terça-feira, 20 de março de 2018

A APOSTASIA EM HEBREUS VISTA POR DIFERENTES PERSPECTIVAS


1.         O texto realmente se refere a cristãos que perdem a salvação;
2.         O texto é um argumento hipotético para advertir os cristãos imaturos que eles devem progredir rumo à maturidade. Nesse aspecto, experimentariam a disciplina ou juízo divino se não ouvissem a exortação;
3.          O texto refere-se a cristãos professos, cuja apostasia comprova que não tinham fé suficiente. Eram crentes, mas não eram regenerados;
4.          O texto é uma referência aos réprobos, aqueles a quem Deus não havia escolhido para estar entre os eleitos.
5.         O texto não se refere a uma queda hipotética nem tampouco à apostasia, mas apenas ao pecado ou tropeço cometido por pessoas imaturas.

Uma análise do capítulo 6.4-6 de Hebreus, onde está a declaração mais severa sobre a apostasia, deve levar em conta as advertências que, desde o início, o autor de sua carta vinha fazendo (capítulos 2 e 3). Essa ênfase já era forte, mas não de forma tão enfática como aqui. Havia chegado o momento de ele adverti-los sobre o que realmente estava em jogo: a real possibilidade de se decair da fé.



Extraído do livro: A supremacia  de  Cristo , Fé, esperança  e ânimo na carta aos Hebreus.
José Gonçalves.

APOSTASIA, DESVIO E TROPEÇO


É praticamente um consenso entre a erudição bíblica que os textos acima citados referem-se à apostasia ou queda da fé. Porém, antes de analisar essas passagens bíblicas, algumas definições são necessárias. Para a Enciclopédia Judaica, o termo apostasia é aplicado às pessoas que desertaram da fé, trocando a sua adoração por outra.1 De acordo com Katharine Doob Sakenfeld,

"A palavra apostasia deriva do grego apostasia, que significa 'um afastar-se de' ou 'rebelar-se'. Embora originalmente essa palavra se referia a uma rebelião política ou militar, durante o império greco-romano também veio a significar rebelião religiosa".

O substantivo apostasia aparece em Atos 21.21 e em 2 Tessalonicenses
2.3. Já o verbo aphistemi, de onde se originou apostasia, é traduzido pelo léxico de Thayer como cair, tornar-se infiel a Deus.3 Nesse senti­ do, é usado em 1 Timóteo 4.1 como referência àqueles que haveriam de apostatar da fé.  Em Hebreus 3.12, o verbo aphistemi aparece no infinitivo aoristo com o sentido de cair, deixar, afastar.  O léxico de Kittel destaca que, em Hebreus 3.12, é usado expressamente acerca do declínio religioso em relação a Deus. Nesse aspecto, o oposto de apostasia é dado pelo autor de Hebreus em 3.14: "Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim".  O léxico de Bauer destaca que o termo aphistemi é muitas vezes usado na LXX, principalmente com o sentido de "cair diante de Deus", destacando que, em Hebreus 3.12, seu sentido é o de "cair" e "apostatar".   Das mais de 160 ocorrências de aphistemi na Septuaginta, 28 delas são claramente associadas à apostasia religiosa promovida por Jeroboão, filho de Nebate, e os reis que o seguiram.  No Novo Testamento, o termo ocorre 14 vezes, sendo um deles de uso paulino (1 Tm 4.1), e o outro do autor de Hebreus (Hb 3.12). Nessas duas últimas referências, o contexto sugere um sentido de uma apos­ tasia religiosa nos moldes do Antigo Testamento. Não exatamente na forma, mas, sim, nos princípios que a motivaram.  Além desse vocábulo grego, há muitos outros usados na Bíblia para referir-se à apostasia. A obra The New lnterpreter's Dictionary of the Bible destaca que a apostasia, descrita comumente pelos termos hebraico (meshuvah) e grego (apostasia), é descrita de várias formas nas Escrituras:
"A Bíblia relata numerosos casos de apostasia, embora sem usar o vocabulário hebraico e grego acima mencionado; por exemplo, a 'rebelião' de Saul (1 Sm 15.22-23) e aqueles que foram 'iluminados', mas que 'caíram' (Hb 6.4-6)".
De início, é bom lembrar que a apostasia não é um pecado qualquer, nem tampouco um tropeço que o cristão teve na sua caminhada. Não é um mero desvio moral ou acidente espiritual. Fritz Laubach define como "uma ruptura completa da vida com Jesus, o abandono da verdade divina experimentada".
 O expositor 1. Howard Marshall define como: "Negação da fé por aqueles que antes a sustentavam". De forma semelhante, o expositor Merril F. Unger define a apostasia como "um ato de um cristão, que, consciente e deliberadamente, rejeita a verdade revelada da divindade de Cristo (1 Jo 4.1-3) e a redenção mediante seu sacrifício expiatório" (Fp 3.18; 2 Pe 2.1)u.    Em  seu  comentário sobre Hebreus, o expositor Adam Clarke, quando comenta sobre o apóstata, diz que ele é:

"alguém que rejeita completamente a Jesus e seu sacrifício e renuncia a todo o sistema evangélico. Isso nada tem a ver com os desviados no uso comum do nosso termo. Um homem pode cair repentinamente em uma falta ou ainda deliberadamente andar em pecado e, porém, não rejeitar o evangelho nem negar ao Senhor que lhe comprou. Sua situação é temerária e perigosa, mas não sem esperança. O único caso sem esperança é o do apóstata deliberado, que rejeita o evangelho depois de haver sido salvo pela graça ou convencido da verdade do evangelho. Para o tal, já não resta mais sacrifício pelo pecado, porque já houve um, o de Jesus, e ele o rejeitou por completo".

Extraído do livro: A supremacia  de  Cristo , Fé, esperança  e ânimo na carta aos Hebreus.

José Gonçalves.

UMA ALIANÇA SUPERIOR, UM SACERDOTE SUPERIOR, UM SACRIFICIO SUPERIOR

Dentro da temática abordada, o autor traz à tona o assunto do sacerdócio e, parenteticamente, continua com sua exortação. Todo o sistema sacerdotal levítico, com seu complexo sistema ritualístico, era apenas uma sombra do qual Cristo era a realidade (Hb 8.5). Com a manifestação de Cristo, tudo aquilo ficara antiquado, obsoleto e sem valor. Voltar atrás, portanto, era perder a realidade para mergulhar nas sombras! A antiga ordem sacerdotal passara e, em seu lugar, outra se havia estabelecido: uma ordem sacerdotal superior a de Melquisedeque, da qual Cristo tornara-se sumo sacerdote (Hb 5.10). Uma verdade chocante - que, com toda a segurança, provocaria espanto nos judeus piedosos - estava sendo demonstrada pelo autor: Toda a lei, bem como o sistema de sacrifícios levítico, havia sido abolida! Não havia como tentar viver por eles novamente. Chamando "Nova" essa aliança, ele tornou antiquada a primeira; e "o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar" (Hb 8.13). A Nova Aliança havia sido implantada e não fora estabelecida com base em sangue de animais, mas no sangue de Cristo (Hb 9.12). Voltar ao velho sistema era negar a eficácia desse sangue, era negar a Cristo. O autor alerta que quem agisse dessa maneira estaria renegando de vez o Filho de Deus (Hb 6.4-6) e, por isso, seria objeto de um juízo severo (Hb 10.29). Quem agisse dessa forma estaria cometendo apostasia, e, para o apóstata, o autor alerta que:

"é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro, e recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificaram o Filho de Deus e o expõem ao vitupério" (Hb 6.4-6).



Extraído do livro: A supremacia  de  Cristo , Fé, esperança  e ânimo na carta aos Hebreus.
José Gonçalves.