Paulo
falou sobre a questão da carne apresentando-a como um inimigo que impede o
homem a servir a Deus em Romanos 8.5-9 e destacou suas obras em Gálatas
5.19,20.
A
palavra carne na Bíblia tem dois sentidos: corpo e natureza pecaminosa. O corpo
foi formado por Deus, já a natureza pecaminosa o homem adquiriu logo após a
queda.
É preciso muito cuidado nessa questão, pois
algumas vezes a palavra carne pode ser confundida por corpo, em vez da natureza
pecaminosa. Jó e Paulo respectivamente em Jó 19.26 e 1 Coríntios 15.39 falam da
carne no sentido corpo, já em Romanos 8.9 e Gálatas 2.20, Paulo fala de carne
no sentido de natureza pecaminosa.
Pode-se
dizer, teologicamente, que a carne na Bíblia não tem apenas o sentido de corpo,
ela pode também referir-se ao espírito, pois comete pecado. Quando Deus criou o
homem, Ele o fez sem pecado; ao pecar o homem herdou a natureza pecaminosa, por
essa razão que o seu corpo precisa passar pela transformação gloriosa da qual
Paulo fala (ICo 15. 53.54).
Já
falamos que sarx é o termo usado no Novo Testamento para expressar a realidade
da natureza pecaminosa do homem, ela destaca a personalidade humana separada de
Deus, fora da influência do Espírito Santo, razão pela qual as obras maléficas da
carne aparecem conforme descrito em Gálatas 5,19-21 e Colossenses 3.5-9.
Não
é fácil entendermos no seu aspecto geral os diversos sentidos da expressão
sárx. Como já mencionamos, ela está marcada de mistério, mas Agostinho procurou
dividir as obras da carne em dois ramos: Ramo do Orgulho e Ramo da
Sensualidade.
Esses
dois ramos juntos produzem todo tipo de pecado, isto segundo Agostinho. Já
Lutero dizia que a raiz da carne era a incredulidade, e não o orgulho; porém, a
conclusão a que se chega é a seguinte: a carne age fora da esfera do Espírito
Santo, ela tem seu próprio mundo, de modo que suas ações sempre se inclinam
para coisas más, pois a carne está fora de Deus, antes deseja colocar o homem
no lugar de Deus.
Paulo
diz que quem vive dominado pela “carne” não pode agradar a Deus (Rm 8.8).
“Carne” aqui pode ser uma referência à substância física, o corpo do homem,
como também à natureza pecaminosa. E ela que pode levar o cristão a viver e
apresentar aspectos
negativos em sua vida.
O
que se pode dizer em relação às obras da carne é que: por trás dela existe uma
deserdação absoluta e irreconciliável, pois a carne é incrédula e independente
de Deus, age no princípio do egoísmo, com base nas trevas, para que uma nova
luz possa surgir é
preciso que o Espírito Santo entre no coração do homem para conduzi-lo às
verdades divinas.
Jesus
é quem pode libertar todos quantos estão dominados pelo poder da carne (Jo
8.31,32), oferecer ao homem a libertação espiritual e conduzi-lo à comunhão com
o Espírito Santo de Deus, de modo que ele não estará mais em trevas (Jo 1.5-7).
O
Espírito Santo mostra ao pecador a necessidade de abandonar as obras da carne
para ter o caráter de Cristo. Ademais, Ele aplica ao coração do homem os
ensinamentos cristalinos das Sagradas Escrituras. Por meio deles é possível
viver a verdadeira e
dinâmica vida no Espírito.
Já
dissemos também que a carne trabalha buscando independência, ela age fora de
Deus. Os perigos da obra da carne são que, além de ser dominada completamente
pela incredulidade, agindo na vida do homem, ela quer mostrar que o mesmo não
precisa mais
de Deus, pois já alcançou a maioridade e pode seguir seu caminho sem depender
de qualquer divindade.
Paulo
em sua segunda carta a Timóteo, capítulo 3, mostra uma sociedade dominada pela
carne, que deixa Deus de fora, mas que adota uma piedade falsa (2 Tm 3.1-5),
dessa maneira vive como se tudo estivesse normal, mas se esquece de que suas
ações são obras
puramente da carne.
Todos
nós precisamos da presença do Espírito Santo de Deus para não sermos dominados
pelas obras da carne, que pode resultar em religiosidade carnal, avivamento
carnal, ou experiências puramente no campo carnal.
A Degradação do Caráter Cristão
A
concupiscência da carne está ligada à natureza pecaminosa do homem, é claro já
falamos que o termo concupiscência pode ter seu lado positivo e negativo. No
sentido positivo, falando de desejo, a epithumía aparece em Lucas 22.15; 1
Tessalonicenses 2.17,
porém, no Novo Testamento essa palavra recebe mais uma conceituação negativa,
apontando para desejos impuros, como procediam os pagãos (Rm 1.24).
O
que degrada o homem é a natureza pecaminosa, e quem não tem o Espírito Santo
sempre irá desejar aquilo que contraria a vontade de Deus. Precisamos saber que
são os desejos influenciados pela carne que produzem pecados mais grosseiros,
levando pessoas
a um estilo de vida aviltado, o que fere grandemente a santidade de Deus.
O
cristão pode desejar algo, isso não é errado, mas desejos que vêm dominados
pela concupiscência da carne devem ser evitados, porquanto eles causam grandes
estragos. Jamais devemos agir como os estoicos, os quais procuravam fugir dos
desejos, pelo contrário, os desejos que não ferem e o homem m nada a santidade
de Deus podem ser cultivados, porém, aqueles que se comprazem na prática do
mal, da prostituição, na corrupção, no sexo ilícito, prontamente devem ser
rejeitados (2 Tm 2.22; Cl 3.5; 1 Pe 2.11; 2 Pe 1.4; 2.10).
Para
o cristão não se deixar dominar pela concupiscência da carne precisa do
Espírito Santo de Deus, caso contrário os desejos pecaminosos irão derrota-lo
(Ef 5.5,6).
A
concupiscência da carne no livro de João não tem o mesmo sentido do que Paulo
escreveu em Romanos 8.8. Paulo fala da carne no sentido da natureza pecaminosa,
já o apóstolo João descreve sárx como Jesus tornando-se pessoa humana (Jo 1.14;
1 Jo 4.2). Podemos dizer que a palavra concupiscência nos escritos de João fala
de “desejos físicos”, e mencionamos anteriormente que ter desejos não é pecado.
A
carne pode desejar comida, festa, passeio e coisas desta vida. O problema está
quando tais desejos vêm influenciados pela natureza pecaminosa, porque desse
modo pode levar o homem para uma degradação espiritual completa. Nosso corpo e
olhos podem desejar o que é material, mas não podemos colocar nossos desejos e
olhos apenas no que é deste mundo. Esse é o ensino que João nos dá quando faz
uso da palavra sárx.
Ao
pecar o homem tomou-se depravado, ficou desprovido da justiça original de Deus
e do desejo pelas coisas santas, sua natureza ficou adulterada e cedendo
fortemente para o mal, por isso a ênfase da Bíblia é que o homem possa nascer
de novo (Jo 3.3).
Ao
falarmos sobre a depravação do homem, não queremos dizer que nele não exista
qualquer coisa boa, que todas as suas ações são pecaminosas e opostas a Deus,
nada disso, na Bíblia o próprio Senhor Jesus destacou coisas importantes nos
homens (Mt
23.23), e nas palavras de Paulo é destacado que certos gentios
agiam
segundo a Lei (Rm 2.14).
A
grande questão na depravação do homem, que o leva a ter um viver que não agrada
a Deus, é que ele sempre vai preferir a si próprio (2 Tm 3.4), posto que está
destituído do amor verdadeiro de Deus, para amá-lo de todo coração e com todas
as suas forças, sempre
desejando fazer a sua vontade (Dt 6.4,5; Mt 22.35-38).
Na
degradação espiritual o homem procura colocar-se em primeiro lugar, e passa a
ter aversão a Deus, isso porque todo o seu ser está corrompido pela natureza
pecaminosa, quer seja coração, pensamentos, sentimentos e vontade (Ef 4.18), de
modo que está em inimizade com o Senhor (Rm 7.18).
Vivendo
em estado de depravação o homem não pode por si mesmo mudar seu caráter, ele
não tem poder para conduzir sua vida segundo o desejo de Deus e não consegue
adequar-se a sua Lei. O homem não pode dominar o seu eu para dirigir-se a Deus com
prazer. Caso ele deseje realmente uma transformação, tem que depender da ajuda
do Espírito Santo.
O
homem pode, até certo momento, com a liberdade que tem de praticar certas
coisas boas, escolher não cometer pecados contra Deus e resistir à tentação,
mas tais ações são motivadas por seus próprios motivos, não por meio da ação
direta do Espírito Santo
de Deus.
Ao
pecar, o homem não perdeu sua capacidade pensante nem sua livre agência, ele
pode determinar seus atos e ter inclinação para o que é bom, contudo sua
bondade não agrada a Deus, pois não é oriunda da ação direta do Espírito Santo.
É tão somente por meio do Espírito Santo que o homem pode ter o seu coração
transformado, ações adequadas e exercer verdadeira fé para com Deus.
A Vida que não Agrada a Deus
A
carne é inimiga do Espírito Santo. Desse modo facilmente podemos concluir que
ela jamais irá querer agradar a Deus, já que se opõe a Ele constantemente. Os
que vivem na carne, diz Paulo, não têm uma vida que agrada a Deus, isso só é
possível quando uma nova natureza é implantada dentro do homem.
A
expressão agradar a Deus, segundo Paulo, na verdade é expressar um viver em
plena harmonia com Deus, uma vida que de fato já foi transformada ou
santificada pelo Espírito Santo.
O
homem pode ter coisas boas em sua vida, mas caso não seja transformada pelo
Espírito, tudo resultará em obras, e jamais chamará a atenção de Deus.
Deus
tem prazer em tudo o que fazemos quando nascemos outra vez por meio do
sacrifício do seu Filho Jesus Cristo.
Para
Deus somente a obra não basta, muitas igrejas da Ásia tinham muitas obras, eram
atuantes, como no caso da igreja de Éfeso, o apóstolo mostra que ela tinha
muitas obras, mas Deus não aprovou completamente o seu trabalho, posto que
estava faltando o primeiro amor (Ap 2.4).
Deus
deseja da parte do homem ações, mas que elas brotem de uma vida transformada,
aperfeiçoada em Cristo (2 Co 3.18).
É
importante ressaltar aqui que, quando Paulo faz menção de agradar, deve estar
ligado à santificação, que já está declarando a ação do Espírito Santo na vida
do homem. O que agrada a Deus não é o que o homem faz, mas, sim, o que o
Espírito Santo faz no homem. Desse modo, podemos dizer que os que estão na carne
não têm nada para chamar a atenção de Deus, visto que o Espírito de Deus ainda
não trabalhou em seu ser.
Deus
sempre se agradou do seu Filho, porque o Espírito Santo estava nEle, e Ele
procurava fazer sempre aquilo que agradava o Pai (Mt 3.17; Lc 4.18). E aquele
que me enviou está comigo;
o
Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada. (Jo 8.29).
Não
agradamos a Deus realizando grandes sacrifícios, não agradamos por meio de
muitos trabalhos, nem por sermos religiosos, antes, agradamos a Deus quando
correspondemos aos seus ideais, quando o seu Espírito atua em nossa vida, pois
desse modo
estamos participando de sua natureza divina.
A
Bíblia mostra Caim querendo agradar a Deus, mas tudo foi em vão, porque ele
andava dominado pela carne, quem mandava em sua vida era o Maligno, a natureza
velha, de modo que suas ações eram motivadas com outras intenções. Não como
Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque
as suas obras eram más e as de seu irmão, justas.
Coloque
em sua mente que jamais podemos agradar a Deus apenas com o que fazemos; na
verdade, o que agrada a Deus é um espírito contrito, arrependido, que se deixa
moldar pelo Espírito Santo (Sl 51.17). Não pense que seus muitos sacrifícios e
o cumprimento de regras tocam o coração de Deus, o que lhe agrada é quando o
homem se volta para o seu filho Jesus Cristo (1 Jo 2.2). Os judeus pensavam que
tão somente guardando a Lei
iriam produzir um tipo de justiça que agradaria a Deus, mas Paulo fala que isso
não causa prazer em Deus, somente a justiça de Cristo na vida do homem é o que
agrada ao Senhor. No Antigo Testamento está claro que Abraão agradou a Deus
porque creu plenamente nEle (Gn 15.6). O caminho para quem deseja agradar a
Deus é deixar de ser carnal e seguir a Cristo Jesus (Jo 14.6), pois é seu
sacrifício que dá prazer ao Pai.
Quem
vive na carne não pode agradar a Deus, porque quem o domina é a natureza
pecaminosa. Estava claro na Lei que todos deveriam amar a Deus e amar o
próximo, mas o trabalho da carne é fazer do homem um ser egoísta que pensa
apenas em si e prioriza suas vantagens.
Os
homens do presente século tentam dissimular suas obras da carne por intermédio
da cultura, tradição, arte e razão, porém de maneira oculta o que realmente
domina é a carne. Para que se possa de fato agradar ao Pai é preciso que o
homem renda-se ao Espírito
Santo de Deus e seja educado pela graça de Deus (Tt 2.11).
Produzindo Frutos Diferentes
Em
Mateus 7.17-20 Jesus disse: Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má
dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no
fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (Mt 7.18-20)
O
cristão precisa produzir frutos diferentes daqueles que vivem nos domínios da
carne, isso porque sua vida já foi transformada e, agora, é dirigida pelo
Espírito Santo. Os que vivem a nova vida são saudáveis e expressam que tem
ligação com o que Jesus falou: “árvore boa”.
Os
que são dominados pela natureza pecaminosa, conforme descrito na citação acima,
são considerados por Jesus árvores más, que apontam para a podridão ou estrago,
sendo assim jamais poderão produzir frutos de qualidade, tudo que fazem não tem
utilidade para Deus, porquanto suas obras são ruins e inúteis (Mt 13.48).
Para
se produzir fruto diferente é preciso que haja um tratamento, Jesus disse que a
árvore que dá bom fruto deve ser bem tratada. Uma árvore má, no caso de uma
videira que não é bem tratada, poderá dar frutos de péssima qualidade, como,
por exemplo, uvas azedas demais.
Isso
que aconteceu com Israel, Deus investiu grandemente nesse povo, esperando que
desse uvas boas, mas, infelizmente, deu uvas bravas e inferiores (Is 5.1-4).
O
fruto diferente fala de uma vida que tem a ação dinâmica do Espírito Santo, que
se deixa dominar realmente por Ele. Com o Espírito Santo na vida o homem
separa-se daquilo que não agrada a Deus. As Escrituras mostram que Deus é santo
e deseja que todos quantos se aproximem dEle sejam santos também, essa
exigência era direcionada até para os sacerdotes (Êx 19.22).
Aos
que nasceram de novo o Espirito trabalha fazendo suas exigências, dizendo para
se separarem daqueles que são injustos (2Co 6.17, 18), dos que ensinam falsas
doutrinas (2Tm 2.21; 2 Jo 9.10), mas a nota forte soa para a natureza
pecaminosa (Rm 6.11,12; 2 Co 7.1; lTs 4.3,7). O cristão tem que procurar ser diferente,
pois já foi separado por Deus para viver uma nova vida em Cristo.
O
cristão precisa produzir um estilo de vida distinto, que envolve o fruto do
Espírito, porque seu alvo é ser como Jesus Cristo (Rm 8.29), desse modo deve
viver em santificação constante, isto é, separando-se daquilo que Deus não
aprova. A santificação é um processo em nossa vida que acontecer diariamente,
até o dia em que Jesus se manifestar (Fp 1.6), e os que procedem segundo ela
logo irão contemplar a Jesus e ser como Ele é (1ºjo 3.2).
Livro de apoio 1º Trimestre de 2017
As Obras da Carne e o Fruto do Espírito
Escrito por: Osiel Gomes.
Osiel Gomes é
pastor, formado em Teologia, Filosofia, Direito, Pedagogia, Psicanálise e
pós--graduado em Docência do Ensino Superior.
Preside a Igreja evangélica Assembleia de Deus - Campo Tirirical, em São Luis, Maranhão
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