(Subsídio Teológico Lição 3 / 1º Trim 2017) O Perigo das Obras da Carne

Paulo falou sobre a questão da carne apresentando-a como um inimigo que impede o homem a servir a Deus em Romanos 8.5-9 e destacou suas obras em Gálatas 5.19,20.
A palavra carne na Bíblia tem dois sentidos: corpo e natureza pecaminosa. O corpo foi formado por Deus, já a natureza pecaminosa o homem adquiriu logo após a queda.
 É preciso muito cuidado nessa questão, pois algumas vezes a palavra carne pode ser confundida por corpo, em vez da natureza pecaminosa. Jó e Paulo respectivamente em Jó 19.26 e 1 Coríntios 15.39 falam da carne no sentido corpo, já em Romanos 8.9 e Gálatas 2.20, Paulo fala de carne no sentido de natureza pecaminosa.
Pode-se dizer, teologicamente, que a carne na Bíblia não tem apenas o sentido de corpo, ela pode também referir-se ao espírito, pois comete pecado. Quando Deus criou o homem, Ele o fez sem pecado; ao pecar o homem herdou a natureza pecaminosa, por essa razão que o seu corpo precisa passar pela transformação gloriosa da qual Paulo fala (ICo 15. 53.54).
Já falamos que sarx é o termo usado no Novo Testamento para expressar a realidade da natureza pecaminosa do homem, ela destaca a personalidade humana separada de Deus, fora da influência do Espírito Santo, razão pela qual as obras maléficas da carne aparecem conforme descrito em Gálatas 5,19-21 e Colossenses 3.5-9.
Não é fácil entendermos no seu aspecto geral os diversos sentidos da expressão sárx. Como já mencionamos, ela está marcada de mistério, mas Agostinho procurou dividir as obras da carne em dois ramos: Ramo do Orgulho e Ramo da Sensualidade.
Esses dois ramos juntos produzem todo tipo de pecado, isto segundo Agostinho. Já Lutero dizia que a raiz da carne era a incredulidade, e não o orgulho; porém, a conclusão a que se chega é a seguinte: a carne age fora da esfera do Espírito Santo, ela tem seu próprio mundo, de modo que suas ações sempre se inclinam para coisas más, pois a carne está fora de Deus, antes deseja colocar o homem no lugar de Deus.
Paulo diz que quem vive dominado pela “carne” não pode agradar a Deus (Rm 8.8). “Carne” aqui pode ser uma referência à substância física, o corpo do homem, como também à natureza pecaminosa. E ela que pode levar o cristão a viver e apresentar aspectos negativos em sua vida.
O que se pode dizer em relação às obras da carne é que: por trás dela existe uma deserdação absoluta e irreconciliável, pois a carne é incrédula e independente de Deus, age no princípio do egoísmo, com base nas trevas, para que uma nova luz possa surgir é preciso que o Espírito Santo entre no coração do homem para conduzi-lo às verdades divinas.
Jesus é quem pode libertar todos quantos estão dominados pelo poder da carne (Jo 8.31,32), oferecer ao homem a libertação espiritual e conduzi-lo à comunhão com o Espírito Santo de Deus, de modo que ele não estará mais em trevas (Jo 1.5-7).
O Espírito Santo mostra ao pecador a necessidade de abandonar as obras da carne para ter o caráter de Cristo. Ademais, Ele aplica ao coração do homem os ensinamentos cristalinos das Sagradas Escrituras. Por meio deles é possível viver a verdadeira e dinâmica vida no Espírito.
Já dissemos também que a carne trabalha buscando independência, ela age fora de Deus. Os perigos da obra da carne são que, além de ser dominada completamente pela incredulidade, agindo na vida do homem, ela quer mostrar que o mesmo não precisa mais de Deus, pois já alcançou a maioridade e pode seguir seu caminho sem depender de qualquer divindade.
Paulo em sua segunda carta a Timóteo, capítulo 3, mostra uma sociedade dominada pela carne, que deixa Deus de fora, mas que adota uma piedade falsa (2 Tm 3.1-5), dessa maneira vive como se tudo estivesse normal, mas se esquece de que suas ações são obras puramente da carne.
Todos nós precisamos da presença do Espírito Santo de Deus para não sermos dominados pelas obras da carne, que pode resultar em religiosidade carnal, avivamento carnal, ou experiências puramente no campo carnal.


A Degradação do Caráter Cristão
A concupiscência da carne está ligada à natureza pecaminosa do homem, é claro já falamos que o termo concupiscência pode ter seu lado positivo e negativo. No sentido positivo, falando de desejo, a epithumía aparece em Lucas 22.15; 1 Tessalonicenses 2.17, porém, no Novo Testamento essa palavra recebe mais uma conceituação negativa, apontando para desejos impuros, como procediam os pagãos (Rm 1.24).
O que degrada o homem é a natureza pecaminosa, e quem não tem o Espírito Santo sempre irá desejar aquilo que contraria a vontade de Deus. Precisamos saber que são os desejos influenciados pela carne que produzem pecados mais grosseiros, levando pessoas a um estilo de vida aviltado, o que fere grandemente a santidade de Deus.
O cristão pode desejar algo, isso não é errado, mas desejos que vêm dominados pela concupiscência da carne devem ser evitados, porquanto eles causam grandes estragos. Jamais devemos agir como os estoicos, os quais procuravam fugir dos desejos, pelo contrário, os desejos que não ferem e o homem m nada a santidade de Deus podem ser cultivados, porém, aqueles que se comprazem na prática do mal, da prostituição, na corrupção, no sexo ilícito, prontamente devem ser rejeitados (2 Tm 2.22; Cl 3.5; 1 Pe 2.11; 2 Pe 1.4; 2.10).
Para o cristão não se deixar dominar pela concupiscência da carne precisa do Espírito Santo de Deus, caso contrário os desejos pecaminosos irão derrota-lo (Ef 5.5,6).
A concupiscência da carne no livro de João não tem o mesmo sentido do que Paulo escreveu em Romanos 8.8. Paulo fala da carne no sentido da natureza pecaminosa, já o apóstolo João descreve sárx como Jesus tornando-se pessoa humana (Jo 1.14; 1 Jo 4.2). Podemos dizer que a palavra concupiscência nos escritos de João fala de “desejos físicos”, e mencionamos anteriormente que ter desejos não é pecado.
A carne pode desejar comida, festa, passeio e coisas desta vida. O problema está quando tais desejos vêm influenciados pela natureza pecaminosa, porque desse modo pode levar o homem para uma degradação espiritual completa. Nosso corpo e olhos podem desejar o que é material, mas não podemos colocar nossos desejos e olhos apenas no que é deste mundo. Esse é o ensino que João nos dá quando faz uso da palavra sárx.
Ao pecar o homem tomou-se depravado, ficou desprovido da justiça original de Deus e do desejo pelas coisas santas, sua natureza ficou adulterada e cedendo fortemente para o mal, por isso a ênfase da Bíblia é que o homem possa nascer de novo (Jo 3.3).
Ao falarmos sobre a depravação do homem, não queremos dizer que nele não exista qualquer coisa boa, que todas as suas ações são pecaminosas e opostas a Deus, nada disso, na Bíblia o próprio Senhor Jesus destacou coisas importantes nos homens (Mt 23.23), e nas palavras de Paulo é destacado que certos gentios
agiam segundo a Lei (Rm 2.14).
A grande questão na depravação do homem, que o leva a ter um viver que não agrada a Deus, é que ele sempre vai preferir a si próprio (2 Tm 3.4), posto que está destituído do amor verdadeiro de Deus, para amá-lo de todo coração e com todas as suas forças, sempre desejando fazer a sua vontade (Dt 6.4,5; Mt 22.35-38).
Na degradação espiritual o homem procura colocar-se em primeiro lugar, e passa a ter aversão a Deus, isso porque todo o seu ser está corrompido pela natureza pecaminosa, quer seja coração, pensamentos, sentimentos e vontade (Ef 4.18), de modo que está em inimizade com o Senhor (Rm 7.18).
Vivendo em estado de depravação o homem não pode por si mesmo mudar seu caráter, ele não tem poder para conduzir sua vida segundo o desejo de Deus e não consegue adequar-se a sua Lei. O homem não pode dominar o seu eu para dirigir-se a Deus com prazer. Caso ele deseje realmente uma transformação, tem que depender da ajuda do Espírito Santo.
O homem pode, até certo momento, com a liberdade que tem de praticar certas coisas boas, escolher não cometer pecados contra Deus e resistir à tentação, mas tais ações são motivadas por seus próprios motivos, não por meio da ação direta do Espírito Santo de Deus.
Ao pecar, o homem não perdeu sua capacidade pensante nem sua livre agência, ele pode determinar seus atos e ter inclinação para o que é bom, contudo sua bondade não agrada a Deus, pois não é oriunda da ação direta do Espírito Santo. É tão somente por meio do Espírito Santo que o homem pode ter o seu coração transformado, ações adequadas e exercer verdadeira fé para com Deus.


A Vida que não Agrada a Deus
A carne é inimiga do Espírito Santo. Desse modo facilmente podemos concluir que ela jamais irá querer agradar a Deus, já que se opõe a Ele constantemente. Os que vivem na carne, diz Paulo, não têm uma vida que agrada a Deus, isso só é possível quando uma nova natureza é implantada dentro do homem.
A expressão agradar a Deus, segundo Paulo, na verdade é expressar um viver em plena harmonia com Deus, uma vida que de fato já foi transformada ou santificada pelo Espírito Santo.
O homem pode ter coisas boas em sua vida, mas caso não seja transformada pelo Espírito, tudo resultará em obras, e jamais chamará a atenção de Deus.
Deus tem prazer em tudo o que fazemos quando nascemos outra vez por meio do sacrifício do seu Filho Jesus Cristo.
Para Deus somente a obra não basta, muitas igrejas da Ásia tinham muitas obras, eram atuantes, como no caso da igreja de Éfeso, o apóstolo mostra que ela tinha muitas obras, mas Deus não aprovou completamente o seu trabalho, posto que estava faltando o primeiro amor (Ap 2.4).
Deus deseja da parte do homem ações, mas que elas brotem de uma vida transformada, aperfeiçoada em Cristo (2 Co 3.18).
É importante ressaltar aqui que, quando Paulo faz menção de agradar, deve estar ligado à santificação, que já está declarando a ação do Espírito Santo na vida do homem. O que agrada a Deus não é o que o homem faz, mas, sim, o que o Espírito Santo faz no homem. Desse modo, podemos dizer que os que estão na carne não têm nada para chamar a atenção de Deus, visto que o Espírito de Deus ainda não trabalhou em seu ser.
Deus sempre se agradou do seu Filho, porque o Espírito Santo estava nEle, e Ele procurava fazer sempre aquilo que agradava o Pai (Mt 3.17; Lc 4.18). E aquele que me enviou está comigo;
o Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada. (Jo 8.29).
Não agradamos a Deus realizando grandes sacrifícios, não agradamos por meio de muitos trabalhos, nem por sermos religiosos, antes, agradamos a Deus quando correspondemos aos seus ideais, quando o seu Espírito atua em nossa vida, pois desse modo estamos participando de sua natureza divina.
A Bíblia mostra Caim querendo agradar a Deus, mas tudo foi em vão, porque ele andava dominado pela carne, quem mandava em sua vida era o Maligno, a natureza velha, de modo que suas ações eram motivadas com outras intenções. Não como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão, justas.
Coloque em sua mente que jamais podemos agradar a Deus apenas com o que fazemos; na verdade, o que agrada a Deus é um espírito contrito, arrependido, que se deixa moldar pelo Espírito Santo (Sl 51.17). Não pense que seus muitos sacrifícios e o cumprimento de regras tocam o coração de Deus, o que lhe agrada é quando o homem se volta para o seu filho Jesus Cristo (1 Jo 2.2). Os judeus pensavam que tão somente guardando a Lei iriam produzir um tipo de justiça que agradaria a Deus, mas Paulo fala que isso não causa prazer em Deus, somente a justiça de Cristo na vida do homem é o que agrada ao Senhor. No Antigo Testamento está claro que Abraão agradou a Deus porque creu plenamente nEle (Gn 15.6). O caminho para quem deseja agradar a Deus é deixar de ser carnal e seguir a Cristo Jesus (Jo 14.6), pois é seu sacrifício que dá prazer ao Pai.
Quem vive na carne não pode agradar a Deus, porque quem o domina é a natureza pecaminosa. Estava claro na Lei que todos deveriam amar a Deus e amar o próximo, mas o trabalho da carne é fazer do homem um ser egoísta que pensa apenas em si e prioriza suas vantagens.
Os homens do presente século tentam dissimular suas obras da carne por intermédio da cultura, tradição, arte e razão, porém de maneira oculta o que realmente domina é a carne. Para que se possa de fato agradar ao Pai é preciso que o homem renda-se ao Espírito Santo de Deus e seja educado pela graça de Deus (Tt 2.11).


Produzindo Frutos Diferentes
Em Mateus 7.17-20 Jesus disse: Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (Mt 7.18-20)
O cristão precisa produzir frutos diferentes daqueles que vivem nos domínios da carne, isso porque sua vida já foi transformada e, agora, é dirigida pelo Espírito Santo. Os que vivem a nova vida são saudáveis e expressam que tem ligação com o que Jesus falou: “árvore boa”.
Os que são dominados pela natureza pecaminosa, conforme descrito na citação acima, são considerados por Jesus árvores más, que apontam para a podridão ou estrago, sendo assim jamais poderão produzir frutos de qualidade, tudo que fazem não tem utilidade para Deus, porquanto suas obras são ruins e inúteis (Mt 13.48).
Para se produzir fruto diferente é preciso que haja um tratamento, Jesus disse que a árvore que dá bom fruto deve ser bem tratada. Uma árvore má, no caso de uma videira que não é bem tratada, poderá dar frutos de péssima qualidade, como, por exemplo, uvas azedas demais.
Isso que aconteceu com Israel, Deus investiu grandemente nesse povo, esperando que desse uvas boas, mas, infelizmente, deu uvas bravas e inferiores (Is 5.1-4).
O fruto diferente fala de uma vida que tem a ação dinâmica do Espírito Santo, que se deixa dominar realmente por Ele. Com o Espírito Santo na vida o homem separa-se daquilo que não agrada a Deus. As Escrituras mostram que Deus é santo e deseja que todos quantos se aproximem dEle sejam santos também, essa exigência era direcionada até para os sacerdotes (Êx 19.22).
Aos que nasceram de novo o Espirito trabalha fazendo suas exigências, dizendo para se separarem daqueles que são injustos (2Co 6.17, 18), dos que ensinam falsas doutrinas (2Tm 2.21; 2 Jo 9.10), mas a nota forte soa para a natureza pecaminosa (Rm 6.11,12; 2 Co 7.1; lTs 4.3,7). O cristão tem que procurar ser diferente, pois já foi separado por Deus para viver uma nova vida em Cristo.
O cristão precisa produzir um estilo de vida distinto, que envolve o fruto do Espírito, porque seu alvo é ser como Jesus Cristo (Rm 8.29), desse modo deve viver em santificação constante, isto é, separando-se daquilo que Deus não aprova. A santificação é um processo em nossa vida que acontecer diariamente, até o dia em que Jesus se manifestar (Fp 1.6), e os que procedem segundo ela logo irão contemplar a Jesus e ser como Ele é (1ºjo 3.2).

Livro de apoio 1º Trimestre de 2017
 As Obras da Carne e o Fruto do Espírito
Escrito por: Osiel Gomes.
Osiel  Gomes é pastor, formado em Teologia, Filosofia, Direito, Pedagogia, Psicanálise e pós--graduado em Docência do Ensino Superior.
Preside a Igreja evangélica Assembleia de Deus - Campo Tirirical, em São Luis, Maranhão



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