Gênesis 5. Sete gerações continuaram a viver no exercício da virtude e
no culto do verdadeiro Deus, ao qual reconheciam por único Senhor do universo.
Mas as que vieram em seguida não imitaram os costumes dos pais. Não prestavam
mais a Deus a honra que lhe era devida nem exerciam mais a justiça para com os
homens, mas se entregavam com mais ardor ainda a toda sorte de crimes, enquanto
os seus antepassados se haviam dedicado à prática de toda espécie de virtudes.
Assim, atraíram sobre si a cólera de Deus, e os grandes* da terra, que se
haviam casado com as filhas dos descendentes de Caim, produziram uma raça
indolente que, pela confiança que depositavam na própria força, se vangloriava
de calcar aos pés a justiça e imitava os gigantes de que falam os gregos.
Nessa época, havia duas raças distintas: a descendência de Sete e a de
Caim. Os expositores modernos, em sua maioria, concordam que os "filhos de
Deus", citados em Gênesis 6.2, constituíam a descendência de Sete, e os
"filhos dos homens", a descendência de Caim.
Noé, entristecido pela dor de vê-los imersos
nos crimes, exortava-os a mudar de vida. Mas quando viu que em vez de seguir os
seus conselhos eles se tornavam cada vez piores, o temor de que o fizessem
morrer com toda a sua família levou-o a deixar a sua pátria. Deus, que o amava
por causa de sua probidade, ficou tão irritado pela malícia e corrupção do
resto dos homens que resolveu não somente castigá-los, mas exterminá-los completamente
e repovoar a terra com homens que vivessem na pureza e na inocência.
Assim, abreviou-lhes o tempo da vida, reduzindo-o a cento e vinte anos,
inundou a terra de modo a parecer que ela havia sido tomada pelo mar e fê-los
todos perecer nas águas, com exceção de Noé. A este, para salvá-lo, ordenou que
construísse uma arca de quatro andares, com trezentos côvados de comprimento, cinquenta
de largura e trinta de altura; que lá se encerrasse com a esposa, os três
filhos e as três esposas deles; e que levasse todo o necessário para o seu
alimento e também para os animais de todas as espécies, os quais ele deveria
levar consigo, para conservar-lhes a raça. Isto é, um casal de cada espécie,
macho e fêmea, e sete casais de algumas. O teto e os lados da arca eram tão fortes
que ela resistiu à violência das águas e dos ventos e salvou Noé e sua família
da inundação geral que fez morrer todos os outros homens. Ele era o décimo
descendente de Adão, de masculino em masculino, pois era filho de Lameque, que era
filho de Metusalém.
Metusalém era filho de
Jarede. Jarede era filho de Maalalel, que tinha vários irmãos. Maalalel era
filho de Cainã. Cainã era filho de Enos. Enos era filho de Sete, e Sete era
filho de Adão.
Noé tinha seiscentos anos quando veio o dilúvio. Foi no segundo mês,
que os macedônios chamam dius, e os hebreus, maresvã, pois os egípcios assim
dividiram o ano.
Quanto a Moisés, ele deu, nos seus fastos, o primeiro lugar ao mês
chamado nisã, que é o xântico macedônio, porque foi nesse mês que ele retirou
os hebreus da terra do Egito e por essa razão começou por esse mesmo mês a
registrar o que se refere ao culto a Deus.
No que se refere às coisas civis, no entanto, como as feiras e mercados
determinados pelo comércio e empreendimentos semelhantes, não houve mudança
alguma. Moisés registra que a chuva causadora do dilúvio geral começou a cair
no dia 27 do segundo mês do ano 2256 depois da criação de Adão. A Sagrada
Escritura faz o cálculo disso e anota com cuidado muito particular o nascimento
e a morte dos grandes personagens daquele tempo.* Adão viveu novecentos e
trinta anos e tinha duzentos e trinta** quando nasceu o seu filho Sete. Sete
viveu novecentos e doze anos e tinha duzentos e cinco quando nasceu o seu filho Enos. Enos viveu novecentos e cinco anos e tinha cento e
noventa quando nasceu o seu filho Cainã. Cainã viveu novecentos e dez anos e
tinha cento e setenta quando nasceu o seu filho Maalalel. Maalalel viveu
oitocentos e noventa e cinco anos e tinha cento e sessenta e cinco quando
nasceu o seu filho Jarede. Jarede viveu novecentos e sessenta e dois anos e
tinha cento e sessenta e dois quando nasceu o seu filho Enoque.
Enoque viveu trezentos e sessenta e cinco anos e tinha cento e sessenta
e cinco quando nasceu o seu filho Metusalem. Na idade de trezentos e sessenta e
cinco anos, foi tirado do mundo, e ninguém escreveu sobre a sua morte.
Metusalem viveu
novecentos e sessenta e nove anos e tinha cento e oitenta e sete quando nasceu
o seu filho Lameque. Lameque viveu setecentos e setenta e sete anos e tinha
cento e oitenta e dois quando nasceu o seu filho Noé. Noé viveu novecentos e
cinqüenta anos, os quais, acrescentados aos seiscentos que já contava
na ocasião do
dilúvio, perfazem o número anteriormente assinalado de dois mil
duzentos e cinqüenta e seis anos. Foi mais conveniente para esse cálculo citar,
como fiz, a época do nascimento desses primeiros homens, e não a de sua morte,
porque a vida deles era tão longa que se estendia até a posteridade mais
remota.
Gênesis 7e8. Deus,
então, deu o sinal e livre curso às águas, a fim de inundarem a terra, e elas
elevaram-se, por uma chuva contínua de quarenta dias, até quinze côvados acima
das mais altas montanhas e não deixaram nenhum lugar para onde o povo pudesse fugir e salvar-se. Depois que a chuva cessou,
passaram-se cento e cinqüenta dias antes que as águas se retirassem, e somente
no vigésimo sétimo dia do sétimo mês a arca se deteve sobre o vértice de uma
montanha da Armênia. Noé então, abriu uma janela e, vendo um pouco de terra ao
redor da arca, começou a se consolar e a conceber melhores esperanças. Alguns dias depois, ele fez sair um corvo
para saber se havia ainda outros lugares de onde as águas se tivessem retirado
completamente e se ele podia sair sem perigo. O corvo, porém, achando a terra
ainda toda inundada, voltou à arca. Sete
dias depois, Noé fez sair uma pomba, e ela voltou com os pés enlameados,
trazendo no bico um ramo de oliveira. Assim, ele soube que o dilúvio havia
cessado. Após haver esperado outros sete dias, fez sair todos os animais que
estavam na arca. E ele também saiu, com a mulher e os filhos, ofereceu um sacrifício
a Deus em ação de graças e deu um banquete à família.
Os armênios chamaram a
esse lugar Descida ou Saída, e os seus habitantes apontam ainda hoje alguns
restos da arca. Todos os historiadores, mesmo os bárbaros, falam do dilúvio e
da arca, dentre outros Berose, caldeu. Eis as suas palavras: "Diz-se que ainda hoje se vêem restos da arca sobre a montanha dos Cordiens, na
Armênia, e alguns levam desse lugar pedaços de betume, com o qual ela estava
recoberta, e dele se servem como impermeabilizante". jerônimo, egípcio que
escreveu sobre as antigüidades dos fenícios, Mnazeas e vários outros disso
falam também. Nicolau de Damasco, no nonagésimo sexto livro de sua história,
menciona-o nestes termos: "Há na Armênia, na província de Miniade, uma
alta montanha chamada Baris, sobre a qual, diz-se, muitos se salvaram durante o
dilúvio, e que uma arca cujos restos se conservaram por vários anos, e na qual
um homem se havia encerrado, deteve-se no cume dessa montanha. Há probabilidade
de que esse homem é aquele de que fala Moisés, o legislador dos judeus".
Gênesis 8 e 9. Com
medo de que Deus inundasse a terra todos os anos, a fim de exterminar a raça
dos homens, Noé ofereceu-lhe vítimas, rogando que nada mudasse na ordem
estabelecida anteriormente e que Ele não usasse de tal rigor, fazendo perecer
todas as criaturas vivas, mas se contentasse por ter castigado os maus, como
os seus crimes mereciam, e por ter poupado os inocentes, aos quais Ele quisera
salvar a vida. Pois, de outro modo, eles seriam ainda mais infelizes do que os
que haviam sido sepultados nas águas, tendo visto com tremor tão estranha
desolação e tendo dela sido preservados apenas para perecer mais tarde, de
maneira semelhante. Assim, rogava que Deus aceitasse o seu sacrifício e não
mais olhasse para a terra com cólera, de jnodo que ele e seus descendentes
pudessem cultivá-la sem medo, construir cidades, desfrutar de todos os bens que
possuíam antes do dilúvio e passar uma vida tão longa quanto feliz, como a de
seus antepassados.
Como Noé era homem justo,
Deus atendeu à sua oração e concedeu-lhe o que pedia, dizendo-lhe que não fora
o patriarca a causa dos que se haviam perdido no dilúvio; que eles só podiam
acusar a si mesmos pelo castigo recebido; que, se tivesse querido perdê-los, não os teria feito nascer, sendo mais fácil não dar a vida
do que a tirar após têla concedido; que eles deviam, portanto, atribuir os
castigos aos seus próprios crimes; que, em consideração à sua oração, não lhes
seria mais tão severo no futuro; e que, quando viessem tempestades e furacões extraordinários, nem ele nem seus
descendentes deveriam pensar num outro dilúvio, pois Ele não mais permitiria
que as águas inundassem a terra. Contudo proibia a ele e aos seus manchar as
mãos no sangue, e ordenava-lhes que castigassem severamente os homicidas, e os
fazia senhores absolutos dos animais, para dispor deles como quisessem, exceto
de seu sangue, do qual não podiam usar como do resto, porque no sangue está a
vida. "E meu arco", acrescentou, "que vereis no céu, será o sinal
e a garantia da promessa que vos faço". Isso disse Deus a Noé. E ao arco
que apareceu no céu, chamaram arco de Deus.
Noé viveu trezentos e cinqüenta anos depois do
dilúvio, na máxima prosperidade, e morreu com novecentos e cinqüenta anos de
idade. Por maior que seja a diferença entre a pouca duração da vida dos homens
de hoje e a longa duração da dos de que acabo de falar, o que narro não deve passar por inverossímil. É
que, além de os nossos antepassados serem muito queridos de Deus, e como obra
que Ele havia feito com as próprias mãos, os alimentos de que se nutriam eram
mais apropriados para conservar a vida. E Deus a prolongava, tanto por causa de
sua virtude como para lhes dar meios de aperfeiçoar as ciências da geometria e
da astronomia, que eles haviam inventado — o que eles não teriam podido fazer
se tivessem vivido menos de seiscentos anos, pois é somente após a revolução de
seis séculos que se completa o grande ano. Todos os que escreveram a história,
tanto da Grécia como de outras nações, dão testemunho do que digo. Mâneto, que
escreveu a história dos egípcios, Berose, que nos deixou a dos caldeus.
Moco, Hestieu e Jerônimo, que escreveram a dosfenícios, dizem também a
mesma coisa.
Hesíodo, Hecateu, Ascausila, Helânico, Éforo e Nicolau, referem que
esses primeiros homens viviam até mil anos. Deixo aos que lerem isto que façam
o juízo que quiserem.
Extraído do livro Historia dos hebreus publicado pela CPAD
Flávio Josefo HISTÓRIA DOS HEBREUS
De Abraão à queda de Jerusalém
CDD: 956.94 – Hebreus – História
Casa Publicadora das Assembléias de Deus.