VISÃO GERAL
O batismo de Jesus foi o principal evento de sua vida porque
marcou o início de seu ministério. Muito poucos estudiosos discutem hoje o fato
de que João Batista batizou Jesus, mas o exato propósito e importância do seu
batismo ainda são matéria controversa. Os relatos dos Evangelhos concordam que
quando João batizava outras pessoas esse ato era um sinal do arrependimento
delas (Mateus 3:6-10; Marcos 1:4-5 e Lucas 3:3-14). Ele proclamava que o reino
dos céus estava próximo e que o povo de Deus deveria se prepara para a vinda do
Senhor pela renovação da fé em Deus. Para João, isso significava
arrependimento, confissão de pecados e vida de retidão. Se era assim, por que
Jesus precisaria ser batizado? Se Jesus não era pecador, como o Novo Testamento
diz (II Coríntios 5:21); Hebreus 4:15 e I Pedro 2:22), por que Ele se submeteu
ao batismo de arrependimento para perdão de pecados? Os Evangelhos respondem.
O EVANGELHO DE MARCOS
Marcos apresenta o batismo de Jesus como uma preparação
necessária para seu período de tentação e ministério. Em seu batismo Jesus
recebeu a aprovação do Pai e a unção do Espírito Santo (Marcos 1:9-11). A
ênfase de Marcos na relação especial de Jesus com o Pai, - "Tu és o meu
Filho amado, em ti me comprazo"(Marcos 1:11) - aproxima duas importantes
referências do Velho Testamento. A messianidade de Jesus é apresentada de uma
maneira totalmente nova, na qual o Messias reinante (Salmo 2:7) é também o
Servo Sofredor do Senhor (Isaías 42:1). A crença popular judaica esperava um
Messias reinante que estabeleceria o reino de Deus, não um Messias que sofreria
pelo povo. No pensamento dos judeus a chegada do reino dos céus estava também
associada com ouvir a voz de Deus e com a dádiva do Espírito de Deus.
O EVANGELHO DE MATEUS
O relato de Mateus sobre o batismo de Jesus é mais detalhado do
que o de Marcos. Começa destacando a relutância de João Batista em batizar
Jesus (Mateus 3:14), que foi persuadido somente depois de Jesus lhe ter
explicado: "Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a
justiça." (Mateus 3:15). Embora o significado pleno dessas palavras seja
impreciso, elas pelo menos sugerem que o batismo de Jesus era necessário para
cumprir a vontade de Deus.
Tanto no Velho como no Novo Testamento (Salmo 98:2-3; Romanos
1:17) a justiça de Deus é vista como a salvação Dele para o Seu povo. Por isso
o Messias pode ser chamado de "O Senhor é nossa justiça" (Jeremias
23:6, Isaías 11:1-5). Jesus disse a João Batista que seu batismo era necessário
para fazer a vontade de Deus em trazer a salvação sobre seu povo. Assim a
declaração do Pai no batismo de Jesus é apresentada na forma de uma declaração
pública. Enfatizava que Jesus era o servo ungido de Deus pronto para iniciar
seu ministério, trazendo a salvação do Senhor.
O EVANGELHO DE LUCAS
Lucas menciona rapidamente o batismo de Jesus, colocando-o em
paralelo ao batismo de outros que se referiram a João Batista (Lucas 3:21-22).
Ao contrário de Mateus, Lucas coloca a genealogia de Jesus depois de seu
batismo e antes do início de seu ministério. O paralelo com Moisés, cuja
genealogia ocorre logo antes do início de seu trabalho (Êxodo 6:14-25), não é
mera coincidência. Provavelmente pretendeu-se ilustrar o papel de Jesus ao
trazer livramento (salvação) ao povo de Deus assim como Moisés fez no Velho
Testamento. Em seu batismo, na descida do Espírito Santo sobre si, Jesus estava
apto a desempenhar a missão para a qual Deus O havia chamado. Em seguida a sua
tentação (Lucas 4:1-13), Jesus entrou na sinagoga e declarou que havia sido
ungido pelo Espírito para proclamar as boas novas (Lucas 4:16-21). Que o
Espírito se fez presente no Seu batismo para ungi-lo (Atos 10:37-38).
Em seu relato, Lucas tentou identificar Jesus com as pessoas
comuns. Isso é visto no berço da história (com Jesus nascido num estábulo e
visitado por humildes pastores, Lucas 2: 8-20) e através da genealogia
(enfatizando a relação de Jesus com toda a humanidade, Lucas 3:38) logo depois
do batismo. Assim, Lucas via o batismo como o primeiro passo de Jesus para se
identificar com aqueles que Ele veio salvar. Somente alguém que era semelhante
a nós poderia se colocar em nosso lugar como nosso substituto para ser punido
com morte pelo pecado. Jesus se identificou conosco a fim de mostrar Seu amor
por nós.
No Velho Testamento o Messias era sempre inseparável do povo que
representava (veja Jeremias 30:21 e Ezequiel 45-46). Embora o "servo"
em Isaías seja algumas vezes visto de maneira conjunta (Isaías 44:1) e outras
vezes como indivíduo (Isaías 53:3), ele é sempre visto como o representante do
povo de Deus (Isaías 49:5-26), assim como o servo do Senhor. Evidentemente
Lucas, bem como Marcos e Mateus, estava tentando mostrar que Jesus, como
representante divino do povo, tinha se identificado com ele no batismo.
O EVANGELHO DE JOÃO
O quarto Evangelho não diz que Jesus foi batizado, mas que João
Batista viu o Espírito descendo sobre Jesus (João 1:32-34). O relato enfatiza
que Jesus foi a João Batista durante seu ministério de pregação e batismo; João
Batista reconheceu que Jesus era o Cristo, que o Espírito de Deus estava sobre
Ele e que era o Filho de Deus. João Batista também reconheceu que Jesus,
batizava com o Espírito Santo, ao contrário de si mesmo (João 1: 29-36). João
Batista descreveu Jesus como o "Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo" (João 1:29). O paralelo do Velho Testamento mais próximo desta
afirmação se encontra na passagem do "servo do Senhor" (Isaías 53:
6-7). É possível que "Cordeiro de Deus" seja uma tradução alternativa
da expressão aramaica "servo de Deus".
A idéia de Jesus como aquele que tira os pecados das pessoas é
obviamente o foco do quarto Evangelho. Seu escritor sugere que João Batista
entendeu que Jesus era o representante prometido e salvador do povo.
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