Posso todas as coisas naquele
que me fortalece.
— Filipenses 4.13
Quando Paulo escreveu aos
filipenses, estava dentro de uma prisão em Roma. Na realidade, Filipos foi a
cidade na qual ele formou a primeira congregação de cristãos na Europa (At
16.11; Fp 4.15). Foi uma igreja formada, na sua maioria, por gentios e com
alguns judeus. Ao escrever essa carta, ele estava num local que tinha a guarda
pretoriana que cuidava dele. Com algum tempo, ganhou o respeito dos pretorianos
e podia comunicar-se com eles. Como prisioneiro em Roma, ele aguardava o tempo
em que seria convocado pelo imperador para depor sobre suas atividades. Foi sua
apelação que o levou para Roma. Porém, foi uma prisão prolongada de dois anos
que o impedia de viajar e manter contato com as igrejas fundadas por ele.
Entretanto, mesmo estando preso,
física e geograficamente, o seu espírito não estava preso. Pelo contrário,
parecia estar presente em cada uma das igrejas fundadas por ele. Sua mente
ativada pelo Espírito Santo o fazia superar as tristezas da prisão onde estava.
Quatro das suas epístolas — Filemom, Colossenses, Efésios e Filipenses — foram
escritas na prisão. Na Carta aos Filipenses, Paulo não perde a postura de
vitorioso, a despeito dos sofrimentos por que passava. Essas cartas foram
escritas no período dos anos 62 e 63 d.C. O conteúdo dessa carta aos filipenses
era o de exortações
gratidão àqueles pelo amor demonstrado para com ele no tempo de sua prisão.
Especialmente no capítulo 4, o apóstolo Paulo destaca o espírito solidário nas
suas necessidades.
Paulo
nos dá uma lição de como é possível superar as dificuldades, tanto materiais
como as espirituais. Percebe-se que Paulo pressentia o fim do seu tempo de
vida, mas ele não tem nenhuma atitude negativa ou pessimista. Pelo contrário,
ele faz afirmações escatológicas e demonstra sua disposição para morrer por
Cristo. Mesmo com o pressentimento de que podia ser mais um mártir do
cristianismo, ele não se deixava vencer pela solidão, mas fazia questão de
afirmar sua alegria pela presença de Deus na sua vida.
PAULO, PRISIONEIRO EM ROMA
Toda essa história começou em Jerusalém quando a
notícia da chegada de Paulo alvoroçou judeus que viviam na Ásia e que o viam
como um antijudeu que pregava uma doutrina que se confrontava com a doutrina
judaica (At 21.17). Em Jerusalém, o apóstolo Paulo, depois de ter se encontrado
com Tiago, não perde tempo e vai para o Templo. No Templo, ele foi reconhecido
e acusado de provocador de discussões com a nova doutrina que pregava. O sumo
sacerdote Ananias ordenou que o açoitassem e o prendessem, e o levaram para a
fortaleza para não ser morto pelos opositores (At 21.37). Porém, Paulo pediu ao
comandante que o tinha em guarda e solicitou dizer uma palavra à multidão
agitada contra si. O comandante permitiu e Paulo fez a sua defesa,
identificando-se como cidadão romano, mesmo sendo judeu. Foi conduzido ao
Sinédrio que reuniu os sacerdotes para ouvi-lo e julgá-lo das acusações dos
judeus (At 23.1-10). A celeuma aumentou entre os judeus, e Paulo esteve diante
de Herodes, rei dos judeus; depois foi levado perante Félix e o rei Agripa.
Festo o interrogou e ficou pasmado com a argúcia de palavras de Paulo, mas este
apelou para César e, por isso, mais tarde, perante Festo, que era o governador
da província, e a Agripa, o rei.
PAULO, UM HOMEM LIVRE, MESMO ESTANDO EM
PRISÃO
Matthew Henry, em sua Bíblia de Estudo, comentou
no texto de 2 Coríntios 11.23, que diz: “São ministros de Cristo? (Falo como
fora de mim.)
Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em
prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes”. O comentário diz:
“Paulo era mais do que um simples ministro de Cristo. Deus o havia contado como
fiel e o colocado no ministério”. Diz mais: “Algemas lhe eram familiares; nunca
um notório malfeitor esteve tantas vezes nas mãos da justiça. A cadeia, o poste
de açoites e todos os outros castigos daqueles que são contados entre os piores
dentre os homens eram as coisas com as quais ele estava acostumado”. Paulo
desenvolveu um sentimento de que, mesmo estando preso, seu espírito continuava
livre para ministrar por meio da palavra escrita o evangelho de Cristo.
Paulo
era homem como qualquer um de nós, que tinha uma personalidade forte e
demonstrava as suas convicções no Cristo Salvador como objeto principal de seu
ministério. Com esse objetivo, Paulo demonstrava sua total confiança e
esperança para fazer a obra de Cristo, independentemente das perseguições e prisões.
Porém, como homem, feito de carne e osso, Paulo tinha os seus medos e
frustrações. A morte não o assustava, mas ele tinha em sua mente a consciência
de que, com a ameaça de morte, ele estava pronto para morrer ou viver, porque a
sua esperança na glória eterna era mais forte. Por outro lado, sua fé no Senhor
Jesus era tão forte que o cativeiro vivido por ele não o impede de confortar e
exortar a igreja em Filipos. Ainda que preso fisicamente, o seu espírito estava
livre. Na Carta aos Efésios, Paulo se apresenta como “embaixador em cadeias”
(Ef 6.20). Em síntese, sua mensagem não estava presa, porque, mesmo estando
preso num cubículo em Roma, sua missão de embaixador de Cristo era realizada.
Ele sabia que o evangelho de Cristo não podia ficar restrito aos judeus. Por
isso, o seu afã missionário o levou à Ásia Menor, à Macedônia, à Europa e a
todas as ilhas daqueles mares, principalmente, os mares Egeu e Mediterrâneo.
Conheci
um servo de Deus na cidade de Vitória, ES, que estava preso a um leito de dor e
sofrimento. Mas ninguém saía do seu quartinho humilde de enfermidade sem
receber uma mensagem profética.
Destemor e Ousadia de um Preso em Cadeias
O apóstolo Paulo, pela providência de Deus, ao
chegar a Roma foi tratado com benevolência, provavelmente, pela intervenção do
centurião,
que era o comandante chefe da guarda pretoriana e que passou a admirá-lo. Em
Roma, foi-lhe permitido alugar uma casa pequena próxima da Guarda Pretoriana, e
ele pôde viver um pouco mais à vontade, ainda que tivesse que manter seu punho
ligado por uma algema a um legionário.
Entretanto,
mesmo estando algemado e náo podendo locomover-se livremente, restrito à noite
no cubículo de sua prisão, Paulo tinha seu espírito livre. Estava preso
fisicamente, mas livre espiritualmente.
Ao
ter notícias das igrejas que ele plantou, não deixou de se preocupar com o
estado espiritual dessas igrejas, particularmente, Éfeso e Filipos. Mesmo tendo
que ditar suas cartas e epístolas de forma audível para um amanuense diante do
soldado que o vigiava, Paulo era ousado com o seu zelo pela vida espiritual
daquelas igrejas. Ele se considerava “embaixador” dentro da prisão e não
deixava de transmitir a Palavra de Cristo. Ele pediu oração à igreja em Éfeso
por si, mas reafirmava sua liberdade para falar a palavra do evangelho. Por
isso, mesmo estando preso física e geograficamente, dizia ter a “boca livre”
para falar de Cristo (Ef 6.20).
Meu
pai, pastor Osmar Cabral, em 1954, um dos pioneiros da obra pentecostal no
Estado de Santa Catarina, foi enviado para pastorear uma recém-formada
congregação em Chapecó, SC. Ele foi preso e levou chibatadas dos policiais da
cidade, por ordem do delegado que odiava os evangélicos, apenas porque era
pregador do evangelho. A igreja, com poucos crentes novos convertidos, pôs-se a
orar para que o Senhor o tirasse da prisão. Dentro da prisão, quando inquirido
sobre o que fazia, meu pai apenas disse ao delegado que pregava o evangelho de
Cristo. Logo depois foi solto. Os verdadeiros crentes em Cristo não se
intimidam com as perseguições nem com as ameaças de morte.
Alegria pela Fidelidade dos Filipenses
Paulo escreveu aos filipenses: “Como tenho por
justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos
vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha
defesa e confirmação do evangelho” (Fp 1.7). Paulo agia com grande amor e
demonstrava isso aos filipenses. Um líder verdadeiro, chamado por Deus para
pastorear, é aquele que sabe amar e sabe demonstrar gratidão.
Depois
de expressar sua alegria pelos cristãos em Filipos, Paulo declarou àqueles
irmãos que se lembrava deles sempre em oração, valorizando a história da
formação daquela igreja. Ele demonstra sua alegria pelo testemunho da
fidelidade dos filipenses que não temiam defender e confirmar todos os que
receberam a Cristo por Senhor e Salvador. Mesmo estando prisioneiro, não se
deixou amargurar por nada. Antes, ele regozijava diante de Deus porque os
filipenses participavam da sua vida de modo especial, sofrendo com ele. Por
isso, tinha-os com grande afeição no seu coração.
Nos
tempos modernos, nos deparamos com pretensas teologias, que são distorcidas da
autêntica e genuína teologia neotestamentária. Essas novas “teologias” não
admitem a realidade do sofrimento na experiência cristã, nem a fome, nem a
nudez que os nossos pioneiros enfrentaram. Entretanto, Paulo tinha em seu corpo
as marcas dos açoites que deixaram vergas em seus lombos; tinha as marcas das
correntes que feriram seus tornozelos e braços nas prisões. Paulo passou por
naufrágios, apedrejamentos e ficou enfermo algumas vezes em suas constantes
viagens missionárias. Tudo isso e muito mais não roubaram a alegria do Espírito
no coração de Paulo.
A Alegria que Supera a Adversidade
A escritura do texto de Filipenses 1.12-26 nos
mostra que Paulo coloca a sua missão de pregador do evangelho acima de qualquer
coisa no mundo. A paixão que o consumia era a pregação do evangelho de Cristo
e, por essa paixão, ele estava disposto a enfrentar qualquer adversidade. Note
isto: ele estava preso em Roma, mas as suas cadeias não o impediam de proclamar
o evangelho e de se preocupar com as igrejas. Paulo entendia que nada podia
diminuir a fé recebida e que tudo quanto havia enfrentado em suas viagens
missionárias não o impediriam de anunciar a Cristo. Nada seria um entrave para
o progresso da igreja de Cristo na terra. Para ele, o evangelho que pregava era
mais poderoso do que cadeias e grilhões, e nenhuma circunstância de ordem
política, material, física ou espiritual impediria o testemunho do evangelho. O
testemunho das suas prisões produzia um sentimento de vitória nos cristãos da
época, porque nada podia deter o poder do evangelho. Por isso, Paulo rejeitava a auto
piedade. Náo queria que ninguém ficasse com pena dele e perdesse o ardor, o
foco maior da pessoa de Jesus Cristo.
PAULO, SUA ABNEGAÇÃO ANTE 0 SOFRIMENTO Sua
Disposição em Sofrer pelos Cristãos de Filipos
“E, ainda que seja oferecido por libação sobre o
sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós” (Fp 2.17).
Essa declaração abnegada de Paulo deveria servir para despertar as consciências
da importância do espírito sacrifical no exercício do ministério cristão. É
lamentável que o mercenarismo, a boa vida e o profissionalismo estejam tão
fortes na vida da igreja moderna.
Com a declaração feita por Paulo da sua abnegação
e disposição para sofrer pela obra de Cristo, podemos entender a figura da
“libação sobre o sacrifício” que estava disposto a fazer. Ele usou a figura dos
sacrifícios no Antigo Testamento, especialmente, as ofertas de animais, como:
um cordeiro, um carneiro ou um novilho. A libação acompanhava o holocausto e a
oferta pacífica (Nm 15.1-10). Nessa libação, era usado vinho, ou mesmo “o
sangue da vítima”, que era derramado no santuário. Na verdade, Paulo fez uma
metáfora do significado desse rito durante os sacrifícios em Israel para falar
que ele mesmo estava disposto a oferecer sua vida, seu sangue, como oferta
perante o Senhor pelo sacrifício e serviço da fé feito pelos filipenses. A obra
do evangelho realizada pelos nossos pioneiros requerida deles esse espírito
sacrifical, e muitos deles deram suas vidas pelo Senhor. O serviço do evangelho
tem sido mercantilizado e pouca gente está disposta a dar a sua vida pelo
Senhor.
Paulo Lembra o Esforço de um Obreiro Fiel
Chamado Epafrodito
Indiscutivelmente, Epafrodito foi um cristão
exemplar. Era leal com Paulo e com os irmãos da igreja. Paulo o tratou como “um
companheiro de milícia” que não restringia-se em servir a igreja de Cristo.
Paulo lembra esse servo fiel aos filipenses (Fp 2.25), e carinhosamente o chama
“Epafrodito, meu irmão”, porque era como se tivesse o seu próprio sangue nas
veias. A fidelidade a Deus e a sua lealdade ao amigo Paulo o tornaram um modelo
de crente e de servidor na obra de Deus. Estava sempre pronto a servir, mesmo
correndo riscos de vida (Fp 2.30). Ele foi portador de uma oferta da igreja de
Filipos para ajudar as despesas pessoais do velho apóstolo. Foi, também,
portador de uma carta de Paulo à igreja de Filipos quando voltou de Roma para
Filipos. Paulo dizia-se confortado por esse servo de Deus quando passava por
alguma depressão e tristeza em momentos de solidão. Quando chegou a Roma,
Epafrodito estava enfermo, mas não deixou de cumprir seu compromisso de levar a
oferta da igreja para Paulo e de confortá-lo com as notícias dos irmãos
filipenses. Ainda hoje Deus levanta gente do tipo Epafrodito para ajudar os
seus líderes na igreja.
Paulo Faz Advertências contra um Grupo
Judaizante no Seio da Igreja
A semelhança dos tempos atuais, quando a igreja é
invadida por heresias, naqueles dias do primeiro século da Era Cristã, as
igrejas estavam sendo invadidas por falsos pregadores com a introdução de
ideias gnosticistas. Estava havendo, também, o ataque intelectual de judeus que
se diziam convertidos a Cristo, mas não se desvencilhavam de crenças adotadas
por um judaísmo gnosticista que negava o evangelho que Paulo pregava. Eram
falsos mestres que se apresentavam como apóstolos, mas torciam a mensagem
apostólica. Alguns desses judaizantes queriam impor costumes e ritos judeus
para os cristãos como a circuncisão, a guarda do sábado, a dieta de alguns
alimentos como forma de receberem a salvação plena em Cristo. Ainda em nossos
tempos, nos deparamos no meio cristão com pastores que se dizem evangélicos
fazendo cultos com ritos e costumes judaicos, como se a igreja fosse alguma
sinagoga. A liturgia da igreja tem sua base na morte vicária de Cristo e na sua
ressurreição. Por isso, nossa adoração difere da adoração dos judeus. O sistema
judaico tem a sua importância histórica e escatológica, mas a igreja é a
reunião de judeus e gentios formando um só povo (1 Pe 2.6-10) para servir ao
Senhor Jesus.
PAULO ENSINA A VIVER COM EQUILÍBRIO
Ser cristão não significa viver numa corda bamba
ou ter que ser equilibrista. Ser cristão implica agir com atitude firme e
convicta acerca
da sua fé. Deve saber o que crê sem se deixar influenciar pelas novidades que
não possuem respaldo bíblico. No capítulo 4 da Carta aos Filipenses, o apóstolo
Paulo faz várias exortações à igreja de Filipos acerca de algumas distorções
doutrinárias que estavam comprometendo a doutrina cristã e afetando a vida
cotidiana da igreja, além de produzir dissensões e desarmonia entre os irmãos.
Eram problemas de ordem social e também doutrinária.
Paulo Exorta à Firmeza Espiritual
Paulo escreveu à igreja: “Portanto, meus amados e
mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor,
amados” (Fp 4.1). Quando Paulo começa com a palavra “portanto”, ele a dizia
depois de ter exortado acerca dos “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18). Quem
eram eles? Referia-se aos falsos obreiros que se introduziam no seio da igreja
torcendo a doutrina cristã ensinada por Paulo e que promoviam dissensões entre
os irmãos. Esses “inimigos da cruz de Cristo” deveriam ser desarticulados e
expostos como falsos obreiros. Ora, depois dessas exortações, Paulo, mais uma
vez, exorta os filipenses, porém de forma apelativa, quando diz: “estai assim
firmes no Senhor”. Era, de fato, uma necessidade imperiosa na vida dos crentes
a firmeza espiritual. Essas distorções vinham, especialmente, de um grupo
judaizante que apresentava falsos mestres que negavam valores doutrinários da
doutrina de Cristo e influenciavam os cristãos quanto à sua fé. A igreja não
podia ceder aos falsos mestres que provocavam desavenças internas e dúvidas na
mente dos crentes. A igreja deve permanecer firme no Senhor, porque as coisas
de Deus são mais preciosas que as coisas terrenas. As convicções da obra
redentora por meio da cruz de Cristo deveriam ser mais fortes que os conceitos
desse grupo que se constitui, inegavelmente, em inimigos da cruz de Cristo. Mas
Paulo exorta à firmeza na fé que produz a alegria, diferente da alegria do mundo,
porque a alegria do Senhor produz força para a superação de todos os problemas
e crises.
Paulo Adverte os Filipenses contra a
Desarmonia entre si
Na história da igreja ao longo do tempo, as
mulheres sempre estiveram presentes em maioria. Naturalmente, naqueles
primeiros tempos da
igreja, a sensibilidade das mulheres as atraiu para a mensagem cristã. Na
igreja em Filipos, Paulo teve notícias de que estava havendo um conflito de
opiniões e sentimentos diferentes entre duas mulheres especiais, Evódia e
Síntique. Essas duas mulheres muito fizeram pela igreja nos seus primórdios,
porém, naqueles dias, estava havendo esse conflito produzindo desarmonia na
liderança da igreja. Tudo indica que essas mulheres exerciam certa liderança
muito útil na igreja, mas que, ao entrar em conflito de opiniões, provocaram um
mal-estar geral na igreja. Evódia e Síntique discutiam constantemente acerca de
coisas da vida eclesiástica e não conseguiam ter um mesmo parecer. Em outra
ocasião, o apóstolo Paulo disse à igreja em Corinto: “que digais todos uma
mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um
mesmo sentido e em um mesmo parecer” (1 Co 1.10). Sem dúvida, deixaram a
direção do Espírito em suas vidas e permitiram que a força da carne predominasse
suas mentes, e, com isso, a igreja estava dividida. Paulo roga às duas mulheres
que mudassem de atitude, pois elas estavam promovendo a divisão e quebrando a
autoridade apostólica. As crises provocadas por conflitos no seio da igreja
devem exigir do pastor a habilidade pastoral que Paulo teve, mesmo estando
distante daquela cidade. Paulo, então, exorta com ternura e atribui sua
exortação ao Senhor da Igreja, Cristo Jesus.
Paulo Lembra Clemente, um Fiel Servidor
No contexto de exortações feitas às duas mulheres
e à igreja em Filipos no capítulo 4, Paulo lembra um homem especial chamado
Clemente, pessoa que se destacava pela dedicação à obra do evangelho na cidade
(Fp 4.3). Na história da igreja surgiram alguns Clementes e se atribui ao
Clemente de Filipos a possibilidade de ser um dos eminentes “pais da igreja”.
Entretanto, não se pode provar que seja ele o eminente Clemente da história dos
pais da igreja. O que importa é que Paulo cita o seu nome como alguém
comprometido com o evangelho e com a preservação da unidade da igreja onde
servia como obreiro zeloso e dedicado.
O Controle da Mente para a
Superação de Crises
O apóstolo Paulo aprendeu em
toda a história da sua vida que a superação de crises em quaisquer campos da
vida pessoal precisa da ajuda do Espírito para controlar a mente. Nesse
sentido, ele destacou algumas verdades que devem permear a nossa mente. Há um
trabalho duplo: do Espírito Santo e do próprio crente. Para esse trabalho, ele
escreveu: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que
é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp
4.8). Nessa escritura paulina, não há nenhuma ideia sobre “o poder da mente”,
mas ele mostra que o que prevalece é a mente de Cristo. Paulo escreveu aos
corintos e disse-lhes: “[...] Mas nós temos a mente de Cristo” (1 Co 2.16). E
preciso esvaziar a mente de coisas fúteis e enchê-la com pensamentos que se
harmonizem com o evangelho.
Paulo
Mostra o Segredo da Vitória sobre as Crises
O apóstolo Paulo, depois de
oferecer à igreja um chá amargo, oferece, logo depois, algo mais doce para
aliviar a pressão provocada por algumas crises internas. No texto de Filipenses
4.10-13, Paulo não lhes passa uma reprimenda, mas recomenda “moderação” como
atitude capaz de evitar dissensões e porfias como estava acontecendo com Evódia
e Síntique (Fp 4.2,3). A moderação é uma qualidade de equilíbrio que desfaz o
tumulto, a murmuração. Paulo queria a concórdia e a união de todos os cristãos
de Filipos. Ora, além do conflito interno em termos de liderança provocado por
Evódia e Síntique, ainda enfrentavam o ataque contra a doutrina recebida no
início da fé. Paulo sabia que algumas coisas negativas como exasperação ante os
problemas sociais e a ansiedade não são atitudes próprias de pessoas que vivem
em Cristo Jesus. Por isso, ele disse: “Não estejais inquietos por coisa alguma;
antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração
e suplicas, com ação de graças” (Fp 4.6). Portanto, o equilíbrio mental e
espiritual para pensar e agir na vida cristã requer concentração no exemplo de
Cristo Jesus. Coração e mente precisam estar conectados em Cristo Jesus.
Em toda Crise É o Senhor quem
nos Socorre
E interessante perceber que, em
nenhuma outra carta, Paulo permite um olhar sobre a sua personalidade, seus
sentimentos. Ele expressa suas convicções, sua esperança e confiança, mas
revela, também, seus medos e frustrações. Ao mesmo tempo em que declara que já
aprendera a con- tentar-se sob quaisquer circunstâncias, na abundância e nas
necessidades, na fome e na fartura, tendo tudo e não tendo nada, ele sentia-se
capaz de superar essas dificuldades porque Cristo o fortalecia. Aos corintos,
Paulo também falou do seu aprendizado na obra do ministério, e diz: “Até esta
presente hora, sofremos fome e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e
não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias
mãos; somos injuriados e bendizemos; somos perseguidos e sofremos; somos
blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como o lixo deste
mundo e como escória de todos” (1 Co 4.11-13).
Quando Paulo diz que “tudo posso
naquele que me fortalece” (Fp 4.13, ARA), estava, de fato, expondo seu
sentimento de que poderia ser sacrificado em um tipo de morte provocada por sua
prisão, mas entendia que tudo isso contribuía para a proclamação do evangelho.
Por algum instante, ele vê na possibilidade da sua morte o futuro que lhe
reserva de esperança e confiança no Cristo que lhe garante a vida eterna. Mas,
entre morrer e viver, Paulo escolhe a vida para poder continuar a pregar o
evangelho. Essa possibilidade produzia em seu coração a alegria produzida pelo
Espírito Santo, que o tornava capaz de superar toda e qualquer crise. Estando
na penúria, ele não se sentia pobre, e estando com abundância, ele usa o que
Deus lhe deu para fazer a vontade de Deus.
Enfim, aprendemos com Paulo que
o contentamento (Fp 4.11) da sua alma era gerado pela suficiência de Cristo em
todas as circunstâncias. Aprender a viver contente implica uma disposição para
aceitar que Deus cuida de nós em meio às situações mais angustiantes.
Aprendemos, também, que devemos submeter nossa mente a Cristo e ter nossos
pensamentos controlados pelo Espírito Santo. Nunca seremos autossuficientes,
mas dependeremos dEle sempre.
Na vida cristã, o contentamento gerado pelo
Espírito Santo torna o crente capaz de superar quaisquer crises.
Fonte: Livro de Apoio
ELIENAI CABRAL é pastor, escritor, conferencista e articulista. Atualmente é líder da Assembleia de Deus em Sobradinho-DF e presidente da Convenção das Assembleias de Deus do Distrito Federal (CEADDIF). É também autor de vários livros publicados pela CPAD, entre eles, Integridade Moral e Espiritual, Filipenses, A Defesa do Apostolado de Paulo, Romanos e O Pregador Eficaz.
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