sábado, 4 de agosto de 2018

Subsídio 6 - A doutrina do Culto Levítico

Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
Autor: Claudionor de Andrade.
Fonte da imagem  LBM Digital.

Em cada livro da Bíblia Sagrada, há uma teologia implícita. Minha experiência pessoal é que, em alguns deles, só viremos a descobri-la por meio de uma leitura atenta, piedosa, reflexiva e clamante. A partir daí, ser-nos-á possível ouvir o que o Espírito Santo diz às igrejas. No Evangelho de João, a teologia é patente (Jo 20.31). No Levítico, é tácita; requer-se esforço concentrado para se alcançá-la.

Neste capítulo, consideraremos a teologia que subjaz ao terceiro livro do Pentateuco. Em suas celebrações e ordenanças, repousam princípios eternos aplicáveis tanto à congregação de Israel, no deserto, quanto à Igreja de Cristo, em sua militância rumo à Jerusalém celeste.

Logo de início, estabeleceremos um contraste entre a religião de Israel e a do Egito. Se a primeira tinha a Deus por Senhor, a segunda, desprezando-o também como Criador, adorava a criatura, como se a criação fosse, em si mesma, uma divindade.


I. ISRAEL VERSUS EGITO

Quando Israel desceu ao Egito, o Faraó ainda conservava algum resquício do monoteísmo adâmico e noético. Bastaram, porém, quatro séculos para que a religião egípcia viesse a degenerar-se num politeísmo bizarro, indecente, cruel e blasfemo. Se os primeiros reis egípcios mostravam temor a Deus, o Faraó do Êxodo ergue-se como o arqui-inimigo de Jeová.

Vejamos, pois, como ambos os povos viam o mundo, a partir de sua religião.



1. A excelência da teologia hebreia. Os filhos de Israel professavam ousadamente a sua crença no Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Nesse credo simples e até despretensioso, demonstravam aos demais povos que o seu Deus, embora transcendente, era também imanente. Se, por um lado, estava além da criação, por outro, não se confundia com nada criado. Mas, nem por isso, omitia-se em se revelar às suas criaturas morais: anjos e homens.

Se perguntássemos a um hebreu do Antigo Testamento se Deus existe, responder-nos-ia ele que o Todo-Poderoso não se limita a existir; Jeová simplesmente; assim revelara se a Moisés: “Eu sou o que sou” (Êx 3.14).

Caso, porém, fizéssemos igual pergunta a um egípcio dessa mesma época, ouviríamos uma resposta desencontrada e teologicamente confusa: “Que deus?”. Para esse homem, até Faraó era uma divindade; um deusinho entre milhares de outros. E quanto ao “poderoso” Rá-Atum? Honrado como o criador dos céus, da terra e do ser humano, só mostrava a cara ao meio-dia. Às 13 horas, ei-lo a desaparecer até ser encoberto pela escuridão.

E Isis e Osíris? Filhos de Geb e Nut, ignorando as leis do incesto, casaram-se entre si. Apesar de suas relações tortuosas, saíram a cavilar a adoração dos egípcios. Como estes eram também incestuosos e moralmente enfermos, não tiveram qualquer problema ético em aceitá-los como padroeiros. Cada povo tem a divindade que merece. Desprezando o Deus Vivo e Verdadeiro, foram os egípcios plasmando deuses mortos e falsos; deuses que se conformavam às suas lascívias, iniquidades e pecados.

Se fôssemos apresentados a Set, ficaríamos ainda mais confusos. Adorado como o responsável pelo caos e pelas guerras, era representado, no panteão egípcio, como um porco-formigueiro. Já ideou um deus com tal aparência?

Não imagine qualquer pericorese entre as divindades do Egito. Ciumentos e raivosos viviam às turras; brigavam muito. Em nada diferiam dos moradores do Olimpo: adulteravam, matavam, roubavam; eram piores do que os seres humanos. Como poderiam eles ordenar aos seus devotos: “Sede santos, porque nós, vossos deuses, somos santos?”.



2. A coerência da cosmologia hebreia. Além de acreditarem na realidade de um Deus Único e Verdadeiro, os hebreus acreditavam também que esse mesmo Deus, no princípio da História Sagrada, criara os Céus, a Terra e o ser humano. De forma singela, o profeta Moisés narra a criação de tudo quanto existe:
No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz. Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia. (Gn 1.1-5)

A cosmologia hebreia pode ser condensada numa declaração teológica que se fez credo: “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3, ARA). Pode haver explicação mais lógica e coerente para o aparecimento de tudo quanto existe? Nem mesmo a teoria do Big Bang, embora tão decantada academicamente, reúne a explicação necessária para uma cosmologia que nos atenda aos reclamos mínimos da mente. Somente a Bíblia Sagrada pode dar-nos as respostas de que precisamos.

Voltemos à cosmologia egípcia. Antes de tudo, consideremos as fragilidades e limitações do deus egípcio que tudo criou; não tinha ele sequer o atributo da eternidade. Embora criador, fora criado a partir de águas inquietas e turbulentas. Saindo destas, transformou-se no sol do meio-dia.

Em seguida, Rá-Atum gerou, conjugando-se à própria sombra, a deusa Tefnut, a umidade. Não demorou a chegar-lhe outro filho: Shu, o ar. Estes, por sua vez, tiveram seus próprios descendentes. Vieram Geb e Nut que, respectivamente, são a Terra e o Céu.

Para mim, a cosmologia egípcia não passa de uma parábola científica de qualidade duvidosa; inferior mesmo. Infelizmente, tal parábola mitologizou-se, gerou deuses e deusas, aqueles nefastos e estas despudoradas. A propósito, que família de bem receberia Hathor em casa? Mestra na prostituição que se deleitava em destruir lares.



3. A antropologia egípcia. O hebreu via a si próprio como imagem e semelhança de Deus; não ignorava as palavras do Gênesis: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26, ARA).
Mais adiante, Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, narra a feitura de Adão: “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7, ARA). Pode haver mais candura e simplicidade na descrição de nossa origem? Sem recursos mitológicos e sem o concurso de fantasias, o profeta descreve o aparecimento do homem sobre a Terra. Até hoje, não encontrei explicação melhor. Concentremo-nos, agora, na antropologia egípcia, que, na verdade, não passa de um trecho confuso de sua cosmologia. Segundo a mitologia egípcia, o deus Rá-Atum também foi o responsável pela criação do ser humano. Iracundo e carregado de lascívia, ira, inveja e orgulho, plasmou ele, a partir de águas nada calmas, um ser que lhe refletisse o caráter: o homem já caído da graça. Vejo-me obrigado a repetir a pergunta: como um deus como Atum podia requerer de seus adoradores: “Sede santos, porque eu sou Santo?”. As fofocas de Heoliópolis, onde moravam os deuses do Egito, dizem que ele era um onanista viciado. Como orar a um deus, cuja folha corrida era tão extensa e vergonhosa?

II. A TERRA É DO SENHOR

O livro de Levítico reafirma, por meio de suas ações litúrgicas, as teologias do Gênesis e do Êxodo; mostra que Deus, sendo o Criador dos Céus e da Terra, tem de ser adorado por tudo quanto existe e por tudo o que temos.



1. Deus é o Criador dos Céus e da Terra. Se o Gênesis mostra que Deus criou tudo quanto existe, o Levítico reivindica dos israelitas que consagrem tudo ao Senhor (Gn 1.1; Lv 1.1-17). Ao mesmo tempo, exorta-os didaticamente, por meio das ofertas e sacrifícios, a jamais oferecer honras a ídolo algum (Lv 19.4).

No panteão faraônico, a Terra era idealizada pelo deus Geb; um representante bem-apanhado do sexo masculino. E, para acompanhá-lo, ali estava a deusa Nut, responsável pelo bom andamento do céu. Diante dessa extravagante narrativa, o que esperar dos egípcios? Não é de admirar que eles adorassem o seu país, como se este fosse o centro do Universo e a morada de todos os deuses. Mas para eles, suas divindades, ao invés de se espalharem pelo Egito, concentravam-se relaxadamente em Heliópolis, onde reinava Rá-Atum sobre todos.

Nesse processo idolátrico, residia um projeto de poder, que consistia em eternizar os Faraós sobre o governo do Egito. O mandatário egípcio, tendo à sua disposição toda uma academia de astrólogos, magos e bruxos, mitologizava habilmente a própria imagem. Esse marketing era tão poderoso que, com exceção dos “sábios”, todos imaginavam que o Faraó descendia diretamente de Osíris. A lógica política, que subjazia a essa propaganda oficial, era ardilosa, cruel e mentirosa. Sendo o rei um deus, a terra sobre a qual reinava também era uma divindade. Por que contrariar os deuses? A fim de esvaziar o panteão egípcio, Deus enviou às terras de Faraó dez formidáveis pragas. Nesse décuplo castigo, todas as divindades egípcias viram-se por terra. Nem o Nilo escapou. E, como derradeiro castigo, o Senhor puniu a própria casa de Faraó, matando-lhe o primogênito. Com a morte deste, caía o mito de Osíris.

Consideremos as dez pragas não apenas como açoite ao Egito, mas principalmente como preciosa lição aos filhos de Israel. Apesar de sua crença monoteísta, o seu contato prolongado com a religião egípcia levou-os a uma espécie de henoteísmo. E, agora, apesar de ainda crerem no Deus de Abraão, não deixavam de crer nos deuses de Faraó. Não foi sem razão que caíram em diversas apostasias durante a caminhada à Terra Prometida. É claro que, entre os hebreus saídos do Egito, havia um núcleo fiel, que jamais se deixou embair pela mitologia egípcia. A maior parte, todavia, acabou por cair no deserto.

Na verdade, não foi difícil tirar Israel do Egito. Difícil mesmo foi arrancar o Egito de Israel. O que esperar de um povo que estava disposto a trocar a sua liberdade por melões e pepinos? Essa mesma gente acabaria por barganhar o seu Deus por um mísero bezerro de ouro; reminiscência da idolatria egípcia.

O Egito, como as demais nações, não pertencia ao Faraó nem ao seu querido primogênito; o mundo todo pertence a Deus. Logo, nenhuma terra em particular pode ser idolatrada.

Se do Senhor é a Terra, como devemos proceder?

Hoje os pecados ligados à Terra são estranhos e muitos. Vão desde a posse criminosa de vastas e preciosas glebas, que poderiam nutrir milhões de famílias, até à ecolatria. Que o planeta deve ser preservado, ninguém discorda. Mas daí a adorar a criação em lugar do Criador é um absurdo. Nos dias de hoje, a Terra é adorada como a deusa Gaia. Ontem, uma divindade masculina; hoje, feminina. Até o planeta foi submetido ao processo pós-moderno de afeminação. Para evitar tais arroubos, o livro de Levítico mostra o nosso planeta, em seus sacrifícios e oferendas, como obra de Deus. Todo israelita é exortado a adorar somente ao Senhor.

2. Deus é o libertador de Israel. O livro de Levítico patenteia aos filhos de Israel que Deus é o seu único libertador. Por esse motivo, nenhum israelita poderia comparecer diante do Senhor de mãos vazias (Êx 23.15).

A teologia de Levítico tinha uma lógica simples e perfeitamente compreensível: se toda a Terra é do Senhor, logo todos os seus moradores devem adorá-lo com os produtos de suas rendas. Nesse sentido, a religião do Antigo Testamento ia além da mera liturgia. Toda vez que um israelita oferecia um sacrifício a Jeová, quer pacífico, quer por sua iniquidade, ele confessava dramaticamente reconhecer o senhorio divino sobre tudo que existe.

O adorador agradecia também ao Senhor pelo Êxodo. Por esse motivo, a teologia de Levítico era essencialmente memorialista; o Libertador de Israel jamais poderá ser esquecido. Ele será lembrado em cada sacrifício, oferta e apresentação.
Por que não agimos assim também? Deveríamos apresentar nossos dízimos e ofertas ao Senhor de forma litúrgica e memorial. Em oração e profundas ações de graças, levemos as primícias de nosso lavor à sala do tesouro, conforme recomenda-nos o Senhor, por intermédio de seu profeta (Ml 3.10). Os princípios do terceiro livro do Pentateuco não foram sepultados no Antigo Testamento, mas revivem no espírito da Nova Aliança. Não quero dizer, com isso, que devamos judaizar-nos; isso seria apostatar da verdadeira fé. Mas que temos de reconhecer os benefícios recebidos do Senhor, não há dúvida.

Jesus Cristo, por intermédio de seu sangue, libertou-nos do pecado, do mundo e do próprio Diabo. Por que não honrá-lo com as primícias de nossas primícias?

3. Israel é o templo de Deus. A teologia de Levítico tinha por objetivo, ainda, conscientizar Israel de sua vocação divina (Lv 20.26). Logo, toda a nação israelita era um templo de adoração ao Senhor. (Lv 10.3). O povo hebreu não era uma mera teocracia; era a congregação de Jeová. (Lv 9.23).

Tenho para mim que a maior teocracia atual é a Coreia do Norte. Suplanta até mesmo o país dos aiatolás. Pelo menos foi a impressão que tive ao assistir a um documento sobre esse hermético país do Extremo Oriente. Apesar de seu ateísmo militante, a religião, ali, é praticada radical e ostensivamente. Altares e nichos são encontrados em todos os lugares. Se formos a Pyongyang, teremos a impressão de que a cidade toda é um grande e suntuoso templo. Mas não pense você que, neste altar, há um santo católico, e, naquele, um budista, e, naquele outro, um hindu. O único deus encontradiço naquele perímetro silente e ameaçador é o grande líder e seus “onipresentes” antepassados. A mesma impressão teremos se visitarmos alguns países da América Latina. Haja vista o ocorrido na Venezuela. O falecido presidente Hugo Chaves foi de tal forma idolatrado, que chegaram inclusive a adaptar-lhe uma oração do “pai nosso”. Até o nosso país já correu semelhante risco. Se é para adorar a Deus, estamos aqui. Mas, se é para adorar o homem ou o demônio, que o Senhor nos guarde.

Se nos fosse possível voltar à cidade egípcia de Tebas, veríamos que, ali, nos dias de Moisés, era mais fácil topar com um deus do que com um homem. Aqui, estava Rá-Atum. Lá, Osíris. E, mais adiante, a deslavada Hathor. A capital do Egito mais parecia um santuário a céu aberto do que um centro urbano. Se estendêssemos a excursão até Heliópolis, seríamos tomados pela revolta que levou Paulo a enojar-se de Atenas. Mas, entre tantos deuses e deusinhos, não encontraríamos um único altar consagrado ao Deus Desconhecido.

Ora, se o Egito era um templo dedicado a deuses que, rigorosamente, nem deuses eram, por que a herança de Jacó, em Canaã, não poderia ser também um santuário consagrado ao Deus de Abraão e de Isaque? Essa era a proposta da teologia levítica. Mas, para que isso se fizesse realidade, alguns estágios eram imprescindíveis. Antes de tudo, o povo hebreu teria de assumir sua identidade como congregação de Jeová. Isso significa que os israelitas precisavam superar, com urgência, as diferenças tribais, as arestas culturais e dialetais e, principalmente, as barreiras políticas que, a essa altura, já eram bem visíveis. Sem comunhão, não pode haver povo de Deus.

A congregação de Jeová teria de ser tão unida que, aos olhos dos gentios, deveria parecer um único povo. Dessa forma, ao adentrarem a Terra Prometida, os israelitas não enfrentariam maiores dificuldades em transformá-la num templo a céu aberto.

Nalguns momentos de sua história, os israelitas estiveram perto de alcançar tal meta. Reis como Davi, Salomão (na primeira etapa de seu reinado), Josafá, Ezequias e Josias muito lutaram por esse ideal. Pelo que lemos no profeta Ezequiel, a comunhão plena e messiânica entre os hebreus somente virá a ocorrer com o estabelecimento do Reino Milenial, após a Grande Tribulação.

Numa leitura mais atenta de Levítico, aprendemos que a intenção do autor sagrado era conduzir didática e profeticamente Israel a ser a congregação e a Casa do Senhor. Alcançado esse ideal, por que precisariam eles de uma edificação tão suntuosa como a de Salomão? Como os israelitas eram tardos em assimilar as lições divinas, acabariam por idolatrar até mesmo o primeiro Templo (Jr 7.4).



III. OS ANIMAIS E OS VEGETAIS SÃO DO SENHOR

A teologia do Levítico mostra a criação como serva do Criador. Por esse motivo, os animais e os vegetais, em Israel, não eram adorados, mas serviam para glorificar a Deus.

1. No Egito, os animais eram deuses. Os egípcios não faziam distinção entre o Criador e a criação, nem estavam preocupados em distinguir os animais limpos dos impuros. Por isso, adoravam o boi, o crocodilo, o falcão e até o gato (Rm 1.25). Eis porque Deus, ao punir o Egito com as dez pragas, mostrou quão inúteis eram os deuses egípcios.

O panteão egípcio, diferentemente do grego, parecia mais um zoológico do que um depósito de deuses. Examinemos o caso de Thot. Patrono dos estudos, da escrita e dos cálculos, era representado por um homem com uma imensa cabeça de macaco. No Levítico, o babuíno nem mencionado é. Mas os egípcios veneravam-no como divindade.

2. Os animais e a adoração a Deus. Ao contrário dos egípcios, os israelitas não se davam ao culto dos animais. Mas os apresentavam em sacrifício ao Senhor (Lv 1.2). Além disso, faziam distinção entre os animais limpos e impuros (Lv 11). O povo de Israel sabia que os animais não são deuses, e, sim, criaturas do Deus que as sustenta (Sl 104.14).

Quanto aos egípcios, tinham eles como deus o boi que, em sua mitologia, representava dois deuses: Osíris e Ptá. A primeira divindade era, às vezes, descrita como um morto-vivo; um amedrontador zumbi. Em Israel, de acordo com as recomendações levíticas, o gado vacum tinha apenas três finalidades: trabalho, alimentação e adoração ao Senhor.

Lembremo-nos do carneiro. Na mitologia faraônica, era o deus Knum, cuja função era moldar, qual oleiro, a aparência de deuses e dos homens. No sistema levítico, iria logo para o altar, quer para representar um sacrifício pacífico, quer para oficiar uma oferenda pelo pecado.

3. Os vegetais e a adoração a Deus. O mesmo Deus que preconiza a preservação da natureza condena a sua idolatria; prática corriqueira entre os antigos cananeus (1 Rs 14.23). Já em Israel, os frutos da terra serviam para duas coisas: nutrir o povo e adorar a Deus; gratidão àquEle que “[faz] a terra dar a sua messe e, a árvore do campo, o seu fruto” (Lv 23.10; 26.4,5, ARA).

Que Deus nos guarde da idolatria. Às vezes, sem o percebermos, tornamo-nos tão idólatras quanto os egípcios do Faraó. Se retivermos o fruto da terra, e deixarmos o faminto perecer de fome, o que é isso senão avareza; abjeta idolatria (Cl 3.5)? A Terra é do Senhor. Logo, todas as suas novidades e produtos lhe pertencem. Então, que tudo seja-lhe apresentado em ações de graça.



IV. O SER É DO SENHOR

A teologia levítica realça a sacralidade da vida humana como imagem e semelhança de Deus. Em Israel, ao contrário das culturas cananeias, estava proibido o sacrifício humano, pois o verdadeiro sacrifício a Deus é um coração humilde e contrito (Is 57.15).

1. O ser humano é a imagem de Deus. O livro de Levítico corrobora a teologia do Gênesis ao mostrar que o ser humano foi criado por Deus (Gn 1.26). Em suas páginas, há vários dispositivos, visando promovê-lo como a obra-prima das mãos divinas. Por essa razão, o crente israelita era exortado a zelar do corpo e da alma (Lv 14.8a; 15.13; 20.7). Só agradaremos a Deus se vivermos com a excelência que Ele requer de cada um de nós.

No Egito, a única vida sagrada era a do Faraó. Segundo alguns mitólogos, descendia ele de Osíris; de acordo com outros, do prepotente Rá-Atum. Por essa razão, como já dito, toda a medicina egípcia era voltada a cuidar tanto da vida quanto da morte desse soberano. Na verdade, a primeira ocupação dos médicos da corte egípcia era preparar o rei, a fim de que, na outra vida, pudesse ele reinar com igual ventura e felicidade. Haja vista o cuidado dispensado ao embalsamamento de um Faraó.

2. A vida humana é sagrada. O crente israelita era exortado a ver a vida de todos os homens como sagrada. Por isso, não poderia, sob hipótese alguma, consagrar sua descendência aos ídolos (Lv 18.21). Todos os filhos de Israel tinham de ser consagrados ao Senhor; propriedade peculiar do Senhor. No início de sua história, os egípcios de fato davam-se à prática de sacrifícios humanos. Mas, com o tempo, foram abandonando tal hábito. Quando os filhos de Israel lá chegaram, por volta de 1900 a.C., já não se tinham notícias de semelhantes oferendas. Isso não significa, porém, que os reis egípcios fossem clementes ou benévolos com seus adversários. Se lhes fosse conveniente, até recém-nascidos lançavam ao Nilo.

3. O ser humano é servo e adorador de Deus. Se os israelitas observassem a Lei de Moisés, não teriam dificuldades em viver a essência de sua teologia. No livro de Levítico, seriam conduzidos a uma vida de santidade, pureza e serviço ao Senhor. Mas, em consequência de suas muitas apostasias, não puderam alcançar o cerne teológico das celebrações e sacrifícios prescritos.

No tempo de Isaías, a situação espiritual da nação estava de tal forma degenerada, que Deus censurou-a energicamente:

Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo; sim, obra maravilhosa e um portento; de maneira que a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a prudência dos seus prudentes se esconderá. (Is 29.13, ARA).

Como os israelitas foram incapazes de viver a essência teológica da Lei de Moisés, o Senhor anunciou-lhes as consequências de sua rebelião e apostasia.



V. A ESCATOLOGIA LEVÍTICA

No capítulo 26 do livro de Levítico, estampa-se o futuro de Israel. A escatologia dessa passagem, apesar de seus rigores e disciplinas, é amorosa e redentora; não deixa os judeus sem esperança.



1. Um chamado à obediência. Já de início, o Senhor exorta Israel a evitar dois graves pecados: a idolatria e a profanação do sábado. A primeira transgressão sempre acabava por levar à segunda. Ouçamos a advertência divina:

Não fareis para vós outros ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura nem coluna, nem poreis pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o SENHOR, vosso Deus. Guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o SENHOR. (Lv 26.1, ARA)

2. A promessa da obediência. Se os israelitas se ativessem à Lei de Moisés seriam abençoados em todas as coisas, conforme lhes promete o Senhor:



Se andardes nos meus estatutos, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes, então, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua messe, e a árvore do campo, o seu fruto. A debulha se estenderá até à vindima, e a vindima, até à sementeira; comereis o vosso pão a fartar e habitareis seguros na vossa terra. Estabelecerei paz na terra; deitar-vos-eis, e não haverá quem vos espante; farei cessar os animais nocivos da terra, e pela vossa terra não passará espada. Perseguireis os vossos inimigos, e cairão à espada diante de vós. Cinco de vós perseguirão a cem, e cem dentre vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós. Para vós outros olharei, e vos farei fecundos, e vos multiplicarei, e confirmarei a minha aliança convosco. Comereis o velho da colheita anterior e, para dar lugar ao novo, tirareis fora o velho. Porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma não vos aborrecerá. Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo. Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para que não fôsseis seus escravos; quebrei os timões do vosso jugo e vos fiz andar eretos” (Lv 26.3-13, ARA).


3. O castigo pela desobediência. Mas se Israel ignorasse os mandamentos divinos, seria castigo dentro e fora de seus termos.

Tornar-se-ia motivo de zombaria e escárnio perante os gentios:

Mas, se me não ouvirdes e não cumprirdes todos estes mandamentos; se rejeitardes os meus estatutos, e a vossa alma se aborrecer dos meus juízos, a ponto de não cumprir todos os meus mandamentos, e violardes a minha aliança, então, eu vos farei isto: porei sobre vós terror, a tísica e a febre ardente, que fazem desaparecer o lustre dos olhos e definhar a vida; e semeareis debalde a vossa semente, porque os vossos inimigos a comerão. Voltar-me-ei contra vós outros, e sereis feridos diante de vossos inimigos; os que vos aborrecerem assenhorear-se-ão de vós e fugireis, sem ninguém vos perseguir. Se ainda assim com isto não me ouvirdes, tornarei a castigar-vos sete vezes mais por causa dos vossos pecados. Quebrantarei a soberba da vossa força e vos farei que os céus sejam como ferro e a vossa terra, como bronze. Debalde se gastará a vossa força; a vossa terra não dará a sua messe, e as árvores da terra não darão o seu fruto. E, se andardes contrariamente para comigo e não me quiserdes ouvir, trarei sobre vós pragas sete vezes mais, segundo os vossos pecados. Porque enviarei para o meio de vós as feras do campo, as quais vos desfilharão, e acabarão com o vosso gado, e vos reduzirão a poucos; e os vossos caminhos se tornarão desertos. (Lv 26.14-22, ARA).

4. A escatologia da esperança. No arrependimento nacional, o Deus de Abraão manifestar-se-á novamente aos filhos de Israel:

Mas, se confessarem a sua iniquidade e a iniquidade de seus pais, na infidelidade que cometeram contra mim, como também confessarem que andaram contrariamente para comigo, pelo que também fui contrário a eles e os fiz entrar na terra dos seus inimigos; se o seu coração incircunciso se humilhar, e tomarem eles por bem o castigo da sua iniquidade, então, me lembrarei da minha aliança com Jacó, e também da minha aliança com Isaque, e também da minha aliança com Abraão, e da terra me lembrarei. Mas a terra na sua assolação, deixada por eles, folgará nos seus sábados; e tomarão eles por bem o castigo da sua iniquidade, visto que rejeitaram os meus juízos e a sua alma se aborreceu dos meus estatutos. Mesmo assim, estando eles na terra dos seus inimigos, não os rejeitarei, nem me aborrecerei deles, para consumi-los e invalidar a minha aliança com eles, porque eu sou o SENHOR, seu Deus. Antes, por amor deles, me lembrarei da aliança com os seus antepassados, que tirei da terra do Egito à vista das nações, para lhes ser por Deus. Eu sou o SENHOR. (Lv 26.40-45, ARA).



CONCLUSÃO

A teologia de Levítico pode ser resumida numa única expressão: obediência e fé. Se o nosso culto não for acompanhado de fé e obediência, Deus jamais se agradará de nós. De nada adianta uma liturgia bonita e imponente; liturgia sem piedade é coisa inútil. Se o nosso culto, porém, vier acompanhado pelo amor, haverá, então, resgate de preciosas almas e promoção do Reino dos Céus na Terra. Que o Senhor nos ajude em nossa peregrinação. Aqui, quantas lutas e tribulações. Ali, junto a Deus, desancaremos de todos os nossos pesares.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

LEITURA DIÁRIA - A DOUTRINA DO CULTO LEVÍTICO.

Segunda – Sl 24.1 . Do Senhor é a Terra.
    A primeira grande divisão do salmo trata das exigências da verdadeira adoração — primeiro, em relação ao seu Objeto e, segundo, em relação àqueles que adoram.
a) Aquele que é adorado (24.1-2). Uma identidade do Objeto da verdadeira adoração é estabelecida com a reivindicação da soberania universal pelo Deus de Israel. Não existem limitações para a autoridade e domínio de Deus quanto a um espaço especial ou tempo. Toda terra (1) em sua plenitude; o mundo e todos aqueles que nele moram pertencem ao Senhor e são sujeitos a Ele. Aqui está prefigurada a reivindicação do Evangelho sobre toda criatura, em todo lugar e por todo o tempo. A reivindicação de Deus está baseada na sua criação: Porque ele a fundou sobre os mares e a firmou sobre os rios (2). Além dessa razão fortíssima, o NT acrescenta outra. Deus não somente fez a terra e aqueles que nela habitam, mas também a redimiu. Ela é sua por meio de um duplo direito: o direito da criação e o direito da redenção ou compra (Rm 14.8-9; 1 Pe 1.18-19). ( DO LIVRO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON)


Terça – Lv 19.4 . Nenhum ídolo pode tomar o lugar de Deus.
   O tema é indicado na ordem: Santos sereis (2). Deus é a Fonte de toda a santidade, 1,2; 2) Deus é o Padrão da santidade, 2; 3) Santidade é separação do mal e separação para Deus, 3,4 (G. B. Williamson).
( DO LIVRO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON)



Quarta – Êx 23.15 . Ninguém se apresentará de mãos vazias a Deus.

    Imediatamente após a Páscoa, a festa continuava por sete dias (ver comentários em 12.15-20). Esta festa comemorava particularmente a fuga do Egito e era celebrada levando presentes a Deus. O versículo 15 diz: “Ninguém apareça de mãos vazias perante mim” (ARA). ( DO LIVRO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON)



Quinta – Lv 1.2 . Os animais como oferta no culto divino.

        Há muito que os estudiosos se empenham em achar a idéia controladora por trás dos sacrifícios religiosos. Alguns sugerem que seja comunhão, ato simbolizado pela refeição comum. Outros enfatizam a propiciação, a substituição ou a gratidão festiva. E óbvio que o sacrifício é algo multifacetado da mesma maneira que é a relação do homem com Deus. Envolve comunhão, mas comunhão com Deus implica em propiciação, gratidão e petição.
            Assim, nossa atenção é remetida novamente à ideia de proximidade e intimidade com Deus. Tudo que diz respeito a aproximar-se de Deus está implícito no sacrifício. Este conceito explica as cinco variedades de ofertas analisadas nos capítulos a seguir: holocausto, oferta de manjares, oferta de paz, oferta pelo pecado e oferta pela culpa. Cada oferta fala de uma faceta diferente da proximidade com Deus.
            Levítico toma por certo que quando os homens se achegam a Deus, eles não devem ir de mãos vazias. Há algo sobre a relação que torna correto e apropriado os homens levaram uma oferta. Desde os tempos do Novo Testamento é fácil esquecer esta verdade. Mas sempre temos de nos lembrar de que, embora os crentes possam se aproximar de Deus com ousadia, eles não devem ir de mãos vazias. Sob o antigo concerto, os adoradores iam com dádivas próprias. Hoje, os crentes vão com a própria Dádiva de Deus, seu Filho Jesus, como base de aproximação e intimidade dos adoradores com Deus.
( DO LIVRO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON)


Sexta – Rm 12.1-3 . O nosso culto racional.

1. Consagração (12.1)
            O sacrifício da expiação oferecido por Deus na pessoa do seu Filho agora deveria encontrar a sua resposta no crente no sacrifício de uma completa consagração e de uma íntima comunhão.

            Rogo (parakalo) pode ser traduzido como “eu exorto” (Wesley), “eu apelo” (RSV), “eu insisto” (NASB), “eu imploro” (NEB). E diferente de um mandamento legal porque apela para um sentimento já existente no coração, a compaixão de Deus (ton oiktirmon tou theou, “as compaixões de Deus”; cf. 9.156).6 A palavra também pode significar “confortar”.7 “Exortar é falar palavras calculadas, para levar à ação ou à perseverança”.8 “Em grato reconhecimento ao que Deus na sua infinita compaixão fez por você, ao perdoar os seus pecados e ao receber você de volta à sua graça através de Cristo, eu exorto você a fazer a Ele uma consagração completa do seu corpo em sacrifício vivo”. Este é o apelo de Paulo aos irmãos romanos (adelphoi] cf. 1.13).
Apresenteis (parastesai) não é por si um termo de sacrifício. Em 6.13,16,19 é traduzido como entregar e também apresentar, e é usado para expressar a idéia de colocar o corpo à disposição de Deus ou do pecado (cf. também 2 Co 4.14; 11.2; Ef 5.27; Cl 1.22, 28). Parastesai é aoristo e portanto implica que a consagração é um ato (cf. comentários sobre 6.13). O cristão é exortado a apresentar o seu corpo de uma vez por todas para o serviço a Deus. Por isso a consagração também é uma atividade, “uma crise e um processo... um presente e uma vida”.

            Como pode o corpo se tornar um sacrifício? Deixe que o olho não veja nada mau, e ele se torna um sacrifício; permita que a língua não diga nada vergonhoso, e ela se torna uma oferta; deixe que a mão não faça nada ilegal, e ela se torna uma oferta em holocausto. Não, isto não será suficiente, mas precisamos ter a prática ativa do bem - a mão precisa dar esmolas, a boca precisa abençoar em lugar de amaldiçoar, o ouvido precisa dar atenção sem cessar aos ensinamentos divinos. Pois um sacrifício não tem nada impuro, um sacrifício é a primícia de outras coisas. Portanto, que nós possamos produzir frutos para Deus com as nossas mãos, com os nossos pés, com a nossa boca, e com todos os nossos outros membros.

            O sacrifício que oferecermos a Deus também deve ser santo (hagian). A vida cristã deve ser a antítese de 1.24. O cristão deve admitir que o seu corpo pertence a Deus e que deve ser separado para o seu uso. Ele deve estar sem pecado, e tornar-se verdadeiramente “o templo do Espírito Santo”

A Completa Santificação (12.2)
            Não nos conformemos com este século (aioni), mas 2) nos transformemos em membros condizentes com o século futuro. “O contraste entre esta época e a época futura obviamente está na mente de Paulo quando ele usa estes verbos contrastantes”
            Esta época, em oposição à época futura (cf. Ef 1.21) é “má” (G1 1.4). Satanás é o “deus” deste século (2 Co 4.4). Todos nós, na nossa condição não regenerada, “andávamos, segundo o curso deste mundo... nos desejos da nossa carne” (Ef 2.2-3). Mas como homens de fé fomos ressuscitados com Cristo e transferidos para o seu reino celestial (Ef 2.4-10; cf. Cl 1.13). Quando Cristo ressuscitou dos mortos “as virtudes do século futuro” (Hb 6.5, NASB) entraram em funcionamento na história. Aqueles que morreram com Cristo e ressuscitaram com Ele para a novidade de vida (6.4) se tornaram membros da era futura. “Em Cristo eles entraram na nova época: já receberam as primícias do Espírito (8.23) e já não estão sob as obrigações da carne, mas sim do Espírito (8.12)”.21
            Aqui as obrigações desta nova vida em Cristo são expressas de uma nova maneira. Os cristãos não devem conformar-se (syschematizesthe) com esta época, mas transformar-se (metamorphousthe, lit. “serem metamorfoseados”) pela constante renovação (anakainosei) do entendimento (tou noos). ( DO LIVRO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON)


Sábado – 1 Ts 5.23 . Nossa consagração total a Deus.

Graça Santificadora.

Deus é a fonte da paz. Para experimentar a graça santificadora de Deus os homens têm de primeiro receber a paz divina (cf. Rm 5.1). Ser justificado é ter paz com Deus e ter, na regeneração, o início dessa santificação que Paulo ora que seja total e completa. Paz com Deus se torna a mais profunda paz de Deus comunicada pela harmonização interior da pessoa inteira em todas as suas partes e funções. Paulo está orando por isso.
O verbo grego hagiazo (23; santifique) significa “separar-se de coisas profanas e dedicar-se a Deus”, e também “purificar” (externamente e interiormente através da reforma da alma).43 No uso do Novo Testamento, a purificação é primária. O modificador plenamente (seguindo Lutero, “completamente”, AEC, BAB, CH, NVI) denota a amplitude da purificação. “Esta palavra não ocorre em outro lugar na nossa Bíblia grega, mas o uso nos poucos exemplos conhecidos da literatura não deixa dúvida do seu significado. E formada por holos (“tudo”) e telos (“fim”), e denota finalidade bem como perfeição.


            Observemos que, em grego, santifique (23) está no tempo aoristo. Nos versículos precedentes (19-22), Paulo usa o tempo presente que indica ação contínua para os cinco verbos envolvidos. Mas o tempo aoristo indica não ação ou processo contínuo, mas ação que ocorre e é concebida como completa. Isso não quer dizer que não haja processo precedendo o ato santificador, e claro que não quer dizer que o ato é tamanho a ponto de impedir o processo contínuo de crescimento em santidade depois da crise. Paulo está orando pela ação purificadora de Deus na vida desses crentes tessalonicenses para que eles venham a dizer: “O trabalho tem sido feito; nós temos sido e, agora, somos completamente santificados”. ( DO LIVRO COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON)




quinta-feira, 26 de julho de 2018

SUBSIDIO LIÇÃO 05 - SANTIDADE AO SENHOR

 
 
Fonte imagem LBM 
Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
Autor: Claudionor de Andrade.

Em Levítico, somos desafiados por uma doutrina imprescindível à nossa segurança espiritual: a santificação. Do primeiro ao último capítulo do livro, a preocupação do autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, é guindar os israelitas (e a nós também) a uma posição alta e privilegiada diante de Deus.

Antes de tudo, observamos que foi necessário separar Israel dos outros povos, para que este se erguesse como testemunha da verdadeira fé. Vencida essa etapa, era urgente separar Israel para o serviço de Jeová, que continua a requerer de seus servos (entre os quais, nós) uma perfeição que, ainda hoje, parece inatingível: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17.1, ARA).

Por que Deus nos demanda tal perfeição, se até mesmo, em seus anjos, acha Ele imperfeições e falhas? (Jó 4.18). Todavia, o padrão divino não pode ser rebaixado à condição humana; seu propósito é promover-nos às regiões celestiais.

Apesar de vivermos numa dispensação agraciada e plena, não devemos supor que a santificação foi uma reivindicação apresentada somente a Israel. O apóstolo Pedro repete-a à sua congregação (1 Pe 1.16). O que nos resta a fazer? Aprendamos com os sacerdotes do Senhor o valor, a beleza e a força da doutrina bíblica da santificação.


I. A MARAVILHOSA DOUTRINA DA SANTIDADE

Já me perguntaram diversas vezes, por que a doutrina da santificação não é mais pregada em nossos púlpitos como outrora. Enquanto ponderamos uma resposta, recorramos a esse tão precioso ensino como no-lo apresentam as Escrituras Sagradas.

1. A doutrina da santificação. Inserida no departamento soteriológico da Teologia Sistema, a doutrina da santificação pode ser definida como o ensino, cujo principal objetivo é levar o crente a separar-se do mundo, para consagrar-se inteiramente a Deus.

O substantivo feminino “santificação” provém do verbo latino eclesiástico sanctificare que, numa primeira instância, significa “fazer santo”. Já na instância seguinte, pode significar também separar algo ou alguém para o uso sagrado.

Se formos ao grego do Novo Testamento, constaremos que a palavra “santificação” provém do substantivo hagiasmos, que, por sua vez, procede do verbo hagiazo. De acordo com o Léxico de Thayer, o verbo hagiazo significa “reconhecer como venerável; honrar; separar algo das coisas profanas para dedicá-lo a Deus; consagrar; purificar tanto externa quanto cerimonialmente”.

Tanto no grego, como no latim, o significado e a demanda da santificação não mudam. Se nesta língua somos chamados a separar-nos do mundo, naquela somos intimados a consagrar-nos inteiramente a Deus e ao seu serviço.

Na língua hebraica, há também uma palavra específica para santificação. O vocábulo kadosh remete-nos ao mesmo sentido de santidade, separação e pureza, que encontramos no latim e no grego.
2. O que é a santificação. Já que definimos a doutrina da santificação, resta-nos, agora, descrever esse processo que, em nós, começa a ser operado desde o dia em que recebemos Jesus Cristo como nosso Salvador.

Em primeiro lugar, entendamos que a nossa santificação é da inteira vontade de Deus. Ouçamos atentamente o que Paulo recomenda aos irmãos de Tessalônica: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição” (1 Ts 4.3, ARA). Se é da vontade de Deus que nos santifiquemos, não podemos contrariá-la. Doutra forma, jamais poderemos adentrar a Jerusalém Celeste; ali estão vedados os que se dão à prática do pecado. Eis a advertência que nos faz o autor sagrado:

Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. (Ap 21.8 , ARA)

Em segundo lugar, há uma verdade ainda ignorada por muitos crentes: a doutrina da santificação deve ser pregada exclusivamente aos santos. Quanto aos que ainda não conhecem a Deus, que lhes seja proclamada a mensagem de arrependimento. O apóstolo Paulo, ainda escrevendo aos tessalonicenses, é bastante categórico ao exortá-los a uma vida de maior santidade perante Deus: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23, ARA).

Em terceiro lugar, não podemos confundir santidade com santificação. No exato instante em que aceitamos Jesus, somos imediatamente elevados à posição de santos; sendo já santos, estamos entre os demais santos. Isso não significa, porém, que o processo de nossa santificação haja se completado ali. Posto que a santificação é um processo, e não um ato, tem início ali, ao pé da cruz, uma ação longa e continuada que, levada a efeito pela Palavra de Deus, conduzir-nos-á à estatura de varões perfeitos, segundo o modelo que há Jesus Cristo.

Com dito, a santidade deve ser vista como um posicionamento e não como um processo devidamente encerrado. Que agora somos santos, não há dúvida. Todavia, isso não significa que já estejamos plenamente santificados. Seremos constrangidos, durante a nossa peregrinação à Cidade Celeste, a buscar os meios da graça, a fim de alcançarmos a perfeição: oração, leitura da Bíblia, jejuns, frequência aos cultos e disciplina espiritual. Enquanto estivermos neste mundo, soar-nos-á aos ouvidos a exortação apostólica: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o SENHOR” (Hb 12.14).

Em quarto lugar, a santificação é, de fato, uma obra específica do Espírito Santo. Atentemos a esta recomendação de Paulo ainda aos irmãos de Tessalônica: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo SENHOR, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2 Ts 2.13, ARA). Ora, a função do Espírito é santificar a Igreja de Cristo. Daí a razão de seu nome; seu ministério compreende a nossa inteira santificação.

Cabe-nos, entretanto, dar-lhe total guarida, para que Ele opere com toda a liberdade em nosso ser. Doutra forma, jamais seremos admitidos entre os santos de Deus. Atentemos, também, a esta palavra de Pedro aos irmãos que se achavam dispersos: “Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas” (1 Pe 1.2). Que nos abramos à santificação que, em nós, quer operar o Espírito de Deus. Ele não pode ser entristecido por nossas atitudes mundanas, cruéis, incrédulas e apostatas.


II. O TEXTO ÁUREO DE LEVÍTICO

Neste tópico, focalizaremos o texto áureo do livro de Levítico. Após o havermos considerado, concluiremos que ele continua tão atual hoje quanto no dia em que Moisés, há 3500 anos, o entregou aos filhos de Israel no deserto do Sinai. Leiamos o texto sagrado: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2).

1. “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes.” Por intermédio de seu fiel mensageiro, o Senhor dirige-se a toda a congregação dos filhos de Israel. Já não pode haver distinção entre dirigentes e dirigidos, nem se admite a divisão do povo de Deus entre clero e laicato. Agora, todo o povo de Israel faz-se congregação diante do Senhor, o corpo místico de Jeová no Antigo Testamento.

Deus ordena a Moisés a falar a toda a congregação de Israel. Nesse caso, o verbo hebraico dabar não pode ser interpretado como uma elocução qualquer. Essa palavra deve ser ouvida, por todos nós, como se fora uma ordem expressa de Deus: declarar, comunicar, afirmar solenemente.

Por intermédio de Moisés, o Senhor dirige-se não ao povo: o Israel visível. Mas à congregação: o Israel invisível e espiritual. A palavra “congregação”, em hebraico, é bastante específica: `edah é um termo que evoca, entre outras coisas, ajuntamento solene ou assembleia. Sendo assim, conforme já dissemos, os filhos de Israel devem ser vistos não como mera entidade política, mas como a Igreja do Senhor no Antigo Testamento. É claro que a soberania divina não se restringe à congregação; abrange a todos em qualquer tempo e lugar. Mas, com intimidade, Ele trata apenas com os seus queridos filhos.

2. “Santos sereis.” Moisés, agora, transmite a ordem divina à congregação israelita: “Santos sereis”. Detenhamo-nos no substantivo “santo” segundo o original hebraico. O vocábulo qadowsh traz estes sentidos: sagrado, separado, apartado e santo. Isso não significa que a nossa santidade levar-nos-á a sair do mundo ou do mundo isolar-se. Lembremo-nos da oração sacerdotal de Jesus: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (Jo 17.15, ARA).

Na ótica bíblica, santificar-se não significa isolar-se da sociedade, mas nesta atuar como testemunha fiel de Deus. É o que o Senhor requisitava de sua congregação no deserto. Mesmo ali, ainda sem contatar povo algum, deveriam os israelitas consagrar-se inteiramente como servos do Senhor. Sim, embora estamos no lugar mais improvável e árido, proclamemos as virtudes do Reino de Deus, por meio de uma vida santa, pura e marcada pela distinção.

3. “Porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo.” Neste ponto, o Senhor apresenta a razão de sua demanda à congregação de Israel: “Porque eu, o Senhor”. Sim, Deus é o Senhor. Logo, nesse relacionamento, não passamos de servos. Ele tem autoridade para exigir que cada um de seus filhos seja santo, porque Ele é santo. Como ignorar as prerrogativas daquEle que nos chamou à perfeição?

O texto áureo de Levítico é tão claro e abrangente que nem mesmo os dirigentes máximos da nação sentiam-se eximidos dessa obrigação. Todos deveriam porfiar por uma vida santa que, tendo início, em seu coração, refletisse em seu semblante. Que o Senhor nos ajude a andar de valor em valor até que venhamos a completar a nossa carreira espiritual.

III. A SANTIFICAÇÃO DA CLASSE SACERDOTAL

Os sacerdotes deveriam ser uma referência perfeita à nação de Israel no que tange à santidade e à pureza. Afinal de contas, eram os responsáveis pela santificação do povo, a fim de torná-lo propício diante de Deus.

1. Santidade exterior. Aos ministros do altar, o Senhor impusera uma série de restrições, para que não viessem a comprometer o ministério sagrado. O sumo sacerdote, por exemplo, não poderia desposar uma mulher qualquer a não ser uma virgem (Lv 21.7,14). Até mesmo em relação ao luto, deveriam os ministros do altar ser precavidos e cuidadosos (Lv 21.1-3). Tendo em vista o emblema da santidade divina que pesava sobre a classe sacerdotal, nenhum descendente de Levi poderia ser admitido no serviço divino se portasse alguma deficiência física (Lv 21.17-21).

Embora não pertençamos à Casa de Levi, deveríamos nós, os obreiros de Cristo, ter uma postura mais santa e reverente. Às vezes, no púlpito, comportamo-nos como meros comediantes. Contamos piadas; lembramos pilhérias; evocamos imagens fortes e até sensuais. Imaginamos que, com uma desenvoltura mais leve e solta, levaremos o povo Deus ao Céu.

Como se não bastasse, vemos alguns homens, tidos como de Deus, envolvidos em desinteligências, resmungos, escândalos e corrupção. Acham-se eles tão acostumados à impenitência, que já não temem ofender o Espírito Santo. Seguindo a doutrina de Balaão e errando pelos caminhos dos nicolaítas, usam a Bíblia para corromper o povo de Deus. Por intermédio da teologia, desviam os jovens e transviam os companheiros de ministério. A Igreja de Cristo? Têm-na como um negócio vantajoso.

O que falar dos divórcios já tão comuns entre os membros do ministério sagrado? Não nos enganemos! O mesmo Deus que não deixou impune Nadabe e Abiú continua a reivindicar, de cada um de seus trabalhadores, uma vida íntegra, imaculada e irrepreensível. Certa vez, um querido amigo disse-me que Deus começaria a punir os maus obreiros com a morte. Na hora, achei a expressão um pouco carregada. Todavia, se acreditamos que o Deus de Levítico continua o mesmo, então que busquemos a misericórdia daquEle que, apesar de nossas maldades, quer restabelecer-nos prontamente.

2. Santidade interior. O sumo sacerdote tinha de portar uma lâmina de ouro que, posta em sua mitra, trazia esta advertência: “Santidade ao SENHOR” (Êx 28.36). A santidade do sacerdote, portanto, longe de ser formal, era um reflexo do que lhe ia na alma (Ml 2.7). Infelizmente, a classe sacerdotal, com o tempo, deixou-se levar por um culto formalista e apóstata, o que ocasionou a destruição de Jerusalém (Jr 5.31; 23.11).

Como está a nossa santidade interior? Por vezes, exteriormente, parecemo-nos o mais santo e correto dos homens. Mas, em nosso coração, quanto pecado. Em nossa alma, quanta iniquidade. E, em nossa mente, quanta sujeira, cobiça, adultério e até homicídios. Se não fizermos uma pausa, a fim de buscar a Deus, corremos o risco de perder a alma. Já imaginou ser lançado no lago de fogo em consequência de uma vida interior pecaminosa e reprovada diante do santíssimo Deus?

Que nós, obreiros de Cristo, guardemo-nos da pornografia e do contato com mulheres pecadoras e carregadas de concupiscência. Sejamos precavidos. Façamo-nos acompanhar pela esposa onde quer que estejamos. Não importa se você é um obreiro jovem, de meia idade ou até mesmo um velho. O inimigo de nossas almas (às vezes, somos nós mesmos) está pouco se importando com a nossa faixa etária. Meu querido pastor, Roberto Montanheiro, costumava dizer que, no jogo da tentação, o Diabo enfraquece o mancebo e fortalece o ancião.

3. Santidade e glória. A santidade e a pureza da classe sacerdotal demonstravam a glória de Deus sobre todo o povo de Israel. Por esse motivo, os ministros do altar deveriam oferecer sacrifícios em primeiro lugar, por si mesmos, e depois por todo o povo (Lv 9.1-8). Se, pelo altar, deveria começar a santificação do povo, pelo mesmo altar deveria também ter início a punição dos ministros de Deus (Jl 1.3; 2.17; 1 Pe 4.17). Neste momento, o Senhor Jesus, por intermédio de seu Espírito Santo, está a requerer mais santidade e pureza de seus obreiros. Doutra forma, não subsistiremos às tormentas que, brevemente, se abaterão sobre a Igreja de Cristo.

Fomos chamados a refletir a glória de Jesus Cristo onde quer que estejamos. Que todos vejam, em nossa face, o rosto de Cristo; em nossas mãos, a providência divina; e, em nossos pés, o Evangelho que alcança os confins da terra.

É chegado o momento de voltarmos ao primeiro amor. Se nos curvarmos diante do Cordeiro, seremos renovados em línguas estranhas, receberemos dons espirituais e daremos uma sequência gloriosa ao nosso ministério. Evangelizemos. Lancemo-nos às missões. Trabalhemos enquanto é dia; a noite não demora a chegar.


IV. UMA TAREFA QUASE IMPOSSÍVEL, A SANTIFICAÇÃO DE TODO DE TODO UM POVO

A santidade da classe sacerdotal deveria refletir-se, necessária e eficazmente, na vida diária de Israel como povo, como congregação e em cada família (Os 4.9-11).

1. Povo santo. Por que o Senhor exigia santidade e pureza de seu povo? (Lv 11.44,45). Antes de tudo, para que Israel cumprisse, cabalmente, a missão para a qual havia sido chamado: ser uma bênção a todos os povos (Gn 12.1-3). Se atentarmos à História Sagrada, verificaremos que a santificação dos hebreus teve início no exato instante em que Deus chamou Abraão (Gn 17.1-7). A partir de sua vocação, os hebreus já tinham como obrigação, espiritual e moral, levar a Palavra de Deus a toda a terra, para que esta se enchesse do conhecimento do Senhor (Hb 2.14). Portanto, a menos que o povo de Deus seja puro e santo, a evangelização jamais alcançará todos os povos da terra. Requer-se, ainda, que este mesmo povo seja revestido do poder do Espírito Santo (At 1.8). Somente assim a proclamação do Evangelho será eficaz.

Com muita tristeza, observamos que o título “evangélico”, que tanto nos dignificava até a década de 1980, não passava hoje de um rótulo velho e já lançado no monturo. Se, no passado, era ignominioso ser crente, atualmente é chique; constitui-se até num passaporte à ascensão social, política e econômica. Tenho encontrado alguns membros de minha querida denominação que, em nada, diferem de um mundano. Basta uma conversa de três ou quatro minutos, para concluir que, aquela pessoa, embora batizada nas águas, jamais teve uma experiência real com o Senhor Jesus.

Se o povo de Deus não voltar a ser distinguido pela santidade, como haveremos de resgatar o Brasil da miséria em que se encontra?

Antes de tudo, voltemos à doutrina da santificação. Santifiquemo-nos. Caso contrário, seremos envergonhados quando estivermos a conclamar a Igreja de Cristo a uma vida santa e piedosa. Obreiros do Senhor, choremos diante do Cordeiro de Deus.

2. Congregação santa. O povo somente virá a ser santo se a congregação for pura, santa e separada do mundo. Eis porque, no Pentateuco, o povo todo de Israel era tido como a congregação do Senhor (Êx 12.3-6; Lv 4.15). Naquele tempo, não havia (e nem poderia haver) o que chamamos de laicismo, porque tanto os dirigentes do povo quanto este deveriam ser crentes; fiéis testemunhas do Senhor (1 Rs 8.5).

A tenda, na qual Moisés entrava para falar com o Senhor, não pertencia a esta ou àquela tribo, mas a toda congregação de Israel (Êx 27.1). Portanto, todo o ajuntamento de Jeová deveria ser reconhecido por sua dedicação incondicional ao Senhor. Até os rebeldes e apóstatas reconheciam a distinção da assembleia de Jeová (Nm 16.3). Foi com esse status que Israel apossou-se da Terra Prometida.

3. Famílias santas. A congregação de Israel só viria a ser santa se cada família, em particular, fosse igualmente santa e dedicada ao Senhor. Por isso, Deus requeria que toda família comemorasse a Páscoa (Êx 12.3). Na prática, os sacrifícios pela congregação e pelo povo só teriam efeito, se cada unidade doméstica observasse a adoração ao Deus de Jacó, como o fazia o próprio patriarca (Gn 35.1-5).

A família hebreia ideal é descrita no Salmo 128. Apesar de o divórcio ser tolerado na sociedade israelita, havia dispositivos severos para proteger a unidade familiar hebreia (Lv 18). Portanto, só com famílias realmente santas é que poderemos levar Cristo a todos os lares do Brasil e do mundo.



CONCLUSÃO

A santidade não é um mero ornamento na vida dos filhos de Deus. É um requisito obrigatório; mantém-nos firmes e inabaláveis no Senhor; dá-nos condições de propagar o Evangelho.

Tendo como exemplo o compromisso do sacerdócio levítico com a santidade divina, devemos primar por uma vida irrepreensível diante de Deus e dos homens. Se somos, de fato, o sal da terra, por que não salgar a sociedade com um testemunho irrepreensível? E se somos a luz do mundo, por que as trevas já encobrem o povo de Deus?

No desempenho de meu pastorado, tenho encontrado muitos crentes que, embora frequentem assiduamente os cultos, ainda não tiveram uma experiência pessoal com o Senhor; são perigosamente nominais. Estão na igreja, mas não são Igreja. O que lhes falta? Uma vida de santidade e pureza, que os diferencie o mundo. Que Deus nos ajude a reconduzi-los ao Senhor Jesus Cristo enquanto é dia.

Santidade ao Senhor!