quinta-feira, 7 de junho de 2018

Lição 11- Ética Cristã, Vícios e Jogos

RETIRADO DO LIVRO - VALORES CRISTÃOS -
Enfrentando as questões morais do nosso tempo.
Douglas Baptista.
A Bíblia Sagrada enaltece a vida moderada, o trabalho honesto e a boa administração da família (1 Co 10.23; Ec 3.10; 1 Tm 5.8). Desse modo, as Escrituras eliminam qualquer possibilidade de o cristão envolver-se na  prática dos vícios ou jogos de azar. No entanto, as estatísticas indicam dados alarmantes dos prejuízos que são provocados por esse mal em nossa sociedade.
Estima-se que, depois do relato bíblico envolvendo o vinho fermentado por Noé (Gn 9.20-27), a primeira bebida alcoólica teria sido preparada na China, por volta do ano 8.000 a.C. A análise de substâncias orgânicas em peças de cerâmica na vila neolítica de Jiahu, no norte da China, no ano de 2006, revelou que elas continham um drinque feito de arroz, mel e frutas silvestres, tudo fermentado (GARCIA, 2007, p. 2). Na cultura da civilização sumeriana (3.000 a.C.), eram produzidos 19 tipos de bebidas alcoólicas — sendo que 16 delas eram à base de trigo e cevada — provavelmente o embrião da cerveja. A bebida era consumida pelos aristocratas sumérios por meio de canudinhos de ouro (GARATTONI, ago. 2008).
Quanto ao uso de drogas alucinógenas, o consumo da cannabis (conhecida como maconha) remonta ao ano 2.700 a.C. A maconha teve sua origem no Afeganistão e na índia, sendo consumida para uso medicinal e em rituais religiosos. Na Europa, era usada para fabricar papel e tecido, tornando-se um dos principais produtos agrícolas, passando a ser usada posteriormente como entorpecente (CARLINI, 2005).
A arqueologia registra que a origem dos “jogos de azar” remontam à antiga Suméria, por volta do século III a.C. Os sumérios implantaram um jogo   que consistia em um grupo de dados fabricado em ossos de animais com símbolos cunhados nas faces, com valores determinados e específicos. Nesse jogo, o vencedor era aquele que alcançasse uma maior pontuação, arremessando os dados. Essa cultura de jogatina também foi encontrada no Egito — com tabuleiros (séc. II a.C.) —, e na Roma antiga — com o jogo de dados e outros (séc. I a.C.). Historiadores afirmam que esses jogos somente terminavam  após um dos participantes perder todos os seus bens, muitos, inclusive, perdiam a liberdade, tornando-se escravos (FERNANDES, 2012).
I. VÍCIOS: A DEGRADAÇÃO DA VIDA HUMANA
Tudo aquilo que escraviza o homem e o faz perder seus valores é qualificado como vícios que resultam na degradação da essência humana. Uma definição genérica para vício é “um hábito, ou prática, imoral ou mau; conduta imoral; comportamento depravado e degradante” (HENRY, 2007, p. 596). Portanto, vício é o contrário da virtude, assim como o errado diverge do certo e as trevas fazem oposição à luz. Durante a Idade Média, os teólogos  relacionaram os “vícios” aos denominados sete “pecados capitais”. Os vícios eram identificados em um ou mais dos seguintes pecados mortais: orgulho, avareza, lascívia, inveja, glutonaria, ira e preguiça. Quanto a esses e aos demais pecados, somos exortados a rejeitar as obras das trevas e nos vestir  das armas da luz (Rm 13.12). O apóstolo dos gentios enfatiza o comportamento ético do cristão como aquele que age na luz: “não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja” (Rm 13.13). As vidas viciadas no álcool, cigarros e demais drogas evidenciam ausência de paz de espírito, andam nas trevas e necessitam de urgente libertação (Gl 5.16; 1 Jo 2.8).
1.  O Pecado do Alcoolismo
O consumo do álcool é tanto um vício como um pecado (Lc 21.34; Ef 5.18; 1 Co 6.10). A embriaguez altera o raciocínio e o bom senso (Pv 31.4,5). O álcool retira a inibição e a pessoa perde “a motivação para fazer o que é certo” (Os 4.11). O alcoolismo leva à pobreza e a graves problemas de saúde (Pv 23.21,31,32). Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam  o alcoolismo como a terceira causa de morte no mundo. A igreja deve posicionar-se e trabalhar na prevenção ao vício. O problema é de ordem espiritual, médica e psicológica. Muitas pessoas fazem uso da bebida alcoólica como um meio de fuga para seus problemas. Por conseguinte, precisamos sair da clausura dos templos e anunciar que Cristo produz vida  (Jo 10.10) e concede paz para a alma (Jo 14.27).
A maldição na família de Noé
A embriaguez do patriarca Noé resultou em graves consequências para si e para sua família. Após o período do dilúvio, Noé tornou-se lavrador da terra e plantou uma vinha (Gn 9.20). Na primeira colheita da uva, ao fermentar um vinho, o patriarca embriagado ficou desnudo dentro de sua tenda. Desinibido pelo efeito do álcool, tornou-se incapaz de perceber a insensatez de sua atitude (Gn 9.21). O mesmo efeito de destempero acontece com aqueles que agem sob o efeito do álcool. Por isso, as Escrituras advertem: “O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio” (Pv 20.1). Por essa razão, também Paulo recomendou a abstinência de bebidas alcoólicas (1 Tm 3.3). A nudez de Noé foi flagrada pelo seu filho Cam, que em lugar de resguardar seu pai decidiu depreciar sua honra contando aos irmãos (Gn 9.22).
Os outros filhos de Noé, Sem e Jafé, de maneira respeitosa, com o rosto virado em direção contrária, cobriram a nudez do pai (Gn 9.23). Passado o entorpecimento, ao despertar de sua bebedeira e se conscientizar dos fatos, o patriarca lançou sobre o filho de Cam um severo juízo: “Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos” (Gn 9.25). Por conseguinte, por causa da postura difamatória de Cam, toda a descendência de Canaã ficou sob maldição. Apreende-se com tal episódio que o uso do álcool resulta em situações danosas e constrangedoras para a família. Assim, para o cristão, prevalece a admoestação bíblica: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).
2.  A Escravidão das Drogas
As drogas são substâncias químicas que provocam alterações no organismo. As drogas causam dependência e o consumo excessivo provoca morte por overdose. As drogas afetam também o funcionamento do coração, fígado, pulmões e até mesmo o cérebro. As drogas ilícitas mais comuns são a maconha, a cocaína, o crack e o ecstasy. As chamadas drogas lícitas, como o álcool e o cigarro, são igualmente prejudiciais à saúde. As pessoas usam drogas principalmente para alterar o estado de espírito em busca de paz. Entretanto, as drogas agridem o corpo que é templo do Espírito Santo (1 Co 6.19,20) e invalidam o sacrifício de Cristo na cruz (1 Co 1.18). O cristão não deve usar e nem participar de movimentos que visam legalizar as drogas.
Descriminalização do uso e venda de drogas
A legislação brasileira verbera contra o uso e contra a venda de entorpecentes (Lei nº 11.343/2006). Embora a referida norma abrandasse as penalidades para os usuários, em comparação com as legislações anteriores, a norma em vigor ainda considera crime “adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo [entorpecentes]” (Art. 28). Todavia, tramitam no Congresso Nacional Projetos de Leis (PL) que visam à descriminalização das drogas, isto é, que o uso de drogas e sua venda não seja mais considerado crime.
O PL n° 7270/2014 autoriza a produção e o comércio da maconha em todo o território nacional. Outro projeto de lei é o de n° 7187/2014, que dispõe sobre o controle, a plantação, o cultivo e a comercialização da maconha. Por fim, ainda um Recurso Extraordinário (RE) 635659 que tramita no Supremo Tribunal Federal que tem o intuito de descriminar o uso da maconha. Contudo, é importante frisar que mesmo com essas tentativas de descriminalização, o uso e a venda de drogas até então é crime.
Assim como relatado neste capítulo, o uso de entorpecentes é imoral, antiético, bem como prejudicial à saúde do usuário e das pessoas do seu convívio social. Porém, alguns grupos nocivos à sociedade anseiam a descriminalização das drogas. O condão de defesa apresentado por esses apoiadores é que a criminalização das drogas cria cartéis do narcotráfico, e que, “liberando” as drogas, essas quadrilhas seriam desmobilizadas. Outra arguição é que o uso de drogas não pode ser considerado crime, e, sim, problema de saúde pública. Com esses pretextos, como explicar que mesmo regulamentado os medicamentos de “tarja preta” ou de antibióticos são vendidos clandestinamente? Se o uso de entorpecentes é considerado crime e mesmo assim milhares de pessoas utilizam, será que “liberando” o uso de drogas diminuirá os usuários, e, assim, desafogará o sistema de saúde?
O exercício do domínio próprio
Aquele que vive na carne é escravizado pelo pecado (Jo 8.34). A maior característica de quem vive no Espírito é a manifestação do fruto do Espírito Santo. Segundo o teólogo David Lim, “o fruto tem a ver com o crescimento e o caráter; o modo da vida é o teste fundamental da autenticidade” (HORTON, 1996, p. 488). O fruto do Espírito consiste em nove graças listadas  em Gálatas 5.22,23, as quais são amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e temperança. O fruto no singular refere-se à unidade que o Espírito Santo cria na vida daqueles que se sujeitam a Ele (GOMES, 2016, p. 14). A virtude que parece ser o somatório de todas as outras é tradução da palavra grega egkrateia, que significa “temperança” ou “domínio próprio”. É autocontrole, autodisciplina e moderação. É a qualidade que Cristo nos dá para andarmos no mundo conservando a nossa santidade. Trata-se de um ato de repelir ou reprimir os desejos da carne por meio do controle do Espírito Santo:

Ironicamente os nossos desejos pecaminosos, que prometem autorrealização e poder, inevitavelmente nos levam à escravidão. Quando nos rendemos ao Espírito Santo, inicialmente sentimos como se tivéssemos perdido o controle, mas Ele nos leva a exercer o autocontrole que seria impossível somente com as nossas próprias forças. (RIBAS, 2009, p. 298)

Desse modo, o cristão controlado pelo Espírito Santo não pode ceder às paixões carnais e nem tão pouco ser escravizado pelo uso de  quaisquer drogas ou entorpecentes. O vício — quer ele seja lícito, quer seja ilícito — não tem lugar na vida de uma pessoa que procura ser controlada pelo Espírito de Deus. Embora nem a idade nem a experiência sirvam de garantia para o exercício do autocontrole, o fruto do Espírito o produz na vida do crente. O texto paulino exorta o cristão a não ser dominado por nada: “[...] todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Co 6.12b).
II. JOGOS DE AZAR: A ARMADILHA PARA A FAMÍLIA
Tudo aquilo que abarca investimento sem retorno garantido, descomprometido com a ética e a moral resulta em sérios prejuízos na  família. A expressão “jogos de azar”, para os efeitos penais, é definida como sendo o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte. Consideram-se jogos de azar: a) o jogo dependente de sorte; b) apostas em qualquer outra competição. O décimo mandamento do Decálogo condena a cobiça, que é a raiz de todos os jogos de azar (Êx 20.17).
1.  A Ilusão do Ganho Fácil
A sedução dos jogos de azar ocorre pela esperança de se obter lucro instantâneo. As pessoas são atraídas pela ilusão de ganhar dinheiro rápido e fácil sem o esforço do trabalho. Jogam na expectativa de tirar a sorte grande e assim resolver problemas financeiros. Ciente dessa realidade, o Estado brasileiro é extremamente ambicioso na exploração da jogatina. Somente de loterias legalizadas são nove modalidades: mega-sena, loto mania,  dupla sena, loto fácil, quina, instantânea, loteria federal, loteca e lotogol. E ainda existem as casas de bingo, os jogos eletrônicos e também os jogos ilegais como os caça-níqueis e o jogo do bicho, entre outros. O governo e os contraventores lucram e lucram muito. Mas os jogadores tornam-se compulsivos, endividam-se, arruínam a família e a própria vida. Depositar a esperança na sorte é pecado e implica não confiar na providência divina (Jr 17.5-7).
O erro de confiar nas riquezas
No capítulo 6 do Evangelho de Mateus, no Sermão do  Monte,  Cristo tratou, entre outros assuntos, acerca da oração e da ansiedade. Discorreu sobre a tendência humana de acumular tesouros na terra (Mt 6.19,20). Cristo alertou que as riquezas não são permanentes e podem rapidamente desaparecer. As possessões terrenas podem ser destruídas por três maneiras: a traça, a ferrugem e os ladrões. Portanto, aqueles que depositam sua fé e esperança nos bens materiais estão sujeitos a sofrer decepções e dores profundas, pois “o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1 Tm 6.10). Para livrar o cristão do sofrimento de tais males, o Senhor nos orienta a ajuntar tesouros nos céus, com a seguinte observação: “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.21).
O Senhor não condenou o acúmulo de dinheiro quando usado para fins de sobrevivência e conforto necessários ao homem e sua família. A reprimenda de Jesus se refere à confiança irrestrita nas riquezas que arrebata os pensamentos, os esforços e as energias na busca dos bens terrenos. Sob   esse aspecto, o cristão deve depositar sua esperança na providência divina, e não na busca desenfreada e irresponsável de dinheiro fácil por meio dos jogos de azar. Atitude diferente dessa implica não confiar na provisão divina, que nos alerta a não andar inquietos quanto ao que comeremos, beberemos ou com que nos vestiremos porque “decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas” (Mt 6.31,32).
2.  Os Males dos Jogos na Família
Os jogos de azar causam destruições irreparáveis no ambiente familiar. O jogo vicia e escraviza a ponto de migrar todos os recursos de uma família para o pagamento de dívidas contraídas pelo jogador. Nos jogos de azar, o benefício de um depende completamente do prejuízo do outro e normalmente são as pessoas de baixa renda que sustentam a jogatina. Esses jogos  fomentam a preguiça, a corrupção, a marginalidade, a agiotagem, a violência e a criminalidade. Os jogadores compulsivos descem ao nível mais baixo  para continuar alimentando o vício da jogatina. Em muitos casos tais jogadores perdem seus empregos, o respeito de seus amigos e até o amor de suas famílias. As Escrituras nos advertem a zelar pela família (1 Tm 3.4,5) e não cair em armadilhas, pois “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7).
Jogos de Azar: uma contravenção penal
O ordenamento jurídico brasileiro classifica os delitos em duas naturezas: crimes ou contravenções penais. A primeira é tida como um delito de maior potencial (delitos contra a vida, a liberdade, etc.); já as contravenções penais são aquelas tidas como de menor potencial (delitos contra a paz pública, a incolumidade pública e outros). Os jogos de azar são classificados como contravenções penais (Art. 50, Decreto-Lei n° 3.688/1941), ou seja, quem joga, presencialmente ou online, ou ainda administra tal serviço está sujeito  às penalidades legais.
Existem  dois  projetos  de  lei  que  tramitam  no  Congresso  Nacional que visam à legalização desses jogos: o projeto de lei n° 442/1991 (Câmara dos Deputados), que reúne 14 propostas sobre legalização de cassinos, bingos, caça-níqueis, jogo do bicho e jogos online; e o projeto de lei n° 186/2016 (Senado Federal), que deseja legalizar o funcionamento de cassinos, bingos, jogo do bicho e jogos em vídeo. O perigo dessa prática desmedida é diverso, como apresentado nos tópicos anteriores, assim como seria impossível o Estado fiscalizar esses estabelecimentos e, sem dúvida alguma, seria o local “adequado” para o crime organizado lavar seu dinheiro.
Doença comportamental
Todo e qualquer tipo de vício escraviza o ser humano, e com o viciado em jogos não é diferente. Um incontável número de jogadores perdeu tudo o que tinha em apostas variadas; eles não perderam apenas dinheiro, perderam a dignidade, a confiança, o respeito e até a moral. O viciado imagina que pode recuperar o dinheiro perdido e nesse afã aposta valores cada vez mais altos até ficar completamente falido. O viciado é capaz de inventar todo tipo de histórias para conseguir dinheiro e continuar alimentando o seu vício — inclusive cometer crimes. Embora o vício em jogos seja considerado uma doença patológica, a compulsão para jogar não é ocasionada por alguma dependência química; trata-se de uma doença comportamental. A família não pode ficar omissa diante de um quadro de vício patológico. Admitir o problema e procurar a orientação de profissionais especializados é indispensável para o tratamento do vício. Ignorar ou dirimir os fatos só trará constrangimentos, vergonha e muito sofrimento.
3.  As Consequências para a Saúde
Os jogos de azar, assim como o álcool, o cigarro e as demais drogas, causam dependência química e psíquica. Em 1992, a OMS concluiu que jogar faz mal à saúde e incluiu o jogo compulsivo no Código Internacional de Doenças (CID).  Quando  em  crise  de  abstinência,  o  jogador  sofre  com   tremores, náuseas, depressão e graves problemas cardíacos. Cerca de 80% dos viciados em jogos de azar relatam algum tipo de ideação suicida como uma forma de fugir da vergonha moral e de suas dívidas. Tal como os outros viciados, os jogadores compulsivos tendem ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas. Maltratar o próprio corpo é insensatez e afronta contra a vida outorgada por Deus (1 Sm 2.6; Ef 5.29,30).
As sequelas da ludopatia
A doença denominada de ludopatia refere-se o jogo compulsivo ou patológico, que leva uma pessoa a não poder resistir ao impulso de jogar mais e mais, provocando graves problemas econômicos, psicológicos e familiares. O autoflagelo, seja psíquico, seja físico, é comumente encontrado em pessoas diagnosticadas com essa patologia. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a pessoa com um quadro de ludopatia apresenta pelo menos cinco dos sintomas a seguir: necessidade de aumentar o risco e as apostas; ficar o tempo todo preocupada com o jogo; apresentar irritação e nervosismo se deixar de jogar; usar o jogo para escapar de problemas; mentir para familiares e amigos para esconder seu real envolvimento com o jogo; tentar se controlar e parar de jogar, e não conseguir; e fazer do jogo uma prioridade que ameaça relacionamentos, oportunidades de trabalho e carreira. E por fim, essa patologia quase sempre está associada a outros vícios igualmente nocivos, tais como alcoolismo, tabagismo e consumo de drogas ilícitas.
III. VIVAMOS UMA VIDA SÓBRIA, HONESTA E FIEL A DEUS
A vitória do cristão contra os vícios e os jogos de azar engloba a sobriedade, honestidade e fidelidade ao Autor da vida. A ética cristã requer dos súditos  do Rei um comportamento digno e uma vida de moderação. Não é condizente com os salvos em Cristo a extravagância, o destempero, o desequilíbrio ou qualquer outra atitude que possa manchar o evangelho ou denegrir o bom nome de Cristo.
1.  A Bênção da Sobriedade
A expressão grega nephálios refere-se à sobriedade em relação ao consumo de bebidas alcoólicas. O dicionário indica aquele que ao contrário de embriagado, está desperto, consciente e com capacidade de discernir.  O termo também é utilizado para identificar vida equilibrada. Trata-se da  virtude daquele que controla as paixões da carne (Gl 5.24). Desse modo, a sobriedade abrange o comportamento moderado, a mente sã, o bom juízo e a prudência (Rm 12.3; 1 Tm 1.5; 2 Tm 1.7). A orientação bíblica é de abstinência de toda a imundícia, inclusive a dos vícios e dos jogos de azar (Tt 2.12).
Abstinência é a melhor solução
No que diz respeito à abstinência total de álcool, vez ou outra se levanta uma discussão acerca do uso do vinho no Novo Testamento. O vinho servido nas bodas em Caná da Galileia (Jo 2.9), o vinho usado por Cristo na instituição da Ceia do Senhor (Lc 22.20) e o vinho recomendado por Paulo a Timóteo (1 Tm 5.23). O debate refere-se às seguintes questões: Trata-se apenas do suco natural da vide ou de suco fermentado? Não vou entrar no mérito da discussão etimológica dos termos gregos e nem nas probabilidades de interpretação por considerar essa demanda estúrdia e secundária (Tt 3.9). Somente, transcrevo abaixo a posição do Comentário Bíblico Pentecostal:

A completa abstinência é recomendável. Uma pessoa que abstém completamente do álcool não se embriaga nem se tornará alcoólatra. Também não faria com que um ex-alcoólatra recaísse no pecado. É melhor prevenir do que remediar! (ARRINGTON, 2003, p. 1478)

Aquele que se abstém não comete excessos. Esse procedimento mantém o cristão afastado das críticas, das ruins suspeitas e da escravidão do vício. Não é possível conceber um cristão embriagado, expondo-se ao escárnio e zombaria dominado pelo efeito do álcool; ou seja, a abstinência total e absoluta é o ideal para o exercício da fé genuinamente cristã.
2.  Honestidade e Fidelidade
Uma pessoa honesta não explora o seu próximo, mas conduz seus negócios com transparência (Sl 112.1-5). Não retira seu sustento da jogatina à custa de quem perde dinheiro nos jogos de azar (1 Ts 4.6). O verdadeiro cristão não busca amparo na sorte, mas provê a si e sua família por meio do trabalho honesto (Gn 3.19). A fidelidade do cristão é com a palavra de Deus. Mesmo que alguns vícios e jogos de azar sejam lícitos pelas leis do Estado, o salvo em Jesus não se permite contaminar. Os ensinos e os princípios bíblicos devem pautar a vida daqueles que são fiéis ao Senhor (Sl 119.105).
O viver moderado do cristão
A vida sóbria é sinônimo de moderação. A honestidade denota sinceridade. A fidelidade é o compromisso do crente salvo com Deus e sua Palavra. Os vícios e os jogos de azar, legais ou ilegais, são práticas reprováveis e prejudiciais à sociedade. Os vícios escravizam e destroem as vidas e as famílias. De igual modo o fazem os jogos de azar. Portanto, o cristão deve abster-se da prática de todo e qualquer vício e dedicar-se ao trabalho honesto para o sustento de sua casa. Cabe ao salvo resistir ao pecado e não se deixar dominar por coisa alguma (1 Co 6.12). O viver moderado denota equilíbrio e vida santificada. Vida santa significa cuidar e honrar, e não macular o próprio corpo conforme nos asseveram as Escrituras: “que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra” (1 Ts 4.4).




sábado, 2 de junho de 2018

Lição- 10- Ética cristã e vida financeira.

RETIRADO DO LIVRO - VALORES CRISTÃOS -
Enfrentando as questões morais do nosso tempo.
Douglas Baptista.

Senhor é fonte de toda riqueza, tanto a prata quanto o ouro lhe pertencem (Ag 2.8). As posses e os bens são concedidos ao homem por meio do nosso Deus. Cada um prestará contas daquilo que recebeu para administrar (Rm 14.12), inclusive no quesito financeiro (Mt 25.19). Nas Escrituras, o trabalho enobrece o homem, sendo este o único meio digno de sobrevivência (Gn 3.19). Apesar dessa assertiva bíblica, durante a Idade Média, os que  escolhiam trabalhar para conseguir sustento eram considerados cristãos de segunda classe e a espiritualidade monástica do período medieval, em geral, considerava o trabalho degradante (MCGRATH, 2012, p. 331).
Essa ideia deturpada do trabalho perdurou até a Reforma Protestante, em 1517. Somente após o movimento protestante é que houve uma mudança de paradigma na conceituação do trabalho. Quem trabalhava era somente a plebe ou o proletariado, enquanto a nobreza e também o clero sobejavam em benefícios e regalias e eram sustentados pelos altos impostos infligidos aos trabalhadores. Com a Reforma, o protestantismo desenvolveu “a concepção de que o trabalho é uma vocação divina, a qual foi dada a cada ser humano como instrumento de determinação de amor ao próximo, no sentido de que, cumprindo a vocação, a pessoa humana serve a seu semelhante”  (OLIVEIRA, 2009, p. 174).
A teologia protestante inverteu o antigo ponto de vista católico e medieval. De uma percepção do trabalho como algo humilhante para um meio dignificante e glorioso de louvar a Deus em sua criação e por intermédio dela (MCGRATH, 2012, p. 332). O trabalho passou a ser entendido como um meio digno e desejado de sustentar a família, erradicar a pobreza e a  miséria, bem como uma oportunidade de exercer o amor aliviando a dor e a fome do próximo, e ainda uma maneira de propiciar a manutenção do Reino de Deus na terra.
I. UMA TEOLOGIA PARA A VIDA FINANCEIRA
O equilíbrio financeiro que foge dos extremos da riqueza e da pobreza possibilita uma vida desprovida de preocupações desnecessárias. Os que se dedicam de modo desordenado em busca do enriquecimento são traspassados de muitas aflições (1 Tm 6.9,10) e, no outro extremo, os que negligenciam suas finanças estarão fadados a uma vida de miséria (Pv 28.19).
1.  Vida Financeira Equilibrada
No livro de Provérbios estão registradas as palavras de Agur (Pv 30.1). Ele fez dois pedidos ao Senhor, os quais almejava usufruir antes de sua morte (Pv 30.7). Seu primeiro pedido era por uma vida íntegra, livre da vaidade e da falsidade (Pv 30.8a). Na segunda petição, Agur desejou uma vida financeira equilibrada. Ele rogou: “não me dês nem a pobreza nem a riqueza” (Pv 30.8b). O motivo desse segundo pedido é explicado em seguida: “para que, porventura, de farto te não negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecendo, venha a furtar e lance mão do nome de Deus” (Pv 30.9). Agur desejava dinheiro suficiente para uma vida digna que não o levasse a pecar. Ele não queria muito dinheiro para evitar a soberba, mas também não queria que faltasse para não ser desonesto. Nesse propósito, ele aspirava apenas à porção necessária para cada dia (Pv 30.8c). E foi exatamente assim que Cristo nos ensinou a pedir: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11).
A prosperidade na Bíblia
Desde o início, Deus tem prometido prosperidade ao seu povo. Tudo começou com Abrão, que habitava em Ur dos caldeus, quando o Senhor lhe falou: “Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção” (Gn 12.1,2). As Escrituras asseveram que Abraão creu na promessa que Deus lhe fizera, e isso lhe foi imputado como justiça (Rm 4.3). Portanto, a prosperidade é algo bíblico, está nas Escrituras como uma dádiva divina, algo prometido pela palavra do próprio Deus.
Em contrapartida, nas Escrituras “ser próspero” não significa “somente ter posses”, pois a prosperidade unicamente material pode ser danosa.  Consciente dessa verdade, o sábio rei Salomão registrou: “Não esgote suas forças tentando ficar rico; tenha bom senso! As riquezas desaparecem assim que você as contempla; elas criam asas e voam como águias pelo céu” (Pv 23.4,5, NVI). Quando Cristo foi interpelado por alguém que requeria intervenção em um caso de herança, o Senhor lhe advertiu severamente: “Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lc 12.15, NVI). João, ao escrever para Gaio, desejou-lhe prosperidade material e espiritual (3 Jo 1,2). Assim, nossa riqueza deve ser tal qual é próspera a nossa alma.
Saúde financeira
A saúde financeira não depende de quanto ganhamos, mas de como gastamos o que ganhamos. A Palavra de Deus censura a imprudência de quem vive acima de sua capacidade econômica: “O homem sensato tem o suficiente para viver na riqueza e na fartura, mas o insensato não, porque gasta tudo o que ganha” (Pv 21.20, NTLH). Aquele que desobedece a esse princípio acumula dívidas e vive atribulado. Não raras vezes contrai empréstimos para saldar outros empréstimos. Torna-se refém dos altíssimos juros dos cartões de crédito e do cheque especial. Em casos extremos, passa a ser explorado por agiotas que fazem financiamentos com juros abusivos. Compromete sua reputação e seu nome figura como mau pagador nos órgãos de proteção ao crédito. Pela sua insensatez e má administração, quando chega à velhice não tem onde reclinar a cabeça e nem mesmo condições mínimas de viver dignamente.
Portanto, para uma vida financeira equilibrada, é preciso bem administrar o orçamento familiar. A prudência ensina calcular todas as despesas e fazer provisões financeiras para evitar o empréstimo e a vergonha (Lc 14.28).  Outra salutar medida é não se envolver na aquisição de supérfluos e resistir à tentação de comprar o que não precisa. Aplicar a remuneração naquilo que é indispensável e não gastar o dinheiro naquilo que não é pão (Is 55.2) — aquele que observa esses princípios fica longe das dívidas e escapa da ruína financeira. Será louvado pela sua família, manterá o bom nome e a boa reputação, e, na velhice, poderá desfrutar de uma merecedora e digna aposentadoria.
2.  O Perigo do Amor ao Dinheiro
O apóstolo Paulo corrobora que a vida moderada é o melhor caminho para fugir dos laços e tentações das riquezas (1 Tm 6.9,10). A cobiça pelo dinheiro corrompe os homens e os faz desviar da fé. Percebe-se no texto bíblico que o mal não está no dinheiro, e sim no “amor ao dinheiro”. O mal está em perder a comunhão com Deus e passar a depositar a confiança nas riquezas. A Bíblia revela que essa atitude foi empecilho de libertação na vida de muitos, como nos exemplos do jovem rico (Lc 18.23), de Judas Iscariotes (Lc 22.3-6), de Ananias e Safira (At 5.1-5), que valorizaram o dinheiro em detrimento da salvação. Portanto, mesmo que o Senhor nos permita enriquecer, o salmista nos adverte para não pecarmos: “[...] se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração” (Sl 62.10).
Cuidado com a cobiça
O mais perigoso inimigo do homem é ele próprio. A sua própria carne e a natureza pecaminosa que nele habita constituem um inimigo vicioso e enganoso. Existem três espécies de pecado que se encontram na raiz da queda de qualquer cristão: é o amor pelas mulheres (imoralidade sexual); o amor pelo dinheiro (o pecado da cobiça); e o amor por posições (orgulho e apostasia). Comparados com isso os seus inimigos externos são fáceis de combater. A cobiça vem de uma insegurança com relação à provisão de Deus e o amor pelo dinheiro. Em Mateus 6.24, Jesus ensinou sobre dois senhores, dentre os quais devemos escolher um — Deus ou Mamom. Acerca dessa declaração, Mamom é identificado com o nome do deus pagão da riqueza e da prosperidade com gravíssimas implicações:

No Targum (paráfrase aramaica do Antigo Testamento), essa palavra era usada para o lucro desonesto obtido mediante exploração egoística de outra pessoa. O “mamom” da injustiça de Lucas 16.9 corresponde com exatidão a uma frase aramaica que significa “possessões adquiridas com desonestidade. (MOUNCE, 1996, p. 70)

Infelizmente, muitos cristãos têm caído nessa armadilha, apropriando-se daquilo que não é seu. As Sagradas Escrituras esclarecem que a cobiça, ou a avareza, está no amor ao dinheiro. Paulo ensina que a cobiça é pecado de idolatria. Nos textos de Colossenses 3.5 e de Efésios 5.5, avareza e cobiça são sinônimos. Esses termos estão ligados com a ganância de querer ter e ser mais que os outros. Um cristão dominado pela avareza ou pelo desejo de acumular riquezas é insensato e delira em vãos pensamentos, Jesus deixou bem claro que “a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12.15). Lamentavelmente, não são poucos os que acabam se perdendo  por causa da cobiça ao dinheiro, bens materiais e posições economicamente compensatórias.
O problema da soberba
Ao escrever aos romanos, o apóstolo dos gentios os advertiu acerca da soberba: “[...] não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos” (Rm 12.16). Os romanos, por viverem na cidade imperial, estavam bem próximos do esplendor da corte e buscavam ocupar certas posições. A exortação paulina os instiga a se acomodarem às coisas simples, deixando de ser convencidos, em vez de lutar na consecução de coisas que eram altas demais para eles (PFEIFFER, 1983, v. 5, p. 56). Matthew Henry considera que “não devemos ambicionar honra e promoção, nem olhar com respeito o fausto e a dignidade do mundo com qualquer valor ou desejos excessivos” (2008, vol. 2, p. 391). Nesse sentido, o problema não está nos altos cargos ou funções, mas no desejo de alguns de serem  superiores aos outros.
Não obstante, a orientação bíblica por vezes é negligenciada por aqueles que almejam, por meio do acúmulo das riquezas, alcançar o topo da pirâmide social para vangloriar-se sobre os demais. A respeito desse procedimento, Tiago reprovou o comportamento de alguns crentes que estavam praticando o favoritismo e o elitismo na igreja (Tg 2.1-9). A reprovação de Tiago ainda tem relevância para hoje: “A Igreja não deveria mostrar parcialidade, nenhum interesse com respeito à beleza externa, à riqueza material e ao poder ou à influência da pessoa” (DAVIDS, 1997, p. 79). Muitos conflitos e contendas são gerados na igreja por ações de superioridade praticadas por parcela da membresia. Deus não se recusa em nos abençoar, mas não o fará se a nossa motivação for errada. Não seremos atendidos se o nosso desejo de prosperidade estiver motivado pelo egoísmo e pela soberba (Tg 4.1-3).
II. MEIOS HONESTOS PARA GANHAR DINHEIRO
Ganhar dinheiro não é pecado, e sim uma necessidade indispensável. Trabalhar de modo honesto para o sustento seu e de sua família é uma atitude altruísta. Aqueles que deliberadamente não trabalham e os que sobrevivem de maneira desonesta são reprovados e condenados pelas Escrituras Sagradas.

1.  Trabalho e Emprego
Desde a queda no Éden, o homem precisa empregar esforços para obter os bens de que necessita para sobreviver (Gn 3.19a). Assim, o trabalho passou a ser um meio legítimo para prover o sustento. O Senhor Jesus ensinou que “digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10.7, ARA). Quando escreveu aos irmãos em Tessalônica, Paulo enfatizou que o trabalho é um meio digno de ganhar dinheiro (1 Ts 2.9). Porém, no afã de obter o seu salário, o cristão não pode envolver-se com meios ilícitos ou criminosos (Pv 11.1; 20.10) e nem tampouco explorar ou extorquir o seu semelhante (Am 2.6). A responsabilidade individual de trabalhar para o próprio sustento é tão relevante que a Bíblia condena o preguiçoso (Pv 21.25; 22.13) e ainda assevera: “[...] se alguém não quiser trabalhar, não coma também”(2 Ts 3.10).
Conceito de trabalho
A ordem divina para o trabalho tinha sido anunciada antes da queda do homem (Gn 1.28). E por causa dela o processo do trabalho foi dificultado; em razão do pecado, a terra passou a produzir cardos e espinhos (Gn 3.18). Pallister analisa que “ao dar o mandato para trabalhar (Gn 1.28), é natural que Deus tenha querido abranger todo tipo de atividade humana legítima”  (2005, p. 79). E, conforme essa compreensão, adota-se o seguinte conceito de trabalho:

Atividade cujo fim é utilizar as coisas naturais ou modificar o ambiente e satisfazer às necessidades humanas. Por isso, o conceito de trabalho implica: 1) dependência do homem em relação à natureza, no que se refere à sua vida e aos seus interesses: isso constitui a necessidade, num de seus sentidos; 2) reação ativa a essa dependência, constituída por operações  mais ou menos complexas, com vistas à elaboração ou à utilização dos elementos naturais; 3) grau mais ou menos elevado de esforço, sofrimento ou fadiga, que constitui o custo humano do trabalho. (ABBAGNANO, 2000, p. 964)

Os princípios bíblicos e teológicos que regem a concepção do trabalho vinculam a atividade laboral com a ideia de progresso social, solidariedade e enobrecimento da pessoa humana. Porém, na prática contemporânea, o sociólogo polonês Sygmund Baumann (1925-2017), em seu livro Modernidade Líquida, afirma que “raramente se espera que o trabalho ‘enobreça’ os que o fazem, fazendo deles ‘seres humanos melhores’, e raramente alguém é admirado e elogiado por isso” (BAUMANN, 2001, p. 161). Apesar do ceticismo hodierno, essas ideias não conseguem anular a importância e a contribuição do trabalho na realização do ser humano. Primeiro de maio é a data, no Brasil e em vários países do mundo, reservada para comemorar o Dia do Trabalho. A História da data remonta o ano de 1886, quando milhares de trabalhadores protestaram por melhores condições de trabalho na cidade de Chicago (Estados Unidos).
Meio de vida, e não de morte
O trabalho deve ser executado como um meio de vida, e não de morte. O corpo humano possui limitações que devem ser respeitadas. O excesso de trabalho com carga horária abusiva e funções múltiplas é extremamente prejudicial à saúde. Dias de folga, intervalos para descanso, férias remuneradas e alimentação apropriada ajudam a manter o equilíbrio entre o trabalho e as necessidades vitais do trabalhador. Quando essas orientações  são desprezadas, a saúde e a família são os primeiros a ser afetados. Em um mercado de trabalho competitivo, uma considerável parcela de trabalhadores permite que o emprego sugue todas as suas energias e anule a sua vida social, religiosa  e  familiar.  Nesse  quesito,  as  Escrituras  orientam  a  busca      do equilíbrio. De um lado somos exortados a trabalhar e fugir da preguiça (Pv 6.6-11), e, de outro, recebemos a instrução de não cometer exageros: “Melhor é uma mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho e aflição de espírito” (Ec 4.6). Portanto, o trabalho deve ser algo prazeroso, saudável e dignificante. Não existe mérito algum em se matar de trabalhar.
2.  Escolarização e Mobilidade Social
A sociedade é formada por classes sociais. A possibilidade de um cidadão trocar de classe é denominada de “mobilidade social”. Um dos meios disponíveis é a escolarização, ou seja, a educação acadêmica. A escolarização proporciona a capacitação profissional e o acesso a níveis superiores de ensino. Aqueles que alcançam maior escolarização possuem maior probabilidade de encontrar empregos com bons salários, possibilitando a ascensão social. No entanto, o cristão precisa tomar cuidado na busca de seu aprimoramento intelectual para não ser enredado por meio de filosofias e vãs sutilezas (Cl 2.8). Precisa também ter em mente que não deve buscar conhecimento para vanglória ou para se considerar melhor que os outros (Fp 2.3). Ao contrário, deve usar a escolarização e a ascensão social para poder melhor servir ao Reino de Deus (Fp 2.4,21; 1 Co 10.32,33).
Formação Acadêmica
Não faz muito tempo que ter um curso superior ou uma especialização  era o grande diferencial para se conseguir um bom emprego em nosso país. O tempo passou, o mercado tornou-se altamente competitivo e as exigências aumentaram. Por isso, o que antes era uma vantagem tornou-se um padrão. Quem não possui qualificação acadêmica, dificilmente conseguirá um emprego com salário rentável. A partir dessa realidade, novas competências passaram a ser requeridas pelo empregador. Atualmente, a mera formação acadêmica não é requisito suficiente para preencher uma vaga de emprego. Empregadores selecionam entre os candidatos de nível superior aqueles   que apresentam algum diferencial, como por exemplo, domínio fluente de determinado idioma, amplo conhecimento de informática, inteligência emocional, valores morais e éticos especialmente para cargos de chefia, e outros.
Mercê desses fatos, a qualificação é algo a ser aprimorado para quem está ou deseja entrar no mercado de trabalho. Aqueles que recusarem o aperfeiçoamento vão correr o risco de perder o emprego, ser preterido nas promoções ou se resignar em receber baixos salários.
Todavia, embora a educação formal seja um dos meios mais eficazes para a mobilidade social, o acesso à educação ainda é deficiente, apesar dos esforços e da sensível melhora ocorrida nas últimas décadas.
III. COMO ADMINISTRAR O DINHEIRO
A mordomia das finanças é responsabilidade de todos os membros da família. A má gestão provoca endividamento e constrangimentos desnecessários. Um lar bem administrado financeiramente resulta em segurança e bem-estar.
1.  Fidelidade na Casa do Senhor
A boa administração financeira tem início com a fidelidade do cristão na entrega dos dízimos e ofertas. O dízimo era praticado antes da lei (Gn 14.18- 20), requerido no período da lei (Ml 3.7-10) e permaneceu em vigor na Nova Aliança (Mt 23.7,10,23; Lc 11.42). É mandamento da Lei e da Graça — da antiga e da nova dispensação. Entregar os dízimos significa devolver ao Senhor a décima parte de todos os rendimentos. A oferta é extra ao dízimo. Tanto um quanto o outro devem ser entregues com alegria (2 Co 9.7). O cristão deve entregar com amor, altruísmo e voluntariedade. Deve sentir vontade e gratidão em participar dos dízimos e das ofertas, que é fonte de graça e sinal de comunhão com Deus: “O povo se alegrou com tudo o que se fez voluntariamente; porque de coração íntegro deram eles liberalmente ao Senhor; também o rei Davi se alegrou com grande júbilo” (1 Cr 29.9, ARA).

A bênção de contribuir
O cumprimento de metas e a administração das atividades eclesiásticas exigem recursos financeiros. Na maioria das vezes, a soma total do valor monetário recebido pela igreja determinará a expansão de seu crescimento  nas várias áreas de atuação. É verdade que as finanças não são o único fator a ser considerado no crescimento e expansão de uma igreja. No entanto, a situação financeira da igreja possibilita ou impede a execução das metas a serem atingidas. Infelizmente, existe na igreja uma parcela lamentável de irmãos que não contribuem na casa de Deus. Alguns alegam que o dízimo e  as ofertas fazem parte da Antiga Aliança e que, por conseguinte, estão desobrigados de dizimar e ofertar na Nova Aliança. Outros, cientes da responsabilidade de contribuir, não o fazem por estarem dominados pela mesquinharia, egoísmo e amor ao dinheiro. E outra parte não contribui por falta do ensino pastoral. O ensino precisa ser esclarecedor e convincente sem ser apelativo.
O dízimo e as ofertas fazem parte da prática diária e da disciplina cristã. Os ofertantes e dizimistas devem fazê-lo com amor e altruísmo, extirpando o egoísmo humano. A voluntariedade e gratuidade devem ser buscadas como desejo constante. Não se deve entregar o dízimo ou oferta como um pagamento Deus. A Bíblia ensina que é devolução. O crente, ao entregar sua contribuição, está fazendo devolução de algo que nunca foi seu, mas que sempre pertenceu a Deus. A entrega não pode ser egoísta ou com interesses e motivações erradas. Jesus redarguiu enfaticamente os escribas e fariseus, que faziam contribuições, porém o seu coração estava longe de Deus. A atitude deles descaracterizava a real finalidade da contribuição. Entregar dízimos e ofertas é confirmação de fé e obediência à Palavra de Deus (Mt 23.23).
2.  Estabelecendo Prioridades
A Bíblia ensina que o dinheiro serve de proteção (Ec 7.12). Contudo, o dinheiro somente será uma benção se a família souber administrar seus rendimentos. Estipular prioridades e metas a serem atingidas é o caminho mais fácil para melhor aplicar os recursos e evitar o desperdício (Pv 21.5). As metas devem ser estabelecidas, obviamente, de acordo com as condições financeiras da família. O planejamento evita aplicação do dinheiro em atividades supérfluas ou desnecessárias (Is 55.2). As prioridades devem ser ordenadas pela urgência ou imprescindibilidade de cada situação. Uma administração transparente e sincera demonstra temor de Deus na aplicação das finanças da família (1 Tm 5.8).
Agenda financeira
Nem sempre é simples planejar e ordenar as prioridades da agenda financeira da família. Diversos conflitos de interesses costumam dificultar, porém esses conflitos precisam ser vencidos, sob pena de as metas não serem alcançadas. Cada situação precisa ser planejada e analisada por meio de perguntas, tais como, é viável e necessário trocar o carro agora? É possível viajar de férias para determinado lugar e lá passar determinado número de dias? Esses cuidados evitam o endividamento, porém, é preciso tomar cuidado com a economia em excesso. Esbanjar é tão prejudicial quanto deixar de investir em si mesmo e na família.
3.  Evitando as Dívidas
A falha no estabelecimento de prioridades provoca o endividamento. Quando a família não planeja, acaba contraindo dívidas acima de suas posses. O lar passa a sofrer privações e se torna refém do credor (Pv 22.7). O comprometimento da renda familiar acarreta uma série de outros prejuízos, tais como impaciência, nervosismo e desavenças no lar. Para evitar essas desagradáveis situações é aconselhável comprar tudo à vista (Rm 13.8), não ficar por fiador de estranhos (Pv 11.15; 27.13), fugir da mão dos agiotas   (Êx 22.25; Lv 25.36), e ser fiel nos dízimos e nas ofertas (Ml 3.10,11).
O nível de desemprego aliado à falta de disciplina financeira da população contribuiu com os altos índices de endividamento e inadimplência das famílias brasileiras. Diante desse cenário caótico e a fim de não fazer parte desses índices, o crente salvo deve manter sua disciplina financeira por meio da fidelidade nos dízimos e nas ofertas, no esmero no planejamento do orçamento familiar e na fuga de todo e qualquer endividamento. E, depois de fazer todo o possível ao seu alcance, confiar que Deus suprirá as suas necessidades (Fp 4.7).