais aprofundamos a nossa comunhão com Ele. O coração de
Moisés estava de tal forma cultivado pela presença divina que, segundo o
derradeiro registro do Deuteronômio, ele já não orava ao Senhor, mas, com o
Senhor, falava cara a cara (Dt 34.10-12). O conhecimento que o profeta tinha de
Deus transcendia o mero assentimento teológico; era algo experimental, profundo
e cotidiano.
4. Os cultivadores
do coração humano. Foi para cultivar o verdadeiro culto, no coração hebreu, que
o Senhor providenciou profetas, sacerdotes e reis. Cada um desses pedagogos
tinha a obrigação de educar o povo na Palavra de Deus e mantê-lo ante o Deus da
Palavra. Era uma educação tão perfeita, que levava o israelita a crescer tanto
diante de Deus como perante os homens. Samuel, apesar do ambiente em que fora
criado, alcançou esse ideal (1 Sm 2.21,26).
Vinha o profeta, e
ensinava a nação a guardar os mandamentos divinos. Em seguida, chegava o
sacerdote que, intercedendo pelo povo, tornava-o propício diante do Senhor.
Quanto ao rei, possuindo este um mandato cristológico, tinha por obrigação
sustentar o ofício profético e manter o ministério sacerdotal. Doutra forma, os
ministros divinos não teriam condições de desempenhar a sua função. Na Igreja
de Cristo, temos obreiros igualmente valiosos, cuja função também é educar-nos
na Palavra de Deus (Ef 4.11-16).
No ato de congregar,
cultivamo-nos mutuamente por intermédio do louvor, da oração, da celebração da
Santa Ceia e, principalmente, da exposição da Palavra de Deus. Sem as Sagradas
Escrituras, a liturgia é inútil.
II. O CULTO LEVÍTICO
O culto levítico é o
resultado de um processo litúrgico que, iniciado por Adão, culminou no chamado
dos descendentes de Levi, cujo ministério precípuo consistia em zelar pela
adoração ao Deus Único e Verdadeiro. Neste tópico, veremos os antecedentes do
culto hebreu.
1.
O culto adâmico. Se Adão não tivesse dado ocasião ao pecado, suas oferendas a
Deus, no Éden, teriam consistido apenas em sacrifícios pacíficos e de louvores.
Ao invés de ofertas cruentas, limitar-se-ia ele a apresentar ao Senhor as
primícias de seu trabalho no paraíso: a exuberância do reino vegetal.
Ao desobedecer ao
Criador, o pai da raça humana percebeu que, além das ofertas de paz, teria de
apresentar ao Senhor, também, sacrifícios por suas transgressões. Doutra forma,
como poderia ele fazer-se propício diante do Santíssimo Deus? Aliás, na morte
do animal, ou animais, cujas peles serviram-lhe de vestes, Adão e Eva vieram a
entender o mecanismo da expiação (Gn 3.21).
Adão, apesar de sua
culpa universal, jamais deixou de ser tratado por Deus como filho amado (Rm
5.12; Lc 3.38). Sem o seu exemplo de arrependimento e de adoração, os cultos
que se seguiram, na História Sagrada, não teriam sido possíveis.
2. O culto noético.
O culto com que Noé servia ao Senhor tinha, como genealogia, uma sequência de
homens santos, piedosos e ousados em sua adoração. O primeiro dessa lista foi
Abel, cujo sangue clamou da Terra aos Céus (Gn 4.10). Assim como a morte de
Estêvão deflagrou o crescimento da Igreja (At 11.19.20), de igual modo
acontecera com o martírio de Abel; o seu exemplo foi imitado por homens como
Enos, filho de Sete, cuja vida levou a linhagem piedosa de Adão a um
reavivamento (Gn 4.26).
O culto de Noé era
tão excelente que só poderia ser equiparado ao de Jó e ao de Daniel (Ez 14.14).
Aliás, esses foram os três varões mais piedosos de toda a História Sagrada. A
adoração noética sobressaía-se pela graça divina e constituía-se num poderoso
libelo contra uma geração perversa, corrompida, irrecuperável e blasfema (Gn
6.8,9; Hb 11.7).
Sobrevivendo ao
Dilúvio e à apostasia de Cam, o culto noético teve, como herdeiros imediatos, a
Sem, a Jó e, finalmente, a Abraão, nosso pai na fé (Gn 9.26; Jó 1.1).
Cronologicamente, o patriarca Jó precedeu ao patriarca hebreu, pois, em suas
lamúrias, cita Adão, mas não menciona Abraão (Jó 31.33).
3. O culto
abraâmico. O culto de Abraão teve início quando ele ainda era um gentio como eu
e você, querido leitor (At 7.2). Os próprios israelitas, aliás, reconhecem que
o seu grande patriarca não passava de um pagão entre outros pagãos (Dt 26.5).
Mas, reconvocado em Harã, obedeceu prontamente ao Senhor (Gn 12.1-4). Já firme
na fé, pôs-se a peregrinar por uma terra que, embora sua, tratava-o como
estrangeiro (Hb 11.9). Mas, para o crente Abraão, o que mais lhe importava era
a sua confiança em Deus. Ele sabia que, além de sua herança terrestre, aguardava-o
uma cidade, nos Céus, cujo artífice era o Senhor Todo-Poderoso.
O auge do culto
abraâmico deu-se quando o patriarca encontrou-se com Melquisedeque, depois de
uma renhida batalha contra uns régulos orientais. Ali, na já querida Salém, ele
foi reconhecido pelo rei-sacerdote como servo de Deus e legítimo representante
do verdadeiro culto (Gn 14.19,20).
Celebra-se, ali, a
proto-ceia do Senhor Jesus, unindo, numa única liturgia, os representantes de
ambos os testamentos (Gn 14.18). Nessa celebração, encontrava-se já presente,
nos lombos de Abraão, o responsável pelo culto oficial de Israel, conforme a
interpretação do autor da Epístola aos hebreus: “E, por assim dizer, também
Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não
tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste” (Hb
7.9,10, ARA).
Para mim, o capítulo
14 de Gênesis é o texto de ouro da religião divina. Nessa narrativa,
Melquisedeque ergue-se como sacerdote do Deus Altíssimo. E, nessa condição,
traz o pão e o vinho consagrados ao crente Abraão, que, pela fé, celebra a
redenção do corpo e do sangue de Jesus Cristo. Ao fazê-lo, mostra a eternidade
do sacrifício vicário do Filho de Deus. Naquele ato, Levi, em Abraão, curva-se
ao Novo Testamento.
Com base nesse texto
sagrado, declaramos que existe apenas uma religião abraâmica: a religião do
Deus Único e Verdadeiro. Esta, por seu turno, manifestou-se plenamente na vinda
de Jesus Cristo, conforme explica muito bem o autor da Epístola aos Hebreus, na
introdução de sua carta. Portanto, considerar o Islã uma religião abraâmica é
desconhecer o espírito do Antigo Testamento. Rigorosamente falando, nem o
próprio Judaísmo, como hoje o conhecemos, é uma religião abraâmica. Foi o que o
próprio Cristo deixou patente aos seus contemporâneos (Jo 8.40).
4. O culto levítico.
Herdeiro direto da devoção abraâmica, o culto levítico pode ser definido como a
instituição oficial da verdadeira religião confiada a Israel pelo próprio Deus.
Seu objetivo não é apenas litúrgico, mas essencialmente teológico, conforme
exorta o profeta Oseias aos seus contemporâneos (Os 6.3). Apesar de sua
imponência e exterioridade, a adoração levítica é voltada ao interior de cada
adorador de Jeová, que sempre buscou estar presente entre o seu povo.
Segundo a narrativa
sagrada, o culto levítico foi instituído pela celebração da Páscoa, na noite
que precedeu a saída dos filhos de Israel do Egito. E, tendo como fundamento
esse fato, conduziu litúrgica, didática e teologicamente os israelitas a se
apresentarem ao mundo como um povo escolhido, profético, sacerdotal e real. Um
povo, aliás, que deve a sua redenção unicamente a Jeová.
III. AS FINALIDADES DO CULTO LEVÍTICO
O culto divino, no
Antigo Testamento, tinha quatro finalidades básicas: adorar ao Único e
Verdadeiro Deus, reafirmar as alianças divinas, professar o credo mosaico e
aguardar o Messias. Era uma celebração teológica e messiânica.
1. Adorar ao Único e
Verdadeiro Deus. Ao reunir-se para adorar a Deus, a comunidade de Israel
demonstrava duas coisas: a aceitação do Único e Verdadeiro Deus e a rejeição
dos deuses pagãos (Sl 86.10; 97.9). Enfim, o culto levítico afastava os
israelitas da idolatria e aprofundava a sua comunhão com o Senhor (Sl 96.5).
Esse era o teor dos cânticos congregacionais do Santo Templo.
2. Reafirmar as
alianças antigas. Se os filhos de Israel, por exemplo, entoassem o Salmo 136,
professariam ser herdeiros das alianças que o Senhor firmara com Abraão,
Isaque, Jacó e Davi. E, assim, cultuando ao Senhor, lembravam-se de que Deus
comanda a História. Em boa parte de seus cânticos, os filhos de Israel
relembram a presença de Deus em sua vida familiar e comunal (Sl 47.9). Veja o
Salmo 105.
3. Professar o credo
divino. Em seus cultos, os israelitas, guiados pelo ministério levítico,
professavam o seu credo: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR”
(Dt 6.4, ARA). Nesta sentença, resume-se toda a teologia do Antigo Testamento.
É necessário que voltemos a recitar e a cantar o nosso credo.
4. Aguardar o
Messias. No livro de Salmos, há uma elevada cristologia, que descreve a paixão,
a morte, a ressurreição e a glorificação do Senhor Jesus Cristo como Rei dos
reis (Sl 22.1-19; 16.10; 110.1-4; 2.1-8). Um israelita crente e predisposto a
servir a Deus jamais seria surpreendido com a chegada do Messias, pois o culto
levítico era essencial e tipologicamente cristológico.
IV. OS ELEMENTOS DO CULTO LEVÍTICO
Em seu auge, o culto
divino do Antigo Testamento era composto por estes elementos: sacrifícios,
cânticos, exposição da Palavra, oração, leitura da Palavra e bênção. Isso não
significa, porém, que todo esse conteúdo estivesse presente em todas as
celebrações.
1. Sacrifícios. O
culto inaugural do Santo Templo, que teve início com a chegada da Arca Sagrada,
foi marcado por uma grande quantidade de sacrifícios de animais (1 Rs 8.5). De
forma sem igual, o rei Salomão e todo o Israel demonstraram suas ações de
graças ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
2. Cânticos. Em seguida, os cantores e músicos
puseram-se a louvar ao Senhor, entoando provavelmente os cânticos que Davi e
outros salmistas haviam composto (2 Cr 5,12,13). Nesse período, a arte musical
de Israel era a mais desenvolvida de toda região oriental.
3. Exposição da
Palavra. Logo após, Salomão dirigiu-se ao povo, fazendo uma síntese da História
Sagrada até aquele instante. Ele mostra a clara intervenção de Deus em cada
etapa da existência de Israel (2 Cr 6.1-13).
4. Oração. O rei
dirige-se, agora, a Deus em oração, agradecendo-o por aquele momento, e
intercede não só por Israel, mas pelos gentios que, ouvindo acerca da
intervenção divina na vida de seu povo, para ali acorreriam (2 Cr 14.31).
5. Leitura da
Palavra. Após o cativeiro babilônico, já no tempo de Esdras e Neemias, a
Palavra de Deus começou a ser lida publicamente como parte da liturgia do culto
(Ne 8.1-8). Nesse período, os sacerdotes puseram-se também a explicar a Lei ao
povo de Deus. Antes disso, a leitura das Escrituras limitava-se aos montes
Gerizim e Ebal (Dt 29.11).
6. Bênção. O culto
levítico era encerrado com a bênção araônica (Nm 22.6). Ao serem assim
abençoados, os filhos de Israel conscientizavam-se de que eram propriedade
particular do Senhor.
V. CULTO LEVÍTICO NA GRANDE TRIBULAÇÃO
Nos meios
evangélicos conservadores, aguarda-se com muita expectativa a restauração
escatológica do culto levítico. Que ela virá, não temos dúvidas, mas em tempos
angustiantes.
1.
A interrupção do culto judaico. O culto levítico foi suspenso em duas ocasiões
diferentes. A primeira deu-se em 586 a.C. Nessa data, os exércitos de
Nabucodonosor, após sitiarem longamente Jerusalém, destruíram a capital do
Reino de Judá e deitaram por terra o Templo de Salomão. Como se não bastasse
tamanha dor, os babilônios exilaram o escol da sociedade judaica. Essa
interrupção cultual, apesar de humilhante, não durou mais que sete décadas (Jr
25.11,12). A segunda ocorreu no ano 70 de nossa era, quando os exércitos do
general romano Tito destruíram por completo a Cidade Santa e o Templo Sagrado.
Desde então, os judeus aguardam ansiosamente a restauração de seu reino, de sua
capital e do culto levítico, que só pode ser realizado no interior da Casa de
Deus em Jerusalém. O Judaísmo sobrevive, hoje, apenas didática e
magisterialmente nas sinagogas espalhadas pelo mundo.
2. A restauração do
Santo Templo. A restauração da nacionalidade israelita já é história contada,
romanceada e cotidiana. Desde 14 de maio de 1948, o Estado de Israel vem
pontificando entre os demais países como nação forte, desenvolvida e rica; um
exemplo para os demais povos. Quanto à Jerusalém, o que podemos dizer? Ela é a
capital de Israel desde junho de 1967, por ocasião da Guerra dos Seis dias.
Quer a ONU reconheça, quer deixe de reconhecer o atual status da Cidade Santa
em relação a Israel, isso em nada mudará a realidade profética e histórica dos
filhos de Abraão.
No que tange, porém,
ao Templo de Deus, a situação torna-se bem mais complicada. Como reerguer o
Santuário Divino se, ali, onde outrora fora erguido, encontra-se hoje uma
mesquita muçulmana? Não é fácil responder a essa pergunta. Não obstante, a
profecia bíblica não deixa dúvidas: o Santo Templo em breve será reerguido.
Veja como Daniel trata o assunto: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma
semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares;
sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está
determinada, se derrame sobre ele” (Dn 9.27, ARA).
A profecia é clara.
Na Septuagésima Semana, o Templo, com todas as suas liturgias e oferendas,
estará funcionando plenamente em Jerusalém. Mas, na metade dessa mesma semana,
o Anticristo romperá a aliança com Israel para instaurar um reino diabólico
que, a partir de Jerusalém, dominará todo o sistema religioso mundial. É por
isso que a Cidade Santa, nesse período, será conhecida espiritualmente como
Egito e Sodoma (Ap 11.8). O apóstolo Paulo diz o mesmo em sua Segunda Epístola
aos Tessalonicenses (2.1-12). Devemos olhar a restauração do culto levítico, no
período da Septuagésima Semana, não como ação divina, mas como ato oportunista
de Satanás. Apesar de o Templo ser chamado Casa de Deus, não será reerguido
pelo Deus da Casa, pois nesse santuário, mais ecumênico e político que
propriamente religioso, o Diabo, por intermédio do Falso Profeta, respaldará
todas as ações da Besta que emergirá do mar, conforme lemos no capítulo 13 de
Apocalipse.
Das profecias
mencionadas, inferimos que o restabelecimento do culto levítico, nessa ocasião,
não levantará a ira dos muçulmanos nem da cristandade apóstata. Pelo menos até
o início da segunda metade da Septuagésima Semana. No entanto, após os judeus
romperem com o homem do pecado, o mundo todo, orquestrado pelo Anticristo,
levantar-se-á contra Israel. Garante a profecia que, nesse momento, o arcanjo
Miguel, príncipe dos exércitos do Senhor, comandará a defesa dos filhos de
Abraão (Dn 12.1). Será um período tão difícil aos judeus, que o profeta
Jeremias refere-se a ele como o tempo da angústia de Jacó (Jr 30.7).
A restauração do
culto levítico, no período da Grande Tribulação, levará em conta apenas a Lei
de Moisés, em si, e não o seu cumprimento em Jesus Cristo. Portanto, não terá
qualquer efeito messiânico nem soteriológico; seu objetivo, conforme já
dissemos, será mais ecumênico e político do que religioso. Como se vê, até o
próprio Diabo acha-se interessado no restabelecimento do culto divino, desde
que o centro desse culto seja ele, e não o Deus que merece toda a glória,
louvor e ações de graças.
VI. O CULTO LEVÍTICO NO MILÊNIO
Neste tópico,
buscaremos responder a esta pergunta: qual a diferença entre o Templo da Grande
Tribulação e o do Milênio? Se, de acordo com a Epístola de Hebreus, os
sacrifícios e dons da Antiga Aliança não passavam de sombras das coisas
futuras, por que retroceder a esses recursos que, hoje, são vistos como
meramente didáticos? É o que tentaremos responder nas linhas a seguir.
1. O restabelecimento
do Milênio. Terminada a Grande Tribulação, haverá um período de 45 dias até que
o Senhor Jesus, juntamente com os seus santos, desça a Terra, para estabelecer
o Milênio. Pelo menos é o que eu entendo desta profecia final de Daniel:
“Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação
desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias. Bem-aventurado o que
espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias” (Dn 12.11,12, ARA).
Leia novamente Daniel 9.27.
Vê-se, pois, que o
culto levítico, na Septuagésima Semana, será interrompido após três anos e
meio. E, a partir daí, até o término dessa mesma semana profética, haverá
outros três anos e meio, mais um misterioso acrescimento de 45 dias. Por que
esse mês e meio? Até agora, não descobri. Vejo, nessa passagem, uma das
profecias mais difíceis da Bíblia Sagrada. O certo é que o remanescente fiel do
Senhor, provindos das 12 tribos, terá de amargar mais 45 dias de espera,
perseverança e fé na intervenção divina. No final desse tempo, o Reino Milenial
será uma realidade, e não uma utopia escatológica, como imaginam muitos
teólogos incrédulos.
2. O culto levítico
no Milênio. Ezequiel dedica os derradeiros capítulos de seu livro a descrever o
Reino de Israel no final dos tempos. No capítulo 40, por exemplo, o profeta
descreve o Templo de Deus como estando situado num monte alto e bem destacado
no cenário das terras sagradas. Que monte seria este? O Sião? Ou o das
Oliveiras? Não nos é possível responder com precisão a essa pergunta. Mesmo
porque a escatologia bíblica é uma ciência que se revela aos poucos; quanto
mais a percorremos, mais nos acercamos de suas verdades (Dn 12.4).
O Templo do Milênio,
ao contrário do da Grande Tribulação, será a expressão do amor de Deus por Israel.
E, desse magnífico santuário, sairão as leis e mandamentos do Senhor para reger
todas as nações da Terra, durante o reinado de mil anos de Nosso Senhor.
3. Os sacrifícios e
oferendas levíticas no Milênio. À luz das epístolas aos gálatas e aos hebreus,
como entender esta passagem de Ezequiel: “Durante sete dias, prepararás cada
dia um bode para oferta pelo pecado; também prepararão um novilho e, do
rebanho, um carneiro sem defeito”? (Ez 43.25, ARA). Não parece isso uma
contradição com essa afirmação de Hebreus: “Havendo Deus, outrora, falado,
muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos
dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo
qual também fez o universo”? (Hb 1.1,2, ARA) Para entendermos os nove últimos
capítulos de Ezequiel, à luz de nossa escatologia, precisamos ver o
restabelecimento do culto levítico, no Milênio, não mais como sombra dos bens
futuros, como ocorria no Antigo Testamento, mas como um memorial do que
aconteceu em o Novo Testamento. Ou seja: todas as vezes que os levitas, no
Milênio, sacrificarem ao Senhor, não mais o farão perspectivamente, aguardando
a chegada do Messias, mas retrospectivamente, olhando para o Calvário, onde
Cristo foi oferecido, de uma vez por todas, por toda a humanidade. Da mesma
forma não fazemos, hoje, quando celebramos a Ceia do Senhor? Esta, apesar de
não ser um sacrifício, remete-nos de imediato ao Sacrificado — Jesus, Senhor
Nosso.
CONCLUSÃO
O livro de Levítico,
embora já cumprido nas Escrituras do Novo Testamento, ainda tem muitas lições a
ensinar-nos. Se o lermos à luz, por exemplo, da Epístola aos Hebreus,
entenderemos a didática que o Senhor usou para conduzir os filhos de Israel ao
Calvário. Infelizmente, estes não foram capazes de entender a essência das
oferendas e sacrifícios do Tabernáculo e do Santo Templo. O que era temporário
viam eles como algo permanente.
Nós, que já
recebemos Jesus Cristo como Salvador, regozijamo-nos, porque, agora, não mais
necessitamos de sacerdotes humanos para achegarmo-nos a Deus. Hoje, por
intermédio do sangue de Cristo, temos livre acesso ao trono da graça. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário