O jejum é uma das práticas devocionais mais antigas do povo de
Deus. Consiste na abstinência total, ou parcial de alimento durante um
determinado período, tendo como objetivo o aperfeiçoamento do exercício da
oração e da meditação da Palavra de Deus. Apesar de ser praticado por outras
correntes religiosas, o verdadeiro jejum que agrada ao Senhor deve estar de
acordo com a Sua Palavra, pois ela é o nosso manual de fé e prática. Moisés,
Davi, Daniel e Ester estão entre aqueles que praticavam o jejum. O próprio
Senhor Jesus, nosso maior exemplo, jejuou. Através destes exemplos somos
convidados a jejuar e buscar um momento de mais consagração e intimidade com
Deus.
Recentemente uma cantora gospel que também é pastora inaugurou
uma “Escola de Jejum”, onde os interessados devem pagar a quantia de R$ 50,00
(cinquenta reais) por uma aula que tem a duração de duas horas, sendo
ministrado uma vez por semana, por duas semanas. Nessas aulas, que segundo ela
são “tremendas”, os alunos aprendem que o verdadeiro significado do jejum que é
“fazer a vontade de Deus”. O jejum sempre é citado por esta cantora como uma
fonte de bênçãos, mas seu entendimento sobre o assunto é totalmente equivocado,
pois para ela a pessoa ao mesmo tempo pode jejuar e continuar comendo
normalmente, bastando que ore a cada seis horas.
Ela afirma que o jejum não precisa ser necessariamente de
alimentos, pode ser um período sem ver televisão ou acessar a internet ou basta
abster-se de certo tipo de alimento como doces e refrigerantes (alimentos
supérfluos) e pães. Seu embasamento, para ensinar um jejum tão flexível, parte
do pressuposto de que “não há regras fixas na Bíblia sobre quando jejuar ou
qual tipo de jejum praticar”. Interpretando erroneamente o texto de Isaías 58,
a pastora afirma que “jejum não é ficar sem comer, é fazer a luz de Deus
brilhar”. Mas com uma leitura atenta do texto, podemos concluir que Deus não
condena a abstenção de alimentos praticada por Israel no jejum, mas adverte que
antes de jejuar, os israelitas deveriam ter uma vida de obediência aos
mandamentos divinos e de amor ao próximo, pois somente assim seriam abençoados.
O profeta ensina que jejum sem vida piedosa é hipocrisia. Suas declarações
sobre o assunto dão a entender que para ela tudo é jejum. Quando o cristão ora,
louva, pratica boas ações e libera o perdão para quem o ofendeu está também
jejuando. Mas ao afirmar que tudo é jejum, ela na verdade está dizendo que o
jejum é nada, pois o está esvaziando de seu verdadeiro sentido. Mas será que
realmente a Bíblia não nos ensina a maneira correta da prática do jejum? Com
certeza a Palavra de Deus tem as respostas para todas as perguntas feitas pelo
ser humano. Se pensarmos o contrário, estamos negligenciando seu proveito para
o ensino, para redarguir, para corrigir e nos instruir em justiça (cf. 2Tm
3.16). A Bíblia nos ensina de maneira clara e simples o real significado do
jejum e a maneira correta de jejuar. Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, no
seu Sermão da Montanha, abordou de maneira contundente o assunto afirmando que
o jejum não deve ser feito com o objetivo de chamar a atenção dos homens, pois
é hipocrisia. A humilhação não deve ser exterior, mas no coração onde somente
Deus vê (Mt 6.16-18). O reformador francês João Calvino afirmou que o objetivo
principal do jejum é quebrantar ou romper os corações e não a roupa. O jejum em
si, como qualquer outra forma de ascetismo, em nada acrescenta a nossa
salvação, pois ela já foi conquistada por Cristo na cruz do Calvário. Nossa
salvação não depende da quantidade de vezes que jejuamos. Mas então por que
devemos jejuar? Qual a importância do jejum para a vida cristã? A atitude de
jejuar não deve ser encarada como uma autoflagelação, antes deve ser vista como
um momento de alegria (Zc 8.19), pois quando jejuamos estamos nos dedicando
integralmente a oração e a meditação. Todo o nosso tempo, ser e emoções estão
voltados para a busca de objetivos espirituais em Deus. O jejum deve ser feito
com algum propósito, pois se não for assim, será apenas uma dieta alimentar.
Segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal, o jejum pode ser feito com os seguintes
objetivos: honrar a Deus (Lc 2.37; At 13.2); pode ser uma atitude de humilhação
perante o Senhor (Sl 35.13; Ed 8.21) para alcançar mais graça e assim desfrutar
da presença intima de Deus (1Pe 5.5; Is 57.15); expressar arrependimento pelos
pecados cometidos e pesar pelos pecados da igreja, da nação e do mundo (1Sm
7.6; Ne 9.1,2); buscar o auxílio divino na realização de novas tarefas e
reafirmar nossa consagração a Ele (Mt 4.2); como forma de buscar a Deus e assim
prevalecer contra forças espirituais do mal que lutam contra nós (Jz 20.26; Jl
2.12); como um meio de libertar as almas da escravidão maligna (Mt 17.14-21). A
pastora, que está na direção de uma denominação e que possui uma legião de
seguidores nas redes sociais, gosta de declarar que “nosso jejum não muda a
Deus”, uma afirmação bastante óbvia já que uma das características do Senhor é
a imutabilidade (Hb 13.8), mas podemos jejuar para demonstrar nosso
arrependimento e assim preparar o caminho para Deus mudar Seus propósitos
declarados em julgamento (Jn 3.5,10; 1Rs 21.27-29; 2Sm 12.16,22); através do
jejum é possível obter o conhecimento da vontade de Deus (Dn 9.3,21,22; At
13.2,3); e abrir caminho para o derramamento do Espírito e para o retorno de
Cristo para buscar a Sua Igreja (Mt 9.15). Afirmar que a Bíblia não estabelece
regras para o jejum é demonstrar desconhecimento sobre o assunto. Através da
leitura bíblica somos advertidos que os casados não podem se dedicar por longos
períodos ao jejum, a não ser por consentimento mútuo (1Co 7.5). Aprendemos
através da observação dos exemplos dados pelos personagens bíblicos que o jejum
absoluto, onde há total abstenção de alimentos e água, não deve ultrapassar
três dias (Et 4.16; At 9.9), pois após este período o corpo desidrata colocando
a saúde em risco. Um jejum que prejudica a saúde não é aceitável a Deus, pois
obedecer é melhor do que sacrificar (1Sm 15.22). Moisés e Elias fizeram este
tipo de jejum por 40 dias, mas em condições sobrenaturais (Êx 34.28; 1Rs 19.8),
o jejum feito pelo Mestre, foi um jejum normal, onde há abstenção de alimentos,
mas não de água (Mt 4.2). Observamos com pesar um evento pseudo-teológico onde
são ensinadas “novas revelações e interpretações” travestidas de práticas
devocionais cristãs sendo tão procurado por cristãos que “tem a mente de
Cristo” (1Co 2.16). Isto é apenas um reflexo do mercantilismo da fé que
infelizmente é comum em nossos dias, e que tem atraído cada vez mais pessoas
interessadas mais nas bênçãos do que no Abençoador. Para se conhecer sobre a
prática do jejum não é necessário pagar R$ 50,00 por aula, basta uma leitura
atenta da Palavra de Deus, mas se mesmo assim as dúvidas persistirem, não é
preciso se matricular em uma “escola” específica sobre o tema, basta procurar o
maior seminário teológico do mundo, que atende a todas as faixas etárias e não
cobra nenhuma taxa de seus alunos: a Escola Bíblica Dominical.
Fonte: Jornal Mensageiro da Paz.
Sérgio de Moura Sodré é presbítero da Assembleia de Deus
Ministério de Cordovil (RJ), bacharel em Teologia, bacharelando em
Administração de Empresas, pós- -graduado em Filosofia e comentarista do
currículo infanto-juvenil da CPAD
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