Pastor José Gonçalves
Comentarista de Lições Bíblicas fala de Romanos, tema da revista
do 2º trimestre deste ano.
José Gonçalves é pastor em Água Branca, Piauí, graduado em
Teologia pelo Seminário Batista de Teresina e em Filosofia pela Universidade
Federal do Piauí. Ensinou grego, hebraico e teologia sistemática na Faculdade
Evangélica do Piauí. É comentarista de Lições Bíblicas da Escola Dominical da
CPAD e autor dos livros: Missões – o mundo pede socorro (Ed Halley); Por que
Caem os Valentes (CPAD); As Ovelhas Também Gemem (CPAD); Defendendo o
Verdadeiro Evangelho (CPAD); A Prosperidade à Luz da Bíblia (CPAD); Rastros de
Fogo – o que diferencia o pentecostes bíblico do neopentecostalismo (CPAD);
Porção Dobrada (CPAD); Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso (CPAD); Lucas:
o Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito (CPAD) e coautor do livro: Davi – as
vitórias e derrotas de um homem de Deus (CPAD, prêmio ABEC). É presidente do
Conselho de Doutrina da Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Piauí
(Ceadep) e membro da Comissão de Apologética da CGADB.
Nesta entrevista o apologista cristão fala sobre o tema da
revista Lições Bíblicas Adultos, a ser estudado no 2º trimestre deste ano, sob
seu comentário.
O senhor
será o comentarista de Lições Bíblicas Adultos do 2º trimestre de 2016, baseado
no livro de Romanos, o que os alunos da Escola Dominical podem esperar das
lições? Fale-nos um pouco sobre seu conteúdo.
Primeiramente devemos destacar que a Carta de Paulo aos Romanos
é uma das mais belas obras literárias já escritas e também a mais teológica de
todas as cartas que Paulo escreveu. É, portanto, um clássico da literatura
universal. Ao longo dos séculos a sua influência sobre o cristianismo tem sido
grande. Em sua História da Literatura Cristã Antiga – grega e latina, o
escritor Cláudio Moreschini destaca que Romanos é única entre as epístolas de
Paulo que é dirigida a uma igreja que não foi fundada por ele. Esse fato faz
com que grandes temas da teologia cristã recebam atenção especial por parte do
apóstolo e sejam tratados de forma mais exaustiva. Os intérpretes da Bíblia
estão de acordo que o pensamento de Paulo ao redigir a Carta aos Romanos segue
duas vertentes principais. Na primeira delas, tendo em vista alguns
questionamentos que surgiram por conta de uma má compreensão do posicionamento
do apóstolo quanto à Lei, faz com que Paulo procure corrigir esses
mal-entendidos deixando claro seu pensamento. Isso ele faz quando expõe de
forma detalhada a doutrina da justificação pela fé. Por outro lado, o seu
desejo de levar o Evangelho além-mar faz com que o apóstolo tencione fundar em
Roma uma base missionária. Em suma, a temática abordada por Paulo nessa Carta é
uma das mais diversificadas do Novo Testamento. Embora não contemple todas as
doutrinas do Novo Testamento, todavia aborda as principais delas. A doutrina da
justificação pela fé, independente das obras, como foi destacado, não deve ser
perdida de vista, sendo o principal eixo em torno do qual a Carta se move. Por
outro lado, somente em Romanos o conflito entre a “carne” e o “Espírito”
aparece de forma tão dramática. Todo cristão quando lê Romanos se identifica
com o “eu” paulino.
Fale acerca
da linguagem utilizada, considerando que o Brasil é um país continen tal e
abriga pessoas das mais diversas culturas. Alguns com bastante conhecimento
teológico e outras com pouco conhecimento, inclusive com algumas com bem pouco
conhecimento secular. O que o senhor fez para escrever a revista e contemplar o
país de dimensão continental?
No livro que servirá de apoio às Lições Bíblicas de Romanos
escrevi que essa Carta foi escrita para a igreja. Foi endereçada as pessoas
simples, provenientes de todas as camadas da população e sem distinção de cor
ou de raça. Não foi endereçada a teólogos, eruditos, nem tampouco a
especialistas em religião. Como vimos, a Carta foi escrita com o propósito de
edificar a igreja, tirar dúvidas e esclarecer questionamentos que a nova fé
estava provocando. Junte-se a isso o desejo do apóstolo em contar com o apoio
dos romanos no estabelecimento de uma nova base missionária. Romanos, portanto,
é uma Carta escrita para todos nós. Devemos destacar também que o apóstolo
Paulo era um homem douto, treinado na principal instituição teológica de seus
dias, tendo estudado com Gamaliel. O apóstolo estava consciente que escreveria
a um público diversificado, vindo de todas as camadas sociais e que os assuntos
por ele tratados eram profundos e complexos. Uma metodologia específica,
portanto, deveria ser adotada. E foi o que ele fez. Na sua Carta é possível
perceber que o apóstolo recorre com frequência ao método de diatribe para
aclarar os seus argumentos. Esse método consiste em um diálogo com um
interlocutor imaginário com quem se dialoga, fazendo perguntas e oferecendo
respostas. Mas não é só isso. Na Carta é possível encontrar referências às regras
de interpretação usadas pela escola rabínica de Hillel. O uso de duas dessas
regras aparece com clareza na argumentação do apóstolo: a qal wahomer e a
gezerah shawah. Na primeira regra, o que se aplica ao caso menos importante
certamente se aplicará também ao caso mais importante. Na segunda regra, a
analogia entre textos bíblicos, incluindo a semântica das palavras comuns em
ambos, é usada para se estabelecer a veracidade de um fato. Tudo isso foi
levado em conta na redação das lições bíblicas sobre Romanos. Esse fato fez com
que a sua leitura se tornasse prazerosa e edificante. No nosso comentário de
Romanos procuramos juntar erudição com simplicidade. As regras da hermenêutica
e a aplicação de seus princípios, a exegese, se somam para dar ao leitor uma compreensão
bem fundamentada do pensamento do apóstolo.
O senhor
também escreveu o livro do trimestre, qual a diferença do conteúdo do livro
para o da revista? O que os estudantes podem ver de novo, principalmente os
professores que utilizam esse material como subsídio?
O livro trata da mesma temática abordada na revista, todavia a
metodologia e o conteúdo se diferenciam. Com propósitos pedagógicos as lições
bíblicas são esboçadas de uma forma mais pastoral, assumindo a estrutura de um
sermão. Esse fato faz com que sejam comentadas de forma mais sintética, pois
visam alcançar um público diversificado e com isso prover um melhor
aproveitamento no aprendizado. Todavia, no livro essa mesma temática é tratada
de forma mais exaustiva e a metodologia é mais acadêmica e mais técnica. Dessa
forma, o livro: Graça, Maravilhosa Graça, que servirá de apoio às Lições
Bíblicas de Romanos, eu ponho em destaque os grandes embates teológicos.
Mostro, por exemplo, que desde Agostinho, bispo de Hipona (354430), Romanos tem
servido de cavalo de batalha para se justificar um determinismo fatalista.
Todavia, como bem observou o teólogo Joseph Fitzmeyer, não devemos levar para
dentro dessa Carta aquilo que lhe é estranho. Sem querer ser dogmático em
algumas questões de natureza puramente confessional, todavia não deixei de
registrar no livro o meu entendimento de certas passagens dessa Carta que, a
meu ver, receberam uma interpretação que destoa da argumentação adotada por
Paulo. O nosso comentário, por exemplo, mostra que o apóstolo ensina de forma
clara a justificação pela fé somente (Rm 5.1,2); que fomos eleitos no Filho de
Deus para a vida eterna e que a salvação está condicionada à nossa permanência
em Cristo (Rm 8.29,30
FONTE: http://www.cpadnews.com.br/mp_digital/mp_1569/#11/z
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