“O tempo é a imagem móvel da
eternidade imóvel."
— Platão
Um dos acontecimentos da
natureza que mais inquietam o homem, sem dúvida, diz respeito ao fenômeno do tempo,
pois ele traz consigo incógnitas insuperáveis ao ser humano, na medida em que
Deus colocou no coração do homem não a temporalidade, mas a eternidade. Ou
seja, a matéria submete-se à linha cronológica, temporal, mas a parte imaterial
do ser humano anela um “tempo sem fim” — a eternidade. Nesse sentido, surge um
conflito existencial, ontológico, bem identificado por Platão, o qual dizia que
“o homem, ao longo dos séculos, jamais se contentou — e jamais se contentará —
em dar a si mesmo o estatuto da transitoriedade e da corruptibilidade”.1 Assim,
o anelo humano é ter uma existência isenta de limitação temporal (a eternidade
está dentro de si), mas acha-se submetido ao pesado jugo da finitude. Há
milênios, muitos estudiosos se debruçam sobre o enigmático tema do tempo.
Agostinho de Hipona, por exemplo, dizia que o tempo é “um saber que se tem
antes de se pensar nisso, e que logo se desconhece ao pensar-se o que é”.
Diante de tanta apreensão conceituai, com humildade, o filósofo Martin
Heidegger, ao falar sobre o conceito do tempo em uma palestra proferida em
1924, afirmou que “o teólogo é o verdadeiro especialista do tempo”, pois ele trata das coisas atinentes a Deus, o
Senhor do tempo e da eternidade.
Assim,
seguindo o conselho Heidegger, considerado um dos maiores pensadores do século
XX, importante examinar o tempo sob a ótica da teologia. A primeira constatação
é que o tempo disponível para cada pessoa deve ser entendido como uma dádiva de
Deus, pois todas as coisas pertencem ao Senhor (SI 24.1; Rm 11.36), inclusive o
tempo. Ora, uma vez que o homem não pode produzir, ou reter, um único momento
do seu tempo, isso, obviamente, não pode lhe pertencer. Dessa forma, existe
equívoco em dizer “estou usando meu tempo para trabalhar”, ou “meu tempo é
muito precioso”, pois essas frases possuem um problema de raiz, haja vista não
se pode atribuir a si o que é de Outrem. Aliás, deve soar cômico, tanto diante
dos anjos quanto dos demônios, quando os humanos sempre fazem reivindicações
quanto às suas posses temporais, pois sabem que os seres humanos, na essência,
não possuem absolutamente nada.
A. W. Tozer
afirmou:
Os pronomes
“meu” e “minha” parecem perfeitamente inocentes quando impressos no papel, mas
o seu emprego constante e universal é muito significativo. Expressam a natureza
real do velho homem adâmico melhor do que mil volumes de teologia. São sintomas
verbais de nossa alma enferma.
Muitas pessoas
demonstram essa “natureza do velho homem adâmico” no dia a dia, pelo modo como
vivem, pois fazem o que querem, do jeito que querem, na hora que querem, sem se
preocuparem com a opinião de Deus a respeito. A Bíblia, porém, recomenda que o
tempo seja bem administrado, porquanto os dias são maus (Ef 5.16).
O tempo existe
para, dentro dele, cumprirmos os propósitos do Senhor na Terra (Ec 3.1). Não
pense que, ao servir o Senhor ou ajudar o próximo, presta-se um favor a Deus,
pois isso é obrigação de todos. Erra-se quando não se veem as coisas da fôrma
correta, acreditando que, por exemplo, duas horas no culto de domingo já está
de bom tamanho; marca-se, então, um “feito” no tópico “Deus” na lista de
afazeres da semana. Ledo engano.
É
preciso, portanto, enxergar a vida sob a inexorável expectativa da
transitoriedade da existência. “Quando se aprende a morrer, aprende-se a
viver”, afirmou o professor americano Morrie Schwartz que, depois de longos
anos lecionando brilhantemente em uma universidade americana, recebeu um
diagnóstico médico que informava que ele morrería em pouco tempo, por conta de
uma doença degenerativa incurável. Em seus últimos agonizantes dias, ele reconheceu
que era difícil pensar nas coisas mais importantes da vida quando a morte
parece longe. Esse sentimento, disse ele, leva-nos a vivermos tão envolvidos em
objetivos egoístas, os mais diversos, que não temos tempo de dar uma parada, e
olhar para trás... para perguntar a nós mesmos, se esse é o sentido da vida.
Schwartz teve
esse esclarecimento nos momentos finais de sua existência. Graças a Deus que
ele reavaliou seus conceitos. E mudou. A maioria dos homens, porém, pensa que
ainda tem muito tempo para fazer essa reflexão e modificar a maneira de avaliar
as coisas. Será?
I. 0 Tempo e suas Implicações
No princípio, antes de Deus criar o céu e a terra (Gn 1.1), já existia
a vida, o Verbo (Jo 1.1). A matéria surgiu em um tempo posterior, mas a Vida
pulsa desde a eternidade. Tal pensamento é corroborado por C. S. Lewis:
Está claro que jamais houve tempo em que nada existisse; de outra
forma nada existiría agora. Mas existir significa ser um Algo positivo, possuir
(metaforicamente) certa forma ou estrutura, ser isto e não aquilo. A Coisa que
sempre existiu, isto é, Deus, teve então sempre seu próprio caráter positivo.
O Eterno, ao estabelecer o mundo, simplesmente
criou a oportunidade para que todas as coisas viessem a exigir e fossem
realizadas conforme o seu propósito, outorgando, porém, aos homens, por amor, o
livre-arbítrio no tempo. Ou seja, Deus deu ao homem a capacidade de decidir o
tempo e o modo de fazer as coisas, pois Ele não queria que a raça humana fosse
composta de seres autômatos, mas de pessoas inteligentes que o amassem e
seguissem pelo caminho da vida. Assim, “o
Senhor é aquele que faz com que todas as coisas aconteçam no seu tempo’ e dá um
propósito a tudo”.
Na eternidade,
onde Deus habita (Is 57.15), porém, não há um tempo para todas as coisas. Tempo
para todas as coisas acontece somente “debaixo do sol”. Deus, o Pai da
eternidade (Is 9.6), tem o tempo em suas mãos. Sob suas ordens, o tempo pode
retroagir — como no caso de Ezequias e o relógio de Acaz; parar — como no
episódio de Josué, quando o sol e a lua pararam; ser abreviado — como é a
situação dos dias finais (Mt 24.22). Não há limites para Ele.
A origem do tempo (chronos)
A Bíblia não esclarece detalhes de como aconteceu procedimentalmente a
Criação, mas há, pelo menos, um aspecto importante revelado: não houve matéria
anterior a este mundo visível (Hb 11.3). Assim, tem-se que Deus não produziu o
universo a partir de um modelo atômico pretérito, mas fez tudo pelo poder de
sua palavra. O Senhor, por sua multiforme sabedoria, estabeleceu uma ordem de
coisas tangíveis, incomparavelmente maravilhosa e harmônica, por meio,
inicialmente, de sua determinação: “haja luz” (Gn 1.3).
A partir do século XX, com o surgimento da teoria do “Big Bang”, a
maioria dos cientistas passou a defender que o universo teve um marco inicial
há mais de 13 bilhões de anos, quando um “átomo primordial” teria explodido,
dando origem a tudo, porém inexistem dados aferíveis cientificamente que
comprovem a hipótese do “Big Bang”. Com isso, os homens ímpios procuram justificar
um universo sem Deus, para tirar toda a angústia de questionamentos
irrespondíveis. Aliás, ao longo dos milênios os homens têm procurado
desesperadamente encontrar respostas às três perguntas mais intrigantes da
existência: Qual a origem de tudo — de onde vim? O destino de todos — para onde
vamos? Sobre a natureza humana — quem sou eu?
Durante milênios se acreditou numa teoria chamada
“geração espontânea” (abiogênese), segundo a qual a vida surgiu
espontaneamente, a partir de qualquer ser inanimado, da mesma forma que o mofo
aparece. Inacreditável!
Sobre o
passado remoto, a palavra profética pouco pontifica; apenas diz que “pela fé
entendemos que o mundo foi formado pela ordem de Deus; e que aquilo que se vê
não foi feito daquilo que se vê!” (Hb 11.3 NBV)-. Entretanto, quanto ao futuro,
existe uma expectativa que se pode afirmar com convicção; é a de que, quando
chegar o fim do mundo, haverá um “grande estrondo” de proporções cósmicas,
quando “os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se
queimarão” (2 Pe 3.10).
A importância do tempo
O Senhor formou o tempo para, dentre outras coisas, estabelecer ciclos
para todas as suas obras formadas (Gn 1.14), bem como para que o homem, a
obra-prima da criação, pudesse, no tempo, buscar a Deus (At 17.26,27).
No tempo determinado, Deus entrou no tempo para poder tocar nos
homens, por meio da encarnação de Jesus — era essa a única possibilidade de
Deus existir no sentido histórico, por um tempo, para que os seres humanos
pudessem entrar na eternidade, onde não existe tempo (chronos).
O plano da redenção do homem, portanto, incluía, desde a eternidade,
essa invasão no tempo, para que por Ele os homens olhassem nos olhos de Deus, e
pudessem aprender a se amar mutuamente, como Ele amou os homens. Deus precisava
ser não apenas o conselheiro, mas, sobretudo, o Deus conosco (Is 7.14), socorro
bem presente (SI 46.1). A salvação, por isso, foi outorgada no tempo, pois fora
do tempo o homem estaria também fora de combate e, portanto, condenado.
II. Deus e o Tempo
A atemporalidade de Deus
A Bíblia afirma que Deus é atemporal, pois habita
na eternidade (Is 57.15), e que Ele é Deus de eternidade a eternidade (SI
90.2), ou seja: Ele não teve início, nem terá fim. O pastor Claudionor de
Andrade assim diz:
Sendo o tempo
a duração relativa das coisas, geramos a noção de presente, passado e futuro:
um período continuo no qual se sucedem os eventos. Deus, porém, é o que é. Ele
não está sujeito a qualquer sucessão de dias ou séculos. Presente, passado e
futuro são-lhe a mesma coisa. Logo, somente o Eterno poderia criar o tempo.
[...] O
Criador não se acha limitado quer pelo tempo, quer pelo espaço; a criação, sim.
Até mesmo os anjos acham-se codificados temporal e espacialmente, pois não
podem estar em dois lugares ao mesmo tempo.7
No mesmo
sentido, o pastor Silas Daniel arremata:
Deus não tem
que se apressar no decurso do tempo deste Universo, assim como um autor não
está sujeito ao tempo imaginário do romance que escreve. Deus tem uma atenção
infinita para dispensar a cada um de nós. Não tem que lidar conosco em
conjunto. Você está tão a sós com Deus como se fosse o único ser que Ele criou.
[...] Deus, creio, não vive absolutamente numa sucessão temporal. [...] Porque
Ele é a sua própria vida.
Desta forma,
não estando sujeito aos paradigmas temporais, surge um problema: como
compreender Deus? Os saduceus, que eram teólogos eruditos, questionaram a Jesus
sobre coisas da eternidade com falsas premissas temporais. Por tal razão, Jesus
os repreendeu por não conhecerem as Escrituras e disse que para o Eterno os
patriarcas ainda estavam vivos (Mt 22.31,32), pois o Senhor é Deus de vivos e
não de mortos. Um simples argumento de quem conhece a eternidade desmontou um
elaborado raciocínio humano, como sói acontecer.
Doutra
banda, a atemporalidade do Senhor também impossibilita que a existência de Deus
seja provada, ou negada, pois sua existência não pode ser submetida a uma
investigação científica. Entretanto, como o que é finito pode compreender o
Infinito? Impossível. O Altíssimo entrou no âmbito do espaço, da matéria e do
tempo (chronos), por um pouco de tempo, para que os seres humanos vissem,
contemplassem e tocassem da Palavra da Vida (1 Jo 1.1,2), e assim fossem conduzidos
à salvação. Entretanto, Jesus voltou para o céu e, mais uma vez, os homens
ficaram sem ver a face de Deus. Deixou, porém, o seu Espírito para conduzir a
Igreja a toda a verdade.
Relacionando-se, no tempo, com Alguém atemporal
A partir de Jesus, os homens puderam ver, enfim, a face de Deus (Jo
1.14). Entretanto, o relacionamento com o Salvador trouxe muitos embates. Os
discípulos se desgastaram emocionalmente, dentre outras coisas, por estarem se
relacionando com Alguém para quem o passar do tempo não tinha a mínima
importância. Estava acostumado com a eternidade. Ao abordar o tema, Champlin
arremata:
[...] os teólogos gostam de dizer que Deus vive fora do tempo, noção
essa que sempre fez parte de sua transcendência. Porém, um Deus imanente
precisa envolver-se no tempo e nas mudanças. [...] se a temporalidade de Deus
combina mais com explicações finitas de seu ser, mesmo assim é possível
imaginarmos um Deus transcendental que vive fora do tempo [...] mas cujas
manifestações ocorrem dentro do tempo [...].
Assim, sendo Deus transcendental, a questão do tempo não se apresenta
relevante para Ele; porém como o Senhor, imanente, relaciona-se com o homem no
tempo, surge um conflito: O que é de suma relevância para os homens — o tempo —
para Deus consubstancia-se em algo completamente não influente. Tanto é dessa
forma que a Bíblia vaticina que um dia para o Senhor pode equivaler a mil anos
para os homens (2 Pe 3.8) ou como dizia o salmista que mil anos são, para Ele,
como “o dia de ontem” ou a “vigília da noite” (SI 90.4). Na verdade, a Bíblia
não estava informando sobre um paralelo entre o tempo para Deus e para os
homens (um dia no céu corresponderia a mil anos na Terra), mas demonstrando que
são duas dimensões distintas e independentes e, por isso, os ciclos vitais
funcionam de modo diferente.
O tempo, assim, está em Deus (da mesma forma que
um dia cabe em mil anos), mas Deus não está adstrito, preso, ao tempo
cronológico (como mil anos não estão contidos em um dia). Tommy Barnett diz:
Deus sabe de
todas as coisas antecipadamente. Por isso, o fator determinante dentro da
realização de sua vontade em nossas vidas vai além de nossa compreensão. Na
avaliação das coisas, dizem alguns, é como se estivéssemos assistindo a um
desfile através do buraco de um muro. Vemos os pelotões e os carros passarem um
a um. Deus, porém, encontra-se numa parte mais alta e pode ver o desfile por
inteiro do começo ao fim, de uma só vez. Para o Deus eterno, o desfile completo
da história é agora.
E difícil para
mim, que vivo totalmente neste mundo de tempo e sequência e de eventos,
entender o tempo de Deus. Contudo, sei que há um tempo determinado para todas
as coisas.9
Dessa maneira,
Deus simplesmente ignora o relógio e age, em regra, depois do tempo cronológico
estabelecido para as coisas acontecerem. Isso não é de hoje. Sempre o Senhor
fez assim, talvez para que seus filhos aprendam a confiar nEle,
independentemente do tempo (2 Co 1.8-10).
Kairós X Chronos
Kairós é uma palavra de origem grega que significa “momento certo”,
“tempo oportuno”, em oposição a chronos, que traz a ideia de tempo sequencial,
cronológico, quantitativo.
Essas duas formas de definir, no grego, o tempo, trazem consigo um
conflito épico, por assim dizer. De um lado o tempo linear, quantitativo,
marcado pelos relógios e calendários {chronos)-, do outro, o tempo qualitativo,
o momento ideal, próprio, para os fatos acontecerem {kairós), oportuno para
todas as coisas, o qual caracteriza bem os 28 tempos mencionados em Eclesiastes
3.1-8. Os seres humanos são influenciados, em suas existências, por esses dois
aspectos e com eles se digladiam.
III. A Vida no Tempo Vivendo no tempo
A Bíblia diz que Deus colocou a eternidade no
coração do homem (Ec 3.11, NVI), mas deixou o corpo submetido à ditadura do
tempo (SI 90.10) . Por tal razão, ninguém
se conforma com a ocorrência da morte, porque a fagulha divina acesa no
espírito humano anela a eternidade.
Como viver no
tempo, ante a presença iminente da morte, em todos os lugares? A. Bíblia dá uma
dica: “Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a
tua cabeça” (Ec 9.8). Essa expressão bíblica é um convite a viver alegremente,
em tempo de festa contínua. Vestes brancas e óleo sobre a cabeça eram elementos
distintivos daqueles que celebravam. A recomendação é que, em todo o tempo,
haja esse banquete celestial vital.
Isso não quer
dizer, em absoluto, que a pessoa deve viver comemorando, festejando, do ponto
de vista material, mas que a alma esteja sempre disposta a ser útil a Deus, em
festa solene diante dEle, porque, como disse Paulo em Atenas, nEIe os homens
vivem, movem-se e existem (At 17.28).
Vida nEle é
existência que se debruça sobre os padrões comporta- mentais bíblicos e, por
isso, deve ser uma jornada alegre, pois a alegria do Senhor é a nossa força.
Aliás, uma profecia sobre Jesus diz que Ele seria ungido com óleo de alegria
(SI 45.7; Hb 1.9) e, também, o próprio Senhor mencionou que os discípulos
teriam uma alegria exuberante (Jo 15.11) . Essa alegria do viver demonstra
sabedoria, no tempo, com vestes brancas e cabelo perfumado.
Conhecendo o tempo
Em regra, na Bíblia, as pessoas não compreenderam suas
responsabilidades espirituais no tempo em que viviam, como bem percebeu Jacó
Armínio, ao ensinar que todos os assuntos teológicos “excedem a capacidade e
energia mental de todos os seres humanos, e dos próprios anjos”.10 Tal
incompreensão aconteceu, por exemplo, com os pré-diluvianos, com os habitantes
de Sodoma e Gomorra, com os moradores de Jerusalém que foram para o exílio e
com os judeus da época de Jesus (Lc 19.43).
Quem pode ser intitulado “Eu Sou” não tem
história, pois a possibilidade de possuir uma história é para aqueles que não
estão atrelados ao presente, mas que já se foram, só lhes restando o passado.
Deus, porém, é. Assim, apresenta-se impossível contar a história de Deus. O que para nós pode ser qualificado como passado,
presente ou futuro, para Ele sempre é presente, haja vista que o tempo só é
contado na ambiência do espaço e da matéria.
Na dimensão em
que Deus habita, não há limites de tempo, espaço e matéria. Tudo é
absolutamente preenchido pelo Senhor. Ele é tudo em todos, embora não se trate
de panteísmo no Reino celestial. Na verdade, ali as individualidades acham-se
tão absorvidas pela presença divina (“a qual enche terra e céu”) que naquele
lugar inaudito se cumpre literalmente Atos 17.25 — pois os seres angelicais e
tudo ao redor naquele mundo real integram-se ao Senhor em sentimento e comunhão
perfeitos, a ponto de não precisarem de mais nada. Essa verdade é expressa em
várias passagens bíblicas que falam do céu, nas quais se demonstra a total
dependência ao viver divino. Deus é a suprema realidade.
Por tal razão,
a rigor, nenhum ser humano pode dizer com correção: “O tempo que tenho para
fazer isso ou aquilo”. É possível, no máximo, afirmar: “O tempo que tive disponível
até hoje, como mordomo de Deus, foram tantos anos”. Porém, jamais alguém pode
projetar sobre o futuro como se fosse detentor, como se tivesse direito de ter
tempo. Somente Deus é dono do tempo. Assim, só Ele pode chamar o tempo de
“meu”, no sentido de ter propriedade.
Por
tais circunstâncias, falar em cronologia no céu é o mesmo que querer que um
pequeno rio que deságua no mar tenha a pretensão de controlar todo o fluxo das
marés, em todas as praias do mundo. Assim como o rio será inexoravelmente
absorvido pelo mar, sem deixar vestígios do que ele foi, o tempo cronológico no
céu será absorvido pela eternidade. A expressão pelos “séculos dos séculos”,
cunhada frequentemente nas Escrituras, diz Champlin, “refere-se à eternidade.
Uma era (no grego, aeon ou aion) dá a entender ciclos futuros, que formarão a
eternidade, cada um desses ciclos com seu próprio propósito”.11 O Senhor,
assim, tencionava que a mente finita do homem entendesse que, quando o verdadeiro
Dia raiar, a Era eterna, não haveria mais cronômetro, nem sol, nem mar...
Cristo será, para sempre, tudo em todos.
Contando o tempo
Contar o tempo é o último
estágio do cristão amadurecido. Fala sobre as virtudes produzidas em face do
entendimento de que a morte é um evento iminente e real. Moisés certa vez orou
a Deus: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos
coração sábio” (SI 90.12).
Com o avançar da idade, o corpo
começa a sinalizar que as portas da casa eterna estão próximas (Ec 12), razão
por que a vida terrena começa a perder qualidade gradativamente. E um
indicativo de que um ciclo vital está sendo encerrado e outro, eterno,
aproxima-se velozmente.
Daniel soube se manter tranquilo
em Babilônia por longos anos, mas nunca deixou de contar os dias. Ele
consultava nas profecias e buscava discernir o tempo de Deus. Está escrito que
Daniel entendeu “que o número de anos” que Deus falara para a libertação do
povo havia chegado e ele, então, começou uma campanha de oração (Dn 9.2,3). Um
jovem que decidiu fazer a diferença em sua geração, e que manteve sua
integridade até o fim de seus dias, agora, intercedia pelo bem de sua gente.
Ele aprendera a discernir o tempo de Deus.
O grande problema de muitas pessoas é que elas deixam para pensar
sobre o fim da existência terrena somente quando lhes restam bem pouco tempo.
Contar os dias é uma atitude de sabedoria, pois significa ter em perspectiva a
iminência da morte, o que garante um melhor entendimento sobre como aproveitar
os dias de vida. Por tal razão, está escrito que “melhor é ir à casa onde há
luto do que ir à casa onde há banquete, porque ali se vê o fim de todos os
homens; e os vivos o aplicam ao seu coração” (Ec 7.2), ou seja, ali as pessoas
meditam sobre o fim de todas as coisas.
Fonte : Livro
TEMPO PARA TODAS AS COISAS
Aproveitando as Oportunidades que Deus nos dá
REYNALDO ODILO
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