Adoração, Santidade e Serviço. “ Os Princípios de Deus Para Sua Igreja Em Levítico”.
Antes de iniciar este
capítulo, fui à internet para ver alguns quadros que tivessem como motivo o
pão, o alimento por excelência. E, ali, entre gravuras de todos os tempos e
lugares, reparei que o pão combina com todas as mesas e harmoniza-se com todas
as iguarias. Quer numa cozinha ocidental, quer numa oriental, faz-se ele
presente. Aqui, tem um formato cilíndrico; ali, uma forma cúbica; mais além,
uma silhueta abaulada como os gostosos pães italianos.
Nas Sagradas Escrituras, o pão é apresentado não
apenas como alimento, mas também como liturgia e comunhão. No Tabernáculo
Santo, servia para honrar e enaltecer o Senhor. Já na Igreja Cristã, é
utilizado como símbolo do corpo do Filho de Deus, que, no Calvário, deixou-se
partir vicariamente por mim e por você, querido leitor.
Estudaremos, neste capítulo, os pães da proposição.
Conhecidos ainda como os pães da apresentação, encerram eles, quando dispostos
no Lugar Sagrado, uma teologia lindamente remidora; soteriologia eterna.
Depois, veremos a sua tipologia em relação a Jesus Cristo, que, num
pronunciamento carregado de significados redentores, declarou-se como o Pão que
desceu do Céu.
I. UMA BREVE HISTÓRIA DO PÃO
Nas linhas a seguir, esboçaremos rapidamente a
história do pão que, conforme já dissemos, é o mais universal dos alimentos.
Nos mais diversos formatos e nos mais variados sabores, é encontrado em todas
as sociedades. Feito de trigo, de cevada ou de milho, o pão orna a mesa do rico
e não deixa de embelezar a mesa do pobre. Comecemos por estudar essa palavra
tão abençoada.
1. A origem da palavra “pão”. A palavra “pão”, em
português, origina-se do substantivo latino panis que, por seu turno, provém de
um termo antiquíssimo: pa, que significa nutrição. Para os romanos, acostumados
ao amanho do trigo, o pão é aquilo que nutre o homem. Acredito que, desse
conceito, ninguém discorda. Hoje mesmo, antes de assentar-me a escrever,
precisei alimentar-me com uma gostosa fatia de pão integral. A partir daí,
ganhei forças e disposição para dar sequência a este trabalho. Senhor,
ajuda-me.
2. A origem do pão. A história tem o Egito como a
primeira padaria do mundo. Ali, às margens do Nilo, onde a fertilidade já era
proverbial há cinco mil anos, os trigais espalhavam-se do Alto ao Baixo Egito.
E, muito cedo, o egípcio veio a descobrir que o grão do trigo, se esfarinhado,
levedado e levado ao forno, transforma-se num alimento nutritivo e delicioso.
No Egito, havia mais de trinta variedades de pães.
Ovais, cônicos ou triangulares, eram tidos como a iguaria predileta dos deuses.
Conta-se que o Faraó Ramsés III (1194 – 1163 a.C.) teria ofertado aos ídolos
mais de duzentos mil pães.
Os padeiros tornaram-se tão requisitados no Egito, que
não demoraram a organizar suas guildas e aquilo que, modernamente, chamamos de
sindicato. Eram orgulhos de seu ofício; exigentes ao extremo. Às vezes,
insuportáveis. Não foi sem motivo que o Faraó, nos dias de José, filho de Jacó,
mandou executar o seu padeiro-mor.
Antes de avançarmos, neste tópico, ressalvamos que há
uma leve controvérsia quanto à origem do pão. Para alguns historiadores, este
alimento teria surgido não no vale do Nilo, mas no vale entre os rios Tigre e
Eufrates. Mas, se perguntarmos a um chinês acerca da proveniência do pão, é bem
provável que ele nos responda que este não proveio nem do Egito, nem da
Mesopotâmia, mas apareceu no vale do rio Huang He. Não obstante as
controvérsias acadêmicas, o certo é que o pão aí está, em nossas mesas, todos
os dias. Obrigado, Senhor.
3. O pão em Israel. Antes mesmo de os israelitas
descerem ao Egito, precedidos por José e liderados por Jacó, o pão já fazia
parte da dieta hebreia. A primeira referência que aparece, na Bíblia, acerca do
pão é feita pelo próprio Deus ao disciplinar Adão: “No suor do rosto comerás o
teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao
pó tornarás” (Gn 3.19, ARA). Até aquele momento, o homem não havia precisado
amanhar a terra para arrancar dela o seu sustento; vivia da coleta exuberante
do Éden. No entanto, a partir do juízo divino, teria ele de trabalhar
arduamente, a fim de prover o seu pão diário.
Teria Deus se referido indiretamente ao trigo ao
mencionar o pão? Vejamos o significado dessa palavra no idioma original do
Antigo Testamento. A palavra hebraica lechem significa, além de pão, alimento,
refeição, comida, mantimento e, também, pão sagrado ou da proposição.
Quer direta, quer indiretamente, o Senhor alertava
Adão de que, a partir de agora, teria ele de processar arduamente o seu
sustento diário. E, nessa proposição, temos bem presente a palavra de Paulo aos
irmãos de Tessalônica. Aos desocupados daquela congregação, afirmou
energicamente o apóstolo: “Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto:
se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2 Ts 3.10, ARA).
Sem trabalho não há pão; a agricultura é a base da
riqueza das nações.
Acostumados a uma dieta rica e variada, os hebreus, já
no final de sua estadia no Egito (cativeiro escancarado), tiveram de adaptar-se
a um cardápio pobre e ralo; subsistência amarga. Nas panelas que lhes dava
Faraó, havia carne e peixe; pão não havia. É o que inferimos deste lamento
proferido numa das apostasias de Israel no Sinai: “Lembramo-nos dos peixes que,
no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das
cebolas e dos alhos” (Nm 11.5).
Por que o rei do Egito não lhes dava pão? Alimento
destinado à comunhão social egípcia e à liturgia dos templos faraônicos, o pão
jamais poderia, no imaginário egípcio, ser destinado a uma sociedade abominável
e servil como a hebreia. Então, que o trigo do Nilo fosse trazido a Rá-Atum, a
Hathor e a Osíris. Quanto aos filhos de Israel, que se contentassem com o
refugo da mesa de seus amos.
De acordo com nossos padrões nutricionais, a dieta
descrita no murmúrio hebreu parece rica. Mas, se numa mesa israelita faltasse o
pão, nenhuma refeição estaria completa.
Libertos do cativeiro, os israelitas puderam retornar
à sua dieta. Como não havia trigo para alimentar toda a multidão que
atravessara o mar Vermelho, os levitas houveram por bem reservar o trigo, que
ainda tinham e que de alguma maneira produziam, ao uso litúrgico. Para que o
povo não viesse a desnutrir-se, proveu-lhes o Senhor o maná; pão dos anjos
comungado aos homens.
4. O pão na Grécia. O trigo começou a ser processado
como pão, na Grécia, quando as várias famílias helenas, chegadas do Leste, por
volta do século XII a.C, instalaram-se naquelas paragens, que, ainda hoje, são
acariciadas pelos ventos elísios. Para aquela gente de terra pobre e mente
rica, os cereais eram considerados um dom dos deuses. Ou, mais propriamente, de
uma deusa que, embora gentil e prestativa, era malcomportada e vingativa. Filha
de Cronos e de Reia, Deméter saiu pelo mundo, na companhia de Dionísio, a
ensinar os homens a plantar e a colher. Por isso, reverenciavam-na como a
divindade responsável pela agricultura. Em Roma, ela receberia outro nome:
Ceres; daí a palavra cereal. Por que os egípcios, gregos e romanos atribuíam o
seu sustento a deuses nulos e inúteis, e não ao Todo-Poderoso? Que eles não
ignoravam a existência de Deus, todos o sabemos. Pelo menos os gregos, conforme
a narrativa lucana, haviam consagrado um altar ao Deus Desconhecido. Mas, tendo
eles os moradores de Heliópolis (morada dos deuses egípcios) e do monte Olimpo
(albergue das divindades gregas) como mais acessíveis, pois eram estes tão
dissolutos e imorais quanto aqueles, ignoravam os benefícios que, diariamente,
recebiam do Senhor.
Em seu discurso em Listra, o apóstolo Paulo, depois de
ser confundido com o deus Mercúrio, deixou bem patente aos moradores daquela
antiga cidade da Licaônia, que a subsistência de todos os seres humanos depende
unicamente do Deus Único e Verdadeiro, e não dos ídolos que, a bem da verdade,
não passam de coisas bizarras e grotescas:
Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens
como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para
que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o
mar e tudo o que há neles; o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os
povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem
testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações
frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria. (At 14.15,16,
ARA)
Dizendo isto, relata ainda Lucas, “foi ainda com
dificuldade que impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios”. Que
provação para Barnabé e Paulo. Como tinham suficiente maturidade, não se
deixaram enredar pelo marketing do Diabo. Em seu discurso, o apóstolo elaborou,
rápida e profundamente, o que podemos chamar de teologia do pão.
II. A TEOLOGIA DO PÃO: A DOUTRINA QUE NUTRE
Talvez, você, querido leitor, esteja dizendo que o
autor destas linhas vê teologia em todas as coisas. Você não está errado. Na
verdade, vejo não apenas teologia em tudo, mas em tudo vejo o próprio Deus. Por
esse motivo, teologizo sempre. Nesse verbo intransitivo e, às vezes, tão mal conjugado,
diviso a solução para todos os problemas humanos. Não agiam assim os profetas e
apóstolos? Então, que reflitamos sobre a teologia do pão.
1. Terceiro dia; a semente do pão. No livro de
Gênesis, observo que o reino vegetal teve início no terceiro dia da criação.
Narra o autor sagrado:
Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos
céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez. À porção seca
chamou Deus Terra e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus que isso era
bom. E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores
frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele,
sobre a terra. E assim se fez. A terra, pois, produziu relva, ervas que davam
semente segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava
nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom. Houve tarde e manhã,
o terceiro dia. (Gn 1.9-13, ARA)
Lavrador de excelência, o Senhor da vinha preparou o
terreno, amanhou a terra e, só então, lançou a sementeira, abundante e pródiga,
sobre a terra. Entre as plantas que não demorariam a brotar, estava o trigo.
Daquela sementinha, agora inumada, brotaria uma planta que os homens
cientificamente alcunharam, alguns milênios depois, de Triticum Aestivum.
Acredito que, dentre todos os cereais, o trigo é o
mais belo de todos. Como descrever seu caule ereto, suas folhas planas, suas
espigas densas e suas cariopses intumescidas e gentilmente tenras? Ante um
trigal, tem-se a impressão de estar à beira de um campo polvilhado de ouro.
Dessa beleza toda, porém, sai o grão que, triturado e
moído, alimentará milhões de pessoas todos os dias. Se Deus fez o trigo, como
não o agradecer pela subsistência?
2. Ações de graças pelo pão. Na Oração Dominical, o
Senhor Jesus colocou uma petição nos lábios de seus discípulos, que jamais
deveria abandonar-nos a boca. Em menos de dez palavras, aprendemos a garantir a
nossa subsistência até que, da terra dos viventes, sejamos tirados: “O pão
nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11). Aqui, nessa oração tão singela e
despretensiosa, despojada de ativismos sociais e reivindicações políticas,
acha-se o equilíbrio e o segredo à paz mundial.
Se os governantes todos, ao invés de terçarem armas,
dirigissem clamores e rogos a Deus, implorando-lhe pelo sustento de seus povos,
não haveria necessidade de conflitos ou guerras. Todos os confrontos haveriam
de ser substituídos por orações, preces e lágrimas. Quanto aos apetrechos
bélicos, seriam transformados em implementos agrícolas, conforme profetiza
Isaías ao antever o reinado de Jesus Cristo, no Milênio: “Ele julgará entre os
povos e corrigirá muitas nações; estas converterão as suas espadas em relhas de
arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra
outra nação, nem aprenderão mais a guerra” (Is 2.4, ARA).
Mas, para que isso ocorra, é urgente que todos nos
voltemos aos exemplos de petição e gratidão deixados pelo Filho de Deus,
durante a sua missão na Terra de Israel. Se no início de seu ministério, Ele
ensinou os discípulos a implorar ao Pai pela manutenção diária, no encerramento
de seu ofício terreno, levou-os a aprender a beleza do agradecimento.
Na celebração da última Páscoa, e já na comemoração da
primeira Santa Ceia, deixou-nos o maior exemplo de gratidão, conforme registra
Paulo. Embora não haja presenciado a instituição da segunda ordenança, o
apóstolo considerou as palavras do Filho de Deus mais do que um sacramento; era
uma rememoração profética, cujo cumprimento ansiosamente aguardamos: “Porque eu
recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em
que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o
meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (1 Co 11.23,24,
ARA).
Do que já estudamos, concluímos: na teologia do pão,
há três grandes proposições: petição, ações de graças e liturgia. Quem
diariamente nos sustenta é Deus; a Ele, nossas petições. Se Ele é o nosso
sustento, apresentemos-lhe, em cada cotidiano, reconhecimentos e gratidões.
Então, o que já vislumbramos? Uma liturgia em torno do pão nosso de cada dia.
3. A liturgia do pão. A primeira ação litúrgica
envolvendo o pão deu-se no encontro de Abraão com Melquisedeque. Em Salém, como
já vimos, o rei da então Cidade Santa trouxe ao patriarca hebreu pão e vinho.
E, ali, num momento em que convergiam o Antigo e o Novo Testamento, ambos
celebraram, perspectivamente, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo (Gn
14.18-20).
Abraão participaria ainda de outra refeição profética
e memorial. Agora, com o próprio Deus. Ao ver o Senhor, teofanicamente
manifestado, o patriarca dispôs-se de imediato a preparar-lhe uma refeição que,
generosa e farta, aprofundaria a comunhão entre ambos. Disse-lhe Abraão,
agradecendo-o já por todas as promissões: “Senhor meu, se acho mercê em tua
presença, rogo-te que não passes do teu servo; traga-se um pouco de água, lavai
os pés e repousai debaixo desta árvore; trarei um bocado de pão; refazei as
vossas forças, visto que chegastes até vosso servo; depois, seguireis avante”
(Gn 18.3-5, ARA).
Dessa forma, o patriarca consagrou ao Senhor, naquele
dia já tão memorável, e sob os carvalhais de Manre, o primeiro pão da
apresentação. As árvores, servindo-lhe de Tabernáculo, e a terra na qual
pisava, erigindo-se-lhe como mesa, tinha Abraão um santuário perfeito para
adorar a Deus. Aquele pão, assado ao borralho, fez-se presença e santa
proposição naquele instante; prenúncio da adoração levítica.
III. OS PÃES DA APRESENTAÇÃO
Para que os pães da proposição fossem introduzidos no
Tabernáculo, Deus ordenou o fabrico de uma mesa especial. Quanto aos pães,
deveriam estes ser preparados de acordo com uma receita bastante específica.
1. A mesa dos pães. A mesa que receberia os pães da
proposição, feita de madeira de acácia, tinha essas medidas: dois côvados de
cumprimento (90 centímetros), um côvado de largura (45 centímetros) e sua
altura, um côvado e meio (70 centímetros) (Êx 25.23-30). A mesa, toda revestida
de ouro fino, recebeu adornos da altura de quatro dedos, mui apropriados para
conter os pães sagrados. Suas argolas serviam para transportá-la. A madeira de
acácia, por ser medicinal, evitava fungos e parasitas que poderiam contaminar
os pães sagrados.
2. Os pães da proposição. Os pães da proposição eram
preparados todos os sábados pelos coatitas (1 Cr 9:32). Em sua composição,
usava-se a flor da farinha de trigo (Lv 24.5). Ou seja, a parte mais fina e
nobre desse produto. Depois de cozido, eram postos em duas fileiras sobre a
mesa, sendo entremeados por incenso (Lv 24.6,7). Doze pães, um para cada tribo
de Israel.
Eis como os pães eram dispostos. O culto divino,
embora repulse o formalismo, não dispensa a ordem nem a decência. Todas as
coisas, tanto ontem quanto hoje, devem ser feitas para glorificar o nome de
Deus. Às vezes, na tentativa de fugir ao cerimonialismo, caímos numa
informalidade bizarra e afrontosa que, a seu próprio modo, não deixa de ser um cerimonialismo.
Aprendamos com os levitas como proceder no culto
divino. Fugindo aos extremos, adoremos a Deus em espírito e em verdade. Até na
mesa dos pães sagrados, observa-se a reverência devida ao Pai Celeste.
3. A simbologia dos pães. Os pães da proposição
simbolizavam a presença sempre providencial de Deus no meio de seu povo (Jr
32.38). Desta forma, os israelitas deveriam saber que o homem não vive só de
pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus (Mt 4.4). Quanto ao pão
estar acompanhado de incenso, significa isso que a presença do Senhor sempre
vem acompanhada pelas orações dos santos (Ap 5.8; 8.3,4).
Os pães da proposição ou da presença, representam
ainda a Palavra de Deus, que, por intermédio do Evangelho, alimenta o mundo
faminto (Jo 1.1).
IV. A PALAVRA DE DEUS É O PÃO DA VIDA
Para o povo de Israel, o pão é mais do que um
alimento; é uma experiência cerimonial e tipológica (Gn 14. 18-20). Quer no
Tabernáculo quer fora do Tabernáculo, o pão sempre simbolizou a presença de
Deus entre o seu povo.
1. A Palavra de Deus é vida. Durante a peregrinação de
Israel no Sinai, os israelitas conscientizaram-se de que nem só de pão vive o
homem, mas da Palavra de Deus (Dt 8.3). Durante 40 anos, Deus os sustentou com
o maná, o pão que descia dos céus a cada manhã (Êx 16.31-35). A presença divina
era perceptível tanto no Tabernáculo quanto no arraial. Todos sabiam que,
apesar das asperezas do deserto, o Senhor jamais os abandonaria naquela árdua
caminhada.
Sem a intervenção divina no cotidiano hebreu, eles
jamais teriam sobrevivido às inclemências do Sinai. Os oásis, quando
encontrados, não eram suficientes para saciar a sede de uma população ambulante
de aproximadamente dois milhões de pessoas. Ali, longe do Egito e ainda
distante de Canaã tinham de confiar, exclusivamente, na providência divina.
Relata-nos a Bíblia que, apesar de uma jornada de 40 anos, foram
sobrenaturalmente preservados. Os óbitos deixamo-los por conta das apostasias e
desvios de uma geração que, apesar de arrancada do Egito, com mão poderosa, não
pôde ou não quis, arrancar o Egito de seu coração.
2. A Palavra de Deus é o nosso sustento diário. Além
do pão, Deus proporcionava cotidianamente ao seu povo água, direção, proteção e
iluminação (Êx 13,21; 15.22-27, 17.1-16). Diariamente, os israelitas eram
sustentados, orientados e protegidos pelo Senhor. À semelhança de Davi, eles
podiam declarar que o Senhor era o seu pastor; nada lhes faltava (Sl 23.1).
Já antes mesmo de haver completado 60 anos, deixava-me
tomar por uma preocupação: “Como será o meu futuro?”. Nessas horas, porém,
lembrava-me da confiança do salmista nos cuidados do Senhor. Já tomado pelas
cãs, confessou que, apesar de velho, jamais viu um justo a passar necessidade,
nem a sua descendência a mendigar o pão. Nessa confiança, descanso, hoje, como
se tudo já estivesse resolvido; de fato, já o está. Glória a Deus.
3. A Palavra de Deus é o nosso sustento específico. Na
mesa do Tabernáculo, havia, como já vimos, doze pães distribuídos em duas
fileiras, sendo um pão para tribo de Israel (Lv 24.5). Entre as fileiras de
pães, o incenso (Lv 24.7). O que isso significa? Antes de tudo, que Deus
alimenta o seu povo tanto coletiva, quanto individualmente. Ele conhece
perfeitamente nossas necessidades (Sl 103.14; Mt 6.8). O que podemos inferir
dessa lição? Deus tem uma comida personalizada para mim, para você e para cada
santo em particular.
O Pai Celeste é mais do que um chefe de cozinha; é um
nutricionista zeloso e consciente de nossas carências, necessidades e
precisões. Por isso, administra-nos o alimento certo na hora certa. Se estamos
fracos, eis-nos uma comida leve. Mas, se já fortalecidos, serve-nos uma
refeição sólida como o pão que o anjo dispôs a Elias. Com a força daquela
comida, o profeta caminhou quarenta dias e quarenta noites (1 Rs 19.8).
Chegando a Horebe, seu ânimo ainda se renovava.
V. JESUS CRISTO, O PÃO QUE DESCEU DO CÉU
Os pães da proposição são o mais perfeito símbolo do
Senhor Jesus Cristo, pois a sua missão, neste mundo, foi (e sempre será)
alimentar-nos com a Palavra de Deus (Jo 1.1).
1. Jesus, o pão da vida. O Senhor Jesus, por meio de
sua palavra, revela-se como a água e o pão da vida (Jo 4.13,14; 8.32; Ap 7.17).
Certa vez, Ele foi tão claro acerca de sua missão redentora, que levou alguns
de seus discípulos mais chegados a escandalizarem-se com o seu discurso (Jo
6.48-60).
O Senhor Jesus, como o pão vivo, não se limitou a
ficar no santuário, mas, encarnando-se, trouxe a presença do Pai Celeste a toda
a humanidade (Mt 1.23; Hb 1.3).
2. Jesus, o pão de nossa comunhão com o Pai. Jesus,
como o pão vivo que desceu do céu, não precisa ser trocado todos os sábados,
como os pães da proposição (Lv 24.8). Nosso Salvador, além de ser um sumo
sacerdote infinitamente superior a Arão, é o pão divino; e, do próprio sábado,
é Senhor (Mt 12.8; Jo 6.41; Hb 7.17-25). Aliás, Jesus Cristo é o próprio
Tabernáculo de Deus. Ao encarnar-se, tornou-se semelhante a nós (Jo 1.14; Hb
9.11,12). E, com a sua morte e ressurreição, fez-nos acessível o trono da
graça, no qual, hoje, entramos ousadamente (Hb 4.16).
3. Dai-lhes vós de comer. Hoje, ao proclamarmos o
Evangelho, outra coisa não fazemos senão alimentar os famintos com a Palavra de
Deus (Mt 28.18-20; Lc 9.13). Portanto, evangelizemos e façamos missões enquanto
há tempo. A fome espiritual nunca foi tão acentuada como nos dias de hoje (Am
8.11,12).
A um mundo faminto e desesperançado, ofereçamos o que,
de fato, pode sustentá-lo: a Palavra de Deus. Soa-nos aos ouvidos, a ordem
urgente e irresistível do Mestre: “Dai-lhes vós de comer”. Se temos o
Evangelho, por que retardar a evangelização de nosso bairro? Se começarmos a
falar de Jesus à nossa vizinha, em breve o nosso país experimentará um grande
avivamento. Não nos esqueçamos da Obra Missionária. Regiões, como o Leste da
Europa e o Oriente Médio, clamam por nossa intervenção.
CONCLUSÃO
No Antigo Testamento, apenas o sumo sacerdote e seus
filhos tinham direito de comer dos pães da proposição. A única exceção foi Davi
e seus homens (Mc 2.26). Por intermédio de Cristo, entretanto, temos acesso não
somente aos pães da proposição como também ao lugar mais santo do Tabernáculo.
E, todas as vezes que nos reunimos para celebrar a Ceia do Senhor, lembramo-nos
de que Jesus é a presença eterna do Pai entre nós; o pão de nossa comunhão
santa (1 Co 11.23,24).
Jesus é o pão da vida. Na simbologia de sua paixão e
morte, Ele, qual grão de trigo, foi triturado e moído em consequência de nossos
pecados. Aliás, a etimologia da palavra “trigo” significa exatamente isto:
aquilo que se tritura. Mas, ressurreto e glorificado, nosso Amado Senhor está a
alimentar-nos com a sua presença. Você já orou hoje? Já leu a Bíblia Sagrada?
Então, não morra de fome. Faça uma pausa: ore, mesmo em espírito. No instante
seguinte, vá aos profetas e apóstolos; medite neles.
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