Frutificar é frutescer, produzir resultados, ser
útil, dar lucro. Deus fez a terra com a capacidade de ser produtiva. Nela constam
elementos que a fazem produzir. Porque a terra por si mesma frutifica;
primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga (Mc
4.28).
Na vida
espiritual, para que de fato haja frutificação, isto é, o efeito de frutificar,
é imprescindível que a terra do coração seja trabalhada pela Palavra de Deus.
Dessa forma, os bons frutos irão aparecer, e é por meio dessa fertilidade que
se prova a fidelidade do crente (Mt 13.8).
Em duas
passagens das cartas paulinas, o autor trata com os crentes sobre a
frutificação para Deus, mas veja que ele se inclui também nessa sentença:
“Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo,
para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de
que demos fruto para Deus” (Rm 7.4).
A
frutificação agora é possível porque a lei da carne, a qual operava para morte,
foi desfeita pelo poder de Cristo Jesus, de modo que doravante podemos
desenvolver um novo relacionamento e produzir frutos para Deus. Em Colossenses,
Paulo diz:
“Para
que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo,
frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus” (Cl 1.10).
Em meu
livro Tesouros nas Cartas da Prisão, fazendo comentário sobre esse versículo,
afirmo que:
Quando o crente tem o conhecimento de Cristo, ele
tem uma fé definida, anda dignamente diante do Senhor, em seu viver busca
agradar a Deus e produzir frutos para Ele, tem força para vencer o inimigo e
seu gozo é completo (Cl 1.10,11). (GOMES, 2015, p. 185)
A
Parábola da Videira e seus Ramos
1. Limpeza pela Palavra (Jo 15.1-6)
A primeira coisa que vemos quando lemos o
capítulo 15 de João, é que não há como acontecer produtividade se não houver investimento,
mas note que Deus investiu grandemente em Israel, que é comparado a uma videira
(Is 5.1,2; Sl 80.8-19), esperando fruto, mas não aconteceu.
Deus
investe no seu Filho, que no texto aparece como a genuína videira. Ele faz isso
porque sabe que é por intermédio do seu filho que a vida verdadeira para o
mundo irá surgir. E dEle que vem a seiva para a salvação, a capacidade para a
frutificação. Há um cuidado especial do Pai com a videira, Cristo, mas Ele
cuida dos ramos produtivos, eliminando os galhos que não servem para nada, para
que a produção seja ainda maior.
A
produtividade espiritual é possível quando acontece tanto o aírei, que aqui é
uma ação direta de Deus de tirar, arrancar, quanto o kathaírei, que é a ação de
limpar, podar, ou fazer sua própria análise. Essas duas ações acontecem por
meio da Palavra.
2.
Capacitados para produzir frutos (Jo 15.7,8)
Não há
capacidade em nós mesmos para produzirmos o fruto; ele é resultado da nossa
permanência em Cristo Jesus. Observe que o verbo imperativo grego meínate,
permanecei, é o segredo para que a produtividade aconteça, pois é de Cristo que
sai a vida para o ramo a fim de que a produção do fruto do Espírito seja real.
Quem
permanece em Cristo recebe a seiva para não ser um ramo inútil, infrutífero.
Muitas pessoas ficam impressionadas com o desempenho do grande ministério do
apóstolo Paulo, como ele conseguiu levar tão longe a mensagem do evangelho e
escrever tantas cartas. O segredo é que ele sempre permanecia em Cristo, recebia
dEle a vida verdadeira: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu,
mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o
qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (G1 2.20).
Improdutividade,
esterilidade, falta de fruto, é resultado da quebra de comunhão com Cristo.
Israel desvencilhou-se da vontade de Deus, por isso se tornou apenas um galho
seco de uma videira, que não prestava para nada, a não ser para ser queimada.
A
produtividade é frutescente quando Cristo e sua Palavra habita no crente. Note
que a preposição grega en, que tem vários sentidos: de lugar, de causa, de
tempo, nesse texto de João está sendo usada para expressar o envolvimento
completo de estar dentro de Cristo ou Ele estar dentro de nós. *
E
interessante ressaltar que em João 1.1 diz-se que o verbo se fez carne. A
palavra “verbo” já aparecia nas páginas do Antigo Testamento, só que com o
conceito de sabedoria. Logos quer dizer palavra. A razão de João fazer uso
dessa palavra é porque no seu tempo todos sabiam muito bem o sentido e a
expressão que essa palavra tinha, o que ela enunciava; todavia, o propósito de João
fazer uso dessa palavra é que ele usa esse logos para denotar a palavra de Deus em ação conforme também
registra o escritor aos hebreus (Hb 1.1-3). Esse logos, palavra, pode ser
entendido como o logos cósmico, isto é, o agente de toda a criação. João especifica
que dEle não vem somente a vida, mas que Ele é a própria vida, é Ele quem dá a
verdadeira luz, conhecimento da própria vida de Deus (Jo 17.3). Esse
conhecimento que o verbo dá de Deus, possibilita ao homem receber as verdades
divinas;
assim ele pode deixar as trevas, que é a vida
moral comprometida com o pecado.
Mas no
texto Jesus diz que se suas palavras estivessem nos seus discípulos. Observe
que nesse caso Ele faz uso de hêma, que é a palavra falada, dizeres, expressão,
mas tudo se resume em Cristo, de modo que quer eles estivessem em Jesus, quer
na Palavra, estariam vivendo e recebendo a verdadeira vida.
E a fé
que leva a oração do crente a ser atendida quando segue todo o ensino dito por
Jesus, e os que permanecem em sua Palavra são transformados, purificados para
dar muitos frutos.
É importante entender uma coisa: oração
respondida é também frutificação espiritual (Jo 14.13), e pela produção de
fruto o Pai é glorificado, pois isso prova o relacionamento perfeito que o
crente está tendo com Ele. Entendemos então que estar em Cristo e nos seus
ditos é a forma de sermos capacitados para produzirmos muito para Deus. Isso dá
glorificação ao Pai, pois prova que o crente está produzindo o fruto segundo a
sua espécie, ou seja, ele está sendo semelhante a Jesus, e tal fruto é o
descrito em Gálatas 5.22. Não há como duvidar, quem está em Cristo reproduz seu
caráter (Jo 8.31; ljo 3.2).
3. Permanecendo no amor de Cristo (Jo
15.9-11)
E no
relacionamento do Pai com o Filho e do discípulo com Cristo que o verdadeiro
amor se processa, gerando vida, alegria, obediência, sem qualquer
constrangimento. O desejo de Jesus para que todos permanecessem nEle, isto é,
no seu amor, é porque tudo vinha do Pai, pois assim como Ele era amado, quem
permanecesse nEle seria amado também (Jo 3.35; 5.20).
Jesus sempre permaneceu no amor do Pai, isso é
comprovado por causa de sua obediência, sempre fazendo aquilo que lhe agradava
(Jo 8.29).
A grande
prova do amor dos discípulos para com Jesus estava na obediência plena ao Pai.
Se assim eles procedessem, estariam sempre tendo aprovação em tudo e gozando da
companhia divina. É impossível um cristão ser produtivo fora da obediência a
Cristo, aos seus ensinos, pois o amor, como virtude do fruto do Espírito, leva
o crente a ser obediente, para que Deus possa se comprazer nele.
É o que
acontece atualmente; muitas pessoas não gostam dos crentes porque reprovam as
obras da carne, das trevas, as quais são praticadas por aqueles que não querem
vir para luz. Paulo diz que até falar das obras que os homens sem Deus praticam
é vergonhoso (Ef 5.12). Jesus se revelou como amor, o mundo o odiou. Jesus se
revelou como a luz, o mundo não quis brilhar. Jesus se revelou como a vida,
eles não quiseram. Jesus se revelou como o caminho, pão, água, e eles
descartaram.
Jesus diz que todo o ensino que transmitiu aos
seus discípulos não deixaria de ter seu vigor, pois quando Ele fosse retirado deste
mundo, o Espírito Santo estaria com eles, capacitando-os a suportarem toda e
qualquer situação ou perseguição difícil (Mt 10.19) e uma prova de que isso
aconteceu pode ser vista em Atos 5.32. O Espírito Santo estaria no coração dos
discípulos fortalecendo-os nas verdades ensinadas por Jesus, posto que Ele é a
própria verdade (Jo 14.17).
A Sublimidade do Amor (1 Co 13.1-3)
O amor é
a base para expressarmos nossas ações, que não deve ser somente em palavras,
mas sim em um amor que se expressa em caridade. A palavra amor do grego é ágape.
Muitos falam dela como o amor de Deus; aqui ela está sendo aplicada como a mais
bela virtude cristã (Gl 5.22), uma qualidade abstrata (Rm 13.10). Apenas
frases, palavras bonitas, ações sem verdade, não produzem nada.
A
palavra língua do grego é glóssais, e denota o órgão do paladar (Mc 7.33-35; Tg
1.26; Lc 16.24). Laleín quer dizer falo, digo, dirijo, anuncio, prego, repito,
faço soar (Mt 12.34; 1 Co 13.11; Jo 3.34). Existe uma distinção entre légo e
laleín: a primeira refere-se ao sentimento proferido; a segunda, ao emprego dos
órgãos da fala. Os que querem negar a experiência pentecostal, tem feito uso de
laleín como uma forma de expressa uma fala extática, absorto, ou seja, é um tipo de êxtase que
acontece durante o culto nas pessoas que estão em grande estado de emoção,
muitos dizem que isso fala de línguas estranhas (At 19.6; 1 Co 12.10).
O
teólogo D. Mounce diz que glôssa quer dizer uma língua, um idioma (At 2.11),
que não é nativa de quem fala, mas que pode ser um dom ou faculdade para falar
tal língua. Nessa mesma linha de pensamento segue o exegeta Edward Robinson.
Qualquer
ação sem amor pode apenas produzir ruídos de um gongo, um instrumento musical
de percussão. Paulo diz que o amor está acima de qualquer mistério, profecia,
ele está acima até mesmo da fé, pois a fé é apenas um meio para conduzir o
homem a Cristo (Ef 2.8,9); o amor é o fim.
Muitas
ações podem ser realizadas pelo egocentrismo humano, na busca do reconhecimento
das pessoas, tendo apenas um caráter filantrópico. Sabemos que algumas pessoas
neste mundo foram martirizadas por uma causa nobre, outros queriam apenas valorizar
sua instituição, seu pensamento, mas quando o verdadeiro amor não está presente
nada terá proveito.
A Natureza do Amor (1 Co 13.4-7)
Note que
nesse texto o amor está personificado, Paulo fala de sua própria natureza, o
que realmente ele é. No cristão, esse amor evidencia a própria característica
de Cristo. No seu contexto histórico, o apóstolo fala que os problemas
existentes na igreja de Corinto foi por causa da ausência desse verdadeiro
amor, pois se os seus corações estivessem dominados por esse amor, tudo o que
estava se passando entre eles não teria acontecido.
Se o
coração de cada membro daquela comunidade estivesse cheio de amor, eles não
seriam dominados pelo orgulho, vaidade; não teriam levado os seus irmãos aos
tribunais, não teriam sacrificado aos ídolos, pois não buscariam os seus
próprios interesses; não teriam ciúmes de ninguém, não tratariam os dons menos expressivos
com desprezo, não seriam desconfiados, nem teriam praticado a imoralidade.
Paulo
usou esse assunto do amor como um espelho, para mostrar como eles estavam longe
de alcançarem o ideal divino. Antes os seus corações estavam cheios de pecado;
o nível de espiritualidade deles era baixo, razão por que estavam procedendo dessa
forma.
A
palavra espelho do grego é esóptrou. Por meio dele podemos apenas contemplar
uma imagem em uma superfície metálica, e não a realidade em si. Conforme lemos
na Bíblia, os espelhos eram fabricados de metal polido (Ex 38.8; Jó 37.18). O
real e verdadeiro amor é Cristo; quem nele vive expressa as mais belas virtudes
cristãs.
Dados do autor desta obra em o livro
obra da carne e o fruto do Espírito.
Osiel Gomes é pastor, formado em Teologia,Filosofia,
Direito, Pedagogia, Psicanálise e pós--graduado em Docência do Ensino Superior.
Preside a Igreja evangélica Assembleia de Deus - Campo
Tirirical, em São Luis, Maranhão.
Autor do blog: Almir Batista