domingo, 2 de julho de 2017

A Cura de uma Mulher Encurvada no Sábado- Lucas (13.10-17).

 Este milagre coloca Jesus, mais uma vez, em conflito com os líderes religiosos. Ocorre enquanto Ele está ensinando numa sinagoga no sábado (esta é a última ocasião em Lucas onde Jesus está numa sinagoga). Enquanto está ensinando, “eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade havia já dezoito anos; e andava curvada e não podia de modo algum endireitar-se” (v. 11). A menção do espírito é significativa, porque a deformidade da mulher não é devido ao processo de envelhecimento ou a uma doença, mas a um espírito maligno. O controle do demônio tinha ocasionado um efeito que a incapacitava, tornando-a impossível de se endireitar. A duração de tempo em que ela tinha vivido com esta condição mostra sua severidade.
É provável que a mulher tenha vindo à sinagoga para adorar. Ela não se aproxima de Jesus, nem pede que Ele a cure. Nada é dito sobre ela crer nEle. Os olhos de Jesus a encontram e Ele tem compaixão dela. Imediatamente Ele toma a iniciativa de chamá-la, põe-lhe as mãos e a pronuncia curada. O tempo perfeito enfatiza que a cura é permanente. Ela agora está ereta na frente de todos, livre do poder de Satanás que causou sua debilidade. Seu coração está cheio de gratidão, e ela começa a louvar Deus por suas obras poderosas. Ela conecta o poder de Deus com o que Jesus fez por ela.
A cura desta mulher mostra que Deus livra seu povo do poder de Satanás pela graça divina. Demonstra a presença do Reino. Mas o milagre também revela a hipocrisia dos líderes judeus e a crescente oposição contra Jesus. O príncipe da sinagoga fica indignado porque Jesus curou a mulher no sábado. Na sua opinião, Jesus violou o quarto mandamento. Na tradição judaica, tais ações de misericórdia eram permitidas no sábado somente se a vida da pessoa estivesse em sério perigo. Considerando que já fazia dezoito anos que a mulher precisava de ajuda, obviamente sua condição não era uma emergência.
Mas o príncipe da sinagoga evita atacar Jesus face a face. Ao invés disso, ele fala às pessoas e se queixa com elas: “Seis dias há em que é mister trabalhar; nestes, pois, vinde para serdes curados, e não no dia de sábado”. Ele aprecia o que acabara de ver. Tudo em que ele pode pensar é a profanação do sábado, ignorando que a mulher foi livre de sua dor. Ele desconsidera o poder curativo de Deus manifestado por Jesus e não mostra compaixão ou alegria com o milagre. Mas não ousando atacar Jesus diretamente, ele repreende o povo por vir no sábado para curar. Eles podem receber cura nos outros seis dias da semana.

Na verdade, o príncipe da sinagoga dirigiu sua repreensão a Jesus. O Salvador ungido pelo Espírito enfrenta este ataque indireto com uma resposta direta, chamando a ele e a todos os seus colegas de “hipócritas”. Como repreensão mordaz, Jesus faz duas perguntas. Ele pergunta se é permitida a pessoa cuidar de seus animais no sábado. Nos seus ensinos, os rabinos expressam grande preocupação com o cuidado com os animais. Até no sábado eles podiam ser cuidados. Água podia ser- tirada para o gado e derramada num cocho sem transgredir o sábado. A segunda pergunta de Jesus chega ao ponto desejado: Se animais podem ser cuidados no sábado, por que uma mulher deficiente tem de esperar outro dia para ser curada? Ela é “filha de Abraão”, membro do povo de Deus. Claro que ela é mais importante aos olhos de Deus que animais e deve ser liberta de Satanás. A frase “convinha soltar” significa literalmente “era necessário (edei) ser solta”. Esta expressão indica uma necessidade muito mais importante que dar água a um boi ou jumento. Jesus insiste que há uma obrigação moral de fazer o bem no sábado. Com efeito, esta mulher deve ser liberta; que dia poderia ser mais apropriado que o sábado? Satanás não para de trabalhar no sábado, e curando-a no sábado, Jesus revelou a impotência de Satanás. Deus dera a Israel o sábado como dispensa da escravidão do trabalho e como sinal de liberação(cf.Dt5.15;Mc 2.27). Nenhum dia poderia ser mais adequado para homens e mulheres serem libertos do governo de Satanás e ficarem sob o governo gracioso de Deus. Por suas obras de misericórdia, Jesus está consagrando o dia.   O príncipe da sinagoga tentou dificultar a resposta das pessoas à ação poderosa de Jesus. A resposta de Jesus deixa seus oponentes envergonhados. Ele lhes expôs a hipocrisia, e eles foram desacreditados aos olhos das pessoas na sinagoga. Em contraste, as pessoas estão emocionadas com as poderosas obras de Jesus. Elas se regozijam por causa de todas as ações gloriosas feitas por Jesus.

Fonte: Comentário Bíblico Petencostal, Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

sábado, 1 de julho de 2017

Subsídio Lição 01 Jovens 3º Trim 2017 - TEMPO PARA TODAS AS COISAS

“O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel."
— Platão
Um dos acontecimentos da natureza que mais inquietam o homem, sem dúvida, diz respeito ao fenômeno do tempo, pois ele traz consigo incógnitas insuperáveis ao ser humano, na medida em que Deus colocou no coração do homem não a temporalidade, mas a eternidade. Ou seja, a matéria submete-se à linha cronológica, temporal, mas a parte imaterial do ser humano anela um “tempo sem fim” — a eternidade. Nesse sentido, surge um conflito existencial, ontológico, bem identificado por Platão, o qual dizia que “o homem, ao longo dos séculos, jamais se contentou — e jamais se contentará — em dar a si mesmo o estatuto da transitoriedade e da corruptibilidade”.1 Assim, o anelo humano é ter uma existência isenta de limitação temporal (a eternidade está dentro de si), mas acha-se submetido ao pesado jugo da finitude. Há milênios, muitos estudiosos se debruçam sobre o enigmático tema do tempo. Agostinho de Hipona, por exemplo, dizia que o tempo é “um saber que se tem antes de se pensar nisso, e que logo se desconhece ao pensar-se o que é”. Diante de tanta apreensão conceituai, com humildade, o filósofo Martin Heidegger, ao falar sobre o conceito do tempo em uma palestra proferida em 1924, afirmou que “o teólogo é o verdadeiro especialista do tempo”,  pois ele trata das coisas atinentes a Deus, o Senhor do tempo e da eternidade.

Assim, seguindo o conselho Heidegger, considerado um dos maiores pensadores do século XX, importante examinar o tempo sob a ótica da teologia. A primeira constatação é que o tempo disponível para cada pessoa deve ser entendido como uma dádiva de Deus, pois todas as coisas pertencem ao Senhor (SI 24.1; Rm 11.36), inclusive o tempo. Ora, uma vez que o homem não pode produzir, ou reter, um único momento do seu tempo, isso, obviamente, não pode lhe pertencer. Dessa forma, existe equívoco em dizer “estou usando meu tempo para trabalhar”, ou “meu tempo é muito precioso”, pois essas frases possuem um problema de raiz, haja vista não se pode atribuir a si o que é de Outrem. Aliás, deve soar cômico, tanto diante dos anjos quanto dos demônios, quando os humanos sempre fazem reivindicações quanto às suas posses temporais, pois sabem que os seres humanos, na essência, não possuem absolutamente nada.
A. W. Tozer afirmou:
Os pronomes “meu” e “minha” parecem perfeitamente inocentes quando impressos no papel, mas o seu emprego constante e universal é muito significativo. Expressam a natureza real do velho homem adâmico melhor do que mil volumes de teologia. São sintomas verbais de nossa alma enferma.
Muitas pessoas demonstram essa “natureza do velho homem adâmico” no dia a dia, pelo modo como vivem, pois fazem o que querem, do jeito que querem, na hora que querem, sem se preocuparem com a opinião de Deus a respeito. A Bíblia, porém, recomenda que o tempo seja bem administrado, porquanto os dias são maus (Ef 5.16).
O tempo existe para, dentro dele, cumprirmos os propósitos do Senhor na Terra (Ec 3.1). Não pense que, ao servir o Senhor ou ajudar o próximo, presta-se um favor a Deus, pois isso é obrigação de todos. Erra-se quando não se veem as coisas da fôrma correta, acreditando que, por exemplo, duas horas no culto de domingo já está de bom tamanho; marca-se, então, um “feito” no tópico “Deus” na lista de afazeres da semana. Ledo engano.
É preciso, portanto, enxergar a vida sob a inexorável expectativa da transitoriedade da existência. “Quando se aprende a morrer, aprende-se a viver”, afirmou o professor americano Morrie Schwartz que, depois de longos anos lecionando brilhantemente em uma universidade americana, recebeu um diagnóstico médico que informava que ele morrería em pouco tempo, por conta de uma doença degenerativa incurável. Em seus últimos agonizantes dias, ele reconheceu que era difícil pensar nas coisas mais importantes da vida quando a morte parece longe. Esse sentimento, disse ele, leva-nos a vivermos tão envolvidos em objetivos egoístas, os mais diversos, que não temos tempo de dar uma parada, e olhar para trás... para perguntar a nós mesmos, se esse é o sentido da vida.
Schwartz teve esse esclarecimento nos momentos finais de sua existência. Graças a Deus que ele reavaliou seus conceitos. E mudou. A maioria dos homens, porém, pensa que ainda tem muito tempo para fazer essa reflexão e modificar a maneira de avaliar as coisas. Será?

I. 0 Tempo e suas Implicações
No princípio, antes de Deus criar o céu e a terra (Gn 1.1), já existia a vida, o Verbo (Jo 1.1). A matéria surgiu em um tempo posterior, mas a Vida pulsa desde a eternidade. Tal pensamento é corroborado por C. S. Lewis:
Está claro que jamais houve tempo em que nada existisse; de outra forma nada existiría agora. Mas existir significa ser um Algo positivo, possuir (metaforicamente) certa forma ou estrutura, ser isto e não aquilo. A Coisa que sempre existiu, isto é, Deus, teve então sempre seu próprio caráter positivo.
O Eterno, ao estabelecer o mundo, simplesmente criou a oportunidade para que todas as coisas viessem a exigir e fossem realizadas conforme o seu propósito, outorgando, porém, aos homens, por amor, o livre-arbítrio no tempo. Ou seja, Deus deu ao homem a capacidade de decidir o tempo e o modo de fazer as coisas, pois Ele não queria que a raça humana fosse composta de seres autômatos, mas de pessoas inteligentes que o amassem e seguissem pelo caminho da vida. Assim, “o Senhor é aquele que faz com que todas as coisas aconteçam no seu tempo’ e dá um propósito a tudo”.
Na eternidade, onde Deus habita (Is 57.15), porém, não há um tempo para todas as coisas. Tempo para todas as coisas acontece somente “debaixo do sol”. Deus, o Pai da eternidade (Is 9.6), tem o tempo em suas mãos. Sob suas ordens, o tempo pode retroagir — como no caso de Ezequias e o relógio de Acaz; parar — como no episódio de Josué, quando o sol e a lua pararam; ser abreviado — como é a situação dos dias finais (Mt 24.22). Não há limites para Ele.

A origem do tempo (chronos)
A Bíblia não esclarece detalhes de como aconteceu procedimentalmente a Criação, mas há, pelo menos, um aspecto importante revelado: não houve matéria anterior a este mundo visível (Hb 11.3). Assim, tem-se que Deus não produziu o universo a partir de um modelo atômico pretérito, mas fez tudo pelo poder de sua palavra. O Senhor, por sua multiforme sabedoria, estabeleceu uma ordem de coisas tangíveis, incomparavelmente maravilhosa e harmônica, por meio, inicialmente, de sua determinação: “haja luz” (Gn 1.3).
A partir do século XX, com o surgimento da teoria do “Big Bang”, a maioria dos cientistas passou a defender que o universo teve um marco inicial há mais de 13 bilhões de anos, quando um “átomo primordial” teria explodido, dando origem a tudo, porém inexistem dados aferíveis cientificamente que comprovem a hipótese do “Big Bang”. Com isso, os homens ímpios procuram justificar um universo sem Deus, para tirar toda a angústia de questionamentos irrespondíveis. Aliás, ao longo dos milênios os homens têm procurado desesperadamente encontrar respostas às três perguntas mais intrigantes da existência: Qual a origem de tudo — de onde vim? O destino de todos — para onde vamos? Sobre a natureza humana — quem sou eu?
Durante milênios se acreditou numa teoria chamada “geração espontânea” (abiogênese), segundo a qual a vida surgiu espontaneamente, a partir de qualquer ser inanimado, da mesma forma que o mofo aparece. Inacreditável!

Sobre o passado remoto, a palavra profética pouco pontifica; apenas diz que “pela fé entendemos que o mundo foi formado pela ordem de Deus; e que aquilo que se vê não foi feito daquilo que se vê!” (Hb 11.3 NBV)-. Entretanto, quanto ao futuro, existe uma expectativa que se pode afirmar com convicção; é a de que, quando chegar o fim do mundo, haverá um “grande estrondo” de proporções cósmicas, quando “os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão” (2 Pe 3.10).

A importância do tempo
O Senhor formou o tempo para, dentre outras coisas, estabelecer ciclos para todas as suas obras formadas (Gn 1.14), bem como para que o homem, a obra-prima da criação, pudesse, no tempo, buscar a Deus (At 17.26,27).
No tempo determinado, Deus entrou no tempo para poder tocar nos homens, por meio da encarnação de Jesus — era essa a única possibilidade de Deus existir no sentido histórico, por um tempo, para que os seres humanos pudessem entrar na eternidade, onde não existe tempo (chronos).
O plano da redenção do homem, portanto, incluía, desde a eternidade, essa invasão no tempo, para que por Ele os homens olhassem nos olhos de Deus, e pudessem aprender a se amar mutuamente, como Ele amou os homens. Deus precisava ser não apenas o conselheiro, mas, sobretudo, o Deus conosco (Is 7.14), socorro bem presente (SI 46.1). A salvação, por isso, foi outorgada no tempo, pois fora do tempo o homem estaria também fora de combate e, portanto, condenado.

II. Deus e o Tempo
A atemporalidade de Deus
A Bíblia afirma que Deus é atemporal, pois habita na eternidade (Is 57.15), e que Ele é Deus de eternidade a eternidade (SI 90.2), ou seja: Ele não teve início, nem terá fim. O pastor Claudionor de Andrade assim diz:
Sendo o tempo a duração relativa das coisas, geramos a noção de presente, passado e futuro: um período continuo no qual se sucedem os eventos. Deus, porém, é o que é. Ele não está sujeito a qualquer sucessão de dias ou séculos. Presente, passado e futuro são-lhe a mesma coisa. Logo, somente o Eterno poderia criar o tempo.
[...] O Criador não se acha limitado quer pelo tempo, quer pelo espaço; a criação, sim. Até mesmo os anjos acham-se codificados temporal e espacialmente, pois não podem estar em dois lugares ao mesmo tempo.7
No mesmo sentido, o pastor Silas Daniel arremata:
Deus não tem que se apressar no decurso do tempo deste Universo, assim como um autor não está sujeito ao tempo imaginário do romance que escreve. Deus tem uma atenção infinita para dispensar a cada um de nós. Não tem que lidar conosco em conjunto. Você está tão a sós com Deus como se fosse o único ser que Ele criou. [...] Deus, creio, não vive absolutamente numa sucessão temporal. [...] Porque Ele é a sua própria vida.
Desta forma, não estando sujeito aos paradigmas temporais, surge um problema: como compreender Deus? Os saduceus, que eram teólogos eruditos, questionaram a Jesus sobre coisas da eternidade com falsas premissas temporais. Por tal razão, Jesus os repreendeu por não conhecerem as Escrituras e disse que para o Eterno os patriarcas ainda estavam vivos (Mt 22.31,32), pois o Senhor é Deus de vivos e não de mortos. Um simples argumento de quem conhece a eternidade desmontou um elaborado raciocínio humano, como sói acontecer.
Doutra banda, a atemporalidade do Senhor também impossibilita que a existência de Deus seja provada, ou negada, pois sua existência não pode ser submetida a uma investigação científica. Entretanto, como o que é finito pode compreender o Infinito? Impossível. O Altíssimo entrou no âmbito do espaço, da matéria e do tempo (chronos), por um pouco de tempo, para que os seres humanos vissem, contemplassem e tocassem da Palavra da Vida (1 Jo 1.1,2), e assim fossem conduzidos à salvação. Entretanto, Jesus voltou para o céu e, mais uma vez, os homens ficaram sem ver a face de Deus. Deixou, porém, o seu Espírito para conduzir a Igreja a toda a verdade.
Relacionando-se, no tempo, com Alguém atemporal
A partir de Jesus, os homens puderam ver, enfim, a face de Deus (Jo 1.14). Entretanto, o relacionamento com o Salvador trouxe muitos embates. Os discípulos se desgastaram emocionalmente, dentre outras coisas, por estarem se relacionando com Alguém para quem o passar do tempo não tinha a mínima importância. Estava acostumado com a eternidade. Ao abordar o tema, Champlin arremata:
[...] os teólogos gostam de dizer que Deus vive fora do tempo, noção essa que sempre fez parte de sua transcendência. Porém, um Deus imanente precisa envolver-se no tempo e nas mudanças. [...] se a temporalidade de Deus combina mais com explicações finitas de seu ser, mesmo assim é possível imaginarmos um Deus transcendental que vive fora do tempo [...] mas cujas manifestações ocorrem dentro do tempo [...].
Assim, sendo Deus transcendental, a questão do tempo não se apresenta relevante para Ele; porém como o Senhor, imanente, relaciona-se com o homem no tempo, surge um conflito: O que é de suma relevância para os homens — o tempo — para Deus consubstancia-se em algo completamente não influente. Tanto é dessa forma que a Bíblia vaticina que um dia para o Senhor pode equivaler a mil anos para os homens (2 Pe 3.8) ou como dizia o salmista que mil anos são, para Ele, como “o dia de ontem” ou a “vigília da noite” (SI 90.4). Na verdade, a Bíblia não estava informando sobre um paralelo entre o tempo para Deus e para os homens (um dia no céu corresponderia a mil anos na Terra), mas demonstrando que são duas dimensões distintas e independentes e, por isso, os ciclos vitais funcionam de modo diferente.
O tempo, assim, está em Deus (da mesma forma que um dia cabe em mil anos), mas Deus não está adstrito, preso, ao tempo cronológico (como mil anos não estão contidos em um dia). Tommy Barnett diz:
Deus sabe de todas as coisas antecipadamente. Por isso, o fator determinante dentro da realização de sua vontade em nossas vidas vai além de nossa compreensão. Na avaliação das coisas, dizem alguns, é como se estivéssemos assistindo a um desfile através do buraco de um muro. Vemos os pelotões e os carros passarem um a um. Deus, porém, encontra-se numa parte mais alta e pode ver o desfile por inteiro do começo ao fim, de uma só vez. Para o Deus eterno, o desfile completo da história é agora.
E difícil para mim, que vivo totalmente neste mundo de tempo e sequência e de eventos, entender o tempo de Deus. Contudo, sei que há um tempo determinado para todas as coisas.9
Dessa maneira, Deus simplesmente ignora o relógio e age, em regra, depois do tempo cronológico estabelecido para as coisas acontecerem. Isso não é de hoje. Sempre o Senhor fez assim, talvez para que seus filhos aprendam a confiar nEle, independentemente do tempo (2 Co 1.8-10).

Kairós X Chronos
Kairós é uma palavra de origem grega que significa “momento certo”, “tempo oportuno”, em oposição a chronos, que traz a ideia de tempo sequencial, cronológico, quantitativo.
Essas duas formas de definir, no grego, o tempo, trazem consigo um conflito épico, por assim dizer. De um lado o tempo linear, quantitativo, marcado pelos relógios e calendários {chronos)-, do outro, o tempo qualitativo, o momento ideal, próprio, para os fatos acontecerem {kairós), oportuno para todas as coisas, o qual caracteriza bem os 28 tempos mencionados em Eclesiastes 3.1-8. Os seres humanos são influenciados, em suas existências, por esses dois aspectos e com eles se digladiam.

III. A Vida no Tempo Vivendo no tempo
A Bíblia diz que Deus colocou a eternidade no coração do homem (Ec 3.11, NVI), mas deixou o corpo submetido à ditadura do tempo (SI 90.10) . Por tal razão, ninguém se conforma com a ocorrência da morte, porque a fagulha divina acesa no espírito humano anela a eternidade.
Como viver no tempo, ante a presença iminente da morte, em todos os lugares? A. Bíblia dá uma dica: “Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça” (Ec 9.8). Essa expressão bíblica é um convite a viver alegremente, em tempo de festa contínua. Vestes brancas e óleo sobre a cabeça eram elementos distintivos daqueles que celebravam. A recomendação é que, em todo o tempo, haja esse banquete celestial vital.
Isso não quer dizer, em absoluto, que a pessoa deve viver comemorando, festejando, do ponto de vista material, mas que a alma esteja sempre disposta a ser útil a Deus, em festa solene diante dEle, porque, como disse Paulo em Atenas, nEIe os homens vivem, movem-se e existem (At 17.28).
Vida nEle é existência que se debruça sobre os padrões comporta- mentais bíblicos e, por isso, deve ser uma jornada alegre, pois a alegria do Senhor é a nossa força. Aliás, uma profecia sobre Jesus diz que Ele seria ungido com óleo de alegria (SI 45.7; Hb 1.9) e, também, o próprio Senhor mencionou que os discípulos teriam uma alegria exuberante (Jo 15.11) . Essa alegria do viver demonstra sabedoria, no tempo, com vestes brancas e cabelo perfumado.

Conhecendo o tempo
Em regra, na Bíblia, as pessoas não compreenderam suas responsabilidades espirituais no tempo em que viviam, como bem percebeu Jacó Armínio, ao ensinar que todos os assuntos teológicos “excedem a capacidade e energia mental de todos os seres humanos, e dos próprios anjos”.10 Tal incompreensão aconteceu, por exemplo, com os pré-diluvianos, com os habitantes de Sodoma e Gomorra, com os moradores de Jerusalém que foram para o exílio e com os judeus da época de Jesus (Lc 19.43).
Quem pode ser intitulado “Eu Sou” não tem história, pois a possibilidade de possuir uma história é para aqueles que não estão atrelados ao presente, mas que já se foram, só lhes restando o passado. Deus, porém, é. Assim, apresenta-se impossível contar a história de Deus. O que para nós pode ser qualificado como passado, presente ou futuro, para Ele sempre é presente, haja vista que o tempo só é contado na ambiência do espaço e da matéria.
Na dimensão em que Deus habita, não há limites de tempo, espaço e matéria. Tudo é absolutamente preenchido pelo Senhor. Ele é tudo em todos, embora não se trate de panteísmo no Reino celestial. Na verdade, ali as individualidades acham-se tão absorvidas pela presença divina (“a qual enche terra e céu”) que naquele lugar inaudito se cumpre literalmente Atos 17.25 — pois os seres angelicais e tudo ao redor naquele mundo real integram-se ao Senhor em sentimento e comunhão perfeitos, a ponto de não precisarem de mais nada. Essa verdade é expressa em várias passagens bíblicas que falam do céu, nas quais se demonstra a total dependência ao viver divino. Deus é a suprema realidade.
Por tal razão, a rigor, nenhum ser humano pode dizer com correção: “O tempo que tenho para fazer isso ou aquilo”. É possível, no máximo, afirmar: “O tempo que tive disponível até hoje, como mordomo de Deus, foram tantos anos”. Porém, jamais alguém pode projetar sobre o futuro como se fosse detentor, como se tivesse direito de ter tempo. Somente Deus é dono do tempo. Assim, só Ele pode chamar o tempo de “meu”, no sentido de ter propriedade.
Por tais circunstâncias, falar em cronologia no céu é o mesmo que querer que um pequeno rio que deságua no mar tenha a pretensão de controlar todo o fluxo das marés, em todas as praias do mundo. Assim como o rio será inexoravelmente absorvido pelo mar, sem deixar vestígios do que ele foi, o tempo cronológico no céu será absorvido pela eternidade. A expressão pelos “séculos dos séculos”, cunhada frequentemente nas Escrituras, diz Champlin, “refere-se à eternidade. Uma era (no grego, aeon ou aion) dá a entender ciclos futuros, que formarão a eternidade, cada um desses ciclos com seu próprio propósito”.11 O Senhor, assim, tencionava que a mente finita do homem entendesse que, quando o verdadeiro Dia raiar, a Era eterna, não haveria mais cronômetro, nem sol, nem mar... Cristo será, para sempre, tudo em todos.

Contando o tempo
Contar o tempo é o último estágio do cristão amadurecido. Fala sobre as virtudes produzidas em face do entendimento de que a morte é um evento iminente e real. Moisés certa vez orou a Deus: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (SI 90.12).
Com o avançar da idade, o corpo começa a sinalizar que as portas da casa eterna estão próximas (Ec 12), razão por que a vida terrena começa a perder qualidade gradativamente. E um indicativo de que um ciclo vital está sendo encerrado e outro, eterno, aproxima-se velozmente.
Daniel soube se manter tranquilo em Babilônia por longos anos, mas nunca deixou de contar os dias. Ele consultava nas profecias e buscava discernir o tempo de Deus. Está escrito que Daniel entendeu “que o número de anos” que Deus falara para a libertação do povo havia chegado e ele, então, começou uma campanha de oração (Dn 9.2,3). Um jovem que decidiu fazer a diferença em sua geração, e que manteve sua integridade até o fim de seus dias, agora, intercedia pelo bem de sua gente. Ele aprendera a discernir o tempo de Deus.
O grande problema de muitas pessoas é que elas deixam para pensar sobre o fim da existência terrena somente quando lhes restam bem pouco tempo. Contar os dias é uma atitude de sabedoria, pois significa ter em perspectiva a iminência da morte, o que garante um melhor entendimento sobre como aproveitar os dias de vida. Por tal razão, está escrito que “melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque ali se vê o fim de todos os homens; e os vivos o aplicam ao seu coração” (Ec 7.2), ou seja, ali as pessoas meditam sobre o fim de todas as coisas.


Fonte : Livro  TEMPO PARA TODAS AS COISAS
Aproveitando as Oportunidades que Deus nos dá

REYNALDO ODILO

sexta-feira, 30 de junho de 2017

“ SUBSIDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 01 Adulto ” 3º Trim 2017-- INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BIBLIA

A Bíblia está traduzida atualmente para 2.935 línguas, segundo dados da Sociedade Bíblica do Brasil (A Bíblia no Brasil, nº 252 – agosto a outubro de 2016, Ano 68, p. 16).
Todas essas versões transmitem a mesma mensagem dos antigos escritores bíblicos. Os oráculos divinos entregues a eles foram preservados e estão disponíveis para toda a humanidade. Sua inspiração divina e sua autoridade fazem dela um livro sui generis.
CÂNON E INSPIRAÇÃO
         As palavras “cânon” e “inspiração”, às vezes, significam a mesma coisa. O termo kanōn se origina do vocábulo hebraico qāneh, “cana”, que se usava como “cana de medir” (Ez 40.3, 5; 41.8) e originalmente quer dizer “ vara de medir”. Na literatura clássica, significa “regra, norma, padrão”. Aparece no Novo
Testamento com o sentido de regra moral (Gl 6.16). É também traduzido por “medida” (2 Co 10.13, 15). Nos três primeiros séculos do cristianismo, o termo se referia ao conteúdo normativo, doutrinário e ético da fé cristã. A partir do quarto século, os pais da Igreja aplicaram as palavras “cânon” e “canônico” aos livros sagrados, para reconhecer sua autoridade como textos inspirados por Deus e instrumentos normativos para a vida e a conduta dos cristãos, portanto separados de outras literaturas. Eles constituíram a partir de então uma “lista de livros com autoridade divina”, uma biblioteca que é a nossa medida, a nossa regra de fé e prática. O cânon é, assim, a lista de livros já definidos e reconhecidos como divinos para a vida e a conduta do cristão. Cada um dos livros era reconhecido como inspirado por Deus desde a sua origem, mas a coleção desses escritos
sagrados só aconteceu posteriormente.
         A inspiração divina é chamada de teopneustia, que significa “inspiração divina da Bíblia” (Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa) e “inspiração divina das Escrituras – teoria segundo a qual Deus inspirou aos autores bíblicos todas as palavras e todas as ideias” (Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, de Laudelino Freire). O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, de Michaelis, repete as mesmas palavras de Laudelino Freire. O termo “teopneustia” vem da Bíblia: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (1 Tm 3.16) ou “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil” (ARA). A palavra grega aqui traduzida por “inspirada por Deus” ou “divinamente inspirada” é theopneustos, que vem de theos, “Deus”, e pneō, “respirar”.
Isso significa que a Bíblia é respirada ou soprada por Deus. A construção grega nesse versículo permite ambas as traduções, mas a tradução da Almeida Atualizada é mais precisa, uma vez que a partícula grega kai vem entre os dois adjetivos “divinamente inspirada” e “proveitosa”; também expressa melhor a intenção do Espírito Santo, pois afirma duas verdades sobre a Bíblia: a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa. A
ausência do artigo antes de grafē em pasa grafē teopneustos kai ōfélimos1 não deixa claro se a construção é atributiva, “Escritura divinamente inspirada”, ou predicativa, “[a] Escritura é divinamente inspirada”.
         O termo grego pasa, feminino de pas, “todo, tudo, cada”, afirma que a inspiração das Escrituras é plena, total, por isso afirmamos a nossa fé na inspiração plenária da Bíblia. Mas essa crença não se fundamenta apenas nisso, e o contexto do Novo Testamento nos deixa à vontade nesse sentido. É verdade que no período apostólico a Bíblia da Igreja era o Antigo Testamento (Lc 24.44). O termo “Escrituras”, ou “Escritura” no singular, aparece inúmeras vezes no Novo Testamento como referência específica ao Antigo Testamento ou a parte dele e entre elas podemos citar (Mt 21.42; Mc 12.10/Sl 118.22, 23; Mt 26.56; Mc 15.28/Is 53.12; Lc 4.21/Is 61.1, 2; Lc 24.27).
         A expressão “Toda Escritura” (2 Tm 3.16) não se restringe apenas ao Antigo Testamento; diz respeito também aos escritos apostólicos, ou seja, ao Novo Testamento. A Bíblia inteira é divinamente inspirada, pois a autoridade dos profetas e apóstolos é a mesma. Ambos os grupos de escritores bíblicos aparecem
alternadamente: “para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e Salvador, mediante os vossos apóstolos” (2 Pe 3.2). Mais adiante, o apóstolo Pedro coloca as epístolas paulinas no mesmo nível nas Escrituras do Antigo Testamento: “Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2 Pe 3.16). O apóstolo Paulo considerava os escritos apostólicos no mesmo nível das Escrituras dos judeus:
“Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário” (1 Tm 5.18). Há aqui duas citações. A primeira vem da lei de Moisés: “Não atarás a boca ao boi, quando trilhar” (Dt 25.4); e a segunda não aparece em parte alguma do Antigo Testamento, mas nos evangelhos: “porque digno é o operário do seu alimento” (Mt 10.10); “pois digno é o obreiro de seu salário” (Lc 10.7). A construção grega revela que o apóstolo está citando o evangelho de Lucas.2 Ambas as frases são chamadas de “Escritura”. Outras vezes Paulo ousa dizer que seus escritos são de origem divina (1 Co 7.40; 2 Co 13.3; 1 Ts 4.8).
         Assim, a frase “Toda Escritura é inspirada por Deus” se refere à Bíblia inteira, aos seus 66 livros. A inspiração da Bíblia é especial e única. Não existe na Bíblia um livro mais inspirado e outro menos inspirado. Todos têm o mesmo grau de inspiração e autoridade.
         A inspiração plenária se refere à totalidade dos 66 livros bíblicos, e a inspiração verbal significa que cada palavra foi inspirada pelo Espírito Santo (1 Co 2.13). Não somente as palavras, mas também as ideias são de origem divina: “porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (1 Pe 1.21). A palavra grega usada aqui para “inspirados” é
o verbo pherō, que significa também “mover, movimentar”. Os escritores bíblicos são homens santos que foram movidos pelo Espírito Santo para falarem da parte de Deus.
         A inspiração verbal não elimina a individualidade de cada autor humano. Qualquer leitor da Bíblia consegue ver sem muito esforço a diferença de linguagem e de estilo em cada livro. Essa diversidade se revela ao comparar um profeta com outro profeta do Antigo Testamento, ou um apóstolo com outro apóstolo do Novo Testamento. Quem ler os profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oseias, Amós ou os apóstolos Pedro, João e Paulo pode observar com clareza meridiana a peculiaridade na estrutura de raciocínio de cada um deles, no seu grau de instrução, no seu convívio, no seu gênio e contexto sociopolítico e religioso. Assim,
a Bíblia revela o aspecto natural da individualidade e o aspecto sobrenatural da inspiração.
CREDIBILIDADE DOS TEXTOS BÍBLICOS
         A quantidade enorme de manuscritos antigos, o grande número de versões em outras línguas e as citações da patrística nos primeiros séculos do cristianismo falam por si como prova da autenticidade dos livros da Bíblia. É assunto que nem mesmo os céticos questionam. Nenhuma obra da Antiguidade apresenta hoje tantos manuscritos hebraicos, gregos, latinos e em outras línguas. Temos hoje em todo o mundo mais de 25 mil manuscritos bíblicos produzidos antes do advento da imprensa no século XV. Em segundo lugar, vem a Ilíada, de Homero, com apenas 457 papiros e 188 manuscritos, perfazendo um total de 645 exemplares. Nenhuma obra da Antiguidade é mais bem confirmada que a Bíblia.
         De todas as obras literárias produzidas na Antiguidade, o manuscrito mais antigo que sobreviveu apresenta um intervalo de 750 anos entre o tal manuscrito e a possível data de sua autoria.
É uma obra de História, de Plínio, o Jovem, historiador romano que viveu entre 61 e 113 d.C. Restaram apenas sete manuscritos, e o mais antigo deles é datado de 850 d. C. Todos os demais, com exceção de Suetônio, também historiador romano, com 950 anos de intervalo o manuscrito mais antigo e a possível data de sua
autoria, apresentam um intervalo superior a mil anos. É o caso de Platão, Tetralogias, sete cópias; e Heródoto, História, oito cópias, entre outros que não são citados aqui por absoluta falta de espaço (MCDOWELL, 2013, pp. 141, 142).
         As descobertas dos rolos do mar Morto revelam a credibilidade e a fidelidade dos textos hebraicos do Antigo Testamento. Com exceção do livro de Ester, todos os outros livros do Antigo Testamento estão representados nesses 800 manuscritos. As 11 cavernas de Uaid Qumran trouxeram à tona cerca 200
manuscritos bíblicos, descobertos entre 1947 e 1964, sem contar outros manuscritos não bíblicos. O primeiro grupo desses manuscritos é datado entre 250 a.C. e 68 d.C., com manuscritos escritos ainda na grafia paleo-hebraica, ou seja, o hebraico arcaico. Julio Trebolle Barrera faz menção de alguns deles: quatro de Levítico, dois de Gênesis, Êxodo e Deuteronômio, um de Números e um de Jó (BARRERA, 1999, p. 263). O segundo grupo é datado entre 70 e 132 d.C., período entre a destruição de Jerusalém e a Revolta de Bar-Cochbar, em Yavne, ou Jâmnia.
         Muitos desses manuscritos não foram produzidos pelos essênios; muitos deles vieram da Babilônia e do Egito. Trata-se, portanto, de textos procedentes de várias épocas e de vários lugares. Quando o alfabeto paleo-hebraico foi substituído pelo alfabeto quadrático, os escribas tiveram de fazer adaptações. O rolo do profeta Isaías, por exemplo, é datado do ano 100 a.C. É exatamente o mesmo texto da Bíblia Hebraica, exceto por uma diferença de apenas 17 letras no capítulo 53.
         As inúmeras profecias são exclusividade das Escrituras Sagradas e provas visíveis de sua inspiração e autenticidade. Muitas delas já se cumpriram em relação a muitos povos, tanto na Antiguidade  como na atualidade. Um exemplo é a queda de Babilônia: “E Babilônia, o ornamento dos reinos, a glória e a soberba dos
caldeus, será como Sodoma e Gomorra quando Deus as transtornou. Nunca mais será habitada, nem reedificada de geração em geração” (Is 13.19, 20). Essa profecia foi proferida quando a Babilônia estava no apogeu de sua glória. Hoje, no entanto, essa Palavra se cumpre diante de nossos olhos.
         A Bíblia anunciou de antemão a dispersão dos judeus, mas profetizou seu retorno à terra de seus antepassados. Depois de cerca de 1.800 anos na diáspora, os filhos de Israel retornam para sua terra, e em um só dia nasceu uma nação (Is 66.8). Essa Palavra diz respeito à fundação do Estado de Israel logo após a
derrocada do nazismo.
         Não é possível enumerar todas as profecias aqui. Mas destacamos as profecias sobre reis, como Ciro, rei da Pérsia, e Alexandre, o Grande, em Isaías 44.28; 45.1 e Daniel 8.21, 22, além das profecias messiânicas cumpridas em Jesus, desde o seu nascimento de uma virgem, em Belém, conforme Isaías 7.14 e Miqueias 5.2, até a sua ascensão, registrada em Salmos 24.7-10.
Tudo isso faz da Bíblia um livro sui generis, que não se assemelha a nenhum outro e está acima de qualquer outro já produzido no mundo. A Bíblia declara a si mesma como a infalível Palavra de Deus: “a palavra de nosso Deus subsiste eternamente” (Is 40.8) e em fraseologia similar: “mas a palavra do Senhor permanece para sempre” (1 Pe 1.25). É o único livro que se apresenta como a revelação escrita do verdadeiro Deus e com um propósito definido: a redenção humana.
A VERSÃO DOS SETENTA
         A Septuaginta é a primeira tradução do Antigo Testamento hebraico para o grego. O termo “Septuaginta” vem do latim e significa literalmente “septuagésimo”, tendo sido usado pela primeira vez por Eusébio de Cesareia em História Eclesiástica.
Agostinho de Hipona foi o primeiro a chamá-la de a “Versão dos Setenta”, em A Cidade de Deus. O termo “Septuaginta” é uma forma abreviada da expressão latina interpretatio Septuaginta virorum, “a tradução pelos setenta homens”, similar à forma grega katá tou hebdomēkonta, “conforme os setenta”, ou hoi hebdomēkonta, “os setenta”, todos usados por escritores cristãos do segundo século para referir-se ao Antigo Testamento Grego. Hoje é conhecido também pelo nome de “Versão dos Setenta, Versão de Alexandria” e identificado pelos algarismos romanos “LXX”.
         A tradução do Pentateuco do hebraico para o grego aconteceu na metade do século III a.C., por 72 eruditos judeus enviados de Jerusalém para Alexandria; nos séculos seguintes, os outros livros do Antigo Testamento foram traduzidos. Foi um empreendimento cultural sem precedentes na história da civilização ocidental, pois a revelação divina saía do confinamento judaico para se tornar universal. Era o pensamento religioso semita à disposição do Ocidente numa língua indo-europeia.
         Sua influência nos escritores do Novo Testamento foi determinante, servindo de ponte linguística e teológica entre o hebraico do Antigo Testamento e o grego do Novo. Tanto os apóstolos como os antigos escritores cristãos encontraram na Septuaginta uma fonte de conceitos e termos teológicos para expressar o conteúdo e o pensamento cristão. Ela foi usada pelas gerações de judeus helenistas em todas as partes do mundo antigo. Foi a Bíblia adotada pelos cristãos de língua grega, como disse Agostinho no século V: “A Igreja recebeu a versão dos Setenta como se fora única e dela se servem os gregos cristãos, cuja maioria ignora se há alguma outra. Dessa versão dos Setenta fez-se a versão para o latim; é a usada nas igrejas latinas. Serve,
ainda, como fonte importante para o estudo da história da Bíblia Hebraica” (A Cidade de Deus, livro 18.43).
A TRADUÇÃO PARA OUTRAS LÍNGUAS TEM A APROVAÇÃO DIVINA
         O projeto de tradução das Escrituras dos judeus para a língua grega num período em que nem mesmo o cânon estava fixado mostra ser a Bíblia um livro traduzível por natureza, sendo ao mesmo tempo o prenúncio de milhares de línguas para as quais a Palavra de Deus seria traduzida – as primícias de uma grande ceifa de versões em todo o mundo. A Bíblia completa está traduzida em 563 idiomas, o Novo Testamento em 1.334 línguas, e as porções bíblicas em 1.038 línguas. O total é de 2.935 línguas.
São dados publicados pela revista A Bíblia no Brasil citada acima.      É a vontade de Deus que a sua Palavra seja conhecida por todos os povos e nações na sua própria língua. Essa aprovação divina é reconhecida pelo uso do grego na redação do Novo Testamento e pelas inúmeras citações diretas da Septuaginta. Isso mostra que não importa a língua, mas o conteúdo da mensagem. A Septuaginta “no transcorrer dos anos veio a ser o Antigo Testamento por excelência dos cristãos no vasto império romano.
Quando a LXX foi acrescentada à coleção de livros do Novo Testamento era o surgimento de um novo livro, a Bíblia Cristã” (SOARES, 2009, p. 56).



Fonte : livro A razão de nossa fé: assim cremos, assim vivemos / Esequias Soares.
Casa Publicadora das Assembleias de Deus.