[...] e quem sabe se para tal
tempo como este chegaste a este reino?
- Ester 4.14
Dos
livros da Bíblia, Ester e Cantares são dois livros que se distinguem por evitar
usar o nome de Deus, não ensinar a Lei de Moisés, nem destacar a religiosidade
israelita. Mas a razão principal que fez com que o livro de Ester fosse
reconhecido no Cânon das Escrituras foi o fato de revelar o cuidado divino com
o povo de Israel em meio à hostilidade, estando exilado de sua terra. Matthew
Henry escreveu acerca desse livro que “se o nome de Deus não aparece no livro,
o dedo de Deus estava lá”, de modo invisível, orientando a vida do povo de
Deus.
É uma história em que se percebe
a presença de Deus de modo inescrutável e invisível nos seus elementos
circunstanciais, destacando, em especial, dois personagens importantes,
Mardoqueu e Ester. Temos uma história delineada pela providência divina. Não há
determinismo nos ingredientes da história, mas percebe-se a soberania de Deus
fazendo valer seus desígnios. Todos os fatos que envolvem pactos e alianças de
Deus com o seu povo são cumpridos com aqueles que o servem.
Nessa história, podemos observar
as operações invisíveis de Deus delineando todos os fatos que envolvem o povo
de Deus em terra estranha, sofrendo toda sorte de perseguição e rejeição no
lugar em que habitavam e os personagens da história. Além de Mardoqueu (ou
Mordecai) e Ester, outros três personagens fazem parte de todo o enredo da
história, que são: o rei Assuero (ou Xerxes I), a rainha Vasti e Hamã, o
oficial da corte do reino de Assuero (Et 1.1,9; 2.5,6; 3.1).
Desde a divisão de
Israel em dois reinos
— o de Israel, chamado Reino do Norte,
e o de Judá, chamado Reino do Sul —,
os seus reis, com pouca exceção, não foram fieis a Deus e, por isso, tiveram
que arcar com as consequências graves e trágicas na vida do povo de Deus. Os
exércitos da Assíria entraram em suas terras, subjugando os dois reinos ao
domínio persa. Os judeus exilados tornaram-se subservientes dos persas. Em 485
a.C., o Império Medo-Persa era forte e, nesse período, os exilados judeus
serviam aos interesses persas com trabalho forçado, escravidão e muito
sofrimento das famílias. Nesse tempo do domínio de Assuero (Xerxes I) entra a
história de Ester como uma prova de que Deus não havia se esquecido do seu
povo. Ora, o povo de Israel tinha consciência de sua eleição para representar
os interesses de Deus entre as nações e que aquela situação momentânea era consequência dos pecados de seus lideres.
Por isso, estavam exilados e longe da sua terra.
Ao
longo da história, o povo de Israel tem sofrido com a tentativa de
exterminação, porque Satanás odeia esse povo e quer destruí-lo. Então, por
desígnio de Deus, entra no cenário dessa
circunstância uma jovem temente a Deus que se torna o elemento-chave da
libertação do seu povo no reino da Pérsia. A jovem Hadassa, criada por seu tio
Mardoqueu, também chamada Ester, entra na cena que Deus armou para que seus
desígnios fossem concretizados. Ester, entre as moças do palácio, alcançou
graça perante o rei e foi constituída rainha da Pérsia, no lugar de Vasti. Não
imaginava ela que seu papel dentro do palácio real de Assuero seria o salvar
todo o seu povo do extermínio tramado por Hamã e conquistar espaço dentro do
império para se defender e servir ao seu Deus.
A PROVIDÊNCIA INVISÍVEL DE DEUS
Existe
uma palavra profética de Mardoqueu para Ester que revela a providência divina
no cenário daquela história que se iniciava com uma simples jovem do povo
judeu. A palavra aconteceu quando uma trama contra o povo de Deus foi armada
por Hamã, oficial da corte do rei Assuero. Mardoqueu, tendo notícias da trama,
preparou Ester para ser o elo de Deus para
salvação do seu povo, e disse-lhe: Não
imagines, em teu ânimo, que escaparás na casa do rei, mais do que todos os
outros judeus. Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento
doutra parte virá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem
sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et 4.14).
Indiscutivelmente, o dedo de Deus delineia a história do seu povo.
Como Ver o Dedo de Deus como Providência
nessa História?
A
expressão “dedo de Deus” encontrada na Bíblia em algumas circunstâncias
especiais é uma metáfora antropomórfica que atribui a Deus coisas, figuras e
órgãos humanos, como coração, mãos, pés, olhos, ouvidos, que representem ações
de Deus. Deus é Espírito, e qualquer figura humana em relação a Deus tem
sentido de revelação de um Deus que é Pessoa e fala conosco. Em relação à
história do livro de Ester, o dedo de Deus é uma figura invisível da
providência divina. A palavra “providência”
vem do latim providentia, e o prefixo “pro”
significa “antes” ou “antecipadamente”, mas o sufixo da palavra, videntia, deriva de videre, que significa
ver . Quando nos referimos a Deus, sua providência diz respeito ao que Ele faz
e vê antecipadamente. É o que Deus vê, e Ele vê todos os incidentes da vida
antes que ocorram, algo que humanamente não podemos fazer (SI 139.1-14).
Nesse sentido, constatamos que os incidentes
históricos naqueles dias dentro do Império Persa foram delineados e orientados
pelo dedo de Deus dirigindo cada circunstância. Por esse modo invisível e
providencial, o Senhor colocou a jovem Ester dentro do palácio de Assuero para
que o seu povo fosse salvo da destruição. Comprova-se esse fato pelo que Deus
disse a Isaías, o profeta: “[...] os meus pensamentos [são] mais altos do que
os vossos pensamentos” (Is 55.9).
A Festa de 180 Dias de Assuero
O
domínio do Império Persa sob o reinado de Assuero continha 127 províncias. O
território persa se estendia desde o vale do Indo, no noroeste da índia, o
norte da África, incluindo Egito, Líbia e Cus (hoje, Sudão). Porém, as guerras
com a Grécia trouxeram desgaste físico, emocional e económico para o
império. Em vez de novos tributos e a ampliação comercial com outros países,
essas guerras se tornaram pesadas para a economia do império. Esse tempo datava
o tempo do governo de Xerxes I (Assuero) no Império Persa, nos anos 486 a 465
a.C. Seu pai foi Dario, o Grande, e sua mãe chamava-se Atosa, filha de Ciro.
Assuero herdou um enorme império, mas não conseguiu estender suas fronteiras
como objeto da vaidade dos reis daquela época.
Assuero
resolveu reunir aos príncipes, sátrapas e nobres da Pérsia para um tipo de
convenção de 180 dias (seis meses) na capital de Susã (Et 1.3,4). Essa reunião
ocorreu em 483 a.C., que tinha como estratégia o planejamento de guerras para
conquista de outras nações. Confiado em suas forças militares, Assuero entendia
que sairia vitorioso. Dentro desse período, Assuero mandou preparar uma festa
especial, com uma celebração esplêndida (Et 1.6,7).
Na
mente de Deus, a festa promovida por Assuero já estava nos seus desígnios e
nada poderia impedir a sua concretização. O rei Assuero era vaidoso, e querendo
ostentar sua glória, poder e riqueza a todos os súditos do império, ordenou que
se fizesse uma festa com muita comida e bebida, além das danças e orgias que se
permitiam nos salões do palácio de Susã. As 127 províncias tributárias ao seu
reino estavam representadas nessa festa. Assuero exibia seu ouro, prata e
pedras preciosas nas joias do palácio, nas pratarias e decorações internas do
palácio.
A Exibição Imperial que Provocou a Saída
da Rainha Vasti do Palácio
Por
mais que não entendamos os desígnios de Deus em algumas circunstancias, temos
que reconhecer que a mão invisível do Deus onisciente estava operando de modo
oculto aos olhos humanos. Aquela festa havia chegado a um ponto de total
extravagância em comidas e bebidas, deixando todos aqueles homens da corte
completamente irracionais. Nesse contexto de exibicionismo e ostentação de
Assuero, em que o vinho fez com que o rei ultrapassasse os limites de domínio
racional daquela festa, pelo ímpeto da vaidade e do exagero do vinho, o rei
ordenou que se chamasse Vasti, a rainha, para apresentá-la aos seus convidados,
como se fosse uma peça de decoração. A rainha Vasti, contrariando a ordem do
rei, recusou-se a comparecer diante dele e da corte, o que representou
humilhação para o rei. Por isso, a punição foi severa para Vasti, que era uma
mulher de personalidade forte e que não aceitava ser exposta ao ridículo pelo
seu próprio marido.
A Deposição da Rainha Vasti
Mediante
a recusa de Vasti em comparecer ante os convidados de Assuero para exibi-la
como se fosse uma peça de decoração, o rei ficou furioso com a recusa. Sentindo
humilhado e não querendo perder a autoridade real, Assuero a depôs de sua
realeza. Ele não aceitava a desobediência de sua mulher e, por medo de abrir
outro precedente, Assuero teve uma atitude irracional e violenta, típico de sua
personalidade arrogante. Como soberano do império, Assuero era exaltado e
orgulhoso, e sua autoridade seria questionada naquela festa se alguém lhe
desobedecesse.
Ao depor Vasti do palácio, queria que ficasse bem
claro a todos os palacianos que nada, ninguém, nem a rainha, podia recusar uma
ordem real sem sofrer as consequências. Portanto, a recusa da rainha Vasti em
comparecer vestida com sua realeza para ser exibida perante a corte custou a
sua destituição. Era o terceiro ano do reinado de Assuero quando aconteceu a
festa. Os seus convidados de todas as províncias tributárias do império
assistiram à humilhação de Assuero, mas viram com seus olhos o poder que tinha
para fazer valer suas ordens. Esses fatos contribuíram para que o proposito de
Deus fosse realizado na vida do seu povo cativo naquela terra.
SOB 0 DESÍGNIO DE DEUS,
ESTER ENTRA NO PALÁCIO DE ASSUERO
Segundo
o historiador judeu Josefo, do primeiro século da Era Cristã, depois que os
servos mais leais ao rei sugeriram que ele escolhesse uma das moças do seu
harém no palácio para ocupar o lugar de Vasti, foram selecionadas 400 moças
virgens como candidatas ao trono de rainha junto a Assuero. Depois de todos os
preparativos necessários, em termos de estética e beleza, as moças seriam
apresentadas individualmente perante Assuero. Todas as que estavam no palácio e faziam
parte do harem do rei teriam a oportunidade de conquistar seu coração, e uma
delas seria elevada a posição de rainha (Et 2.14). Foi assim que Deus preparou Ester
para ser a moça que conquistaria o coração do rei e seria elevada à posição de
rainha.
Ester Foi Designada por Deus para o Lugar
de Vasti
Entre
a deposição de Vasti e a chegada de Ester ao palácio, passaram- -se quatro anos
aproximadamente. Logo depois daquela festa, Assuero empreendeu uma guerra
contra a Grécia e todos os planos elaborados não deram certo. Dois anos depois
ele volta a Susã, completamente decepcionado porque a guerra não foi vencedora.
Ao voltar para o palácio, Assuero estava só e o trono de rainha ao seu lado
estava vazio. Passado algum tempo depois daquele banquete e depois da volta da
guerra frustrada contra a Grécia, alguns servos de Assuero que o serviam junto
ao trono sugeriram que se buscassem moças virgens e formosas à vista, que
reunissem qualidades que conquistassem o coração do rei e, quem sabe, fosse
escolhida pelo rei uma delas para assumir o trono de rainha. Comissários em
todas as províncias trouxeram muitas moças bonitas e virgens para o palácio de
Susã para que ficassem sob os cuidados do seu eunuco Hegai, que era guarda das
mulheres. Entre todas as moças levadas para o palacio, foi levada a jovem judia
Ester, que ganhou a simpatia do eunuco do rei (Et 2.9). Não há dúvidas de que
Ester fazia parte do desígnio de Deus para ajudar o seu povo, mas nem ela podia
imaginar isso.
Dois Personagens no Projeto de Deus:
Mardoqueu e Ester
Nessa
história, podemos perceber como Deus age e direciona todas as coisas para que a
sua soberana vontade se concretize. Dos dois personagens, Mardoqueu era um
judeu exilado que estava com outros deportados de Jerusalém para a cidade de
Susã, a capital persa. Mardoqueu não estava só, mas trazia além de sua família
a Hadassa (Ester), de quem era tio e, desde pequena, com a morte de seus pais,
adotou-a e cuidou dela como se fosse sua filha. No livro com seu próprio nome,
Ester é a personagem principal
da história. De algum modo especial, o Deus de Israel direcionou sua vida para
que ela se tornasse a grande libertadora do seu povo. Como era jovem e
inexperiente, seu tio Mardoqueu foi o orientador pessoal de Ester naqueles
episódios que a levaram ao palácio de Assuero. Portanto, Mardoqueu era um homem
temente a Deus e estava entre os cativos judeus que serviam aos interesses do
império em Susã.
Quem era Mardoqueu?
Sem
dúvida, era um homem de fé e de profunda
piedade espiritual. Era um sonhador que sonhava com a libertação da sua
gente. Ele cria que Deus faria algo que fosse capaz de romper com os obstáculos
que impediam essa libertação. Ele sabia, acima de tudo, que quaisquer
tentativas meramente humanas seriam impossíveis. Ele sabia, também, que a escravatura de seu povo seria desfeita
mediante a interferência de Deus. Mardoqueu era um homem que não recuava em
seus propósitos ainda que lhe custasse a vida (Et 4.1,2). Ele tinha certa
liberdade de movimentos porque, mesmo sendo um escravo judeu, ele podia estar
nas cercanias do palácio de Assuero.
Mardoqueu Frustra um Plano de assassinato
de Assuero
Não
muito depois da coroação de Ester como rainha do império, Mardoqueu estava
junto à porta de entrada do palácio de Assuero quando ouviu a conversa de dois
eunucos do rei, os quais, revoltados com a deposição de Vasti, tramavam o
assassinato do rei. Esses dois eunucos eram oficiais que serviam na guarda da
porta de acesso para o rei (Et 2.21). Seus nomes eram Bigtã e Teres. Eles
conspiravam contra a vida do rei. Mardoqueu, ao ouvir a trama, resolve frustrar
o plano sinistro contra a vida de Assuero e falou com Ester, pedindo-lhe que
fizesse o rei saber da trama em nome dele, de Mardoqueu (Et 2.22). Visto que
esses oficiais tinham acesso aos aposentos íntimos de Assuero, Mardoqueu não
perdeu tempo em informar Ester da trama. Ela, então, sem perder tempo, informou
ao rei a trama de assassinato contra a sua vida. Quando alguém do seu reino
demonstrava alguma atitude de lealdade, o rei gostava de honrar essa pessoa. Ester contou
ao rei que a informação vinha de Mardoqueu. Essa atitude de lealdade de
Mardoqueu lhe deu condições de ser alguém mais presente no palácio e no acesso
a sua sobrinha Ester. Tão logo o rei tomou ciência da trama, ordenou o
enforcamento de Bigtã e Teres (Et 2.23). Cresceu ainda mais o amor do rei por
Ester, contribuindo para que, a seu tempo, o propósito divino fosse concretizado
na vida do povo de Israel.
Ester, uma jovem graciosa que correspondeu
à expectativa de Deus
Seu nome hebreu era Hadassa, que passou
a ser chamada Ester, um nome que
provinha de uma palavra persa que significa
“estrela” e derivava do nome de uma deusa babilónica (Isthar), que
significava “deusa do amor”. Naturalmente, esse nome não teve qualquer
influência em sua vida de comunhão com o Deus de Israel. No seu livro bíblico,
Ester é a personagem principal da história que fala de uma jovem cujos valores morais
e espirituais serviram para torná-la um instrumento de justiça de Deus para
salvar a sua gente. Quando levada para o palácio de Susã, ela era uma jovem
entre tantas outras jovens bonitas e prendadas. Entretanto, o seu tio Mardoqueu
tinha uma visão mais ampla acerca do futuro de Ester e, por isso, disse-lhe:
“[...] quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et 4.14).
Ester, entre tantas lindas jovens, foi a
escolhida para o lugar de Vasti
Nesse
ponto estamos fazendo uma pequena digressão histórica que nos leva ao primeiro
estágio de Ester antes de se tornar a escolhida de Assuero. Depois da deposição
de Vasti como rainha, as moças escolhidas de todas as províncias foram levadas
para a casa das mulheres do palácio e, depois de apresentadas, uma delas seria
escolhida para ser a rainha. Quando veio a vez de Ester, sua presença superou a
todas as moças que até então haviam sido apresentadas. Ester achou graça diante
do rei, e ele baixou o cetro sobre ela e colocou a coroa de rainha sobre a sua
cabeça. Mardoqueu, que havia orientado o comportamento de Ester para várias
situações, estava assentado “à porta do rei” (Et 2.19) e teve o
coração emocionado por ver o desígnio de Deus sendo cumprido na vida de sua
sobrinha. Um grande banquete foi preparado com a coroação de Ester, e o rei
deu-lhe presentes. Essa escolha estava nos desígnios divinos para que ela,
sendo rainha naquele império, tivesse influência suficiente para conceder uma
grande libertação ao seu povo, o povo de Deus, e os desígnios malignos de seus
inimigos, especialmente, Hamã, que odiava Ester e Mardoqueu, queria destruí-los
dentro do reino.
UMA TRAMA DE DESTRUIÇÃO CONTRA 0 POVO DE
DEUS A Trama de Hamã, o Agagita
Hamã foi um homem descendente de
Agague, um rei amalequita (1 Sm 15.8,33).
Servindo no palácio de Susã ao rei
Assuero, Hamã foi elevado à posição de primeiro ministro do reino,
dando-lhe condições superiores entre todos os príncipes da corte persa,
tornando-se o segundo homem mais importante do reino depois de Assuero.
Sem dúvida alguma, o inimigo maior do povo de
Deus é o Diabo, que influenciava pessoas para odiarem o povo judeu naqueles
dias. Hamã se tornou um instrumento diabólico para perseguir e desejar a
destruição do povo judeu. Sua descendência agagita o lembrava de uma história
de derrota dos amalequitas, que eram descendentes de Agague e foram derrotados
pelo rei Saul no passado, e tinha o estigma do ódio contra os judeus. Era um
povo com uma história de pilhagem e roubo que assaltava os que viajavam no
deserto, especialmente, Israel. Por isso, esse povo foi amaldiçoado por Deus
(Dt 25.17-19).
Hamã era um agagita que odiava os judeus,
especialmente Mardoqueu, um judeu que exercia liderança no meio do seu povo.
Visto que Hamã tinha poderes políticos advindos do seu “status” de primeiro
oficial do reino persa, por sua arrogância, ambição e astúcia resolveu destruir
o povo judeu, principalmente, Mardoqueu. Como Mardoqueu não se inclinava
perante ele quando passava entre o povo, o seu ódio cresceu e, para tanto,
tramou diabolicamente a destruição de todos os judeus que viviam no império.
Pelo fato do enforcamento de dois oficiais que haviam tramado o assassinato do
rei, por informação de Mardoqueu, a crueldade de Hamã agitou sua adrenalina, e
então, cheio de empáfia e espírito vingativo, ele sugeriu ao rei a destruição
do povo judeu.
A
postura de Mardoqueu em não se inclinar perante ele quando passava causou tanta
fúria em Hamã que este ficou obcecado com a ideia de destruição total do povo
judeu dentro do império. Para esse intento, Hamã persuadiu Assuero a fazer um
decreto contra os judeus. Seu plano continha mentiras e calúnias contra o povo
judeu de que queriam a morte do rei e por isso deviam ser destruídos
totalmente. O rei aderiu ao plano de assassinato de Hamã, que ordenou o
massacre do povo, sem deixar escapar mulheres e crianças, além de saquear os
bens do povo (Et 3.13-15). Foi marcado um dia especial para destruição do povo
judeu e, quando esse povo teve notícias desse decreto, houve grande tristeza e
lamento do povo judeu. Mardoqueu, percebendo que a tragédia viria e seu povo
seria destruído, vestiu-se de saco de cilício e foi para a porta do palácio de
Assuero (Et 4.1-6).
Ester Toma Conhecimento da Trama
Mardoqueu
fez mais que se postar à porta do palácio, vestido de tecido de cilício e com
cinza sobre a cabeça. Ele se lembrou de que sua sobrinha estava no palácio e
era a rainha. Ela estava lá para esse momento especial em que Deus a usaria
para salvar sua gente. Ester teve conhecimento do lamento de seu tio Mardoqueu
e de todo o seu povo. Sua alma se condoeu mediante a ameaça do maior inimigo
dela e do povo judeu. Mardoqueu pediu que Ester entrasse à presença do rei e
falasse do intento cruel de Hamã, mas ela não podia entrar à presença do rei
sem ser convidada. Mardoqueu, então, cheio de fé na intervenção divina,
convenceu Ester a que fizesse a sua parte naquele momento e que confiasse na
direção de Deus. Ela foi convencida de que era o meio pelo qual Deus haveria de
agir, e Mardoqueu disse-lhe: “[...] quem
sabe se para tal tempo com este chegaste a este reino?” (Et 4.14). Ela sabia
que não poderia quebrar as regras do palácio, mesmo sendo a rainha. Por isso,
arriscou-se, com graça e prudência, para entrar à presença de Assuero. Pelas
palavras de seu tio Mardoqueu, ela ficou convencida de que Deus abriria as
portas para ter acesso ao trono de Assuero e que, de algum modo, poderia salvar
o seu povo da destruição e morte (Et 4.13,14). Ester avaliou bem toda a
fala de Mardoqueu e preferiu correr o risco de entrar na presença do rei sem
ser convidada. Entretanto, como mulher temente a
Deus, pediu a Mardoqueu que reunisse todos os judeus para que jejuassem por
ela, sem comer nem beber, até que pudesse tomar a iniciativa e entrar na
presença do rei.
Ester Usa de Estratégia Inteligente para
Ter Acesso ao Rei
Sem
precipitação e com prudência, Ester preparou-se para aquele momento,
vestindo-se com vestidos reais e perfumando-se para o encontro. Inicialmente,
Ester foi para o pátio interior da casa do rei de modo estratégico. Assuero, ao
vê-la com toda a beleza que possuía, ficou deslumbrado pela sua rainha e
apontou seu cetro de ouro para ela. Ester chegou à sala do trono, inclinou-se
perante o rei e tocou na ponta do cetro com a mão. Ela estava confiada nos desígnios
de Deus para aquele momento e, inteligentemente, mostrou sua beleza e também
seu respeito pelas leis do palácio. Foi delicada com o rei, que, maravilhado
mais uma vez pela beleza de sua rainha, recebeu-a no seu trono. O rei,
deslumbrado pela simpatia e beleza da rainha Ester, abriu seu coração e
perguntou-lhe: “Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição?” (Et
5.3). Ester o convida para um banquete e pede que Hamã esteja presente também.
Assim, ambos foram ao banquete preparado por Ester (Et 5.8). Visto que Hamã
mantinha o seu intento de destruir e matar Mardoqueu e todo o seu povo, após o
banquete, sua mulher sugeriu que ele fizesse uma forca para enforcar Mardoqueu
acusado de inimigo do rei e do império. Hamã mandou preparar a forca para
Mardoqueu e foi para a festa de Ester (Et 5.14; 6.4).
Assuero Descobre Mentiras de Hamã
Quando
Hamã saiu do banquete que Ester oferecera a ele e ao rei, estava certo de que
deveria fazer alguma coisa que agradasse ao rei. Falou da sua alegria em ter
estado no banquete de Ester, mas não aceitava o fato de Mardoqueu, à porta do
palácio não o respeitava nem se inclinava perante ele. Por isso, ao contar da
sua raiva contra Mardoqueu, sua mulher deu a sugestão de fazer uma forca para
ele e, assim, estaria livre daquele homem; certamente isso agradaria ao rei.
Hamã tomara para si o mérito da descoberta dos
homens que tramavam o assassinato do rei, mas o mérito era de Mardoqueu, que
informou a
rainha Ester para ela informasse ao rei em seu nome. Naquela noite, o rei não
conseguiu dormir, porque o Espírito de Deus tocou em sua consciência e, por
essa razão, o rei pediu para ver os livros das crónicas que traziam relatos dos
fatos de cada dia no império. Nessa leitura feita diante do rei, descobriu-se
que foi Mardoqueu quem, de fato, salvou o rei da trama do assassinato que
intentaram os dois eunucos, oficiais do palácio.
Hamã
queria a destruição de Mardoqueu e do povo judeu, inclusive da própria rainha,
que era de origem judia. Mas Ester informou ao rei que havia um plano para
matá-la, bem como ao povo judeu, e esse plano havia sido tramado por Hamã, o
que enfureceu o rei.
A CORAGEM DE ESTER PARA SALVAR 0 SEU POVO
Ester Desmascara Hamã diante do Rei
Segundo
o relato, durante toda a noite, Hamã mandou preparar a forca que seria colocada
no lugar mais alto possível para que todos vissem aquele que seria enforcado —
conforme o seu intento, Mardoqueu. Estava tão certo de que isso agradaria o rei
que foi ao banquete cheio de empáfia e confiante de que seria, mais uma vez,
honrado pelo rei.
No primeiro banquete de Ester, ela não revelou
nada especificamente. Decerto, o dedo de Deus na direção da sua vida não
permitiu que houvesse qualquer precipitação. Então, Ester convida o rei e Hamã
para outro banquete. A rainha Ester, mais confiante e decisiva do que deveria
fazer, usou de sua habilidade social e política e da apreciação amorosa de
Assuero por ela, esperou o momento certo para falar ao rei sobre a trama de
morte e destruição engenhada por Hamã. O rei já sabia da mentira de Hamã quando
ouviu o registro feito nas crónicas do império de que foi Mardoqueu, não Hamã,
quem impediu o plano de morte contra o rei. Soube que foi Mardoqueu que impediu
que a trama se efetivasse ao informar à rainha, cinco anos atrás. Agora, o rei
queria honrar o homem que o livrara da morte por traição naquele tempo. Até
então, o nome de Mardoqueu não havia sido revelado naquele banquete. Quando o rei perguntou o que deveria ser
feito para honrar o homem que o havia salvo da morte, o próprio Hamã, pensando
ser ele mesmo a quem o rei honraria com homenagens especiais, sugeriu o tipo de
homenagem que deveria receber. A sugestão de Hamã era que o homem que
receberia a homenagem seria conduzido em um cavalo da cavalariça do próprio rei
e fosse vestido com roupas de gala e com o anel do rei. Arrogante, Hamã
imaginou que esse homem seria ele mesmo. Assuero, então, de forma objetiva e
determinada, ordenou a Hamã que honrasse um homem especial, maltratado por ele,
que deveria receber as honras sugeridas por ele. Esse homem era o judeu
Mardoqueu, que deveria ser conduzido pelas ruas da capital, montado em um
cavalo do rei, vestido com roupas palacianas e com o anel do rei. A mais alta honraria que um súdito poderia
receber. Por outro lado, aprendemos o que acontece com os arrogantes: Ele abate
o soberbo e exalta o humilde (Ez 21.26; Tg 4.6).
Mardoqueu e todo o Povo Judeu — Salvos
Graças ao Papel Persuasivo de Ester
Nos
dois banquetes oferecidos por Ester, o rei estava tão feliz com sua rainha que
estava disposto a conceder o que ela quisesse, quem sabe mais joias, outro
palácio, ouro, prata e coisas semelhantes (Et 5.3). O rei estava disposto a
dar-lhe até metade do seu reino, mas não era isso que Ester queria da parte do
rei. No primeiro banquete, ela pediu apenas que o rei e Hamã aceitassem o
convite para um segundo banquete, em que ela revelaria ao rei o que desejava.
No segundo banquete, com a presença do rei, de Hamã e de todos os demais
convidados, a rainha Ester revela o seu pedido ao rei (Et 7.3,4). Com lágrimas
nos olhos e com angústia em sua alma, ela revela o plano assassino de Hamã
contra ela mesma, contra Mardoqueu e contra todo o seu povo no império. Foi um momento de consternação, mas de
coragem, em que ela apontou o dedo para Hamã como aquele que desejava a morte
dela e de todo o seu povo. Então pediu que fosse revogada a lei contra os
judeus. O rei se enfureceu contra Hamã e, saindo para fora no pátio do
palácio, o rei externava a sua raiva contra aquela situação em que a própria
rainha estava ameaçada de morte mediante o intento de Hamã. Mesmo que a lei não
pudesse ser revogada, também não seria executada. Posteriormente, o rei deu um
decreto de proteção aos judeus (Et 8.8-12).
A forca preparada para desonrar Mardoqueu e expor
seu corpo publicamente foi utilizada para enforcar a Hamã (Et 7.9,10).
Mardoqueu assumiu o lugar de Hamã, e o rei sabia que ele não o trairia.
Mardoqueu Estabelece a Festa
do Purim
Deus
salvou o seu povo, mesmo estando ainda exilado em outra terra, usando uma
mulher especial que se colocou em suas mãos para ser instrumento de salvação
para o seu povo. A palavra Purim é derivada da palavra hebraica para “sortes”.
Quando Hamã tramou a destruição do povo judeu, foi procurar astrólogos para
lançarem sortes com o fim de ter certeza de que a trama seria efetivada. Em
função da grande libertação do povo judeu nas terras persas, Mardoqueu entendeu
que aquela data deveria ser celebrada por todos os judeus, convertendo-se numa
celebração tradicional para todos os tempos da vida do povo judeu.
Onde Está o
Deus do Livro de Ester?
Em
todo o livro, não aparece o nome de Jeová, mas Ele estava presente na condução
daquela história do povo de Deus em atos e manifestações de poder. A
sobrevivência dos judeus ao longo da história da humanidade revela a mão
providencial do Todo-Poderoso em cada evento e em cada detalhe ao proteger e
preservar seu povo. Sua providência é visível em todos os fatos que envolveram
personagens como Mardoqueu e Ester. O poder invisível de Deus é obvio,
ordenando soberanamente cada detalhe da vida daqueles exilados para
preservá-los e ensiná-los a reconhecer que Ele cumpre a sua palavra em
quaisquer circunstâncias.
A lição que aprendemos com Ester
é que a sua história emergiu da tragédia, das perplexidades incontáveis e das
intervenções divinas para fazer valer as suas promessas. O povo judeu foi
salvo, estando em terra estranha e pagando caro pelos erros de seus líderes no
passado, mas Deus não o abandonou. Ele cumpre o que diz e promete. Deus cuida do
seu povo.
Na providência divina, os desígnios de Deus são
efetivados para que suas promessas e alianças se cumpram cabalmente.