domingo, 3 de setembro de 2017

Noé

Tal como no caso de Enoque, as Escrituras não declaram especificamente que Noé “orou”. Entretanto, as buscas espirituais de Noé são identificadas nos mesmos termos usados para Enoque: “Noé andava com Deus” (Gn 6.9).
A narrativa bíblica sobre Noé não deixa dúvidas de que ele manteve um contato e uma comunhão vitais com Deus. Várias vezes as Escrituras indicam que Deus falou com Noé (cf. Gn 6.13; 7.1). Noé, por sua vez, respondia com uma implícita obediência: “E fez Noé conforme tudo o que o Senhor lhe ordenara” (Gn 7.5).
Há nisso uma profunda lição para todo crente que deseja a comunhão da oração com Deus: ouvir algo da parte Deus implica na disposição de lhe obedecer. Muitas vezes a razão para o silêncio de Deus indica que o coração do pedinte não está compromissado com Ele. Em sua geração, apenas Noé tinha o coração voltado para Deus. Mas quanto a seus contemporâneos, o caso era bem diferente: “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6.5). Não admira, pois, que Deus não pudesse falar a tais pessoas. A oração era para elas algo estranho. Deus não estava presente em seus pensamentos. A ideia de andar com Deus, viver para Deus e relacionar-se com Deus era, a seus olhos, pura insensatez. E esse tipo de concepção ainda é comum a milhares de pessoas hoje em dia. Isso nos faz lembrar as palavras de Jesus:
E, com o foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda
do Filho do Homem (Mt 24.37-39).

Na narrativa sobre Noé, temos a primeira menção a um altar na Bíblia: “E edificou Noé um altar ao Senhor... e ofereceu holocaustos sobre o altar” (Gn 8.20). O altar de Noé introduziu a prática da construção de altares. Os holocaustos significavam dedicação e exaltação a Deus. O altar denotava relacionamento e adoração; estava vinculado essencialmente à oração. Essa conexão reaparece em Apocalipse 8.3,4, onde lemos: “E veio outro anjo e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono. E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus”.
A respeito desse altar, mencionado no Apocalipse, W. Shaw Caldecott faz a seguinte observação:
Ele é descrito como ‘o altar de ouro que estava diante do trono’, e com o fumo de seu incenso subiram diante de Deus as orações dos santos. Esse simbolismo está em harmonia com a declaração [de Lucas] de que, enquanto os sacerdotes queimavam incenso, ‘toda a multidão do povo permanecia da parte de fora, orando’ (Lc 1.10). Desta forma, tanto a história quanto a profecia confirmam a verdade permanente de que a salvação é pelo sangue do sacrifício, tornando-se disponível mediante as orações de santos e pecadores, oferecidas por um grande Sumo Sacerdote (International Standard Bible Encyclopedia, vol. 1, Grand Rapids: Wm.
B. Eerdmans Publishing Co., 1939, p. 112).

Por revelação divina, Noé percebeu que sua aceitação por parte de Deus e sua oração eficaz dependiam de um sacrifício de sangue. O mesmo princípio tem aplicação em nossos dias, correspondendo ao sangue que foi derramado de uma vez por todas no Calvário. Eis a razão pela qual Jesus disse: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Quando oramos “no nome de Jesus” somos contemplados não apenas com o poder e a glória de Jesus Cristo, mas também com o acesso e a aceitação decorrentes do sacrifício divino e do sangue derramado pelo Filho de Deus. PelaNoé entendeu esse princípio quando construiu seu altar e efetuou sobre ele seu sacrifício (cf. Hb 9.21; 10.19).


Extraído do livro Teologia bíblica da oração.

Robert L. Brandt e Zenas J. Bicket
Todos os direitos reservados. Copyright © 2007 para a língua portuguesa da Casa
Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Título do original em inglês: The Spirit Help Us Pray
Logion Press, Springfield, Missouri
Primeira edição em inglês: 1993
Tradução: João Marques Bentes
Revisão: Gleyce Duque
Editoração: Flamir Ambrósio

Enoque

Embora as Escrituras não afirmem especificamente que Enoque tenha orado, elas indicam um relacionamento superior entre ele e Deus: “Andou Enoque com Deus” (Gn 5.22, grifo do autor). A palavra hebraica halak, aqui traduzida por “andou”, contem a ideia de seguir, aderir, isto e, ser intimo na comunhão com Deus.
A comunhão de Enoque com Deus era tanta que resultou na sua translação: “E andou Enoque com Deus; e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou” (Gn 5.24).
O autor da Epistola aos Hebreus expande a referencia no Genesis, ao dizer:
Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o trasladara, visto como, antes da sua trasladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que  ele existe e  que é  galardoador dos  que  o  buscam  (Hb 11.5,6).
O testem unho de  Enoque ter agradado a Deus  está claramente  vinculado  à  sua  fé.  É  razoável  concluir que  Enoque  acreditava que Deus  era  real,  a um  nível tal que se via  compelido  a  buscá-lo diligente e insistentemente em oração e com unhão. E foi galardoado com sua remoção física deste mundo, sem nunca experimentar a morte.  Suas  orações  conduziram -no  diretamente ao Céu e também à galeria de heróis da fé (Hb 11), para que todo mundo  possa  vê-lo  e imitá-lo.




Extraído do livro Teologia bíblica da oração.

Robert L. Brandt e Zenas J. Bicket
Todos os direitos reservados. Copyright © 2007 para a língua portuguesa da Casa
Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Título do original em inglês: The Spirit Help Us Pray
Logion Press, Springfield, Missouri
Primeira edição em inglês: 1993
Tradução: João Marques Bentes
Revisão: Gleyce Duque

Editoração: Flamir Ambrósio

Sete

Como a Bíblia é praticamente silenciosa acerca de qualquer oração feita por Adão e Eva, sugere-se que por um período de tempo, seguindo-se à sua queda e expulsão do Éden, tenha cessado a invocação a Deus: “A Sete mesmo também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então, se começou a invocar o nome do Senhor” (Gn 4.26).
Parece ter havido alguma conexão entre o nome dado por Sete a seu filho e o fato de as pessoas terem começado a invocar o nome do Senhor, porquanto “Enos” significa “homem” ou “povo”, enfatizando que as pessoas são mortais e limitadas. Tomara-se óbvio que a morte era o destino comum da humanidade. As pessoas daquela geração já haviam tomado consciência de suas limitações e da fragilidade da natureza humana. E talvez também já tivessem se conscientizado de que havia empecilhos em seu relacionamento com Deus. Essa conscientização é frequentemente a precursora tanto da busca como da renovação espiritual. Foi exatamente este o caso de Sete, quando os homens começaram a “invocar o nome do Senhor”. Temos aqui um princípio básico da oração: o reconhecimento da necessidade que nos rodeia é o pré-requisito para uma invocação significativa de Deus.
O original hebraico para o termo “invocar” significa não somente buscar uma bênção no nome do Senhor, mas chamar-se a si próprio pelo nome do Senhor. Coletivamente, isso implica cm reconhecer o propósito bom de Deus para todos e tomar lugar com o seu povo.
Particularmente notório no fato de as pessoas começarem a invocar “o nome do Senhor” é que o “Senhor”, neste caso, é Yahweh, o nome pessoal de Deus, representativo do Pacto, que chama a atenção para sua presença conosco. As consequências da oração estão diretamente relacionadas àquEle a quem nossas orações são dirigidas. Compare-se, por exemplo, a oração dos profetas de Baal com a oração de Elias:
E invocaram o nome de Baal, desde a manhã até ao meio-dia, dizendo: Ah! Baal, responde-nos! Porém, nem havia uma voz, nem quem respondesse; e saltavam sobre o altar que se tinha feito (1 Rs 18.26).
Sucedeu, pois, que, oferecendo-se a oferta de manjares, o profeta Elias se chegou e disse: Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme a tua palavra fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo conhe­ ça que tu, Senhor, és Deus, e que tu fizeste tornar o seu coração para trás. Então, caiu fogo do Senhor... (1 Rs 18.36-38)
Os profetas de Baal dirigiam suas orações a uma invencionice humana, sem vida e sem poder — Baal. Mas Elias orou ao Senhor Jeová ( Yahweh), o Deus auto-existente, eterno, aquEle que guarda o Pacto e que fizera as promessas a Abraão, Isaque e Israel, bem como a todas as famílias da Terra (Gn 12.3). A prática de invocar o nome do Senhor, que começara com Sete, foi zelosamente levada
adiante por seu filho, Enos. E continuava eficaz nos dias de Elias.



Extraído do livro Teologia bíblica da oração.
Robert L. Brandt e Zenas J. Bicket
Todos os direitos reservados. Copyright © 2007 para a língua portuguesa da Casa
Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Título do original em inglês: The Spirit Help Us Pray
Logion Press, Springfield, Missouri
Primeira edição em inglês: 1993
Tradução: João Marques Bentes
Revisão: Gleyce Duque
Editoração: Flamir Ambrósio