quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

VIVENDO COM A MENTE DE CRISTO (1 Co 2.16)

Extraído do livro Comentário Bíblico BEACON.

No versículo 16, Paulo adapta uma citação de Isaías 40.13, que também aparece de forma modificada em Romanos 11.34. Os caminhos e métodos de Deus estão além do entendimento do homem. É, portanto, inútil para o homem natural tentar entender a operação da redenção divina. Que egocentrismo supremo seria um homem tentar ins­ truir ao Senhor! Ao contrário, o Espírito que habita no interior de cada cristão revela Cristo e o poder de Deus para redimir. O homem espiritual, por possuir a mente de Cristo, não avalia as coisas sob o ponto de vista do mundo. O cristão vê as coisas à luz da revelação de Deus em Cristo.

Extraído do livro Comentário Bíblico Pentecostal.
O Espírito Santo é o Espírito de Deus; é também o Espírito de Cristo (Rm 8.9), que vive nos crentes (1 Co 3:16) e que revela Cristo. Pelo fato de cada crente ser interiormente habitado pelo Espírito e por Cristo, não têm a mente ou o espírito do mundo.

No plano ideal são controlados pela mente ou Espírito de Cristo.
A doutrina da Trindade está implícita neste capítulo com sua menção de Deus, de Cristo e do Espírito Santo. Frequentemente no Novo Testamento, e especialmente nas passagens que se referem implícita ou explicitamente à Trindade, o termo Deus se refere ao Pai e o termo Senhor se refere ao Filho(por exemplo, veja  2 Co 13.13; Ef 4.4-6)

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Heróis da fé - Carlos Finney.

Carlos Finney
Apóstolo de avivamentos
(1792-1875)
Perto da aldeia de New York Mills, no século dezenove, havia uma fábrica  de  tecidos  movida  pela  força  das  águas  do  rio  Oriskany.  Certa manhã,   os   operários   se   achavam   comovidos,   conversando   sobre   o poderoso culto da noite anterior, no prédio da escola pública.
Não muito depois de começar o ruído das máquinas, o pregador, um  rapaz  alto  e  atlético,  entrou  na  fábrica.  O  poder  do  Espírito  Santo ainda  permanecia  sobre  ele;  os  operários,  ao  vê-lo,  sentiram  a  culpa  de seus pecados a ponto de terem de se esforçar para poderem continuar a trabalhar.  Ao  passar  perto  de  duas  moças  que  trabalhavam  juntas,  uma delas, no ato de emendar um fio, foi tomada de tão forte convicção, que caiu em terra, chorando. Segundos depois, quase todos em redor tinham lágrimas nos olhos e, em poucos minutos, o avivamento encheu todas as dependências da fábrica.
O  diretor,  vendo  que  os  operários  não  podiam  trabalhar,  achou que   seria   melhor cuidassem   da   salvação   da   alma,   e   mandou   que parassem as máquinas. A comporta das águas foi fechada e os operários se  ajuntaram  em  um  salão  do  edifício.  O  Espírito  Santo  operou  com grande poder e dentro de poucos dias quase todos se converteram.
Diz-se acerca deste pregador, que se chamava Carlos Finney, que, depois de ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos.
Calcula-se que,  durante  os  anos  de  1857  e  1858,  mais  de  100  mil  pessoas  foram ganhas para  Cristo  pela  obra  direta  e  indireta  de  Finney.  A  sua  autobiografia é o mais maravilhoso relato de manifestação do Espírito Santo, excetuando o livro de Atos dos Apóstolos.
Alguns consideram o seu livro, "Teologia Sistemática", a maior obra sobre teologia, a não ser as Sagradas Escrituras.
- Como se explica o seu êxito tão destacado nos anais dos servos da Igreja  de  Cristo?  -  Sem  dúvida  era,  antes  de  tudo,  o  resultado  da  sua profunda conversão.
Nasceu de uma família descrente e se criou em um lugar onde os membros  da  igreja  conheciam,  apenas,  a  formalidade  fria  dos  cultos. Finney  era  advogado;  ao  encontrar,  nos  seus  livros  de  jurisprudência, muitas  citações  da  Bíblia  comprou  um  exemplar  com  a  intenção  de conhecer  as  Escrituras. O resultado  foi que, após a leitura, achou mais e mais interesse nos cultos dos crentes. Acerca da sua conversão ele relata, na sua autobiografia, o seguinte:" Ao  ler  a  Bíblia,  ao  assistir  às  reuniões  de  oração,  e  ouvir  os sermões de senhor Gale, percebi que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei impressionado especialmente com o fato de as orações dos crentes, semana após semana, não serem respondidas. Li na Bíblia: 'Pedi e dar-se-vos-á;  buscai,  e  encontrareis;  batei,  e  abrir-se-vos-á'.  Li,  também, que Deus é mais pronto a dar  o Espírito  Santo  aos que lho pedirem, do que  os  pais  terrestres  a  darem  boas  coisas  aos  filhos.  Ouvia  os  crentes pedirem um derramamento do Espírito Santo e confessarem, depois, que não o receberam.
"Exortavam uns aos outros a se despertarem para pedir, em oração, um  derramamento  do  Espírito  de  Deus  e  afirmavam  que  assim  haveria um avivamento com a conversão de pecadores... Mas ao ler mais a Bíblia, vi que as orações dos crentes não eram respondidas porque não tinham fé, isto é, não esperavam que Deus lhes daria o que pediam... Entretanto, com isso senti um alívio acerca da veracidade do Evangelho... e fiquei convicto de que a Bíblia, apesar de tudo, é a verdadeira Palavra de Deus.
"Foi  num  domingo  de  1821  que  assentei  no  coração  resolver  o problema sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus. Apesar das minhas     grandes     preocupações     como     advogado,     resolvi     seguir rigorosamente a determinação de ser salvo. Pela providência de Deus, não me achei muito ocupado nem segunda nem terça-feira, e consegui passar a maior parte do tempo lendo a Bíblia e orando.
"Mas ao encarar a situação resolutamente, achei-me sem coragem para orar sem tapar o buraco da fechadura. Antes deixava a Bíblia aberta na mesa com os outros livros e não me envergonhava de lê-la diante do próximo.  Mas  então,  se  entrasse  alguém,  eu  colocaria  um  livro  aberto sobre a Bíblia para escondê-la.
"Durante a segunda e a terça-feira, a minha convicção aumentou, mas parecia que o coração se havia endurecido: eu não podia chorar, nem orar... Terça-feira, à noite, senti-me muito nervoso e parecia-me estar perto da morte. Reconhecia que, se eu morresse, por certo iria para o Inferno.
"De  manhã  cedo,  fui  para  o  gabinete...  Parecia  que  uma  voz  me perguntava: - 'Por que esperas? Não prometes-te dar o coração a Deus? O que  experimentas  fazer?  -  alcançar  a  justificação  pelas  obras?'  Foi  então que vi, claramente, como qualquer vez depois, a realidade e a plenitude da  propiciação  de Cristo. Vi que sua obra  era completa e, em vez  de eu necessitar duma justiça própria para Deus me aceitar, tinha de sujeitar-me à  justiça de Deus por intermédio  de Cristo... Sem o saber, fiquei  imóvel, não sei por quanto tempo, no meio da rua, no lugar onde a voz de dentro se dirigiu a mim. Então me veio a pergunta: - 'Aceitá-lo-ás, agora, hoje?' Repliquei:
- 'Aceita-lo-ei hoje ou me esforçarei para isso até morrer...' Em vez de ir ao gabinete, voltei para entrar na floresta, onde podia derramar a alma   sem   alguém   me   ver   nem   me   ouvir."Porém,   o   meu   orgulho continuava a se manifestar; passei por cima dum alto e andei furtivamente atrás  duma  cerca,  para  que  ninguém  me  visse,  e  pensasse  que  ia  orar.
Penetrei dentro da mata cerca de meio quilômetro, onde achei um lugar mais  escondido  entre  algumas  árvores  caídas.  Ao  entrar,  disse  a  mim mesmo: 'Entregarei o coração a Deus, ou então não sairei daqui'.
"Mas ao  tentar  orar,  o coração  não  queria.  Pensara  que,  uma  vez sozinho, onde ninguém pudesse ouvir-me, podia orar livremente. Porém, ao experimentar fazê-lo, achei-me sem coisa alguma a dizer a Deus. Toda a vez que tentava orar, parecia-me ouvir alguém chegando.
"Por  fim,  achei-me  quase  em  desespero.  O  coração  estava  morto para  com Deus e não queria  orar.  Então reprovei-me  a mim mesmo por ter-me comprometido a entregar o coração a Deus antes de sair da mata. Comecei a pensar que Deus já me tivesse abandonado... Achei-me tomado de uma fraqueza demasiadamente grande para ficar de joelhos.
"Foi  justamente  nessa  altura  que  pensei  novamente  que  ouvia alguém  se  aproximando  e  abri  os  olhos  para  ver.  Logo  foi-me  revelado que  o  orgulho  do  meu  coração  era  a  barreira  entre  mim  e  a  minha salvação.    Fui    vencido    pela    convicção    do    grande    pecado    de    eu envergonhar-me  se  alguém  me  encontrasse  de  joelhos  perante  Deus,  e bradei  em  alta  voz  que não  abandonaria  o  lugar,  nem que  todos  os  homens da terra e todos os demônios do Inferno me cercassem. Gritei: 'Ora, um  vil  pecador  como  eu,  de  joelhos  perante  o  grande  e  santo  Deus,  e confessando-lhes  os  pecados,  e  me  envergonho dele  perante  o  próximo, pecador  também,  porque  me  encontro  de  joelhos  para  achar  paz  com  o meu  Deus  ofendido!'  O  pecado  parecia-me  horrendo,  infinito.  Fiquei quebrantado até o pó perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me  iluminou:  'Então  me  invocareis,  e  ireis,  e  orareis  a  mim,  e  eu  vos ouvirei. E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração...' "Continuei  a  orar  e  a  receber  promessas  e  a  apropriar-me  delas, não  sei  por  quanto  tempo.  Orei   até  que  sem  saber   como,  achei-me voltando para a estrada. Lembro-me  de que disse a mim mesmo: 'Se eu me converter, pregarei o Evangelho'.
"Na estrada, voltando para a aldeia, certifiquei-me da preciosa paz e da gloriosa calma na minha mente. - 'Que é isso?' Perguntei-me a mim mesmo. - 'Entristecera eu o Espírito Santo até retirar-se de mim? Não sinto mais convicção...' Então lembrei-me de que dissera a Deus, que confiaria na sua Palavra... A calma de meu espírito era indescritível... Fui almoçar, mas  não  tinha  vontade  de  comer.  Fui  ao  gabinete,  mas  meu  sócio  não voltara do almoço. Comecei a tocar a música de um hino no rabecão, como de costume. Porém, ao começar a cantar as palavras sagradas, o coração parecia derreter-se e só podia chorar..."Ao   entrar   e   fechar   a   porta   atrás   de   mim,   parecia-me   ter encontrado o Senhor Jesus Cristo face a face. Não me entrou na mente, na ocasião,  nem  por  algum  tempo  depois,  que  era  apenas  uma  concepção mental.  Ao  contrário,  parecia-me  que  eu  o  encontrara  como  encontro qualquer pessoa. Ele não disse coisa alguma, mas olhou para mim de tal forma, que fiquei quebrantado e prostrado aos seus pés. Isso, para mim, foi,   depois,   uma   experiência   extraordinária,   porque   parecia-me   uma realidade,  como  se  Ele  mesmo  ficasse  em  pé  perante  mim,  e  eu  me prostrasse aos seus pés e lhe derramasse a minha alma. Chorei alto e fiz tanta confissão quanto foi possível, entre soluços. Parecia-me que lavava os seus pés com as minhas lágrimas; contudo, sem sentir ter tocado na sua pessoa..."Ao  virar-me  para  me  sentar,  recebi  o  poderoso  batismo  com  o Espírito Santo. Sem o esperar, sem mesmo saber que havia tal para mim, o Espírito Santo desceu de tal maneira, que parecia encher-me corpo e alma. Senti-o  como  uma  onda  elétrica  que  me  traspassava  repetidamente.  De fato,  parecia-me  como  ondas  de  amor  liquefeito;  porque  não  sei  outra maneira de descrever isso. Parecia o próprio fôlego de Deus.
"Não   existem   palavras   para   descrever   o   maravilhoso   amor derramado no meu coração.
Chorei de tanto gozo e amor que senti; acho melhor dizer que exprimi, chorando em alta voz, as inundações indizíveis do meu coração. As ondas passaram sobre mim, uma após outra, até eu clamar: 'Morrerei, se estas ondas continuarem a passar sobre mim!. Senhor, não suporto mais!' Contudo, não receava a morte.
"Não sei por quanto tempo este batismo continuou a passar sobre mim e por todo o meu ser. Mas sei que era já noite quando o dirigente do coro veio ao gabinete para me visitar. Encontrou-me nesse estado de choro aos gritos e perguntou: - 'Sr. Finney, que tem?' Por algum tempo não pude responder-lhe.  Então  ele  perguntou  mais:  -  'Está  sentindo  alguma  dor?' Com  dificuldade  respondi:  -  Não,  mas  sinto-me  demasiado  feliz  para viver.
"Saiu e, daí a pouco, voltou acompanhado por um dos anciãos da igreja. Esse ancião sempre foi um homem de espírito ponderado e quase nunca ria. Ele, ao entrar, encontrou-me no mesmo estado, mais ou menos, como  quando  o  rapaz  o  foi  chamar.  Queria  saber  o  que  eu  sentia  e  eu comecei a lhe explicar. Mas, em vez de responder-me, foi tomado de um riso espasmódico. Parecia impossível evitar o riso que procedia do fundo do seu coração."
Nessa  altura,  entrou  certo  rapaz  que  começara  a  freqüentar  os cultos  da igreja. Presenciou  tudo por alguns momentos, até cair  ao chão em grande angústia de alma, clamando: "Orem por mim!" O ancião da igreja e o outro crente oraram e depois Finney também orou e logo após todos se retiraram deixando Finney sozinho.
Ao deitar-se para dormir, Finney adormeceu, mas logo se acordou, por  causa  do  amor  que  lhe  transbordava  do  coração.  Isso  aconteceu repetidas vezes durante a noite. Sobre isso ele escreveu depois: "Quando me acordei, de manhã, a luz do sol penetrava no quarto. Faltam-me palavras para exprimir os meus sentimentos ao ver a luz do sol. No mesmo instante, o batismo do dia anterior voltou sobre mim. Ajoelhei- me  ao  lado  da  cama  e  chorei  pelo  gozo  que  sentia.  Passei  muito  tempo sem poder fazer coisa alguma senão derramar a alma perante Deus".
Durante o dia, o povo se ocupava em falar na conversão do advogado. Ao anoitecer,  sem  qualquer  anúncio  do  culto,  ajuntou-se  uma  multidão  no templo.  Quando  Finney  relatou  o  que  Deus  fizera  na  sua  alma,  muitos foram profundamente comovidos; um, sentiu-se tão convicto que voltou a casa  sem  o  chapéu. Certo  advogado  afirmou: "É claro  que  ele  é  sincero; mas  que  enlouqueceu,  é  evidente."  Finney  falou  e  orou  com  grande liberdade.  Realizavam-se  cultos  todas  as  noites  por  algum  tempo,  aos quais  assistiam  pessoas  de  todas  as  classes.  Esse  grande  avivamento espalhou-se para muitos lugares em redor.
Finney continuou: "Por oito dias [depois da sua conversão) o meu coração permanecia tão cheio, que não sentia desejo de comer nem de dormir. Parecia-me que tinha  um  manjar  para  comer  que  o  mundo  não  conhecia.  Não  sentia necessidade de alimentar-me nem de dormir... Por fim, cheguei a ver que devia comer como de costume e dormir quanto fosse possível.
"Grande  poder  acompanhava  a  Palavra  de  Deus;  todos  os  dias admirava-me  ao  notar  como  poucas  palavras,  dirigidas  a  uma  pessoa, traspassavam-lhe o coração como uma seta.
"Não  demorei  muito  em  ir  visitar  meu  pai.  Ele  não  era  salvo;  o único membro da família que fizera profissão de religião era meu irmão mais novo. Meu pai encontrou-me no portão e me perguntou: - 'Como tem passado, Carlos?' Respondi-lhe: - Bem, meu pai, tanto no corpo como na alma.
Meu pai, o senhor já é idoso, todos os seus filhos estão crescidos e casados;  e  nunca  ouvi  alguém  orar  na  sua  casa.  Ele  baixou  a  cabeça  e começou a chorar, dizendo: - 'É verdade, Carlos; entre, e você mesmo ore'.
"Entramos  e  oramos.  Meus  pais  ficaram  comovidos  e,  não  muito depois, converteram-se. Se a minha mãe tinha qualquer esperança antes, ninguém o sabia".
Assim, esse advogado, Carlos G. Finney, perdeu todo o gosto pela sua profissão e se tornou um dos mais famosos pregadores do Evangelho. Acerca de seu método de trabalhar, ele escreveu: Dei  grande  ênfase  à  oração  como  indispensável,  se  realmente queríamos  um  avivamento. 
Esforçava-me  por  ensinar  a  propiciação  de Jesus  Cristo,  sua  divindade,  sua  missão  divina,  sua  vida  perfeita,  sua morte vicária, sua ressurreição, a necessidade de arrependimento e de fé, a justificação pela fé, e outras doutrinas que se tornaram vivas pelo poder do Espírito Santo.
"Os  meios  empregados  eram  simplesmente  pregação,  cultos  de oração,  muita  oração  em  secreto,  intensivo  evangelismo pessoal  e  cultos para a instrução dos interessados.
"Eu tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes,  orava  realmente  sem  cessar.  Achei,  também,  grande  proveito  em observar freqüentemente dias inteiros de jejum em secreto. Em dez dias, para  ficar  inteiramente  sozinho  com  Deus,  eu  entrava  na  mata,  ou  me fechava dentro do templo..."
Vê-se no seguinte, a maneira como Finney e seu companheiro de oração, o irmão Nash, "bombardeavam" os céus com as suas intercessões: "Quase um quilômetro distante da residência do senhor S, morava certo adepto do universalismo. Nos seus preconceitos religiosos, recusava- se a assistir aos cultos. Certa vez o irmão Nash, que se hospedava comigo na casa do senhor S, retirou-se para dentro da mata para lutar em oração, sozinho, bem cedo de madrugada, conforme seu costume. A atmosfera era tal nessa ocasião que se ouvia qualquer som de longe. O universalista ao levantar-se, de madrugada, saiu de casa e ouviu a voz de quem orava, e, apesar de não compreender muitas das palavras, reconheceu quem orava. E  isso  traspassou-lhe  o  coração  como  uma  flecha.  Sentiu  a  realidade  da religião  como  nunca.  A  flecha  permanecia.  E  ele  achou  alívio  somente crendo em Cristo".
Acerca   do   espírito   de   oração,   Finney   afirmou   que   "era   coisa comum  nesses  avivamentos,  os  recém-convertidos  se  acharem  tomados pelo  desejo  de  orar  noites  inteiras  até  lhes  faltarem  as  forças  físicas.  O Espírito Santo constrangia grandemente o coração dos crentes, e sentiam constantemente  a  responsabilidade  pela  salvação  das  almas  imortais.  A solenidade  da  mente  se  manifestava  no  cuidado  com  que  falavam  e  se comportavam.   Era  muito   comum   encontrar   crentes   juntos   caídos   de joelhos em oração em vez de ocupados em palestras".
Em  certo  tempo,  quando  as  nuvens  de  perseguição  enegreciam cada  vez  mais,  Finney,  como  era  seu  costume  sob  tais  circunstâncias, sentia-se  dirigido  a  dissipá-las,  orando.   Em  vez   de  falar  pública   ou particularmente    acerca    das    acusações,    ele    orava.   
Acerca    da    sua experiência  escreveu:  "Eu  olhava para Deus  com grande anelo, dia  após dia,  rogando  que  Ele  me  mostrasse  o  plano  a  seguir  e  a  graça  para suportar a borrasca... O Senhor mostrou-me, em uma visão, o que eu tinha de  enfrentar. Ele  chegou-se tão perto de mim, enquanto eu orava, que a minha carne literalmente estremecia sobre os ossos. Eu tremia da cabeça aos pés, sob o pleno conhecimento da presença de Deus".
Acrescentamos mais um exemplo, tirado da sua autobiografia, da maneira de o Espírito Santo operar na sua pregação: "Ao chegar, na hora anunciada para iniciar o culto, achei o prédio da escola repleto e tinha de ficar em pé perto da entrada. Cantamos um hino,  isto  é,  o  povo  pretendia  cantar.  Entretanto,  eles  não  tinham  o costume de cantar os hinos de Deus, e cada um desentoava à sua própria maneira. Não podia conter-me e lancei-me de joelhos e comecei a orar. O Senhor   abriu   as   janelas   dos   céus,   derramou  o   espírito   de   oração   e entreguei-me de toda a alma a orar.
"Não escolhera um texto, mas logo ao levantar-me dos joelhos, eu disse:  Levantai-vos,  saí  deste  lugar,  porque  o  Senhor  há  de  destruir  a cidade  .  Acrescentei  que  havia  dois  homens,  um  se  chamava  Abraão,  e outro,  Ló...  Contei-lhes  como  Ló  se  mudara  para  Sodoma...  O  lugar  era excessivamente corrupto... Deus resolveu destruir a cidade e Abraão orou por Sodoma. Mas os anjos acharam somente um justo lá, era Ló. Os anjos disseram: 'Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos  quantos  tens  nesta  cidade,  tira-os  fora  deste  lugar;  porque  nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo'.
"Ao  relatar estas coisas, os ouvintes se mostraram  irados  a ponto de  me  açoitarem.  Nessa  altura,  deixei  de  pregar  e  lhes  expliquei  que compreendera que nunca se realizara culto ali e que eu tinha o direito de, assim,  considerá-los  corruptos.  Salientei  isso  com  mais  e  mais  ênfase  e, com o coração cheio de amor até não poder mais conter-me.
"Depois  de  eu  assim  falar  cerca  de  quinze  minutos,  parecia  cair sobre os ouvintes uma tremenda solenidade e começaram a cair ao chão, clamando e pedindo misericórdia. Se eu tivesse tido uma espada em cada mão, não os poderia derrubar tão depressa como caíram. De fato, dois minutos depois de os ouvintes sentirem o choque do Espírito vir sobre eles, quase todos estavam ou caídos de joelhos ou prostrados no chão. Todos os que podiam falar de qualquer maneira, oravam por si mesmos.
"Tive de deixar de pregar, porque os ouvintes não prestavam mais atenção. Vi o ancião que me convidara para pregar, sentado no meio do salão, olhando em redor, estupefato. Gritei bem alto para ele ouvir, apesar da  balbúrdia,  pedindo-lhe que orasse. Caiu de joelhos  e começou  a orar em  voz  retumbante;  mas  o  povo  não  prestou  atenção.  Gritei:  Vós  não estais ainda no Inferno; quero dirigir-vos a Cristo. O coração transbordava de   gozo   ao   presenciar   tal   cena.   Quando   pude   dominar   os   meus sentimentos, virei-me para um rapaz que estava perto de mim, consegui atrair  a  sua  atenção  e  preguei  Cristo,  em  voz  bem  alta,  ao  seu  ouvido. Logo,  ao  olhar  para  a  'cruz'  de  Cristo,  ele  acalmou-se  por  um  pouco  e então rompeu em oração pelos outros. Depois fiz o mesmo com um outro; depois com mais outro e continuei assim tratando com eles até a hora do culto da noite, na aldeia. Deixei o ancião que me convidara a pregar, para continuar a obra com os que oravam.
"Ao   voltar,  havia   tantos  clamando  a  Deus  que   não  podemos encerrar a reunião, que continuou o resto da noite. Ao amanhecer o dia, alguns ainda permaneciam com a alma ferida. Não se podiam levantar e, para dar lugar às aulas, foi necessário levá-los a uma residência não muito distante. De tarde mandaram chamar-me porque ainda não findara o culto.
"Só nesta ocasião cheguei a saber a razão de o auditório agastar-se da  mensagem.  Aquele  lugar  cognominava-se  'Sodoma'  e  havia  somente um homem piedoso lá a quem o povo tratava de 'Ló'. Era o ancião que me convidara a pregar."Depois de já velho, Finney escreveu acerca do que o Senhor  fez    em    "Sodoma".    "Embora    esse    avivamento    caísse    tão repentinamente  sobre  eles  era  tão  empolgante  que  as  conversões  eram profundas e a obra permanente e genuína.
Nunca ouvi falar em qualquer repercussão desfavorável." Não  foi  só na América  do Norte que Finney viu o Espírito  Santo cair e abater os ouvintes em terra. Na Inglaterra, durante os nove meses de evangelização, que Finney promoveu lá, multidões também se prostraram enquanto ele pregava - em certa ocasião mais de dois mil, de uma vez.
Alguns  pregadores  confiam  na  instrução  e  ignoram  a  obra  do Espírito Santo. Outros, com razão, rejeitam tal ministério infrutífero e sem graça;  oram  a  Deus  para  o  Espírito  Santo  tomar  conta  e  alegram-se  no grande  progresso  da  obra  de  Deus.  Mas,  ainda  outros,  como  Finney, dedicam-se a buscar o poder do Espírito Santo, sem desprezar a arma de instrução, e vêem resultados incrivelmente mais vastos.
Durante os anos de 1851 a 1866, Finney foi diretor do Colégio de Oberlin e ensinou a um total de 20 mil estudantes. Dava mais ênfase ao coração puro e ao batismo com o Espírito Santo do que à preparação do intelecto;  de  Oberlin  saiu  uma  corrente  contínua  de  alunos  cheios  do Espírito  Santo.  Assim,  depois  dos  anos  de  uma  campanha  intensiva  de evangelismo e no meio dos seus esforços no colégio, "em 1857, Finney via cerca de 50 mil, todas as semanas, converterem-se a Deus." (By My Spirit, Jônathan  Goforth,  p.  183.)  Os  diários  de  New  York,  às  vezes  quase  não publicavam outras notícias, senão do avivamento.
Suas   lições   aos   crentes   sobre   avivamento   foram   publicadas, primeiro  em  um  jornal  e  depois  em  um  livro  de  445  páginas  e  que  se intitulava "Discursos Sobre Avivamentos". As primeiras duas edições, de 12  mil  exemplares,  foram  vendidas  logo  ao  saírem  do  prelo.  Outras edições foram impressas em vários idiomas. Uma só editora em Londres publicou 80 mil. Entre suas outras obras de circulação mundial, contam-se as  seguintes:  sua  "Autobiografia",  "Discursos  aos  Crentes"  e  "Teologia Sistemática".
Os convertidos nos cultos de Finney eram pela graça constrangidos a andar de casa em casa para ganhar almas. Ele mesmo se esforçava para preparar  o maior número de  obreiros  em  Oberlin  College. Mas o  desejo que ardia sempre em tudo era o de transmitir a todos o espírito de oração.
Pregadores como Abel Câry e Father Nash viajavam com ele e, enquanto ele  pregava,  eles  continuavam  prostrados  em  oração.  Vejamos  isso  nas palavras de Finney:
"Se eu não tivesse o espírito de oração, não alcançaria coisa alguma. Se  por  um  dia,  ou  por  uma  hora  eu  perdesse  o  espírito  de  graça  e  de súplica,  não  poderia  pregar  com  poder  e  fruto,  e  nem  ganhar  almas pessoalmente."
Para  que  alguém  não  julgue  que  a  obra  era  superficial,  citamos outro  escritor:  "Descobriu-se,  por  pesquisa  empolgante,  que  mais  de  85 pessoas   de   cada   100  que  se  convertiam   sob  a   pregação   de   Finney, permaneciam  fiéis  a  Deus;  enquanto  75  pessoas  de  cada  cem,  das  que professaram  conversão  nos  cultos  de  algum  dos  maiores  pregadores,  se desviavam.   Parece   que   Finney   tinha   o   poder   de   impressionar   a consciência  dos  homens,  sobre  a  necessidade  de  um  viver  santo,  de  tal maneira  que  produzia  fruto  mais  permanente."  (Deeper  Experiences  of Famous Christians, p. 243.)
Finney continuou a inspirar os estudantes de Oberlin College até a idade de 82 anos. Já no fim da vida, permanecia tão lúcido de mente como quando  jovem  e  sua  vida  nunca  foi  tão  rica  no  fruto  do  Espírito  e  na beleza da sua santidade do que nesses últimos anos. No domingo, 16 de agosto de 1875, pregou seu último sermão.
Mas de  noite não assistiu ao culto. Ao ouvir os crentes cantarem "Jesus lover of my soul, let me to Thy bosom  fly",  saiu  até  o  portão  na  frente  da  casa,  e  com  estes  que  tanto amava,  foi  a  última  vez  que  cantou  na  terra.  Acordou-se  à  meia-noite, sofrendo   dores   lancinantes   no   coração.   Sofrera   assim   muitas   vezes durante a sua vida. Semeara as sementes de avivamento e as regara com lágrimas.  Todas  as  vezes  que  recebeu  o  fogo  da  mão de  Deus,  foi  com sofrimento. Finalmente, antes  de  amanhecer  o dia,  dormiu na terra para acordar   na   Glória,   nos   céus.   Faltavam-lhe   apenas   treze   dias   para completar 83 anos de vida aqui na terra.

Do livro:Heróis da fé.
Orlando Boyer.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Heróis da fé - Adoniram Judson

Missionário, pioneiro à Birmânia
(1788-1850)
O missionário, magro e enfraquecido pelos sofrimentos e privações, foi conduzido entre os mais endurecidos criminosos, com gado, a chicotadas e sobre a areia ardente, para a prisão. Sua esposa conseguiu entregar-lhe um travesseiro para que pudesse dormir melhor no duro solo da prisão. Porém ele descansava ainda melhor porque sabia que dentro do travesseiro, que tinha abaixo da cabeça, estava escondida a preciosa porção da Bíblia que traduzira com grandes esforços para a língua do povo que o perseguia.
Aconteceu que o carcereiro requisitou o travesseiro para o seu próprio uso! Que podia fazer o pobre missionário para readquirir seu tesouro? A esposa então preparou, com grandes sacrifícios, um travesseiro melhor e conseguiu trocá-lo com o do carcereiro. Dessa forma a tradução da Bíblia foi conservada na prisão por quase dois anos; a Bíblia inteira, depois de completada por ele, foi dada, pela primeira vez, aos milhões de habitantes da Birmânia. Em toda a história, desde o tempo dos apóstolos, são poucos os nomes que nos inspiram tanto a esforçarmo-nos pela obra missionária como os nomes desse casal, Ana e Adoniram Judson. Em certa igreja em Malden, subúrbio de Boston, encontra-se uma placa de mármore com a seguinte inscrição:
Memorial
  Rev. Adoniram Judson Nasceu: 9 - agosto - 1788
Morreu: 12 - abril - 1850
Lugar de seu nascimento: Malden
Lugar de seu sepultamento: o mar
Seu monumento: OS SALVOS DA BIRMÂNIA E A
BÍBLIA BIRMANESA
Seu histórico: nas alturas
Adoniram fora uma criança precoce; sua mãe ensinou-o a ler um capítulo inteiro da Bíblia, antes de ele completar quatro anos de idade.
Seu pai inculcou-lhe o desejo ardente de, em tudo quanto fazia, aproximar-se sempre da perfeição, sobrepondo-se a qualquer de seus companheiros. Esta foi a norma de toda a sua vida.
O tempo que passou nos estudos foram os anos em que o ateísmo, que teve sua origem na França, se infiltrou no país. O gozo de seus pais, ao saberem que o filho ganhara o primeiro lugar na sua classe, transformou-se em tristeza, quando ele os informou de que não mais acreditava na existência de Deus. O recém-diplomado sabia enfrentar os argumentos de seu pai, que era pastor instruído, e jamais sofrera de tais dúvidas. Contudo as lágrimas e admoestações de sua mãe, depois de o moço sair da casa paterna, estavam sempre perante ele.
Não muito depois de "ganhar o mundo", na casa dum tio, encontrou-se com um jovem pregador. Este conversou com ele tão seriamente acerca da sua alma, que Judson ficou muito impressionado. Passou o dia seguinte sozinho, em viagem a cavalo. Ao anoitecer, chegou a uma vila onde passou a noite numa pensão. No quarto contíguo ao que ele ocupou, estava um moço moribundo, e Judson não conseguiu reconciliar o sono durante a noite. - O moribundo seria crente? Estaria preparado para morrer? Talvez fosse "livre pensador", filho de pais piedosos que oravam por ele! O que também o perturbava era a lembrança dos seus companheiros, os alunos agnósticos do colégio de Providence. Como se envergonharia, se os antigos colegas, especialmente o sagaz compadre Ernesto, soubessem o que agora sentia em seu coração!
Ao amanhecer o dia, disseram-lhe que o moço morrera. Em resposta à sua pergunta, foi informado de que o falecido era um dos melhores alunos do colégio de Providence, cujo nome era Ernesto!
Judson, ao saber da morte de seu companheiro ateu, ficou estupefato. Sem saber como, estava em viagem de volta a casa. Desde então desapareceram todas as suas dúvidas acerca de Deus e da Bíblia. Soavam-lhe constantemente aos ouvidos as palavras: "Morto! Perdido! Perdido!"
Não muito depois deste acontecimento, dedicou-se solenemente a Deus e começou a pregar. Que a sua consagração era profunda e completa ficou provado pela maneira como se aplicou à obra de Deus.
Nesse tempo, Judson escreveu à noiva: "Em tudo que faço, pergunto a mim mesmo: Isto agradará ao Senhor?... Hoje alcancei maior grau do gozo de Deus, tenho sentido grande alegria perante o seu trono".
É assim que Judson nos conta a sua chamada para o serviço missionário: "Foi quando andava num lugar solitário, na floresta, meditando e orando sobre o assunto e quase resolvido a abandonar a idéia, que me foi dada a ordem: 'Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura'. Este assunto foi-me apresentado tão claramente e com tanta força, que resolvi obedecer, apesar dos obstáculos que se apresentaram diante de mim".
Judson, com quatro dos seus colegas, reuniram-se junto a um montão de feno, para orarem e ali solenemente dedicarem, perante Deus, suas vidas para levar o Evangelho "aos confins da terra". Não havia qualquer junta de missões para os enviar. Contudo, Deus honrou a dedicação dos moços, tocando nos corações dos crentes, para suprirem o dinheiro. Judson foi chamado, então, a ocupar um lugar no corpo docente na universidade de Brown, mas recusou o convite. Depois foi chamado a pastorear uma das maiores igrejas da América do Norte. Este convite, também, foi rejeitado. Foi grande o desapontamento de seu paí e o choro de sua mãe e irmã ao saberem que Judson se oferecera para a obra de Deus no estrangeiro, onde nunca fora proclamado o Evangelho.
A esposa de Judson mostrou ainda mais heroísmo porque era a primeira mulher que sairia dos Estados Unidos, como missionária. Com a idade de dezesseis anos, teve a sua primeira experiência religiosa. Vivia tão entregue à vaidade que seus conhecidos receavam o castigo repentino de Deus sobre ela. Então, em certo domingo, enquanto se preparava para o culto, ficou profundamente comovida pelas palavras: "Aquela que vive nos prazeres, apesar de viver, está morta". Acerca da sua vida transformada, escreveu-lhe ela mais tarde: "Eu desfrutava dia após dia, a doce comunhão com o bendito Deus; no coração sentia o amor que me ligava aos crentes de todas as denominações; achei as sagradas Escrituras doces ao paladar, senti tão grande sede de conhecer as coisas religiosas que, freqüentemente, passava quase noites inteiras lendo". Todo o ardor que mostrara na vida mundana agora o sentia na obra de Cristo. Por alguns anos, antes de aceitar a chamada missionária, era professora e se esforçava em ganhar os alunos para Cristo.
Adoniram, depois de despedir-se de seus pais para iniciar sua viagem à Índia, foi acompanhado até Boston por seu irmão, Elnatã, moço ainda não-salvo. No caminho, os dois apearam dos seus cavalos, entraram na floresta e lá, de joelhos, Adoniram rogou a Deus que salvasse seu irmão. Quatro dias depois, os dois se separaram para não se verem mais neste mundo. Alguns anos depois, porém, Adoniram teve notícias de que seu irmão recebera também a herança no reino de Deus.
Judson e sua esposa embarcaram para a Índia em 1812, passando quatro meses a bordo do navio. Aproveitando essa oportunidade para estudar, os dois chegaram a compreender que o batismo bíblico é por imersão, e não por aspersão, como a sua denominação o praticava. Não considerando a oposição de seus muitos conhecidos, nem o seu sustento, não vacilaram em informar isso àqueles que os tinham enviado. Foram batizados por imersão no porto de desembarque, Calcutá.
Expulsos logo dessa cidade, por causa da situação política, fugiram de país em país. Por fim, dezessete longos meses depois de partirem da América, chegaram a Rangum, na Birmânia. Judson estava quase exausto por causa dos horrores que sofrera a bordo; sua esposa, estava tão perto da morte que não mais podia caminhar, sendo levada para terra em uma padiola.
O império da Birmânia de então era mais bárbaro, e de língua e costumes mais estranhos do que qualquer outro país que os Judson tinham visto. Ao desembarcarem os dois, em resposta às orações feitas durante as longas vigílias da noite, foram sustentados por uma fé invencível e pelo amor divino que os levava a sacrificar tudo, para que a gloriosa luz do Evangelho raiasse também nas almas dos habitantes desse país.

Agora, um século depois, podemos ver como o Mestre dirigia seus servos, fechando as portas, durante a prolongada viagem, para que não fossem aos lugares que esperavam e desejavam ir. Hoje pode-se ver claramente que Rangum, o porto principal da Birmânia, era justamente o ponto mais estratégico para iniciar a ofensiva da Igreja de Cristo contra o paganismo no continente asiático.
No difícil estudo do idioma birmanês foi necessário fazer o seu próprio dicionário e gramática. Passaram-se cinco anos e meio antes de fazerem o primeiro culto para o povo. No mesmo ano batizaram o primeiro convertido apesar de cientes da ordem do rei de que ninguém podia mudar de crença sem ser condenado à morte.
Ao sair da sua terra para ser missionário, Judson levava uma soma considerável de dinheiro. Essa quantia ele a ganhara de seu emprego e parte recebeu-a de ofertas de parentes e amigos. Não só colocou tudo isto aos pés daqueles que dirigiam a obra missionária mas, também, a elevada quantia de cinco mil e duzentos rúpias que o Governador Geral da Índia lhe pagara por seus serviços prestados por ocasião do armistício de Yandabo.
Recusou o emprego de intérprete do governo, com salário elevado, escolhendo antes sofrer as maiores privações e o opróbrio, para ganhar as almas dos pobres birmaneses para Cristo.
Durante onze meses, esteve preso em Ava. (Ava era naquele tempo a capital da Birmânia.) Passou alguns dias, com mais sessenta outros sentenciados à morte, encerrado em um edifício sem janelas, escuro e quente, abafado e imundo em extremo. Passava o dia com os pés e mãos no tronco. Para passar a noite, o carcereiro enfiava-lhe um bambu entre os pés acorrentados, juntando-o com outros prisioneiros e, por meio de cordas, arribava-os para apenas os ombros descansarem no chão. Além desse sofrimento, tinha de ouvir constantemente gemidos misturados com o falar torpe dos mais endurecidos criminosos da Birmânia. Vendo os outros prisioneiros arrastados para fora para morrer às mãos do carrasco, Judson podia dizer: "Cada dia morro". As cinco cadeias de ferro pesavam tanto, que levou as marcas das algemas no corpo até a morte. Certamente ele não teria resistido, se a sua fiel esposa não tivesse conseguido permissão do carcereiro para, no escuro da noite, levar-lhe comida e consolá-lo com palavras de esperança.
Um dia porém, ela não apareceu; essa ausência durou vinte longos dias. Ao reaparecer, trazia nos braços uma criancinha recém-nascida.
Judson, uma vez liberto da prisão, apressou-se o mais possível a chegar a casa, mas tinha as pernas estropiadas pelo longo tempo que passara no cárcere. Fazia muitos dias que não recebia notícias de sua querida Ana! - Ela ainda vivia? Por fim, encontrou-a, ainda viva, mas com febre, e próximo de morte.
Dessa vez ela ainda se levantou, mas antes de completar 14 anos na Birmânia, faleceu. Comove a alma ao ler a dedicação de Ana Judson ao marido, e a parte que desempenhou na obra de Deus, e em casa até o dia da sua morte.
Alguns meses depois da morte da esposa de Judson, a sua filha também morreu. Durante os seis longos anos que se seguiram, ele trabalhou sozinho, casando-se, então, com a viúva de outro missionário. A nova esposa, gozando os frutos dos esforços incessantes na Birmânia, mostrou-se tão dedicada ao marido como a primeira.
Judson perseverou durante vinte anos para completar a maior contribuição que se podia fazer à Birmânia, a tradução da Bíblia inteira na própria língua do povo.
Depois de trabalhar constantemente no campo estrangeiro durante trinta e dois anos, para salvar a vida da esposa, embarcou com ela e três dos filhos, de volta à América, sua terra natal. Porém, em vez de ela melhorar da doença que sofria, como se esperava, morreu durante a viagem, sendo enterrada em Santa Helena, onde o navio aportou.
- Quem poderá descrever o que Judson sentiu ao desembarcar nos Estados Unidos, quarenta e cinco dias depois da morte da sua querida esposa?! Ele, que estivera ausente durante tantos anos da sua terra, sentia- se agora perturbado acerca da hospedagem nas cidades de seu país. Surpreendeu-se, depois de desembarcar, ao verificar que todas as casas se abriam para recebê-lo. Seu nome tornara-se conhecido de todos. Grandes multidões afluíam para ouvi-lo pregar. Porém, depois de passar trinta e dois anos ausente na Birmânia, naturalmente, sentia-se como se estivesse entre estrangeiros, e não queria levantar-se diante do público para falar na língua materna. Também sofria dos pulmões e era necessário que outrem repetisse para o povo o que ele apenas podia dizer balbuciando.
Conta-se que, certo dia, num trem, entrou um vendedor de jornais. Judson aceitou um e, distraído, começou a lê-lo; o passageiro ao lado chamou-o a atenção, dizendo que o rapaz ainda esperava o níquel pelo jornal. Olhando para o vendedor, pediu desculpas, pois pensara que oferecessem o jornal de graça, visto que ele estava acostumado a distribuir muita literatura na Birmânia sem cobrar um centavo, durante muitos anos.
Passara apenas oito meses entre seus patrícios, quando se casou de novo e embarcou pela segunda vez para a Birmânia. Continuou a sua obra naquele país, sem cansar, até alcançar a idade de sessenta e um anos. Judson foi, então, chamado a estar com o seu Mestre enquanto viajava longe da família. Conforme o seu desejo, foi sepultado em alto mar.
Adoniram Judson costumava passar muito tempo orando de madrugada e de noite. Diz-se que gozava da mais íntima comunhão com Deus enquanto caminhava apressadamente. Os filhos, ao ouvirem seus passos firmes e resolutos dentro do quarto, sabiam que seu pai estava levando suas orações ao trono da graça. Seu conselho era: "Planeja os teus negócios se for possível, para passares duas a três horas, todos os dias, não só em adoração a Deus, mas orando em secreto".
Sua esposa conta que, durante a sua última doença, antes de falecer, ela leu para ele a notícia de certo jornal, acerca da conversão de alguns judeus na Palestina, justamente onde Judson queria trabalhar antes de ir à Birmânia. Esses judeus, depois de lerem a história dos sofrimentos de Judson na prisão de Ava, foram inspirados a pedir, também, um missionário e assim iniciou-se uma grande obra entre eles.
Ao ouvir isto, os olhos de Judson se encheram de lágrimas, tendo o semblante solene e a glória dos céus e estampada no rosto, tomou a mão de sua esposa dizendo: "Querida, isto me espanta. Não compreendo. Refiro- me à notícia que leste. Nunca orei sinceramente por uma coisa sem a receber; recebi-a apesar de demorada, de alguma maneira, e talvez numa forma que não esperava, mas a recebi. Contudo, sobre este assunto eu tinha tão pouca fé! Que Deus me perdoe e, enquanto na sua graça quiser me usar como seu instrumento, limpe toda a incredulidade de meu coração".

Nesta história, nota-se outro fato glorioso: Deus não só concede frutos pelos esforços dos seus servos, mas, também, pelos seus sofrimentos. Por muitos anos, até pouco antes da sua morte, Judson considerava os longos meses de horrores da prisão em Ava, como inteiramente perdidos à obra missionária.
No começo do trabalho na Birmânia, Judson concebeu a idéia de evangelizar, por fim, todo o país. A sua maior esperança era ver durante a sua vida, uma igreja de cem birmaneses salvos e a Bíblia impressa na língua desse país. No ano da sua morte, porém, havia sessenta e três igrejas e mais de sete mil batizados, sendo os trabalhos dirigidos por cento e sessenta e três missionários, pastores e auxiliares. As horas que passou diariamente suplicando ao Deus que dá mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, não foram perdidas.
Durante os últimos dias da sua vida fazia menção, muitas vezes, do amor de Cristo. Com os olhos iluminados e as lágrimas correndo-lhe pelas faces, exclamava: "Oh! o amor de Cristo! O maravilhoso amor de Cristo, a bendita obra do amor de Cristo!" Certa ocasião ele disse: "Tive tais visões do amor condescendente de Cristo e da glória do Céu, que, creio, quase nunca são concedidas aos homens. Oh! o amor de Cristo! É o mistério da inspiração da vida e a fonte da felicidade nos céus. Oh! o amor de Jesus! Não o podemos compreender agora, mas quão grande será em toda a eternidade!
Acrescentamos o último parágrafo da biografia de Adoniram Judson escrita por um dos seus filhos. Quem pode lê-lo sem sentir o Espírito Santo o animar a tomar parte ativa e definida em levar o Evangelho a um dos muitos lugares sem o Evangelho?
Até aquele dia, quando todo o joelho se dobrará perante o Senhor Jesus, os corações crentes serão movidos aos maiores esforços, pela lembrança de Ana Judson, enterrada debaixo do hopiá (uma árvore) na Birmânia; de Sara Judson, cujo corpo descansa na ilha pedregosa de Santa Helena e de Adoniram Judson, sepultado nas águas do oceano Índico.

Do livro: Heróis da fé.
Orlando Boyer.