Noé

Tal como no caso de Enoque, as Escrituras não declaram especificamente que Noé “orou”. Entretanto, as buscas espirituais de Noé são identificadas nos mesmos termos usados para Enoque: “Noé andava com Deus” (Gn 6.9).
A narrativa bíblica sobre Noé não deixa dúvidas de que ele manteve um contato e uma comunhão vitais com Deus. Várias vezes as Escrituras indicam que Deus falou com Noé (cf. Gn 6.13; 7.1). Noé, por sua vez, respondia com uma implícita obediência: “E fez Noé conforme tudo o que o Senhor lhe ordenara” (Gn 7.5).
Há nisso uma profunda lição para todo crente que deseja a comunhão da oração com Deus: ouvir algo da parte Deus implica na disposição de lhe obedecer. Muitas vezes a razão para o silêncio de Deus indica que o coração do pedinte não está compromissado com Ele. Em sua geração, apenas Noé tinha o coração voltado para Deus. Mas quanto a seus contemporâneos, o caso era bem diferente: “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6.5). Não admira, pois, que Deus não pudesse falar a tais pessoas. A oração era para elas algo estranho. Deus não estava presente em seus pensamentos. A ideia de andar com Deus, viver para Deus e relacionar-se com Deus era, a seus olhos, pura insensatez. E esse tipo de concepção ainda é comum a milhares de pessoas hoje em dia. Isso nos faz lembrar as palavras de Jesus:
E, com o foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda
do Filho do Homem (Mt 24.37-39).

Na narrativa sobre Noé, temos a primeira menção a um altar na Bíblia: “E edificou Noé um altar ao Senhor... e ofereceu holocaustos sobre o altar” (Gn 8.20). O altar de Noé introduziu a prática da construção de altares. Os holocaustos significavam dedicação e exaltação a Deus. O altar denotava relacionamento e adoração; estava vinculado essencialmente à oração. Essa conexão reaparece em Apocalipse 8.3,4, onde lemos: “E veio outro anjo e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono. E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus”.
A respeito desse altar, mencionado no Apocalipse, W. Shaw Caldecott faz a seguinte observação:
Ele é descrito como ‘o altar de ouro que estava diante do trono’, e com o fumo de seu incenso subiram diante de Deus as orações dos santos. Esse simbolismo está em harmonia com a declaração [de Lucas] de que, enquanto os sacerdotes queimavam incenso, ‘toda a multidão do povo permanecia da parte de fora, orando’ (Lc 1.10). Desta forma, tanto a história quanto a profecia confirmam a verdade permanente de que a salvação é pelo sangue do sacrifício, tornando-se disponível mediante as orações de santos e pecadores, oferecidas por um grande Sumo Sacerdote (International Standard Bible Encyclopedia, vol. 1, Grand Rapids: Wm.
B. Eerdmans Publishing Co., 1939, p. 112).

Por revelação divina, Noé percebeu que sua aceitação por parte de Deus e sua oração eficaz dependiam de um sacrifício de sangue. O mesmo princípio tem aplicação em nossos dias, correspondendo ao sangue que foi derramado de uma vez por todas no Calvário. Eis a razão pela qual Jesus disse: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Quando oramos “no nome de Jesus” somos contemplados não apenas com o poder e a glória de Jesus Cristo, mas também com o acesso e a aceitação decorrentes do sacrifício divino e do sangue derramado pelo Filho de Deus. PelaNoé entendeu esse princípio quando construiu seu altar e efetuou sobre ele seu sacrifício (cf. Hb 9.21; 10.19).


Extraído do livro Teologia bíblica da oração.

Robert L. Brandt e Zenas J. Bicket
Todos os direitos reservados. Copyright © 2007 para a língua portuguesa da Casa
Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Título do original em inglês: The Spirit Help Us Pray
Logion Press, Springfield, Missouri
Primeira edição em inglês: 1993
Tradução: João Marques Bentes
Revisão: Gleyce Duque
Editoração: Flamir Ambrósio

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