(Subsídio Teológico Lição 13/ 1º Trim 2017) Uma Vida de Frutificação

    Frutificar é frutescer, produzir resultados, ser útil, dar lucro. Deus fez a terra com a capacidade de ser produtiva. Nela constam elementos que a fazem produzir. Porque a terra por si mesma frutifica; primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga (Mc 4.28).
    Na vida espiritual, para que de fato haja frutificação, isto é, o efeito de frutificar, é imprescindível que a terra do coração seja trabalhada pela Palavra de Deus. Dessa forma, os bons frutos irão aparecer, e é por meio dessa fertilidade que se prova a fidelidade do crente (Mt 13.8).
    Em duas passagens das cartas paulinas, o autor trata com os crentes sobre a frutificação para Deus, mas veja que ele se inclui também nessa sentença: “Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus” (Rm 7.4).
    A frutificação agora é possível porque a lei da carne, a qual operava para morte, foi desfeita pelo poder de Cristo Jesus, de modo que doravante podemos desenvolver um novo relacionamento e produzir frutos para Deus. Em Colossenses, Paulo diz:
    “Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus” (Cl 1.10).
    Em meu livro Tesouros nas Cartas da Prisão, fazendo comentário sobre esse versículo, afirmo que:
Quando o crente tem o conhecimento de Cristo, ele tem uma fé definida, anda dignamente diante do Senhor, em seu viver busca agradar a Deus e produzir frutos para Ele, tem força para vencer o inimigo e seu gozo é completo (Cl 1.10,11). (GOMES, 2015, p. 185)

A Parábola da Videira e seus Ramos

    1. Limpeza pela Palavra (Jo 15.1-6) 
A primeira coisa que vemos quando lemos o capítulo 15 de João, é que não há como acontecer produtividade se não houver investimento, mas note que Deus investiu grandemente em Israel, que é comparado a uma videira (Is 5.1,2; Sl 80.8-19), esperando fruto, mas não aconteceu.
    Deus investe no seu Filho, que no texto aparece como a genuína videira. Ele faz isso porque sabe que é por intermédio do seu filho que a vida verdadeira para o mundo irá surgir. E dEle que vem a seiva para a salvação, a capacidade para a frutificação. Há um cuidado especial do Pai com a videira, Cristo, mas Ele cuida dos ramos produtivos, eliminando os galhos que não servem para nada, para que a produção seja ainda maior.
    A produtividade espiritual é possível quando acontece tanto o aírei, que aqui é uma ação direta de Deus de tirar, arrancar, quanto o kathaírei, que é a ação de limpar, podar, ou fazer sua própria análise. Essas duas ações acontecem por meio da Palavra.
2. Capacitados para produzir frutos (Jo 15.7,8)
    Não há capacidade em nós mesmos para produzirmos o fruto; ele é resultado da nossa permanência em Cristo Jesus. Observe que o verbo imperativo grego meínate, permanecei, é o segredo para que a produtividade aconteça, pois é de Cristo que sai a vida para o ramo a fim de que a produção do fruto do Espírito seja real.
    Quem permanece em Cristo recebe a seiva para não ser um ramo inútil, infrutífero. Muitas pessoas ficam impressionadas com o desempenho do grande ministério do apóstolo Paulo, como ele conseguiu levar tão longe a mensagem do evangelho e escrever tantas cartas. O segredo é que ele sempre permanecia em Cristo, recebia dEle a vida verdadeira: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (G1 2.20).
    Improdutividade, esterilidade, falta de fruto, é resultado da quebra de comunhão com Cristo. Israel desvencilhou-se da vontade de Deus, por isso se tornou apenas um galho seco de uma videira, que não prestava para nada, a não ser para ser queimada.
    A produtividade é frutescente quando Cristo e sua Palavra habita no crente. Note que a preposição grega en, que tem vários sentidos: de lugar, de causa, de tempo, nesse texto de João está sendo usada para expressar o envolvimento completo de estar dentro de Cristo ou Ele estar dentro de nós. *
    E interessante ressaltar que em João 1.1 diz-se que o verbo se fez carne. A palavra “verbo” já aparecia nas páginas do Antigo Testamento, só que com o conceito de sabedoria. Logos quer dizer palavra. A razão de João fazer uso dessa palavra é porque no seu tempo todos sabiam muito bem o sentido e a expressão que essa palavra tinha, o que ela enunciava; todavia, o propósito de João fazer uso dessa palavra é que ele usa esse logos para denotar a palavra de Deus em ação conforme também registra o escritor aos hebreus (Hb 1.1-3). Esse logos, palavra, pode ser entendido como o logos cósmico, isto é, o agente de toda a criação. João especifica que dEle não vem somente a vida, mas que Ele é a própria vida, é Ele quem dá a verdadeira luz, conhecimento da própria vida de Deus (Jo 17.3). Esse conhecimento que o verbo dá de Deus, possibilita ao homem receber as verdades divinas;
assim ele pode deixar as trevas, que é a vida moral comprometida com o pecado.
    Mas no texto Jesus diz que se suas palavras estivessem nos seus discípulos. Observe que nesse caso Ele faz uso de hêma, que é a palavra falada, dizeres, expressão, mas tudo se resume em Cristo, de modo que quer eles estivessem em Jesus, quer na Palavra, estariam vivendo e recebendo a verdadeira vida.
    E a fé que leva a oração do crente a ser atendida quando segue todo o ensino dito por Jesus, e os que permanecem em sua Palavra são transformados, purificados para dar muitos frutos.
É importante entender uma coisa: oração respondida é também frutificação espiritual (Jo 14.13), e pela produção de fruto o Pai é glorificado, pois isso prova o relacionamento perfeito que o crente está tendo com Ele. Entendemos então que estar em Cristo e nos seus ditos é a forma de sermos capacitados para produzirmos muito para Deus. Isso dá glorificação ao Pai, pois prova que o crente está produzindo o fruto segundo a sua espécie, ou seja, ele está sendo semelhante a Jesus, e tal fruto é o descrito em Gálatas 5.22. Não há como duvidar, quem está em Cristo reproduz seu caráter (Jo 8.31; ljo 3.2).
    3. Permanecendo no amor de Cristo (Jo 15.9-11)
    E no relacionamento do Pai com o Filho e do discípulo com Cristo que o verdadeiro amor se processa, gerando vida, alegria, obediência, sem qualquer constrangimento. O desejo de Jesus para que todos permanecessem nEle, isto é, no seu amor, é porque tudo vinha do Pai, pois assim como Ele era amado, quem permanecesse nEle seria amado também (Jo 3.35; 5.20).
Jesus sempre permaneceu no amor do Pai, isso é comprovado por causa de sua obediência, sempre fazendo aquilo que lhe agradava (Jo 8.29).
    A grande prova do amor dos discípulos para com Jesus estava na obediência plena ao Pai. Se assim eles procedessem, estariam sempre tendo aprovação em tudo e gozando da companhia divina. É impossível um cristão ser produtivo fora da obediência a Cristo, aos seus ensinos, pois o amor, como virtude do fruto do Espírito, leva o crente a ser obediente, para que Deus possa se comprazer nele.
    É o que acontece atualmente; muitas pessoas não gostam dos crentes porque reprovam as obras da carne, das trevas, as quais são praticadas por aqueles que não querem vir para luz. Paulo diz que até falar das obras que os homens sem Deus praticam é vergonhoso (Ef 5.12). Jesus se revelou como amor, o mundo o odiou. Jesus se revelou como a luz, o mundo não quis brilhar. Jesus se revelou como a vida, eles não quiseram. Jesus se revelou como o caminho, pão, água, e eles descartaram.
Jesus diz que todo o ensino que transmitiu aos seus discípulos não deixaria de ter seu vigor, pois quando Ele fosse retirado deste mundo, o Espírito Santo estaria com eles, capacitando-os a suportarem toda e qualquer situação ou perseguição difícil (Mt 10.19) e uma prova de que isso aconteceu pode ser vista em Atos 5.32. O Espírito Santo estaria no coração dos discípulos fortalecendo-os nas verdades ensinadas por Jesus, posto que Ele é a própria verdade (Jo 14.17).
    A Sublimidade do Amor (1 Co 13.1-3)
    O amor é a base para expressarmos nossas ações, que não deve ser somente em palavras, mas sim em um amor que se expressa em caridade. A palavra amor do grego é ágape. Muitos falam dela como o amor de Deus; aqui ela está sendo aplicada como a mais bela virtude cristã (Gl 5.22), uma qualidade abstrata (Rm 13.10). Apenas frases, palavras bonitas, ações sem verdade, não produzem nada.
    A palavra língua do grego é glóssais, e denota o órgão do paladar (Mc 7.33-35; Tg 1.26; Lc 16.24). Laleín quer dizer falo, digo, dirijo, anuncio, prego, repito, faço soar (Mt 12.34; 1 Co 13.11; Jo 3.34). Existe uma distinção entre légo e laleín: a primeira refere-se ao sentimento proferido; a segunda, ao emprego dos órgãos da fala. Os que querem negar a experiência pentecostal, tem feito uso de laleín como uma forma de expressa uma fala extática, absorto, ou seja, é um tipo de êxtase que acontece durante o culto nas pessoas que estão em grande estado de emoção, muitos dizem que isso fala de línguas estranhas (At 19.6; 1 Co 12.10).
    O teólogo D. Mounce diz que glôssa quer dizer uma língua, um idioma (At 2.11), que não é nativa de quem fala, mas que pode ser um dom ou faculdade para falar tal língua. Nessa mesma linha de pensamento segue o exegeta Edward Robinson.
    Qualquer ação sem amor pode apenas produzir ruídos de um gongo, um instrumento musical de percussão. Paulo diz que o amor está acima de qualquer mistério, profecia, ele está acima até mesmo da fé, pois a fé é apenas um meio para conduzir o homem a Cristo (Ef 2.8,9); o amor é o fim.
    Muitas ações podem ser realizadas pelo egocentrismo humano, na busca do reconhecimento das pessoas, tendo apenas um caráter filantrópico. Sabemos que algumas pessoas neste mundo foram martirizadas por uma causa nobre, outros queriam apenas valorizar sua instituição, seu pensamento, mas quando o verdadeiro amor não está presente nada terá proveito.
    A Natureza do Amor (1 Co 13.4-7)
    Note que nesse texto o amor está personificado, Paulo fala de sua própria natureza, o que realmente ele é. No cristão, esse amor evidencia a própria característica de Cristo. No seu contexto histórico, o apóstolo fala que os problemas existentes na igreja de Corinto foi por causa da ausência desse verdadeiro amor, pois se os seus corações estivessem dominados por esse amor, tudo o que estava se passando entre eles não teria acontecido.
    Se o coração de cada membro daquela comunidade estivesse cheio de amor, eles não seriam dominados pelo orgulho, vaidade; não teriam levado os seus irmãos aos tribunais, não teriam sacrificado aos ídolos, pois não buscariam os seus próprios interesses; não teriam ciúmes de ninguém, não tratariam os dons menos expressivos com desprezo, não seriam desconfiados, nem teriam praticado a imoralidade.
    Paulo usou esse assunto do amor como um espelho, para mostrar como eles estavam longe de alcançarem o ideal divino. Antes os seus corações estavam cheios de pecado; o nível de espiritualidade deles era baixo, razão por que estavam procedendo dessa forma.
    A palavra espelho do grego é esóptrou. Por meio dele podemos apenas contemplar uma imagem em uma superfície metálica, e não a realidade em si. Conforme lemos na Bíblia, os espelhos eram fabricados de metal polido (Ex 38.8; Jó 37.18). O real e verdadeiro amor é Cristo; quem nele vive expressa as mais belas virtudes cristãs.

Dados do autor desta obra em o livro obra da carne e o fruto do Espírito.
Osiel Gomes é pastor, formado em Teologia,Filosofia, Direito, Pedagogia, Psicanálise e pós--graduado em Docência do Ensino Superior.
Preside a Igreja evangélica Assembleia de Deus - Campo Tirirical, em São Luis, Maranhão.

Autor do blog: Almir Batista 

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