ESTUDO: O Tribunal de Cristo e os Galardões

“Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal” (2 Co 5.10).
Na primeira fase da sua volta (arrebatamento), Jesus vem “para” os seus. Na segunda fase, Ele virá “com” os seus para estabelecer o seu Reino, no Milênio, e implantar o perfeito estado eterno.
Os cristãos, em grande número, esperam a volta do Senhor como um evento “muito distante”, ou bastante “remoto”, a ponto de não se preocuparem com sua vida, seu comportamento e testemunho; não se importarem com suas atitudes e práticas, como se, no final, tudo possa ser arranjado, ajustado e resolvido, perante Deus. Mas essa visão pouco séria do que significa a volta de Cristo para buscar a sua Igreja terá certamente conseqüências eternas de grande repercussão no futuro de muita gente. Já vimos que a volta de Jesus encontrará o mundo, incluindo os crentes, como “nos dias de Noé”, quando a humanidade só se preocupava com as coisas da vida terrena, e não dava o menor valor às coisas espirituais, “até que veio o dilúvio e consumiu a todos” (Lc 17.17).
Também sabemos que, na volta do Senhor, a terra estará vivendo como “nos dias de Ló”, o velho patriarca, que, em meio à corrupção de seu tempo, soube ficar vigilante, mantendo sua comunhão com Deus, ainda que nem toda a sua família o acompanhou em sua vida de santidade, e Deus destruiu Sodoma, Gomorra e cidades vizinhas, mandando fogo do céu, como juízo sobre a impiedade daquela gente que debochava de Deus, especialmente no que tange à sexualidade. Diante desses fatos, a exortação de Cristo é para que seus servos vigiem: “Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor” (Mt 24.42).
Mas há outro motivo, de grande importância, diante do qual a Igreja de Jesus, formada pelos salvos, em todos os tempos e lugares, esteja preparada, em termos espirituais, morais e éticos. E que está prevista uma prestação de contas, à qual terão que responder todos os crentes, desde o princípio do mundo até o dia do arrebatamento da Igreja. Esse evento se dará no “Tribunal de Cristo”. Não se trata do Juízo final, que será instaurado para o julgamento dos ímpios (Ler Ap 20.11-15). Será um tribunal para julgar as obras e os atos dos crentes, nas igrejas, ao longo dos tempos. Diz Paulo: “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal” (2 Co 5.10; Rm 14.10).
I - Definição e Conceituação
1. Os Dois Tribunais
Haverá dois julgamentos, em que as pessoas serão julgadas. No tribunal de Cristo, serão avaliadas as obras dos salvos. No tribunal do Grande Trono Branco, ou no Juízo Final, os ímpios serão julgados, segundo as suas obras (Jr 32.19). Até as palavras serão julgadas. “Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo. Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado” (Mt 12.36,37).
2. O que Será o Tribunal de Cristo
Será o julgamento das obras dos salvos, praticadas na terra, para receberem, ou não, o galardão correspondente. Não se tratará de julgamento de pecados, pois já são salvos. Os ímpios é que passarão pelo julgamento de suas obras e pecados, no juízo do Trono Branco, após
0 Milênio (cf. Ap 20.11-15). “E o julgamento dos servos de Deus, quanto às suas obras na terra (2 Co 5.10; Rm 14.10). [...] Não seremos julgados quanto à nossa posição e condição de salvos que temos em Cristo, e sim quanto ao nosso desempenho como servos do Senhor”.
Segundo Olson, “Esse julgamento não foi estabelecido para determinar se as pessoas que diante dele comparecerem serão culpadas ou inocentes, isto é, salvas ou perdidas, uma vez que este julgamento é exclusivamente para os salvos. A questão individual já foi resolvida, há muito. Agora se trata da questão de recompensas, que será resolvida conforme a fidelidade ou infidelidade do crente, como mordomo na casa do Mestre (1 Co 3.11-15)”.2
3. Nenhuma Condenação para os Salvos
Os salvos em Cristo Jesus, desde que permaneçam fiéis, em santificação, não mais passarão por qualquer tipo de condenação. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” (Rm
8.1). Estar “em Cristo Jesus” é a condição indispensável para ter sido salvo e permanecer salvo. O salvo não perde a salvação, “se” estiver em comunhão com Cristo, se viver em santificação. “[...] mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver” (1 Pe 1.15). Diante desse fato incontestável, acerca da salvação em Cristo Jesus, os salvos, que “em Jesus dormem” (1 Ts 4.14), serão ressuscitados, e os estiverem vivos, em sua vinda, serão transformados para o encontro com Jesus nos ares (1 Ts 4.17). Esses comparecerão perante o Tribunal de Cristo, para serem recompensados por suas obras, ações, atividades, alegrias e tristezas, êxitos e sofrimentos. O Justo Juiz saberá avaliar as obras de cada um. “Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.8). Os que amam a vinda do Senhor são conservados irrepreensíveis para encontrar-se com Cristo (1 Ts 5.23).
II - O Julgamento no Tribunal de Cristo
1. A Natureza do Tribunal de Cristo
Aqui na terra nenhum tribunal é instaurado para dar recompensas a ninguém. Via de regra, todos os tribunais são estabelecidos para julgar casos de infração da lei. Nesses julgamentos, comparecem pessoas acusadas de crimes ou infrações contra a pessoa humana, contra a ordem pública, contra o patrimônio público ou privado, e contra outros entes jurídicos, de acordo com o que é estabelecido nas leis do país. Os que comparecem aos tribunais, de um lado, são os reclamantes ou os autores de ações judiciais. De outro, são os réus, acusados de delitos ou descumprimento das normas legais, acompanhados de seus advogados, que os representam perante o juiz. O Tribunal de Cristo é o único, no universo, que tem por finalidade fazer justiça, recompensando as obras dos salvos, com maior ou menor galardão, ou recompensa. Jesus disse: “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra” (Ap 22.12).
2. Quando Acontecerá?
Logo após o Arrebatamento da Igreja, os salvos comparecerão perante o Tribunal de Cristo. Naquele tribunal celeste, os crentes terão o julgamento das obras. De acordo com a Bíblia, o Tribunal de Cristo ocorrerá antes das Bodas do Cordeiro (Ap 19.7-9), antes daquela que será a maior e mais gloriosa festa nupcial do universo. Os salvos em Cristo serão reunidos com Jesus, nos ares, ou nas nuvens (1 Ts 4.13- 17; 2 Ts 2.1). Ali, certamente, Jesus recepcionará a sua Noiva, lhe dará as boas vindas, e se assentará no trono do seu Tribunal para julgar as obras dos crentes, e lhes anunciar qual o prêmio ou galardão de cada um pelo que tiver feito na terra.
3. Quem Será o Juiz e quem Será Julgado?
O Juiz, como indica a Bíblia, será nosso Senhor Jesus Cristo. “Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.8; ver Jo 5.22). Por isso será chamado o Tribunal de Cristo (2 Co 5.10). Serão julgados, para receber a recompensa, todos os crentes: “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal” (2 Co 5.10 - grifo nosso). A expressão “todos devemos” indica que se refere aos cristãos fiéis que forem arrebatados, na vinda de Jesus.
III - As Obras e seu Julgamento
O cristão deve ter cuidado com o que faz, pois seus atos serão julgados no tribunal de Cristo. “E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que re- cebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas” (Cl 3.23-25).
1. Os Salvos e as suas Obras
a) O valor das obras do salvo. Jesus disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glo- rifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16 - grifo nosso). São obras, vistas pelos homens, que demonstram a grande mudança na vida do crente e contribuem para a glória de Deus. Mesmo assim, elas serão julgadas. Será um julgamento individual (1 Co 3.13). A salvação do crente em Jesus é pela graça. Não depende das obras (Ef 2.8,9). Mas as obras dos salvos têm muito valor diante de Deus. As obras aperfeiçoam a fé (Tg 2.22); as obras justificam a fé (Tg 1.21); e a fé sem as obras (de salvo) é morta (Tg 2.17) e as obras (da lei, dos atos humanos, da carne - G1 5.19; 2 Tm 1.9) sem a fé são mortas. A fé salvífica tem que andar lado a lado com as obras de salvo, demonstradas pela obediência, pela “santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). No Tribunal de Cristo, serão avaliadas ou julgadas as obras dos salvos, as quais poderão ser aprovadas ou reprovadas. As que forem aprovadas darão direito ao galardão (cf. 1 Co 3.14,8). Não serão julgados os pecados cometidos na terra. Esses já terão sido perdoados
por Jesus (Hb 8.12; 10.17).
b) O testemunho do salvo. As obras dos salvos falam de seu testemunho, comprovando que os mesmos já morreram para o mundo e são novas criaturas em Cristo (Mt 5.16; 2 Co 5.17). Precisamos dar bom testemunho perante a igreja e o mundo. “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Somos salvos, tendo passado pelo processo divino da regeneração. Paulo diz que foi Deus quem preparou “as boas obras [...] para que andássemos nelas”. De forma mais abrangente, podemos dizer que será julgado o nosso trabalho, ou a nossa administração, na casa do Senhor, como mordomos, encarregados das coisas de Deus aqui na terra. É tarefa por demais sublime para ser tratada de qualquer forma, sem zelo ou cuidado. Na parábola do mordomo infiel, o seu senhor o chama à prestação de contas (Lc 16.2). Jesus também nos pedirá a prestação de contas do que nos entregou para administrar como seus mordomos.
Deus nos concede muitos bens ou talentos para que façamos a sua obra. No sermão profético, Jesus proferiu a parábola dos dez talentos. E comparou o seu Reino a um senhor que, tendo de ausentar-se, entregou todos os seus bens a seus três servos ou mordomos. E deu a um dez talentos; a outro, cinco, e a outro, apenas um talento (Mt 25.14-30). Essa parábola nos diz que Deus dá a cada parte dos seus bens, espirituais, morais, físicos, ministeriais ou eclesiásticos, de acordo com a capacidade de cada um (Mt 25.15). Os talentos representam nossos recursos, nosso tempo, nossa vida, nossas habilidades, concedidas por Deus. Notemos que o senhor não dá a todos a mesma responsabilidade. Desde o dia da conversão, o salvo torna-se servo de Cristo, e tem o dever espiritual e moral de cooperar na casa do Senhor. Uns de uma forma, outros, de outra. Cada um conforme a sua capacidade.
2. Como as Obras Serão Julgadas?
A precisão do julgamento. O julgamento será tão preciso que é comparado à passagem de materiais pelo fogo: “a obra de cada um se manifestará; na verdade, o Dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo” (1 Co 3.13-15). O Espírito Santo será o assistente naquele julgamento. As obras serão comparadas a materiais, na linguagem humana. Cada tipo de material simbólico mostra o tipo, a natureza e a forma com a qual terão sido praticadas pelos crentes, em todos os lugares do mundo, em todas as igrejas. Vejamos, na seqüência do texto, a comparação das obras com os respectivos materiais.
2.1. Obras que Serão Aprovadas
a) Obras comparadas a ouro. Na Bíblia, o ouro é símbolo das coisas de Deus, das coisas divinas (Jó 22.23-25; Ap 22.18,22). São obras que são feitas para a glória de Deus, feitas em comunhão com Ele, “feitas em Deus” (Jo 3.21), de pleno acordo com sua palavra. O crente que glorifica a Deus com suas obras está praticando obras comparáveis a ouro (Mt 5.16). São “as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Se tratamos os irmãos e os outros com o amor de Deus, isso é comparado a ouro. Quando usamos bem os talentos dados por Deus, realizamos obras “de ouro” (Mt 25.14,20). São obras que glorifi- cam a Deus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16 - grifo nosso).
b) Obras comparadas a prata. Na tipologia bíblica, a prata é símbolo de redenção. No Antigo Testamento, a redenção dos filhos de Israel era paga em prata (Êx 30.11-16; Lv 5.15; 27.3). No Novo Testamento, simboliza a redenção feita por Cristo: “sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais” (1 Pe 1.18; 1 Co 6.20). São obras feitas em Cristo. O crente que ganha almas, que prega a Palavra, que dá bom testemunho da sua fé em Jesus, está realizando obras de prata. Os obreiros do Senhor que cuidam bem do rebanho realizam obras de prata. Visitar os enfermos, os carentes, evangelizar, podem ser obras de prata.
c) Obras comparadas a pedras preciosas. São símbolos do Espírito Santo, ou da glória de Cristo no crente (ver Jo 17.22). Os crentes que possuem os dons espirituais (1 Co 12) têm o adorno do Espírito Santo. São obras feitas pelo poder do Espírito Santo (Fp 3.3; Tt 3.5). É adorar a Deus “em Espírito e em verdade” 0o 4.23). São obras na unção do Espírito Santo. Evangelizar, pregar, cantar na unção, podem ser pedras preciosas. E o testemunho eloqüente do servo ou da serva de Deus, andando de acordo com a sã doutrina (Tt 2.10).
As obras que forem comparadas aos três materiais acima serão aprovadas, e os seus praticantes terão galardão de Deus (1 Co 3.13,14).
2.2. Obras que Perecerão
“Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo” (1 Co 3.15). Esse texto mostra que haverá crentes cujas obras não serão aprovadas no julgamento de Deus, no Tribunal de Cristo. São obras mortas, obras que não têm valor diante de Deus. São obras que alguns crentes praticam, para sua própria glória, mas não glorificam a Deus. São obras feitas por muitos de modo relaxado, sem o zelo necessário a quem serve a Deus. As obras não serão recompensadas, mas “o tal será salvo, todavia como pelo fogo”. Isso quer dizer que, como não se trata de julgamento de pecados, quem pratica tais obras poderá ser salvo, mas sem recompensas ou galardões. Não haverá inveja ou tristeza, pois tais sentimentos são carnais e não entrarão no céu. Só o fato de chegar lá já será motivo de grande alegria. Mas é melhor fazer o melhor para Deus.
a) Obras comparadas a madeira. Na Bíblia, madeira é símbolo das coisas humanas. E uma figura da árvore, que cresce por si mesma. Há crentes que fazem muitas coisas, mas buscando a glória humana. No fogo do julgamento, elas vão desaparecer. Há quem trabalha muito nas igrejas, mas não o fazem para a glória de Deus. Não terão o reconhecimento por parte do Senhor.
b) Obras comparadas a feno. Feno é capim, é erva seca. São obras aparentes, mas sem consistência, como erva seca (Is 15.6). O capim precisa ser renovado. É coisa perecível (Is 51.12). Representam obras de crentes que fazem muita coisa para aparecer. A preocupação deles é com a quantidade, e não com a qualidade. Um monte de feno pode ser muito grande, mas, no fogo, desaparece em segundos. Não haverá galardão para esse tipo de obra. Pregar para aparecer; pregar por dinheiro; cantar para aparecer, para ter a glória dos homens, buscando o aplauso das multidões, sem dúvida alguma, são obras de feno; aparecem muito, mas não têm consistência, e já receberam seu galardão, em termos de dinheiro; nada terão lá, no céu. “Já receberam o seu galardão”, aqui mesmo (cf. Mt 6.2,5,16).
c) Obras comparadas a palha. A madeira tem certa consistência, mas a palha é muito fraca. Não resiste à força do fogo. O vento leva com facilidade (SI 1.4; Jó 21.18; Os 13.3). É instável. Não pode se misturar com o trigo (Jr 23.28). Segundo o Pr. Eurico
Bergstén, “Palha também fala de escravidão: foi palha que os israelitas tiveram de colher no Egito (Ex 5.7). Devemos, portanto, servir a Deus na liberdade do Espírito, e não numa escravidão imposta por nós mesmos ou por outros”. Palha representa obras sem firmeza. Há crentes que não sabem o que querem na vida cristã. Vivem mudando o tempo todo. Mudam de cargo, mudam de igreja com facilidade. São levados por “todo vento de doutrina” (Ef 4.14).
As obras que forem comparadas a esses três últimos tipos de materiais não ensejarão galardões: “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo” (1 Co 3.15). Deus é um Deus de bondade, de amor, e também de justiça. No seu julgamento, Ele não falhará: “[...] porque vem a julgar a terra; com justiça julgará o mundo e o povo, com equidade” (SI 98.9). Ninguém escapará do julgamento de Deus. No Juízo Final, os ímpios darão contas de todas as suas obras de impiedade que cometeram (SI 9.17). “Porque está escrito: Pela minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14.11,12 - grifo nosso). Mais uma vez, Paulo usa o verbo de forma inclusiva, em relação aos crentes - “cada um de nós”, mostrando que cada crente dará contas a Deus de todas as obras que houverem praticado aqui. Sem dúvida, é uma alusão ao Tribunal de Cristo.
III - Os Galardões dos Salvos em Cristo
Galardão significa prêmio, recompensa. Os salvos em Cristo, que participarem do arrebatamento da igreja, serão reunidos nas regiões celestiais para receberem o seu galardão, individualmente, conforme a avaliação de Cristo. A entrega dos galardões é prevista por Jesus: “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra” (Ap 22.12 - grifo nosso). Cada crente é considerado um “despenseiro de Deus”, que deve trabalhar com fidelidade para ser reconhecido por seu Senhor: “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel. [...]
Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá de Deus o louvor” (1 Co 4.1,2,5). Cada crente receberá o galardão e o louvor da parte de Deus pelo que houver realizado na igreja e em sua vida pessoal. Na Bíblia, vemos alguns tipos de galardões e a quem se destinam.
a) Coroa da vida. E o galardão previsto para todos os salvos, que permaneceram fiéis até à morte ou à vinda de Jesus. “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam” (Tg 1.12; Ap 2.10).
b) Coroa da vitória. E o prêmio para todo o salvo, que vencer as lutas e tentações da vida terrena. “E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível” (1 Co 9.25). O crente fiel se abstém de tudo o que não agrada a Deus, mesmo com perda de vantagens, posições ou lucros, por causa da coroa incorruptível que receberá no julgamento de suas obras. A vitória é sua chegada aos céus, ao lado de todos os salvos, na vinda de Jesus.
c) Coroa de glória. E a recompensa especial para os obreiros do Senhor, que labutam na sua obra, com fidelidade, humildade, desprendimento e amor. “Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória” (1 Pe 5.2-4).
d) Coroa de gozo. É o galardão do ganhador de almas, daquele que, além de ser fiel, vencer as tentações e as barreiras da vida, esforça- se para ganhar almas para o Reino de Deus (Pv 11.30; Dn 12.3). Não só pastores, evangelistas e dirigentes de igrejas, mas muitos pregadores e evangelizadores anônimos, que fazem um excelente trabalho, divulgando o evangelho de Cristo, nas casas, nas ruas, nos hospitais, nas escolas, em toda a parte; principalmente em lugares, onde arriscam a própria vida para tornar Cristo conhecido. “Porque qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura, não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em sua vinda? Na verdade, vós sois a nossa glória e gozo” (1 Ts 2.19,20; Fp 4.1).
e) Coroa da justiça. É o prêmio ou recompensa dos que per- severam até o fim de sua jornada. Como disse Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.7,8). Jesus disse: “E sereis aborrecidos por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mc 13.13). E o coroamento da vida do crente, “pelas veredas da justiça” (SI 23.3b).
f) Galardão de servos. São recompensas que Jesus dará a todos os que servem a seus servos, na condição de profeta, justo, pequeninos ou discípulos. “Quem recebe um profeta na qualidade de profeta receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo. E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10.41,42).

Esses galardões, com poucas exceções, como no caso do galardão de obreiros ou de ganhadores de almas, podem ser recebidos por todos os crentes fiéis e santos que aguardam a vinda de Jesus. No Tribunal de Cristo, eles verão que valeu a pena suportar as aflições do tempo presente: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18). Jesus é que fará a criteriosa avaliação das obras dos salvos para dar a cada um conforme o seu trabalho (Ap 22.12).

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